terça-feira, 10 de maio de 2016

Irmãos Grimm (A Água da Vida)

    Houve, uma vez, um rei muito poderoso, que vivia feliz e tranquilo em seu reino. Um belo dia, adoeceu gravemente e ninguém tinha esperanças de que escapasse. Ele tinha três filhos, os quais estavam deveras consternados vendo que o estado do pai piorava dia a dia.
    Encontravam-se eles no jardim do castelo a chorar e, de repente, viram surgir à sua frente um velho de aspecto venerável, que indagou a causa de tamanha tristeza. Disseram-lhe que estavam aflitos porque o pai estava gravemente enfermo e os médicos já não tinham esperanças de o salvar.
    O velho, então, disse-lhe:
    - Eu conheço um remédio muito eficaz, que poderá curá-lo. É a famosa Agua da Vida. Mas é muito difícil obtê-la.

    O filho mais velho disse:
    - Hei de encontrá-la, custe o que custar.

    Dirigiu-se, imediatamente, aos aposentos do rei, expôs-lhe o caso e pediu permissão para ir em busca dessa água, a única coisa que poderia salvá-lo.

    - Não, - disse o rei - sei bem que essa água maravilhosa existe, mas há tantos perigos a vencer antes de chegar à fonte, que prefiro morrer a ver um filho meu correndo esses riscos.

    O príncipe, porém, insistiu tanto que o pai acabou por consentir. Em seu íntimo, o príncipe ia pensando: "Se conseguir a água, tornar-me-ei o filho predileto e assim herdarei o trono."
    Partiu, pois, montado em rápido corcel, na direção indicada pelo velho. Após alguns dias de viagem, ao atravessar uma floresta, viu um anão mal vestido, que o chamou, perguntando:

    - Aonde vais com tanta pressa?
    - Que tens tu com isso, homúnculo ridículo? - respondeu altivamente o príncipe sem deter o cavalo - não é da tua conta.

    O anãozinho enfureceu-se e rogou-lhe uma praga. Pouco mais adiante, o príncipe viu-se entalado entre duas barrancas; quanto mais andava, mais se estreitava o caminho, até que, tendo-se o atalho apertado demais, não pode mais avançar, nem recuar, nem voltar o cavalo, nem descer. Ficou ali aprisionado, sofrendo fome e sede, mas sem morrer.
    O rei aguardou sua volta durante muitos dias, mas em vão. O segundo filho, julgando que o irmão tivesse morrido, ficou contentíssimo, pois assim seria ele o herdeiro do trono.
    Foi ter com o pai e pediu-lhe permissão para ir em busca da Agua da Vida. O rei respondeu o mesmo que havia respondido ao primeiro; por fim, ante a insistência do rapaz, acabou cedendo. O segundo príncipe, então, montou a cavalo e seguiu pelo mesmo caminho.
    Após alguns dias, quando atravessava a floresta, surgiu-lhe o anão mal vestido, que lhe dirigiu a mesma pergunta:

    - Para onde vais com tanta pressa?
    - Oh, nojento pedaço de gente! Sai da minha frente se não queres que te espezinhe com o meu cavalo.

    O anão afastou-se e rogou-lhe a mesma praga que ao primeiro; assim, o príncipe acabou entalado nas barrancas como o outro irmão, sem poder avançar, recuar ou fazer qualquer movimento, sendo assim castigados os dois orgulhosos.
    Passados muitos dias e vendo que os irmãos não voltavam, o filho mais moço foi pedir licença ao pai para ir buscar a Água da Vida. O rei não queria consentir, mas, ante as insistências reiteradas do moço, foi obrigado a ceder.
    O jovem príncipe montou em seu belo cavalo e partiu; quando encontrou o anão na floresta, que lhe perguntou aonde ia com tanta pressa, o jovem, que era delicado e amável, deteve o cavalo dizendo:

    - Vou em busca da Agua da Vida, o único remédio que pode salvar meu pobre pai, que está à morte.
    - Sabes onde se encontra? - perguntou o anão.
    - Não! - respondeu o príncipe.
    - Pois bem; já que me respondeste com tanta amabilidade, - disse o anão - vou indicar-te o caminho que deves tomar. Ao sair da floresta não te metas pelo desfiladeiro que vires pela frente; vira à esquerda e segue até encontrares uma encruzilhada; aí segue ainda a esquerda. Depois de dois dias de marcha, encontrarás diante de ti um castelo encantado: é no pátio desse castelo que se acha a fonte da Agua da Vida. O castelo está fechado por um grande portão de ferro maciço; mas basta tocá-lo três vezes com esta varinha que te dou para que se abra de par em par. Assim que entrares verás dois leões enormes prestes a lançarem-se sobre ti para te devorar; atira-lhes estes dois bolos para apaziguá-los; aí corre ao parque do castelo e vai buscar a Água da Vida antes que soem as doze badaladas, senão o portão fecha-se e tu ficarás lá preso.

    O príncipe agradeceu, gentilmente, ao anão, pegou a varinha e os dois bolos e se pôs a caminho; e conforme as suas indicações chegou diante do castelo. Com a varinha mágica bateu três vezes no imenso portão e este abriu- se; ao entrar, os dois leões arremessaram-se contra ele de bocas escancaradas, mas apaziguou-os, atirando-lhes os bolos, e assim não sofreu mal algum. Antes de dirigir-se à fonte da Água da Vida, o príncipe não resistiu à tentação de ver o que havia no interior do castelo cujas portas estavam abertas; galgou a escadaria e entrou. Viu uma série de salões grandes e luxuosíssimos; no primeiro deles viu, imersos em sono letárgico, uma multidão de fidalgos e criados. Sobre uma mesa avistou uma espada e um saquinho de trigo; teve um pressentimento que esses objetos lhe poderiam ser úteis e levou-os consigo.
    Passando de um salão para outro, no último deu com uma princesa de beleza deslumbrante, a qual se levantou e disse-lhe que, tendo conseguido penetrar no castelo, destruira o encanto que pesava sobre ela e todos os súditos do seu reino; mas o efeito do encantamento só cessaria mais tarde.
   
    - Dentro de um ano, dia por dia, - disse ela - se voltares aqui serás meu esposo.

    Depois indicou-lhe onde estava a fonte da Água da Vida e despediu-se dele, recomendando-lhe que se apressasse para poder sair do castelo antes de o relógio da torre bater as doze badaladas do meio-dia, porque nesse momento exato os portões se fechariam.
    O príncipe percorreu em sentido inverso os numerosos salões por onde passara, até que um deles viu uma belíssima cama com as roupas muito alvas e rescendentes; como estivesse cansadíssimo da longa caminhada, sentiu-se tentado a descansar um pouco, deitou-se para tomar um breve repouso e adormeceu. Felizmente mexeu- se e fez cair no chão a espada que colocara ao seu lado; o barulho despertou-o em tempo, pois perdendo a hora ficaria prisioneiro no castelo.
    Levantou-se depressa; faltava apenas um minuto para o meio-dia e mal teve tempo de correr ao parque, encher um frasco com a preciosa água e fugir.
    Transpondo os batentes da entrada, soou o relógio dando meio-dia; o portão fechou-se com estrondo e tão rapidamente que ainda apanhou um tacão do príncipe arrancando-lhe uma espora.
    O príncipe estava no auge da felicidade por ter conseguido a água milagrosa que salvaria a vida do seu amado pai; e ansioso de ver-se no palácio pulou sobre a sela e partiu a galope. Na floresta, encontrou o anão no mesmo lugar, o qual, ao ver a espada e o saquinho de trigo, lhe disse:

    - Fizeste bem em guardar esse precioso tesouro! Com essa espada poderás sozinho vencer os exércitos mais numerosos; e com o trigo desse saquinho terás todo o pão que quiseres e nunca se lhe verá o fundo.

    Encantado por conhecer os dons prodigiosos da espada e do saquinho, estava contudo apoquentado com a ideia da desgraça dos irmãos; perguntou ao anão se não poderia fazer algo por eles.

    - Posso, - respondeu o anão - ambos estão pouco distantes daqui, entalados entre barrancas muito apertadas; amaldiçoei-os por causa do seu orgulho e insolência.

    O príncipe rogou, encarecidamente, que lhes perdoasse e os libertasse, e tanto insistiu que o anão cedeu às suas súplicas.

    - Mas advirto-te que te arrependerás. - disse o anão - Não te fies neles; são de mau coração; liberto-os apenas para te ser agradável.

    Assim dizendo, o anão fez as barrancas se afastarem deixando os entalados em liberdade; pouco depois reuniram-se ao irmão, que os estava esperando. Muito feliz por os tornar a ver, o príncipe logo lhes narrou as suas aventuras e disse-lhes que daí a um ano voltaria novamente ao castelo para desposar a maravilhosa princesa e reinar com ela sobre um grande país.
    Depois puseram-se os três a caminho de regresso para casa. Atravessaram um reino que estava assolado pela fome e pela guerra, estando o rei já desesperado de poder salvar-se e ao seu povo. O bom príncipe então confiou ao rei o saco de trigo e a espada mágica; com esses objetos, o rei conseguiu derrotar os exércitos invasores e encher todos os celeiros, até ao forro, do precioso cereal. O príncipe tornou a receber a espada e o saquinho e os três irmãos continuaram na viagem; para encurtar caminho e rever mais depressa o pai, resolveram tomar um navio.
    Durante a travessia, os dois irmãos mais velhos, devorados de ciúmes, começaram a conspirar contra ele:

    - Nosso irmão conseguiu a Água da Vida e nós não, com isso nosso pai o promoverá a herdeiro único do trono, que deveria ser nosso, e a nós nada tocará.

    Então juraram perdê-lo. De noite, quando ele dormia a sono solto, furtaram-lhe o frasco e substituíram a Água da Vida por outra salgada. Tentaram também roubar-lhe a espada e o saquinho de trigo mas, quando iam apoderar-se deles, os objetos desapareceram de repente.
    Quando chegaram em casa, o jovem correu para o pai e apresentou-lhe o frasco para que bebesse e logo ficasse bom. O rei, mal engoliu alguns goles daquela água salgada, achou o gosto horrível e piorou sensivelmente. Estava ele se lastimando quando chegaram os dois filhos mais velhos e acusaram o irmão de ter querido envenenar o pai. Eles, porém, traziam-lhe a verdadeira Agua da Vida e lha ofereceram. Apenas bebeu alguns goles, pôde logo levantar-se do leito, cheio de vida e de saúde, como nos tempos de sua juventude. O pobre príncipe, expulso da presença do pai, entregou-se ao maior pesar. Os dois mais velhos vieram ter com ele e, rindo e mofando, disseram-lhe:

    - Pobre tolo! Tu tiveste todo o trabalho e conseguiste encontrar a Agua da Vida, mas nós tivemos o proveito. Devias ser mais esperto e manter os olhos abertos. Enquanto dormias a bordo, trocamos o frasco por outro de água salgada. E poderíamos, se quiséssemos, ter-te atirado ao mar para nos livrarmos de ti, mas tivemos dó. Livra-te, contudo, de reclamar e contar a verdade ao nosso pai, que não te acreditaria; se disseres uma só palavra não nos escapas, perderás a vida. Também não penses em ir desposar a princesa daqui a um ano, ela pertencerá a um de nós dois.

    O rei estava muito zangado com o filho mais moço, julgando que o tivesse querido envenenar. Convocou, portanto, os seus ministros, e conselheiros e submeteu- lhes o caso. Foram todos de opinião que o príncipe merecera a morte e o rei decidiu que fosse morto secretamente por um tiro. E partindo o moço para a caça sem suspeitar de nada, um dos criados do rei foi encarregado de o acompanhar e matá-lo na floresta. Quando chegaram ao lugar destinado, o criado, que era o primeiro caçador do rei, estava com um ar tão triste que o príncipe indagou a razão daquilo:

    - Que tens, caro caçador?
    - Proibiram-me falar, mas devo dizer tudo. - respondeu o caçador.
    - Dize então o que há, nada temas.
    - Estou aqui por ordem do rei e devo matar-vos.
    O príncipe sobressaltou-se, mas disse;
    - Meu amigo, deixa-me viver. Dar-te-ei meus belos trajes em recompensa e tu me darás os teus, que são mais pobres.
    - Da melhor boa vontade. - disse o caçador.
    - Ê preciso que o rei julgue que executaste as suas ordens, - disse o príncipe - senão a sua cólera recairá sobre ti. Vestirei essas roupas feias e tu levarás as minhas como prova de que me mataste. Em seguida, abandonarei para sempre este reino.

    Assim fizeram.
    Pouco tempo depois, o rei viu chegar uma embaixada faustosa do rei vizinho, incumbida de entregar ao bom príncipe os mais ricos presentes em agradecimento por ter ele salvo o reino da fome e da invasão do inimigo. Diante disso, o rei pôs-se a refletir:

    - Meu filho seria inocente? - e comunicou aos que o serviam: - Como me arrependo de o ter mandado matar! Ah, se ainda estivesse vivo!

    Então, encorajado por essas palavras, o caçador revelou a verdade. Disse ao rei que o bom príncipe estava com vida, mas em lugar ignorado. Imediatamente o rei mandou um arauto proclamar em todo o pais que considerava o filho inocente e que desejava, imensamente, que ele voltasse para casa. Mas a notícia não chegou ao príncipe. Encontrara seu amigo anão, que lhe dera ouro suficiente para poder viver como um filho de rei.
    Nesse ínterim, a princesa do castelo encantado, que ele livrara do sortilégio, mandara construir uma avenida toda calcetada com chapas de ouro maciço e pedras preciosas, a qual conduzia diretamente ao castelo, explicando aos seus vassalos:

    - O filho do rei que será meu esposo não tardará a chegar, virá a galope bem pelo meio da avenida. Mas se outros pretendentes vierem, cavalgando à beira da estrada, expulsem-nos a chicotadas.

    Com efeito, dia por dia, um ano depois do jovem príncipe ter penetrado no castelo, o irmão mais velho achou que podia apresentar-se como sendo o salvador e receber a princesa por esposa. Ao atravessar o portão e vendo aquela avenida calçada no meio de ouro e pedrarias, não quis que o cavalo estragasse com as patas tanta riqueza, que ele já considerava suas, e fez passar o animal pelo lado de fora. Mas, quando chegou diante do portão do castelo, dizendo que era o noivo da princesa, todos riram e depois correram-no de lá a chicote.
    Pouco tempo depois, vinha também o segundo príncipe e, quando chegou à entrada do castelo, vendo todo aquele ouro e joias, pensou que seria um pecado arruiná-los. Deixou, portanto, o cavalo galopar pelo lado esquerdo e apresentou-se como sendo o noivo da princesa. Teve a mesma sorte que o irmão mais velho: foi corrido a chicote.
    Estava justamente findando o ano estabelecido e o terceiro príncipe resolveu deixar a floresta para ir ter com sua amada e ao seu lado esquecer suas mágoas.
    Pôs-se a caminho, só pensando na felicidade de tornar a ver a linda princesa. Ia tão embevecido que nem sequer viu que a estrada estava toda coberta de pedras preciosas. Deixou o cavalo galopar pelo meio da avenida e, quando chegou diante do portão do castelo, este foi-lhe aberto de par em par. Soaram alegres fanfarras e uma multidão de fidalgos saiu para recebê-lo. Dentro em pouco, apareceu a princesa, deslumbrante de beleza, que o acolheu cheia de felicidade, declarando a todos que ele era seu salvador e senhor daquele reino. E as núpcias foram imediatamente realizadas em meio a esplêndidas festas.
    Depois de terminadas as festas, que duraram muitos dias, ela contou-lhe que seu pai o havia proclamado inocente e desejava vê-lo de novo.
    Acompanhado da rainha, sua esposa, ele foi ter com o pai e contou-lhe tudo quanto se passara. Como fora traído pelos irmãos e como estes o obrigaram a calar-se.
    O rei, extremamente irritado contra eles, mandou que seus arqueiros os trouxessem à sua presença a fim de receberem o castigo merecido, mas vendo suas maldades descobertas, eles tinham tomado um barco tentando fugir para terras longínquas para aí esconderem sua vergonha. Não o conseguiram. Sobreveio uma tremenda tempestade, que tragou o navio, e eles pereceram miseravelmente.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

domingo, 8 de maio de 2016

Primeiros Jogos Florais do Peru 2016 (Resultado Final)


Por uma sociedade livre de violência

Promovidos por El Presidente Javier Matos Quintanilla
Delegado da União Brasileira de Trovadores UBT -Peru
Delegado Cultural UNILETRAS- Gestor Sementes de Juventude.

TEMA: Violência

Troféu César Abraham Vallejo Mendoza

VENCEDORES:

1º Lugar:
Se a poesia te renova,
e a violência não te apraz...
Sê mensageiro da trova,
pombo-correio da paz!
Prof. Garcia
-
2º Lugar:
A violência respondida
simplesmente com amor
desarma e cura a ferida
do mais cruel agressor.
Edweine Loureiro da Silva
-
3º Lugar:
Sonho um mundo sem violência,
onde um dia poderei
ver que a humana convivência
nem precisa mais de lei.
Antonio Augusto de Assis
-

4º Lugar:
Que inominável violência
entre dois mundos distintos:
um, em que impera a opulência
outro, os sem-teto e os famintos!
Wanda de Paula Mourthé
-
5º Lugar:
Com violência, não se joga.
O vício, a vida desfaz...
Larga o cachimbo da droga,
fuma o cachimbo da paz!
Prof. Garcia
-
MENÇÃO HONROSA:

Ao se usar a violência,,
todo o bom senso diria
que é falta de inteligência,
ou ato de cobardia.
António Barroso (Portugal)
-
A violência consentida
no reino dos animais,
não pode ser concebida
no mundo dos racionais.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
-
Somos contra a violência
não por medo ou covardia;
mas por termos consciência
de que a paz gera harmonia.
Adamo Pasquarelli
-
Quem abusa da inocência
de uma indefesa criança
comete dupla violência:
fere a pureza e a esperança.
Antonio Augusto de Assis
-
O ódio e o egoísmo consomem
nossos laços de união.
- Só há violência onde o homem
não vê o irmão como irmão.
Maria Luiza Walendowsky
-
MENÇÃO ESPECIAL:

Por faltar ao mundo a "essência"
que faz germinar o amor,
cresce o "Joio" da violência
e o "trigo" morre de dor.
Wandira Fagundes
-
Violência nunca se aceita
e a que o mal maior alcança
vem daquela quando é feita
a uma inocente criança!
José Antônio de Freitas
-
Um gesto tem seu valor
de acordo com a procedência:
nos lábios de um opressor
até um sorriso é violência!
Arlindo Tadeu Hagen
-
À violência se cale.
Resista... e recolha os cacos,
pois “dar o troco” equivale
a se nivelar aos fracos.
Heder Rubens Silveira e Souza
-
Velho ditado alardeia
com profunda sapiência:
“quem violência semeia
só vai colher violência. ”
Antonio Claret Marques
-
TROVAS DESTAQUE

Enfrentando violência,
que o Homem seja capaz
de usar, com plenipotência,
Forças Armadas de Paz!
Dodora Galinari
-
Em dois mil e dezesseis,
tenhamos mais consciência,
melhorando nossas leis
no combate à violência!
Delcy Canalles
-
A violência aparece
em todos cantos do mundo,
por que este mundo sem prece
é cada vez mais imundo.
Plácido Ferreira do Amaral Júnior
-
Pasmem! - dizem as manchetes -
Violência de hora em hora!
E nem sempre, nas enquetes,
as agressões vêm de fora!
Lisete Johnson
-
Se com armas presenteias
a criança, sem prudência,
estás pondo em suas veias
o vírus da violência.
Dalva Maria de Araújo Sales

Olivaldo Júnior (Branco)

Pintura de Van Gogh
Era homem, jamais pintaria o cabelo!... Porém, desde que, de repente, como quem vê um fantasma, se deparou com aquele branco fio de cabelo, intruso, na cabeça, não sossegou e, às escondidas, passou a pintar a, outrora, negra cabeleira.

Tentava esconder a passagem do tempo em seus cabelos, mas o tempo também deixa brancos a memória e seu presente, o que vivemos e nem vimos viver. Dizem que o branco reúne em si todas as cores... Ou seria o preto? Ih, me "deu branco"...

Era um homem que tinha vivido pouco, nem saberia nos dizer quantas vezes perdera o bonde da vida e, pé ante pé, palmilhara a escuridão com os olhos brancos, brancos de medo. Se a vida é um cheque em branco, no dele não tinha cifras.

À noite, quando o branco da lua iluminava sua alma, punha palavras negras na folha em branco do computador, sempre ávido por outras sílabas, outras formas de vencer o escuro com a luz, ainda baça, de um texto novo, recém-nascido, nu.

Pintava seu cabelo como se dissesse a si mesmo no espelho que ainda tinha tempo para o azul do existir, o rubro do amor, o verde, a esperança! E o amarelo das fotos, onde ficava? No branco dos olhos, na cinza das horas, tingido, fingido por ele e pelas mãos que ainda almejam ter outras nas suas... Virei (Vixi!), isto é, virou-se o pote de tinta!... Logo viria outro fio. Branco.

Fonte:
O Autor

Irmãos Grimm (O Noivo Bandido)

  
  Houve, uma vez, um moleiro que tinha uma filha, muito bonita; quando ela atingiu a idade de casar, o pai decidiu arranjar-lhe um bom casamento, e pensava: "Se aparecer um pretendente em condição e a pedir em casamento, dou-lhe."
    Não demorou muito, apareceu um pretendente, que demonstrava ser muito rico, e o moleiro, não achando inconveniente algum, prometeu dar-lhe a filha.
    A moça, porém, não o amava como deve ser amado um noivo, e não tinha nem um pouco de confiança nele. Cada vez que o via ou que pensava nele, sentia-se dominada por inexplicável repulsa. Um dia, disse o noivo:
    - És minha noiva e nunca me visitas!
    - Não sei onde é a vossa casa. - respondeu a moça.
    - A minha casa, - disse ele, - fica bem no âmago da floresta.
    Ela pretextou que não conseguiria encontrar o caminho para ir lá, mas ele insistiu:
    - Eu já convidei as outras visitas, para que possas te orientar, espalharei cinzas no caminho da floresta.
    No domingo, quando a moça estava pronta para sair, sentiu grande medo, sem saber por quê e, para marcar bem o caminho, encheu os bolsos com lentilhas e ervilhas. Logo na entrada da floresta, viu as cinzas espalhadas; foi seguindo por ela, mas a cada passo ia deixando cair, de cada lado do caminho, um grão de ervilha e de lentilha.
    Andou quase o dia inteiro, até que, por fim, chegou ao âmago da floresta; aí estava uma casa solitária, que nada lhe agradou, pois lhe parecia tenebrosa e inquietante.
    Entrou; não havia ninguém lá dentro e reinava o mais profundo silêncio. De repente, uma voz gritou:

    Foge, foge. bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.

    A moça ergueu os olhos e viu que a voz partia de um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede. Ele gritou novamente:

    Foge, foge. bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.

    A noiva, então foi de um quarto para outro, percorrendo toda a casa, sem encontrar alma viva. Finalmente, chegou à adega. Viu lá sentada uma velha decrépita, cuja cabeça tremia.
    - Podeis dizer-me se mora aqui meu noivo? - perguntou a moça.
    - Ah, pobre menina! - respondeu a velha, - onde vieste cair! Num covil de salteadores. Tu te julgas uma noiva em vésperas de casamento, mas tuas núpcias serão com a morte. Vê? Preparei no fogo um grande caldeirão com água; se cais nas mãos deles, serás picada impiedosamente em pedaços, depois cozida e devorada, pois eles são canibais. Se eu não me apiedar de ti, estarás perdida.
    A velha, então, ocultou-a atrás de um tonel, onde não seria vista.
    - Fica aí quietinha, como um ratinho, não te mexas e não dês sinal de vida; se não estás perdida! Esta noite, quando os salteadores estiverem dormindo, fugiremos as duas; há tanto tempo que venho aguardando a oportunidade!
    Mal acabara de falar, chegou o bando de salteadores; vinham arrastando junto uma outra jovem; bêbados como estavam, não se impressionavam com seus gritos e lamentos.
    Obrigaram-na a beber três copos cheios de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo; com isso, partiu-se-lhe o coração. Arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram.
    A pobre noiva, atrás do tonel, tremia como vara verde; via com os próprios olhos o destino que lhe reservavam os bandidos.
    Um deles, vendo brilhar um anel no dedinho da morta, tentou arrancá-lo; não o conseguindo tão facilmente, pegou no machado e decepou o dedo que, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, bem no colo da noiva. O bandido pegou num candeiro e pôs-se a procurá-lo, mas inutilmente. Então um outro disse-lhe:
    - Já procuraste atrás do tonel?
    Mas a velha gritou:
    - Venham comer, vós o procurareis amanhã; o dedo não foge, não!
    - A velha tem razão - disseram eles.
    Deixaram de procurar e foram sentar-se à mesa para comer; então a velha pingou um sonífero dentro do vinho; tendo bebido, todos adormeceram e começaram a roncar fortemente.
    Ouvindo-os roncar, a noiva saiu do esconderijo e teve que pular por sobre os corpos estendidos no chão, com um medo horrível de acordar algum. Mas, com o auxílio de Deus, conseguiu passar. A velha saiu com ela, abriu a porta e ambas fugiram o mais depressa possível do covil dos assassinos. O vento levara a cinza, mas os grãos de ervilha e de lentilha haviam brotado e, como o luar estava bem claro, elas seguiram o caminho indicado.
    Andaram a noite toda e só chegaram ao moinho pela manhã. A jovem contou ao pai tudo o que acontecera, sem omitir nada.
    Quando chegou o dia do casamento, o noivo apresentou-se. O moleiro, porém, convidara todos os parentes e amigos. Na mesa, durante o banquete, cada conviva teve de contar uma história. A noiva, sentada ao lado do noivo, nada dizia. Então, o noivo voltou-se para ela.
    - E tu, meu coração, nada tens a contar? Narra uma história qualquer!
    - Bem, contarei um sonho que tive! - disse ela.
    "Ia andando sozinha por uma floresta e fui parar numa casa, solitária. Dentro não havia ninguém, apenas um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede, o qual, vendo-me, gritou:
    Foge, foge, bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.
    Gritou isso duas vezes.
   
    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Percorri os quartos e todos estavam vazios e fúnebres! Finalmente, fui ter à adega e lá estava uma velha decrépita sentada, a cabeça a lhe tremer; perguntei-lhe:
    "Mora aqui o meu noivo?"
    "Ah! pobre menina, - respondeu-me ela, - caiste num covil de assassinos! Teu noivo mora aqui, mas tu serás assassinada, cortada em pedaços, cozida e devorada.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - A velha ocultou-me atrás de um tonel; mal me escondera, chegaram os bandidos, arrastando consigo uma moça; deram-lhe a beber três copos de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo, e, com isso, partiu-se-lhe o coração.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Depois arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Um dos bandidos viu um anel no dedinho dela e, achando difícil arrancá-lo, decepou o dedo com o machado; mas o dedo, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, justamente no meu colo. Ei-lo aqui.
    Assim dizendo, tirou do bolso o dedinho e mostrou- o a todos os presentes.
    O bandido, que durante a narrativa ficara branco como um pano lavado, pulou da cadeira e tentou fugir; mas os convidados agarraram-no e o entregaram à justiça.
    Ele e todo o bando foram condenados e justiçados, pagando assim seus terríveis crimes.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/

sábado, 7 de maio de 2016

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" - n. 191 - maio de 2016)



Só Deus tem uma resposta
mas ninguém sabe qual é.
A nossa vida é uma aposta
que se joga com a Fé.
Ademar Macedo
-
Não sei que mais me fascina,
que mais me traz entre abrolhos:
se os olhos dessa menina,
se as meninas desses olhos...
Belmiro Braga
-
Garoando... garoando...
essa garoa, sem fim,
é qual saudade pingando
lembranças dentro de mim...
Gioconda Labecca
-
Esperança é qualquer cousa
que não se pode explicar;
que a gente quer, mas não ousa,
com medo de se enganar.
Helena Ferraz
-
Em meio a desesperanças
de sonhos que o tempo esmaga,
se eu trago muitas lembranças,
tua lembrança me traga.
João Freire Filho
-
Bate o relógio sisudo,
mede a vida com rigor,
e o tempo, que vence tudo,
não vence a força do amor.
José Lucas de Barros
-
De todas as despedidas,
esta é a mais triste, suponho:
duas almas comovidas,
chorando a morte de um sonho!
Joubert de Araújo e Silva
-
Fiz o bem na vida, a esmo,
sem sequer olhar a quem...
E, esquecendo de mim mesmo,
fiz a mim o melhor bem!
Luiz Otávio
-
O papel é a sua arena,
o seu mundo pequenino;
movendo o poeta a pena,
por vezes move o destino...
Newton Meyer
-
Não hesites aguardando
o beijo que ela não der:
há sempre um beijo esperando
nos sonhos de uma mulher!
Nydia Iaggi Martins
-
A ventura é uma quimera
que estranhos caprichos tem,
pois vem quando não se espera,
quando se espera não vem.
Petrarca Maranhão
-
Quis-te um dia, mas fugiste;
me quiseste e o mesmo fiz.
Quando enfim nós nos quisemos,
foi a vida que não quis...
Zálkind Piatigórsky
===============
Obrigado, Ademar Schiavone, pela sua vida bonita,
pelo seu amor às letras, pelo seu amor a Maringá!

=======================

Por ironia, um defeito
a manicure consome:
não consegue dar um jeito
no marido “unha-de-fome”!
Arlindo Tadeu Hagen – MG
-
Senhor, em minha oração,
eu peço em termos exatos:
– Fazei que os maus sejam bons
e os bons sejam menos chatos...
(Autor não identificado)
-
A mulher do amolador,
que é fofoqueira afamada,
diz que casou sem amor
só pra ter língua afiada!
Clenir N. Ribeiro – RJ
-
Sem sapato... madrugada...
Ao entrar, pé, ante pé,
fui – que ironia danada –
traído pelo... chulé!
João Paulo Ouverney – SP
-
Eu já dei muita boiada
para evitar confusão...
Hoje, com fome danada,
por um bife... eu sento a mão!
Joaquim Carlos – RJ
-
Minha prenda o ardor respinga
por onde passa...  ela é arisca...
É que nem pedra de binga:
se tu risca sai faísca.
Jota José – RJ
-
Ganhei um "dogue alemão",
mas é tão mole o safado,
que, se eu quiser proteção,
só dublando o condenado!
Sérgio Ferraz – RJ
==========================


O céu deve estar cheinho
de madrinhas, mães e avós...
– Têm lá, em dobro, o carinho
com que cuidaram de nós!
A. A. de Assis – PR
-
Eu canto triste no canto
saudades do teu amor;
porém, se ouvires meu canto,
darei graças ao Senhor.
Agostinho Rodrigues – RJ
-
Tão forte nos abraçamos,
confundidos no entrelaço,
que eu acho até que trocamos
de corações nesse abraço!
Almerinda Liporage – RJ
-
Sei que a vida é muito dura
e por isso não me iludo,
mas sonhar não se segura
e em sonhos alcanço tudo!
Almir Pinto de Azevedo – RJ
-
Bem-te-vi, que bom te ver!
Vim aqui pra te encontrar...
Pousa no meu pé de ipê;
quero ouvir o teu cantar.
A.M.A. Sardenberg – RJ
-
O meu melhor agasalho
é o colo de minha amada,
pois quando nele me encalho
não temo o frio ou geada!
Amilton Maciel Monteiro – SP
-
No clarão da velha chama,
de ritmos e de valores,
curitibano conclama:
– Rimai por nós, trovadores!
Andréa Motta – PR
-
Viver fiado em quimera
é coisa que não convém
porque de onde não se espera...
de lá mesmo é que não vem!
Antônio Juraci Siqueira – PA
-
A paixão é traiçoeira,
dizem que pode matar.
Eu digo que é só coceira
gostosa de se coçar.
Ari Santos de Campos – SC
-
Ferem sim, mas quero tê-las
ao longo da caminhada:
ilusões, cacos de estrelas
que enchem de luz minha estrada!
Carolina Ramos – SP
-
Coragem é um predicado
para um homem de valor;
audácia é quase pecado:
tu és quase um pecador.
Cida Vilhena – PB
-
Rasguei carta, telegrama,
fotos, bilhetes de amor,
mas ao deitar nesta cama,
rasga-me o peito esta dor!
Conceição de Assis – MG
-
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
Cônego Telles – PR
-
Era un niño silencioso...
Con la mirada me amaba,
y con un beso amoroso
¡sin tocarme me besaba!
Cristina Olivera Chávez – USA
-
Na porteira envelhecida,
o “X” que a mantém de pé
parece os braços da vida
sustentando a nossa fé.
Dáguima Verônica – MG
-
Tenho momentos tristonhos
e às vezes nem sei por quê;
é que o príncipe que sonho
mem mesmo em sonhos se vê.
Delcy Canalles – RS
-
Saudade – eterna pontada
que a gente sente e não diz;
uma lembrança apagada
do tempo em que foi feliz!
Diamantino Ferreira – RJ
-
Enquanto proles “distintas”
esbanjam pão e agasalho,
milhões de bocas famintas
vivem clamando trabalho.
Djalma da Mota – RN
-
A estrela ainda reluz,
e a madrugada artesã
cose retalhos de luz
no alvo lençol da manhã.
Domitilla Borges Beltrame – SP
-
Que bela seria a vida
se acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
Dorothy Jansson Moretti – SP
-
Amigo é um irmão de fé,
que, nas quedas dos caminhos,
discreto nos põe de pé
e diz que agimos sozinhos...
Edmar Japiassú Maia – RJ
-
Minhas rotas saltimbancas
oscilam nesta escalada:
há nuvens amenas, brancas,
outras balançam-me a escada.
Eliana Jimenez – SC
-
Olho o céu: são tantos astros,
que não cabem no meu verso.
As estrelas deixam rastros:
purpurinas do universo!
Eliana Palma – PR
-
O meu deserto mais triste,
aquele que eu não transponho,
é justamente o que existe
na ousadia do meu sonho!
Elisabeth Souza Cruz – RJ
-
Deus, garimpeiro maior,
vai, no seu mister profundo,
salvando o bom e o melhor
que há nos garimpos do mundo.
Flávio Stefani – RS
-
Chega a idade!... E eu já sem graça,
na ousadia dos meus planos,
finjo que o tempo não passa
e escondo os meus desenganos!
Francisco Garcia – RN
-
Tuas palavras magoam,
mas te perdoo, pois, enfim,
são abelhas que ferroam
mas que dão mel para mim.
Francisco Pessoa – CE
-
Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!
Gislaine Canales – SC
-
Diz-me esta ruga esculpida,
entalhe que o tempo fez,
que a primavera da vida
só nos floresce uma vez.
Jaime Pina da Silveira – SP
-
A fuga não leva a nada,
meu caminho eu sigo em frente.
Em toda e qualquer estrada
há um anjo guardando a gente.
Jaqueline Machado – RS
-
Vivem dois lobos em mim
– um do bem, outro cruento.
Lutam, brigam, mas, ao fim,
ganha aquele que alimento.
JB Xavier – SP
-
Quantas pedras removidas
e quantas por remover.
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!
JBX de Oliveira – SP
-
A direção recebida
do meu coração não sai:
Caminho, verdade e vida
para chegarmos ao Pai!
Jeanette De Cnop – PR
-
Bendito o irmão que na roça
puxa a enxada e planta o grão,
tirando da terra a nossa
diária alimentação.
Jorge Fregadolli – PR
-
O meu prêmio, ao fim do dia,
é um sorriso na janela
de onde os lábios da alegria
beijam os meus, antes dela!
Josafá Sobreira da Silva – RJ
-
“Por que trazes a Saudade
à casa que é tua e minha?"
E a Solidão: "Na verdade,
é medo de estar sozinha..."
José Fabiano – MG
________________
Ser mãe é ainda a maneira mais bonita de ser poeta.
__________________________
Quando nós somos crianças,
tantos sonhos são sonhados.
Hoje...adultos, são lembranças
daqueles tempos passados.
José Feldman – PR
-
Mamãe fazia a polenta,
papai pitava um cigarro...
Hoje a saudade é que esquenta
o velho fogão de barro!...
José Ouverney – SP
-
Ante os açoites da sorte
e as calúnias que enfrentei,
sinto que gritei mais forte
quando altivo me calei.
José Valdez – SP
-
Nas horas mortas da noite,
sem luar e bem-querer,
tua ausência é puro açoite
que duplica o meu sofrer.
Luiz Carlos Abritta – MG
-
És meu gênio predileto,
pois, sem lâmpada e magia,
meu desejo mais secreto
me concedes dia a dia.
Luzia Brisolla Fuim – SP
-
Feliz aquele que faz
crescer o bem em redor.
É alguém que semeia a paz,
tornando o mundo melhor.
Maria Luíza Walendowsky – SC
-
É o ventre materno o espaço
da semente em gestação,
onde Deus fez seu regaço
em amor à Criação!
Maria Conceição Fagundes – PR
-
Temendo teu abandono,
meu coração – velho avaro –
soma horas mortas de sono
a madrugadas em claro!...
Maria Madalena Ferreira – RJ
________________
Na trova, que é seu veleiro, / singrando temas diversos, / trovador
é marinheiro / que navega em quatro versos. (Thereza Costa Val)

__________________________
Com volúpia e desvario,
neste amor vou mergulhar...
Eu me sinto como o rio,
que se atira para o mar!
Maria Thereza Cavalheiro – SP
-
Tem gente que esconde o pranto;
sem razão, sente vergonha;
não sabe que o desencanto
é normal quando se sonha.
Mária Zamataro – PR
-
De meu pai, um grande espelho,
hoje velho, lembro ainda,
refugiado em seu conselho:
– Sê feliz, que a vida é linda!
Maurício Friedrich – PR
-
Sou mulher e sou guerreira,
lutando em busca de paz;
da vida sou passageira
que não desiste jamais.
Neiva Fernandes – RJ
-
O tudo que o mundo tem
não vale nem a metade
da metade de um vintém
de uma sincera amizade!
Nemésio Prata - CE
-
O amor, bem como a neblina,
sempre nos turva a visão:
vem do nada e, como sina,
deixa inquieto o coração.
Olga Agulhon – PR
-
Eu não lamento a saudade
que a tudo invade, porque
é tão bom sentir saudade,
quando a saudade é você!
Olympio Coutinho – MG
-
Minha mãe... como não ser
grato por tudo o que fez?
Pois ao me ensinar a ler,
me deu à luz... outra vez!
Pedro Melo – PR
-
Rompeste um antigo laço
contudo, mantenho aceso
este amor que não desfaço,
mas disfarço com desprezo.
Relva do Egypto – MG
___________________
Felizes os trovadores, / romancistas de quadrinhas, / que fazem
de seus amores / romances de quatro linhas. (Durval Mendonça)

__________________________
Prefiro ficar no sonho
a embarcar na realidade;
lá, meu mundo é mais risonho,
mais seguro e sem maldade!
Renato Alves – RJ
-
Com os retalhos dos panos
que sobravam da costura,
mamãe fez todos os planos
de minha vida madura..
Ronnaldo Andrade – SP
-
No embalo da serenata,
quisera ser como a lua
vestindo com tons de prata
os homens tristes da rua!
Selma Patti Spinelli – SP
-
Tudo pode acontecer
no encontro de duas almas.
Tua afeição dá prazer
e sei que só tu me acalmas.
Talita Batista – RJ
-
Velho é quem, preso ao cabresto
de paixão não assumida,
busca na idade um pretexto
para ausentar-se da vida.
Thalma Tavares – SP
-
A orquídea branca e violeta...
A foto quase sem cor...
Na pequenina gaveta,
os restos de um grande amor!
Therezinha Dieguez Brisolla – SP
-
Esquecida na lareira,
esta cinza sem calor
lembra a chama passageira
que incendiou nosso amor.
Vanda Alves da Silva – PR
-
Seu forte olhar, penetrante,
me acelera o coração.
O seu perfil, estonteante,
ofusca a minha visão!
Vânia Ennes – PR
-
O vinho ao pé da lareira,
teu carinho, teu calor...
Como não ser prisioneira
desses prazeres de amor?
Wanda de Paula Mourthé – MG
==============================
Visite:
http://poesiaemtrovas.blogspot.com/
http//www.falandodetrova.com.br/
http://universosdeversos.blogspot.com/

=====================================

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Contos Populares Portugueses (Duas Pessoas Casadas)

Era uma vez um homem e uma mulher, casados e muito amigos. Mas, em dada altura, ela começou a sentir uma aflição e pôs-se a dizer que lhe estava a apetecer matar-se. E o marido disse-lhe:

- Vamos passear, vamos espairecer!

E foram. Depois ele andou para o campo e ela para casa. Nessa ocasião passou o Diabo, que ia muito apressado, e uma mulher feiticeira, que o viu, perguntou-lhe:

- Tu vais tão aflito? E ele respondeu:

- Queria arranjar aqueles dois para mim e não posso. - Aludia aos dois casados.

E ela disse-lhe:

- Isso te arranjo eu, mas quanto me dás?

- Dou-te umas chinelas.

E a feiticeira foi ter com o homem ao campo e pediu-lhe uma esmolinha. E o homem:

- Vá a casa ter com a minha mulher. E ela perguntou-lhe:

- A sua mulher é sua amiga?

- Sim, senhora, é muito minha amiga.

- Pois olhe que ela quer matá-lo.

A tal foi então a casa do homem e pediu a esmola à mulher. Perguntou-lhe:

- Q seu homem é seu amigo?

- É muito meu amigo.

- Pois olhe, se quer que ele seja mais seu amigo, fique a cirandar e deixe-o adormecer, corte-lhe dois cabelos da cabeça e traga-os consigo. Isso então é que ele há-de ser seu amigo.

A mulher assim fez. Deixou-o adormecer, pegou numa tesoura e foi ver se ele dormia. Pôs-se a examinar e foi com a tesoura para ele. Ele então levantou-se e sempre acreditou o que a outra lhe tinha dito, pois que cuidava que a tesoura era para ela o matar. Mas quem a matou foi ele.

Depois a feiticeira foi ter com o Diabo e disse-lhe:

- Venham, venham para cá as minhas chinelas.

E ele exclamou, pondo-se à distância:

- De longe!... Toma lá! Fizeste num dia o que eu não fiz num ano!

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Elizabeth Misciasci (Poemas Escolhidos)

OLHO NO OLHO...

Dos meus medos faço canção
embalando meus sonhos em desatino.
Desvairada num anseio turbulento
de quem se despede da razão

Envolta persisto e desisto
insegura me entrego aos desvios
do vazio que minh' alma teme
meus dias são passados distantes
Versos sem rimas que se apagam
Folhas secas caindo a fremir
Atroz aparente disfarçada audaz
arsenal revestida conclamo concisa

Mar a ser atravessado
sem barco nem remo
Necessidade de transpor
lanço-me neste fluxo

Incerteza é direção
niilismo insistente
desordenada renego
este meu perecimento

Canção que me decompõe
harmonia espacejada sem ritmo
procriada dos meus medos
transformados mau grado e solidão.

Olho no olho
encaro meu ego sem receio
sou de mim mesma esteio
Dos meus medos, faço canção.

SER POETA

Ser poeta é estar no palco da vida
representando com suas silenciosas palavras
a cena mais forte de um ato
que consegue mesmo sem falas
penetrar em mentes diversas
criando sonhos, gerando esperanças,
plantando sorrisos sentimentos libertados
transformando vidas, emocionando os que
desconhecem
mas que por ser este o POETA de raiz
com sapiência e vivencia transporta
para a platéia, as letras que bailam
deixando no ar o bálsamo envolvente
mágicas que tecem almas,
E como alguém a levitar,
o POETA se transporta
estando em toda parte em todo canto
com suas mudas palavras
repletas do saber, do sentir e do fazer,
oferta
com suas bailarinas incansáveis
ahhhh..... essas letras intermináveis
que chegam para muitos como
abraços, acalantos, aconchegos, afagos
despertando sentimentos
estimulando momentos, distribuindo
calor.
Porque para fazer poemas,
poesias, trovas e versos
é necessário ser POETA...
é necessário SER AMOR…

REFÉM DO PASSADO

Fechei os olhos... sonhei acordada
Com voragem me despi da razão
E em torno do meu eu recatada
Libertei! Fiz-me reconstrução.

Aterrei um amor passado
Liberei a vida atilada
lacuna de um vazio apossado
amarra entregue....mutilada

Folhetinesco romance apagado
Um pasquim que já foi editado
Fez-se vida em ano dourado
Foi me o tempo refém do passado

Aflorei na mais pura emoção
E em confidencias sem atritos
Levei meus medos a redução
Sendo o que fui... sem conflitos.

Reeditei minha história de vida
Miscível alegria e dor
Cenário de luz reluzida
Esplanada...hoje sou só amor

De um sonho fiz realidade
Viagem que sigo na estrada
Meu caminho só é Felicidade
Fechei os olhos... sonhei acordada!

ABNEGADA

"Sou tudo aquilo que um coração pede
por indução, a perfilar sentimentos.
Sem o desvio do probo que me norteia,
torno por vezes redutível à razão.
Por crer, que o inviável é mera justificativa
do "não tentar", contesto!
Abnegada, não julgo o que desconheço e,
até que se apresente o reverso, considero
crível, os relatos e fatos a mim revelados.
Apiedando-me dos excluídos, não temo a luta e,
relevando os que tendem a profligar, sigo adiante.
Não nego que tenho imperfeições e repudio a injúria,
No entanto, por ser eu, tudo aquilo que meu
coração pede, me esquivo dos ínfimos
e de peito aberto, só quero transbordar Amor".

QUANTO MAIS

Quantas vezes te procurei...
vaguei pelos vales, atravessei os rios
me fiz águia, condor, gaivota
nas noites frias queria teu calor teu sorriso.
Em cada dor, chorei o choro mais triste
meu lamento não foi o bastante
nem minhas lágrimas molharam seu chão.
A estrada que percorri era uma
e a busca incansável parecia em vão.
Dias passando, noites em murmúrios
lábios cerrados e a voz?
Aos poucos se calando...
coração parando, olhares que buscavam
nada mais enxergaram
Quanto mais busquei mais me distanciei
quanto mais te quis mais me perdi
quanto mais tentei, mais sei que errei
quanto mais acreditei, mais me magoei.

Hoje sei que nada encontrei…