quinta-feira, 23 de julho de 2009

Dario Vellozo (1869 – 1937)


Dario Persiano de Castro Vellozo, escritor nascido no estado do Rio de Janeiro, em seu entitulado Retiro Saudoso, no bairro de São Cristóvão, em 26 de Novembro de 1869 , estudou no Liceu de São Cristóvão (de 1880 a 1883), tendo se tornado aprendiz de encadernador (1883) e, posteriormente, compositor tipográfico no primeiro jornal paranaense: O Dezenove de Dezembro (fundado em 1853), que tinha como editor Cândido Lopes.

Sua vida até a mudança para Curitiba é registrada em seu livro Retiro Saudoso, de 1915 , narrando sua infância no Rio de Janeiro.

De 1886 a 1889 estudou no Pathernon Paranaense (onde conheceu Eusébio Mota - apesar de não ter sido seu aluno -, um professor que estimulou muitos dos seus à Arte Literária) e, depois, no Instituto Paranaense. Neste último, fora companheiro de turma dos novíssimos de sua geração: Silveira Netto, Nestor Victor, Emílio de Menezes, Emiliano Pernetta, etc, etc.

Em 1889 lança seu primeiro livro intitulado Primeiros Ensaios, editorado nas oficinas do Dezenove de Dezembro. Este livro teve como principais influências ao jovem Dario Vellozo os neo-românticos Lord Byron, Lamartine e Musset.

De 1889 a 1893 trabalhou em cargos burocráticos da repartição de polícia e na secretaria de Fazenda do estado do Paraná.

Em 1890 , com a fundação da Revista do Club Curitybano, que tinha como Diretor seu pai Cyro Vellozo, temos o desabrochar de uma tendência literária de Dario Vellozo, tendo seus poemas e crônicas publicados desde o segundo número deste periódico (de 01 de Fevereiro de 1890), com Êxtase Divino.

Em 1892 , com seu espírito de liderança e sociabilidade, funda nas oficinas do Club Curitybano (juntamente com Augusto Stresser e Brasílio Costa) o Grêmio Ensaios Literários. Neste ano, as influências do recém chegado da Europa poeta Jean (João) Itiberê da Cunha sobre sua leitura ficam evidenciadas.

Descobre neste ano Poe, Flaubert e Huysmanns e, no ano seguinte: Verlaine, Rimbaud, Mellarmé, L'Islle Adam, além de Péladan, Stanislas de Guaita, Maurice Maeterlinck, Eliphas Levi e Papus (sendo esses cinco últimos pela influência direta de João Itiberê).

Em 1893 também vê-se envolvido na fundação de uma nova revista, Azul, que fora uma primeira tentativa do grupo do Cenáculo (periódico simbolista inaugurado em 1895). A Revista Azul tem interrompida sua sequência em razão da Revolução Federalista, na qual Dario Vellozo, juntamente com os outros participantes da Revista, lutam ao lado dos legalistas.

De 1894 a 1898 era o redator dos debates ocorridos no congresso legislativo do estado paranaense.

Em 1894 torna-se o Diretor Literário da Revista do Club Curitybano, mudando a grafia deste último para Coritibano. Irá permanecer na Direção desta revista até 1900

Em 1895 funda a Revista O Cenáculo, na qual temos caracterizada toda a veia simbolista não só dos autores curitibanos, como de todo o Brasil. Essa revista terá uma curta duração de dois anos, mas o suficiente para deixar suas marcas.

Em 1896 lança a obra em prosa Esquifes. Neste mesmo ano intensifica seus estudos de Ciência Oculta, com traduções de autores ocultistas europeus publicados na página do Club Curitybano. Também envolve-se em polêmica neste ano ao publicar nas folhas d'O Cenáculo o texto Pelos Índios! que é apoiado pela Maçonaria de seu estado.

Em 1897 publica dois fabulosos livros (parte de uma trilogia junto com Atlântida, de 1938): Alma Penitente e Althäir, além de colaborar no periódico A Pena.

Em 02 de Março de 1898 é nomeado professor interino e, depois, efetivado (após concurso) como professor de História Universal e do Brasil (19 de Abril de 1899 ) no Ginásio Paranaense antigo Instituto paranaense, no qual estudou. Neste ano também funda o Jornal Jeruzalém, que irá intensificar seus polêmicos (para a época) discursos anti-clericais, também colaborando em Pallium.

Em 1899 funda A Esphynge Jornal, e mantém contatos com os grupos de Papus e de Jollivet-Castelot (Groupe Independente de Études Esoteriques e Association Alchimique de France, respectivamente), promovendo a idéia da constituição de suas escolas em terras brasileiras. Não a toa, fora contemporâneo do efervescente final de século ocultista europeu, fazendo-o também presente no Brasil.

Seus discursos anti-clericais e republicano-socialistas, além das questões pedagógicas (visto que era professor de História no Ginásio Paranaense) irão margear suas teses lançadas de 1902 a 1908 como: Lições de História (1902 ), Escola Moderna (1903 ), Da Instrução Pública (1904 ), No Sólio do Amanhã (1905 ), Derrocada Ultramontana (1905 ), Voltaire (1905 ), Pátria Republicana (1905 ), Compêndio de Pedagogia (1907 ), Moral dos Jesuítas (1908 ).

Em 1908 publica o livro de poesias Hélicon e inicia a publicação do periódico Myrto e Acácia.

Era extremamente bem querido por seus alunos, onde sua oratória, desprovida de retóricas, era apaixonante.

Funda o Instituto Neo-Pitagórico em 1909 , onde constrói um fabuloso e helenístico "Templo das Musas" (1918 ), procurando reviver a magna Grécia, tendo publicado no ano anterior os estatutos da Sociedade Neo-Pitagórica. Suas Celebrações Místicas se deram entre as Colunas do mesmo, atraindo inúmeros Iniciados e admiradores.

Ali funda sua Tipografia (em 1911 , de nome Tipografia Crótona Vellozo & Filhos), na qual edita seus livros e anais de estudos dos alunos de seu Instituto. Este ano é fundamental como divisor de águas para Dario Vellozo. Além da coroação de Emiliano Pernetta como o mais célebre poeta de Curitiba, inicia-se a Celebração do Equinócio (juntamente com seus alunos do Ginásio Paranaense) com a festa de Clóris e a festa de Ceres: Delfos e Elêusis erguendo cânticos à Fraternidade.

Inicia numerosos intelectuais (não só brasileiros) em sua Sociedade. João Itiberê da Cunha (autor Simbolista, que iniciou inúmeros autores de Curitiba nesta veia literária, tendo feito parte do movimento original francês, amigo de Maurice Maeterlinck - Simbolista belga - e que lança seu début em francês, o ótimo Préludes), que o inicia verdadeiramente nos estudos simbólicos no último decênio do século XIX, deu origem à um apaixonado discípulo.

Em 1919 funda um ramo da Sociedade Teosófica em Curitiba, de Blavatsky, chamado Loja Teosófica Nova Crótona.

Em 1920 publica os livros O Habitat e a Integridade Nacional e, em homenagem à morte de seu filho menor, O Livro de Alir.

Em 1921 , Tasso da Silveira (seu ex-aluno no Ginásio Paranaense e filho de Silveira Netto, um dos fundadores do grupo do Cenáculo) irá publicar um livro em sua homenagem intitulado: Dario Vellozo: Perfil Espiritual.

Em 1922, com o centenário da Independência, temos a publicação (por Dario Vellozo) das obras: Horto de Lisis, Símbolos e Miragens, Missão Social do Brasil, O Brasil e o Ideal Pitagórico.

Em 1923 ele e seus alunos passam a editar uma coluna no Jornal Gazeta do Povo, de nome Coluna Dórica. Neste mesmo ano tem publicado seu livro No Limiar da Paz.

Em 1929 reúne poesias suas publicadas entre 1892 e 1929 (fase Simbolista) e publica o ótimo Cinerário.

Em 1931 é inaugurado o periódico A Lâmpada, de seu Instituto.

Em 1932 afasta-se do magistério. Daí trata de escrever Atlântida, finalizada em 1933 mas somente publicada (post -mortem) em 1938

Sua última obra publicada em vida chamava-se Jesus Pitagórico e fora publicada em 1936 , quando já se encontrava enfermo.

Postumamente, foram publicadas as obras inéditas (além de Atlântida): Fogo Sagrado (1941 ), Psiquê e Flauta Rústica e, numa reunião do Instituto Neo Pitagórico (em três volumes): Obra Completa (1979 ), com um quarto volume lançado em 1975

Cabe salientar aqui que, até sua morte em 28 de Setembro de 1937 , Dario Vellozo permaneceu um eterno e admirável Simbolista, tornou-se um pagão de primeira linha ao tentar reviver entre seus convíveres a inigualável Grécia e seus cultos.

Tão admirável persona teve seu enterro seguido de grandioso cortejo que, passando pelos bairros pobres da cidade de Curitiba, teve uma multidão a seguir e a celebrar a morte do mais formidável poeta, professor e visionário aparecido por terras curitibanas...

Fontes:
– MURICY, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, vol. 01. SP: Perspectiva, 1987.
O Caminho da Serpente (Rubens Malcher Pinho)

Benjamin Silva (Caldeirão Literário do Espírito Santo)

ESCADA DA VIDA

Julguei da vida haver galgado a escada,
essa escada de mármore polido,
que nos conduz à estância desejada
de um grande bem, raríssimo atingido.

Hoje vejo, porém, que quase nada
consegui, afinal, haver subido:
—ficou-me longe o termo da jornada
em que eu exausto me quedei vencido.

Pelos desvãos da escada mal me erguendo,
já sem noção e sem fé que anima,
nem sei se vou subindo ou vou descendo...

Por isso os seus extremos jamais acho:
—vejo degraus, olhando para cima,
vejo degraus — olhando para baixo!

(Escada da Vida, 1938)

CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM

Prisioneira feliz mas condenada
por leis irredutíveis e absolutas
a viveres assim encarceirada
nesta cadeia de montanhas brutas.

Mas que importa se é esplêndida a morada!
Pois daqui tudo vês e tudo escutas;

E o Itabira te guarda e te vigia,
como se fosse eterna sentinela
—carcereiro que vela noite e dia.

Tudo, afinal, te rende um justo preito,
Enquanto um claro rio tagarela
Rola, cantando, dentro de teu peito.

(Escada da Vida, 1938)
–––––––––––––-
Benjamin Silva (1886-1954)

Nasceu na Fazenda de São Quirino, distrito de Castelo, no então município de Cachoeiro de Itapemirim, a 20 de julho de 1886. Faleceu no Rio de janeiro, a 10 de junho de 1954. Poeta e comerciário. Foi diretor dos Armazéns Gerais da Empresa Guanabara, no Rio de Janeiro. Desde cedo dedicou-se à poesia. Colaborou em vários periódicos e desfrutou de prestígio nos meios literários de Cachoeiro de Itapemirim. Figura em várias antologias de poetas nacionais, com o soneto "O Frade e a Freira", que se tornou um dos mais conhecidos da poesia espírito-santense.

OBRAS: "Escada da Vida", 1938 (poesia), prefácio de Atílio Vivacqua e ilustrações de Santa Rosa.

Fonte:
BRASIL, Assis (organizador). A Poesia Espírito-Santense no Século XX. RJ: Imago; Vitória, ES: Secretaria de Estado de Cultura e Esportes, 1998.

X Seminário de Estudos Literários (UNESP – São José do Rio Preto/SP)

Poéticas do Contemporâneo: diálogos e escrituras

Edição Comemorativa dos 30 Anos do Programa

13,14 e 15 de outubro de 2009.

O X SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS é uma realização já tradicional do Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE/UNESP e tem como objetivo fomentar a discussão dos aspectos críticos e metodológicos dos projetos em desenvolvimento em nível de Mestrado e Doutorado, colaborando para a reflexão, por parte dos pós-graduandos, dos caminhos de pesquisa e dos diálogos pertinentes entre seus projetos e dos demais colegas.

O evento dirige-se a docentes, mestres, doutores, pós-graduandos e demais interessados que desenvolvem pesquisa em literatura, independente das linhas em que atuam em seus programas de origem.

A décima edição do evento, que ocorrerá nas dependências do IBILCE/UNESP, prevê em sua programação cinco conferências, sete mesas debatedoras, oito sessões de comunicação e uma sessão de painéis.

As conferências serão ministradas por pesquisadores e poetas com significativa produção artística e intelectual, que privilegiarão, como objeto de suas conferências, as várias manifestações da literatura contemporânea.

As sessões de comunicação, divididas nas Linhas de Pesquisa do Programa destinam-se aos trabalhos de Pós-Graduação – mestrado e doutorado – em estágio avançado de pesquisa, com conclusões parciais ou definitivas.

As mesas debatedoras formadas por docentes convidados compreendem a análise e o debate dos projetos de pesquisa de alunos de Pós-Graduação em Letras, níveis de mestrado e doutorado, em estágio inicial de desenvolvimento.

A sessão de painéis configura-se em espaço reservado a alunos de Graduação, para apresentação de trabalhos provenientes de Iniciação Científica.

PROGRAMAÇÃO

Dia 13 de outubro de 2009

08h00 Entrega de material e últimas inscrições

09h00 Abertura Oficial

09h30 Café

10h00 CONFERÊNCIA 1: Possibilidades e impasses da ficção brasileira contemporânea - Profa. Dra. Beatriz Resende (UFRJ)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 1 e 2

16h00 Café

16h30 CONFERÊNCIA 2: Literatura e ética: o foco na alteridade - Profa. Dra. Lilian Jacoto (USP)

18h30 PAINÉIS

Dia 14 de outubro de 2009

8h00 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

9h30 Café

10h00 CONFERÊNCIA 3: Da teoria como vanguarda tardia Prof. Dr. Fábio Akcelrud Durão (UNICAMP)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 3 e 4

16h00 CAFÉ

16h30 CONFERÊNCIA 4: A multiplicidade da poesia brasileira no contexto pós-utópico Poeta e Prof. Marcelo Tápia Fernandes (Diretor da Casa Guilherme de Almeida - SP)

18h30 Coquetel e Lançamento de livros

Dia 15 de outubro de 2009

8h00 SESSÕES DE COMUNICAÇÃO

9h30 Café

10h CONFERÊNCIA 5: Corpo e memória na lírica contemporânea: a poesia de Fabrício Corsaletti - Profa. Dra. Elaine Cintra (UFU)

14h00 MESAS DEBATEDORAS 5 e 6

16h Café

16h30 Assembléia geral


DATAS IMPORTANTES

De 07/07/09 a 14/08/09
Submissão de projetos para mesas debatedoras e resumos para comunicações e painéis.

Em 01/09/09
Divulgação de aceite das propostas.

De 01/09 a 19/09/09
Período de inscrições (com apresentação de trabalho).

Modalidades de participação:
Para qualquer modalidade de participação a taxa de inscrição é de R$20,00.

apresentação de projeto em mesa debatedora
(exclusiva para ingressantes do Programa de Pós-Graduação em Letras)

apresentação em sessão de comunicação
(exclusiva para alunos de pós-graduação, com pesquisa em andamento)

apresentação de painel
(exclusiva para alunos de graduação)

De 01/09 a 13/10/09

Período inscrições para ouvintes.

Para qualquer modalidade de participação a taxa de inscrição é de R$20,00.

Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – IBILCE/UNESP
Rua Cristóvão Colombo, 2265
São José do Rio Preto – SP
15054-000

Informações: www.eventos.ibilce.unesp.br/sel

REALIZAÇÃO:
Programa de Pós-Graduação em Letras
IBILCE/UNESP
Fonte:
Comissão Organizadora

Expressões Redundantes



Ocorre redundância quando, numa frase, repete-se uma idéia já contida num termo anteriormente expresso. Assim, as construções redundantes são aquelas que trazem informações desnecessárias, que nada acrescentam à compreensão das mensagens. No dia-a-dia, muitas pessoas utilizam tais expressões sem perceber que, na verdade, são inadequadas. Veja a seguir frases com expressões redundantes freqüentemente utilizadas:

"Eu e minha irmã repartimos o chocolate em METADES IGUAIS."
Ao dividir algo pela metade, as duas partes só podem ser "iguais"!

"O casal ENCAROU DE FRENTE todas as acusações."
Seria possível que eles encarassem "de trás"?

"A modelo ESTREOU seu vestido NOVO."
Seria possível que ela estreasse um vestido "velho"?

"Adoro tomar CANJA DE GALINHA."
Se é canja que você toma, só pode ser "de galinha"!

"O estado EXPORTOU PARA FORA menos calçados este ano."
E como ele poderia fazer para exportar para "dentro"?

"Quando AMANHECEU O DIA, o sol brilhava forte."
Você já viu amanhecer a "noite"?

"Tiradentes teve sua CABEÇA DECAPITADA."
Alguém já viu um "pé" ser decapitado? Decapitação só existe da cabeça mesmo!

"A criança sofreu uma HEMORRAGIA DE SANGUE e foi parar no hospital."
Todas as hemorragias são "de sangue"!

"HÁ muito tempo ATRÁS fui à Portugal."
A forma verbal há já indica que o tempo é no passado.

"Ela é LOUCA DA CABEÇA!"
Você já viu algum louco do "pé"?

"O rapaz se INFILTROU DENTRO da festa sem ser convidado."
O verbo infiltrar já indica "para dentro".

"Pessoal, não vamos ADIAR PARA DEPOIS esta reunião!"
O verbo adiar já indica que é "para depois".

"Será que tenho OUTRA ALTERNATIVA?"
A palavra alternativa significa "outra opção". A forma correta seria: "Será que tenho alternativa?"

"Eu e meu marido CONVIVEMOS JUNTOS durante dois anos."
O verbo conviver já expressa a idéia de "viver com", "junto". "A professora ACRESCENTOU

MAIS UMA idéia ao projeto."
Será que ela poderia acrescentar "menos" uma idéia?

Fonte:So Portugues

Reforma Ortográfica III (Guia Prático)



2 - ACENTO DIFERENCIAL

O acento diferencial é utilizado para auxiliar na identificação de palavras homófonas (que possuem a mesma pronúncia). Com o acordo ortográfico, ele deixará de existir nos seguintes casos: pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Observe os exemplos:
Ela não pára de dançar.
Ela não para de dançar.

A mãe péla o bebê para dar-lhe banho.
A mãe pela o bebê para dar-lhe banho.

Este é o pólo norte.
Este é o polo norte.

Os garotos gostam de jogar pólo.
Os garotos gostam de jogar polo.

Meu gato tem pêlos brancos.
Meu gato tem pelos brancos.

A menina trouxe pêra de lanche.
A menina trouxe pera de lanche.

Atenção: existem duas palavras que continuarão recebendo acento diferencial:

pôr (verbo) -> para não ser confundido com a preposição por.

pôde (verbo poder conjugado no passado) -> para que não seja confundido com pode (forma conjugada no presente).

3 - ACENTO CIRCUNFLEXO

O acento circunflexo deixará de ser utilizado nos seguintes casos:
a) Em palavras com terminação ôo. Veja:
enjôo -> enjoo
vôo -> voo
magôo -> magoo

Mais exemplos: abençoo (abençoar) , coo (coar), coroo (coroar), doo (doar), moo (moer), perdoo (perdoar), povoo (povoar), voos (plural de voo), zoo (zoar).

b) Nas terminações êem, que ocorrem nas formas conjugadas da terceira pessoa do plural dos verbos ler, dar, ver, crer e seus derivados. Veja o exemplo abaixo:

Eles lêem. -> Eles leem.

Mais exemplos:
creem, deem, veem, descreem, releem, reveem.

Atenção: os verbos ter e vir (e seus derivados) continuam sendo acentuados na terceira pessoa do plural.

Eles têm três filhos.
Eles detêm o poder.
Eles vêm para a festa de sábado.
Eles intervêm na economia.
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continua... na próxima, Trema, Alfabeto e Hífen
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Fonte:
So Portugues

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Trova XLIX

Reforma Ortográfica II (Guia Prático)



1 - ACENTO AGUDO

O acento agudo desaparecerá em três casos:

a) Nos ditongos (encontros de duas vogais proferidas em uma só sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítonas (aquelas cuja sílaba pronunciada com mais intensidade é a penúltima).

Exemplos:
idéia -> ideia geléia -> geleia bóia -> boia jibóia -> jiboia

Mais exemplos:
alcateia, assembleia, asteroide, celuloide, colmeia, Coreia, epopeia, estreia, heroico, joia, odisseia, paranoia, plateia, etc.

Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam sendo acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.
Exemplos:
papéis, herói, heróis, troféu, troféus, chapéu, chapéus, anéis, dói, céu, ilhéu.

Exemplos:
Papéis chapéus troféu

b) Nas palavras paroxítonas com i e u tônicos formando hiato (sequência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes), quando vierem após um ditongo. Veja:
baiúca -> baiuca
bocaiúva -> bocaiuva
feiúra -> feiura

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou
seguidos de s), o acento permanece.
Exemplos: tuiuiú, Piauí.

c) Nas formas verbais que possuem o u tônico precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Esses casos ocorrem apenas nas formas verbais de arguir e redarguir. Observe:

argúis -> arguis
argúem -> arguem
redargúis -> redarguis
redargúem -> redarguem
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continua...Acento diferencial e acento circunflexo
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Fonte:
So Portugues

terça-feira, 21 de julho de 2009

Trova XLVIII

Desenho do Submundo Mamão

Basílio da Gama (trecho de O Uraguai)


(Trecho do Canto IV, onde é narrada a morte de Lindóia. A índia, angustiada com a morte de Cacambo, “entrar no jardim triste e chorosa”, “cansada de viver”, é encontrada por seu irmão, Caitutu, adormecida, tendo enrolada em seu corpo uma verde serpente venenosa.)
--

“........ Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e quem apresse no fugir a mortes
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco faz voar a aguda seta,
Que toca o peito da Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo côa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! No frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que amor reinava, um dia,
Cheios de morte, e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história dos seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que aos corações mais duros enternece.
Tanto era bela, no seu rosto a morte!”
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Fonte:
Gama, Basílio da. O Uraguai. 2ª ed. Rio de janeiro, Agir, 1972.

Basílio da Gama (1741 – 1795)



José Basílio da Gama nasceu em São José do Rio das Mortes (hoje Tiradentes), em 1741, e morreu em Lisboa, em 1795. Foi um bom poeta, admirado, principalmente, pelos autores românticos que viriam depois dele. Sua vida ilustra bem as relações que podem existir entre poesia e o poder. Basílio da Gama estudou no Brasil com os jesuítas até 1759, quando os jesuítas foram expulsos. Em 1768, em Lisboa, foi preso e condenado ao degredo em Angola por jesuitismo. Na prisão, mudou de idéia e passou para o lado do Marquês de Pombal. Livra-se da prisão e do degredo, dedicando seu poema O Uraguai ao Marquês de Pombal. Em O Uraguai, Basílio da Gama critica os jesuítas e defende a política de Pombal – tornando-se seu secretário. Apesar de ser considerado um bom poeta, é difícil escrever uma obra-prima quando se tem, como grande preocupação, propagandear idéias e levando bandeiras. As obras-primas podem até ser construídas em cima de uma ideologia, mas isto se limita a ser apenas um pano de fundo, não a preocupação primeira, como é o caso d’O Uraguai, de Basílio da Gama.

O Uraguai é um poema épico em que se percebeu algumas inovações, quebrando, assim, a estrutura camoniana. Essa, aliás, pode ser considerada, também, uma qualidade do poeta, que, exercendo sua liberdade criadora, conseguiu escrever uma obra de fôlego e com elegância poética.

As inovações praticadas por Basílio da Gama foram:

1. Escolha de um tema não adequado ao gênero épico por ser pouco grandioso e contemporâneo do autor. O tema histórico narra parte das guerras entre portugueses e espanhóis contra os índios guaranis dos Sete Povos das Missões, instigados pelos jesuítas. A responsabilidade da guerra coube toda aos jesuítas.

O motivo da guerra foi a determinação do Tratado de Madre (1750) para que os Sete Povos das Missões, liderados por jesuítas espanhóis, deixassem as terras do Rio Grande do Sul (pertencentes aos portugueses) e fossem para o Uruguai (terras pertencentes aos espanhóis), onde estavam instalados índios liderados por jesuítas portugueses. Em outras palavras: o tratado ordenava que fizessem uma troca, ficando os jesuítas espanhóis em terras dos espanhóis e os portugueses em terras dos portugueses. Como é natural, a ordem não agradou nem aos jesuítas nem aos índios, que, assim, iniciaram uma guerra em que as tropas dos portugueses e espanhóis liquidaram os povos indígenas no primeiro banho de sangue da América Latina.

2. A construção do poema em versos decassílabos brancos, isto é, sem rimas.

3. A substituição das estrofes por cantos. O poema apresenta cinco cantos, os mesmos da divisão tradicional: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. O poeta, no entanto, inicia o poema pela narração:

“Fumam ainda nas desertas praias
lagos de sangue tépidos, e impuros,
Em que ondeiam cadáveres despidos,
Pasto de corvos.”

“O Uraguai” é árcade apenas na forma escolhida (poesia épica) e na defesa dos ideais iluministas do Marquês de Pombal. São personagens do poema: Gomes Freire Andrada, herói português; Balda, o vilão, jesuíta caricaturizado; e os indígenas: Lindóia; Sepé; Tatu-Guaçu; Caitutu e Tanajura, a vidente.

Fonte:
MOURA, Josana e SANTOS, Eberth. Filosofia & Literatura. 2. ed. Uberlândia, MG: Claranto, 2004.(série Palavra em Ação)

Washington Irving (Rip Van Winkle)

Pintura de John Howe
Quem quer que tenha subido pelo rio Hudson deve lembrar-se das montanhas Kaatskill, que se avistam ao longe. Cada mudança de estação e de tempo e cada hora do dia provocam alguma mudança nas cores e nos contornos mágicos dessas montanhas. Todas as boas esposas da região as tomam como barômetros, pois, de acordo com sua aparência, conseguem prever o tempo.

Ao pé dessas belas montanhas, o viajante pode avistar fumaça se erguendo lentamente de uma aldeia cujos telhados brilham por entre as árvores. É uma aldeia muito antiga, que foi fundada por algum colonizador holandês.

Nessa aldeia e em uma dessas casas (que, a bem da verdade, eram muito antigas e castigadas pelo mau tempo), vivia, há muitos anos, quando os Estados Unidos ainda eram uma província da Grã– Bretanha, um homem simples e bom chamado Rip Van Winkle. Era um vizinho exemplar e um marido obediente, completamente dominado pela mulher. Certamente devia a essa última circunstância a brandura de alma que lhe conquistava uma popularidade geral, pois são mais aptos a serem dóceis e conciliadores fora, esses homens que estão sob a disciplina de uma víbora dentro de casa.

Rip Van Winkle era o grande favorito entre todas as boas esposas da aldeia; as crianças também gritavam de alegria sempre que ele se aproximava. Assistia a seus jogos, fabricava seus brinquedos, ensinava-lhes a soltar pipa e atirar bolinhas de gude e lhes contava longas histórias de fantasmas, bruxas e índios. Aonde quer que ele fosse, era cercado por um bando deles, pendurando-se nas suas roupas, subindo às suas costas e lhe pregando mil peças impunemente. Nem um cachorro sequer, em toda a redondeza, latia para ele.

O grande defeito de caráter de Rip era uma insuperável aversão a qualquer tipo de trabalho útil. Não era falta de assiduidade ou perseverança, pois ele seria capaz de sentar numa rocha úmida, com uma vara, e ficar pescando o dia todo, sem uma queixa, mesmo que sua isca não fosse mordida nem uma só vez. Carregaria ao ombro sua espingarda por horas seguidas, caminhando por bosques e pântanos, subindo e descendo morros, para atirar em alguns poucos esquilos ou pombas selvagens. Jamais se recusaria a ajudar um vizinho, mesmo nas tarefas mais duras. As mulheres da aldeia, também, tinham o costume de recorrer a ele para pequenos serviços que seus maridos menos prestativos não fariam por elas. Numa palavra, Rip estava sempre pronto para cuidar dos negócios de quem quer que fosse, exceto dos dele próprio. Mas cumprir os deveres para com a família e manter sua fazenda em ordem, ele achava impossível.

De fato, dizia que não adiantava nada trabalhar em sua fazenda: era o pior pedaço de terra de toda a região. Tudo ali dava errado e daria errado apesar dele. Suas cercas estavam sempre caindo aos pedaços; sua vaca sempre se perdia ou ia parar na plantação de couve. A erva-daninha certamente crescia mais rápido em suas terras do que em nenhum outro lugar. A chuva fazia questão de cair exatamente quando ele tinha algum trabalho para fazer ao ar livre. Assim, a propriedade que herdara do pai, diminuindo até ficar reduzida a pouco mais que um simples terreno com milho e batatas, era a fazenda em piores condições de toda a redondeza. Seus filhos também andavam maltrapilhos e selvagens como se não tivessem pais. Seu filho Rip, um moleque igualzinho a ele, fazia prever que ia herdar-lhe os hábitos, junto com as suas roupas velhas. Viam-no geralmente correndo como um potro atrás da mãe, vestido com um velho par de calças do pai, que ele tinha muita dificuldade em segurar com uma mão.

Rip Van Winkle, porém, era um desses felizes mortais bemhumorados, sempre de bem com a vida, comendo pão branco ou preto: o que se pudesse conseguir com menor esforço ou dificuldade. Preferia definhar com um centavo a trabalhar por uma libra. Se deixado a si mesmo, ele teria passado a vida a assobiar, com perfeita satisfação; mas sua mulher vivia resmungando nos seus ouvidos sobre sua preguiça, sua negligência e a ruína a que ele estava levando sua família. De manhã, à tarde e à noite, sua língua estava em ação sem trégua, reclamando de tudo o que ele dizia ou fazia. Rip só tinha um modo de responder: encolhia os ombros, balançava a cabeça, erguia os olhos, mas não dizia nada. Isso, porém, provocava uma nova enxurrada de queixas e só lhe restava, então, ir para fora de casa — o único lugar que realmente pertence a um marido dominado pela esposa.

O único a tomar partido de Rip em seu lar era seu cachorro Wolf, tão tiranizado pela Senhora Van Winkle quanto seu dono, pois aquela os via como companheiros de preguiça e olhava torto
para Wolf como se ele fosse a causa das perambulagens freqüentes do marido. A verdade é que Wolf era, sob todos os aspectos, um cachorro digno; era corajoso — mas que coragem podia enfrentar os constantes e esmagadores ataques de uma língua de mulher? Assim que Wolf entrava na casa, baixava a crista, com o rabo entre as pernas, olhando atentamente para a senhora Van Winkle. Ao primeiro sacudir de um cabo de vassoura ou de uma concha, saía correndo para a porta, latindo.

Foi ficando pior para Rip Van Winkle com o passar dos anos de casamento. Um temperamento azedo jamais se abranda com o tempo, e uma língua afiada é o único instrumento cortante que se torna mais agudo com o uso constante. Por muito tempo, ele costumava consolar-se, ao ser expulso de casa, freqüentando uma espécie de clube dos sábios, filósofos e outros personagens preguiçosos da aldeia. Suas sessões ocorriam num banco na frente de uma pequena pousada. Ali costumavam se sentar à sombra, durante um longo e preguiçoso dia de verão, conversando distraidamente sobre mexericos da aldeia ou contando histórias intermináveis e tediosas sobre coisa nenhuma. Se lhes caía nas mãos algum jornal deixado por um viajante de passagem, era lido arrastadamente por Derrick Van Bummel, o mestre-escola, um homenzinho vivo e instruído, que não se deixava assustar pela palavra mais gigantesca do dicionário. Como deliberavam sabiamente sobre acontecimentos públicos alguns meses depois
que eles tinham ocorrido!

As opiniões dessa liga eram totalmente controladas por Nicholas Vedder, um patriarca da aldeia e dono da pousada, a cuja porta ele permanecia sentado de manhã até a noite, só se movendo para evitar o sol e continuar sob a sombra de uma grande árvore. Assim, os vizinhos podiam saber que horas eram a partir de seus movimentos, de uma forma tão precisa quanto consultando um relógio de sol. É verdade que raramente escutavam-no a falar, mas fumava seu cachimbo sem parar. Seus partidários, porém, compreendiam-no perfeitamente o que ia pela sua cabeça, de acordo com o modo como ele fumava.

Mas até mesmo desse refúgio o desafortunado Rip foi por fim expulso pela megera da sua esposa, que irrompeu de repente na tranqüilidade da assembléia e chamou todos os seus membros de inúteis. Nem aquela venerável personagem, o próprio Nicholas Vedder, foi poupado da língua atrevida dessa terrível víbora, que o acusava de encorajar os hábitos preguiçosos do marido.

O pobre Rip se viu por fim quase reduzido ao desespero; e sua única alternativa para escapar do trabalho da fazenda e da gritaria da mulher era pegar sua espingarda e perambular pelas florestas. Aqui ele algumas vezes se sentava ao pé de uma árvore e dividia o conteúdo de sua bolsa com Wolf, com quem simpatizava como um companheiro de sofrimento. “Pobre Wolf”, dizia, “sua dona dá a você uma vida de cão, mas não se preocupe, meu amigo: enquanto eu viver, você nunca sentirá falta de um companheiro para ficar a seu lado!” Wolf abanava o rabo, olhava atentamente para o rosto do seu dono e, se cães podem sentir piedade, eu acredito realmente que ele demonstrava os mesmos sentimentos do dono com todo seu coração.

Numa dessas longas andanças, num belo dia de outono, tinha escalado, sem dar por isso, uma das partes mais altas das montanhas Kaatskill. Estava entretido em seu esporte favorito — caçar esquilos, e a solidão silenciosa das rochas tinha ecoado repetidamente os estampidos de sua espingarda. Ofegante e cansado, lançou-se sobre uma colina verde, à beira de um precipício. De uma abertura entre as árvores ele podia avistar toda a região mais abaixo, a grande distância. Viu o altivo Hudson, longe, longe, movendo-se em seu curso silencioso mas majestoso.

Do outro lado, avistou um vale profundo, selvagem, solitário e eriçado; o fundo estava repleto de pedaços de rochas e escassamente iluminado pelos reflexos do sol poente. Por algum tempo Rip permaneceu ali, deitado, meditando sobre aquela cena. A noite estava avançando pouco a pouco. As montanhas começavam a lançar suas sombras azuis sobre os vales. Ele viu que escureceria muito antes de poder chegar à aldeia e suspirou profundamente ao pensar nas ameaças da Senhora Van Winkle que ele teria de enfrentar.

A ponto de descer, ouviu uma voz chamando-o: “Rip Van Winkle! Rip Van Winkle!” Olhou ao redor, mas não conseguiu ver nada além de um corvo num vôo solitário através da montanha. Pensou que sua imaginação o enganara e se preparou de novo para descer, quando ouviu o mesmo grito soar através do calmo ar da noite: “Rip Van Winkle! Rip Van Winkle!” No mesmo momento, Wolf eriçou os pêlos das costas e, dando um fraco rosnado, refugiou-se bem junto do dono, olhando assustado para o vale. Rip agora sentia uma vaga apreensão. Olhou ansiosamente na mesma direção e percebeu uma figura estranha escalando vagarosamente as rochas e curvada sob o peso de algo que carregava às costas. Ele ficou surpreso ao ver um ser humano naquele lugar solitário e deserto, mas julgando que era algum dos vizinhos precisando de sua ajuda, correu a oferecê-la.

Ao chegar mais perto, ficou ainda mais espantado com a singularidade da aparência do estranho. Era um velho baixo, de fartos cabelos eriçados e barba grisalha. Vestia-se à antiga moda holandesa, com uma jaqueta e vários calções. Carregava aos ombros um barril, que parecia cheio de licor, e fazia sinais a Rip para que ele se aproximasse e ajudasse com o fardo. Embora ressabiado e desconfiado dessa nova amizade, Rip o fez com sua presteza habitual. Ajudando-se um ao outro, subiram um barranco, que parecia o leito seco de uma corrente da montanha. Quando escalavam, Rip ouviu um barulho como que de um trovão distante. Parou por um momento, mas supondo que era um desses trovões que anunciam uma pancada de água, prosseguiu. Chegaram a uma cavidade que parecia um pequeno anfiteatro, cercado por precipícios e árvores. Durante todo o tempo, Rip e seu companheiro tinham subido a montanha em silêncio. Embora o primeiro se perguntasse admirado qual a razão de se carregar um barril de licor montanha acima, havia algo estranho e incompreensível no desconhecido que inspirava medo e impedia a intimidade da conversa.

Ao entrarem no anfiteatro, apareceram outros motivos de espanto. No centro havia um grupo de homens esquisitos jogando um antigo jogo de bola holandês. Vestiam, todos, roupas estranhas. Seus rostos, também, eram especiais. Um tinha uma grande barba, rosto cheio e olhinhos de porco. A face de um outro parecia consistir inteiramente num nariz, encimado por um chapéu branco com uma pena vermelha de galo. Todos tinham barba, de vários formatos e cores. Havia um que parecia ser o líder. Era um velho forte; tinha um chapéu com penas, meias vermelhas e sapatos de salto alto, com rosas. O grupo em seu conjunto lembrava a Rip as figuras de uma velha pintura flamenga, que ele vira na sala de Dominic Van Shaick, o vigário da aldeia, trazida da Holanda no tempo da colonização.

O que parecia particularmente estranho a Rip era que, embora aquelas pessoas estivessem se divertindo, mantinham no rosto uma expressão das mais sérias, o mais misterioso silêncio: era a diversão mais melancólica que ele já tinha testemunhado. Nada interrompia o silêncio da cena, exceto o ruído das bolas, que, ao rolar, ecoavam através das montanhas como barulho de trovão. Quando Rip e seu companheiro se aproximaram, eles de repente desistiram do seu jogo e o encararam com um olhar tão fixo de estátua e com rostos tão estranhos e sem vida, que seu coração disparou e seus joelhos se chocaram entre si. Seu companheiro esvaziava agora o conteúdo do barril em garrafões e fazia sinais para que ele servisse o grupo. Obedeceu com medo e tremendo; eles beberam o licor em profundo silêncio e retornaram ao jogo.

Pouco a pouco o medo e a apreensão de Rip diminuíram. Até se aventurou, quando nenhum olhar estava fixado nele, a saborear o licor, que tinha o gosto das melhores bebidas holandesas. Era, por natureza, uma alma sedenta e logo se viu tentado a repetir a dose. Um gole leva a outro, e ele repetiu suas visitas ao garrafão tantas vezes que, por fim, seus sentidos se enfraqueceram, seus olhos se turvaram, sua cabeça foi gradualmente tombando e ele caiu num sono profundo. Ao acordar, descobriu-se na colina verde de onde tinha visto pela primeira vez o velho que vinha subindo a montanha. Esfregou os olhos — era uma esplêndida manhã ensolarada. Pássaros saltitavam e cantavam por entre a mata. “Com certeza”, pensou Rip, “não devo ter dormido aqui a noite toda”. Recordou o que acontecera antes de adormecer. O homem estranho com um barril de licor, o barranco, o retiro selvagem entre as rochas, o triste jogo de bola, o garrafão. “Oh!, aquele garrafão! Maldito garrafão!”, pensou Rip, “quantas desculpas eu devo pedir à Senhora Van Winkle!”

Procurou por sua arma, mas em seu lugar encontrou apenas uma espingarda toda corroída de ferrugem. Suspeitava agora de que os homens da montanha tinham lhe pregado uma peça: depois de o embebedar com o licor, tinham roubado sua espingarda. Também Wolf tinha desaparecido, mas bem podia ter corrido atrás de um esquilo ou de uma perdiz. Assobiou chamando-o e gritou seu nome, mas tudo em vão; os ecos repetiam seu assobio e grito, mas não se viu nenhum cachorro.

Decidiu revisitar a cena do dia anterior e, se encontrasse alguém do jogo, pedir seu cachorro e sua espingarda. Ao se erguer, notou que suas juntas estavam rígidas e mais fracas do que o normal. “Essas camas de montanha não são comigo”, pensou Rip, “e se eu ficar com reumatismo, terei de agüentar a Senhora Van Winkle por um bom tempo”. Com alguma dificuldade, desceu ao barranco onde tinha estado com o companheiro na véspera. Mas, para seu espanto, havia agora ali uma corrente de água da montanha, saltando de rocha a rocha.

Por fim, chegou ao que era o anfiteatro, mas não encontrou nenhum sinal da escavação que havia antes. As rochas apresentavam uma parede alta, intransponível, sobre a qual corriam as águas, rodeadas pelas sombras de uma floresta. Aqui, então, o pobre Rip foi obrigado a parar. De novo assobiou e chamou pelo cão, inutilmente. Que deveria fazer? A manhã já ia alta, e Rip, sentindo falta do café da manhã, sentia-se faminto. Lamentava deixar seu cachorro e sua espingarda, temia encontrar a esposa, mas não podia morrer de fome nas montanhas. Sacudiu a cabeça, pôs no ombro a espingarda enferrujada e, com o coração cheio de preocupação e ansiedade, dirigiu seus passos para casa. Ao se aproximar da aldeia, encontrou algumas pessoas, mas nenhuma conhecida, o que o surpreendeu um bocado, pois achava que conhecia todos na região. Também suas roupas eram de um tipo diferente daquele com o qual ele estava acostumado. Todos olhavam fixamente para ele, com os mesmos sinais de espanto, e coçavam o queixo. A repetição constante desse gesto levou Rip a fazer involuntariamente o mesmo e foi quando, para sua surpresa, descobriu que sua barba tinha crescido um pé! (equivalente a 33 cm)

Agora, tinha chegado aos limites da aldeia. Um grupo de crianças desconhecidas correu atrás dele, gritando e apontando sua barba grisalha. Também os cães, que ele não reconheceu, latiam para ele à sua passagem. Toda a aldeia tinha mudado. Estava maior e mais povoada. Havia fileiras de casas que ele jamais tinha visto antes e as que lhe eram familiares tinham desaparecido. Havia nomes desconhecidos sobre as portas, rostos desconhecidos às janelas; tudo era desconhecido. Duvidava do seu próprio juízo; começou a achar que talvez ele e o mundo a sua volta estivessem enfeitiçados. Certamente esta era sua aldeia natal, que ele deixara na véspera. Ali se erguiam as montanhas Kaatskill, ali corria o prateado Hudson. Rip estava dolorosamente perplexo. “Aquele garrafão de ontem à noite”, pensou, “perturbou a minha pobre cabecinha!”

Foi com alguma dificuldade que encontrou o caminho para sua casa, da qual ele se aproximou com medo silencioso, esperando a cada momento ouvir a voz estridente da Senhora Van Winkle. Encontrou a casa em ruínas: o teto caído, as janelas arrebentadas e as portas fora das dobradiças. Um cão meio morto de fome, que se parecia com Wolf, vagava por ali. Rip chamou-lhe pelo nome, mas o vira-lata rosnou, mostrou os dentes e foi embora. “Até o meu próprio cachorro”, suspirou o pobre Rip, “esqueceu-se de mim!”

Entrou na casa. Estava vazia e, segundo parecia, abandonada. Chamou em voz alta pela esposa e filhos — os aposentos desertos ressoaram com sua voz por um momento e, então, tudo voltou ao silêncio de antes.

Correu para o seu velho refúgio, a pousada da aldeia — mas ela também tinha desaparecido. Estava em seu lugar uma construção de janelas largas, sobre cuja porta estava pintado: “Hotel União, de Jonathan Doolittle”. Ao invés da grande árvore que costumava proteger a calma pousada holandesa, havia um mastro com uma bandeira; nela, uma estranha mistura de estrelas e listras — tudo isso era incompreensível e estranho. Havia, como sempre, uma multidão de pessoas perto da porta, mas nenhuma que Rip reconhecesse. Até o caráter do povo parecia mudado. Ao invés da calma habitual, as pessoas eram apressadas e agitadas. Procurou em vão pelo sábio Nicholas Vedder ou por Van Bummel, o mestre-escola.

Rip, com sua longa barba grisalha, sua espingarda enferrujada, sua roupa grosseira logo atraiu a atenção dos homens do hotel. Cercaram-no, olhando-o dos pés à cabeça com grande curiosidade. Perguntaram em quem ele tinha votado. Rip arregalou os olhos, sem entender nada. Um homem puxou-o pelo braço e perguntou se ele era federalista ou democrata. Rip não conseguia entender a pergunta. Por fim um velho lhe perguntou, em tom grave, o que ele fazia numa eleição com uma arma ao ombro e uma multidão a segui-lo e se ele queria liderar uma revolta na aldeia.

“Ai!, senhores”, exclamou Rip, “eu sou um pobre coitado, pacífico, natural deste lugar”. E o pobre homem assegurou, humildemente, que não pretendia armar confusão mas que viera ali apenas para procurar alguns dos seus vizinhos, que costumavam reunir-se naquele lugar.

“Bem, quem são eles?”, ouviu-se perguntar, “Diga seus nomes”.

Rip pensou por um momento e indagou: “Onde está Nicholas Vedder?”

Houve silêncio por um instante, até que um velho respondeu:

“Nicholas Vedder? Está morto e enterrado há dezoito anos! Havia uma lápide de madeira, no cemitério, que contava tudo sobre ele, mas apodreceu e sumiu”.

“Onde está Brom Dutcher?”

“Oh, alistou-se no exército, logo no começo da guerra; uns dizem que ele morreu em combate, outros que se afogou. Não sei, ele nunca mais voltou”.

“Onde está Van Bummel, o mestre-escola?”

“Alistou-se também, foi um grande general e agora está no Congresso”.

O coração de Rip se partiu ao ouvir essas tristes mudanças e ao ver-se assim, sozinho no mundo. Cada resposta o confundia, em se tratando de tão grandes lapsos de tempo e de assuntos que ele não conseguia entender. Não tinha coragem de perguntar por outros amigos, mas gritou desesperado: “Ninguém aqui conhece Rip Van Winkle?”

“Oh, Rip Van Winkle!”, exclamaram dois ou três, “Oh, claro!

Aquele ali, encostado na árvore, é Rip Van Winkle”.

Rip olhou e avistou uma réplica exata de si mesmo no tempo em que ele subiu a montanha. O pobre coitado estava agora completamente confuso. Duvidava de sua própria identidade, sem saber se era ele mesmo ou um outro qualquer. Em meio a esse embaraço, perguntaram-lhe quem ele era e qual era seu nome.

“Só Deus sabe”, exclamou.” Não sou eu mesmo... sou uma outra pessoa...aquele ali é que sou eu...não... alguém tomou o meu lugar... Eu era eu mesmo a noite passada, mas adormeci na montanha e mudaram minha espingarda e tudo mudou, e eu mudei, e não sei dizer qual o meu nome ou quem sou eu!”

Os que estavam presentes começaram então a olhar um para o outro, balançavam a cabeça, piscavam os olhos e passavam o dedo pela testa para dar a entender que o homem estava doido. Nesse momento, uma bela mulher abriu caminho na multidão para dar uma olhada no velho de barba grisalha. Trazia nos braços uma criança gorducha, que, assustada com o olhar de Rip, começou a chorar. “Quieto, Rip”, gritou ela, “quieto, seu bobinho; o velho não vai machucar você”. O nome da criança, a aparência da mãe, o tom de sua voz, tudo despertava um monte de recordações na mente de Rip.

“Qual é o seu nome, minha boa mulher?”, perguntou.

“Judith Gardiner”.

“E o nome do seu pai?”

“Ah, pobre homem, Rip Van Winkle era seu nome, mas faz vinte anos que ele saiu de casa com sua espingarda e nunca mais se ouviu falar dele... Seu cachorro voltou para casa sozinho, mas se ele se matou ou se os índios o raptaram, ninguém pode dizer. Na época, eu era uma garotinha”.

Rip só tinha mais uma pergunta a fazer, mas a fez com a voz tremendo:

“Onde está sua mãe?”

“Oh, ela também morreu, mas há pouco tempo; rebentou um vaso sangüíneo num acesso de cólera contra um vendedor ambulante”.

Havia naquilo uma ponta de consolo. Não pôde se conter mais. Abraçou sua filha e o filho dela. “Sou seu pai!’, gritou.

“Jovem Rip Van Winkle, em outros tempos...velho Rip Van Winkle, agora!...Ninguém reconhece o pobre Rip Van Winkle?”

Todos ficaram admirados, até que uma velha, destacando-se da multidão, colocou sua mão na sobrancelha e, olhando atentamente para o rosto de Rip por um momento, exclamou: “Não resta dúvida! É Rip Van Winkle... é ele mesmo! Bem-vindo em sua volta para casa, velho vizinho. Mas onde você esteve nesses vinte longos anos?”

A história de Rip foi narrada brevemente, pois os vinte anos tinham sido para ele apenas uma única noite. Os vizinhos ficaram espantados ao ouvi-la. Viram-se alguns piscarem o olho e fazer sinal de que achavam o homem louco.

Decidiu-se, porém, ouvir a opinião do velho Peter Vanderdonk. Era o mais antigo morador da aldeia e conhecedor de todos os acontecimentos extraordinários da redondeza. Reconheceu Rip imediatamente e confirmou sua história da maneira mais satisfatória. Assegurou ao grupo que era fato estabelecido que as montanhas Kaatskill eram freqüentadas por seres estranhos. Seu pai os tinha visto uma vez, em seus antigos trajes holandeses, jogando bola numa cavidade da montanha. Ele próprio havia ouvido, numa tarde de verão, o som de suas bolas, como barulho remoto de trovão.

Para encurtar a história, o grupo se desfez e voltou a cuidar de algo mais importante, a eleição. A filha de Rip o levou para morar em sua casa confortável e bem mobiliada junto com ela e o marido.

Rip lembrou que ele era um dos meninos que costumavam trepar às suas costas. Quanto ao filho e herdeiro de Rip, que era a sua imagem, trabalhava na fazenda, mas revelava uma tendência hereditária a só fazer o que lhe interessava. Rip agora retomava seus velhos hábitos. Encontrou muitos de seus antigos companheiros, mas todos tinham sofrido os estragos da passagem do tempo. Preferia fazer amigos entre a nova geração, entre a qual se tornou logo muito popular.

Sem nada para fazer em casa e tendo chegado àquela idade feliz em que um homem pode ser preguiçoso impunemente, tomou lugar mais uma vez no banco junto à porta da pousada e era reverenciado como um dos patriarcas da aldeia. Levou tempo para conseguir conversar normalmente ou compreender os estranhos acontecimentos que tinham ocorrido durante seu sono. Tinha havido uma guerra revolucionária, o país se libertara da Inglaterra e agora ele era um cidadão livre dos Estados Unidos. Na verdade, Rip não se interessava por política; as mudanças de estados e impérios pouco o impressionavam; mas havia uma espécie de tirania sob a qual ele sofrera muito tempo, a feminina. Felizmente chegara ao fim; livrara o pescoço do jugo do matrimônio e podia entrar e sair quando lhe desse na telha, sem temer a tirania da Senhora Van Rinkle. Sempre que seu nome era mencionado, porém, ele sacudia a cabeça, encolhia os ombros e erguia os olhos, o que podia passar por uma expressão de resignação para com seu destino ou alegria por sua liberdade.

Rip costumava contar sua história a todo estrangeiro que chegava ao hotel do Senhor Doolittle. Viam-no, de início, alterar certos detalhes cada vez que a contava, o que se devia, sem dúvida,
ao fato de ter despertado há tão pouco tempo. Mas, finalmente, a narrativa fixou-se exatamente nos moldes em que a narrei, e nenhum homem, mulher ou criança da redondeza deixava de a saber de cor. Alguns sempre duvidavam de sua veracidade e insistiam em que Rip tinha perdido o juízo. Os velhos habitantes holandeses, porém, acreditavam, quase todos, nela.

Ainda nos dias de hoje, jamais ouvem uma trovoada numa tarde de verão sobre o Kaatskill sem dizer que aquele grupo de homens estranhos estão jogando bola. E é um desejo comum a todos os maridos tiranizados pela esposa, na redondeza, quando a vida se torna um fardo, poderem beber um gole repousante do garrafão de Rip Van Winkle.

Fonte:
IRVING, Washington. Ripp Van Winkle. In 4 contos. Adaptação de Paulo Sérgio de Vasconcellos e Rogério Hafez. 2a. Ed. SP: Ed. Sol, 2006.

Erros Comuns do Português



Veja a seguir uma lista com os principais erros cometidos na linguagem do dia a dia, seja na fala ou na escrita.
Você não come mortandela. O que você come é mortadela.

Aquele sujeito deitado na rua não é um mendingo, mas sim um mendigo.

Ninguém toma iorgute. Todos tomam iogurte.

A janela do seu banheiro não é uma vasculhante, mas sim uma basculante.

Seu sapato não possui cardaço, mas sim cadarço

Você não chega em casa meia cansada. Você chega meio cansada. Deixe a meia para colocar no pé.

Você não chega do futebol soando, a não ser que seja um sino. O correto é suando.

Não use a expressão "a nível de", que é um modismo criado nos últimos anos. Use "em nível de".
Por exemplo: "O problema será resolvido em nível de diretoria".
A exceção ocorre quando nos referimos a um nivelamento.
Por exemplo: "Esta cidade não fica ao nível do mar". Elimine as palavras seje e esteje do seu vocabulário, pois elas não existem.

Nunca escreva para um amigo dizendo "seje feliz" ou "espero que esteje bem".

Ninguém tem poblema ou pobrema. As pessoas têm problemas.

Não havia "menas pessoas" na aula ontem. Havia "menos pessoas".

Você não apoia a cabeça em um trabisseiro, mas sim em um travesseiro.

Não peça trezentas gramas de queijo. É O grama e não A grama.

Ele não é di menor, nem di maior. É simplesmente maior ou menor de idade.

Ninguém desenha um asterístico. O correto é asterisco.

Não existe evento beneficiente. Existe evento beneficente.

Você não vai gospir. Vai cuspir.

O peixe não tem espinho, mas sim espinha (dorsal).

Se você é homem, diga obrigado. Se for mulher, diga obrigada.

Não diga "fazem dois anos". O verbo fazer, quando designa tempo, é impessoal. O correto é "faz dois anos".

Nunca diga "haviam muitas pessoas no local". Neste caso, o verbo haver não tem um sujeito com quem concordar, pois ele tem o sentido de existir. Logo, o correto é "havia muitas pessoas no local".

Minha mãe pediu para eu fazer, para eu comprar e não para mim fazer ou para mim comprar. É bastante comum, principalmente no telemarketing, o uso excessivo do gerúndio.

Não diga "vou estar mandando", "vou estar verificando" e sim "vou mandar", "vou verificar".
Por exemplo, se você disser: "esta semana estarei lhe enviando um e-mail", pode parecer que passará a semana toda enviando um e-mail para a pessoa. Portanto, prefira dizer "esta semana irei lhe enviar um e-mail".

Fonte:SoPortugues

A Reforma Ortográfica (Parte I)


Não é de hoje que os integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pensam em unificar as ortografias do nosso idioma. Desde o início do século XX, busca-se estabelecer um modelo de ortografia que possa ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino. No quadro a seguir tem-se, resumidamente, as principais tentativas de unificação ortográfica já ocorridas entre os países lusófonos. No Brasil, note que já houve duas reformas ortográficas: em 1943 e 1971. Assim, um brasileiro com mais de 65 anos está prestes a passar pela terceira reforma. Em Portugal, a última reforma aconteceu em 1945.

Cronologia das Reformas Ortográficas na Língua Portuguesa
Séc XVI até ao séc. XX - Em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de caráter etimológico (procurava-se a raiz latina ou grega para escrever as palavras).

1907 - A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações.

1910 - Implantação da República em Portugal – foi nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme, para ser usada nas publicações oficiais e no ensino.

1911 - Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita de algumas formas gráficas, mas que não foi extensiva ao Brasil.

1915 - A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a ortografia com a portuguesa.

1919 - A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915.

1924 - A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começam a procurar uma grafia comum.

1929 - A Academia Brasileira de Letras lança um novo sistema gráfico.

1931 - Foi aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, que visava suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa, contudo não foi posto em prática.

1938 - Foram sanadas as dúvidas quanto à acentuação de palavras.

1943 - Foi redigido, na primeira Convenção ortográfica entre Brasil e Portugal, o Formulário Ortográfico de 1943.

1945 - O acordo ortográfico tornou-se lei em Portugal, mas no Brasil não foi ratificado pelo Governo. Os brasileiros continuaram a regular-se pela ortografia anterior, do Vocabulário de 1943.

1971 - Foram promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal.

1973 - Foram promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil.

1975 - A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboram novo projeto de acordo, que não foi aprovado oficialmente.

1986 - O presidente brasileiro José Sarney promoveu um encontro dos sete países de língua portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe - no Rio de Janeiro. Foi apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

1990 - A Academia das Ciências de Lisboa convocou novo encontro juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa – as duas academias elaboram a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O documento entraria em vigor (de acordo com o 3º artigo do mesmo) no dia 1º de Janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português.

1996 - O último acordo foi apenas ratificado por Portugal, Brasil e Cabo Verde.

2004 - Os ministros da Educação da CPLP reuniram-se em Fortaleza (Brasil), para propor a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, mesmo sem a ratificação de todos os membros.

Nova Reforma Ortográfica - Aspectos Positivos

O Novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro de 2009, gera polêmica entre gramáticos, escritores e professores de Língua Portuguesa. Segundo o Ministério de Educação, a medida deve facilitar o processo de intercâmbio cultural e científico entre os países que falam Português e ampliar a divulgação do idioma e da literatura portuguesa. Dentre os aspectos positivos apontados pela nova reforma ortográfica, destacam-se ainda:

- redução dos custos de produção e adaptação de livros;
- facilitação na aprendizagem da língua pelos estrangeiros;
- simplificação de algumas regras ortográficas.

Nova Reforma Ortográfica - Aspectos Negativos

- Todos que já possuem interiorizadas as normas gramaticais, terão de aprender as novas regras;
- Surgimento de dúvidas;
- Adaptação de documentos e publicações.

Período de Adaptação

Mesmo entrando em vigor em janeiro de 2009, os falantes do idioma terão até dezembro de 2012 para se adaptarem à nova escrita. Nesse período, as duas normas ortográficas poderão ser usadas e aceitas como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos. Em Portugal, cerca de 1,6% das palavras serão alteradas. No Brasil, apenas 0,5%.

Atualização dos Livros Didáticos

De acordo com o MEC, a partir de 2010 os alunos de 1º a 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma - o que deve ocorrer com as turmas de 6º a 9º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012.

Reforma na Escrita

Por fim, é importante destacar que a proposta do acordo é meramente ortográfica. Assim, restringe-se à língua escrita, não afetando aspectos da língua falada. Além disso, a reforma não eliminará todas as diferenças ortográficas existentes entre o português brasileiro e o europeu.

Fontes:
SoPortugues

Maria Nascimento Santos Carvalho (18 de julho – Dia do Trovador)

O dia 18 de julho é o dia consagrado aos trovadores do Brasil. A data foi fixada por leis estaduais e municipais, onde quer que haja um cultor da Trova, em homenagem ao Trovador LUIZ OTÁVIO, o responsável pelo insuperável movimento literário brasileiro, que é o movimento trovadoresco nacional.

No dia do Trovador, todas as Seções da União Brasileira de Trovadores – UBT e Delegacias espalhadas por centenas de municípios brasileiros comemoram a data com almoços festivos, reuniões, com as chamadas chuvas de trovas, (centenas de trovas impressas) jogadas das janelas dos trovadores, para que os transeuntes se deliciem com as trovas que vão caindo ao sabor do vento. São realizadas palestras, enfim, cada seção ou delegacia comemora da melhor forma que pode a passagem do dia legalmente dedicado ao trovador.

A data foi escolhida em homenagem a LUIZ OTÁVIO, o Dr. Gilson de Castro, um dos mais conceituados Cirurgiões – Dentistas da época, formado pela Faculdade Nacional de Odontologia da Universidade do Brasil, em 1936. Sua clientela não ficava restrita apenas ao município Rio de Janeiro, se espalhava por São Paulo, Santos, Belo Horizonte e outras cidades mais próximas da sede do seu consultório, que, recordo como se fosse hoje, ficava na Rua do México, 119, no 9º Andar, no Castelo, do Rio de Janeiro.

LUIZ OTÁVIO nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de julho de 1916. Filho de OCTÁVIO DE CASTRO e Dona ANTONIETA CERQUEIRA DA M. CASTRO.

LUIZ OTÁVIO foi o precursor do movimento trovadoresco brasileiro, tendo publicado em 1956, a primeira Coletânea de Trovas, intitulada “Meus irmãos, os Trovadores”, contendo mais de duas mil Trovas, mais de seiscentos autores brasileiros, notas elucidativas e bibliográficas.

O Castanheira – de – Pêra, Jornal Português de 11 de agosto de 1958 publicou sobre Meus Irmãos, os Trovadores: “Esta coletânea, a primeira do gênero, veio preencher uma lacuna que se fazia sentir. Apresenta mais de seiscentos autores brasileiros, duas mil trovas, inúmeras notas bibliográficas e elucidativas e minuciosa introdução com um estudo sobre a trova. É um valioso trabalho que se impõe. A Luiz Otávio, em quem há muito reconhecemos idoneidade iteraria e bom sentido poético, apresentamos os nossos parabéns e os desejos de que o seu trabalho tenha a divulgação que a todos os títulos merece.”

Referindo-se ao mesmo trabalho de LUIZ OTÁVIO, A ILHA, Jornal da África – São Miguel dos Açores, de 16 de fevereiro de 1957, registrou: “Esta grande coletânea de trovas honra LUIZ OTÁVIO pelo seu trabalho, seriedade, competência e cultura, contribuindo para uma melhor compreensão deste tão ‘simples e difícil’ gênero poético.”

O Correio da Manhã do Rio de Janeiro, na edição de 27 de janeiro de 1957, em coluna assinada por Sílvia Patrícia, assinalou: “Meus Irmãos, os Trovadores, o volume novo que LUIZ OTÁVIO – Papai Noel da Poesia – ofereceu-nos no Natal que passou, é quase um romance no qual cada pena desta nossa irmandade de sonho narra, em quatro linhas, uma alegria ou uma tristeza, cardos e flores encontrados pelo caminho.

O Jornal O Positivo, de Santos Dumont, MG., em coluna assinada por Antônio J. Couri, no dia 1º de outubro de 1957, escreveu sobre Meus Irmãos, os Trovadores : “Raríssimas são as vezes em que o Brasil tem a oportunidade de conhecer coletâneas de poesias, ou, simplesmente quadras. Agora temos uma apresentada por LUIZ OTÁVIO, porém de trovas. De uma organização primorosa , o autor de ‘Cantigas para Esquecer’ soube escolher a matéria que compõe o livro, constituindo assim um verdadeiro monumento de arte da poesia nacional.”

Evidentemente, não seria necessário selecionarmos as opiniões acima para este modesto trabalho a respeito do Dia do Trovador e de LUIZ OTÁVIO, o responsável pelo reconhecido movimento trovadoresco da atualidade, que começo a se firmar a partir da publicação de “Meus Irmãos, os Trovadores”, obra que reuniu trabalho de trovadores de todos os recantos do território nacional, numa época em que os meios de comunicação ainda eram bastante precários, o que, por certo, valorizou ainda mais o livro, pelo trabalho incessante do Autor, inveterado apaixonado pela trova, como escreveu:

A trova tomou-me inteiro!
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas de minha vida.

Trovador, grande que seja
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever…

Por estar na solidão
tu de mim não tenhas dó.
Com trovas no coração,
eu nunca me sinto só.

O mar nos deu a receita
de um viver sábio. Fecundo…
sendo salgado, ele aceita
as águas doces do mundo!

No ano de 1960, em Congresso de Trovadores realizados em São Paulo, foi eleita a Família Real da Trova, ficando assim constituída : Rainha da Trova : LILINHA FERNANDES (Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva); Rei da Trova: ADELMAR TAVARES e Príncipe dos Trovadores, LUIZ OTÁVIO (Gilson de Castro). Mesmo já sendo falecidos, continuam com o título, pois outros trovadores só poderão adquirir o título se houver uma Eleição Nacional ou um Congresso realizado com esta finalidade, em que participe um número muito grande de trovadores, com a participação de representantes de todo o país, uma vez que não pode ser reconhecido qualquer título literário supostamente alcançado com a votação de sócios de uma academia, associação, centro literário etc. com exceção de sua Diretoria.

Ainda no ano de 1960, LUIZ OTÁVIO, juntamente com J. G. de Araújo Jorge, criaram os Jogos Florais de Nova Friburgo, com o apoio do Prefeito Municipal da Cidade, Dr. Amâncio de Azevedo e do Trovador Rodolpho Abbud, até hoje o mais respeitado trovador da Cidade, Jogos Florais que se realizam, ininterruptamente, desde 1960 e seus festejos fazem parte do calendário oficial da Cidade e são realizados como parte dos festejos do aniversário de Nova Friburgo.

No dia 21 de agosto de 1966, LUIZ OTÁVIO fundou a União Brasileira de trovadores – UBT - no Rio de Janeiro e a UBT Nacional, com sede também no Rio de Janeiro, tendo a mesma se expandido em pouco tempo, contando hoje com uma infinidade de Seções e Delegacias em quase todo o território nacional, onde se realizam cerca de 80 concursos de Trovas por ano, na maioria com mais de um tema o que, no cômputo geral, chega a mais de 120 certames por ano.

LUIZ OTÁVIO foi o primeiro Presidente da UBT, tendo se tornado pouco tempo depois Presidente Nacional e posteriormente, Presidente Perpétuo, o mais alto título concedido pela agremiação. Recebeu o título máximo da trova, Magnífico Trovador, nos Décimos Quintos Jogos Florais, por ser vencedor três anos consecutivos com as trovas :

XIII Jogos Florais - Tema Silêncio – 1º lugar
Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto
!..

XIV Jogos Florais – tema Reticências – 2º lugar
Eu… você… as confidências…
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu…

XV Jogos Florais – tema Fibra – 10º lugar
Ele cai… não retrocede!…
continua até sozinho…
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho…

LUIZ OTÁVIO publicou os livros: Saudade… muita saudade (Poesias, 1946); Um Coração em ternura (Poesias, 1947); Trovas (Trovas,3 edições: 1954, 1960 e 1961); Meus Irmãos, Os Trovadores (Coletânea de Trovas, 1956); Meu Sonho Encantador (Poesias, 1959); Cantigas para esquecer (Trovas, 1959 e 1961); Cantigas de Muito Longe (Trovas, 1961); Cantigas dos Sonhos Perdidos (Trovas, 1964); Trovas… Ao Chegar do Outono (Trovas, 1965).

Registramos outras trovas de LUIZ OTÁVIO, que demonstram porque, após quinze anos de criar os Jogos Florais de Nova Friburgo, como outros grandes trovadores, ele sagrou-se Magnífico Trovador.

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio …

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição…

Não paras quase ao meu lado …
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida …

Portugal – jardim de encanto
que mil saudades semeias
nunca te vi … e, no entanto,
tu corres nas minhas veias …

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos …

Contradição singular
que angustia o meu viver:
- a ventura de te achar
e o medo de te perder …

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar…

Ó mãe querida – perdoa!
o que sonhaste, não sou…
- Tua semente era boa!
A terra é que não prestou!

Além de grande Trovador, campeão de centenas de Concursos de Trovas e Jogos Florais, realizados em várias cidades do país, LUIZ OTÁVIO era um exímio compositor, sendo dele a autoria do Hino dos Trovadores, Hino dos Jogos Florais, das Musas dos Jogos Florais e de várias outras obras musicais.

Hino dos Trovadores

Nós, os trovadores,
somos senhores de sonhos mil!
Somos donos do Universo
através de nosso verso.
E as nossas trovas,
são bem as provas desse poder:
elas têm o dom fecundo
de agradar a todo mundo!

Hino dos Jogos Florais

Salve os Jogos Florais Brasileiros!
a Cidade se enfeita de flores!
Corações batem forte, fagueiros,
a saudar meus irmãos trovadores!

Unidos por laços fraternais,
nós somos irmãos nos ideais;
- não há vencidos, nem vencedores;
pois todos nós cantamos, somos trovadores;
e as nossas trovas sentimentais
são sempre mensageiras de amor e paz!.


A Oração do Trovador é o Poema de são Francisco de Assis, Padroeiro dos Trovadores, cujo aniversário, dia 4 de outubro é muito festejado pelos cultores da Trova.

E para encerrar esta homenagem ao Dia do Trovador, focalizando a figura mais importante do mundo trovadoresco, LUIZ OTÁVIO, registramos dois sonetos, dos inúmeros que escreveu, contido em um dos seus livros de poesias, “Meu Sonho Encantador”.

O ideal

Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista!
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista!

Trabalha com fervor, de forma avara!
Que sejas no teu sonho um grande egoísta!
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista!

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado ! …

Orgulho

Venho de longe … venho amargurado
pelas noites sem fim, nesse cansaço
de receber tão só, triste e calado,
A incompreensão do mundo, passo a passo…

Eu trago a alma sem fé do revoltado
e o gesto do vencido em cada braço…
E tu me surges – Anjo imaculado–
a oferecer repouso em teu regaço…

Porém tua alma feita de inocência,
serenidade e Luz, não avalia
a penumbra invulgar dessa existência…

Deixa – me, pois, seguir o meu caminho,
renunciar, viver nessa agonia,
mas tendo o orgulho de sofrer sozinho!…

Assim, apresentamos um pouquinho da poética de LUIZ OTÁVIO, Príncipe dos Trovadores Brasileiros, Magnífico Trovador e Presidente Perpétuo da União Brasileira de Trovadores e responsável pelo sucesso alcançado pela Trova e pelos Trovadores.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Trova XLVII


Nelson Mandela (Nossos Medos)


Nosso medo mais profundo
não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo
é que somos poderosos
além de qualquer medida.

É a nossa luz, não as nossas trevas,
O que mais nos apavora.

Nós nos perguntamos:
Quem sou eu para ser Brilhante,
Maravilhoso, Talentoso e Fabuloso?

Na realidade,
Quem é você para não ser?

Você é filho do Universo.
Você se fazer de pequeno
não ajuda o mundo.

Não há iluminação em se encolher,
Para que os outros
não se sintam inseguros
Quando estão perto de você.

Nascemos para manifestar
a glória do Universo
Que está dentro de nós.

Não está apenas em um de nós:
está em todos nós.

E conforme deixamos nossa própria luz brilhar,
Inconscientemente
Damos às outras pessoas,
permissão para fazer o mesmo.

E conforme nos libertamos
Do nosso medo,
Nossa presença, automaticamente,
Liberta os outros.
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Artur da Távola (Isso de Amizade…)



Ah, esse fenômeno instigante, o das amizades que se mantêm independentes da convivência.

Será amizade? Será saudade comum dos anos vividos em amizade? Será saudade dos anos felizes ou uma afinidade que se espraia no tempo? Não sei responder. Sei que com algumas pessoas (poucas), há uma insistência teimosa em desejar ver, trocar idéias e experiências, creio, pela certeza da reciprocidade e do "ser aceito".

Sim, talvez seja a certeza de ser aceito, uma das maiores necessidades humanas neste mundo de incompreensões. Talvez seja a necessidade da existência de certeza prévia de acolhimento ao que somos, como somos e ao que pensamos, o fermento da amizade.

O mistério da amizade talvez resida no alívio que traz a existência de alguém que nos acolha. Digo acolha e, não, recolha - aí já seria dependência de um lado e paternalismo do outro.
Acolher significa receber de bom grado, previamente, sem julgamentos ou resistências. É molesto o fato de que os seres humanos vivam a julgar e que suas opiniões prévias interponham barreiras na comunicação, dificultando-a.

O mistério da afinidade consiste na inexistência das resistências ao outro, mesmo quando haja discordância. Isso não deriva apenas de afeto. Quantas vezes há afeto entre as pessoas sem, porém, a aceitação natural, espontânea e prévia?

Verifique nas amizades tidas e vividas ao logo da vida, o que delas restou. Haverá muita vivência, boa e má. Raramente, porém, restará a amizade...

Com os anos, vão se tornando escassas as amizades que atravessaram o terreno íntimo que lhes é próprio sem arranhões e sem mágoas, restando, como fruto, após ingentes experiências humanas e existenciais, apenas (e já é tanto...) a amizade.

Amizade é o que resta da amizade. Se o que resta de uma amizade é amizade, então amizade é. Da verdadeira!

Fonte:
http://intervox.ufrj.br/~jobis/a-iss.html

José Usan Torres Brandão (Caldeirão Literário do Paraná)

MEU ANIVERSÁRIO

De hoje a cinco anos, serei sexagenário
Estou tranqüilo, cônscio daquilo que me espera
Pois afinal festejo o meu aniversário
Mesmo sendo natural, ele agride e fere.

Debalde compensar com sonhos, dor que me invade
É o ser que desce a serra na sua calmaria
É o silêncio da noite na pequena cidade
A peraltice hipócrita da própria nostalgia.

É a ave que já tem o seu vôo mais curto
É o vôo que tem uma breve, curta duração
É o buquê em vaso de água que está murcho
Pouca vontade ademais de cantar uma canção.

QUE MUNDO!

Se nasce, já sai lutando
Se vive, já está sofrendo
Que estranho é o ser humano
Que aprende, mesmo morrendo

Na luta do dia-a-dia
No ouro para conquistar
Para contar, pouca alegria
Muita cousa para chorar

Na caminhada para o fundo
Quase nada para dizer
Voz uníssona do mundo
É melhor ter do que ser

Se essa voz a mim não veio
E o ouro não conquistei
Então nada tenho, eu sou
No meu reinado, sou rei!

O MÉDICO

Entre quatro paredes, seu mundo restrito
De grandes emoções, suas horas, dia-a-dia
Aliviar a dor, salvar vidas, está escrito
Sua missão, um sacerdócio sem hipocrisia.

Marcas do tempo, cedo batem à sua porta
Esclerose, enfarte, cansaço, depressão
Seu lar, que não é seu ninho, teme sua sorte
Médico, imagem tão mudada neste mundo cão.

Já não se fala dele como ser superior
Hoje, nome desgastado, luta pra viver
Como qualquer ser, anônimo, sem valor
Num mundo de mercado em que mais vale ter.

Médico, operário de Deus, salvando vidas
Também chora, também ama e também sonha
Na sua labuta com alma e corpo, suas feridas
Leva uma existência bem tristonha.

Não é sem luta que ele ganha fama
Nem é na flor que ele vê espinho
Num pedestal também joga-se lama
Médico, não ligues, segue o teu caminho.

MEU VELHO CHICÃO

Caminhas lento com a mesma altivez
Já não sou o mesmo, os anos se passaram
Minha infância está ligada a ti, velho Chicão
Fonte dos primeiros sonhos que voaram.

Brinquei em tuas águas
De dono do mundo
Que ironia
Com meus amigos de infância
Que nunca mais eu vi
Pois tudo se passou.

As imagens vivas
Que hoje guardo
Pura fantasia
No meu mundo de sonhos
Que o tempo desabou.

És perene
Mas de ti sinto saudades
Pois sei, nada temos em comum
Vives passeando alegre entre cidades
E eu, entre os tristes da vida
Sou mais um.
–––––––––––––––––––
O médico José Usan Torres Brandão nasceu em Senhor do Bonfim – BA, no dia 30 de novembro de 1929. Formou-se em medicina em 1953, pela Escola de Medicina da Bahia, em Salvador. Exerceu a medicina no Recôncavo Baiano e em Maringá. Autor de Descendo a serra. Membro da Academia de Letras de Maringá, Cadeira nº. 03, cujo patrono é Alphonsus de Guimarães.

domingo, 19 de julho de 2009

Trova XLVI

Trova sobre caricatura do CEI Municipal de São Carlos

Clara Góes (Oratório)


Não
não tem traço reto aqui

no fundo
curvas
cravam
auroras em cantos
improváveis.

Um macaco joga
dardos no
Sagrado Coração

e a lua num cristal claro
embalsama
a solidão.

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Sobre a autora

Psicanalista e professora de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clara Góes nasceu no Rio Grande do Norte e escreve poesia desde 1986. Sua grande estréia no mundo da poesia, no entanto, aconteceu em 1989, quando lançou o livro As aranhas. Um ano mais tarde, em 1990, publicou os poemas reunidos em Cinema Catástrofe. A partir daí, não parou mais. Lançou Pedra do Morcego, em 1991, Poeira, em 1992, e Caravelas em 1995.

Ao longo desses mais de 20 anos, a poeta também se revelou como dramaturga e escreveu três textos para teatro. O último deles, Abelardo, Heloisa, lançado em 1995, deu origem a uma peça encenada por Moacyr Góes e protagonizada por Herson Capri e Letícia Spiller.

Seu livro mais recente, Pão e Chocolate, que será lançado no próximo Terças Poéticas, tem as orelhas assinadas por Heloisa Buarque de Hollanda, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que comenta que “a leitura dos poemas de Clara de Góes, curiosamente, sempre me provocou não apenas prazer, mas, sobretudo, um conforto muito grande. Uma sensação de proximidade, ou mesmo intimidade, com sua experiência, sua história, suas entrelinhas”. Para ela, essa proximidade está relacionada ao universo poético onde Clara se move. “São tramas e temporalidades históricas complexas. Um espaço no qual me sinto inexplicavelmente inserida”, completa.
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Fonte:
Antonio Miranda