sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) - Pena de Papagaio - I - A voz


A história de Peter Pan, que dona Benta contara aos meninos certo dia, tinha-os deixado de cabeça virada. Narizinho só pensava em Wendy; Pedrinho só pensava em Peter Pan, “o menino que nunca quis crescer”.

Pedrinho também não queria crescer, mas estava crescendo. Cada vez que apareciam visitas era certo lhe dizerem, como se fosse um grande cumprimento: “Como está crescido!” e isso o mortificava.

Um dia, em que estava no pomar trepado numa goiabeira, comendo as goiabas boas e jogando as bichadas para Rabicó, entrou pela centésima vez a pensar naquilo.

— Que maçada! — murmurou de si para si. -Tenho de crescer, ficar do tamanho do tio Antônio, com aquele mesmo bigode, feito um bicho cabeludo, embaixo do nariz e, quem sabe, aquela mesma verruga barbada no queixo. Se houvesse um meio de ficar menino sempre...

— Há coisa ainda superior — respondeu atrás dele uma voz desconhecida.

Pedrinho levou um grande susto. Olhou para todos os lados e nada viu. Não havia ninguém por ali.

— Quem está falando? — murmurou com voz trêmula.

A mesma voz respondeu:

— Eu!

— Eu, quem? Eu nunca foi nome de gente.

Pedrinho, que andava com Peter Pan na cabeça, pensou imediatamente nele. Só Peter Pan, no mundo inteiro, teria a idéia de vir pregar-lhe aquela peça. Para certificar-se, perguntou:

— Que altura você tem?

— A sua, mais ou menos.

— E que idade tem?

— Mais ou menos a sua.

Se tinha a altura e a idade dele, era um menino como ele, e se era um menino como ele, quem mais se não Peter Pan? Pedrinho sentiu uma grande alegria. O endiabrado Peter Pan ia aparecer outra vez.

Para certificar-se ainda mais, perguntou:

— Que veio fazer aqui?

— Ensinar a todos daqui um grande segredo.

Não podia haver dúvida. Era Peter que tinha vindo mesmo ensinar o segredo de não crescer. A alegria de Pedrinho aumentou de um palmo.

— Você não me engana! — gritou, piscando o olho. — Você é Peter Pan que está escondido não sei onde.

A voz fez cara de desentendida.

— Peter Pan? Quem é? Nunca o vi mais gordo e nem de nome conheço tal freguês.

Pedrinho desnorteou. Aquela resposta veio atrapalhar todos os seus cálculos. Mesmo assim não se deu por vencido.

— É, sim — afirmou de novo — porque só Peter Pan sabe o segredo de não crescer, e o segredo que você veio ensinar não pode ser outro.

A voz deu uma risada.

— Você quer ser esperto demais, mas não passa dum bobo. O segredo que vim ensinar é muito mais importante. Sei o jeito de tornar uma pessoa invisível como eu.

Tal impressão causaram no menino aquelas palavras que ele perdeu o pé, escorregou da árvore e veio de ponta-cabeça ao chão.

Felizmente era goiabeira baixa e não se machucou. Pedrinho ergueu-se, deu uns tapas nas folhas secas que lhe pegaram na roupa e indagou:

— Voz duma figa, onde é que você está?

— Aqui, ali e acolá — respondeu a voz.

A pior coisa do mundo é falar com criaturas invisíveis. A gente não sabe para onde virar-se. Assim estava Pedrinho, e para mais atrapalhá-lo a voz ora vinha da direita, ora da esquerda.

— Deve ser muito bom ser invisível — disse Pedrinho. — Quantas vezes conversamos sobre isso eu e Narizinho!...

— Quem é ela?

— Minha prima Lúcia, a menina do nariz arrebitado. Narizinho também quer ficar invisível. Você lhe ensina o jeito?

— Ensino aos dois, se merecerem.

— E que temos de fazer para merecer?

— Viajar comigo pelo mundo das maravilhas. É lá que se tira a prova de quem merece ou não merece receber este dom das fadas. O primeiro menino invisível que apareceu no mundo fui eu, mas me sinto muito só. Preciso de companheiros. Por isso vim.

— Obrigado pela lembrança. Mas onde é esse mundo das maravilhas?

— Em toda parte. Olhe, tenho aqui o mapa — disse a voz tirando do bolso um papel dobrado.

Pedrinho achou muita graça de ver o mapa dobrado abrir-se no ar, como se se abrisse por si mesmo. Espichou a mão, pegou-o e examinou-o.

— Que bonito! — exclamou depois de ler os nomes de todas as terras e mares. — Até o sítio de vovó está marcado, com o chiqueirinho de Rabicó bem visível. Como obteve este mapa?

— Viajando de lápis na mão. O mundo das maravilhas é velhíssimo. Começou a existir quando nasceu a primeira criança e há de existir enquanto houver um velho sobre a terra.

— É fácil ir lá?

— Facílimo ou impossível. Depende. Para quem possui imaginação, é facílimo.

Pedrinho não entendeu muito bem. A voz dizia às vezes coisas sem propósitos — talvez para atrapalhar.

— Muitos viajantes têm visitado esse mundo — continuou a voz. – Entre eles, os dois irmãos Grimm e um tal Andersen, os quais estiveram lá muito tempo, viram tudo e contaram tudo direitinho como viram. Foram os Grimm os que primeiro contaram a história de Cinderela exatinha como foi. Antes deles já essa história corria mundo, mas errada, cheia de mentiras.

— Bem me estava parecendo — murmurou Pedrinho. – Tenho um livro de capa muito feia que conta o caso de Cinderela diferente do de Grimm.

— Bote fora esse livro. Grimm é que está certo.

— Mas o mapa? — interrogou Pedrinho. — Pode ficar comigo?

— Pode. Sei de cor todas as terras. Mas não o perca, que é o único que existe.

— Fique descansado — disse o menino guardando o mapa no bolso. — Resta agora saber qual o meio de lá ir.

— Não se preocupe com isso. Tenho jeitos para tudo. Guiarei você.

— E quando?

— Quando quiser. Amanhã, por exemplo.

— Pois muito bem — concluiu Pedrinho. — Partiremos amanhã.

Pela madrugada estarei neste ponto com a minha prima Lúcia. Está combinado?

— Cócóricócó! — foi a resposta da misteriosa voz, que dali por diante emudeceu — sinal de que o dono dela se retirara.

Pedrinho ficou no mesmo lugar ainda algum tempo, pensando, pensando. Lembrou-se de que Peter Pan tinha aquela mesma mania de cantar como galo. Suas dúvidas voltaram. Seria Peter Pan?
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – II - Preparativos

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 67 – Wagner Marques Lopes (MG)

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 453)

Por do Sol no Rio Potengi - Natal/RN
Uma Trova de Ademar

Deus vendo que não tem fim
essa fé que me conduz,
deixou cair sobre mim
uma cascata de luz!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Nossas almas em pedaços
se uniram por desatinos,
pois são também de fracassos
Que se lapidam destinos!
–JOÃO BATISTA X. OLIVEIRA/SP–

Uma Trova Potiguar


Não me importo com a moda,
nem vivo de comentários;
tenho pena de quem poda
os ramos imaginários.
–MARCOS MEDEIROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a estrada chega ao fim
e no túnel não há luz,
a fé que carrego em mim
é força que me conduz...
+++ANALICE FEITOZA DE LIMA/SP+++
“ELA nos deixou Sexta-Feira”

Uma Trova Premiada

2007 - Belo Horizonte/MG
Tema: GRAÇA - Venc.


Quando pela vida passas,
displicente e linda assim,
o mundo, sem tuas graças,
perde a graça para mim.
–GABRIEL BICALHO/MG–

Simplesmente Poesia

Palhaço.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–


A vida se nos faz meros palhaços...
sorriso solto num choro prendido,
querer que é dado nunca agradecido
saltar ao vento sem pisar os passos.
Tragar o fumo dos prazeres baços
embebedar-se tanto pra esquecer,
sentir-se ser alguém, mesmo sem ser,
no picadeiro, o aplauso, a falsa glória,
imagem tão real quanto ilusória
pranto da morte rindo pra viver!

Estrofe do Dia

Fazer os outros felizes:
Grande missão do palhaço,
e é deste jeito que eu faço,
escondendo as cicatrizes.
Qual gozo das meretrizes
“fingindo aquele” momento.
Eis meu melhor argumento...
Sou palhaço de mim mesmo,
que vive sorrindo a esmo
pra esconder meu sofrimento!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Buscando o Cristo Crucificado.
–GREGÓRIO DE MATOS/BA–


A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me.

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Bienal do Livro da Amazônia.


Pela primeira vez Manaus vai sediar a Bienal do Livro Amazonas de 27 de abril a 7 de maio.

A 1ª edição da Bienal do Livro Amazonas acontecerá no Centro de Convenções Estúdio 5.

O evento reunirá autores de expressão nacionais e internacionais em um pavilhão de 6 mil m².

A Fagga e GL exhibitions irão organizar a feira, com o apoio da Secretaria estadual de Cultura, o evento literário pretende distribuir R$ 1.000.000 em vales livros para estudantes da rede pública.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 10a. Parte


"O ESPELHO"

Dizias não gostar dele...
Mas já te vais acostumando à sua silenciosa
presença...

Mudo espectador só ele tem o direito de assistir também
às redescobertas de tu beleza.

Tu me chamas de louco, porque às vezes,
não contento de ver-te a face,
te surpreendo em descuidadas revelações
em seus olhos prateados...

Tolice, amor,
por ele posso encontrar num imenso instante
todas as faces de tua beleza
e multiplicar ao infinito
as loucuras e alegrias do nosso amor!

" O VÉU DA FANTASIA "

Desnuda-te apenas nos instantes cegos dos sentimentos
quando todos nos transfiguramos,
(de nós mesmos, esquecidos...)

Meu Desejo quer-te velada
novamente,
tão de pronto meus braços te soltem
tal como um tronco abatido
ao sabor da corrente...

Não te exponhas assim, displicente, aos meus olhos
que banalizas tua beleza
e podes te igualar a encardidas visões...

Que desça o pano ao fim dos espetáculos
e que voltes aos bastidores
antes das novas apresentações...

Quero-te nua em meus braços, (mas deixa que te confesse: )
quero-te nua, com essa encantada nudez
que eu diria
vestida sempre com um véu
de fantasia…

" OBRA-PRIMA "

A sua adolescência é em si
uma obra-prima
da natureza,
um pequeno universo...

É impossível conter toda a sua beleza
numa rima,
ou medi-la num verso…

" OUTROS CAMINHOS... "

Chegas de muito longe... trazendo meu sonho,
e és a imagem da pureza que eu escondi no fundo
dos meus fracassos...

Perdoa, meu amor, se de joelhos me ponho...
E se terás que passar por esse chão imundo
se quiseres chegar
até meus braços…

" PAVANA PARA UMA CRIANÇA MORTA "

E afinal
em meio a tantos embaraços
eis ao que chegamos, sem perceber...

Andamos de um lado para outro
com essa criança nos braços
sem saber o que fazer...

Um sentimento de culpa nos persegue...
Diante dela, ainda choras,
e a minha alma se cala...

Fomos nós que a deixamos morrer sem um gesto sequer
para salvá-la...

E agora, a carregamos
sem reconhecimento, sem piedade,
esquecidos de tudo que nos deu, em outros tempos
de felicidade...

Mas para que lembrar? Houve mesmo outros tempos
em que ela nos pegou pela mão, como crianças
bêbedas de vida
sem falsos pejos,
e embriagou-nos de carícias
e desejos?...

Hoje... Somos nós que a levamos, em nossos braços,
pesados braços, caídos braços, já sem abraços,
sem coragem de enterrá-la
no coração...

E por que esperar por um milagre, se nós não cremos
em milagres?
- Se nós não cremos em ressurreição?

" PAZ... "

Assinemos a paz...

Pelo que fomos
mas já não somos mais,
não vamos desprezar o nosso amor
como um amor qualquer...

Aceitemos o Destino - que a ele cabe
pôr e dispor -
e já que não foi possível a felicidade...

... seja o que Deus quiser...

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 3


DAMM, Mindú. A festa do Pidjô entre o sonho e a realidade.

Narra a história do índio Pidjô, aquele que se achou, perdeu-se e foi achado. Os meninos brancos o acolheram em sua casa, juntamente com seu companheiro de aventuras na cidade grande. Até que chega a vez de o índio Pidjô receber os amiguinhos, em sua aldeia, no Brasil central. Novas aventuras acontecem e a visita se transforma numa festa, num mundo entre o sonho e a realidade...

DEMARQUET, Sônia de Almeida. E por falar em índios...

Aborda a questão da imagem dos índios, de forma a levar as crianças e jovens não-índios a descobrirem um mundo diferente, complexo e cheio de mistérios, expresso por meio da cultura dos povos indígenas. Além disso busca devolver ao índio o lugar que lhe cabe na história oficial e nos livros didáticos, nos quais tem sido tratado ou sob a luz do preconceito ou da indiferença.

DEMARQUET, Sônia de Almeida. Em nome do rei.


Retrata a história do Brasil colonial, bem como o relacionamento entre índios, negros e europeus no decorrer da formação do país, por meio da história de Manoel, o filho de um senhor de engenho, Manoel Rodrigues Sanches, que é preso e morto pela Inquisição no séc. XVI. Pobres, Manoel e sua mãe passam a viver na capital, onde, já rapaz, Manoel torna-se rebelde, vindo a ser perseguido pelos homens do rei e fugindo finalmente para a Europa em busca de liberdade.

DEMARQUET, Sônia de Almeida. O menino e os bugres.

Narra a história de Franz, um menino alemão que, depois de um bom tempo de convivência em terras brasileiras, resolve caçar na floresta, onde é atacado por uma onça e salvo por índios Socré, com os quais convive durante seis meses.

DEMARQUET, Sônia de Almeida. Onde está a diferença?

Relata as diferenças culturais que existem entre os não-índios e os índios. Brincar faz parte do mundo da criança indígena. Numa aldeia, brinca-se com os animais de estimação – como cachorros, araras, papagaios, macacos, cotias – e, claro, com outras crianças.

DEMARQUET, Sônia de Almeida. Pric, o pequeno Botocudo.

Resgata a história do contato entre índios e brancos, e da escravidão de negros e índios no Brasil colonial. Pric é um indiozinho Krekmun educado com base em valores como a amizade, o trabalho, o amor, que unem todo o seu povo. Um dia, os homens brancos aparecem em sua aldeia, trazendo presentes para todos. E assim, contra a sua vontade, Pric passa a viver com os brancos, muito infeliz, submetido aos costumes deles e sendo muito humilhado. Até que, uma noite, resolve fugir, deixando para trás todas as suas tristezas de escravo para viver novamente em liberdade com o seu povo.

DONATO, Hernâni. Contos dos meninos índios.

Apresenta uma coletânea de contos e lendas dosíndios do Brasil. À noite na selva, em torno das fogueiras, as crianças ouvem os velhos narradores contarem lendas que elas mesmas, bem mais tarde, contarão aos seus filhos. Contos reunidos no livro: As aventuras de um menino perdido; Como apareceram os animais; As noivas da estrela Berô-Can; Um
conselho contra o conselheiro; Quando os bichos eram gente; Os dois irmãos valentes; Como os homens descobriram as frutas; O caçador e o curupira; A chuva e a onça; No reino do urubu-rei; O primeiro fogo; A barca da tartaruga; Os meninos que se transformaram em estrela; A onça e o filhote do vento; O jabuti, a anta e a onça; Porque o sol anda devagar; a moça em busca de marido; e As proezas do menino Apinagé.

DONATO, Hernâni. Os índios do Brasil.

Descreve como os povos indígenas viviam, no território que veio a ser chamado Brasil, antes do Descobrimento e da colonização. Descreve, entre outras coisas, como se organizavam as sociedades indígenas, seus costumes, suas crenças, seu cotidiano e modo de vida.

DÓRIA, Francisco Antônio. Caramuru e Catarina: lendas e narrativas sobre a casa da Torre.

Descreve a história de uma família do Brasil, formada pela união do português Diogo Álvares (Caramuru) com a princesa indígena Paraguaçu (Catarina), sendo este o foco central deste livro de lendas e narrativas. Conta-se, nesta obra, a história do clã de raízes mais antigas no país, o qual foi também o mais influente na sociedade nacional ao longo de três dos seus cinco séculos de existência.

FEIJÓ, Atenéia; TERENA, Marcos. O índio aviador.

Descreve a história de um pequeno índio Terena que sonha cruzar os céus. Atrás desse sonho, serve a Aeronáutica, tira o brevê e se torna piloto da FUNAI. É assim que assiste de perto aos conflitos por terras no Araguaia e às lutas dos Txucarramãe contra os fazendeiros que se instalam às margens da BR-080. Para sobreviver fora da aldeia, tem de aprender muitas coisas, desde a se relacionar com as mulheres brancas até a compreender as armadilhas da política.

FERREIRA, João Geraldo Pinto. Pena quebrada (o indiozinho).

Narra o drama de um pequeno e cativante curumim, conhecido como Pena Quebrada. É a ele que o pajé Pena Jaburu mostra o caminho da libertação daquilo que o oprime, apontando a selva como o grande refúgio. Lá, por seu esforço próprio, atinge a sublimação, sentindo, na rudeza da mata, uma paz de espírito que a aldeia não lhe dá. Encontra aves que não conhecia, pequenas, grandes e até a impotente águia: o nosso Gavião-Real. Todas o ajudam e, com suas próprias penas, adornam-no. O retorno à aldeia é surpreendente, pois ninguém sabe se aquela figura é ave ou gente! Pena Quebrada coroa seu pai, Pena de Águia e, transformando-se em passarinho, toma o rumo do céu.

FIGUEIREDO, Carlos. Dico e Alice e o pajé misterioso.

Conta as aventuras de dois irmãos, Dico e Alice. Eles estão no convés do Fuwalda, tranqüilamente deitados numa rede. De repente, um chamado telefônico, e um telefonema telepático! E, a partir dali, eles embarcam com destino à selva amazônica, onde os esperam o rio caudaloso, os perigosos jacarés, as sangüinárias piranhas, as balas de uma metralhadora e... um pajé misterioso.

FITTIPALDI, Ciça. A árvoredo mundo e outros feitos de Macunaíma: mito-herói dos índios Macuxi, Wapixana, Taulipang e Arekuná.

Aborda a mitologia dos índios Makuxi, Wapixana, Taulipang e Arekuná, em linguagem acessível, que conserva o tom mágico, com ilustrações inspiradas nas culturas indígenas. Ao final, apresenta dados sobre os Makuxi.

FITTIPALDI, Ciça. Bacurau dorme no chão:lenda dos Tukano.

Conta a história do bacurau, pássaro que dorme e faz seu ninho no chão. No começo do mundo, o bacurau era gente, morava em maloca. Com o tempo, sua maloca foi estragando, até que teve que abandoná-la, indo viver no mato, virando passarinho.

FITTIPALDI, Ciça. A lenda do guaraná: mito dos índios Sateré-Maué.

Aborda o mito dos índios Sateré-Mawé o qual descreve como apareceu o guaraná. Ao final, apresenta dados a respeito da cultura desse povo.

FITTIPALDI, Ciça. A linguagem dos pássaros: mito dos índios Kamayurá.

Aborda o mito dos índios Kamayurá, que explica como os pássaros adquiriram linguagem própria. Segundo esse mito, os pássaros não tinham língua própria, falavam como gente, porque Avatsiú mantinha suas línguas guardadas dentro dele. Com a ajuda de um menino, os pássaros matam Avatsiú e retiram suas falas de dentro dele. O nascer do sol se aproxima e o dia clareia, com a barulhada dos pássaros, que experimentam as suas novas falas, as quais mantêm para sempre. Ao final do livro, são apresentadas informações sobre os Kamayurá.

FITTIPALDI, Ciça. O menino e a flauta: mito dos índios Nambiquara.

Narra o mito dos índios Nambikwára sobre a origem dos alimentos, das plantas e das roças, no qual um menino se transforma em roça, em todas as plantas boas para se comer. A sua voz é o som da flauta, que toca suave, que sopra bonito. Além disso, são abordados aspectos históricos e atuais sobre a cultura dos Nambikwára ao final do livro.

FITTIPALDI, Ciça. Naro: o gambá, mito dos índios Yanomami.

Descreve um dos mitos dos índios Yanomami: o Naro, o gambá. Este que, por inveja, mata Mel, o homem mais bonito de lá. Todos partem atrás de Naro, e este fuge. Apresentam-se, no final, dados sobre a cultura Yanomami.

FITTIPALDI, Ciça. Subida pro céu:mito dos índios Bororo.

Narra o mito dos índios Bororo sobre a origem dos animais e das estrelas. As mulheres tinham um segredo: todos os dias ausentavam-se da aldeia, deixando os filhos sozinhos, e voltavam sempre com os cestos vazios. Certo dia, um menino, seguindo-as, descobre que possuem uma grande roça de milho, com o qual fazem bolo, mingau etc., que comem, mas não levam para a aldeia. Sabendo da descoberta, as crianças resolvem subir ao céu para se esconderem das mães. Quando as mulheres retornam para a aldeia, sobem na corda, mas o último menino a corta e elas vão caindo e se transformando em antas, caititus, macacos e os demais bichos que existem na floresta. Quanto às crianças, vêm a formar as estrelas.

FITTIPALDI, Ciça. Tainá, estrela amante: mito dos índios Karajá.

Narra o mito dos índios Karajá sobre Tainá, a estrela que desceu do céu para se casar com a índia Kurimatutu. No final, são apresentadas informações sobre a cultura dos Karajá.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

II Festival do Livro e da Leitura de Diadema


O II Festival do Livro e da Leitura de Diadema terá o apoio da Câmara Brasileira do Livro e será representada pelo vice – presidente, Vitor Tavares. O evento pretende agregar a comunidade e o público pertencente à Universidade Federal de São Paulo recém instalada no município e sua população em geral.

O evento ocorrerá no Centro Cultural de Diadema durante os dias 22, 23 e 24 de março de 2012.

Esta segunda edição do festival terá como foco a juventude e a leitura, sempre no intuito de integrar a comunidade com a produção literária e o fazer cultural.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

Temporada de Feiras de Livros na Europa


O Salão do Livro de Paris e o Londres Book Fair são os principais eventos da agenda literária previstos para o mês de março e abril no exterior. Editores e livreiros brasileiros já contam os dias para a temporada na Europa.

No dia 16/3, será aberto o Salão do Livro de Paris, que segue até 19/3.

Londres Book Fair começa dia 16/4 e vai até 18/4, no Earls Court.

Karine Pansa, presidente da CBL, irá apresentar o Look At Brazil, na feira de Londres destacando os recentes dados de desempenho do mercado editorial brasileiro. Entre os destaques da apresentação, o segmento do livro infantil e o intercâmbio de direitos autorais terão especial atenção.

Ações como essas permitem que o Brasil também se posicione como fornecedor de conteúdos do mercado editorial brasileiro.

Os estandes do Salão do Livro de Paris e Londres Book Fair são organizados pelo Minc, MRE, FBN e CBL e nos dois eventos acontecerá à apresentação do mercado brasileiro.

Para participar as editoras interessadas deverão procurar a CBL pelo, e-mail brazilianpublishers1@cbl.org.br.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

Escola do Livro (Planejamento Estratégico para Editores)


O curso Planejamento Estratégico para Editores, oferecido pela Escola do Livro, da CBL, acontece no dia 15 de fevereiro, das 9h30 às 17h30.

O curso tem como propósito apresentar um quadro da indústria do livro no Brasil e no mundo – e suas tendências principais, rever os conceitos fundamentais da gestão estratégica empresarial, aplicando-os particularmente ao contexto do mercado editorial.

Oferecer subsídios metodológicos práticos para que o dirigente de editora possa elaborar, implantar e administrar o processo de planejamento estratégico. As organizações editoriais precisam rever suas missões e premissas fundamentais, para encontrar nichos defensáveis dentro da nova arena competitiva. Isso requer uma reengenharia estratégica e organizacional.

Eis o momento oportuno para discutir o papel do editor como estrategista e para propor um modelo de planejamento estratégico que seja adequado à organização editorial.

A aula será ministrada por José Antônio Rosa, doutor em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, com projeto de pesquisa com foco na indústria do livro; Mestre em Administração de Empresas pela PUC/SP e Bacharel em Jornalismo pela PUC/Campinas.

Autor de mais de 30 livros nas áreas de negócios, marketing, comunicação e carreiras. Tem livros editados pelas seguintes editoras: IOB, Atlas, Futura, Saraiva, Pearson, Cengage. Consultor de empresas nas áreas de administração geral e marketing, é professor de pós-graduação nas áreas de planejamento e gestão estratégica, desenvolvimento de novos produtos e outros tópicos de gestão e marketing.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

Francisco Cândido Xavier (Trovadores do Além) Parte 3


101
Reprovação no caminho
Tem destes lances extremos:
Condenamos no vizinho
Aquilo que nós não temos.
XAVIER DE CASTRO

102
O mundo será feliz
Quando a mulher, sem receio,
Abrir a porta da casa
Aos órfãos do lar alheio.
IRENE SOUZA PINTO

103
Quem ama somente o rosto
Muito cedo perde a fé.
Alma diverge do corpo
Como o sapato do pé.
MÁRIO DE AZEVEDO

104
Dia dos Mortos? Balela!
Finados? Tontos assuntos!...
Nem flor, nem cinza, nem vela,
Nós todos estamos juntos.
CORNÉLIO PIRES

105
Quem sofre, quem se entedia,
Abrace a enxada do bem.
Caridade é como o Sol:
Nunca deserda a ninguém.
JOSÉ NAVA

106
Não existe reconforto
Que valha o ameno transporte
De rever um amigo morto
No instante de nossa morte...
COLOMBINA

107
O espírito reencarnado,
Quando a mentiras se aferra,
Quando mais fraco mais goza,
Quanto mais goza mais erra.
ANTÔNIO AZEVEDO

108
Ninguém na vida atribua
Pecado ao caminho alheio;
Há muito riso na rua
Que é soluço de passeio.
CHIQUITO DE MORAIS

109
Na luta de mais ruído,
Quem serve e persiste vence-a;
Coração que andas ferido,
Paciência, paciência.
JUVENAL GALENO

110
No Espaço, imenso e vibrante,
Saudade da alma que anseia
Parece canção distante
Em noite de lua cheia.
MACIEL MONTEIRO

111
Mãe entregue à sepultura
Vence trevas e empecilhos,
Para ser paz e brandura
À cabeceira dos filhos.
CELESTE JAGUARIBE

112
Caridade se concebe
Por angélico alvará;
Quem auxilia recebe,
Acreditando que dá.
EUGÊNIO RUBIÃO

113
Na Terra – abismo voraz,
Velho mar de luz e treva,
O berço – é a onda que traz,
A morte – é a onda que leva.
FÔCION CALDAS

114
Para quem ama, decerto
Engano não é desdouro...
Poeira na luz do sol
Parece chuva de ouro
CARLOS CÂMARA

115
Amor – canção que ressoa
No silêncio com que esbarro –
Recorda em cada pessoa
O céu num pote de barro.
ULISSES BEZERRA

116
Mãe que se abraça ao filhinho
Tem tanta luz nos seus traços,
Que lembra a aurora em caminho,
Trazendo o Sol entre os braços.
MARIA CELESTE

117
Faze o bem agora e sempre,
Persevera, persevera...
O mundo? Vida que passa.
A morte? Vida que espera.
LUÍS PISTARINI

118
Natal, quase sempre, é isto:
O luxo que se conforta,
Beijando a imagem do Cristo,
Com medo de vê-lo à porta.
BELMIRO BRAGA

119
Fiscaliza as palavrinhas.
De humilde e pequena brava,
Começa a lavrar o incêndio
Que devora toda a casa.
CASIMIRO BRAGA

120
Ventura – riso que passa
E nunca se identifica.
Saudade – dor que não passa
Daquilo que passa e fica.
DA COSTA E SILVA

121
Quando o corpo desce à campa,
Resíduo largado à treva,
Muita conversa de amor
É palha que o vento leva.
LUCÍDIO FREITAS

122
Toda dor canta vitória
Do bem uno e desigual,
Só não vale a dor inglória
Do mal de fazer o mal.
SEBASTIÃO RIOS

123
Aceita a lição e a prova,
Sofre, luta e faze o bem.
Feliz de quem se renova,
Enquanto a morte não vem.
AMÉRICO FALCÃO

124
Migalha de caridade
Mostra Deus no ser humano;
Pequena gota de mar
Tem o gosto do oceano.
VIVITA CARTIER

125
Na morte todo usurário
Tem a pena em que se humilha:
Os suplícios do inventário,
Nos tormentos da partilha.
VIRGÍLIO BRANDÃO

126
Guerras, incêndios, canhões:
Armas de crentes e ateus.
As letrinhas do alfabeto:
Artilharia de Deus.
JOVINO GUEDES

127
Assembléias, multidões!...
Não te iludas a caminho...
Na alcova do coração,
Cada em vive sozinho.
JÔNATAS BATISTA

128
Ilusão dizer na morte:
Adeus para nunca mais!
Berço – navio afastando...
Sepultura – velho cais...
TEOTÔNIO FREIRE

129
Amor que a morte emudece –
Saudades tristes em bando!...
Quem fica, às vezes esquece.
Quem parte, fica lembrando!...
FRANCISCO OTAVIANO

130
Quem da Ciência duvida,
Decerto tem que aprender,
Quem diz que não há saudade,
Que morra para saber.
DA COSTA E SILVA

131
É triste, mas é verdade:
As nossas grandes feridas
São débitos de outra idade,
Pagamentos de outras vidas.
ARTUR RAGAZZI

132
Não choras!...Felicidade
É fazer feliz alguérm.
Desventura tem dez letras,
Felicidade também.
ANTÔNIO AZEVEDO

133
Descrever o amor nos cèus?
Inútil meu testemunho.
O maior amor que eu tive
Jamais passou de rascunho.
LUÍS PISTARINI

134
Verdade – luz permanente...
Mirante... cimo... alvorada...
Mente humana – vidro fosco
Que a reflete deformada.
PLÍNIO PEREIRA RIBEIRO

135
Mãe, quando a noite afervora
A tua oração no lar,
Teu filho morto, lá fora,
É a brisa querendo entrar.
MEIMEI

136
Um homem que nada faz,
Embora cheio de planos,
É um morto movimentado,
Inda que viva mil anos.
TELES DE MEIRELES

137
Bom conselho vale muito
Se cumprido onde ressoe.
O pastor guia o rebanho,
O passo pertence ao boi.
LOBO DA COSTA

138
Na Terra, a morte é um comboio,
Passagens todos já têm...
O que homem nenhum sabe
É a hora certa do trem.
ANTÔNIO DE CASTRO

139
Muitas paixões desregradas,
Que atormentam vida afora,
Começam com “não te esqueço”
E acabam com “vai-te embora”.
ANÍSIO DE ABREU

140
Ensinamento do bem,
Que não vai a sacrifício,
Recorda a beleza inútil
Do foguete de artifício.
JOVINO GUEDES

141
Quando a ilusão faz morada
Na carne que a desfigura,
Quanta mentira dourada
Na beira da sepultura.
HILDO RANGEL

142
Devemos interpretar
Toda mulher ao relento
Como sendo nossa mãe
Vagando no sofrimento.
VIVITA CARTIER

143
Há duas coisas horrendas,
No fim dos pobres mortais:
A mentira das legendas
E a pompa dos funerais.
FIDÉLIS ALVES

144
Esquece o mal infecundo...
A dor é luz rosicler,
Enquanto bater no mundo
Um coração de mulher.
ANTONIETA SALDANHA

145
Mãe que chora sobre a campa –
Luz que rompe o Grande Véu,
Flor prisioneira do mundo,
Lançando perfume ao Céu.
RUBENS DE SÁ

146
Sonhador atormentado,
Sobre a Terra, mal sabia:
O homem é um mascarado
Que a morte revela um dia.
JOSÉ BARTOLOTA

147
Fácil ver sem grande estudo:
Com requinte disfarçado.
Muito punhal em veludo.
Muito veneno em melado.
LOPES FILHO

148
Na Terra, amores violentos
São leiras de desenganos:
Sorrisos de alguns momentos,
Suplícios de muitos anos.
EUGÊNIO SAVARD

149
Alegria de quem ama:
Luz de paz brilhando em prece.
Quando o amor se vai embora,
No coração anoitece.
MÁRIO DE AZEVEDO

150
Buscas tempo que se agrade
Clamando sofrer em vão,
E, às vezes, felicidade
É o dia de provação.
EUFRÁSIO DE ALMEIDA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

Lendas e Contos Populares do Paraná (Jandaia do Sul – Lidianópolis – Paiçandu – Palmeira – Ponta Grossa – Rio Branco do Ivaí)


JANDAIA DO SUL
A lenda de Jandaia


Há muitos anos vagava entre os pinheirais uma esbelta menina de olhos da cor de pinhão e seus cabelos esvoaçavam, como fios dourados em espigas de milho. Nunca se soube de onde ela veio, apenas que seu pai era um bravo cacique, que deveria habitar a imensidão da terra roxa, colher frutos silvestres e beber dos mananciais cristalinos.

Mas, ansiosa, aguardava o dia em que haveria de surgir um companheiro, que seria destro na caça e forte na guerra. Já lhe dissera Tupã, quando ela se banhara numa cascata, mirando-se nas águas: “Jandaia haverá de receber, em breve, aquele que te revelará os arcanos do amor, foste talhada para os seus braços e só a ele servirás. Tu o verás presente entre os esplendores do sol e o vigor dos arbustos”.

Em todas as manhãs, muito antes da alva, Jandaia subia no cimo da colina perscrutando os pinheiros frondosos e aguardando o romper do sol, que também viria fixar-lhe o bronze de sua pele. Numa radiosa manhã, quando Jandaia inebriava-se de luz, eis que se aproxima um cervo com uma flecha cravada, tombando a seus pés. Surge, em seguida, um caçador, jovem e forte. Ele se deslumbra, ante aquela princesa selvagem.

Jandaia acaricia o cervo, depois dirige seu olhar para o moço guerreiro e acena-lhe para que se aproxime. Ele deixa o arco e as flechas e acolhe-a nos braços. Em frêmitos a mata regozija-se. Jandaia cinge-o em seus braços; sendo observada pelo sol. Este, enciumado, aquece os lábios rubros de Jandaia, a enfeitiça e seduz, agora mais que em todas as outras manhãs. Enciumado, arrebata-a para si. Ela, então, sente que ama o sol e deve-lhe sua existência.

Tupã, tomado de uma grande ira, vendo que Jandaia pertencia ao sol e não ao guerreiro que enviara, transformou-a numa cidade. Para que todos pisassem sobre ela e cobrissem de asfalto seus braços bronzeados.

O sol, condoído, surge todos os dias, com o mesmo calor de outrora, espargindo-se sobre a cidade e, como se não bastasse, ordena ao Cruzeiro do Sul, à noite, para que a vigie. Por isso, Jandaia recebeu mais um nome. Devendo sempre chamar-se Jandaia do Sul.

LIDIANOPÓLIS
Lenda do Rio Ivaí


Explica o motivo pelo qual o rio é tão torto, possuindo tantas curvas, inclusive, com formato de uma ferradura. Contam os moradores locais que certa vez um ser divino pediu à uma mulher que ela seguisse em frente, pela margem do rio Ivaí, sem olhar para trás. Esta, por sua vez, não cumpriu o combinado e a curva do rio representa, então, uma “olhadinha” da mulher.

PAIÇANDU
Origem do nome da cidade


Paiçandu tem origem tupi-guarani, cujo significado é “I-páu-zan-du”. Ilha do padre ou Ilha do pai. Os primeiros habitantes foram índios e caboclos e aqui havia um famoso curandeiro, com o nome “Çandu”; ele era muito respeitado e realizava curas extraordinárias. Diz a lenda que atraía pessoas de Maringá e arredores. Em geral, os curandeiros eram chamados de “pa’í”, de onde se originou a denominação Pa’í “Çandu”.

Paiçandu (outra versão)

Uma versão dá conta de que Paiçandu é topônimo de uma cidade uruguaia, sendo nome de uma fortaleza onde se travou importante batalha na Guerra do Uruguai. Na época, comandavam o corpo de ataque do Brasil, naquele setor, o Almirante Tamandaré e o Marechal Procópio Menna Barreto, que forçaram a rendição uruguaia, no dia 2 de janeiro de 1865; batalha decisiva no panorama político-continental daquele período. Deu-se, assim, a denominação ao município em homenagem ao histórico episódio.

PALMEIRA
Surgimento de Palmeira


Conta uma lenda indígena, que certa vez um forte e destemido índio do planalto, filho do cacique, pediu ao pai para conhecer o mar. Ao conhecer os carijós, no litoral, apaixonou-se por uma indiazinha, estes estavam para casar. Quando retornou para pedir a benção do pai, este não concordou com a união e invocou o espírito do mal, a fim de petrificá-los.

Os carijós, tristes pela perda de sua irmã, recorrem a Tupã, mas este, não podendo tirar esse encantamento, apenas atenuou o mal, transformando-os em duas bonitas e simbólicas árvores. Ao belo índio deu a forma do pinheiro e à indiazinha, uma esbelta e graciosa palmeira. E quando o vento sopra, leva os suspiros do elegante pinheiro à sua bem amada e os dela ao seu amor.

Correram os anos. Um dia, por vontade de Tupã, um velho fazendeiro vai até o litoral e leva sementes da bela palmeira, mais alguns anos e a fazenda Palmeira se tornou a mais linda dos Campos Gerais. Fiel à tradição, doou o velho fazendeiro, no rincão dos buracos, meia légua de campos à Nossa Senhora da Conceição. Surgiu, então, a primeira capela. Envolto em brumas, fica, porém, um fio de verdade dessa lenda selvagem das araucárias: o elo da amizade que ora une Paranaguá a Palmeira.

PONTA GROSSA
Lenda das pombinhas


Conta-se que os antigos fazendeiros se reuniram para escolher a sede da povoação, onde ergueriam a Capela de Sant’ana. Como não se decidiam sobre o local, resolveram soltar dois pombos brancos, e onde eles pousassem, ali se iniciaria a vila. Depois de muito acompanharem as aves, elas, finalmente, desceram, determinando o local onde até hoje está a catedral.

Lenda de Vila Velha

Numa das versões lendárias sobre Vila Velha, ela era chamada Itacueretaba, aldeia de pedra velha. Itacueretaba era uma aldeia próspera, que continha um tesouro guardado por uma tribo de homens que eram proibidos de viverem com mulheres. A desobediência de um deles, fez o criador transformar a aldeia em pedra e o tesouro na lagoa dourada como punição pela falta.

RIO BRANCO DO IVAÍ
Lenda do Rio Ivaí


Uma linda índia, aparecida aos canoeiros que subiam e desciam o rio, levava-os aos lugares com mais pedras e dizia a eles: vai por aí. E os canoeiros iam por lugares que a índia indicava e ficavam envolvidos nas pedras sem poder sair. Os canoeiros, amedrontados, iam contar o ocorrido e juntavam as palavras para pronunciar, dizendo Ivaí, que significa: índia-vai-aí; por todo o percurso do rio. Ficando Ivaí, no início da colonização.

A lenda do Rio Branco

No início da colonização, um dos jesuítas que veio para a catequização dos índios que viviam nessas plagas, trouxe consigo um enorme pote de ouro. Não tendo onde guardá-lo, enterrou à beira do rio. Perto havia uma vaca pastando, era branca como a neve. O sol esquentou e a vaca sumiu do lugar sem que o jesuíta a visse mais. Quando lhe perguntavam sobre o ouro, ele dizia:

– O pote é da vaca branca. Mas a verdade é que ele não sabia mais, onde foi que enterrara o pote de ouro. A única marca que ele se lembrava era a vaca branca. Por isso, deu o nome ao rio de rio Branco. Porque ele sabia que era à beira do rio, em algum lugar, que deixara o pote de ouro.

A lenda do Véu da noiva

Uma moça, filha de um fazendeiro que morava perto de um rio, onde havia uma linda cachoeira, gostava de um dos seus empregados e dizia que queria casar com ele. Usaria no seu casamento um véu bem comprido e largo. Seu pai, que era um homem ambicioso, a deu em casamento para um homem rico e desconhecido, que ela não conhecia.

Ela, vendo que a data se aproximava e não conseguia de jeito nenhum terminar aquele noivado indesejável, foi à cachoeira, escorregou lentamente no lugar mais perigoso das pedras. Os seus longos cabelos, levados pelas águas, se abriram enroscando-se nas raízes e pedras e ela morreu. Quando acharam o corpo, chamaram aquele lugar de Véu da Noiva.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Guerra Junqueiro (A Urna das Lágrimas)


Era uma vez uma viúva, que tinha uma filhinha muito linda, a quem adorava sobre todas as coisas. Não se separava dela um só momento; mas um dia a pobre pequerrucha começou a sofrer, adoeceu e morreu. A desditosa mãe, que tinha passado as noites e os dias sem repousar um momento, à cabeceira da filha, julgou endoidecer de mágoa e de saudades. Não comia, não fazia senão chorar e lamentar-se. Uma noite em que estava acabrunhada, chorando no mesmo sítio em que a filha tinha morrido, abriu-se de repente a porta do quarto e viu-a aparecer a ela, a sua querida filha, sorrindo com uma expressão angélica e trazendo nas mãos uma urna, que vinha cheia até às bordas.

– «Oh! minha querida mãe, disse-lhe ela, não chores mais. Olha, o anjo das lágrimas recolheu as tuas nesta urna. Se chorares mais, transbordará, e as tuas lágrimas correrão sobre mim, inquietando-me no túmulo e perturbando a minha felicidade no Paraíso.»

A pequenina desapareceu e a mãe não tornou a chorar para a não afligir.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 452) Para Descontrair


Uma Trova de Ademar

Casou e não se arrepende
pois seu marido não ”gela”;
quando ela em fogo se acende,
ele apaga a chama dela.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Tentando tornar-se "inox"
para as pregas que surgia,
a "loira" usava botox
no lugar que não devia!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

É por demais assanhada
a galinha do vizinho:
já tem a costa pelada
por excesso de carinho...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na tumba da falecida,
o esposo ciumento, à porta,
murmura: - Volta, querida.
E ela responde: - Nem morta!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Uma Trova Premiada


1999 - Nova Friburgo/RJ
Tema: MANIA - M/E


Devido à sua mania
de flertar a marujada,
a cidade a conhecia
por Teresa "Pátria Amada".
–PEDRO DE MELLO/SP–

Simplesmente Poesia


MOTE:
–MARIA NASCIMENTO/RJ–


Noite e dia, usa pijama,
depois que se aposentou.
E a sogra, ao vê-lo na cama:
-Vai dormir... ou acordou?...

GLOSA:
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–


Noite e dia, usa pijama,
com trabalho nada quer.
Na vizinhança, eis a fama:
vive as custas da mulher.

Só não trabalha, ele diz,
depois que se aposentou.
Como se o tal infeliz
nunca, nunca trabalhou?

Da vida ainda reclama:
-Eu vou morrer de exaustão!
E a sogra, ao vê-lo na cama:
-Vou chamar o rabecão!

A sogra, por ironia,
assim que ele bocejou,
já perto de meio dia:
-Vai dormir... ou acordou?...

Estrofe do Dia

Professora pede à classe
Com seu ar todo exigente
Para que em pé ficasse
Quem não fosse inteligente,
O Joãozinho se levanta
E então ela se espanta:
Só você, criaturinha?
Eu fiquei triste c'a cena
Da senhora tive pena
Não quis lhe deixar sozinha.
–JERSON BRITO/RO–

Soneto do Dia

Fim de Comédia.
–RAIMUNDO CORREIA/MA–

O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
"Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste.

No fundo do jardim promete a amante
Um 'rendez-vous', longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se... e cai o pano."

Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes, sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea

Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento,
Findar, como finda a tal comédia.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) - Circo de Cavalinhos - VI - O desastre


Pedrinho estava numa terrível aflição. O Visconde havia desaparecido misteriosamente e o público não cessava de reclamar o palhaço. O menino não podia explicar a si próprio o estranho acontecimento. Deixara o Visconde, já vestido, num canto dos bastidores, prontinho para entrar em cena logo que Emília acabasse de correr — e não havia meio de descobrir o Visconde. Isso o obrigou a alterar a ordem do espetáculo.

— Ande, Faz-de-conta — disse ele ao boneco — vá engolindo espadas enquanto eu campeio o Visconde — e empurrou-o para dentro do picadeiro.

Faz-de-conta entrou com um feixe de espadas debaixo de um braço e uma lata de brasa debaixo do outro. Foi colocar-se bem no meio do picadeiro, num tapetinho que havia. E começou a engolir espadas. Fez o serviço tão bem feito que o público esqueceu a feiúra dele e rompeu em palmas. Depois de engolida a última espada, começou a comer fogo, e glut, glut, glut, deu conta de todas as brasas da lata. Ao comer a última, porém, esbarrou nela com a ponta do nariz (que, como todos sabem, era formado por um pau de fósforo) e pegou fogo.

Foi uma sensação! O público desandou num berreiro.

— Incêndio de nariz! — gritava o Polegar. — Chamem o corpo de bombeiros!

Aladim, Ali Babá, o Gato-de-Botas e outros pularam no picadeiro para socorrer o incendiado. Mas foi inútil. O nariz de Faz-de-conta já estava totalmente destruído, só restando um toquinho de carvão... O curioso é que o boneco melhorou bastante de aspecto.

Ficou bem menos feio, porque sua feiúra era causada principalmente por aquele horrível nariz de fósforo que tia Nastácia lhe havia espetado na cara. Faz-de-conta foi levado para dentro e o público, chefiado pelo Pequeno Polegar, continuou a pedir palhaço. E como Pedrinho não conseguisse encontrar o Visconde, teve de aparecer com explicações.

— Respeitável público! — disse ele. — Uma grande desgraça aconteceu. O nosso famoso palhaço Sabugueira acaba de desaparecer misteriosamente. Com certeza algum malvado o raptou, de modo que não há mais palhaço. Também não há mais pantomima. A grande estrela Emília, que desempenhava o papel principal, está emburrada e recusa-se a representar. Em vista desses contratempos vou terminar o espetáculo com a SURPRESA!

Uns espectadores bateram palmas; outros assobiaram e o Gato Félix gritou:

— Cocadas, ao menos!

Nisto entrou a SURPRESA. Era — adivinhem se são capazes! era um elefante, o menor elefante do mundo, como Pedrinho foi dizendo enquanto arrumava no picadeiro as garrafas sobre as quais o elefantinho ia caminhar. Um verdadeiro sucesso, a surpresa! Era um elefante tão perfeito que até parecia natural — com tromba, presas de marfim e grandes orelhas caídas. Deu umas voltas pelo picadeiro, naquele andar sossegado dos elefantes grandes e depois começou a caminhar, com muito medo, sobre as garrafas que Pedrinho colocara de jeito.

— Berra, elefante! — gritou Polegar.

O elefante obedeceu e berrou três vezes com toda a força. Mas berrou numa voz muito parecida com voz de porco. Maroto, que estava lá fora tomando conta do circo, ouviu o berro e ficou de orelha em pé. Depois entrou por baixo do pano para ver o que era. Ao dar com aquele bicho nunca visto, pôs-se a latir furiosamente e avançou contra ele de dentes arreganhados. Tamanho susto levou o elefante, que tremeu em cima das garrafas e veio ao chão. Maroto agarrou-o e sacudiu-o, e tanto o sacudiu que a pele do elefante se rasgou pelo meio deixando escapar de dentro — coin, coin, coin — um animal que ninguém esperava: o senhor marquês de Rabicó!... Foi um sucesso! O circo quase veio abaixo de tanta vaia e gritaria. Pedrinho coçou a cabeça; depois danou e caiu de pontapés no Maroto, enquanto Rabicó fugia para o terreiro. Para salvar a situação Narizinho entrou no picadeiro com um cabo de vassoura de tabuleta na ponta, onde se lia em enormes letras vermelhas: INTERVALO.

— Intervalo tem dois LL! — gritou o Pequeno Polegar, que era partidário da ortografia antiga, a complicada.

Mas ninguém lhe deu atenção. Todos cuidaram de descer o mais depressa possível, de medo que as cocadas não chegassem. Tia Nastácia, no seu vestido do tempo da Sinhá Moça, ergueu a toalha que cobria o tabuleiro e começou a distribuição.

— Quero uma branca, duas cor-de-rosa e três queimadas ! — foi dizendo o Gato Félix.

Enquanto isso, o Gato de Botas argumentava com Pedrinho a respeito do misterioso desaparecimento do Visconde.

— Juro que foi Peter Pan quem o raptou — dizia o gato. – Peter Pan é muito amigo de pregar peças. Veio aqui às ocultas e “bateu” o palhaço. Garanto que não foi outra coisa.

Mas não era nada disso. Era apenas o seguinte. O Visconde havia encontrado uma Trigonometria velha que pertencera ao cônego Encerrabodes e Pedrinho pusera como calço dum dos esteios do circo. Tamanha foi a sua satisfação, que arrancou o livro dali e saiu de braço dado com ele para um passeio pelos arredores. E por lá ficaram até o dia seguinte, a conversar sobre “senos” e “co-senos”.

— Como isso, se o doutor Caramujo havia curado o Visconde da sua mania científica?

Muito simples. Havia curado, mas não havia curado completamente. Deixara em sua barriga algumas letras para semente e foi o bastante para que a festa de Pedrinho acabasse naquele fiasco.

Não há nada mais perigoso do que semente de ciência...
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – I– A Voz

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 66 – Wagner Marques Lopes (MG)


Imagem = Cena do filme A Marcha dos Pinguins

Francisco Cândido Xavier (Trovadores do Além) Parte 2


51
Minha mãe – não te defino,
Por mais rebusque o abc...
Escrava pelo destino,
Rainha que ninguém vê.
MEIMEI

52
És tu mesmo quem governas
Teus sucessos e fracassos,
Depende das tuas pernas
A extensão dos próprios passos.
ADERBAL MELO

53
Prudência se não valesse
Na vigilância que exorta,
Nenhuma casa teria
Necessidade da porta.
LOBO DA COSTA

54
Nada de bom se mantém
Onde alguém se obrigue a tal.
Virtude é fazer o bem
Podendo fazer o mal.
ALCIDES BRANDÃO

55
Mulher caída na estrada!...
Não grites condenação.
A chuva desce do céu
E faz-se vida no chão.
RICARDO JÚNIOR

56
Por esses trilhos terrenos
Quantos louros imortais,
Se o rico bebesse menos,
Se o pobre comesse mais!...
LULU PAROLA

57
Esquecimento na Terra –
Anestesista divino.
Sofrimento – cirurgião
Que nos opera o destino.
HILDO RANGEL

58
Amor... Uma frase apenas...
Olhar terno que se afasta...
Um bilhetinho... uma flor...
Para quem ama isso basta...
TEOTÔNIO FREIRE

59
Se afirmas, triste e descrente,
Que a vida acaba no chão,
Repara a humilde semente
Em plena ressurreição.
FIDÉLIS ALVES

60
Quem sofra e não se desmande,
Sentirá, de fato, um dia,
Que tirou a sorte grande
Sem jogar na loteria.
SABINO BATISTA

61
Coração, canta de leve,
Não fales palavra triste...
Perto de mãe carinhosa,
Filho morto não existe.
RUBENS DE SÁ

62
Há uma alegria que cobra
Duras penas no caminho,
É aquela de ter de sobra
O pão que falta ao vizinho.
OSCAR BATISTA

63
Para quem serve e trabalha,
No esforço em que aprimora,
Calúnia não atrapalha,
Elogio não melhora.
LOPES FILHO

64
Dois corações que se amam
Têm desses elos fatais:
Se presença prende muito,
Separação prende mais.
PLÍNIO PEREIRA RIBEIRO

65
Deus nos dá, ditosa e bela,
Doce alegria ao caminho,
Mas nós queremos aquela
Que mora no lar vizinho.
ARTUR RACAZZI

66
Luminosa realidade
Que pesa aí quanto aqui:
Quem quer agradar a todos,
Só quer agradar a si.
TELES DE MEIRELES

67
Depois da morte é que vi
Quanto luxo, quanta guerra,
Que a vida guarda com jeito
Em sete palmos de terra!...
JOSÉ ALBANO

68
Vai o berço, vem a cova;
Sai o prazer, surge a dor...
O tempo tudo renova,
Mas amor é sempre amor...
JOSÉ BARTOLOTA

69
Dois prêmios colhe da vida
Quem constrói de peito aberto:
Falar no momento exato,
Agir no caminho certo.
DERALDO NEVILE

70
Vida – pau-de-sebo ao céu,
Corrida penosa e rara.
A morte é lindo troféu
Que está na ponta da vara.
COLOMBINA

71
Quem diz que o céu não diz nada,
Que a Terra o contempla à-toa,
Olhe a lua retratada
No coração da lagoa.
ISMAEL MARTINS

72
Leite materno! Óleo santo!...
Afirma-se que ele veio
Do sangue que se fêz pranto
No filtro de amor do seio.
VIVITA CARTIER

73
Bela a palavra de Armia,
Mas, no instante do batente,
Clama que a chuva está fria
Ou diz que o sol está quente.
JUCA MUNIZ

74
Depois da morte, no Além,
A dor que mais agonia
É a mágoa de não ter feito
Todo o bem que se podia.
ANTÔNIO DE CASTRO

75
Natal! Quem foge ao preceito
De repartir o seu pão,
Carrega um calhau no peito,
Em forma de coração.
LEÔNCIO CORREIA

76
Lembrando no céu fulgente
O mundo que se maldiz,
O santo que é santo sente
Vergonha de ser feliz.
EUFRÁSIO DE ALMEIDA

77
Se alguém te insulta, a ferir-te
O anseio de amor e paz,
Não lamentes, nem te irrites...
Calando-te, vencerás.
CASIMIRO CUNHA

78
Falece o autor fescenino,
A febre de ouro carcome-o...
Mas volta a novo destino
Num berço de manicômio.
AMÉRICO FALCÃO

79
Quem procura ser feliz
Cultive somente o bem.
A justiça é igual à morte:
Não executa ninguém.
RODRIGUES DE CARVALHO

80
Reencarnação! Novos ninhos!
Mas o que dói onde vamos
É ver nosso passarinhos
Abrigados noutros ramos.
ALCEU WAMOSY

81
Deus é bom, mas não te percas
Em votos ineficazes.
A Terra escuta o que dizes,
O Céu contempla o que fazes.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

82
Dizem que a Terra se esconde
No inferno da provação.
No entanto, a Terra responde
Abrindo-se em flor e pão.
TONINHO BITTENCOURT

83
Na luta que te consome,
Se a humildade é o dom que levas,
Tens pão que sossega a fome
E sol que dissipa as trevas.
SOARES BULCÃO

84
A lei da reencarnação
É crivo que discrimina:
Trabalho – a peneira grossa,
A dor – a peneira fina.
ANTÔNIO DE CASTRO

85
Mãe que lutas, cada hora,
Da imensa dor que te arrasta,
A Terra tudo ignora,
Mas Deus sabe e é quanto basta.
RITA BARÉM DE MELO

86
Quando a morte exibe o aceno
Da verdade que se expande,
Há muito grande pequeno,
Há muito pequeno grande.
ANTÔNIO SALES

87
Súplica – anseio liberto
De nebulosa afeição,
A que Deus responde certo,
Às vezes dizendo: não.
IVAN ALBUQUERQUE

88
Matrimônios, se forçados –
Castelos de cinza e fumo;
Os braços entrelaçados,
Os corações noutro rumo...
ROBERTO CORREIA

89
Encontrar no lar alheio
Os nossos laços antigos,
É o jeito que Deus nos dá
De amarmos os inimigos.
LÍVIO BARRETO

90
O bom conselho comigo
Tem este velho embaraço:
Sempre aponto ao meu amigo
Tudo aquilo que não faço.
EMÍLIO DE MENEZES

91
Onde a ilusão nasce e medra,
Amor acaba sòzinho.
Paixão é bota de pedra
Que esmaga a flor do caminho.
HELVINO DE MORAIS

92
Ds grandes dores resumo
A função desconhecida:
Quem não chora perde o rumo,
Quem não sofre perde a vida.
SEBASTIÃO RIOS

93
No meu túmulo, reli:
- “Meu amor, descansa em paz”.
No entanto, é junto de ti
Que sempre me encontrarás.
LAURO PINHEIRO.

94
Depois da morte, a saudade
É um muro não sei de quê:
De um lado a pessoa enxerga,
Do outro lado ninguém vê.
DA COSTA E SILVA

95
Amor puro, além da morte,
Chama que não esmorece:
Largado, não abandona,
Esquecido, não esquece.
TARGÉLIA BARRETO

96
O tédio assalta a pessoa
Que tem tudo quanto quis.
Felicidade abençoa
Quem não sabe que é feliz.
SABINO BATISTA

97
Muitas vezes a alegria
É uma tapera por lar,
Trabalho de cada dia
E um coração a cantar.
LINDOLFO GOMES

98
Como Espírito, eu estudo
A minha morte passada,
Se por fora mudou tudo,
Por dentro não mudei nada.
BATISTA CEPELOS

99
No suor do próprio rosto,
Bebe o pranto da amargura.
Do solo mais empedrado
A fonte verte mais pura.
GOMES LEITE

100
Ninguém ofende a mulher
Nem mesmo por intenção.
Dizem que Deus põe os olhos
Onde a mulher põe a mão.
MARTINS COELHO
--
Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 451)

Por do Sol em João Pessoa
Uma Trova de Ademar

Nossa cultura se entende
nas lições que eu mesmo tive:
o saber a gente aprende,
a cultura a gente vive.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

A vida é pobre de abraços,
mas nem os próprios ateus,
conseguem fugir dos laços
do imenso abraço de Deus.
–JAMIR DA SILVA MALAVAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar


Deus sabe, mas não diz onde
se encontra a chave perdida
do mistério que se esconde
no lado oposto da vida.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quantos parecem felizes,
ocultando, dentro da alma,
dolorosas cicatrizes,
sob aparência tão calma!...
–ABIGAIL RIZZINI/RJ–

Uma Trova Premiada


2009 - Ribeirão Preto/SP
Tema: CIGANO - 4º Lugar.


Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
OLYMPIO COUTINHO/MG–

Simplesmente Poesia

Aportar...
–J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC–


Você chegou, pequena e humilde
como quem pede proteção
e nada tem a dar...

E hoje, em teus braços, sou eu que me recolho
como um barco cansado de tormentas
feliz da praia calma onde pôde aportar…

Estrofe do Dia

Cordel tem que ser versado
ter cadência e ser completo,
mantendo em seu objeto
as raízes do passado,
onde o autor com cuidado
expresse a sua emoção,
tirando da inspiração
o que o povo quer saber
- O bom cordel deve ter
rima e metrificação.
–PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Soneto do Dia

Eu Era Feliz e Não Sabia
–IALMAR PIO SCHNEIDER/RS–


Nasceu o dia e o sol é tímido nesta hora...
Levantei tarde e vejo ali o velho mar
que se estende distante, universal, afora,
sem me deixar saber onde vai terminar...

Tem seus segredos que nem posso imaginar...
Talvez o pranto da Humanidade que chora
carrega triste e vai levando sem cessar,
como alguém que tem pressa, assim, de ir-se embora...

Mas é meu companheiro em horas de saudade,
quando as recordações preenchem minha existência
e me transportam à ditosa mocidade...

Tudo passou e agora enfrento com paciência,
o que restou, enfim, dessa felicidade
que havia em minhas mãos, de que eu não tinha ciência...
--
Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor
Soneto do Dia adicionado por José Feldman, enviado pelo autor

Juca Muniz (Rimas Singelas)


Palavra escolhe a palavra
Sempre que nobre e sensata.
Cada pessoa na vida
Fala daquilo que trata.

Nunca desprezes ninguém...
Os outros são como são.
A pérola sai da ostra,
O ouro nasce do chão.

Três conquistas duvidosas:
Dinheiro, luxo, prazer...
Quem é vencido no mundo
É quem mais sabe viver.

Fé verdadeira supera
Injúria, lodo, pesar...
Coração quanto mais forte
Tanto mais sabe esperar.

Livro ensebado em serviço,
Santo operário do bem.
Livro trancado e lustroso
Não auxilia a ninguém.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 9a. Parte


" NÃO DIGAS... "

Não diga: sem este amor
morrerá meu coração...

Do tronco abatido, calcinado,
e que parece morto,
irrompe às vezes, às primeiras chuvas
nova vegetação…

" NÓ "

E ficamos tão nós
tão um no outro
que não sabemos mais onde um começa
e onde o outro termina...

Demos um nó cego
em nossos destinos…

"... NOS BASTIDORES "

A luz dos refletores
batias asas ...

E no amplo palco iluminado
e no meu coração desesperado
bailavas ...

Bem que te quis tomar nos braços
quando chegaste, trêmula, comovida...

Mas, apenas te fitei...
É que devo continuar
onde fiquei:
nos bastidores ... de tua vida …

" NOSSA CAMA "

Olho nossa cama. Palco vazio
sem o drama, sem a comédia,
do nosso amor.

A nossa cama branca,
branca página, em silêncio,
de onde tudo se apagou...

(Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias, aqueles gemidos,
aqueles carinhos
que a mão do tempo raspou, como nos velhos
pergaminhos? ... )

A nossa cama
imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo,
de anseios, de viagens, de prazer,

- oceano, que teve ondas e gritos encapeladosapelados,
e nele nos debatemos tanta vez como náufragos
a nadar... e a morrer...

Olho a nossa cama, palco vazio,
em nosso quarto, - teatro fechado -
que não se reabrirá nunca mais...

Nossa cama, apenas cama, nada mais que cama
alva cama, em sua solidão
em seu alvor...

Nossa cama:
- campa (sem inscrição)
do nosso amor.

" NOTAÇÕES TRISTES À MARGEM DO AMOR "

1
Sim, não somos os mesmos, reconheço
e até
confesso com amargor...
Repara no que tu és
e no que sou agora...
Vamos parar, portanto . . . Antes guardar de pé
as lembranças do amor
que apagá-las, de rastos, sobre o chão de outrora . .

2
O desencanto é perceber que deste ponto em diante
tudo já foi vivido, experimentado,
e não há mais o que ver...
Compreender, imprevistamente, que tudo é passado...
E... mesmo sem presente, e sem futuro:
continuar a viver...

3
Acabaríamos nos envergonhando de nós mesmos,
(nós que nos amamos, nós que fomos amantes)
se este amor que viveu de sensações extremas
e gerou cantos e poemas
acabasse afinal,
burguesmente, como uma festa domingueira,
ou ficasse a rolar sem lances de beleza
uma rotina monótona
e banal...

4
Seria tão fácil se te pudesse falar
sem ressentimento ou rancor:
- se nao mais nos amamos
vamos parar onde estamos,
não vamos azedar
um doce amor...

5
Acho que posso ver além dessa alegria
que desabrocha em meus lábios, desafiando
a minha dor...

Também na madrugada em festa, ao vir do dia,
há lágrimas de orvalho límpidas chorando
no riso de uma flor…

" NOTURNO SEM NÚMERO "

E eu tão só, e eu tão cansado...
A alma já nada quer
nada reclama...

Só tu cintilas como estrela
numa límpida radiância
na noite de minha insônia…

" NUNCA PENSEI... "

Nunca pensei que ao ter-te ainda a meu lado
eu pudesse sentir-me, em solidão,
tão só, tão sem ninguém, desesperado,
que nem mesmo a lembrança do passado
tornasse menos frio o coração...

Ah! pior solidão é essa que a gente
sente ao lado de alguém que se perdeu...
Havia tanta coisa... e, de repente,
tudo se esvai, inexplicavelmente:
- já não sabes se és tu, nem se eu sou eu!

Nunca pensei que em tua companhia
pudesse sentir em solidão...
Ah, negra é a noite se foi claro o dia,
e maior é a tristeza, se a alegria
antes cantava em nós, era canção...

Nunca pensei que ao ter-te ainda comigo
no vazio cruel desses instantes
me sentisse tão só, como hoje sigo,
e pudesse concluir, como um castigo:
- tanto mais juntos... quanto mais distantes !


--
Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Edgar Allan Poe (O Corvo) Tradução de Fernando Pessoa


1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

2
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

3
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

4
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

5
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

6
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

7
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

8
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

9
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

10
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhão também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

11
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

12
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

13
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
. ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

14
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

15
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

16
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

17
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

18
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

Ialmar Pio Schneider (Soneto)


Eu necessito de um amor ousado
que não tenha possíveis preconceitos,
mas que possa ser sempre cultivado
como todos que surgem sem defeitos...

Que tenha laços fortes, não estreitos,
para deter um simples desagrado,
não exigindo apenas os direitos
e defendendo um ente conquistado.

Se já vivi bastante sem a glória
de poder relatar a minha história
nas páginas que escrevo lentamente,

quando alguém completar esta lacuna,
a vida triste não será mais una
e sim a de um casal feliz e crente…

--
Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Aquarela de Angela Ponsi

Isolino Leal (Idéias e Rimas)

Paz e conforto sem luxo,
Exemplo de grande siso.
Guarda aquilo que não serve
E terás o que é preciso.

A medicina conhece
Esta verdade segura:
Coração brando e sereno
Faz a metade da cura.

Encontro o amor, vida afora,
Neste quadro que apresento:
Uma alegria que mora
Na cada do sofrimento.

Bons e maus, crentes e ateus,
Cada um no que é capaz
Recebe da Lei de Deus
Pela tarefa que faz.

Na dúvida, em qualquer parte,
Nota este ensino da Terra:
Quem sacrifica a si mesmo
É aquele que nunca erra.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (Cascavel – Coronel Vivida – Cruzeiro do Iguaçu – Dois Vizinhos – General Carneiro)


CASCAVEL
Origem do Nome da Cidade


Conta a lenda que o nome Cascavel surgiu por causa de um grupo de colonos. Estes, ao pernoitarem na região, foram acordados pelo ruído de um ninho de cobras cascavéis. Assustados, os colonos levantaram acampamento na mesma hora. A notícia se espalhou e o local ficou conhecido como “de cascavéis”, ou “cascavel”, simplesmente.

Apesar de popularizado, o nome chegou a ser modificado, por influência do clero, dada o simbolismo da cobra na bíblia. O esforço foi inútil, pois Joaquim Silveira de Oliveira, conhecido como Nhã Jeca, um dos pioneiros, não aceitou na época esta interferência vinda do clero de Foz do Iguaçu, já sonhando com a emancipação de Cascavel.

CORONEL VIVIDA
Origem do Nome da Cidade


A princípio, o nome do município era para ser Pouso Alegre. Mas o nome de Coronel Vivida deu-se em razão do apelido de uma ilustre personalidade do município de Palmas, chamado Coronel Firmino Teixeira Batista.

O Coronel Firmino era chamado de “Coronel Vivida”, pois conta a história que sempre fazia uso da expressão “que vida!” No entanto, o coronel era gago, de modo que toda vez que ia pronunciar a expressão “que vida!”, acabava falando “que vivida!”

Origem do nome da novela Cavalo de Aço

Em razão da grilagem de pinheiros, que existiam em grande quantidade na região, mais propriamente em Coronel Vivida. Os grileiros se referiam às motoserras usadas no corte dos pinheiros como “cavalo de aço”. O tema central na trama da novela Cavalo de Aço, produzida e exibida pela TV Globo, foi dos grileiros derrubando as matas de pinheiros, com cenas gravadas no município. A tomada dos primeiros capítulos foram feitas na Mata de Pinheiros que ficava no terreno da família Schiavini.

O nome de Coronel Vivida foi citado no início da novela, como o local da trama; mas depois eles passaram a chamar de Coronel Viveiros e finalizaram as gravações da novela na região de São Paulo e Rio de Janeiro. Só que nesses locais eles derrubavam nas cenas matas de eucaliptos.

CRUZEIRO DO IGUAÇU
Lenda do Miserável


A ocupação efetiva da região do sudoeste, que fez parte do Território do Iguaçu, e está dentro da faixa de fronteira, começou com os primeiros posseiros na década de 1930. Em 1936, chega à região do sudoeste a família de Atanásio da Cruz Pires, proveniente do sul, fixando residência às margens dos rios Iguaçu e Chopim, hoje Foz do Chopim, município de Cruzeiro do Iguaçu.

Para o sustento da família, Atanásio utilizava-se do que a natureza oferecia em abundância, numa região coberta de mata nativa: a caça e a pesca. O couro dos animais era comercializado e a carne que não era consumida, jogada fora. Com isso, Atanásio ia conhecendo o território e a ele atribuindo suas nomeações históricas, hoje lendárias.

Numa época de muita chuva, Atanásio, acompanhado por seus filhos, seguia pela costa do rio Chopim, até a barra do Divisor, atual Rio Cruzeiro. Naquele local permaneceram por vários dias acampados sem pegar caça e pesca alguma. A chuva era torrencial e constante. Acabando o estoque de alimento e a fome aumentando, Atanásio acabou matando uma das suas cachorras de caça para se alimentar.

Nessa passagem, o velho disse aos seus filhos:

– Esse local é tão miserável que nem caça e pesca dá! A partir de hoje, matamos somente a caça que podemos comer”

Seu Atanásio considerou esse episódio um castigo, pois num dado momento haviam matado doze antas e jogado a carne ao rio. Em razão desses acontecimentos o local passou a dominar-se rio Miserável; mais tarde, deu a origem ao “Povoado Miserável”, hoje Cruzeiro do Iguaçu.

DOIS VIZINHOS
Origem do Nome da Cidade


Existem duas versões, na primeira delas se relata que os primeiros habitantes eram apenas dois moradores, que tinham suas casas próximas ao rio; estando elas localizadas uma em cada margem.

Por causa disso, passaram a chamar o local, tendo isso como referência. Dizia-se “...vamos nos encontrar lá onde tem dois moradores à beira do rio...”. Que então passaram a chamar o rio de rio Dois Vizinhos e com o povoamento, conseqüentemente, passou a denominar-se Dois Vizinhos.

A segunda versão diz que o nome de Dois Vizinhos se originou porque neste local havia dois rios, que se encontravam formando um só. Os caçadores que faziam o uso da canoa para seus transportes, sempre combinavam: “...vamos nos encontrar lá onde os rios se encontram... o rio Dois Vizinhos...”. E marcavam entre si seus encontros, exatamente onde ocorria a bifurcação dos rios. Então pernoitavam e planejavam suas caçadas.

Como conseqüência disso, o rio foi denominado Dois Vizinhos e, posteriormente, com o desenvolvimento do local e com a vinda de outros moradores o pequeno povoado passou a denominar-se Dois Vizinhos.

GENERAL CARNEIRO
O Passo do Inferno


Este relato nos faz voltar em meados do ano de 1890, entre as localidades do Iratim e Marco Quatro, hoje denominada Estrada Velha. Naquela época essa região era o corredor de passagem dos tropeiros. Neste local havia um riacho pequeno, chamado na época de Passo por possibilitar a travessia dos animais.

O local, porém, transformava-se num grande atoleiro durante a passagem das tropas. Como conseqüência, os tropeiros sofriam um enorme desgaste físico na tentativa de salvar os animais, que acabavam encalhando. Muitas vezes, os tropeiros não tinham sucesso na travessia de todos os animais, por este motivo deram o nome ao local de Passo do Inferno.

Conta-se que um fazendeiro, neste mesmo ano, ao retornar de São Paulo, após efetuar a venda da sua boiada, trazia sobre o lombo dos animais uma considerável quantia de moedas de ouro e prata, avolumadas em bruacas. Nas proximidades do Passo do Inferno teve a impressão de estar sendo seguido por homens estranhos. Com medo de um assalto, resolveu pernoitar nos arredores. Antes, no entanto, enterrou o tesouro no mato. Ele, como temia, foi assaltado. Por não portar nenhum valor em moedas foi morto pelos malfeitores.

Após esse acontecimento, cidadãos que por ali passavam avistavam vultos estranhos. Muitos tentaram encontrar o dinheiro enterrado pelo fazendeiro, porém nunca se ouviu falar que alguém tenha encontrado alguma coisa. Mas, as bruacas com as moedas de ouro e prata continuam enterradas lá. No Passo do Inferno.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).