terça-feira, 14 de junho de 2011

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XLIII - O Alcatraz e o Eider


Havia uma disputa entre o alcatraz (espécie de pelicano) e o eider...

— Antes de mais nada — pediu Narizinho — explique que bichos são esses.

— O alcatraz é uma ave marinha que tem um saco debaixo do bico. Uma ave com fama de ser a mais glutona de todas. Por isso os homens de certas zonas utilizam-na para a pesca. Botam-lhe uma argola no pescoço, debaixo do tal saco, de modo que o alcatraz pesque o peixe mas não possa engoli-lo. E o eider é um patão marinho dos países frios, famoso pela maciez de sua pluma; muito usada para travesseiros e acolchoados.

Bem. O alcatraz e o eider andavam brigando justamente por causa da pluma. Cada qual queria ter o privilégio de produzi-la. Por fim combinaram uma coisa.

Ficaria com o privilégio da pluma o que acordasse mais cedo e avisasse ao outro de que o sol estava nascendo.

Disposto a ganhar a partida custasse o que custasse, o alcatraz resolveu passar a noite acordado. Já o eider tratou de dormir o mais cedo possível. Sono, porém é sono. Quando chega não há quem agüente, de modo que lá pela madrugada o alcatraz estava de não poder mais consigo. Tinha de fazer esforços tremendos para conservar os olhos abertos.

De repente não pôde mais, cochilou — e teve um pesadelo, pondo-se a gritar: "O sol! O sol está nascendo!

A gritaria acordou o eider, que ficou a rir-se de ver o pobre alcatraz naquela luta para resistir ao sono. Por mais que fizesse, o sono o ia vencendo. Afinal sua cabeça pendeu e ele dormiu duma vez.

Justamente nesse instante o sol começou a levantar-se.

— O sol! O sol! Lá vem vindo o sol! Ganhei! — gritou o eider.

E teve de sacudir o alcatraz para acordá-lo.

Desde então ficou o eider com o privilégio das plumas maciíssimas — tudo porque soube fazer as coisas.
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— Está aí um ponto meio duvidoso — disse Pedrinho. — O eider não soube fazer nada — apenas dormiu. Teve sorte, isso sim.

— Espere, Pedrinho. Note que o alcatraz, muito estupidamente, quis forçar a vitória, e a vitória não gosta de vir desse modo. Já o eider respeitou as leis da natureza, não forçou coisa nenhuma.

— Que lei?

— A lei do sono. A sabedoria do eider foi tratar de dormir o mais cedo possível. Era o meio de estar bem acordadinho à hora do nascer dó sol. O alcatraz contrariou a lei do sono — e pá! levou na cabeça,

— Por falar em eider, vovó, não poderíamos criar essa ave aqui? — perguntou a menina. — Teríamos plumas para os nossos travesseiros — coisa muito, melhor que macela.

— Pois eu em vez de plumas de eider preferia papos de alcatraz, para pescar de argola na lagoa — disse Emília.

— Impossível — respondeu dona Benta. — Essas aves não agüentariam o nosso clima.

Muito quente para elas.

— Poderiam dormir na geladeira — lembrou Emília.

— Ei, ei, ei! — exclamou Narizinho. — Eu já andava admirada dum livro inteiro sem uma asneirinha só...

— E agora vovó? — indagou Pedrinho. — Que história vai contar?

— Creio que chega. Com tantas histórias assim, vocês apanham uma indigestão.

— Mais uma apenas, para fechar a série. Pedrinho pensou um bocado.

— Uma de onde?

— Uma do Rio de Janeiro, por exemplo — uma bem carioca.

Dona Benta olhou para o forno. Depois riu-se e contou
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Obs: A pluma do eider chama-se edredão; o mesmo nome «e dá ao travesseiro ou acolchoado que contém pluma.
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Continua… XLIV – História dos Dois Ladrões
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Antonio Brás Constante (O Destino do Último Homem Fiel (Homenagem aos namorados))


Seu nome era Sandoval. Ele era do tipo cafajeste. Apelidado na região de “rei dos safados”. Conheceu Albertina e caiu de amores por aquela mulher. Ela, porém, era um poço de desconfiança, que não queria nada com aquele canalha. Mas o amor trilha caminhos misteriosos, transformando aquele calhorda incurável em um obstinado apaixonado.

Ele prometeu que se os dois casassem mudaria seu jeito de ser. Seria o marido fiel que ela gostaria de ter. Ninguém acreditou, nem ela. Porém, de tanto ele insistir, a moça acabou cedendo aos seus encantos de cafajeste convertido em bom moço.

Ela concordou em se casar, mas com uma condição: que ele nunca traísse o seu amor, sob pena de morte. Falava sério, olhando nos olhos dele, pois era uma mulher de palavra. Ele jurou por todas as almas dos parentes que tinha e dos que nem mesmo existiam que seria fiel.

Casaram-se. O tempo foi passando. Ela sempre observadora. Ele sempre demonstrando ser o mais leal possível.

Um belo dia algo aconteceu. Ele perdeu o seu celular. Não soube explicar como, mas perdeu. Procurou por todos os lugares. Ligou para o aparelho e nada.

A mulher, que já estava quase totalmente acreditando na fidelidade do marido, voltou a ter desconfianças sobre sua pessoa. Aquela história não estava bem contada. Um celular não desaparece assim.

O destino, porém, tem caprichos que o próprio amor desconhece. Para azar do infeliz ex-cafajeste, um rapaz achou seu celular sem bateria, colocou-o no bolso do casaco e andando vários dias com ele de um lado para o outro. Após uma bebedeira em uma boate, o referido rapaz acabou deixando o celular em um dos quartos, saindo sem pagar a conta.

A garota que estava com o rapaz, ao perceber que ele tinha sumido enquanto ela estava no banheiro, fica enraivecida pelo não pagamento de seus “serviços”, mas encontra o celular próximo a cama onde estavam as roupas dele. Ela então pede emprestado um carregador de bateria para suas colegas e aciona o aparelho. Vasculha na sua agenda e encontra um endereço denominado “casa” e liga para lá. A esposa de Sandoval atende. A mulher da boate fala poucas e boas do homem que ambas julgam ser a mesma pessoa.

Quando o marido chega em casa, após um dia cansativo de serviço, encontra a mesa toda arrumada. Flores e velas enfeitando o móvel. Pergunta qual o motivo daquilo. Sua esposa lhe responde que naquela noite irão renovar as promessas do casamento.

Ele senta. Ela pega seu prato e lhe serve um delicioso banquete, elaborado com carnes finas, saladas variadas, massas e vinho. Tudo temperado com um poderosíssimo veneno. Afinal, ela era uma mulher de palavra.

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem = http://www.oquemeusaojoaotem.com.br

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto VI)


SONETO AO BEATO JOSÉ DE ANCHIETA
Falecimento do poeta e catequista em 9.6.1597 –
In Memoriam – Dia de Anchieta.

Brilhante “Apóstolo do Novo Mundo”,
cuja vida foi toda dedicada,
com amor verdadeiro, tão profundo,
a Jesus e à Virgem Imaculada…

Da ilha de Tenerife era oriundo
e veio prosseguir sua jornada,
cá no Brasil, com ânimo fecundo,
que ele adotou, a sua Pátria Amada !…

Ore por nós, poeta peregrino !
Beato José de Anchieta, seu destino
foi trazer luz aos índios inocentes…

De catequista teve a trajetória;
jamais se apagará de nossa História,
das poesias os seus ensinamentos !

SONETO A MARGUERITE YOURCENAR
– In Memoriam – Nascimento da escritora em 8.6.1903 – . –
ao escritor e jornalista Walter Galvani.

Outrora li “Memórias de Adriano”,
da autora Marguerite Yourcenar,
que tendo sido Imperador Romano,
soube com sapiência governar…

Foram vinte e cinco anos a pesquisar,
disse Walter Galvani em texto lhano,
que a escritora levou para criar
o memorial do grande soberano…

E quinze vezes leu o livro culto,
dizendo “que nos sirva de lição”,
esse trabalho ingente de valor !

Pode deixar… que a frase toma vulto,
e aqui lhe aviso, agora, de antemão,
há de ser minha meta este labor !…

SONETO A TOBIAS BARRETO
– In Memoriam –
Data do nascimento do filósofo e poeta em 7.6.1839 –

Após ler um soneto de Tobias
Barreto de Menezes, meu desejo
de homenageá-lo, agora, neste ensejo,
suscitou minha verve de poesias…

Também, foi mestre nas filosofias,
principalmente as alemãs; e vejo
que inteligência teve de sobejo
para criar ideias e poesias…

“Um condor solitário”, mas autêntico;
pois, não houve, sequer, nenhum idêntico,
que lhe fizesse sombra em altivez…

Porque, filósofo e poeta augusto,
seu estro vai pairar, sem qualquer custo,
nos ares da Nação, sempre… de vez…

SONETO A FEDERICO GARCÍA LORCA
– Nascimento do poeta em 5.6.1899 –
In Memoriam

Por que será que as vozes dos poetas,
que compunham seus versos de magia,
que nem García Lorca e os ascetas,
foram caladas pela covardia?!…

Porém, viveram sua ideologia
e permanecem como se profetas
para um mundo melhor no dia a dia
das pessoas humildes e corretas…

E Federico foi herói no ardor
de pretender o bem da Humanidade
à qual dedicou todo seu amor…

Os poemas, sonetos e canções
vão continuar eternos na verdade
que transmitiram suas emoções…

SONETO A CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
– Data do nascimento do poeta em 5.6.1729 –
In Memoriam –

Foi poeta, advogado e fazendeiro,
e quis a liberdade da nação;
pois, diz-se que era um culto companheiro
dos que lutavam p´ra libertação…

Pairam dúvidas do suicídio ou não,
como um ato de fuga derradeiro,
que praticou sofrendo na prisão,
porque não suportou o cativeiro…

Amou Lise que foi seu “doce encanto”,
por ela derramou seu “terno pranto”,
junto aos “piedosos troncos” do arvoredo…

Sua existência trágica, infeliz,
traduz-se nos sonetos em que diz
de um amor de amargura sem enredo…

SONETO A FRANZ KAFKA
– Falecimento do escritor em 3.6.1924 –
In Memoriam –

Escritor, símbolo da resistência,
que em A Metamorfose foi inseto,
mas que tinha, também, inteligência
para exercer o ofício predileto…

“Gregor só costumava ver o objeto”,
enquanto levava sua existência,
e por todo seu mágico trajeto,
foi socialista e ateu na adolescência…

Mas também, outrossim, como anarquista,
participou de algumas reuniões;
entretanto, por fim era sionista…

Depois de formar-se advogado em Praga,
escreveu O Processo por questões
que talvez sejam sua obra magna…

Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Lih Editorial (A Criança em Rimas, de Clóvis Oliveira Cardoso)


Dando início à nossa série de posts sobre as nossas publicações, apresentamos o livro: A Criança em Rimas, de Clóvis Oliveira Cardoso, um projeto super especial feito pelo nosso diretor Hiago Finkermann, em atendimento direto ao autor.

Arranjo dos livros com os encartes

Inicialmente a ideia de Clóvis ( o autor) era publicar 300 exemplares e reservar alguns para os colegas, lançando e vendendo o restante, só que à medida em que a conversa entre ele e Hiago ia evoluindo, a numeração de 100 exemplares para os colegas foi definida.

Encarte com o CD

Clóvis foi quem teve a ideia de oferecer aos 100 amigos um CD, embutido ao livro, com estorinhas infantis. E então Hiago desenvolveu o projeto de criação do encarte de uma forma que este ficasse com aparência simples, dando a impressão de ser feito em casa, por Clóvis mesmo, reforçando ainda mais a aparência de um presente dado a amigos.

Tivemos um problema com o registro do ISBN, no momento de solicitar o código de barras, e então para compensar Hiago teve a ideia de fazer uma surpresa a Clóvis, criando encartes de envelope para os 100 livros que seguiriam com o CD, tornando o projeto ainda mais detalhado e bonito.

Como Clóvis havia esclarecido de que o livro seria para crianças, Hiago também definiu o detalhe da capa em Verniz cintilante completo, para que o objeto parecesse um brinquedo (o que de fato é, só que para o intelecto brincar). Na capa, as imagens de 3 netos do autor em idades variadas, tornaram toda a publicação um caso particular de manufatura, como se o próprio Clóvis tivesse feito à mão cada livro a ser entregue para sua família.

O logotipo da Krioplast na contracapa justifica o apoio cultural, valorizando tanto a marca que produz soluções diversas em plástico quanto a publicação, que exibe beleza até em anúncios. Clóvis Oliveira Cardoso ficará muito contente com essa publicação, mesmo que tenha demorado por conta dos contratempos, a Lih editorial manteve sua proposta de alta qualidade na publicação, a qual você poderá conferir logo mais, podendo comprar esta obra pelo site da Lih.

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Fonte:
Lih Editorial

Lih Editorial (Publicação de Livros)


A Lih editorial é uma editora que se compromete a oferecer as melhores soluções de publicação de livros sempre com o menor preço, oferecendo aos escritores uma assessoria completa para que a história não termine e sim tenha seu início com o livro publicado.

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Revisar, editar, diagramar, consolidar, registrar e imprimir: tudo isso em 40 dias, com 2 envios de prova de avaliação antes da aprovação final e impressão. Nossa equipe ainda cria uma página onde o autor pode acompanhar todo o processo de edição, publicação, impressão e entrega, num relatório diário.

Não temos estoque mínimo

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Livro Padrão
80 PAGINAS:
Capa: até 4 cores, impressa em CARTAO TRIPLEX 250grs com orelhas de 7cm.
Miolo: Texto em preto, impresso em PAPEL SULFITE 75grs.
Tamanho fechado: 14,00x21,00cm
Acabamento: Capa vincada e laminada. Lomba colada.
Quantidade(s) Preço Unitário Valor Total
100 exemplares 16,79............. 1679,00
200 exemplares 8,92 ............. 1784,00
300 exemplares 6,33 ............. 1899,00
500 exemplares 4,27 ............. 2139,00
1000 exemplares 2,74 ............. 2744,00

Livro Padrão
100 PAGINAS:
Capa: até 4 cores, impressa em CARTAO TRIPLEX 250grs com orelhas de 7cm.
Miolo: Texto em preto, impresso em PAPEL SULFITE 75grs.
Tamanho fechado: 14,00x21,00cm
Acabamento: Capa vincada e laminada. Lomba colada.
Quantidade(s) Preço Unitário Valor Total
100 exemplares 16,79 ............. 1772,00
200 exemplares 8,92 ............. 1983,00
300 exemplares 6,33 ............. 2272,00
500 exemplares 4,27 ............. 2439,00
1000 exemplares 2,74 ............. 2920,00

Livro Padrão
160 PAGINAS:
Capa: até 4 cores, impressa em CARTAO TRIPLEX 250grs com orelhas de 7cm.
Miolo: Texto em preto, impresso em PAPEL SULFITE 75grs.
Tamanho fechado: 14,00x21,00cm
Acabamento: Capa vincada e laminada. Lomba colada.
Quantidade(s) Preço Unitário Valor Total
500 exemplares 6,19 ............. 3095,00
1000 exemplares 4,91 ............. 4191,00
1.500 exemplares 3,62 ............. 5444,00

Livro Padrão
180 PAGINAS:
Capa: até 4 cores, impressa em CARTAO TRIPLEX 250grs com orelhas de 7cm.
Miolo: Texto em preto, impresso em PAPEL SULFITE 75grs.
Tamanho fechado: 14,00x21,00cm
Acabamento: Capa vincada e laminada. Lomba colada.
Quantidade(s) Preço Unitário Valor Total
300 exemplares 9,44 ............. 2834,00
500 exemplares 6,62 ............. 3314,00
1000 exemplares 4,52 ............. 4524,00

Livro Padrão
200 PAGINAS:
Capa: até 4 cores, impressa em CARTAO TRIPLEX 250grs com orelhas de 7cm.
Miolo: Texto em preto, impresso em PAPEL SULFITE 75grs.
Tamanho fechado: 14,00x21,00cm
Acabamento: Capa vincada e laminada. Lomba colada.
Quantidade(s) Preço Unitário Valor Total
500 exemplares 8,20 ............... 4102,00
1000 exemplares 5,77 .............. 5771,00
2000 exemplares 4,22 .............8459,00

Formas de Pagamento

À vista e antecipado: 10% de desconto
2 Parcelas: 1ª na contratação e 40 dias depois, 2ª na entrega do serviço.
10 Parcelas: No Cartão de Crédito Visa e Mastercard, Juros de 3%
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Fonte:
Texto enviado pela Lih Editorial

Olivaldo Júnior (Poema ao 123º Aniversário de Fernando Pessoa)


Ricardo, Alberto, Álvaro ou Fernando,
não importa o quanto passe, Pessoa...
Hoje é dia da pessoa que fez do canto
seu canto, nosso encanto, a Lisboa,
o país que em nós ecoa, caro Fernando...

Nunca estive em mim sem que você,
de um jeito ou de outro, não estivesse,
Pessoa, junto de mim. Eu sou você,
porque você me vê, porque sou breve,
porque vou passar, assim como você,
mas sem me acabar, que somos eternos.

No vento que embaraça meus passos,
no passo que não dou, pelos percalços,
você, poeta, completa mais de cem,
comemora (parabéns!) o próprio bem
de ser mais de um, de ser só Pessoa.

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 232)

Pintura de Hans Harp

Uma Trova Nacional

Prefiro a ponte amarrada
com a virtude da embira,
do que a ponte concretada
em pilares de mentira!
–CAMPOS SALES/SP–

Uma Trova Potiguar

Não me importo com a moda,
nem vivo de comentários;
tenho pena de quem poda
os ramos imaginários.
–MARCOS MEDEIROS–

Uma Trova Premiada

1985 - Belém/PA
Tema: PONTE - M/E.

Nossa divergência é clara,
embora eu te guarde estima,
tu és muro que separa,
eu sou ponte que aproxima.
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Deus fez de mim uma ponte
com pilastras de alegria,
e acima dela uma fonte
por onde jorra poesia...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a noite sobrevém,
a solidão, por maldade,
só traz lembrança de alguém
quando esse alguém é saudade...
–VASQUES FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

A minha alma se extasia
em devaneio profundo,
voa nas asas do vento
desperta a paz num segundo,
quando Deus abre a cortina
me mostra a musa divina
da poesia do mundo.
–PROF. GARCIA/RN–

Estrofe do Dia

Nasci para ser assim:
Pra sorrir que só menino,
pra ser sacristão dos versos,
pra badalar no meu sino,
pra dar cangapé na sorte
no areal do destino.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia


–MIGUEL RUSSOWSKY/SC–
Solidão

Depois que o amor passou... fez-se o vazio
e o desespero armou a sua tenda,
num leito triste abandonado e frio,
que nem a própria insônia recomenda.

Ficararam três promessas em contenda,
semi murchas e tortas , num desvio.
As ilusões gentis, em minha agenda,
entraram em completo desvario.

Sobrou a solidão que está comigo.
Sou bom anfitrião e dei-lhe abrigo,
pois prefere pessoas com idade.

A solidão é muito inteligente,
vive plantando, a sós, uma semente,
que nasce sob a forma de saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

quinta-feira, 2 de junho de 2011

José Tavares de Lima (Vozes do Coração) Parte I


Amar alguém eu temia...
E acabei, na indecisão,
pagando essa covardia
com a minha solidão!

As penas da vida aceita
sem revoltas, sem reclamos...
pois sempre a nossa colheita
depende do que plantamos...

Assim como todo lume
tem que ter ardor e chama,
também tem que ter ciúme
o coração de quem ama!

Busca no verso a alegria,
se hoje a vida te amargura,
que a vereda da poesia
pode levar-te à ventura !...

Contra a idade não tem fugas...
Mas eu vejo, com desgosto,
que a vida ingrata pôs rugas
antes do tempo em meu rosto!

Crê na vitória e tem calma
ante o revés que alucina...
Quem traz um sol dentro d'alma
não se perde entre a neblina!

Desperta. A noite é de encanto!
E a lua, aflita, no espaço,
já não pode esperar tanto
para ver o nosso abraço!...

De tanto esperar-te e vendo
que a idade avança, severa,
sinto em minh'alma crescendo
o desencanto da espera !...

Enfrente a luta e, persista
se acaso a vitória tarde...
Não há troféus de conquista
nas estantes do covarde!

Espero-a... A noite está fria,
mas não desisto... Ouço passos
e o prêmio da teimosia
vem se acolher nos meus braços!

Esquece a luta perdida
porque, mais que insensatez,
lembrar fracassos na vida
é fracassar outra vez !

Faz da vida uma peleja
pelo bem que tens em mente;
ninguém colhe o que deseja
desejando... simplesmente!

Fazendo um fico insincero
que na verdade deploro,
eu minto que não te quero
para esconder, que te adoro!

Felicidade, me resta
sonhar contigo e mais nada;
já que a sorte, em tua festa,
não permite a minha entrada!

Festeiro de alma iludida,
disfarçando a sorte ingrata,
faço uma festa da vida
mesmo que o vida me bata! ...

Lembra, em tua majestade,
quando o orgulho te arrebata,
que é no espelho do humildade
que a grandeza se retrata!

Meu maior contentamento
é quando, amorosa, dizes
que eu sou o melhor momento
dos teus momentos felizes !

Muita gente, na velhice,
não sonha mais... tem saudade
Corno se o sonho exigisse
certidão de nossa idade!...

Não deixa de ser valente
quem lutando fracassar...
Perder lutando é acidente;
Covardia é não lutar!

Nem a derrota embaraça
quem luta e nunca esmorece;
pois sabe que a nuvem passa
e o sol de novo aparece!

Nos obstáculos que enfrentas
sê forte e perseverante:
- é no rigor das tormentas
que se mede o navegante! ...

Nossa união que eu aceito
como a dádiva mais grata,
é nó-cego tão perfeito
que nem a morte desata !

O amor vem, não se procura...
Chega sutil, de repente,
como uma luz que a ventura
acende dentro da gente!

Partiste... Em meu desatino
vejo, ante o sonho desfeito,
que o pranto - intruso inquilino
fez domicílio em meu peito!

Pode ser falso o teor
que este conceito resume:
mas eu não creio no amor
de quem não sente ciúme

Pratica o bem desde agora,
pois com urgência é preciso
que no rosto de quem chora
faças brilhar um sorriso!...

Recebo cartas... Centenas!...
Eu trocaria, porém,
todas elas por apenas
uma que espero e não vem...

Se a sorte não me convida,
teimoso, forças concentro
e entro na festa da vida
como 'penetra'... mas entro! ...

Se não crês em Deus porque
não crês no que nunca viste,
lembra que o cego não vê,
mas sabe que a luz existe!...

Todo o bem que o amor resume
acaba em desilusão,
quando a sombra do ciúme
envolve a luz da razão

Venci distância e cansaço
para abraçar-te ... no fim,
quando cheguei, teu abraço
não esperava por mim...

Voltaste tão diferente
da mulher que foi tão linda,
que embora estejas presente
não sei se voltaste ainda!...

Fonte:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
LIMA, José Tavares de. Vozes do Coração.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 231)


Uma Trova Nacional Alinhar ao centro
Eu faço um apelo mudo
na velhice que me alcança:
- Destino, tire-me tudo
mas não me roube a esperança!
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova Potiguar

Musa, fonte inspiradora,
deusa que embala a poesia;
do poeta é protetora
com toda soberania.
–ADELANTHA SOUZA DANTAS/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - Ribeirão Preto/SP
Tema: VÍCIO - 1º Lugar

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

Uma Trova de Ademar

Tem cão que mora num morro
e outro morando em mansão...
Porque nem todo cachorro
leva uma vida de cão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Se o amor é um sacrifício,
não duvides, nem um pouco:
iria até para o hospício,
para amar-te como um louco.
–JORGE MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

–PAULO SETÚBAL/SP–
Só Tu

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Estrofe do Dia

O aguaceiro no rio
desce fazendo manobra,
não procura um só desvio,
espuma fazendo dobra,
grande empecilho ou miúdo
passa por cima de tudo,
leva o que tiver na frente;
até o próprio rochedo
parece tremer com medo
dos abraços da corrente.
CANCÃO/PE–

Soneto do Dia

–GILSON FAUSTINOMAIA/RJ–
Um Filho de Santana do Matos

Pode um filho fugir da mãe querida,
mesmo sendo inda tenro, esse menino;
percorra pelo mundo outro destino,
sempre a mãe lhe dará uma acolhida.

Sua terra natal é sua vida.
Amar o antigo berço é dom divino.
Ali Deus colocou, do pequenino,
o início dessa estrada percorrida.

Em Santana do Matos tua história
estará para sempre na memória
do povo teu irmão do antigo lar.

Não preciso nem mesmo ser profeta,
pra saber, Ademar, que és o poeta
mais nobre e mais querido do lugar.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto V)


SONETO A DANTE ALIGHIERI –
Data de nascimento do poeta: 29.5.1265 – In Memoriam –

Diz-se que teve apenas três paixões:
a política, a poesia e Beatriz...
Assim viveu invernos e verões,
cantando seu amor p´ra ser feliz !

“A Divina Comédia” e as canções
que fez à sua amada tudo diz;
foram suas sublimes obsessões
desde os seus devaneios juvenis...

Há tempos li sua obra genial:
Inferno, Purgatório e Paraíso;
e senti quanto é monumental...

“Deixai aqui todas as esperanças,
ó vós que entrais.” Se não se perde o juízo,
o percurso é de trevas e esquivanças...

SONETO A RAUL BOPP
– Data de falecimento do poeta em 2.6.1984 – In Memoriam

Ilustre seguidor do “movimento
antropofágico”; Cobra Norato,
original poema do talento
desse escritor em seu desiderato...

“Nas terras do Sem-Fim”, é seu intento
morar, enfim, sem qualquer aparato,
co´a filha da Rainha Sofia e o vento:
“sumo sem rumo no fundo do mato”.

Sempre será lembrado, foi pioneiro
do nobre Modernismo Brasileiro,
criando imagens simples, infantis...

Tendo sido um poeta inovador
seus versos falam alto pela cor
das matas do Amazonas no matiz!

SONETO A VOLTAIRE
– Falecimento do escritor em 30.5.1778 – In Memoriam

Ialmar Pio Schneider

Disse Voltaire em Cândido ou o Otimismo:
“Devemos cultivar nosso jardim!”
E porque defendia o Liberalismo,
foi perseguido sempre até o fim...

Lutou por suas ideias, outrossim,
sem jamais aderir ao conformismo,
e pelo seu caráter foi, enfim,
nobre filósofo do Iluminismo.

“Não concordo com nenhuma palavra
que dizes, mas defenderei até
a morte teu direito de dizê-lo”.

Esta frase genial de sua lavra,
vem confirmar um símbolo de fé
que deveremos ter como modelo...

Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XLII – Peixes na Floresta


Era um camponês que tinha uma esposa muito faladeira. Um dia em que ele achou um tesouro enterrado na floresta, trouxe-o para casa e disse à mulher:

— Acabo de descobrir uma grande fortuna, mas temos de escondê-la. Onde será?

A mulher achou melhor enterrarem o tesouro debaixo do assoalho da isbá em que moravam. O camponês concordou. Mas assim que a mulher foi ao poço buscar água, tirou o tesouro dali e escondeu-o em outro lugar.

A mulher veio com a água.

— Mulher mulher — disse o camponês — é preciso que ninguém saiba que temos este tesouro aqui debaixo do assoa lho. Muito cuidado com a língua, ouviu?

Mas como não tinha a menor confiança nela, armou um plano.

— Olhe, amanhã iremos à floresta apanhar peixes. Dizem que estão aparecendo em quantidade.

— O quê? Peixes na floresta? Onde já se viu isso?

— Na floresta você verá. Madrugadinha o camponês levantou-se

e foi à vila. Comprou uma porção de peixes, uma porção de aletria e uma lebre. Passou depois pela floresta, espalhando tudo aquilo em vários pontos. A lebre ele fisgou num anzol de linha comprida e jogou n'água.

Chegando em casa, almoçou e convidou a mulher para irem à floresta. Foram. Que beleza! Peixe por toda parte, um aqui, outro ali, outro acolá. A mulher, com gritos de surpresa, ia acomodando a peixada na cesta.

Depois deu com a aletria pendurada de uma árvore.

— Olhe, marido! Aletria pendurada em árvore!...

— Não me espanto de coisa nenhuma — disse o homem. — Nestes últimos dias tem chovido muita massa dessa, que fica assim pendurada das árvores. Mas a gente da aldeia já apanhou quase tudo.

Nisto chegaram à lagoa, onde ele jogara a lebre.

— Espere um pouco, mulher. Esta manhã pus aqui uma linha de anzol com isca para lebre d'água. Vou ver se apanhei alguma.

Puxando a linha apareceu no anzol uma lebre. — Como é isso? — gritou a mulher. — Lebre d'água? Que coisa espantosa! Nunca ouvi dizer de lebre que morasse em água!...

— Nem eu, mas o fato é que pesquei uma.

Voltaram para casa com aquela lindíssima colheita e a mulher passou o dia a preparar os peixes e a lebre.

Uma semana depois em toda a redondeza só se falava no tesouro que o camponês descobrira. As autoridades mandaram chamá-lo.

— É verdade que achou um tesouro na floresta?

O camponês riu-se.

— Tesouro, eu? Ah, quem me dera achar um!

— Mas sua própria mulher anda assoprando no ouvido de toda gente que você achou um tesouro e o escondeu debaixo do assoalho da sua isbá.

— Minha mulher anda a dizer isso? Coitada! É uma louquinha que não sabe o que diz.

— É verdade, sim! — gritou a mulher, furiosa. — Ele achou um tesouro, que eu ajudei a enterrar debaixo do assoalho! Louca, eu! É boa...

— Quando foi isso? — perguntou o camponês.

— Na véspera daquele dia em que juntamos peixe na floresta.

— Peixe na floresta? — repetiu o homem, fazendo cara de não entender.

— Sim. No dia em que choveu aletria e você pescou uma lebre d'água.
As autoridades convenceram-se de que a mulher era mesmo louca, e como na busca que deram nada encontrassem debaixo do assoalho da isbá, o caso morreu. O camponês esfregou as mãos, de contente.

— Veja se eu fosse me fiar nela! Estava hoje desmoralizado e com o meu rico tesouro perdido...
===========
— Que complicação para chegar a esse resultado! — exclamou Narizinho. — Esse camponês sabia a mulher que tinha.

— E que grande maroto! — disse Pedrinho. — Logrou a mulher, logrou as autoridades — logrou todo mundo. Freguês mais escovado ainda não vi.

— E isbá, dona Benta, que é? — perguntou Emília.

— É o nome das casas da roça lá na Rússia, em geral de madeira. Casa de roça, aqui nós chamamos rancho, casebre, casa de sapé, mocambo e outras coisas assim. Lá é isbá.

— Gostei da história dos russos — disse Narizinho. — Está pitoresca. Vamos ver outra de lá mesmo.

— Não. Para variar contarei uma de outra terra muito fria, a Islândia.
–––––––––––––
Continua… XLIII – O Alcatraz e o Eider
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 230)


Uma Trova Nacional

Choro não é argumento,
quem grita perde a razão,
somente o entendimento
resolve qualquer questão.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Cultuar o amor, entre os povos,
nos torna, um ser pertinaz,
estreitando, laços novos,
para que, tenhamos paz...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Nova Friburgo/RJ
Tema: FRONTEIRA - M/H

Sem preconceito ou pudor,
mas de emoções verdadeiras,
grandes momentos de amor
não delimitam fronteiras!...
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Uma Trova de Ademar

Se a inspiração me inebria,
com temas, os mais dispersos;
mato a sede de poesia
na eterna fonte dos versos...
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Seu "lenço de despedida"
o vento não mais o solta,
que o trem da linha da vida
só tem ida, não tem volta!
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

–ROSA REGIS/RN-
Saudade da Minha Infância

Eu queria ser criança novamente
Para jogar dedola na calçada;
Brincar de esconde-esconde e de pegada,
Sem malícia. E, inocentemente,
Brincar de cavalinho com Vicente.
De dona-de-casa e cozinhado;
De tica, de biloca, de roçado
E de boneca, ser mamãe, fingindo.
Saudosa disso tudo, eu lembro rindo,
Com imensa saudade do passado.

Estrofe do Dia

Uma velha rezadeira,
Um “véi” fazendo cigarro,
um pote velho de barro
e aquela boa parteira;
um chá de erva cidreira
pra qualquer tipo de dor...
Um cavalo corredor
e um menino “maluvido”;
“isso é cagado e cuspido
paisagem do interior.”
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–SÔNIA SOBREIRA/RJ–
Tenho Pena

Tenho pena dos que sofrem na vida,
neste mundo, tão mau, tão inclemente,
dos que morrem sem culpa, do inocente
que sozinho, nem sabe o que é guarida.

Da montanha, calada e soerguida,
que altiva enfrenta as águas da vertente,
do mar, enfurecido de repente,
das ondas que se curvam na descida.

Tenho pena do brilho das estrelas,
dos cegos que jamais poderão vê-las
e do tempo que mostra a realidade.

Tenho pena das lágrimas vertidas,
da ilusão cujas asas são partidas,
de um sonho que deixou tanta saudade!

Fonte:
Textos enviados pelo autor

A. A. de Assis (A Guerra das Sanfonas)


Maio de 1964, semana dos 17 anos de Maringá. Na programação, um concurso de sanfoneiros, a mais badalada atração da festa. Gente e mais gente se juntava pra ver de perto; quem não vinha ficava em casa acompanhando pelo rádio, em ferrenha torcida.

Os artistas da sanfona de oito baixos chegavam de toda a região, alguns até de mais longe, prêmios convidativos, mais ainda o prestígio, a glória. As eliminatórias, durante a semana toda, eram o assunto único. Nhô Juca de mestre de cerimônia, caprichoso nos detalhes. Deu discussão, deu briga, tudo como convém a um festival que se preze. E aquele era uma verdadeira guerra.

Gente ilustre da cidade formando a comissão julgadora, músicos importantes, políticos, intelectuais. Chegou a grande finalíssima. Veio junto a decepção ecoada na forma de estrondosa vaia. Protestos e mais protestos. Os julgadores xingados de todos os nomes.

O motivo da bronca?... Magina: os sanfoneiros autênticos sentiram-se insultados e seus fãs-clubes se alvoroçaram. O grande problema: a comissão dera o primeiro lugar a um acordionista. Pior ainda: a um acordionista que tocara “El relicario” e “La cumparsita”. Absurdo. Onde já se viu enfiar acordeão em festa de sanfonas?... De jeito maneira!

Acordeão é ferramenta de gringo. “La cumparsita” é pra gente de língua enrolada. Nossa música é modinha, valsinha, toada, baião, que têm cheiro e gosto de terra, alma de povo. A comissão julgadora deveria ter pensado nisso. A grita era geral, contagiante. Queriam porque queriam a anulação do concurso. Injusto e impatriótico.

Sob apupos e assovios, o homem da “La cumparsita” recebeu, porém, assim mesmo o prêmio. A culpa afinal não era dele, era dos julgadores, mas naquela hora ninguém tinha serenidade para raciocinar direito. Era grito, era palavrão, era ovo lançado contra o palanque. O caso foi assunto do dia por dias e dias, em cada esquina, em cada bar, fofoca das boas, sobretudo das quentes.

Uma pena, porque depois de tamanha encrenca nunca mais se fez concurso de sanfoneiros por aqui. Pelo menos não daquele porte. Uma tradição que poderia ter permanecido, não fosse a insensibilidade daquela desastrada comissão julgadora.

Fonte:
ASSIS, A. A. de. Vida, verso e prosa. Maringá: EDUEM, 2010.

Ialmar Pio Schneider (Soneto Saudoso ao meu Pai!)


Hoje desejo te contar a história,
De um homem simples que bem conheci,
Jamais há de sair-me da memória,
Pois foi por seu caráter que vivi…

Deste mundo cumpriu a trajetória,
E trabalhando honestamente aqui,
Ele nunca aspirou dinheiro ou glória,
Foi meu exemplo desde que nasci…

Ora reside Além, na Eternidade,
Mas eu sempre o relembro com saudade,
E tanto tempo já tão longe vai…

Ainda o vejo lá na barbearia,
Me transmitindo com sabedoria,
Os seus ensinamentos, oh meu pai !

Fonte:
O Autor

Joubert de Araujo e Silva (Livro de Trovas)


A Morte vem tarde ou cedo
- com brumas no fim da estrada.
São as neblinas do medo...
- Talvez tudo... -Talvez nada

A neblina sobre a mata,
antes que o sol doure a terra,
parece um manto de prata
nos ombros verdes da serra.

Aquela aranha paciente,
que tece despercebida,
lembra o destino da gente
e as armadilhas, da vida!

A sorte foi bem marota
para o pobre do Aristeu,
fazendo morrer de "gota"
quem só da "pinga" viveu.

Cessa a luta na colina...
E Deus, ante o horror da guerra,
põe o algodão da neblina
sobre as feridas da terra.

Chego ao fim, com os pés sangrando,
abandonado e sozinho;
meus sonhos foram ficando
um a um pelo caminho...

De todas as despedidas,
esta é a mais triste, suponho:
duas almas comovidas,
chorando a morte de um sonho!

Enganam-se os ditadores,
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho!

Lembro, triste, o amor passado,
vendo a Luz e o velho cais:
- saudade é barco ancorado
no porto do "nunca mais" ...

Manhã... Ao passar das horas,
incendeia-se o horizonte...
E o Sol - pastor das auroras,
varre as neblinas do monte.

Meu dentista entrou em cana;
numa grande confusão...
e uma coroa" bacana
foi o "pivô" da questão.

Na cachaça, o Zé Caolho
se sente realizado:
embora tendo um só olho,
ele vê tudo dobrado...

Os currais estão vazios...
o verde fugiu do chão...
e a seca, bebendo os rios,
vai devorando o sertão.

O segredo que o Biscalho
soube da esposa travessa
deu, por fim, “aquele galho"
que não lhe sai da cabeça...

O vento, pastor estranho,
tangendo as nuvens ao léu,
conduz seu alvo rebanho
pelas campinas do céu!

Quando um povo escravo acorda,
pondo fim ao jugo insano,
a mão de Deus põe a corda
no pescoço do tirano ...

Seca Braba. Ao longe, o grito
do carro de bois gemendo
parece um "ai" longo e aflito
do sertão, que vai morrendo ...

Se quiser proceder bem
quem briga alheia ajuiza,
dê razão a quem não tem,
pois quem já tem, não precisa!...

"Só com o Zé se casaria...”
Jurou, e foi verdadeira:
Já tem três filhos Maria,
e continua solteira!..

Vem a neblina... e a cidade
goteja um pranto silente...
- Neblina é como a saudade
molhando os olhos da gente.

Fontes:
Colaboração de Darlene A. A. Silva
Verso e Prosa
Evandro Moreira. Poetas Cachoeirenses.

Joubert de Araújo e Silva (1915 - 1993)


Joubert de Araújo Silva nasceu em São Felipe, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 29/11/1915, filho de Venâncio Silva e Maria Adelaide de Araújo Silva.

Iniciou-se literariamente incentivado por Newton Braga, colaborando no "Correio do Sul" e na revista "Vida Capixaba".

Em 1939, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou no antigo IAPI.

Pertenceu à UBT, sendo redator do órgão oficial da entidade - Trovas e Trovadores.

Conquistou centenas de prêmios, inclusive o de Magnífico Trovador por 3 vezes nos Jogos Florais de Nova Friburgo. Obteve também premiações com vários sonetos e recebeu inúmeras honrarias, inclusive o título de Intelectual do Ano, em 1954 - pelo Jornal "Mensagem" e pela Casa da Cultura de Alegre, onde se sagrou um dos vencedores em 6 Jogos Florais.

Na Academia Cachoeirense de Letras ocupou a cadeira n.34 cujo patrono é Florisbelo Neves. A Academia Espírito-santense de Letras o premiou, em 1985, com o livro Caminhada, onde predominam os quartozetos.

Faleceu em 22/07/1993.

Obras:

"Caminhada" - 1990
Participação na Coletânea "Poetas Cachoeirenses", de Evandro Moreira.

FONTE:
Poetas Cachoeirenses, de Evandro Moreira

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XLI - O Rato Orgulhoso

Um rato fazedor de grande idéia de si mesmo, vivia esperando ocasião de realizar coisas que mostrassem a sua importância. Certa noite acordou de sobressalto. A casa estava queimando. O rato ficou aflitíssimo, sem saber como escapar.

As labaredas, porém, cresciam e ele teve de resolver-se; ou ficava ali, e morria assado, ou escapava. Fechou os olhos e lançou-se ao fogo.

Mas; sem saber como, não se queimou. Achou-se lá fora, sem o menor tostadinho no pêlo. Isto o encheu de enorme orgulho.

— Qual! Sou mesmo diferente dos outros. Nem as chamas têm coragem de me queimar...

Passeou por ali uns instantes e voltou a ver o estado do incêndio. Só então percebeu que não tinha havido incêndio nenhum. Os raios do sol, que se iam erguendo, é que lhe deram a impressão de fogo.

O rato suspirou. A sua importância não era o que ele havia suposto. Mas que fazer para provar tal importância?

A pouca distância havia um morro altíssimo.

— Eis uma boa façanha para um rato como eu: dar um pulo e cair lá em cima do morro!

Preparou cuidadosamente o pulo e pulou. Novo desastre. Em vez de alcançar o alto do morro, caiu em cima dum montinho de areia, a seis palmos de distância.

O rato entristeceu. Estava custando a provar ao mundo a sua importância.

Olhou. Viu um lago que lhe pareceu enorme. Foi para lá. Mediu a distância.

— Se consigo atravessar a nado este aguão, todos os animais têm que reconhecer em mim um verdadeiro herói.

Lançou-se à água, nadou, e por fim chegou ao meio do lago. Sentia na cauda o peso de milhares de peixes agarrados a ela. Estava já cansadíssimo, de modo que teve de empregar todas as forças para chegar à margem oposta. Chegou, afinal. Uf!

— Canseira assim jamais senti. Mas não é para menos. Acabo de atravessar um dos maiores lagos do mundo.

Prestando melhor atenção, porém, viu que não havia atravessado lago nenhum, e sim uma pocinha lamacenta.. Os tais peixes que se agarraram à sua cauda não passavam de vermes da lama.

O rato ficou aborrecidíssimo, mas mesmo assim não abandonou o plano de fazer grandes coisas.

Longe dali havia um pau, que lhe deu a idéia de estar espetado no céu. "Oh; lá está uma grande coisa a fazer. Visivelmente aquele pau está sustentando o céu. Se eu o derrubar, o céu cai. O mundo inteiro ficará esmagado, mas eu provarei a minha importância."

Foi. Examinou bem o pau e depois abriu um buraquinho para esconder-se quando o céu viesse caindo. Feito isso, pôs-se a roer a madeira. Roeu, roeu, roeu, e quando viu que o pau estava cai não cai, correu a esconder-se no buraco.

— Pobre mundo! Vai ficar inteirinho achatado pelo céu!...

Esperou uma porção de tempo. Não ouviu barulho nenhum.

— Que será que houve?

Talvez o céu ficasse enganchado na lua — e com mil cautelas botou a cabeça fora do buraco, para espiar.

Que desapontamento! O céu azul lá estava no lugar de sempre, com um grande sol no meio. O ratinho olhou para o pau caído: era uma simples vara.

O ambicioso sentiu grande tristeza, mas não desanimou. "Hei de fazer uma coisa grande, custe o que custar. Hei de transportar este monte daqui para o oceano." Disse e pôs-se ao trabalho. Foi furando o monte e carregando a terra aos bocadinhos até o mar. Passou nisso anos e anos, até que um dia olhou e não viu mais o monte. Ele realmente o havia transportado para o mar.

— Hum! Agora compreendo como se fazem as grandes coisas. É à força de muito trabalho e muita paciência.

E morreu feliz por haver realizado um sonho de grandeza.
================
— Bravos aos esquimós! — gritou Emília. A historinha deles está mais suculenta que todas as contadas até agora.

— Na verdade, este conto encerra uma preciosa lição — disse dona Benta. — Não há obstáculos que a paciência não domine. E até houve um grande pensador que disse: "O gênio é uma longa paciência."

— Mas, vovó, então tais esquimós são bem adiantadinhos. Para inventar histórias com lições como essa, é preciso que tenham boa cabeça.

— Pudera não! — gritou Pedrinho. — Eles só comem peixe. Peixe contém fósforo. Fósforo é sinônimo de inteligência.

— Mas se é assim — disse Narizinho — por que não progridem?

— Ah, minha filha, os esquimós já fazem o maior dos milagres vivendo naquela terra de gelos infinitos. Não há por lá vegetação nenhuma, a não ser, em certos pontos, a tundra, que é um tapete rasteiro de musgos e líquens. Isso dum povo desenvolver-se exige coisas: terras boas para culturas, clima agradável, cem fatores favoráveis. Para mim não há heroísmo maior do que o das tribos que passam a vida nos gelos. Brrr!...

— Bom. Conte outra dum país frio — da Rússia, por exemplo.
–––––––––––––
Continua… XLII – Peixes na Floresta
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 229)


Uma Trova Nacional

Minha saudade é defeito
que outra saudade requer
pois, sempre que abro o meu peito,
encontro a mesma mulher!
–HÉRON PATRÍCIO/SP–

Uma Trova Potiguar

Sua imagem é minha escolha,
dela assumo ser devoto,
pois por mais que eu vire a folha,
eu só vejo a mesma foto!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - N. Friburgo/RJ
Tema: ESCOLHA - 8º Lugar.

Estou só... Mas sou feliz;
vou vivendo mesmo assim:
por escolhas que não fiz,
mas a vida fez por mim!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Aquela mão estendida
é Nau que ainda trafega
no mar revolto da vida
que a própria vida renega...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Passei a crer nos amigos
e em bondade ainda creio,
depois que vi dois mendigos
dividindo um pão ao meio.
–COLBERT RANGEL COELHO/MG–

Simplesmente Poesia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Xaxado

De "Apragatas de Rabicho",
chapéu de Couro e Gibão,
os "Cabras de Lampião",
vão xaxando, "no capricho"!

"Matanto o Bicho", a Cachaça
"Papo-Amarelo" na mão,
e cortando a escuridão,
os lampeões, lá da Praça.

Pé à frente, deslizando,
num vai e vem levantando
a poeira, sem ter medo...

numa Dança, sem Parceira,
vai xaxando a Tropa inteira,
no Nordestino Folguedo !

Estrofe do Dia

“Santana do Matos” aniversaria,
e este filho que ela viu nascer;
lhe oferece com carinho esta poesia
mas nem sabe direito o que dizer;
pois eu que nasci da sua entranha
bem cedo me mudei pra terra estranha
quando ainda era muito pequenino;
mas guardei no vídeo da memória
é aqui que começa a minha história
e amar esta cidade é meu destino.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

+++Nemézio Miranda/BA+++
(Homenagem Póstuma)
Destino de Velho Tema

Ele passava à noite à luz da lua,
fitando estrelas num silêncio imenso,
sem se lembrar que a vida tumultua
e avança e cresce num progresso intenso.

Era pequeno nesse tempo, e penso
sorrira às vezes da mania sua.
Hoje, homem feito, sinto-me propenso
a ver a noite só, à luz da lua.

Muitos rirão de mim... A velha história...
Não sorrira eu também de outros tantos,
antes de ver no amor a eterna glória?

Velho tema, terás esse destino.
Basta ter certo alguém todos encantos
que a gente sonho um dia, inda menino...

Fonte:
Textos enviados pelo autor

terça-feira, 31 de maio de 2011

A. A. de Assis (Trovia n. 138 - junho de 2011)

Inesquecíveis

Não furto beijos, que em suma
só furta quem é ladrão.
Mas não sou pobre soberbo...
e aceito quantos me dão!
Albano Lopes de Almeida

Senhor, em minha oração
eu peço em termos exatos:
- Fazei que os maus sejam bons
e os bons sejam menos chatos...
(Autor não identificado)

Mulher feia dá sossego,
mulher bonita aflição;
descobri que andar aflito
me faz bem ao coração...
Alcides Carneiro

Quando acaso sinto, crede,
vontade de trabalhar,
deito-me logo na rede
até a vontade passar...
Augusto Linhares

Teu coração me ofereces,
mas não o posso aceitar.
– Há lá dentro tanta gente,
que eu não encontro lugar...
Dieno Castanho

Com noventa anos de idade
a velha se confessou.
Pecado?... Não. Só vaidade
de dizer que já pecou...
Djalma de Andrade

Amigos tenho à vontade
quando a eles não recorro;
mas, se vem a adversidade,
fico até sem meu cachorro...
José Leite

"Que levas tu na mochila?",
diz ao corcunda um peralta.
E o corcunda: - "A alma tranquila
e a educação que te falta."
Lilinha Fernandes

Se os beijos todos ficassem
como furinhos, amor,
teu rosto seria como
um ralo de regador...
Luiz Edmundo

Muito esquisitos eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo,
e baixos demais em cima...
Nero de Almeida Senna

Radiografei o teu busto
para ver teu coração...
E quase morri de susto:
tinha a forma de um cifrão.
Paulo Edson Macedo

Se ela, afinal, com efeito,
deu-te os lábios a beijar,
com um pouco de audácia e jeito
tudo o mais hás de alcançar...
Petrarca Maranhão

Diz o homem, por vaidade,
que é parte fraca a mulher.
Mas, nessa fragilidade,
ela faz dele o que quer...
Rita Lara

Eu tive um mau pensamento,
e envergonhada coraste.
– Se de maldoso eu o tive,
de maldosa o adivinhaste.
Soares da Cunha

Trova é bom para a saúde, / faz amigos, dá prazer.
Talvez até nos ajude / a esquecer de envelhecer... (aaa)

Brincantes

No rosto só tem pintura:
rouge, pó, batom vermelho.
Mesmo com tanta feiúra
quer botar culpa no espelho!...
Ademar Macedo – RN

Se deu bem mal minha amiga,
e agora não tem mais jeito:
Escorregou pra barriga
o silicone do peito.
Darly O. Barros – SP

Uma fotinha mandai-me,
para enfeitar o meu book...
pruquê já faiz longue taime
que nós, amor, não se look...
Flor de Pádua – PR

No táxi, ao fazer um “bico”,
furei o pneu no buraco,
e só não “paguei um mico”
porque levei o “macaco”.
Edmar Japiassú Maia – RJ

Não por acaso, sou fã
deste casal fascinante:
– o meu galinho é um “galã”;
minha galinha, “chocante”...
Osvaldo Reis – PR

Confuso, o dono do empório
não anda bom da veneta:
na orelha um supositório,
mas nem sinal da caneta!
Sérgio Ferreira – SP

Líricas e filosóficas

Na biblioteca há mil sábios
a nosso inteiro dispor.
– Sem sequer mover os lábios,
cada livro é um professor.
A. A. de Assis – PR

Não irá jamais embora
quem deixou tanta amizade;
a despedida de agora
é presença na saudade.
Almir Pinto de Azevedo – RJ

Depois de um chuvoso dia,
vendo o sol resplandecer,
eu sinto a mesma alegria
de quando te volto a ver.
Amaryllis Schloenbach – SP

Falar, se é dever calar-se;
calar, se é dever dizer,
são dois sinais sem disfarce
de um fraco de proceder.
Amilton Monteiro – SP

O café que aquece as almas
e adoça nossas lembranças
merece todas as palmas,
companheiro de esperanças.
Carmen Pio – RS

Vivo em busca de carinho,
em castelos de ilusão...
Tanto tempo estou sozinho,
quem me aquece é a solidão.
José Feldman – PR

Zarpei ao romper do dia
no meu barco a velejar
para “pescar” a poesia
que a Lua escondeu no mar.
José Lucas de Barros – RN

Que um dia o velho canhão,
neste mundo tão falaz,
feito a cruz para o cristão,
seja o símbolo da paz!
José Messias Braz – MG

Discórdias, sonhos frustrados,
e as mágoas não resolvidas,
são os nós não desatados
das cordas das nossas vidas...
José Valdez – SP

Teu beijo, bombom cremoso
de conhaque com anis,
é o manjar mais saboroso
que minha boca já quis!
Lisete Johnson – RS

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro?!
Carolina Ramos – SP

Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto sofro sem você.
Conceição de Assis – MG

Em contraposta à mentira,
somente a sinceridade;
mesmo quando também fira,
nada melhor que a verdade.
Diamantino Ferreira – RJ

Quem sai da terra querida,
em meio à dor e à saudade,
semeia o chão na partida
com sementes de saudade.
Djalma da Mota – RN

Eu ergo a taça a brindar
a noite que o quarto invade
e, no cristal do luar,
bebo o vinho da saudade!
Domitilla B. Beltrame – SP

Quem diz que o sonho acabou
se engana... a ilusão não finda.
Quanta gente já acordou,
e teima em sonhar, ainda!
Dorothy Jansson Moretti – SP

A realidade da vida
marca no rosto da gente
a distância percorrida
entre o passado e o presente!
Eduardo A. O. Toledo – MG

Com pás eram carregadas,
no frio de uma clareira,
as palavras congeladas
pra derreter na fogueira!
Eliana Palma – PR

Esse mundo feminino
de segredos permeado
é um gracejo do destino
pelos homens odiado.
Eliana Ruiz Jimenez – SC

O nosso beijo envolvente,
na rotina que amanhece,
é o apelo mais urgente
para que a noite se apresse!
Elizabeth Souza Cruz – RJ

O discípulo leal
três vezes negou Jesus.
Eis o motivo real:
medo dos cravos na cruz.
Evandro Sarmento – RJ

A bela flor de papel
que tu me deste outro dia
foi tão perfeita e fiel
que o cheiro dela eu sentia!...
Eva Yanni Garcia – RN

Amizade é aquele peito
com compasso diferente
que procura a qualquer jeito
bater igual ao da gente!
Francisco Pessoa – CE

No tronco de uma mangueira
escrevi: Felicidade...
Mas alguém, por brincadeira,
riscou e escreveu: Saudade!
Gasparini Filho – SP

Nesta vida tão inquieta,
o meu consolo é pescar.
Sou pescadora-poeta,
que pesca versos no mar!
Gislaine Canales – SC

Deus menino, por sinal,
fez de mim um puritano
orando ao mais divinal
hierosolimitano.
Haroldo Lyra – CE

A noite fria se eleva,
aberta de par em par...
Do infinito a lua neva
o lírio do seu luar.
Humberto Del Maestro – ES

Não choro o tempo perdido
num caminho mal traçado;
o que já foi percorrido,
bem ou mal foi caminhado...
Istela Marina – PR

A graça de Deus é tanta,
nos protege e faz tão bem...
Cada filho Ele acalanta,
sem se esquecer de ninguém.
Jeanette De Cnop – PR

Terias hoje a certeza
de que te amei de verdade,
se te alcançasse a tristeza
que me traz tua saudade!
José Fabiano – MG

Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
Lucília Decarli – PR

En el polen de tu beso
nace la flor del amor;
mi corazón está preso
en tu fuego abrasador.
Mª Cristina Fervier – Argentina

O presente mais bonito
fui eu mesma que me dei:
num momento de conflito,
dei-me a paz... e perdoei!
Maria Ignez Pereira – SP

Imortal não sou agora,
mas eu tenho uma alegria:
– Sou poeta e ao “ir-me embora”...
deixo um rastro de poesia!
Mª Lúcia Daloce – PR

Para encantar a velhice,
ser tranquilo, sonhador,
há que desde a meninice
plantar sementes de amor.
Marina Valente – SP

Plácido, corres no leito,
às margens, onde nasci;
ó Iguaçu, trago em meu peito
a água que é parte de ti!
Mauricio Friedrich – PR

En alas de una paloma
viajará me beso amigo,
y el encanto de tu aroma
le dará su amor y abrigo!
Miguel Almada – Argentina

Sangra a terra, quando arada:
fica frágil, tão exposta...
Mesmo sofrendo calada,
com seus frutos dá a resposta.
Olga Agulhon – PR

Quando você se encontrar,
talvez não me encontre mais;
os tempos do verbo amar
são só agora ou jamais.
Olympio Coutinho – MG

No rodeio do existir,
peço a Deus, a todo instante,
que eu não caia e, se cair,
com mais força me levante.
Newton Vieira – MG

Assisto com emoção,
sob a luz dos candeeiros,
nas noites do meu sertão
ao cantar dos violeiros.
Roberto Acruche – RJ

O belo na juventude
traz orgulho, por costume.
Mas beleza sem virtude
é qual rosa sem perfume...
Ruth Farah – RJ

Uma lágrima dorida,
nos olhos turvos, tristonhos.
No encontro da despedia,
a renúncia dos meus sonhos.
Sônia Sobreira – RJ

Das bofetadas que a vida
me deu sem muita piedade,
tu foste a mais dolorida
e a que mais deixou saudade.
Thalma Tavares – SP

Agora peço somente,
ao tempo de que disponho,
que um tempo me dê, paciente,
para que eu viva o meu sonho...
Thereza Costa Val – MG

Tendo o amor por inquilino,
com coragem e artimanha,
meu coração é um menino
que ora bate... que ora apanha!
Therezinha Brisolla - SP

Em vez de gritar ao vento
que tens um grande saber,
mostra o teu real talento:
Age... sem nada dizer!
Vanda Fagundes Queiroz – PR

Redor do fogo no chão,
contos, histórias e lendas.
Assar na brasa o pinhão,
lindas noites nas fazendas.
Vidal Idony Stockler – PR

Luto por meus ideais,
com audácia entre os abalos,
que não abalam jamais
a esperança de alcançá-los!
Wanda Mourthé – MG

Nosso amor, nossos carinhos,
vão conosco na viagem,
pondo flores nos caminhos
e embelezando a paisagem!
Yedda Patrício – SP

Fonte:
A. A. de Assis

Mario Quintana (Livro de Poesias)


DOS MILAGRES

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

DA INQUIETA ESPERANÇA

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dê o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.

SE EU FOSSE UM PADRE

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema ainda que de Deus se aparte
um belo poema sempre leva a Deus!

BILHETE

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

OBSESSÃO DO MAR OCEANO


Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças nas janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

O MAPA

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

ESPELHO

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste...”

A RUA DOS CATAVENTOS


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Marcelo Spalding (Escrever não é Trabalho, é Ofício)


Poucos são os escritores consagrados em seu tempo, premiados pela crítica e queridos pelos leitores, e raros os que, depois de obter tal reconhecimento, ainda dispõem-se a compartilhar sua arte e ensinar jovens escritores sobre os ofícios e os mistérios da produção literária. Para sorte dos que moram em Porto Alegre, há nestes pagos uma destas raridades, e se trata nada mais, nada menos do que o maior romancista do Estado, Luiz Antonio de Assis Brasil.

Assis Brasil há mais de vinte anos ministra uma oficina de criação literária concorridíssima – oficina que lançou para a literatura nomes como Cíntia Moscovich, Amílcar Bettega, Michel Laub, Letícia Wierzchowski e Daniel Galera – em que ensina técnicas e discute possibilidades da criação em prosa nos moldes dos cursos de creative writting norte-americanos, de onde Assis não nega vir a inspiração. O aprendiz ouve dicas como “evite uma grande quantidade do pronome que”, “leia seu texto em voz alta”, “deixe seu texto dormir antes de reler”, “evite levar a personagem para a janela, os escritores quando não sabem o que fazer sempre colocam a personagem na janela”, e assim por diante. Mas há uma grande lição que fica de toda a oficina, de todo o pensamento do mestre: literatura é trabalho. Ou melhor, ofício.

Pois em Música perdida (L&PM, 2006, 220 págs.), mais recente romance de Luiz Antonio de Assis Brasil, o protagonista é um músico com a mesma angústia de todo escritor, de todo artista, qual seja produzir uma grande obra de arte, o que permite ao narrador travestir-se daquele mestre das oficinas e dar-nos pequenas lições:

“O compositor musical convive com a natureza e os homens. Num determinado momento, sempre novo e inexplicável, uma pequena e desconhecida melodia aflora a seus lábios, e logo ele a está cantarolando. A isso pode se chamar de inspiração. O resto é trabalho de pendurar as notas no pentagrama, escolher a tonalidade, estudar os acordes, obedecer – ou não – às regras da harmonia e do contraponto. Isso, aliás, não é trabalho: é ofício, como o exercido por qualquer escritor”.

O protagonista da obra é Joaquim José de Mendanha, conhecido no Rio Grande do Sul por compor nosso hino, mas representado na obra desde a infância. Filho de maestro da pequena cidade de Itabira, Mendanha é abençoado com um ouvido absoluto (reconhece as notas musicais em cada som do cotidiano), o que motiva o pai a mandá-lo para Vila Rica a fim de estudar música. Na cidade, conhece um rico minerador, o ambíguo Bento Arruda Bulcão, que ajuda o jovem a prosseguir seus estudos no Rio de Janeiro com o célebre compositor Padre-Mestre José Maurício Nunes Garcia. E é a partir do contato com o mestre que Mendanha resolve compor, e de fato compõe uma belíssima cantata que o Padre-Mestre de pronto rejeita, mas a verdade é que ela o perturba por estar muito acima da capacidade dos ouvidos brasileiros. Por isso Mendanha, quando tiver oportunidade, deixará sua partitura com um francês que promete entregá-la a Rossini, ato este que marca sua existência, pois sua música acaba perdida. Por mais que se esforce, o músico não sabe repetir a composição que ele julga perfeita, e angustiado pela perda da música e dos entes queridos, alista-se no Exército, atravessa o Brasil e desafia a guerra de 1835 no Sul.

Como maestro do Exército, Mendanha é preso pelos rebeldes (leia-se Farroupilhas) e obrigado a compor o hino da República Rio-Grandense (melodia que se mantém no hino atual do Estado). Mas depois é recapturado pelos imperiais, pede baixa do exército e vai viver com sua esposa na longe e fria Porto Alegre do século XIX, onde trabalha como maestro, compõe diversos hinos mas convive com uma angústia que é o cerne da narrativa: não considera-se um artista. Não considera ter feito sua obra-prima. Ou melhor, acredita ter perdido para sempre a obra que lhe abriria as portas do céu devido a sua excelência.

Não é preciso forçar muito para vermos na ambição, na angústia e na meticulosidade do músico um pouco do mestre das oficinas. Logo num primeiro olhar se percebe que Música perdida é por si só fruto de muito trabalho, não este trabalho do mercado que nos exige tantas horas de produção em massa, mas um trabalho artesanal que mescla disciplina e rigor com inspiração e talento. As frases e os capítulos são curtos e densos, cada palavra foi pensada, medida, e o texto vai se desenhando como uma partitura musical repleta de ritmos e significados.

“O tio ensinou-lhe como as notas deveriam ser desenhadas, porque de desenhos se tratavam. Começou pela semibreve, um círculo branco, achatado. A semibreve soava por mais tempo. Durava quatro batidas do dedo sobre a mesa: 1, 2, 3, 4. Em seguida, a mínima, que era a semibreve com uma haste que subia, duas batidas: 1, 2. A semínima era uma notinha negra, com uma haste para cima. As colcheias eram como semínimas, mas a haste para cima. As colcheias eram como semínimas, mas a haste possuía uma bandeirola. As hastes poderiam ser para cima ou para baixo. E assim por diante. Pilar perguntou como os músicos, só olhando aquelas notas, sabiam o que tocar."Deus" – o tio respondeu – "lhes dá esse dom"”.

Quem não acompanha a carreira de Assis Brasil com cuidado e leu um ou outro dos seus romances iniciais (Videiras de Cristal, Bacia das almas, Cães da província), de certo ficará surpreso com a concisão e o minimalismo da linguagem de Música perdida. Mas há uma explicação, e esta é uma história interessante: na viragem do milênio, o autor escrevia seu décimo quinto romance quando, a certa altura, achou que estava se repetindo e apagou tudo o que tinha escrito. Conta o mestre que então abriu em sua biblioteca um livro de El Cid e deu-se conta de que dizer mais em menos espaço era a solução técnica que procurava. “Na Idade Média se fazia assim, a Bíblia é escrita assim”, ele diz. E desta forma escreveu Pintor de Retratos, lançado em 2001 e A margem imóvel do rio, de 2003, este premiado com o Jabuti e o Portugal Telecom.

Música perdida, neste contexto, é o terceiro livro depois da mudança estética, o fecho de uma trilogia que o autor chama de “Visitantes ao Sul”, e também um marco do trigésimo ano de sua estréia com Um quarto de légua em quadro, em 1976. De lá para cá, de obra em obra, sempre enraizado no Sul e com os olhos voltados para o passado de formação da nossa identidade, Assis Brasil tem se revelado um mestre em seu ofício, um mestre que não se contentaria em armar e medir com engenho palavras, frases e capítulos, mas também compor as obras e publicá-las cada uma a seu tempo, construindo assim uma sólida carreira e um conjunto ficcional perene e respeitável.

Fonte:
Artistas Gaúchos