segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Expressões e Suas Origens = Letra B, C, D (Deonísio da Silva)

Beija-me com os beijos da tua bocaEsta frase, inserida em diversos textos literários por escritores de muitos países, está num dos mais belos livros da Bíblia, o Cântico dos cânticos, esplêndido poema sobre o amor, da autoria de Salomão (970-931 a.C.), que, além de construir o famosos templo de Jerusalém, escreveu livros cheios de sabedoria, apaixonou-se, namorou e casou com cerca de mil mulheres, incluídas esposas e concubinas. Não apenas suas proclamada sabedoria, mas também seus amores tornaram-se lendários, como foi o caso daquele que viveu com a Rainha de Sabá. Salomão, fruto do amor arrebatado e dramático vivido pelo rei Davi (1015-975 a.C.) com uma mulher casada, Betsabéia, foi o terceiro rei de Israel.

Cada povo tem o governo que merece
Esta frase é proferida quando se quer falar mal do governo, atribuindo-se ao povo a má escolha. É de autoria do filósofo francês Joseph De Maistre (1753-1821), crítico da Revolução Francesa, inimigo das repúblicas e defensor das monarquias e do papa. Apesar de a frase ter servido sempre para vituperar todos os governos, os alvos preferidos são aqueles escolhidos por voto popular. Porém, nada se diz quando os eleitores mostram sabedoria nas votações. Assim, contrariando a máxima popular, o filho feio sempre tem por pai o próprio povo. No fundo, a crítica não é aos maus governantes, mas aos responsáveis por sua elevação aos cargos.

Chegar de mãos abanando
Os primeiros imigrantes deviam trazer as ferramentas indispensáveis ao cultivo da terra, entre as quais eram importantes a foice e o machado, para a derrubada de matas. Dos colonos europeus esperava-se que trouxessem também galinhas, porcos e vacas, bases de uma economia auto-sustentável. Quem chegasse, pois, de mãos abanando, não vinha disposto a trabalhar. Manter, pois as mãos ocupadas era sinal de disposição para o trabalho e ajuda mútua. O imigrante, que no dizer de Ambrose Bierce (1842-1914), é um indivíduo mal-informado, que pensa que um país é melhor que outro, não poderia chegar de mãos abanando.

Cobra que perdeu o veneno
Aplica-se esta frase a pessoas iradas que, entretanto, nada podem fazer em situações de desespero. Nasceu da crendice popular de que as cobras, para não sucumbirem ao próprio veneno, depositam-no em folhas quando precisam tomar água. Ao voltarem dos riachos, algumas acabam esquecendo-se de onde o puseram, mantendo-se como loucas à procura da peçonha temporariamente dispensada. O escritor maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto (1864-1934), autor de mais de cem livros e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, registrou o adágio em sua peça A muralha, numa fala da personagem Ana que, incapaz de resistir ao jogo do bicho, comporta-se como cobra que perdeu o veneno.
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Com uma mão se lava a outraEsta frase resume preceitos de solidariedade, dando conta de que as ajudas devem ser mútuas. Foi originalmente registrada no parágrafo 45 do romance Satyricon, do escritor latino Tito Petrônio Arbiter (século primeiro a.C.), transposto para o cinema pelo famoso cineasta italiano Federico Fellini (1920-1994). Em síntese, o romance narra a história de um triângulo amoroso, envolvendo dois rapazes apaixonados por um terceiro, mas livro e filme põem em relevo a decadência dos costumes políticos. Tanto o romancista como o diretor criticam duramente a civilização ocidental, apesar dos 20 séculos que o separam, onde o que mais falta é justamente a solidariedade.

Custar os olhos da cara
A história desta frase começa com um costume bárbaro de tempos muitos antigos, que consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de indivíduos que, pela influência que detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Cegos, eles seriam inofensivos ou menos perigosos. Naturalmente, a expressão alude também ao incomparável valor da visão. Por isso, pagar alguma coisa com a perda dos olhos passou a ser sinônimo de custo excessivo, que ninguém pode pagar. A expressão tem servido para designar preços exagerados em qualquer produto. Um dos primeiros a registrá-la foi o escritor romano Plauto (254-184 a.C.), numa das 130 peças de teatro que escreveu.

Coisas da casa cuide a mulher
Esta frase, dando conta de que os trabalhos domésticos são incumbência exclusivamente femininas, tem suas origens remotas, mas houve um caso que a tornou ainda mais proverbial e famosa. Guilhaume Budé (1467-1540), um dos fundadores do College de France, onde ensinaram alguns dos maiores intelectuais do mundo nas diversas épocas, estava pesquisando etimologia quando irrompeu em seu escritório, todo esbaforido e aflito, um mensageiro de triste notícia: a casa do já célebre humanista francês tinha pegado fogo. Sem levantar os olhos dos manuscritos de grego, língua cujos estudos disseminou na França toda, limitou-se a pronunciar esta frase. Mas nada restou depois do incêndio para a mulher cuidar.

De boas intenções o inferno está cheioEsta frase é de autoria de um teólogo e santo famoso, o francês São Bernardo de Clairvaux (1090-1153). Muito místico, travou grandes polêmicas com o célebre namorado de Heloísa, o também teólogo e filósofo escolástico Pedro Abelardo (1079-1142). Conselheiro de reis e papas, São Bernardo pregou a segunda Cruzada, destacando-se no combate àqueles que eram considerados hereges por ousarem interpretar de modos plurais a ortodoxia católica. A frase foi brandida, não apenas contra seus desafetos, mas também a seus aliados, e tornou-se proverbial para denunciar que as boas intenções, além de não serem suficientes, podem levar a fins contrários aos esperados.

Deixo a vida para entrar na história
A celebridade desta frase deve-se à carta-testemunha do presidente Getúlio Vargas, assinada momentos antes de suicidar-se, na madrugada de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Um padre ainda o encontrou consciente e de olhos abertos. Antes de ocupar a Presidência da República por quase 20 anos, ele foi governador do Rio Grande do Sul, seu Estado natal. Um dos maiores estadistas brasileiros, foi sob seu governo que ocorreu a maior industrialização do Brasil. Logo depois de deposto a primeira vez, em 1945, candidatou-se a senador, conseguindo 17 por cento dos votos, recorde jamais alcançado por qualquer outro. No segundo mandato, cumpriu a frase profética.

Deus me defenda dos amigos, que dos inimigos me defendo eu
Frase atribuída ao escritor e filósofo francês Voltaire, pseudônimo de François Marie Arquet. Teve desempenho brilhante nas célebres polêmicas do Século das Luzes, com suas idéias claras, temperadas por cáustica ironia, arma verbal que lhe rendeu muitos inimigos entre os obscurantistas, sendo obrigado a retirar-se de Paris após a publicação do seu livro Cartas filosóficas, em 1734. Foi, porém, apoiado e acolhido pela escritora Madame de Châtelet (1706-1749), sua inspiradora e amiga, da qual Deus não precisou defendê-lo.

Dinheiro não tem cheiro
A frase original foi pronunciada em latim, pelo imperador Vespasiano (9-79), cujo filho, Tito, estava inconformado com o novo imposto baixado pelo pai, que, para melhorar as finanças da antiga Roma, taxara os mictórios públicos. Logo nas primeiras arrecadações, Vespasiano tomou uma das moedas recolhidas nas privadas imperiais e pediu que o filho a cheirasse, dizendo: non olet, isto é, não tem cheiro. Vespasiano fez boa administração, recuperou a economia do império e entre seus feitos está também a construção do Coliseu. Mas, como todo administrador austero, incompatibilizou-se com os meios senatoriais.

Dize-me o que comes e eu te direi quem és
Variação do preceito evangélico "dize-me com quem andas e eu te direi quem és", esta frase famosa está presente em A filosofia do gosto, livro clássico do célebre gastrônomo Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826) e faz parte dos 20 aforismos ali reunidos, os mandamentos de quem quer comer bem. Bom gourmet e bom gourmand, esse francês notabilizou-se por suas célebres tiradas a respeito do ato de comer. Entre outras prescrições, recomendou aos cozinheiros e aos visitantes a pontualidade e escreveu que convidar alguém para comer em nossa casa equivale a encarregar-se de sua felicidade. Sempre com verve, proclamou que mais vale para o gênero humano a invenção de um novo prato do que o descobrimento de um novo astro.

Dizer as coisas em alto e bom som
Esta frase nasceu das dificuldades de comunicação em sociedade, principalmente no trabalho, nas lides e em conversas de rua. Não se sabe quem a inventou, com o fim de deixar muito claro o que dizia, mas há um bom exemplo recolhido do célebre escritor, jornalista, orador, político e jurisconsulto brasileiro Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923). Foi também vice-presidente da República e teve uma desastrada atuação como ministro da Fazenda. Redigiu nossa primeira constituição republicana, a de 1891. Esta frase está presente em célebre conferência que fez sobre o dever da imprensa de dizer a verdade em alto e bom som.

Dois bicudos não se beijam
Ao contrário do que se possa parecer, o vocábulo não se aplica às aves, mas aos homens. Antigamente eram chamados de bicudo tanto estiletes compridos e armas pontudas, como certos valentões que, nas bodegas, festas e ajuntamentos diversos, patrocinavam arruaças. Indivíduos de pouca conversa e gestos grosseiros, brigavam por qualquer coisa. O brasileiro, tido por cordial e afável no trato entre colegas e amigos, sempre se caracterizou por abraços, afagos, beijos e outras efusivas demonstrações de carinho. Daí o contraste de dois bicudos que não se beijam, de que são exemplo célebres parcerias impossíveis como certos presidentes e vice-presidentes do Brasil, entre os quais Jânio Quadros e João Goulart. O primeiro mandou o outro para a Cochinchina – oficialmente, seria a China, mas conhecendo as intenções ocultas de Jânio, sabemos que ele queria o vice ainda mais longe – e renunciou para ver que bicho dava. Deu o maior bode, como a História mostrou, resultando, por fim, na deposição do presidente que os militares não queriam empossar.

Dourar a pílula
Esta frase tem o significado de se apresentar algo difícil ou desagradável como coisa fácil de aceitar. Nasceu de conhecida prática das farmácias antigas, que consistia em embrulhar pílulas em finos papéis, com o fim de preparar psicologicamente o cliente para engolir um remédio de gosto amargo. Do sentido literal, passou a metáfora e logo recebeu aplicação literário, estando um de seus mais antigos registros na peça Anfitrião, de Jean Baptiste Poquelin Molière (1622-1673), em que Sósia, na última cena do terceiro ato, diz: "o senhor Júpiter sabe dourar a pílula". Dourar a pílula é ainda hoje tática sutil de persuadir renitentes, quando se procura destacar os aspectos positivos de algo desfavorável.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=curiosidades/docs/vempalavras1

Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas

Criando Uma Nova Academia

Em solenidade realizada na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, no dia 5 de setembro de 2003 – em comemoração aos 153 anos da elevação da antiga Comarca do Alto Amazonas à categoria de Província do Império do Brasil, por decisão de D. Pedro II – foi criada a Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (Alcear). Esta nova Academia pretende resguardar e manter o brilho das Letras, que jamais se poderá apagar; a verdade das Ciências, que identifica soluções para as indagações e angústias da Humanidade; e a beleza das Artes, eternizada desde o momento da Criação, quando Deus ordenou: Faça-se a Luz! É nessa tríade universal que a inteligência, a criatividade e o conhecimento do Homem se fazem imortais.

A Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas - ALCEAR nasceu do idealismo de pessoas reconhecidamente atuantes nos mais diversos setores da vida pública, desde o magistério à magistratura; do jornalismo à medicina; da história às letras e às artes, em suas mais variadas formas de expressão. São homens e mulheres marcantes na sociedade amazonense por suas atitudes exemplares, sempre em busca do aperfeiçoamento pessoal, intelectual e profissional.

Os fundamentos da Alcear

O Amazonas apresenta nas últimas décadas elevados índices de crescimento intelectual. A rede de ensino fundamental e médio experimenta índices de crescimento muito elevados e renova-se a cada dia, em busca da melhoria dos padrões de qualidade do ensino. A educação de grau superior desenvolve-se em níveis que superam as previsões dos especialistas. Concentram-se hoje na cidade de Manaus duas universidades públicas, quatro centros universitários e dezenas de instituições particulares de ensino acadêmico onde se formam anualmente centenas de novos profissionais de nível superior.

Torna-se evidente, a cada dia, a necessidade de se intensificar o debate sobre a realidade econômico-social do Amazonas e as suas perspectivas de desenvolvimento, com a ampla participação dos diversos segmentos da sociedade. É diante desse cenário que se legitima a criação da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – Alcear, uma instituição cultural moderna, aberta a todas as correntes de pensamento, consciente da posição que lhe cabe assumir diante dos grandes questionamentos do Amazonas do Século 21.

O exemplo dos Acadêmicos

Acadêmico é o poeta que transmite sentimentos e provoca no leitor o desejo de ser também poeta. Acadêmicos são os prosadores, os cronistas, os contistas, os historiadores, os educadores, os cientistas, os jornalistas que conseguem apaixonar os leitores, transmitindo uma longa e duradoura felicidade espiritual aos que se aprofundam na leitura de suas obras. Ser acadêmico é ingressar também nas artes plásticas, na escultura, na pintura, e demais manifestações artísticas, com o espírito fartado pelo ideal de ampliar e difundir a beleza. Ser acadêmico é abraçar a Ciência, no afã de perseguir a verdade de forma incansável e desprendida, criando axiomas necessários ao conhecimento científico, embora todos saibamos que a perfeição é inatingível ao Homem e só a Deus pertence.

Os Acadêmicos Fundadores

Declinamos os nomes dos empreendedores do conhecimento, do ensino, do amor, do bem servir, para que os seus nomes não fiquem perdidos nas brumas do passado: Abrahim Sena Baze, Afrânio de Amorim Francisco Soares, Armando Júlio Souto Loureiro, Chloé Ferreira Souto Loureiro, Etelvina Norma Garcia, Eurípedes Ferreira Lins, Expedito Teodoro, Francisco Ferreira Batista, Francisco Ritta Bernardino, Gaitano Laertes Pereira Antonaccio, Garcitylzo do Lago Silva, Guilherme Aluízio de Oliveira Silva, Jorge Humberto Barreto, José Roberto Tadros, José Russo, Liana Belém Pereira Mendonça de Souza, Maria Palmira Soriano de Mello Antonaccio, Mario Jorge Corrêa, Marita Socorro Monteiro, Manoel Bessa Filho, Mário Ypiranga Monteiro Neto, Milton de Magalhães Cordeiro, Orígenes Angelitino Martins, Raimundo Colares Ribeiro, Rene Costa Menezes de Souza, Ruth Prestes Gonçalves, Ruy Alberto Costa Lins, Urias Sérgio de Freitas.

Os Patronos

As quarenta cadeiras da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR, tem como patronos, pela sua ordem numérica, as seguintes personalidades, todos com os seus nomes registrados na história do Amazonas: Padre Raimundo Nonato Pinheiro Filho, Genesino Braga, Violeta Branca Menescal de Vasconcelos Oliveira, Paulo Herban Maciel Jacob, Samuel Isaac Benchimol, Gaspar Antonio Vieira Guimarães, Agnello Bittencourt, Adriano Queiroz, João Nogueira da Mata, Arthur Cezar Ferreira Reis, Thales de Menezes Loureiro, Vivaldo Palma Lima, Antonio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, Carlos Alberto de Aguiar Corrêa, Manoel Bessa Filho, Felismino Francisco Soares, Manoel Bastos Lira, Djalma da Cunha Batista, Mário Silvio Cordeiro de Verçosa, Jorge de Moraes, Álvaro Botelho Maia, Umberto Calderaro Filho, Mário Jorge Couto Lopes, Octaviano Augusto Soriano de Mello, Manoel Anísio Jobim, Cosme Ferreira Filho, André Vidal de Araújo, João Chrysostomo de Oliveira, Aderson Andrade de Menezes, Plácido Serrano Pinto de Andrade, Esther Thaumaturgo Soriano de Mello, Nilton Costa Lins, Lilá Borges de Sá, Eunice Serrano Telles de Souza, Aristides Rocha, Aristóphano Antony, Josué Cláudio de Souza, Sócrates Bomfim, Plínio Ramos Coelho e Almino Álvares Affonso.

BRASÃO

Adota as cores oficiais da bandeira do Estado do Amazonas: vermelho, azul e branco. Formado por três anéis, o primeiro na cor branca com fundo vermelho, amparando um livro em perspectiva de 45º que apresenta no lado externo da sua capa azul, parte superior, uma Pena e a Escrita simbolizando as Letras; na parte central da capa do livro o planeta Saturno e um Microscópio representam as Ciências; na sua parte inferior, uma Aquarela e uma Figura Humana (em movimento de dança), representando as Artes.

Todo este simbolismo é circundado pelo segundo anel, na cor azul, em cujas bordas, pelo lado externo e em semicírculo, está escrito "Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas", com a sigla ALCEAR em posição verticalmente inferior. Um terceiro anel também da cor azul envolve o conjunto, encimado pela expressão latina "Labor Omnia Vincit Improbus" (Um trabalho perseverante vence tudo) e envolto por duas frondes derivadas do helenismo, influenciador da civilização e da cultura, cujos bastões de sustentação se cruzam na parte de baixo.

INTERPRETAÇÃO

A posição verticalmente inferior e o acentuado destaque da sua sigla ALCEAR, identificam a Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas, de pronto, com o sentimento de altear, elevar, içar, manter sempre erguido, bem no alto, o padrão cultural do Amazonas.

A múltipla significação do vocábulo ALCEAR com um horizonte cada vez mais elevado é partilhada, na posição verticalmente superior, com a expressão latina Labor omnia vincit improbus, que se tornou universal, extraída dos fragmentos de dois versos das Geórgicas de Publius Virgilius Mario (70-19, a.C.), o mais célebre dos poetas latinos pela absoluta perfeição do seu estilo. Ao alcear o trabalho no sentido apresentado por Virgilius, aqui simbolizado como um fenômeno apenas pelo seu lado sócio-cultural, a ALCEAR quer ser um fator decisivo de civilização e progresso, principalmente no seio da intelectualidade amazonense, quando se transforma em um formidável vínculo de cooperação e solidariedade.

Os três anéis estão representando as LETRAS, as CIÊNCIAS e as ARTES, atividades a serem insistentemente perseguidas pela ALCEAR.

O LIVRO, aqui considerado apenas o seu conteúdo, portanto um autêntico livro de ouro repositório dos fatos literários, artísticos e científicos, exibindo em sua capa todo o simbolismo da ALCEAR, é sustentado pelo primeiro anel de cor branca em uma base vermelha. Vejamos, então, como estes significativos e belos símbolos estão dispostos.

A PENA, representando o aparato da escrita, é o fundamento mais expressivo e perene da atividade cultural do ser humano. A ESCRITA utiliza este instrumento para transformar a linguagem falada e as pulsações da razão num sistema de signos gráficos, ou de outra natureza. Desta maneira, a PENA e a ESCRITA por ela produzida representam a simbologia das LETRAS.

SATURNO, o magnífico e estranho planeta do sistema solar, que no período clássico da antiga Roma era identificado com Cronos, o deus grego do tempo, faz um paralelo com o MICROSCÓPIO, o aparelho óptico utilizado na obtenção de imagens ampliadas, para simbolizar as formidáveis conquistas da humanidade no campo das ciências. Assim, SATURNO e MICROSCÓPIO representam a simbologia das CIÊNCIAS.

A AQUARELA, o processo de pintura sobre papel, e a figura humana simulando os movimentos da DANÇA, qualquer que seja a sua forma de expressão dramática ou a sua variação coreográfica, estão representando o simbolismo das ARTES.

A identificação nominal Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas é amparada pelo segundo anel e protegida pelo terceiro anel, ambos da cor azul, abraçados pelas duas frondes laterais com os seus bastões de sustentação, representativas da civilização e da cultura a partir do Renascimento.

Fonte:
http://portalamazonia.globo.com/alcear/alcear.htm

Gaitano Laertes Pereira Antonaccio

Fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas

Cadeira No. 1

Advogado tributarista, contabilista, empresário de turismo, escritor, poeta, articulista e conferencista, Gaitano Antonaccio (G. Laertes Pereira A.) é amazonense de Manaus, nascido a 28 de janeiro de 1940. Filho de Francisco Antonaccio e Neuza Pereira Antonaccio, é casado com a professora Maria do Carmo Azevedo Antonaccio, o casal possui os seguintes filhos: Laerte, Cacilda e Cynthia. iniciou os estudos primários no Colégio Nossa Senhora do Rosário, tendo como primeira professora, sua mãe que o ensinou as primeiras letras, ler, escrever e as quatro operações de aritmética.

Aprovado no exame de admissão para o Colégio Brasileiro estudou o curso ginasial e diplomou-se em 1958, na categoria de Técnico em Contabilidade. Cursou ainda humanidades no Colégio Estadual do Amazonas (antigo Ginásio Amazonense Pedro II) e, em seguida, formou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade do Amazonas, cujo diploma recebeu na noite de 11 de dezembro de 1965.

Com vários cursos de especialização em Contabilidade, Direito e Turismo, Gaitano Antonaccio, apesar de escrever desde muito cedo, tendo começado a fazer poesia com apenas 8 anos de idade, somente em 1982, com a idade de 42 anos, lançou o seu primeiro livro de poesias, passando a editar outros como:
1) Sentimento Sentido (poesia), 1989;

2) Estafa de Amor (poesia), 1991;

3) Denúncias Contra o Amor Reprimido (poesia), 1993;

4) Como Agir Sem Ferir Ética e Prerrogativas, (críticas), 1993;

5) Anedotário de Viagens (anedotas), 1993;

6) Inconsciência do Amor, poesia, 1994;

7) Anedotário de Viagens II (anedotas), 1995;

8) Zona Franca - Um romance polêmico entre Amazonas e São Paulo (História do Amazonas),1995;

9) Anedotário de Viagens III (anedotas), 1996;

10) O Amor Na Busca da Felicidade (poesia), 1996;

11) A Colônia Árabe no Amazonas (História do Amazonas)1996;

12) O Sabor do Amor (poesia) 1997;

13) Para Ler e Guardar (crônicas) 1997;

14) A Decadência das Forças Morais (crônicas) 1997;

15) Coletânea de Anedotário de Viagens, 1997;

16) Entidades e Monumentos do Amazonas (História do Amazonas) 1997;

17) Só Amor (poesia) 1998 ;

18) Turismo, Análise, Críticas e Sugestões (críticas) 1998;

19) Crônicas Anacrônicas (crônicas) 1998;

20) Amor-Do Sacro ao Profano (poesia) 1999;

21) Gibran Kahlil Gibran- O Apóstolo Revolucionário (ensaio) 1999;

22) A Política Os Políticos e o Povo (ensaio) 1999;

23) A Insurreição do Amor (poesia) 1999;

24) O Amor de Cristo e o Amor dos Homens ,(poesia) 1999;

25) Gaitano Antonaccio - Uma Autobiografia (ensaio) 1999;

26) 65 Anos de Rotary Internacional, (história)1999, em parceria com Juarez Klinger do Areal Souto;

27) Duas Águias no Paraíso Amazônico: Mário Ypiranga Monteiro & Samuel Isaac Benchimol (ensaio) 2000;

28) O Amor Sob Todas As Formas (poesia), 2001;

29) A Contabilidade no Desenvolvimento das Empresas (ciências contábeis) 2000;

30) A Força do Amor (poesia), 2001;

31) Poesias Para Reler (poesia), 2001;

32) Newton Sabbá Guimarães, A Polimorfia de um Humanista (ensaio) 2001;

33) João Crhysostomo de Oliveira & João Nogueira da Mata - Duas Culturas, Dois Exemplos (ensaio),2002;

34) Lampejos da Mente (crônicas), 2002;

35) O Poder do Amor (poesia), 2002;

36) Amazonas - A outra parte da História (História do Amazonas), 2001;

37) A Redivisão do Estado do Amazonas (monografia), 2001;

38) A Ficção e a Realidade (poesia),2003;

39) Aspectos Históricos do Amazonas em Sonetos Invertidos (poesia), 2003;

40) Ideal Clube - De 1903 a 2003 - Cem anos de aristocratismo (História do Amazonas), 2003; 41) Poemas e Quadras Imperfeitas (poesias), 2003;

42).Águias da Literatura Brasileira (ensaio), 2003;

43) Pensamentos Filosóficos de Gaitano Antonaccio (pensamentos), 2003;

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências Contábeis,

sócio correspondente Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro,

titular da Academia de Letras do Irajá, na cidade do Rio de Janeiro,

correspondente da Arcádia Brasílica de Letras e Ciências Estéticas do Rio de Janeiro,

sócio do Clube Literário de Brasília,

sócio da Writeres and Association Fraternlity (U.S.A.),

sócio do Instituto de Antropologia da Amazônia,

fundador da Academia de História do Amazonas,

fundador e primeiro presidente da Associação dos Escritores do Amazonas,

fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas - ALCEAR.


É detentor de inúmeras honrarias:

Medalha Juscelino Kubitscheck,

Medalha Zumbi dos Palmares, em Brasília - DF,

Honra ao Mérito do Clube Literário de Brasília,

Menção Honrosa da Revista Brasília como ganhador do concurso nacional de poesias, em 1992 com o livro Estafa de Amor;

Medalha de Ouro Rodolfo Vale, da Prefeitura Municipal de Manaus,

Láurea Olavo Bilac, da Sociedade Cultural e Condecorativa do Brasil, Rio de Janeiro,

Honra ao Mérito da Academia Del Fiorino, de Firenze, Itália,

Doctor Honoris Causa, da Universidade Samuel Benjamim Thomas, Londres, Inglaterra,

Diploma da Ordem e do Mérito de Educação e Integração, SP;

Mérito Municipalista, SP;

Medalha João Ramalho, SP;

Duas menções honrosas da Prefeitura Municipal de Manaus;

Honra ao Mérito do Rotary Internacional, Belém-PA.;

Honra ao Mérito do Conselho Federal de Contabilidade;

Honra ao Mérito da Prefeitura do Rio de Janeiro;

Honra ao Mérito da Associação Comercial do Amazonas;

Ordem do Mérito da Imprensa Oficial, SP;

Colar do Mérito José de Anchieta, Brasília, DF;

Menção Honrosa do Centro Cultural São Borja, RS;

É Diretor da Associação Comercial do Amazonas,

membro vogal da Junta Comercial do Amazonas,

foi presidente do Conselho Curador da Fundação TV Cultura do Amazonas,

membro do Conselho de Contribuintes do Município (suplente),

membro do Conselho Federal de Contabilidade,

membro do Comitê Estadual de Turismo,

Membro do Instituto Brasileiro de Direito Tributário do Conselho de Turismo da Amazonastur, representando a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas como titular e suplente da Associação Comercial.


Fonte:
http://portalamazonia.globo.com/alcear/alcear.htm

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Mario de Andrade (1893 - 1945)

Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquisila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar de uma vez:
E só tirar a cortina
Que entra luz nesta escuridez.
(A Costela de Grão Cão)


1893: Nasce Mário Raul de Moraes Andrade, no dia 9 de outubro, filho de Carlos Augusto de Moraes Andrade e Maria Luísa Leite Moraes Andrade; na Rua Aurora, 320, em São Paulo - SP.
  • 1904: Escreve o primeiro poema, cantado com palavras inventadas. "O estalo veio num desastre da Central durante um piquenique de subúrbio. Me deu de repente vontade de fazer um poema herói-cômico sobre o sucedido, e fiz. Gostei, gostaram. Então continuei. Mas isso foi o estralo apenas. Apenas já fizera algumas estrofes soltas, assim de dois em três anos; e aos dez, mais ou menos, uma poesia cantada, de espírito digamos super realista, que desgostou muito minha mãe. "— Que bobagem é essa, meu filho?" — ela vinha. Mas eu não conseguia me conter. Cantava muito aquilo. Até hoje sei essa poesia de cor, e a música também. Mas na verdade ninguém se faz escritor. Tenho a certeza de que fui escritor desde que concebido. Ou antes... Meu avô materno foi escritor de ficção. Meu pai também. Tenho uma desconfiança vaga de que refinei a raça..." Este o depoimento do escritor a Homero Senna, publicado no livro "República das Letras", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1996, 3a. edição, sobre como havia começado a escrever.
  • 1905: Ingressa no Ginásio N. Sra. do Carmo dos Irmãos Maristas.
  • 1909: Forma-se bacharel em Ciências e Letras. Terminado o curso multiplica leituras e freqüenta concertos e conferências.
  • 1910: Cursa o primeiro ano da faculdade de Filosofia e Letras de São Paulo.
  • 1911: Inicia estudos no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.
  • 1913: Morre seu irmão Renato, aos 14 anos, devido a complicações decorrentes de uma cabeçada em jogo de futebol. Abalado pelo fato e trabalhando em excesso, Mário tem uma profunda crise emocional. Passa um tempo em Araraquara, na fazenda da família. Quando retorna desiste da carreira de concertista devido a suas mãos terem se tornado trêmulas. Dedica-se, então a carreira de professor de música.
  • 1915: Conclui curso de canto no Conservatório.
  • 1916: Conclui, como voluntário, o Serviço Militar.
  • 1917: Diploma-se em piano pelo Conservatório. Morre seu pai. Publica Há uma gota de sangue em cada poema, poesia, sob o pseudônimo de Mário Sobral. Primeiro contato com a modernidade na Exposição de Anita Malfatti. Primeira viagem a Minas: encontra o barroco mineiro, visita Alphonsus de Guimarães. Já iniciou sua Marginália.
  • 1918: Recebe Diploma de Membro da Congregação Mariana de N. Sra. da Conceição da Igreja de Santa Ifigênia. Noviciado na Ordem Terceira do Carmo. Nomeado professor no Conservatório. Escreve contos e poemas. Colabora ocasionalmente em jornais e revistas como crítico de arte e cronista; em A Gazeta e O Echo (São Paulo).
  • 1919: Profissão na Ordem Terceira do Carmo a 19 de março. É colaborador de A Cigarra, O Echo e A Gazeta. Viagem a Minas Gerais, visitando as cidades históricas.
  • 1920: Lê obras Index . Faz parte do grupo modernista de São Paulo. Colabora em Papel e Tinta (São Paulo), na Revista do Brasil (Rio de Janeiro - até 1926) e na Illustração Brasileira (Rio de Janeiro - até - 1921).
  • 1921: É professor de História da Arte no Conservatório. Pertence à Sociedade de Cultura Artística. Está presente no lançamento do Modernismo no banquete do Trianon. É apresentado ao público por Oswald de Andrade através do artigo "Meu poeta futurista" (Jornal do Commércio São Paulo). Escreve "Mestres do passado" para o citado jornal.
  • 1922: Professor catedrático de História da Música e Estética no Conservatório. Participa da Semana de Arte Moderna em São Paulo, de 13 a 18 de fevereiro, no Teatro Municipal de São Paulo. Faz parte do grupo da revista Klaxon, publicando poemas e críticas de literatura, artes plásticas, música e cinema. Escreve Losango Cáqui, poesia experimental. Inicia a correspondência com Manuel Bandeira, que dura até o final de sua vida. Publica Paulicéia desvairada, poesia.
  • 1923: Estuda alemão com Kaethe Meichen-Bosen, de quem se enamora. Faz parte da revista Ariel, de São Paulo. Escreve A escrava que não é Isaura, poética modernista. Continua a colaborar na Revista do Brasil (Rio de Janeiro).
  • 1924: Realiza a histórica "Viagem da Descoberta do Brasil", Semana Santa dos modernistas e seus amigos, visitando as cidades históricas em Minas. Colabora em América Brasileira (contos de Belazarte), Estética e Revista do Brasil (Rio de Janeiro).
  • 1925: Colabora n'A Revista Nova de Belo Horizonte. Publica A Escrava que não é Isaura: discurso sobre algumas tendências da poesia modernista. Adquire a tela de André Lhote, Futebol, através de Tarsila.
  • 1926: Férias em Araraquara, escrevendo Macunaíma. Publica Primeiro andar, contos, e Losango Cáqui (ou Afetos Militares de Mistura com os Porquês de eu Saber Alemão), poesia. Escreve poemas de Clã do Jaboti. Colabora na Revista de Antropofagia, na Revista do Brasil e em Terra Roxa e Outras Terras.
  • 1927: Colabora no Diário Nacional de São Paulo: crítico de arte e cronista (até 1932, quando o jornal é fechado). Estréia como romancista, publicando Amar, verbo intransitivo, que choca a burguesia paulistana com a história de Carlos, um adolescente de família tradicional iniciado nos prazeres do sexo pela sua Fraülein, contratada por seu pai exatamente para essa tarefa. Lança, também, o livro Clã do Jaboti, de poesias. Realiza a primeira "viagem etnográfica": percorrendo o Amazonas e o Peru, da qual resulta o diário O Turista Aprendiz.
  • 1928: Membro do Partido Democrático. Realiza sua segunda "viagem etnográfica": ao Nordeste do Brasil (dez. 1928 - mar. 1929). Colabora na Revista de Antropofagia e em Verde. Publica Ensaio sobre a Música Brasileira e Macunaíma - o Herói sem nenhum caráter, onde inova com audácia e rebela-se contra a mesmice das normas vigentes. Com enorme sucesso a obre repercutiu em todo o país por seus enfoques inéditos. Sob um fundo romanesco e satírico, aí se mesclavam numa narrativa exemplar a epopéia e o lirismo, a mitologia e o folclore, a história e o linguajar popular. O personagem-título, um "herói sem nenhum caráter", viria a ser uma síntese, o resumo das virtudes e defeitos do brasileiro comum.
  • 1929: Inicia coluna de crônicas "Táxi", no Diário Nacional. "Viagem etnográfica" ao Nordeste, colhendo documentos: música popular e danças dramáticas. Rompimento da amizade com Oswald de Andrade. Publica Compêndio de História da Música.
  • 1930: Apóia a Revolução de 30. Defende o Nacionalismo Musical. Publica Modinhas Imperiais, crítica e antologia, e Remate de Males, poesia.
  • 1933: Completa 40 anos. Faz crítica para o Diário de São Paulo (até 1935).
  • 1934: Diplomado Professor honorário do Instituto de Música da Bahia. Cria e passa a dirigir a Coleção Cultural Musical (Edições Cultura Brasileira - São Paulo). Colabora em Festa (Rio de Janeiro), Boletim de Ariel. Publica Belazarte, contos, e Música, Doce Música, crítica.
  • 1935: É nomeado chefe da Divisão de Expansão Cultural e Diretor do Departamento de Cultura. Publica O Aleijadinho e Álvares de Azevedo.
  • 1936: Deixa de lecionar no Conservatório. Nomeado Chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura.
  • 1937: É contra o Estado Novo.
  • 1938: Transfere-se para o Rio de Janeiro (27 jun.), demitindo-se do Departamento de Cultura (12 mai.). É nomeado professor-catedrático de Filosofia e História da Arte na Universidade do Distrito Federal e colabora no Diário de Notícias daquela cidade. Publica Namoros com a Medicina, estudos de folclore.
  • 1939: Cria a Sociedade de Etnologia e Folclore de São Paulo, sendo seu primeiro presidente. Organiza o 1o. Congresso da Língua Nacional Cantada (jul.). Projeta a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN. É nomeado encarregado do Setor de São Paulo e Mato Grosso. Escreve poemas de A Costela do Grão Cão. Publica Samba Rural Paulista, estudo de folclore. É crítico do Diário de Notícias (até 1944) e colabora na Revista Acadêmica (Rio de Janeiro) e em O Estado de S. Paulo. Publica A Expressão Musical nos Estados Unidos.
  • 1941: Volta a viver em São Paulo, à Rua Lopes Chaves 546. Está comissionado no SPHAN. Colabora em Clima (SP).
  • 1942: Sócio-fundador da Sociedade dos Escritores Brasileiros. Colabora no Diário de S. Paulo e na Folha de S. Paulo. Publica Pequena História da Música.
  • 1943: Publica Aspectos da Literatura Brasileira, O Baile das Quatro Artes, crítica, e Os Filhos de Candinha, crônicas.
  • 1944: Escreve Lira Paulistana, poesia.
  • 1945: Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo - SP em 25 de fevereiro de 1945, vitimado por um enfarte do miocárdio, em sua casa. Foi enterrado no Cemitério da Consolação. Publicação de Lira Paulistana e Poesias completas.
Um capítulo à parte em sua produção literária sem fronteiras é constituído pela correspondência do autor, volumosa e cheia de interesse, ininterruptamente mantida com colegas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Fernando Sabino, Augusto Meyer e outros. Suas cartas conservaram, de regra, a mesma prosa saborosa de suas criações com palavras — um lirismo que, como ele disse, "nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas sílabas, com acentuação determinada". Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo SP em 25 de fevereiro de 1945.

Mario de Andrade e o Socialismo
Continua crescendo a literatura sobre Mário de Andrade, numa clara demonstração de que a importância atribuída à sua obra está aumentando com o tempo.
No final do ano passado (1989), saiu um magnífico ensaio de Moacir Werneck de Castro (Mário de Andrade – Exílio no Rio, Ed. Rocco), que não só reconstituía um período crucial da vida do grande escritor paulista como divulgava documentos essenciais para a reconstituição da sua trajetória em geral.
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Entre os campeões do movimento modernista no Brasil, Mário se destacava pela amplitude de sua cultura, pela vastidão dos seus conhecimentos. Tinha uma visão panorâmica abrangente. Dispunha de um quadro de referências muito mais rico do que todos os outros.

Se o velho Hegel tinha razão quando escreveu que “a verdade é o todo”, Mário pode ser considerado, no meio dos modernistas, aquele que mais se aproximou da verdade. Ou, se concluirmos que a verdade é sempre plural, aquele que conseguiu chegar mais perto de um número maior de verdades.

Mário lia muito; e lia sobre todas as coisas. Tinha uma curiosidade insaciável. E essa curiosidade levava o tímido que ele era a vencer a timidez para conversar com seus próximos. Tratava-se – dizem – de um mestre da conversa: sabia sintonizar na onda do interlocutor e se empenhava em ouvi-lo e compreendê-lo.

Esse movimento da conversa, da abertura para o outro, na permanente disposição para cotejar sua opinião com as convicções alheias, só seria possível numa personalidade vocacionalmente reflexiva. E Mário era, de fato, um ser naturalmente inclinado à reflexão. Etimologicamente, um ser possuído pela necessidade de se debruçar outra vez (re+flectere) sobre a mesma coisa, a fim de enriquecer a primeira impressão, eventualmente corrigindo-a e superando-a.

Curiosamente, essa vocação reflexiva coexistia com um temperamento impetuoso, rebelde, que a timidez nem sempre conseguia controlar. E – é claro! – a reflexão precisou de mais tempo para se afirmar do que a rebeldia. Nos primeiros anos, prevalece uma inquietação que se manifesta com maior desenvoltura; e nos últimos anos, o ímpeto questionador (que jamais diminuiu) passa a se combinar, cada vez mais, com uma visão crítica (e auto-crítica) elaborado com maior solidez teórica.

Mário era mesmo um ser “plural”, como se lê no título do livro de Elisa Angotti Kossovitch. No começo dos anos vinte, quando se insurgia, desassombradamente, contra o conservadorismo que dominava a nossa linguagem literária, o moço ousado que demolia preconceitos ficou seriamente preocupado ao ser chamado de “futurista” num artigo de Oswald de Andrade, porque teve medo de, com o escândalo, perder os alunos das aulas de piano que ministrava (e que lhe assegurava seu sustento). Por outro lado, no último decênio da sua vida, sofrido e amadurecido, submetendo sua trajetória a uma prudente revisão, o escritor continuava a manifestar arroubos da juventude, a audácia e a coragem intelectual dos primeiros tempos.

Devemos reconhecer, entretanto, que a continuidade não excluía a mudança. A persistência das características essenciais (e contraditórias) de uma personalidade rica (e surpreendente) não deve obscurecer a significação das modificações que vão ocorrendo, ao longo da vida, na visão que Mário tinha das coisas.

As preocupações de Mário em relação à política, por exemplo, vão se tornando mais definidas; e ele vai assumindo posições mais concretamente críticas. A atitude assumida em face do comunismo também sofre alterações interessantes (e revela, igualmente, constâncias sintomáticas).

No clima de efervescência que caracterizava a vida política brasileira em torno de 1930, Mário andou lendo coisas sobre o marxismo e a União Soviética. Não chegou (parece) a ler Marx diretamente: leu Bukhárin. E fez questão de sublinhar sua distância em relação à Rússia. Numa carta ao jovem amigo Carlos Drummond de Andrade, admitia que a sua sensibilidade era receptiva a “apelos vagos porque sempre líricos, sociais, porventura comunistas (sem Rússia)” (carta de 1-7-1930, constante do livre A lição do amigo, Ed. José Olympio). Vale a pena sublinhar as palavras “sem Rússia”, colocadas entre parênteses.

Num artigo intitulado “Comunismo”, publicado no Diário Nacional (de São Paulo) em 30-11-1930, Mário se referia ironicamente à imagem do comunismo russo como “uma espécie de assombração medonha” e, de passagem, através do advérbio “verbalmente”, sugeria certa desconfiança em relação à identificação do comunismo com a União Soviética, “a primeira e a única nação que o aplicou verbalmente até agora”. Observava que a propaganda anticomunista havia exagerado as “mazelas” da URSS e os dirigentes russos reagiam, se defendendo, negando os problemas que tinham e sustentando que o regime por eles implantado assegurava a felicidade dos cidadãos. Mas havia uma “confusão pueril” na questão. Porque – como dizia Mário – “um sistema de governo jamais dará felicidade pra ninguém não. A felicidade é uma aquisição puramente individual”.

Em 6 de novembro de 1932, Mário escreveu a Drummond se queixando da posição assumida pelos comunistas brasileiros, que desqualificavam a revolta paulista de 1932 considerando-a um movimento exclusivamente burguês. E acusava, irritado: eles “mentem por pragmatismo, no seu já famoso pragmatismo que no Brasil se transformou notoriamente em licença pra todas as safadezas”.

Independentemente de todos os oportunismos que lhe causavam consternação e de todas as simplificações rudemente pragmáticas (ou dogmáticas?) dos comunistas, Mário não deixava de alimentar robustas esperanças no socialismo como idéia. Respondendo em 1933 a um questionário que lhe foi encaminhado pela Editora Macauley and Company, declarou: “Minha maior esperança é que se consiga um dia realizar no mundo o verdadeiro e ainda ignorado Socialismo. Só então o homem terá o direito de pronunciar a palavra civilização” (citado por Drummond em A lição do amigo).

O marxismo lhe parecia uma teoria um tanto tosca. Os comunistas eram, às vezes, bisonhos. Mas a ideologia que os animava e as verdades temporárias em que se apoiavam eram elementos imprescindíveis no encaminhamento da revolta ética dos intelectuais. “O intelectual pode bem – escrevia Mário – e deverá sempre se pôr a serviço duma dessas ideologias, duma dessas verdades temporárias. Mas por isso mesmo que é um cultivado, e um ser livre, por mais que minta em proveito da verdade temporária que defende, nada no mundo o impedirá de ver, de recolher e reconhecer a verdade da miséria do mundo. Da miséria dos homens. O intelectual verdadeiro, por tudo isso, sempre há de ser um homem revoltado e um revolucionário, pessimista, cético e cínico: fora da lei” (Táxi, ed. cit., p. 516).

Existia em Mário, como notou Telê Porto Ancona Lopez, “um desejo de opção política” (a expressão se encontra em Mário de Andrade: ramais e caminho, Ed. Duas Cidades). No entanto, a ética que cobrava o engajamento era a mesma ética que incitava à desconfiança em relação a todas as possibilidades concretas da militância.

Em 1938, entristecido com o fracasso de um projeto a que se dedicara durante três anos na Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Mário resolveu se “exilar” no Rio de Janeiro, onde viveu por dois anos e oito meses. O “exílio” lhe proporcionou uma ampliação no seu círculo de amizades: conviveu com jovens intelectuais combativos, dispostos a enfrentar a política e, eventualmente, a ir para a prisão. Com sua habitual sinceridade, confessou-lhes que tinha medo de ser preso. Viveu mal, no Rio, angustiado com o Brasil e o mundo, naqueles anos de Estado Novo getuliano e de ascensão do fascismo na Europa.
Moacir Werneck de Castro conta: “A experiência que Carlos Lacerda e eu trazíamos de nossas militâncias de esquerda o deixava assombrado.” Não abria mão de suas exigências mais íntimas de ser sempre senhor do seu engajamento, mantendo-o sob controle, porém, queria incorporar algo do pensamento novo mais combativo. Moacir explica: “Mário jamais pretendeu assimilar o marxismo, mas utilizava conceitos marxistas como instrumentos de análise e de conhecimento da realidade.” Essa atitude se manifesta em diversos trabalhos que abordam a relação da música com a história e a sociedade. E se manifesta também nos conselhos que dá a Oneida Alvarenga (que mais tarde viria a escrever o livro Mário de Andrade, um pouco, lançado pela Editora José Olympio): “Você sabe que pessoalmente não admito integralmente o marxismo e sinto na vida humana uma porção de causas e de imponderáveis que produziriam os efeitos. Mas incontestavelmente o marxismo contém uma enorme parte de verdade que hoje nem é marxista mais porque incorporada ao conhecimento geral, à verdade humana. Coisas que ninguém discute mais.”
De volta a São Paulo, em 1941, Mário se mostrava inclinado a aprofundar sua reflexão, num movimento tanto crítico como autocrítico, que o levou a assinalar com surpreendente vigor polêmico as limitações que passara a enxergar no movimento modernista. O artista, ameaçado como homem pelo nazismo, precisa se unir à luta dos outros homens; precisa “marchar com as multidões”. Ninguém tem o direito de permanecer à margem de um esforço imprescindível para enfrentar um grave perigo que ameaça toda a humanidade.
O artista, o escritor, o intelectual não devem “servir aos donos da vida”. Devem ser solidários em relação às aspirações dos homens da sociedade em que vivem. Devem, no entanto, preservar sua autonomia individual. O próprio Mário se sente pressionado por essa dupla exigência e reflete sobre ela com intensa dramaticidade em seus últimos anos de vida. Gilda de Mello e Souza providenciou a edição de um volume que reúne um longo e fascinante diálogo que o autor de Macunaíma estava publicando na Folha da Manhã quando a morte o levou, em 1945. Nessa obra – intitulada O banquete – Mário mostra cinco personagens imaginários discutindo sobre arte e sociedade. E se serve das criaturas de ficção para expressar suas inquietações, a diversidade dos pontos de vista que correspondiam à multiplicidade das suas preocupações, de seus “valores”.
A União Soviética, na guerra que estava travando contra Hitler, nas vitórias que obtinha sobre a barbárie nazista, empolgava o coração do escritor. Seu último texto terminado foi uma apresentação de um livro de Victor Serof a respeito do compositor russo Dmitri Chostacóvich; e, naquele momento, Mário chegou a admitir que a comunidade tivesse o direito de cobrar do compositor, como indivíduo, que ele, na sua arte, atendesse à demanda coletiva, renunciando às formas mais exasperadas do seu individualismo.
As discussões que podem ser lidas em O banquete, contudo, refletiam de maneira mais completo a complexa gama das questões éticas e estéticas com que o escritor se defrontava. De um lado, os personagens Janjão e Pastor Fido expressam a disposição de Mário para assumir o compromisso da arte com a afirmação do caráter nacional e com a crítica social. De outro, a cantora Siomara Ponga traduz a convicção (partilhada por Mário) de que a arte, de algum modo, se justifica por si mesma, por sua qualidade, por sua capacidade de durar.
As contradições irresolvidas da estética remetem às tensões e conflitos do movimento da sociedade. A cultura não pode resolver questões que a vida não resolveu: o que ela pode (e precisa) fazer é nos proporcionar maior familiaridade com elas.

Bibliografia:
- Há uma gota de sangue em cada poema, 1917
- Paulicéia desvairada, 1922
- A escrava que não é Isaura, 1925
- Losango cáqui, 1926
- Primeiro andar, 1926
- A clã do jabuti, 1927
- Amar, verbo intransitivo, 1927
- Ensaios sobra a música brasileira, 1928
- Macunaíma, 1928
- Compêndio da história da música, 1929 (reescrito como Pequena história da música brasileira, 1942)
- Modinhas imperiais, 1930
- Remate de males, 1930
- Música, doce música, 1933
- Belasarte, 1934
- O Aleijadinho de Álvares de Azevedo, 1935
- Lasar Segall, 1935
- Música do Brasil, 1941
- Poesias, 1941
- O movimento modernista, 1942
- O baile das quatro artes, 1943
- Os filhos da Candinha, 1943
- Aspectos da literatura brasileira 1943 (alguns dos seus mais férteis estudos literários estão aqui reunidos)
- O empalhador de passarinhos, 1944
- Lira paulistana, 1945
- O carro da miséria, 1947
- Contos novos, 1947
- O banquete, 1978
- Será o Benedito!, 1992
Antologias:
- Obras completas, publicação iniciada em 1944, pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, compreendendo 20 volumes.
- Poesias completas, 1955
- Poesias completas, editora Martins - São Paulo, 1972
- Homenagens:
- Foi escolhido como Patrono da Cadeira n. 40 da Academia Brasileira de Música.

Fontes:
KONDER, Leandro. Intelectuais Brasileiros e Marxismo. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1991, pp. 35-41. In: Revista Espaço Acadêmico, Ano VII. no. 79 – Dezembro de 2007. Maringá: UEM.
http://www.espacoacademico.com.br/079/79konder.htm

NOGUEIRA JR., Arnaldo. Mário de Andrade. Disponível em http://www.releituras.com/marioandrade_bio.asp

SANTOS, Eberth. MOURA, Josana de. Literatura e Filosofia (Palavra em Ação). 2.ed. Uberlândia: Ed. Claranto, 2004.

Mário de Andrade (Resumo: Amar, Verbo Intransitivo)

Este romance é definido pelo autor como Idílio (s. m. Pequena composição poética, campestre ou pastoril; amor simples e terno; sonho; devaneio.) e abusa das técnicas modernas, usando uma linguagem coloquial, perto do falar brasileiro (por exemplo, começando frases por pronomes oblíquos), sem capítulos definidos, prosa telegráfica, expressionismo, construído através de flashes, resgatando o passado ou fixando o presente. Publicado em 1927, o Idílio causou impacto. Desafiou preconceitos, inovou na técnica narrativa.
Sem nenhum prêambulo, Souza Costa e Elza surgem no livro. Souza Costa é o pai de uma típica família burguesa paulista do início do século. Elza, uma alemã que tinha por profissão iniciar sexualmente os jovens. Professora de amor. Souza Costa contrata os "serviços" de Elza (que por todo o livro é tratada por Fräulein - senhora em alemão) com o intuito de que seu filho inicie sua vida sexual de forma limpa, asséptica, sem se "sujar" com prostitutas e aproveitadoras. Ela afirma naturalmente que é uma profissional, séria, e que não gostaria de ser tomada como aventureira. Oficialmente, Fräulein seria a professora de alemão e piano da família Souza Costa. Carlos aparece brincando com as irmã, ainda muito "menino".

Fräulein se ressente por não prender a atenção de Carlos no início, ele era muito disperso, mas gradualmente vai envolvendo-o na sua sedução. Eles tinham todas as tardes aulas de alemão e cada vez mais Carlos se esforçava para aprender (o alemão?!) e aguardava ansioso as aulas. Fräulein, em momentos de devaneios, criticava os modos dos latinos, se sentia uma raça superior, admirava e lia incessantemente os clássicos alemães, Goethe, Schiller e Wagner. Compreendia o expressionismo mas voltava à Goethe e Schiller.

A esposa de Souza Costa, vendo as intimidades do filho para com ela, resolve falar com Elza e pedir para que deixem a família. Fräulein esclarece seu propósito de forma incrivelmente natural, e após uma conversa com o marido, a mãe decide que é melhor para seu filho que ela continuasse com suas lições. O livro é permeado de digressões. Mário de Andrade freqüentemente justifica alguns pontos (antes que o critiquem), analisa fatos, alude à psicologia, à música e até mesmo à Castro Alves e Gonçalves Dias. Mário compara a vida dos extrangeiros nos trópicos, entre Fräulein e um copeiro japonês. Mostra a dicotomia de pensamento de Fräulein entre o homem-da-vida (prático, interessado no dinheiro do serviço) simbolizado por Bismarck - responsável pela unificação da Alemanha em 1870 à ferro e fogo e Wagner, retratando o homem-do-sonho. O homem-do-sonho representa seus desejos, suas vontades, voltar a terra natal, casar e levar uma vida normal. Mas quem vence em Fräulein é o homem-da-vida, que permite que ela continue o serviço sem se questionar. Carlos após ter tido "a"aula mestra, começa a viciar-se em "estudar".

Certamente a didática de Fräulein era muito boa. Era tempo para Fräulein se despedir, tendo este trabalho concluído. Ela sabia que os afastamentos eram sempre seguidos de muitos protestos e gritos. Souza Costa surpreende Carlos com Fräulein (tudo já armado) e utiliza-se deste pretexto para separá-los. Carlos reage defende Fräulein, mas mesmo ele fica aturdido diante do argumento do pai: e se ele tivesse um filho? Ainda relutante, ele deixa-a ir. Depois de algumas semanas apático, Carlos volta a viver normal. O livro acaba, mas continua. Escreve Mário de Andrade - "E o idílio de Fräulein realmente acaba aqui. O idílio dos dois. O livro está acabado. Fim. (...) O idílio acabou. Porém se quiserem seguir Carlos mais um poucadinho, voltemos para a avenida Higienópolis. Eu volto." Após se recuperar, Carlos avista acidentalmente Fräulein, já em um novo trabalho, e apenas saudou-a com a cabeça. A vida continua para Carlos. Fräulein ainda iria seguir com 2 ou mais trabalhos para voltar à sua terra.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/resumos/intransitivo.htm

Dias Gomes (1922 - 1999)

Novelista, escritor e dramaturgo baiano (19/10/1922-18/5/1999). Um dos mais consagrados teatrólogos e autores de telenovelas do Brasil. Alfredo de Freitas Dias Gomes nasce em Salvador e escreve aos 15 anos sua primeira peça, A Comédia dos Moralistas, jamais levada aos palcos, porém premiada no Concurso do Serviço Nacional de Teatro em 1939.

Sua primeira obra encenada, Pé de Cabra, de 1942, é montada por Procópio Ferreira e censurada pelo Estado Novo. Na década de 50 escreve radionovelas. Abandona o rádio em 1964, quando os militares invadem a Rádio Nacional com uma lista de subversivos que inclui seu nome.

Entre suas peças teatrais, a mais célebre é O Pagador de Promessas (1959), com versão em 12 idiomas. Adaptada para o cinema em 1962, por Anselmo Duarte, ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Participa do Partido Comunista Brasileiro por 30 anos. Em 1965, a peça O Berço do Herói, mais tarde transformada em Roque Santeiro, é proibida no dia da primeira apresentação. Estréia na Globo em 1969, com a novela A Ponte dos Suspiros. Entre seus sucessos na TV estão a novela O Bem Amado (1973) , que virou seriado entre 1980 e 1985, Roque Santeiro (1985/1986), Bandeira 2 (1971), O Espigão (1974) e Saramandaia (1976).

Em 1983 perde a mulher, Janete Clair, também novelista, que sofria de câncer. Em 1991 é eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 1995 passa por uma cirurgia para implantar pontes de safena. Morre em um acidente automobilístico em São Paulo.
Fonte:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Irani Alves Genaro

Nasceu em Sorocaba/SP

É Poetisa, Escritora, Artista Plástica, Compositora, Regente, Professora, Detentora da cadeira n.º 28 da Academia Sorocabana de Letras, cujo patrono é José Lins do Rego.

Rádio:
Trabalhou na Radio Clube de Sorocaba, (atual Cruzeiro Do Sul)
- Como cantora do Programa Clube Skay
- Como cantora efetiva do Programa “A Eletro Luz Aponta O Sucesso”
- Como intérprete em várias rádio novelas
- Acompanhou a Rádio Clube em seus programas caritativos aos asilos e shows culturais.

Teatro:
- Ganhou papel de destaque da crítica Sorocabana ao interpretar Lavínia na peça intitulada “A Feia”
- Autora das peças: “O sonho” e “Uma oferta para o Templo”.

Artes Plásticas:
-“Menção Honrosa” ao participar do Salão Nacional do Artista, realizado na Galeria Prestes Maia, em São Paulo, com o quadro: “Paisagem do Interior”.

Música:
- Regente do Coral da Estaca Sorocaba Brasil

Ensino:
- Ensinou crianças de 03 a 11 anos.
- Atuou como professora no Sistema Educacional para jovens de 12 a 18 anos.
- Ensinou “ Gafes e Etiquetas” no Centro de Treinamento Missionário em São Paulo.

Missão:
- Serviu na Missão São Paulo Sul ao lado de seu esposo Pres. Nelson de Genaro, com treinamento na Univ. Brighan Young -USA.

Academia :
Eleita para a cadeira n.º 28 da Academia Sorocabana de Letras, cujo Patrono é o escritor José Lins do Rego. (Foi empossada em 25/09/99)

- Indicada e nomeada pela Prefeitura Municipal de Sorocaba como titular nas áreas : Artes, Livros, Biblioteca, Letras e Ciências Humanas.

Obras Literárias publicadas:
- Livro de poesia “Murmúrios”;
- Livros Infantis da Coleção História em Rima: "O Casamento da Pombinha Rosada", "Tetê o Relógio Sem Tempo", "Kacáu o Periquitinho Bagunceiro", "O Sonho do Ratinho Fofucho", "Chinelos Encantados" e "Zé Sapeca".
- Estigmas

Livro Virtual:
No dia 18 de Abril/2000 - Lançou o livro infantil : Tetê o Relógio sem Tempo, no Clube Virtual com site na Internet.

Fonte:
http://sorocult.com/el/talentos/bio_irani.htm

Irani Alves Genaro (Conto: Aconteceu no Reveyllon)

Seus pensamentos eram como lufadas no cérebro!
Se ao menos fossem como os indesejáveis e-mails invadindo sua caixa de correio, seria fácil livrar-se deles. Bastaria selecionar, depois um simples curvar do indicador na tecla e pronto! Estariam todos excluídos.

E assim ficava ele, horas sentado em sua poltrona, de frente para a porta de entrada de seu luxuoso apartamento, pensando... e pensando. . .

Seu coração parecia saltar pela garganta cada vez que ouvia o interfone; seria ela? Ou eles? Ou todos juntos?
Será que algum dia, ao menos um deles poderia compreender e perdoar seu deslize?

A esperança aquecia-lhe o coração, paralelo ao gelo da consciência, lembrando-o de que a culpa era toda sua.
Esteve casado por vinte e cinco anos, com Eliza, a mulher que lhe dera três belos filhos; Silvio, o mais velho, agora com vinte e três anos, Sergio com vinte e dois e a caçula, Suely, com vinte e um.

Por três anos consecutivos seu lar fora enriquecido com a chegada dos três lindos bebês, presentes que recebera de Deus, através de Eliza.

Ah! Eliza! Quanto daria para poder "elizá-la" agora! Como sofre seu corpo sem o calor do dela!

Naquela noite o prédio em que morava estava quase que vazio, pois era véspera de Ano Novo e a maioria dos moradores, ou já haviam saído de férias ou estavam visitando os parentes com os quais comemorariam a entrada do Ano Bom!

Quantas vezes, nessa data especial, seu próprio apartamento esteve magnificamente decorado por Eliza à espera de seus convidados!

Eliza fazia o melhor ponche de frutas que ele já provara. Sempre havia alguém desejando a receita.

Ah! O que daria por um pouco daquele ponche, agora!

Em suas mãos trêmulas, apertava nervosamente um lenço de seda que havia recebido dela, em seu aniversário de casamento. Ele sempre ouvira dizer que lenços não são um bom presente, pois dizem os supersticiosos que é o tipo de presente que, uma vez ofertado, corre-se o risco de se cortar os laços do relacionamento. Lenço é símbolo de despedida!

Não posso crer nessas baboseiras, pensou!

Desalentado e triste, olha para o relógio que marcava 23 horas, a mesma hora em que foi flagrado um ano atrás quando, na festa de reveyllon, levou ate seu quarto uma morena escultural que lhe fora apresentada por um membro da família, ali mesmo em sua casa, na última festa preparada por Eliza.

Ele era charmoso, bem falante, elegante e muito atraente, qualidades que num instante foram notadas pela bela morena.

Como fazia todos os anos, nesse dia ele não adotava restrições com bebidas alcoólicas. Dizia ele que festa é atividade para se divertir e, já que estava acontecendo em sua própria casa, queria mesmo era aproveitar.

Porém, nessa sua última festa, ele começou a beber desde a hora do almoço, um gesto extremado que lhe custou caro demais.

A casa estava cheia de convidados espalhados por toda parte.

O som da orquestra lá fora, no canto da piscina, transmitia muita sensualidade.

Sem se dar conta do que estava fazendo, Osvaldo pega na mão da bela morena e começam a dançar, afinal, Eliza estava ocupada demais para dançar com ele.

Osvaldo sentiu o perfume embriagador da moça. Ela, por sua vez ,não perdeu tempo em provocá-lo.

Dominado pela bebida, ele se deixa levar pelos instintos carnais, conduz a moça até seu quarto e deita-se com ela ali na mesma cama onde, com Eliza, vivera os melhores momentos de sua vida.

Estavam se beijando quando a porta se abriu e, de repente, bem ali na sua frente, um rosto amado os surpreende.

Jamais poderá esquecer a expressão de dor, amargor e espanto refletidos nos olhos de Eliza!

Ela não disse uma palavra... apenas dirigiu-se ao armário, pegou sua valise de viagem, colocou dentro, rapidamente, o suficiente para uma emergência e saiu. Saiu... para uma viagem sem volta.

A festa acabou naquele momento, aliás, tudo se acabou naquele momento.

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/irani/reveyllon.htm

Celso "Marvadão" Ribeiro

Celso Ribeiro nasceu em Santa Catarina, na cidade de Caçador, e foi para Sorocaba em 1965, onde reside até hoje. Tem dois filhos, Eduardo e Vanessa, legítimos sorocabanos.

Estudou no “Estadão”, fez o curso de Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, lecionou Língua Portuguesa e Literatura na rede estadual, como professor efetivo.

Em razão de seu trabalho literário publicado ao longo dos anos na imprensa sorocabana (produzindo poemas, contos, crônicas, comentários e textos humorísticos), o autor é membro da Academia Sorocabana de Letras .

É jornalista e publicitário, proprietário da agência “Marvadão Criações”. Trabalhou nos jornais Folha Popular, Diário de Sorocaba e foi um dos proprietários da Folha de Votorantim. Também é radialista, com passagens pela Rádio Cruzeiro do Sul, Rádio 10 e Jovem Pan, são Paulo.

Há mais de 20 escreve humor para o Jornal O Cruzeiro do Sul (coluna “Tiro e Queda” e hoje “Sapo N’água”) , no qual prestou assessoria de marketing. Foi também assessor de imprensa da Prefeitura de Sorocaba e assessor político.

Escreveu por algum tempo a página de humor “Virado Paulista” no tablóide “Pasquim”, edição de São Paulo.

Celso já foi ator e diretor no Teatro Amador de Sorocaba.

Há poucos anos recebeu da Câmara Municipal de Sorocaba o título de Cidadão Sorocabano.

Editou através da Linc-Sorocaba o livro “Sorocaba Bem te vi- Sorocrônicas “.

Sua agência de publicidade é hoje uma das mais conceituadas da cidade de Sorocaba.

Fonte:

Celso "Marvadão" Ribeiro (Conto: O Sapo e o Escorpião)

(Reconto a história ao estilo de Millôr Fernandes, segundo a ótica do sapo).

E aí, desesperado no meio da tempestade e da inundação, o escorpião pediu socorro ao sapo:

_ Ó amigão anfíbio, sapo-rei da natureza, me acuda, me leve para o outro lado do rio.

O sapo olhou meio desconfiado, mas não iria deixar o pobre vivente morrer ali daquele jeito:

_ Tudo bem, vamos lá, suba aí na minha garupa e se agarre bem.

E lá foram ambos na travessia daquele quase dilúvio ( ou seria Delúbio?). O escorpião não se cansava de elogiar o benfeitor:

_ Sabe, observando bem, até que esse rajado lhe cai muito bem.

_ Croac, deixa disso, escorpião.

_ É verdade. E essa boca, então, combina perfeitamente com o formato do corpo...

_ Agradecido, croac, agradecido, mas preste atenção na correnteza, não vá se soltar.

_ Mais do que isso, amigo do peito e das costas. Nunca tinha observado direito, mas até a sua voz é maviosa e musical.

_ Jura? Depois da minha sapa, você é o primeiro que me diz isso.

_ Tá vendo? Falta aos demais espírito crítico, senso estético e bom gosto.

_ Puxa, mas que surpresa mais agradável. Você é mesmo gente fina. Eu sempre tive uma impressão não muito favorável sobre os escorpiões, a fama não é boa.

_ Que bobagem, é tudo lenda, fofoca.

_ Ó dileto aracnídeo, nada como uma situação crítica como essa para a gente descobrir as virtudes dos seres vivos, quem é mesmo de confiança.

_ Verdade verdadeira, meu bom-samaritano, minha versão caridosa da barca de Caronte. Você até parece o São Cristóvão, ajudando o semelhante a atravessar a correnteza.

O sapo ficou ainda mais inflado de orgulho. Emocionado, confidenciou:

_ Olha, escorpião, você, bacana assim, se for passear na praia, vão pensar que se trata de um siri ou caranguejo com um toque diferente. Nem perceberão o seu ferrão que, aliás, diga-se de passagem, é muito estiloso.

_ Obrigado, ó, batráquio anuro, quanta gentileza de sua parte. Eternamente grato por ter me salvado.

Já chegando a outra margem, o sapo teve uma súbita curiosidade:

_ Me diga aí, escorpião, posso saber qual é o seu signo?

Antes mesmo de responder e de apear do salvador, o escorpião finca o seu ferrão nas costas do sapo, que tomba e olha desesperado para ele:

_ Seu maldito, serpente do mal, tomara que caia numa CPI... Eu salvo a tua vida, te trato como um ser respeitável, e você me envenena, me mata...

E o escorpião, sem qualquer complexo de culpa:

_ Me desculpe, querido sapo, eu sei de tudo isso, mas não posso fazer nada. Essa é a minha natureza.

Já agonizante, o sapo ainda pediu para que o escorpião se aproximasse porque queria fazer um último pedido. O escorpião inocentemente chegou perto e recebeu um jato de mijo nos olhos, ficando cego na hora.

O sapo então sorriu e morreu.

(Moral. Fazer o bem sem olhar a quem é algo divino. Mas uma vingancinha na hora certa também traz felicidade).
Fonte:

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Miguel de Cervantes (Resenha: Dom Quixote)

Candido Portinari (Dom Quixote e Sancho Pança)
A questão fundamental que se coloca quando nos encontramos frente a frente com a figura de D. Quixote é se estamos diante de um homem sensato ou de um louco. Da nossa resposta dependerá todo o relacionamento que, a partir de então, teremos com a imortal obra de Cervantes.

Cervantes dará sua resposta ao longo de duas Partes, a primeira com 52 capítulos e a segunda, com 74. Entre uma e outra, o próprio autor se encarrega de avisar que já anda correndo "pelo orbe" uma Segunda Parte que não foi escrita por ele. De fato, há muitas formas de ler o Quixote...

Logo no Cap. I ficamos sabendo o que aconteceu com o famoso fidalgo que "afinal, rematado já de todo juízo, deu no mais estranho pensamento em que nunca jamais caiu louco algum do mundo, e foi: parecer-lhe conveniente e necessário, assim para aumento de sua honra própria, como para proveito da república, fazer-se cavaleiro andante, e ir-se por todo o mundo, com as suas armas e cavalo, à cata de aventuras(...) desfazendo todo o gênero de agravos, e pondo-se em ocasiões e perigos, donde, levando-os a cabo, cobrasse perpétuo nome e fama" (p. 30).

Daí, e do que já conhecemos do Quixote, sem precisar sequer dar-nos ao trabalho de lê-lo, podemos concluir que possivelmente se trata de um louco, manso, mas louco. Porém, procuremos analisar essa conclusão com algo mais de vagar. Há muitas formas de se encarar a vida e a realidade. Há aqueles que olham para a vida e não vêem nada além do que seus olhos retém. Homens como os descritos por Dickens em "Tempos Difíceis", que não querem decorar a casa com um papel de parede com desenhos floridos pura e simplesmente porque nunca ninguém viu flores nas paredes. Nada mais lógico: as flores encontram-se no campo ou nos vasos, mas nunca num papel de parede.

Homens assim estão feitos para serem práticos, pragmáticos. Sua vida se resolve numa única pergunta: isso serve para quê? Talvez o melhor representante desse tipo de pessoa seja a própria sobrinha de D. Quixote, Antonia Quijana, que no começo da II Parte (Cap. VI) aconselha o tio para que se deixe de bobagens e tenha em conta a idade que tem e não caia no ridículo de andar por aí "endireitando a vida de todos"...

Para esses homens e mulheres, D. Quixote só pode ser um louco. Aliás, o próprio D. Quixote sabe muito bem disso e explica claramente que há duas formas de entender e duas formas de olhar para o mundo. Há uma forma chã, terra a terra, e há uma outra forma, a forma daqueles que estão possuídos por um projeto.

O capítulo XXXI, Parte I é a chave para entender quem é D. Quixote. Sancho fora levar ao Toboso, terra da "sem par Dulcinéia" a carta que D. Quixote escrevera em Sierra Morena para a sua amada. Como Sancho era um homem prático e via que tudo não passava de uma bobagem, nem se preocupou em entregar a carta. Deu uma olhada em Dulcinéia, comprovou que, de fato, era mesmo uma loucura do seu amo, e voltou disposto a fazer ver a D. Quixote que Dulcinéia não era Dulcinéia, mas simplesmente Aldonza Lorenzo.

Sancho diz que Aldonza não leu a carta porque estava atarefada moendo o trigo...

- Discreta senhora -responde D. Quixote-. Isso deve ser para poder lê-la depois mais devagar e saboreá-la melhor.

Sancho não entende como seu amo pode estar tão cego e dá um sinal contundente: Dulcinéia cheira mal. Pior, tem cheiro de homem, e de homem suado...

- Não é bem assim. Deve ser que você mesmo estava ......, ou então, que você se cheirou a si próprio, porque bem sei eu como cheira aquela rosa entre espinhos, aquele lírio do campo, aquele âmbar precioso.

Mesmo assim, Sancho insiste e diz a D. Quixote que sua amada não lhe deu sequer uma jóia de lembrança; que o único que lhe deu foi um pedaço de queijo e outro de pão. D. Quixote sabe ver a grandeza.

- Generosa é em extremo. E se não te deu uma jóia de ouro, é sem dúvida porque não a tinha à mão... (p. 182).

Quem está louco? Quem tem razão o cavaleiro ou o escudeiro? Não se pode esquecer que D. Quixote é um homem com um projeto a realizar, enquanto Sancho não tem projeto algum. E só o homem com projetos é que consegue captar que a realidade é sempre muito maior do que se vê.

Depende do sentido que a vida tiver. E só o homem com projetos é capaz de descobrir e atualizar o sentido e significado da vida.

Escrever é, do começo ao fim, reproduzir a vida ao meu redor através do meu interior, o qual o absorve tudo, o combina tudo, o recria de novo, o amassa e o reproduz em formas e matérias próprias. A criação não é criar e descobrir do nada, mas infundir o entusiasmo do espírito na matéria. (Thomas Mann).

Esse texto de Mann diz tudo: trata-se de infundir entusiasmo em toda a realidade. A realidade não é um bloco monolítico, isolado, à margem da minha vida. Pelo contrário, a realidade está à espera de que nos relacionemos com ela. E essa relação é que é a vida ou, pelo menos, a trama da minha vida. Como muito bem explica Marina, citando a Husserl e Zubiri, é falso afirmar que "vejo o que vejo", como diria Sancho enfaticamente, pensando estar afirmando a verdade mais óbvia do mundo.

Todos temos as mesmas sensações, mas percebemos de acordo com nossos conhecimentos, planos e intenções. Enganamo-nos se pensamos que olhamos para a realidade como se fôssemos um espelho; como se, de certa forma, nossos sentidos e nossa inteligência se comportassem como uma máquina fotográfica, que refletiria a realidade: vejo o que vejo.

Não deveríamos esquecer que o que observamos não é a própria natureza, mas a natureza determinada pelo teor das nossas questões (Heisenberg).

A realidade é colocada em xeque; é submetida a intervenções; é analisada, entrevistada, recortada por nós e, dessa forma, é que é transformada em vida nossa. A minha vida real é a vida que sou capaz de viver dentro da realidade assim trabalhada. E, nesse sentido, D. Quixote não é louco, é apenas um homem apaixonado, um homem disposto a viver a vida com um projeto.

Por isso, quando depois de ter sofrido vilipêndios e desgraças, se encaminham pela Mancha à procura de um lugar de repouso e as suas coisas iam encaminhando de bem a melhor, [porque]ainda não tinham andado uma pequena légua, quando lhes deparou o caminho e nele descobriram uma venda que, a pesar seu [de Sancho], e a contento de D. Quixote, devia ser um castelo. Sancho porfiava que era venda e seu amo que não, porém castelo...(Parte I, Cap. XV, p. 88).

Enquanto que todos olhavam para a Maritornes -que era o nome da moça que "atendia" à venda- como "moça para se refocilar juntos", D. Quixote enxergava uma princesa, que veio ver o malferido cavaleiro, vencido de amores, com todos os adornos que aqui se declaram. Tamanha era a cegueira do pobre fidalgo, que nem o tato, nem o cheiro, nem outras coisas, que em si trazia a boa donzela, o desenganavam, com serem tais, que fariam vomitar a quem quer que não fosse arrieiro; antes lhe parecia que tinha nos braços a deusa da formosura...(Idem, p. 90).

D. Quixote não está louco, simplesmente passou a ser visto como louco ou visionário por todos aqueles que, sensata e racionalmente, acham que a vida é para ser apenas vivida. D. Quixote pertence à categoria de homens que não aceitam curvar-se à facticidade do acontecer humano. Há uma irrealidade, extremamente poderosa, que não é ficcional nem fantástica. É a irrealidade do projeto, do sonho, da utopia, que envolve e entusiasma o homem, extraindo dele o máximo de si e carregando-o de felicidade. É por isso que o Quixote vê o famoso elmo de Mambrino, enquanto Sancho vê apenas uma bacia carregada por um barbeiro:

Como no caminho lhe começou a chover, receoso [o barbeiro] de que lhe estragasse o chapéu, que naturalmente seria novo, pôs-lhe por cima a bacia, que, por estar areada de pouco tempo, resplandecia a meia légua de distância. Vinha montado num asno pardo, como Sancho dissera, e esse é que ao fidalgo se figurou cavalo ruço rodado; o mestre, cavaleiro; e a bacia elmo de ouro (Parte I, Cap. XXI, p. 115).

Cervantes é consciente de que a decisão do Quixote de tornar-se um "cavaleiro andante" -o seu projeto: é mister andar pelo mundo buscando as aventuras como escola prática, para que, saindo algum grande monarca, já o cavaleiro seja conhecido pelas suas obras...(Parte I, Cap. XXI, p. 118).- configura a sua forma de ver as coisas. Por isso afirma, a continuação da história do elmo de Mambrino: "Tinha isso de si: quantas coisas via, logo pelo ar as acomodava às suas desvairadas cavalarias e descaminhados sonhos" (Idem).

O projeto é algo pensado, escolhido, deliberado, "ao qual entrego o controle da minha conduta. É precisamente essa característica projetiva -Marías dirá futuriça - que amplia e enriquece o campo de ação do homem e lhe permite sair dos estreitos limites do mundo racional e formal. Passa-se a viver criativamente. O enamorado de um ideal é muito mais normal do que todos aqueles que não são capazes de compreendê-lo. O projeto, ao colocar-se como meta a ser realizada, consegue ampliar o campo de liberdade do homem. A partir desse momento a sua vida dá-se além da estatística e da lógica. A lógica formal, o método matemático são tentativas de apreender a realidade, mas a realidade é muito mais do que o método compreensivo e vai muito mais além do que um simples modelo explicativo. Pode acontecer que o homem, quando completamente entusiasmado pelo seu projeto, não saiba bem para onde está indo, como acontecia com D. Quixote. Pode até não resolver muitos problemas que irão surgindo na sua frente, como também acontecia com D. Quixote, mas é sem dúvida alguma a melhor maneira de viver criativamente. Tudo o que hoje é permanente na história foi, nos seus começos, puro quixotismo.

É evidente que esta forma de viver está em rota de colisão com o padrão racionalizado, funcional e tecnologizado da sociedade contemporânea, mais preocupada com os "meios" do que com os "fins". A técnica tem em si a sua própria razão de ser: não importa o para quê; não se discute se os meios tecnológicos serão bem ou mal utilizados. A eficácia é o único critério de verificação. Pode-se criticar D. Quixote de não preocupar-se se os seus esforços davam ou não davam resultados. E, de fato, nunca se preocupou da eficácia das suas ações. Não era esse o padrão comportamental do cavaleiro da Mancha. A sua eficácia consistia na sua entrega entusiasmada ao seu projeto. Num mundo dominado pela razão técnica, o homem é obrigado a pautar-se pela eficácia e pela produção. Tudo o mais é sonho, utopia inútil. Parece-me oportuno lembrar aqui umas palavras de Marías:

Quando o trabalho é demasiado impessoal, quando se realiza por acumulação de materiais e informações, quando interessa mais o resultado e o sucesso do que a própria realização da tarefa, a ilusión desaparece; acredito que isso afeta decisivamente à qualidade, e ainda mais à personalidade da obra, que acaba por ser em muitos casos intercambiável, em lugar de estar ligada à mais profunda realidade do autor.

Quando D. Quixote realiza qualquer aventura está olhando para a própria tarefa a ser realizada. Tem uma dimensão imanente, ou seja, sabe que a perfeição da ação não está propriamente na eficácia do agir, mas na qualidade da própria ação. O homem aperfeiçoa-se no ato, através do agir.

Esse é o ensinamento da tradição clássica grega: o agir segue o ser. Por isso, enquanto o fidalgo liberta os presos no capítulo XXII da Parte I, vai dizendo ao mesmo tempo:se bem vos castigaram por vossas culpas, as penas que ides padecer nem por isso vos dão muito gosto, e que ides para elas muito a vosso pesar e contra a vontade, e que bem poderia ser que o pouco ânimo daquele nos tratos, a falta de dinheiro neste, os poucos padrinhos daqueloutro, e finalmente que o juízo torto do magistrado fossem causa de vossa perdição, e de se vos não ter feito a justiça que vos era devida. Tudo isto se me representa agora no ânimo, de maneira que me está dizendo, persuadindo e até forçando, que mostre em favor de vós outros o para que o céu me arrojou ao mundo, e me fez nele professar a ordem de cavalaria que professo, e o voto que nela fiz de favorecer os necessitados, e aos oprimidos pelos maiores que eles...(Parte I, Cap. XXII, p. 125).

O Quixote age conforme ao seu projeto, mesmo que depois os próprios libertados nem lhe agradeçam e mesmo que acabem por apredejá-lo. O Quixote age de acordo com a sua utopia: realizar a justiça e ganhar a fama; quanto ao resto...que cada um se veja com o seu pecado: há Deus nos céus, que não descura de castigar o mau e premiar o bom. (Idem).

A utopia cria um espaço entre as possibilidades e a realidade. E dentro desse espaço é que o homem age e se realiza. De certa forma, o homem começa a ver diferente a partir da utopia e do projeto que o entusiasmam.

As coisas não se apresentam da mesma forma para um espectador, para um lavrador ou para um compositor. O projeto altera o significado das coisas: as coisas mais singelas e insignificantes podem passar a ter um enorme significado ou, então, podem continuar carecendo dele.

Era isso que acontecia com o cura e o barbeiro e a sobrinha. Para eles, o que realizava D. Quixote carecia de sentido e é por isso que vão à sua procura e conseguem fazê-lo voltar para sua casa, começando a Segunda Parte com um D. Quixote convalescente na cama, repondo-se do "mal da cavalaria" e tendo uma conversa com a sua sobrinha que Cervantes intitula "Capítulo dos mais importantes desta história toda" (Parte II, Cap. VI, p. 334) onde deixa transparecer uma outra forma de olhar para os mesmos fatos, um olhar sem projetos:

- Ah! Senhor meu -acudiu a sobrinha- repare Vossa Mercê que tudo isso que diz dos cavaleiros andantes é fábula e mentira, e as suas histórias, a não serem queimadas, mereciam que se lhe pusesse a cada uma um sambenito, ou algum outro sinal, para que fosse conhecida por infame e destruidora dos bons costumes (...) Valha-me Deus! Saber Vossa Mercê tanto, que, se fosse mister, podia numa urgência subir ao púlpito ou ir a pregar por essas ruas, e com tudo isso cair numa insensatez tão óbvia, que dê a entender que é valente, sendo velho, que tem forças, estando enfermo, e que endireita tortos, estando derreado pela idade, e sobretudo que é cavaleiro, não o sendo, porque, ainda que o possam ser os fidalgos, nunca o são os pobres!

Quando D. Quixote volta a sair da sua cidade, ainda carrega o "desencanto" do olhar da sobrinha e, por isso, quando, de repente, na entrada de El Toboso se encontram com Dulcinéia e duas aldeãs amigas, o próprio D. Quixote vê apenas, como ele mesmo diz: "três lavradeiras montadas em três burricos(...) é tão verdade o serem burricos ou burricas como ser eu Dom Quixote e tu Sancho Pança. Pelo menos assim me parecem". Como Sancho quisesse divertir-se, fingiu que Dulcinéia fosse uma princesa e passou a ajoelhar-se perante ela e a tratá-la como tal. D. Quixote, então, voltou a ser o que era e, mesmo continuando a ver três aldeãs, pensou de maneira diferente e disse dirigindo-se à sua Dulcinéia:

E tu, extremo de perfeição, último termo da gentileza humana, remédio único deste aflito coração que te adora. Já que um maligno nigromante pôs nuvens e cataratas nos meus olhos, e só para eles e não para outros mudou e transformou o teu rosto formoso no de uma pobre lavradeira.... (Parte II, Cap. X, p. 350).

Volta dessa maneira D. Quixote a olhar para o mundo desde a sua utopia. E vão transcorrendo os capítulos e o próprio Sancho, feito governador de uma ilha, vai compartilhando da utopia de D. Quixote. A estratégia para trazer D. Quixote de volta é transfigurar-se de cavaleiro da Branca Lua e desafiá-lo em combate. Mesmo derrotado, o fidalgo não deixa de expressar sua devoção por Dulcinéia:

Dulcinéia de El Toboso é a mais formosa mulher do mundo e eu o mais infeliz cavaleiro da terra, e não estaria certo que a minha fraqueza defraudasse esta verdade; aperta, cavaleiro, a tua lança e tira-me a vida, já que me tiraste a honra (Parte II, Cap. LXIV, p. 572).

Era loucura? Parece mais um sonho descontrolado. O projeto a ser realizado, quando é bom, sempre coloca o homem além dos seus próprios limites. O homem entrega-se à tarefa sem ter tudo definido previamente, sem saber exaustivamente o que vai acontecer e, então, sem que estivesse previsto, consegue-se o fruto que nos ultrapassa.

Quando D. Quixote está à beira da morte mostra-se completamente lúcido. Não tomara nenhum remédio. Está querendo que todos escutem suas últimas palavras. Dá a impressão de estar respondendo a Maquiavel e a todos os renacentistas que tanto acreditaram no papel da deusa fortuna.

O que te posso dizer é que não há fortuna no mundo, nem as coisas que sucedem, boas ou más, sucedem por acaso, mas sim por especial providência dos céus

Qual foi o erro de D. Quixote? Por isso costuma-se dizer que cada um é artífice da sua ventura, e eu o fui da minha, mas não com a prudência necessária (...) Atrevi-me, fiz o que pude, derribaram-me, e, ainda que perdi a honra, não perdi nem posso perder a virtude de cumprir a minha palavra (Parte II, Cap. LXVI, p. 576).

O sonho realiza-se além dos nossos sonhos. É só nessa altura que conseguimos ousar, atrever-nos, correr o risco do fracasso. Mas é só assim que o homem tem a possibilidade de entusiasmar-se. O entusiasmo é exatamente o oposto do auto-controle e do auto-domínio.

Etimologicamente, significa estar no controle e nas mãos de Deus, estar fora de si, absorvido no que se está realizando. Mas isso não é a condição dos loucos e, sim, dos apaixonados.

O que mais pode descobrir aos nossos próprios olhos quem somos de verdade, isto é, quem pretendemos ser, é o balanço insubornável do nosso entusiasmo. Onde estão colocados nossos sonhos, e com que força? Que empresa ou trabalho preenche a nossa vida e nos faz sentir que, por um momento, somos nós próprios? Que presença orienta a nossa expectativa, que antecipação nos polariza, estende o arco do nosso projeto e se converte no alvo involuntário e irremediável do mesmo?

Fontes:
RUIZ, Rafael. Resenha do livro Dom Quixote. Disponível em
http://www.portrasdasletras.com.br
Pintura =
http://www.proa.org/

Érico Veríssimo (Resumo: Olhai os Lírios do Campo)

Olhai os lírios do campo é um dos romances mais famosos de Érico Veríssimo. Um verdadeiro best-seller que resultou até em novela na Argentina. A narrativa da primeira parte é feita em flashback. Eugênio vai lembrando de momentos da sua vida enquanto se dirige ao hospital onde está Olívia.

Eugênio era um menino tímido e medroso. Teve uma infância pobre, era ridicularizado na escola e tinha como objetivo máximo a ascensão social, faria de tudo para um dia vencer na vida. Achava que o que tinha era feio e sem graça, das roupas até o seu próprio corpo. Não se entrosava com os demais colegas de classe e por isso devotava todo o seu tempo aos estudos. Sonhava em deixar de ser simplesmente o Genoca para ser o Dr. Eugênio Fontes.

Tinha pena do pai, o alfaiate Ângelo, com quem não conseguia se comunicar facilmente. O seu irmão, Ernesto, não esmerava-se na educação e acabou perdido na vida. Com muito esforço, Eugênio consegue cursar Medicina. Na Faculdade conhece Olívia - única mulher da turma. Na festa de formatura os dois se aproximam e fazem sonhos e confissões juntos, sobre o futuro. Tornam-se grandes amigos.

Durante a revolução de 30, após uma operação mal sucedida no hospital militar, Olívia convida Eugênio a sua casa e passam uma noite de amor. Dias depois, Olívia recebe uma proposta para trabalhar em Nova Itália, e novamente se entrega aos braços de Eugênio.

Durante um atendimento médico, Eugênio conhece Eunice Cintra - filha de um riquíssimo proprietário. Eugênio casa-se com Eunice com objetivo único de ascender socialmente. O sogro trata de arranjar um emprego de fachada ("assinar documentos") numa de suas fábricas. Eugênio começa a freqüentar a alta sociedade, mas não se sente parte dela. O seu complexo de inferioridade aumenta ao ver os contrastes desse outro mundo, de emoções contidas, de meias-palavras. Conhece pessoas como Filipe Lobo, construtor obstinado a construir o "Megatério", um arranha-céu, mas não se importava com a família. Infeliz e perturbado, Eugênio reencontra Olívia que lhe apresenta a sua filha, fruto do último encontro dos dois, Anamaria. Ao chegar no Hospital onde estava Olívia, recebe a notícias de sua morte.

A segunda parte passa-se após a morte de Olívia e é intercalada com a leitura das cartas que ela escreveu para Eugênio sem nunca ter enviado. Eugênio toma coragem e separa-se de Eunice - apesar de todos os incovenientes sociais. Vai além, passa a ser um médico popular, com idéias de socializar a medicina. Trabalha com o Dr Seixas, um velho médico que sempre atendeu aos pobres. A memória de Olívia, nas cartas, nas fotos ou no olhar de Anamaria, o fortalece quando pensa nas dificuldades.

O original da obra, com correções a mão feitas por Érico Veríssimo, encontra-se hoje na gigantesca biblioteca de José Midlin.

Fonte:
Renato Lima, in Digerati. CEC 0004 (CD Rom)

José de Alencar (Resumo: A Pata da Gazela)

O romance “A Pata da Gazela” foi escrito baseado no conto “A Cinderela”. O autor aproveita-se do enredo, no qual uma jovem, ao entrar apressada dentro de uma carruagem, perde um par de seu sapato, que é encontrado por um rapaz. Inquietado pelo calçado, ele sai à procura da dona do objeto, não desistindo até encontrá-la. À partir daí, o romancista desenvolve seu enredo, um texto irônico e crítico sobre a sociedade brasileira do século XIX.

Em resumo, a história se passa na cidade do Rio de Janeiro, em pleno século "burguês". Após o descuido de um lacaio ao carregar um pacote, um dos sapatos que estava dentro do embrulho, pertencentes a duas jovens (Amélia e Laura) que esperavam em um carro pelo servo, caiu no chão. Horácio, um vistoso rapaz que andava por ali naquele momento, percebeu a cena e apoderou-se do sapatinho que outrora caíra. Ao mesmo tempo, outro rapaz, Leopoldo, foi atraído pela confusão causada pelas moças, apressadas, e se deslumbrou com o vulto de uma "deusa", na verdade, o de Amélia. Porém, não consegue identificar um rosto.

A partir desta situação, os dois apaixonados iniciam uma busca pelas suas donzelas, contada comicamente, por José de Alencar.

Érico Veríssimo (Resumo: Clarissa)

Modernismo de segunda fase.
Clarissa é uma jovem de 13 anos que mora na pensão da tia enquanto estuda em Porto Alegre. Ela é uma jovem curiosa, descobrindo o mundo, a adolescência e a vida. Não gosta muito de escola, sente saudades da fazenda em sua cidade natal, Jacarecanga e observa as pessoas que moram na pensão da tia e na vizinhança: Ondina, a infiel esposa de Barata; Amaro, o músico triste e contemplativo; o distraído major; a conservadora tia e seu desempregado marido; a família rica que mora ao lado e a viúva com o filho mutilado. Este último, Tonico, perdeu as duas pernas num acidente de bonde e sonha em marchar com exércitos. Frágil, acaba morrendo. Quanto a Amaro, este sempre contempla Clarissa, sua juventude, sua inocência, sua beleza aflorando da menina que vai se tornando moça. Clarissa faz 14 anos (e ganha permissão para usar salto alto) e passa na escola. O livro acaba com Clarissa voltando para Jacarecanga (e encontrar o primo Vasco) enquanto Amaro fica triste na pensão a pensar nela. O primeiro romance de Érico Veríssimo, Clarissa apresenta um panorama da vida de uma jovem na Porto Alegre de 1932 e começa a história que se estenderá por seus romances da primeira fase.
Fonte:
Digerati. CEC 0004. (CD Rom)