quinta-feira, 15 de junho de 2023

Irmãos Grimm (As três plumas)


Era uma vez um rei que tinha três filhos, dois deles eram inteligentes e sábios, mas o terceiro não gostava de falar muito, e era muito simples, e por isso o chamavam de João Bocó. O rei estava ficando velho e fraco, e já achava que ia morrer, e não sabia quais dos seus filhos deveria herdar o reino quando isso acontecesse. Então, ele disse para os seus filhos: 
 
“— Saiam, e aquele que me trouxer o tapete mais lindo será o rei quando eu morrer.”

E para que não houvesse briga entre eles, ele os conduziu para fora do palácio, soprou três plumas no ar e disse: — “Vocês deverão seguir estas plumas!” Uma pluma voou para o oriente, a outra para o ocidente, mas a terceira subiu para o alto, mas não voou para muito longe e logo caiu no chão.

E então, um irmão foi para a direita, o outro para a esquerda, e zombaram do João Bocó, o qual foi obrigado a ficar ali onde a terceira pluma havia caído. Ele se sentou e ficou triste, então, de repente, ele percebeu que havia um pequeno alçapão perto de onde a pluma havia caído. Ele levantou o alçapão, encontrou alguns degraus, e desceu a escada, que dava para uma outra porta, bateu nela, e ouviu alguém dentro chamando:

— “Criatura pequena e verde, pulando aqui e ali, entre pela porta e você verá quem está lá.”

A porta se abriu e ele viu ali parado um sapo grande e gordo, e em volta do sapo uma multidão de pequenos sapinhos. O sapo gordo perguntou o que ele queria? Ele respondeu: — “Eu preciso conseguir o tapete mais belo e mais fino do mundo.”

Então, ele chamou um sapinho e disse para ele:

— “Criatura pequena e verde, pulando aqui e ali, pule rapidamente e me traga a Caixa Grande até aqui.”

O filhote de sapo trouxe a caixa, e o sapo gordo a abriu, e tirou da caixa um tapete que era tão lindo e maravilhoso e que fora tecido com tantos detalhes, que não havia na Terra ninguém que pudesse ter produzido uma peça tão rara.

Então, ele agradeceu ao sapo, e fez o caminho de volta. Seus dois outros irmãos, todavia, achavam que o seu irmão caçula fosse tão tolo que ele não encontraria nenhum tapete e não traria nada para o rei. — “Porque nós iríamos nos preocupar em procurar um?” disseram eles, e pegaram alguns panos sem acabamento das primeiras pastoras de porcos que eles encontraram, e levaram para o rei.

Ao mesmo tempo, João Bocó havia também voltado, e trouxe seu lindo tapete, e quando o rei viu o que ele trouxe, ele ficou admirado, e disse: “Justiça seja feita, o reino deve ficar com o caçula.”

Mas os dois outros irmãos não deram sossego para o rei, e disseram que era impossível que o João Bocó, que não passava de um pateta, fosse o rei, e insistiram para que houvesse um novo acordo entre eles.

Então, o pai disse: — “Aquele que me trouxer o anel mais valioso herdará o trono,” e conduziu os três irmãos para fora, e soprou para o ar três plumas, que eles deveriam seguir. As plumas dos filhos mais velhos novamente foram para o ocidente e para o oriente, e a pluma de João Bocó voou diretamente para o alto e caiu perto da porta a poucos passo dali.

Ele se se dirigiu novamente até onde o sapo gordo ficava, e disse ao sapo que ele precisava conseguir o anel mais valioso.

O sapo, imediatamente, mandou que uma grande caixa fosse trazida até ali e tirou da caixa um belíssimo anel, o qual reluzia de tantas joias, e era tão lindo que nenhum ourives da Terra seria capaz de fabricá-lo.

Os dois irmãos mais velhos riram de João Bocó por ele ter ido buscar um anel de outro. E não se deram ao trabalho, e arrancaram os pregos de um velho anel de argola e o levaram para o rei, mas quando João Bocó mostrou o seu anel de brilhantes todo dourado, o rei disse novamente:

— “O reino pertence a ele.”

Os dois irmãos mais velhos não paravam de atormentar o rei até que ele propôs uma terceira condição, e declarou que aquele que trouxesse a mulher mais linda para casa, ficaria com o reino. Novamente ele soprou três plumas para o alto, e elas voaram como antes.

Então, João Bocó, sem fazer nenhum alarde, desceu até a toca do sapo e disse: — “Eu preciso levar para casa a mulher mais formosa!”

— “Oh,” respondeu o sapo, “a mulher mais formosa! No momento, ela não está aqui, mas dentro em breve tu a terás.”

O sapo deu a ele um nabo amarelo totalmente oco por dentro, atrelado a seis camundongos. Então, João Bocó disse muito triste, “O que é que eu vou fazer com isso?”

O sapo respondeu: — “Coloque apenas um dos meus sapinhos dentro dessa carruagem.”

Então, ele pegou aleatoriamente um daqueles que estavam ali, e colocou dentro da carruagem amarela, mas, mal o sapinho se sentou na carruagem, e ele se transformou numa donzela maravilhosamente bela, e o nabo se transformou num cocheiro, e os seis camundongos em belíssimos cavalos. Então, ele a beijou, e se afastaram rapidamente com os cavalos, e a levou para o rei.

Seus irmãos chegaram depois, eles não haviam se dado ao trabalho de procurar belas garotas, mas haviam trazido com eles as primeiras aldeãs que tiveram a chance de encontrar.

Quando o rei viu as donzelas ele disse: — “Depois que eu morrer, o meu reino deve ficar com meu filho mais jovem.”

Mas os dois irmãos mais velhos quase deixaram surdas as orelhas do rei com seus clamores, — “Não podemos admitir que João Bocó seja o rei,” e exigiram que aquele cuja esposa conseguisse atravessar pulando um anel suspenso no meio da sala seria proclamado rei. Eles pensaram: — “As mulheres aldeãs podem fazer isso com facilidade, elas são fortes o bastante, mas a delicada donzela poderá morrer ao saltar.”

O rei que já estava velho também concordou com a ideia. Então, as duas jovens aldeãs tentaram várias vezes pular através do anel, mas elas eram tão entroncadas que elas caíram, e seus braços e pernas abrutalhados se partiram no meio. E então, a bela donzela que João Bocó havia trazido com ele, saltou várias vezes com a leveza de um cervo, e toda oposição teve de acabar. Então, ele recebeu a coroa, e reinou com sabedoria durante muito tempo.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Contos de Grimm. Publicados de 1812 a 1819.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Jota Feldman (Analecto de Trivões n. 8)

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Perigo Doce)

Tio Vitoriano era dono de um carro de praça. Estávamos em 1951. Nenhum de nós tinha ainda ouvido a palavra táxi. Pelas tantas, os parentes começaram a mostrar incomum preocupação com o patriarca, o vô Rogelio, que o pai chamava de “meu sogro”. Não Rogério, mas Rogelio, como se fala em espanhol. Por influência das muitas famílias italianas do lugar, nos acostumamos a dizer “nona” e “nono”, em vez de vó e vô. Que eu tivesse sabido, ele nunca saíra daquele sítio. Nem cuidara da saúde. Aos 77 anos, obeso, como se descobriu que era diabético jamais entendi. De que meios dispunham para o diagnóstico? Que laboratório tinha feito os exames? Vai lá saber. Mas o nono tinha diabetes e a coisa era antiga. Os sintomas não assustavam pela simples razão de que a família ignorava os riscos. Daí que ele ia levando a vida possível a um diabético desinformado.

Para se locomover – dentro de casa apenas – apoiava-se a uma bengala. Vinha enxergando cada vez menos. Idade, gordura, óculos de fundo de garrafa, nada impressionava. Ao contrário. Conforme a ocasião, até divertia. Uma vez, cheguei a casa enquanto ele dormia. Fui brincar com meu primo Ciro. Não o saudei nem na hora do almoço. À mesa, ouvindo meu nome, forçou os olhos sobre o meu vulto: “Ah, é o Orivaldo? Pensei que fosse um gato”. Todos rimos; ele, inclusive. Para ver quanta ignorância sobre uma vida que caminhava para o fim.

Não passou muito tempo, piorou de vez. Veio o médico. Recomendou sua remoção para Rio Preto, único centro capaz de tratá-lo. Tio Vito morava em Fernandópolis; tio Menegildo, em Jales. Ligação telefônica demorava um dia inteiro naquele tempo. Foram avisados. Havia urgência em reunir os filhos. Como numa vigília, à espera do pior. Tio Vito chegou no seu carro de praça. Um bem conservado Ford, suponho, ou de outra marca, quem lembra? As portas abriam o necessário a passageiros de compleição comum. Não sei se verdadeira ou falsa, a nós foi passada a versão de que o nono, por ser excessivamente gordo, não passou na abertura das portas do automóvel. Impossível embarcá-lo. Nem teria adiantado. A situação era muito grave. Morreu ali mesmo, em casa. Naquela noite ou na seguinte, não recordo.

Trinta anos mais tarde, internei a mãe em hospital de Maringá. Exames vistos, o médico me encarou, assustado: “Quer matar sua mãe? Ela chegou perto de um coma diabético”. Sorte que o seu anjo da guarda era o plantonista do dia. Aí é que fui saber que o diabetes é grave e pode-se herdá-lo. Passamos a cuidar. Acho que bem, porque ela chegou aos 94 anos. Morreu lúcida, junto dos filhos, dos quais um também é portador. Mas o mantemos vigiado por endócrino excelente e amigo.

Ainda sinto dificuldade de superar a doce, mas perversa, atração do açúcar. Por que é tão custoso trocar hábitos nascidos no colo materno? Quem, no passado, ensinou nossas pobres mães a adoçar todo sólido ou líquido que nos levavam à boca? Vida afora, acabamos ingerindo tanta porcaria gostosa, não pelo valor nutritivo, mas pelo sabor agradável. Na minha lembrança, e na de muita gente, continua presente a figura do saco de açúcar, lá na despensa, protegido das formigas, mas franqueado às nossas incursões. Quantas vezes nos tornamos coadjuvantes da mãe na confecção daqueles doces chavascados (
toscos), mais primorosos para nós do que os produzidos nas docerias da rainha da Inglaterra! Delícias, sim, mas perigosas.

Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 15

Atenção: Na época da publicação deste livro (1919), ainda não havia a normalização da trova para rimar o 1. com o 3. Verso, sendo obrigatório apenas o 2. Com o 4. São trovas populares coletadas por Afrânio Peixoto.


Tico-tico no terreiro
quando chove não se molha.
Onde há moça solteira
pras casadas não se olha.
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Moça bonita é veneno,
mata tudo que é vivente,
Embebeda as criaturas,
tira a vergonha da gente.
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A laranja de madura
caiu na água foi ao fundo.
Triste da moça solteira
que cai na boca do mundo.
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Quem quiser escolher moça,
deve escolher pelo andar.
Toda a moça que é faceira
pisa no chão devagar.
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Quem quiser ter seu sossego,
case com moça faceira,
já namorou muitos homens,
não cai mais na brincadeira.
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A pedra que muito rola,
limo não chega a criar:
A moça que ri pra todos
a nenhum consegue amar.
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Alecrim da beira d'água
de viçoso está pendendo,
estas mocinhas de hoje
de faceiras vão morrendo.
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Se vejo moça corada
fico do amor abrasado;
Moça pálida e franzina
põe-me todo derrotado...
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A moça que não tiver
seu neném para brincar,
pode ficar na certeza
que no céu não há de achar.
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Pescador que andas pescando
para as bandas do sul,
pescador, vê se me pescas
a moça do lenço azul.
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Fui menina, já não sou,
achei consolo pra mágoa:
Moços não sabem amar,
pote velho dá boa água.
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Os teus olhos mais os meus
têm o mesmo parecer;
Mas os teus têm um jeitinho
que põem os meus a perder...
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De tanto, tanto, te olhar,
com os teus, meus olhos troquei.
Como a troca se arranjou
sabes tu... pois eu não sei.
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0 cipó no mato bravo
agarra o jacarandá,
assim menina teus olhos
agarrado me tem já.
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Estes teus olhos, menina,
são confeitos, não se vendem;
São balas com que me atiram,
correntes com que me prendem.
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Encontrei estes teus olhos
domingo, à hora da missa.
Arrenego* desses olhos,
prendem mais do que justiça.
= = = = = = = = = 
* Arrenego = zanga
= = = = = = = = =
As folhas da bananeira
mexem co'o sopro do vento,
estes teus olhos, menina,
mexem co’o meu pensamento.
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Sei ler e sei escrever,
sei somar, diminuir,
só a graça dos teus olhos
nunca pude repartir.
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Teus olhos têm tanta luz,
que não sei, por que segredo,
quando eu olho pra teus olhos,
estremeço, tenho medo.
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Teu olhar, moça bonita,
eu sou capaz de atestar,
se o sol apagasse o mundo
servia pra alumiar...
= = = = = = = = =

Olhos prelos, olhos pardos,
olhos azuis soberanos,
essas três classes de olhos
para mim foram tiranos.
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Entra o amor pelos olhos
vai ao peito direitinho,
se não acha resistência
vai seguindo seu caminho...
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Os olhos dos namorados
são como cartas fechadas,
que só leem sem abrir
os olhos das namoradas.
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Quem quer bem logo se vê,
logo dá demonstração...
pelo pisquinho dos olhos,
e pelo aperto de mão.
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Os olhos de meu benzinho
andam em leilão pela praça;
Não há dinheiro que pague
uns olhos de tanta graça.
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Eu conheço uma menina
que é morena requebrada,
pois quando revira os olhos
põe minh'alma espedaçada.
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A açucena quando nasce
vem abrindo, vem fechando;
Meu amor, quando me enxerga
vem todo se requebrando...

Fonte:
Afrânio Peixoto (seleção). Trovas populares brasileiras. RJ: Francisco Alves, 1919.

Disponível em Domínio Público

Clarisse da Costa (Bom dia)

Bom dia com o cheiro do melhor café e um dedinho de prosa. O que me remete ao cotidiano e a coisas antigas do meu passado remoto. Digamos que em 1996 estaria escrevendo essa prosa numa máquina de escrever e na antena da minha TV teria uma palha de aço. Minha realidade.

Mais um passo à frente eu posso dizer que o amor era apenas um coração desenhado e com versinhos bobos, mas tão sinceros, hoje é um coração com espaços a serem preenchidos com as incertezas sobre o que é o amor.  A vizinha canta uma música sertaneja bem apaixonada sem ter a noção do que é esse sentimento. Ou melhor, sem discernir o amor da paixão.  Eu como sempre sou uma eterna amante. Amo por inteiro e às vezes esqueço das pauladas que posso levar.

Voltando a 1996, a máquina ficou sem tinta. Não durou dois meses e não se vendem mais tintas. A guerreira vai pro ranchinho aqui de casa.  Cá entre nós, como é bem-vindo o século XXI! No entanto, muitas coisas antigas continuam a existir. O velho preconceito é um deles. A língua é até mais afiada que a sua. Fala feito matraca! E eu sou a romântica incondicional do bairro, amar é o meu vício!

Amo sim. Quem nunca amou e teve esperanças de viver a vida com esta pessoa?

Acho que vou quebrar muito a cara ainda até vir aquela pessoa disposta a amar também. - Pensava muito assim. Agora parei. Já quebrei muito cara, amanhã e depois vou quebrar mais o que?

É assim mesmo, dizem que quem tem amor de sobra para dar só para quando o coração entra em acordo com a razão e diz chega de sofrer. É capaz dela me dizer para ler um bom livro, e olha que em cima da cômoda tem duas antologias boas para eu ler!

Bom dia, o café me espera e eu tenho muitas coisas para fazer. E lá vem mais um Natal, é novembro, finados já passou. O tempo voa mesmo. Como se o tempo fosse um pássaro rumo ao sul. Agora preciso ir. O tempo passa e o relógio não falha.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Fabiane Braga Lima (Adeus minha querida!)

Olhei  profundamente em seus olhos, então ele desviou o olhar. Parecia estar envergonhado, ou fugindo de algo, ou de alguém. E eu não sabia do que ou de quem. Foi então que percebi. E pensei: — Enzo não me ama mais, aliás, já faz tempo, que percebi a distância entre nós dois!

Infelizmente, percebi como a nossa relação, tinha esfriado, já não dormíamos juntos há muito tempo, não nos tocávamos mais e nem ao menos nos beijávamos. De repente, a campainha toca, era uma bela mulher, deveria ter uns vinte e cinco anos de idade. Alguma colega de trabalho dele, talvez.

Enzo surgiu por detrás de mim e de repente o meu mundo desabou. Eles se beijaram perdidamente, a poucos centímetros de mim.

— Lena, esta é minha namorada, queria lhe falar! — Foi a única coisa que Enzo me disse. Ele, que nunca teve tempo para me escutar. E agia como se eu não existisse

— Mentira! — Gritei alto.

— Não querida, há tempo que durmo no sofá, pois você detesta o meu cheiro. Lembra? — Disse Enzo com desprezo.

—Mentira! —  Gritei novamente, tentando me enganar, não aceitando a realidade diante de mim.

— Adeus querida! Cuide-se.
Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Minha Estante de Livros (A Volta de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs)


É um romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1915, é o segundo de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Após renunciar ao título de Greystoke em Londres, um triste Tarzan retorna a Paris. Seu amigo Paul D'Arnot, convencido de que o herói não vai conseguir assimilar as leis e regras dos homens, arranja para ele um emprego no serviço secreto francês.

Em missão na Argélia, Tarzan desbarata uma rede de espiões russos e faz amizade com uma tribo de beduínos. Mas trava conhecimento, também, com Nicholas Rokoff, um feroz inimigo. Rokoff acaba por atirá-lo ao mar, na mesma costa ocidental da África onde fora criado.

O homem macaco, então, junta-se à tribo Waziri em uma viagem à procura da cidade perdida de Opar, onde são capturados pelos seus habitantes, brutamontes semelhantes a feras. A Grã-Sacerdotisa de Opar, no entanto, é uma beldade cruel e lasciva chamada La, que se apaixona por ele e, em decorrência disso, recusa-se a entregá-lo em sacrifício ao deus sol.

Tarzan consegue fugir, mas o que ele não sabe é que sua adorada Jane, seu primo - e noivo de Jane - William Cecil Clayton, e o arqui-inimigo Nicholas Rokoff - disfarçado como o gentil Monsieur Thuran - também naufragaram na costa africana. Jane e William deixam um doente Rokoff numa palhoça e partem à procura de ajuda. Contudo, voltam a correr perigo, pois são caçados pelos selvagens de Opar, que procuram novas vítimas para seus rituais pagãos.

HISTÓRIA EDITORIAL

Escrita de dezembro de 1912 a 8 de janeiro de 1913, com o título de Monsieur Tarzan, a obra foi submetida à revista pulp norte-americana New Story como The Ape Man e publicada por esta em sete números, entre junho e dezembro de 1913, já com o título definitivo.

A primeira edição em livro saiu em 10 de março de 1915, pela editora A.C. McClurg.

No Brasil, o romance foi lançado pela Companhia Editora Nacional em 1933, como o número 7 da afamada coleção Terramarear, com quinze mil exemplares. Houve reedições em 1946, 1948, 1954, 1956, 1959 e 1968, em quantidades que variaram entre quinze mil, dez mil e cinco mil exemplares.

Ainda no Brasil, romance saiu em 1959 pela CODIL - Companhia Distribuidora de Livros, dentro de um lote de doze volumes com as aventuras do homem macaco. O artista Manoel Victor Filho ilustrou a edição.

QUADRINHOS

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, entre 3 de junho e 17 de agosto de 1929, com desenhos de Rex Maxon e roteiro de R. W. Palmer.

A primeira edição para revistas em quadrinhos é de autoria do ilustrador Russ Manning e do roteirista Gaylord Du Bois, tendo sido publicada nos Estados Unidos pela Gold Key (selo da Western Publishing) em fevereiro de 1966. A adaptação, bastante condensada, omite as aventuras na Europa e tem início com Tarzan já na costa africana. No Brasil, a história foi publicada pela EBAL em 1968, na coleção Lança de Prata, e reeditada em 1986 na revista Tarzan.

Entre abril e setembro de 1973, a DC Comics publicou sua adaptação, ilustrada e roteirizada por Joe Kubert. No Brasil, a EBAL editou a história no ano seguinte, enquanto a Devir relançou-a em março de 2011, com o título alterado para A Volta do Rei das Selvas. Mais fiel ao original, a aventura começa em Paris. A editora Dynamite Entertainment adaptou livro em Lord of the Jungle #9-14, publicada entre 2012 e 2013.

Em 1936, a Withman, selo da Western Publishing publicou uma adaptação para a série de livros ilustrados Big Little Books com desenhos de Rex Maxon.

CINEMA E TV

O romance foi vagamente adaptado para o cinema em The Revenge of Tarzan, de 1920, estrelado por Gene Pollar e Karla Schramm. Segundo os produtores, o novo título, decidido às portas da estreia, "é mais forte. É mais dramático. É como um soco".

O enredo do livro foi utilizado, em parte, no seriado em quinze episódios The Adventures of Tarzan, de 1921, com Elmo Lincoln e Louise Lorraine. O roteiro era composto ainda por elementos de Tarzan and the Jewels of Opar e "muita invenção". Lincoln tornou-se o primeiro Tarzan do cinema ao estrelar Tarzan of the Apes e The Romance of Tarzan, ambos em 1918.

O livro também teve serventia esporádica para o roteiro de Tarzan's Return, o piloto da telessérie Tarzan: The Epic Adventures, produzida entre 1996 e 1997. Estrelada por Joe Lara e sem Jane, a série teve vinte e dois episódios em sua temporada única.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Return_of_Tarzan

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Vanice Zimerman (Tela de versos) 18

 

Coelho Neto (O Relógio e o Vegete*)

*Vegete: [Gíria] Homem velho e ridículo.

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Sabia certo filósofo da vaidade de um seu amigo que, sendo septuagenário, procurava, a todo modo, fazer-se passar por moço. Pintava-se e, só para este artifício, tinha uma enorme bateria de frascos. Os cosméticos eram às dúzias e, no toucador, os bastões rolavam às pilhas e eram potes de pomadas, caixas de polvilhos, ferros, escovas, limas e tesouras. Todos os dentes postiços lembravam as imagens funerais com que, sobre os túmulos, se recordam os finados e o busto, que corcovava (
curvava), era mantido a prumo pelas lâminas de aço de um colete.

Certa manhã, procurando-o o filósofo, achou-o atarefado em remoçar-se. Afundou na primeira poltrona com um livro e, enquanto o velho reparava os estragos da velhice, fingiu-se interessado na leitura.

Um momento saiu o pachola (
vaidoso) e logo o sábio, pé ante pé, foi ao grande relógio, cujos ponteiros marcavam o meio-dia, e parou-o. Reapareceu o velho sarapintado e ajeitado em quarentão, teso e liso, os cabelos e a barba de azeviche (cor muito preta), mas os olhos ... ai! deles, já vasquejavam (tremulavam) no fundo escavado das órbitas.

Saíram para o almoço. À mesa a palestra foi longa: o velho falou de amores, referindo-se a galantes aventuras; o filósofo sorria, gabando-lhe a fortuna.

Subia o calor — não só do sol como dos vinhos e licores, que foram vários e copiosos.

Passaram ao terraço e, tão doce era o ar em tal recreio, tão cômodo era o recosto mole das poltronas, tão capitoso (
embriagante) era o perfume do jardim, que ali se ficaram os dois discreteando (discorrendo com discrição) suavemente, com cabeceios de sono que os faziam mesurar de quando em quando.

Lenta vinha vindo a tarde e o velho, que não desonrava os fingimentos, tornou à câmara a refazer, com unguentos o cosméticos, o que o suor comprometera.

Ao entrar, porém, consultando o relógio, pasmou de o ver parado.

— Parado o relógio!

– Parei-o eu. – disse serenamente o filósofo.

– Tu! Com que fim?!

— Desejando tornar mais longo o nosso convívio, não quis que os ponteiros ganissem do meio-dia.

Dobrou-se o velho a rir do que lhe parecia grande necedade (
tolice).

— Temos um novo Josué! Julgas, então, que, parando o relógio, deténs a marcha das horas?

— Não rias, porque foi contigo que aprendi tal lição.

— Comigo?

— “Sim. contigo. Infelizmente, porém, estou convencido do meu erro e peça a Deus que o mesmo lhe aconteça. Parando o relógio ao meio-dia nem por isso consegui evitar que as sombras da noite viessem sobre nós. Elas aí estão, e pesadas, apesar do estratagema. Mira-te agora ao espelho, tu. Não fazes em ti o mesmo que fiz ao relógio ?

“Olhando os ponteiros dá-se logo pela inércia da máquina, porque ninguém se engana com o tempo. Assim, quem te vir, ainda que te besuntes com todos os óleos da terra e tinjas os cabelos com todos os preparados químicos, não se iludirá com a fraude. Queres fixar a mocidade como eu quis reter o tempo, parando o relógio, que lá está imóvel no zênite sem que, por isso, refuta ao negror da noite que já o vai cercando.

“O Tempo é como o sol, meu amigo: ninguém o esconde, não há rebuços que o encubram. É meio-dia no relógio e já por aí andam a trissar (
cantar) morcegos. Assim tu — fazes-te moço, escondes a verdade e ela ressalta flagrante em todo o teu corpo. Vamos lá, meu amigo, não nos queiramos iludir opondo tropeços ao que não para. Podes enterrar um raio de sol? Foi este um sonho que Averróis (filósofo espanhol 1126 – 1198) tentou inutilmente. Deixa-te de artifícios — lava-te e aparece como és — enquanto eu vou acertar o relógio, pondo-lhe os ponteiros sobre as horas que são.”

Fonte:
Disponível em domínio público.
Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão, 1924.
Atualização do português por J. Feldman

Atílio Andrade (Poemas Avulsos)

CAMINHEIRO


Caminheiro! Abanca-te, descansa!
Depois , segue,
Teu doloroso caminho.

Olha a poeira ao longo da estrada!
É  fina... impura...
E tu vagueias por ela.

Respiras d'uma só  vez
Todo o ar da tua vida.
Agora para e sinta o deleite
Deste teu desconhecido.

E no acalanto  deste tugúrio,
Silencioso, procures  ouvir
O doce  murmúrio,
Das correntes que vozeiam:

- Não, não  vás  agora!
Primeiro encontre teu caminho,
Depois jornadeie tranquilo
Nas sendas da vida.
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MANHà DE SOL

A manhã  sorria, risonha e perfumada.
Na cascata da encosta
As águas límpidas e cristalinas...
Chicoteavam o silêncio.
As árvores balançavam, verdes e orvalhadas.
O vento enlaçava - as...
Soprando o perfume perfumado das manhãs...
Era manhã.  E por detrás da encosta
Vermelho... Vivo...
Crescia o sol.
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PORTAS

Todo dia se abrem portas.
Mas,
Portas se fecham todo dia.
Também.
Porque fechamos ou abrimos
Se nunca estiveram lá.
Nós,  é  que  colocamos
E,
Procuramos dificultar...
O acesso na avestruz "cidade"
Que povoa nossa mente
E partilhamos  o imponderável  
Que necessitamos, no controlar
Das portas de nossa vivência,
Escorada, apenas
na bengala de nosso fraquejar.
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QUEIMA

O fogo,
cor do inferno...
consumiu tudo
no inverno.

A chuva veio e,
tudo lavou e levou.
A cinza do enleio
ao pó retornou.

A sábia natureza
que nunca mente,
fez brotar a beleza
da mais profunda  "semente "

E o verde, cresceu novamente!
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VALE

Rompe  veloz  
e assassina....
A mancha da Vale
que mina.
E acima de tudo,
se foram,
os sonhos....
construidos.
Num estrondo
medonho....
A Vale que era doce
amarga o luto ,
que espelha o mundo
da vergonha repetida....
Ceifando vidas...
na lama...   
que envergonha,
a montanha,
que minera...
O homem altera,
explora...admira...
um dia a natureza,
carrancuda  e severa
a conta, espera.
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VALSA DA LUA

A lua fria e sozinha
Vagava
Valseando
No
Espaço
Vazio...
Tão  perto de nós
Tão  longe de tudo
Prateava os céus...
Brilhando sozinha
A virgem dos vates.
Por cima de tudo
Pairava
Zombando
Zombando de nós.
Incendiava olhares
Brincando nos céus...
Brilhante  prateava,
Do alto os amantes
Perplexos
Que a viam
Tão  branca
Nos céus.
E toda orgulhosa
A noiva do sol
Plácida,  serena,
Valseava nos céus.
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Atílio Andrade é  filho de Joaquim Andrade e Ema Gusso, nascido em 1949, em Tomazina/PR. Família de 12 irmãos. Em 1969, foi para Curitiba com o intuito de arrumar um trabalho e, ingressar em uma faculdade. Até então, com seus 19 anos era lavrador onde sonhava em meio aos cafezais, de Tomazina,  dias melhores. Trabalhou na Impressora Paranaense, Bamerindus, Petrobrás  Distribuidora e também foi professor  de português primeiro e segundo graus. Em 1999 aposentou-se  pela Petrobrás Distribuidora.

Em 1973 iniciou o curso de letras português na PUC,  licenciando-se em 1976. Em 1986 licenciou-se em Ciências  Contábeis.

Em 1977 publicou seu primeiro livro "Passarela", editado pelo jornal e editora Esquema Oeste de Guarapuava/PR. Participou de diversas coletâneas  e teve poemas publicados em alguns jornais, por esse Brasil afora.

Em 2015, com auxílio da filha Stely, participou dum processo seletivo da Fundação  Cultural de  Curitiba onde seus poemas foram aprovados e com o apoio financeiro da lei de inventivo  à cultura,  voltou a escrever e publicou "Passarela um novo olhar", onde a maioria dos poemas são do livro Passarela, agora, sob um novo olhar.

A chama de escrever voltou  mais forte e hoje tem  livros de poemas, contos ou crônicas  do dia a dia que pretende  em breve desengavetá - los.


Fonte:
Biografia enviada por Isabel Furini.
Poemas obtidos do livro Passarela Um novo olhar, enviados por Isabel Furini e alguns obtidos no facebook com o mesmo nome do livro.

Contos e Lendas da África (Ga’So, o professor)

(por George W. Bateman)


Certa vez viveu um homem chamado Ga’so, que ensinava as crianças a ler, não em uma escola, mas debaixo de uma cabaceira. Uma noite, Ga’so estava sentado debaixo de sua árvore, preparando as aulas para o dia seguinte, quando Paa, a gazela, subiu silenciosamente no tronco dessa mesma árvore para apanhar alguns frutos. Ao fazer isso, sacudiu um dos galhos e derrubou uma cabaça madura, que acertou a cabeça do professor e o matou.

Na manhã seguinte, os alunos encontraram o professor morto no chão e foram tomados de tristeza. Após um respeitoso funeral, concordaram em encontrar o assassino e fazê-lo pagar com sua vida.

Depois de muito discutirem, chegaram à conclusão de que o culpado era o vento do sul.

Então capturaram o vento do sul e o espancaram.

— Parem! Eu sou Koosee, o vento do sul. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Koosee. Foi você quem derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Koosee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria bloqueado por uma parede de barro?

Então foram até a parede de barro e a espancaram.

— Parem! Eu sou Keeyambaaza, a parede de barro! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Keeyambaaza. É você quem bloqueia Koosee, o vento do sul. E Koosee derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Keeyambaaza se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria roída pelo rato?

Então capturaram o rato e o espancaram.

— Parem! Eu sou Paanya, o rato! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paanya. É você quem rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Paanya se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria comido pelo gato?

Então capturaram o gato e o espancaram.

— Parem! Eu sou Paaka, o gato! Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paaka. É você quem come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Paaka se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria amarrado por uma corda?

Então apanharam a corda e a espancaram.

— Parem! Eu sou Kaam’ba, a corda. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Kaam’ba. É você quem amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Kaam’ba se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria cortada por uma faca?

Então apanharam a faca e a espancaram.

— Parem! Eu sou Keesoo, a faca. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Keesoo. Você corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Keesoo se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria queimada pelo fogo?

Então foram até o fogo e o espancaram.

— Parem! Eu sou Moto, o fogo. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Moto. Você queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Moto se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria apagado pela água?

Então foram até a água e a espancaram.

— Parem! Eu sou Maajee, a água. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Maajee. Você apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Maajee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria bebida pelo boi?

Então foram até o boi e o espancaram.

— Parem! Eu sou Ng’ombay, o boi. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

—Sabemos que você é Ng’ombay. Você bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Ng’ombay se defendeu:

— Se eu fosse tão poderoso, seria atormentado pela mosca?

Então capturaram a mosca e a espancaram.

— Parem! Eu sou Eenzee, a mosca. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Eenzee. Você atormenta Ng’ombay, o boi, que bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

Eenzee se defendeu:

— Se eu fosse tão poderosa, seria comida pela gazela?

Então foram atrás da gazela, que foi capturada e espancada.

— Parem! Eu sou Paa, a gazela. Por que me batem? O que eu fiz?

E os meninos responderam:

— Sabemos que você é Paa. Você come Eenzee, a mosca, que atormenta Ng’ombay, o boi, que bebe Maajee, a água, que apaga Moto, o fogo, que queima Keesoo, a faca, que corta Kaam’ba, a corda, que amarra Paaka, o gato, que come Paanya, o rato, que rói Keeyambaaza, a parede de barro, que bloqueia Koosee, o vento do sul, que derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Não devia ter feito isso.

A gazela ficou paralisada ao perceber que havia sido descoberta e sofreria as consequências pela morte acidental do professor.

Os alunos continuaram suas acusações:

— Vejam só! Não é capaz de dizer uma palavra sequer para se defender. Foi ela mesma quem derrubou a cabaça e matou Ga’so, nosso professor. Vamos pegá-la!

E assim mataram Paa, a gazela, e vingaram a morte de seu professor.

Fonte:
Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 1. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC. Distribuição gratuita.

domingo, 11 de junho de 2023

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) – 30: Camuflagem

 

Caio Riter (Direito à fantasia)

Um dia fui criança. Fui. E se falo assim, no passado, apesar de um pequeno ainda habitar meu coração, é porque a infância passa e o que fica dela é a nostalgia do ter sido. Ou do não ter sido também.

Fui criança, não daquelas arteiras, levadas. Fui menino tranquilo, de não muitas peraltices, de trabalho pouco dando aos pais. Fui criança triste. Pelo menos, é o que diviso nas poucas fotos do guri que, por vezes, me olha de algum lugar do ontem.

Fui criança de imaginações. E se o fui, foi pelo pouco que a rua daquele bairro de periferia me ofertava. Eu queria algo mais. Um algo mais nutrido pelo tanto de leitura que invadia meus dias pouco diferenciados. Tudo muito igual, tudo sempre igual. Gibis, pulp fictions, fotonovelas e, depois, os livros foram me mostrando que a vida podia ser mais, bem mais. Foi me revelando que havia outros mundos possíveis, além da mesmice do meu, e que, se as condições minhas não permitiam vivenciá-los, as páginas dos livros possibilitavam que eu fosse árabe, africano, mulher, velho, cachorro, enfim o que quisesse ou pudesse. A fantasia e a imaginação me ensinando que o sonho é possível.

Fui criança de poucos amigos, fui criança de poucos dizeres, talvez mais assuntando a vida do que vivendo-a; talvez mais desejando o altero do que sendo-o.

Fui criança e, à realidade de parcos recursos, fui dando outros sentidos. Assim, um pedaço de pau podia ser o cavalo de Napoleão; uma caixa de fósforos vazia, a biga de Ben-Hur; um buraco cavado no meio do jardim, a toca do coelho que me conduziria ao País das Maravilhas.
Fui sendo.

Por isso, por vezes, me surpreende que muitas crianças hoje só consigam ser crianças rodeadas de uma parafernália tecnológica que pouco lhes oferece de fantasia. Somos mais crianças à medida que somos capazes de imaginar, de criar do nada o todo.

Fui criança e sei que a realidade é outra, que o mundo é outro, que ser criança é outra coisa para muitos. Sei de tudo isso, mas sigo crendo (talvez de forma sonhadora demais) que a criança (não, a criança não, o ser humano) necessita da fantasia para ser mais e mais humano.

Fonte:
Blog do escritor. 8 agosto 2014.
https://caioriter.blogspot.com/2014/08/fui-crianca.html

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXVI


Ama a escola que produz,
essência, que não se estraga;
saber, é a perpétua luz,
que acesa, jamais se apaga!
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A vida é eterna proeza;
é luz que, na caminhada,
mantém a esperança acesa
até no fim da jornada!
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Contemplo na noite calma,
luzes no céu!... Logo ao vê-las...
Parece até que minha alma
sente-se repleta de estrelas!
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Da antiga praça, ainda vive,
restos, na lembrança minha,
daquela infância que eu tive
nos passeios da pracinha!
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Da infância, carrego os traços
nesses ditongos de luz,
que brilham presos nos braços
dos braços de minha cruz!
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Daquele caminho estreito,
pisoteado por nós dois,
quanta lembrança em meu peito,
já tanto tempo depois!...
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Depois do fogo que passa,
deixando cinza e borralho,
a dor da planta se abraça
aos braços de cada galho!
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Dizer - eu te amo, tu dizes;
mas, por amor, tu caçoas.
Se eu perdoar teus deslizes,
sei que tu não me perdoas!
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É Natal!... Que noite linda!
Noel, esquece... afinal,
que há muita criança ainda,
sem saber o que é Natal!...
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Entendo que o outono é nobre,
bem mais que inverno e verão;
no outono é que se descobre
quanto é sábia a solidão!
= = = = = = = = = = =  

Esse orgulho que te exalta,
rouba-te a luz da razão!...
Vê, que a luz do Sol, tão alta,
é humilde, ao beijar o chão!
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Na ausência, a dor, que mais cresce,
que dobra a dor que se sente,
começa com a letra "esse"
com que se escreve serpente!
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Nas covas, de um campo santo,
o que existe de verdade,
são poucas gotas de pranto,
muitos litros de saudade!!!
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No mosteiro abandonado,
um velho monge, sem trono,
ouve as preces do passado,
na voz das preces do outono!
= = = = = = = = = = =

O adeus, nem sempre, é uma afronta;
mas, se ele for displicente,
dói feito um punhal sem ponta
que fura o peito da gente!
= = = = = = = = = = =  

O arrebol, de alma secreta,
à tarde, sempre nos diz:
quem tem alma de poeta
mesmo em silêncio, é feliz!
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O mar, desperta e desvenda
que a praia, feliz se enleia,
na camisola de renda
que a espuma tece na areia!
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O pôr do sol me diz algo,
toda tarde, ao fim do dia:
- Que o Sol, é um velho fidalgo
e poeta da nostalgia!
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O tempo é um remédio santo,
para qualquer dissabor...
Cura o tédio, cura o pranto
e as cicatrizes do amor!
= = = = = = = = = = =  

Ouço, mãe, a ressonância
de tua voz tão sentida;
- bálsamo de nossa infância,
- remédio por toda a vida!
= = = = = = = = = = =  

Por favor, não te aborreças,
se me esperas tanto assim;
é bom para que tu cresças
sem te esqueceres de mim!
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Quando a noite, se rebela,
e é cada vez mais escura,
a saudade me atropela
e a solidão me procura!
= = = = = = = = = = =  

Quando o tempo, em seus afãs,
nosso viver, amordaça...
A luz do Sol, das manhãs,
brilha, e aos poucos, perde a graça!
= = = = = = = = = = =  

Quem ao divino se apega
e segue a divina luz...
Esquece a cruz que carrega
E aceita o peso da cruz!
= = = = = = = = = = =  

São tantas nossas cantigas,
tornando as horas, amenas,
que velhas mágoas antigas
deixam de ser nossas penas!
= = = = = = = = = = =  

São tantas velhas lembranças
marcando o passo ao meu lado,
que na voz das horas mansas
ouço a voz do meu passado!
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Se a casa é pobre e sofrida,
mas, tem um bem de valor:
a massa do pão da vida,
feita das sobras do amor!
= = = = = = = = = = =  

Se a justiça, é cega e justa,
por que nos seus tribunais,
nas decisões, não se ajusta,
se somos todos iguais?
= = = = = = = = = = =  

Se a sorte, quando te acerta,
rouba o pouco que era teu,
tu não tens sorte, e na certa,
a sorte, nada te deu!
= = = = = = = = = = =  

Se Deus pôs tanta poesia
nas versos do sol nascente,
por que tanta nostalgia
nos poemas do sol poente?!...
= = = = = = = = = = =  

Se eu não sou livre, em verdade,
nada eu reclamo de Deus;
vivo a eterna liberdade,
nas asas dos versos meus!
= = = = = = = = = = =  

Sem saber a dimensão
desta força que me guia,
vou revestindo o meu chão
com retalhos de poesia!
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Se tu tens outras propostas,
volta logo, por favor,
que há sempre sábias respostas
nos recomeços do amor!
= = = = = = = = = = =  

Sonhar contigo, me acalma;
e o sonho, que é vã quimera,
perfuma as mãos de minha alma
e quebra os laços da espera!
= = = = = = = = = = =  

Tua foto envelhecida
num silêncio, que tortura,
guarda da infância da vida
reticências de ternura!
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Uma flor sempre nos fala
de plenitude e de paz,
pelo aroma que ela exala,
ou pelo bem que nos faz!
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Um verso bom que desliza
na mente sã de um poeta,
revela o que se precisa,
na trova que se completa!

Fonte:
Enviado pelo trovador.
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.

João do Rio (Velhos Cocheiros)

Outro dia, ao saltar de um tilburi no antigo Largo do Paço, vi na boleia de um vis-à-vis pré-histórico a ventripotência (
que tem estômago forte) colossal de um velho cocheiro. As duas mãos gorduchas à altura do peito como quem vai rezar, enfiado numa roupa esverdeada, o automedonte (cocheiro) roncava. Seria uma recordação literária ou a memória de uma fisionomia de infância? Seria o cocheiro da Safo, o irmão mais velho de Simeon, ou simplesmente um velho cocheiro que eu tivesse visto na doce idade em que todas as emoções são novas? Era difícil adivinhar. Para os cérebros cheios de literatura, a verdade obumbra-se (nubla-se) tanto que é sempre preciso perguntar por ela como o fez Poncius Pilatos diante de Deus.

Fui para perto do vis-à-vis, bati na perna do velho. Estava feio. O ventre, um ventre fabuloso, parecia uma talha que lhe tivessem entalhado ao tronco; as pernas, sem movimento, pendiam como traves. Os braços, extremamente desenvolvidos, eram quase maiores que as pernas, e a cara vermelha, com tons violáceos, lembrava os carões alegres do Carnaval. Abriu, entretanto, uma das pálpebras com mau humor e resmungou:

– Pronto!

– Então você não me conhece mais?

– Eu não, senhor.

– Pois eu conheço a você desde menino.

Ele abriu de todo as pálpebras pesadas, um sorriso de alegre bondade passou-lhe pelo lábio.

– Saiba vossa senhoria que bem pode ser! Toda essa gente importante de hoje eu conheci meninos de colégio!

Não sei por que estava meio emocionado.

– E já fez ponto na Estrada de Ferro?

– Há vinte anos, eu e o Bamba.

Encostei-me à boleia do antigo vis-à-vis. Havia vinte anos sim, havia vinte anos que no passar pela estação de carros os meus olhos de criança se fixaram curiosamente na fisionomia jocunda (
alegre) de um velho, que já naquele tempo era velho e já naquele tempo gravemente roncava na boleia de um carro! Havia vinte anos.

É como lhe digo, afirmava ele. Conhece a filha do barão de Cotegipe? Eu vi aquela santa criatura menina. Conhece o filho do grande ministro João Alfredo? É meu amigo, dá-me dinheiro sempre que vem ao Rio. Olhe, há de conhecer o Dr. Fernando Mendes de Almeida e mais o irmão Dr. Cândido. Pois quando eu servia o pai, eles eram meninos de colégio. Há meses eu disse ao Dr. Fernando tudo isso e ele foi dar um passeio no meu carro e deu-me doces, vinho do Porto, dinheiro. Estava admirado e ria...

– Como se chama você?

– Braga, eu sou o Braga.

Pobre velho cocheiro a quem se dá como às crianças doces de confeitaria! Eu continuava encostado ao vis-à-vis, imensamente triste e com a mesma curiosidade de criança.

– Trabalho neste ofício desde 1870. Tinha vinte anos, quando comecei. Toda a minha mocidade foi acabada aqui.

– E não estás rico?!

– Rico?

Soltou uma gargalhada sonora que lhe balançou o ventre e avermelhou mais. Os seus olhos pequenos olhavam-me da boleia com superioridade compassiva. É difícil encontrar um cocheiro de carro que tenha feito fortuna. Enriquecem os de carroça, os de caminhões. De carro, se citam dois ou três em trinta anos. O ofício, longe de tornar ágeis os corpos, faz lesões cardíacas, atrofia as pernas, hipertrofia os braços, de modo que quinze anos de boleia, de visão elevada do mundo, ao sol e à chuva, estragam e usam um homem como a ferrugem estraga o aço mais fino. O Braga era um velho trapo encharcado. Tanto ádipo (
relativo à gordura) dava-me a impressão de que o pobre velho devia ter água nos tecidos.

Eu continuava a ouvi-lo. Naquela boleia falava um cultor do quietismo, um renanista (
relativo a Ernesto Renan) que tivesse compreendido o nirvana. Nem uma ambição, nem um ódio: apenas um sorriso de quem não se rala com a vida e vem para a rua almejando não encontrar fregueses, para dormir mais à vontade.

– Ah! Este carro! – murmurei. – Quanta história podia você contar. Quantas cenas de amor, quantos beijos, quantas angústias e quantos crimes!

– Este carro não; outros, ou antes, eu. Fui de cocheira, fui de casa particular e trabalhei por minha conta. Quando caiu o ministério João Alfredo fui eu quem o levou ao Paço. Agora essas coisas de beijos – noutro tempo era nas berlindas.

– Tinha vontade de saber a sua opinião.

Ele arregalou muito os olhos.

– A respeito de beijos? Sei lá!

– Não, a respeito da Monarquia e da República.

Ele sorriu, pensou.

– A Monarquia tinha as suas vantagens. Era mais bonito, era mais solene. Não vá talvez pensar que eu sou inimigo da República. Mas recorde por exemplo um dia de audiência pública do imperador. Que bonito! Até era um garbo levar os fregueses lá. Ó Braga, onde estiveste? Fui à Boa Vista! Hoje todo o mundo entra no palácio do Catete. Não tem importância... É verdade que o Obá entrava no Paço. Mas era príncipe. E então para conhecer homens importantes! Não precisava saber-lhes o nome. Os ministros tinham uma farda bonita, o imperador saía de papo de tucano. Bom tempo aquele! Hoje a gente tem de suar para conhecer um ministro. Parecem-se todos com os outros homens.

– Talvez não sejam, Braga.

– Quanto às capacidades não digo nada...Mas veja. Por estar perto da secretaria é que conheço o Müller, um magro, que reforma a cidade. E de todo o ministério só ele. Se isso era possível em 1880! Depois, quer saber? A República trouxe a Bolsa, uma porção de cocheiros estrangeiros, uns gringos e ingleses de cara raspada, com uns carros que até nem eu lhes sabia o nome!

Despegou as mãos de sobre o peito.

– E vão morrendo todas as pessoas notáveis, já não há mais ninguém notável. Só restam o sr. visconde de Barbacena, o sr. marquês de Paranaguá e mais dois outros.

Houve uma longa pausa. Como este cocheiro estava do outro lado da vida! Quinze anos apenas tinham levado o seu mundo e o seu carro para a velha poeira da história! Ele falava como um eco, e estava ali, olhando o boulevard reformado, pensando nos bons tempos das missas na catedral e das moradas reais, hoje ocupadas pela burocracia republicana.

– O Braga é o mais velho cocheiro do Rio?

– Não senhor; é o Bamba, que começou em 1864.

Neste momento, outros cocheiros moços, limpos, de grandes calças abombachadas foram aproximando os carros, com vontade de saber o que retinha um cavalheiro tanto tempo a prosar com o velho. Logo se fez um barulho de rodas e de vozes.

– Ó Braga, ó velho, despacha o freguês! Tem aqui um carro bom, vossa senhoria! O Braga, posso servir?

Braga cruzou outra vez as mãos no peito, com um sereno olhar indiferente. Que dor o havia de trespassar! Murmurei com pena:

– Bom, adeus, meu Braga. E onde para o Bamba?

– Na Estrada, para na Estrada. Às ordens do menino, respondeu ele do alto.

Já agora era impossível deixar de ver o outro, de conhecer o mais antigo cocheiro do Rio! Tomei um bonde da Central. A tarde morria em lento e vermelho crepúsculo. No céu brilhava a primeira estrela trêmula e luminosa, e os combustores (
postes de iluminação pública)  acendiam a sua luz azul quando saltei na Praça da Aclamação. E foi um grande trabalho. Eu ia de carro em carro.

– Pode informar onde para o Bamba?

Uns diziam que o Bamba caíra e fora para o hospital, outros, os moços, riam de que se fosse procurar um cocheiro inútil como o Bamba, outros asseguravam que o velho não trabalhava mais. Afinal, quase defronte da porta do Quartel, encontrei um landau (
Carruagem de quatro rodas, que tem no interior dois bancos frente a frente) empoeirado, desses que parecem arcas e acomodam à vontade seis pessoas.

Da boleia um mulato velho falava para um gordo ancião, muito gordo, muito estragado...

– Sabe você dizer quem é e onde está o Bamba?

O mulato riu.

– É este, patrão...

O gorducho abriu a boca, onde faltavam os dentes.

– Já não trabalho de noite: tenho 70 anos. Não vejo. Desde 1864 que estou no serviço. Outro dia quase morro; caí da boleia. Tenho as pernas duras.

– Bamba, meu velho...

– Sou o primeiro cocheiro, o mais velho, não há nenhum mais velho...

Eu voltei-me para o mulato, interroguei-o quase em segredo:

– Mas que diabo vem ele fazer aqui, assim?

O mulato sorriu com tristeza.

– Sei lá! É o cheiro, vossa senhoria, é o cheiro! Quando a gente começa nesta vida, não pode viver sem ela...É o cheiro.

A praça vibrava numa estrepitosa animação, os combustores reverberavam em iluminações fantásticas, e, só, no céu calmo, como uma hóstia de tristeza, a velha lua esticava a triste foice do seu crescente.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
João do Rio. A Alma Encantadora das Ruas. Publicado originalmente em 1908.

O mercado editorial sob a ótica dos escritores (Caio Riter em Xeque)


Caio Riter nasceu em Porto Alegre. Escritor, doutor em Literatura Brasileira e pós-doutorando em Escrita Criativa, publicou mais de 60 livros, dentre eles infantis, juvenis, contos e poesias. Recebeu diversos prêmios, incluindo os prêmios Açorianos, 1º Barco a Vapor, Ages – Livro do ano, Orígenes Lessa, Ofélia Fontes, além do Selo Altamente Recomendável da FNLIJ. Teve seus livros inclusos nos Catálogos de Bolonha e White Ravens. Vários de seus livros foram selecionados para programas governamentais, como o PNBE e o Kit Escolar BH. Além de escritor, é professor e ministra oficinas, cursos e palestras sobre criação literária por todo Brasil.

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Publicar um livro é um sonho de muita gente, o que faz com que amantes da leitura e da escrita por vezes caiam em grandes armadilhas. Para discutir este complexo mercado editorial, ainda mais em tempos de livros digitais, iniciamos hoje uma série de entrevistas com escritores de diferentes trajetórias sobre carreira, publicação e o futuro do livro. A primeira entrevista é com Caio Riter, professor, escritor premiado, com diversos livros recomendados pelo PNBE e presidente da Associação Gaúcha de Escritores.
 
Entrevista realizada por Marcelo Spalding

Como e quando surgiu a vontade de ser escritor? Você já iniciou publicando em livros?

Olha, quando puxo pela memória, não encontro um marco da minha decisão de ser escritor. Acho que a vontade foi se instalando aos poucos, veio devagarzinho e acabou se apossando graças ao tanto de livros que foram fazendo parte da minha vida como leitor. Aí, um rascunho aqui, outra ameaça de texto ali, fui começando a acreditar que poderia ser escritor, que poderia ser lido também. Então, fiz oficina literária com o Assis Brasil na PUC. Porém, minha primeira publicação individual, ocorreu apenas em 1994, com o livro infantil, hoje esgotado, "Um Palito Diferente".

Você tem livros publicados por importantes editoras, mas iniciou publicando por conta própria. Quais as principais vantagens de estar vinculado a uma editora tradicional?

Na verdade, meus dois primeiros livros, "Um Palito Diferente" e "A menina que virou bruxa" não foram edições por conta própria. Foram publicados pela Editora Interpretavida, que estava iniciando seu plano de edições. A editora, infelizmente, durou pouco, publicando um catálogo bastante pequeno. Após isso, é que acabei me vinculando ao projeto de edição da WSEditor. Em 2005, parei de editar por conta própria, publicando livros com a Artes e Ofícios e com a Paulinas. Hoje publico por mais de dez editoras. Creio que publicar por uma editora comercial, cujo processo de edição envolve várias pessoas, depende de muitos aceites, acaba por dar ao texto maior credibilidade junto ao público e junto à crítica, embora o meu primeiro livro premiado, "A cor das coisas findas", ter sido publicado, inicialmente, por conta própria. Além disso estando no catálogo de um editora tradicional sempre é maior possibilidade de distribuição, e isso acaba fazendo com que o livro possa cumprir, de forma mais intensa, sua função primeira: ser lido pelo maior número de pessoas possível.

Vamos falar um pouco sobre as editoras tradicionais. Como você chegou à primeira publicação? Foi enviando originais às editoras ou foi pelo Barco a Vapor?

Meu primeiro texto publicado por editora tradicional foi através do envio de um original para a Paulinas (na verdade, enviei três e um foi aceito: "O fusquinha cor-de-rosa"). O segundo produzi por convite da Editora Artes e Ofícios. Porém, após vencer o Barco a Vapor, as coisas começaram a acontecer de forma mais tranquila. Várias editoras do centro do país e algumas do RS me procuraram interessadas em originais. Outras encomendaram textos que se adequassem a seus catálogos.

A partir de que momento você percebeu que sua carreira deslanchou? Foi a partir de algum prêmio importante?

O Prêmio Barco a Vapor foi fundamental em minha carreira. Fui o primeiro brasileiro a ganhá-lo e, quando isso ocorreu, editores do centro do país estranharam que eu já publicasse há dez anos, sem ser conhecido fora do RS.

Nas editoras tradicionais, como se dá o pagamento de cachê para a realização de palestras e oficinas em escolas?

Normalmente, o cachê está ligado ao número de livros vendidos, oscilando. Todavia, normalmente fixo um valor mínimo, a fim de não fragilizar o mercado, visto que entendo que visitar escolas e feiras não seja uma função do escritor. Escritor escreve, as demais atividades para as quais é convidado devem, portanto, ser remuneradas. Para fixar meu cachê, normalmente levo em conta o número de atividades, sua natureza, a distância do local do evento, o público.

Quanto as editoras têm oferecido de direito autoral para o escritor de livro infantil?

Meus contratos, em sua maioria, são de 10% de Direitos Autorais.

Para um autor reconhecido como você, vale mais a pena ser exclusivo de uma editora ou ter livros em diferentes editoras? Por quê?

Não curto exclusividade, embora já tenha recebido convite para tal. Creio que a não-exclusividade torna o autor mais livre para apostar em novos projetos, em novos públicos.

Você percebe alguma diferença importante entre publicar por grandes editoras nacionais ou com editoras regionais? Quais as vantagens e desvantagens das editoras nacionais?

Não há diferenças substanciais, pois as editoras gaúchas com as quais trabalho têm boa distribuição nacional. Hoje, o mais importante para o autor é mesmo a capacidade distributiva que as editoras têm, pois é a garantia de que seus textos estarão circulando e também disputando as compras governamentais em nível municipal, estadual e federal.

O que o autor deve cuidar no contrato da editora?

São tantos os detalhes. Eu sempre procuro garantir os 10% de DA, julgando que, caso algum ilustrador deseje DA, este deva ser negociado por ele com a editora e não comigo. Procuro que o contrato não seja por tempo muito longo, a fim de que, caso haja algum problema com a editora, o texto não fique atrelado por muito tempo a ela. Gosto também de olhar com certo cuidado os artigos que versem sobre tradução.

O que você responde para aqueles tantos que perguntam se dá para virar de literatura? E, acrescento eu, você acha que a publicação de livros impressos contribui com sua carreira profissional de professor?

Olha, se o escritor encarar a escrita como profissão, creio que viver de literatura é possível, sim. Para alguns, é mais fácil; para outros, mais difícil, tudo depende da forma como a carreira será conduzida. Depende dos prêmios ganhos, das vendas para governo que seus livros conquistaram. Quanto à tua segunda pergunta, sou daqueles que amam o livro impresso e que creem que eles terão vida longa. Sua existência é de suma importância para minha atividade como professor, afinal é o livro impresso que promete histórias ou poemas ao ser aberto em sala de aula. Há, ainda, certo encantamento com o abrir das páginas, e isso é fundamental na construção do ser leitor: a magia do abrir as páginas. Pode ser uma visão ingênua para muitos, mas para mim, como disse antes, é acreditar na magia, na sintonia que há entre o olhar que traduz as palavras e a mão que acaricia as páginas, que faz anotações. Adoro ler livros comentados pelos leitores anteriores a mim: eles narram histórias de leitura, caminhos, descobertas, que por vezes iluminam a minha, por vezes, contradizem minhas chaves de compreensão. E isso é rico demais. Sobretudo para quem pretende formar leitores.

sábado, 10 de junho de 2023

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 10

 

Camilo Castelo Branco (As ostras)


No Porto, as comoções que sacodem os nervos da grande cidade são raras, mas, se arrebentam, são a valer!

No princípio deste ano, estávamos todos quietos, com estas nossas caras cheias de ideal, grávidos de filosofias, hipocondríacos, ares ingleses, indigestos, mas, sobre tudo, bons vizinhos e inimigos de novidades.

A quarta página das gazetas andava, há muito, alugada aos vários barateiros, que se denominam numericamente como as dinastias, traspassando a sua qualidade de barateiros n. 1, n. 2, etc., à proporção que quebram, e vão transmitindo a genealogia dos epítetos, maneira discreta de esconder os nomes.

Eis que, inesperadamente, se anunciam em letras colossais as ostras.

E os literatos, encarregados de guiarem a corrente da opinião publica, escolhendo no seu guarda-joias a mais nítida pedraria de estilo, apregoaram as ostras como há dezenove séculos o fazia Horácio quando as afogava no falerno (
vinho produzido em Falerno/Itália) de Mecenas.

O localista (
redator de seção de jornal) do Primeiro de Janeiro, com pulso febril, e ternura pelo marisco, exclamou: «Abençoado o nome de quem quer que em tempos tão doentios nos trouxe medicina tão eficaz e preconizada!... Não são de Ostende as ostras que se nos oferecem, frescas, saborosas e provocadoras, pela manhã como leite de cabra, ao meio dia como o lunch (almoço) à inglesa, á noite como um restaurador das forças perdidas no labutar diurno. São de Montijo, igualmente boas, e igualmente irritantes. Vamos a elas!»

Vamos lá! – Conclamou toda a gente doentia, toda a gente em uso de leite de cabra, toda a gente que “lunchava” à inglesa, e, em suma, toda a gente que à noite costumava restaurar as forças, deitando-se a dormir, ou extraindo do goraz (
peixe) cozido o fósforo necessário à sua vida intelectual e física.

Desde o alvorejar (
alvorecer) das gazetas, confluíram á praça de D. Pedro todos os servos que superintendem na culinária das famílias. As massas que desembocavam das ruas circunjacentes davam a lembrar os comícios daqueles dias de vertigem cívica, lá quando os irmãos Passos abriam na viela da Neta os relâmpagos do Sinai, e a turbulência da liberdade ali vinha soltar um rugido e ameaçar os tiranos.

Não assim agora nestes dias em que o país, podre de feliz e anêmico da sua indigestão de prosperidade, procura restaurar-se pelo marisco.

De mais a mais, os diários tinham anunciado que as ostras eram gordas; e, sobre gordas, dizia o Primeiro de Janeiro, irritantes. Pela qualidade de gordas, o sorriso que brincava nos meus lábios, quando mandei o meu galego (
criado, pessoa sem muito nível cultural) comprar doze vinténs daquele remédio, era um sorriso de tão legitima candura como o leitor os tem visto nas bentas bochechas dos serafins que sobem de gatinhas pelas colunas dos altares. Quanto a irritantes, como essa virtude me não parecesse a mais sadia, mandei ao mesmo tempo comprar a linhaça correspondente.

E, enquanto o criado ia e vinha, consultei, para iludir a impaciência, os meus livros no que havia, através dos séculos, mais averiguado acerca das ostras. Li em Chernoviz que pode uma pessoa comer oito dúzias sem experimentar o mínimo incômodo. Oito dúzias – noventa e seis ostras, de manhã, como leite de cabra; noventa e seis, como lunch à inglesa; noventa e seis à noite para restaurar as forças: ao todo, duzentas e oitenta e oito ostras cotidianas que custam no depósito da praça de D. Pedro 3$840 reis.

É uma alimentação econômica e boa para fortalecer o estômago de um país pobre. Qualquer sujeito anêmico, pálido, que não possa com um gato por qualquer parte do mesmo, deve nutrir esperanças de que, no fim de um ano, tendo comido cento e cinco mil cento e vinte ostras gordas da praça de D. Pedro, que lhe custam um conto quatrocentos e um mil e seiscentos reis, pode gozar uma saúde mais ou menos galega.

Assim que o meu criado chegou com dezoito ostras por 240 reis, atadas na ponta de um lenço, à guisa de biscoitos de revalenta (
preparado de farinha de certos legumes e cereais), duvidei da gordura do testáceo (ostra), mas afaguei a charneira (união das duas partes da ostra) da concha bivalve, porque só de per si a concha tem virtudes medicinais cuja notícia eu envio aos risos jubilosos dos meus amigos. Tenho aqui a Ancora medicinal do grande médico Francisco da Fonseca Henriques, e nela a pag. 247, mihi, artigo Ostras, leio com estremeções (estremecimentos) de gáudio: As conchas das ostras queimadas são boas para as queixas das almorreimas (hemorróidas).

Isto é o que o Primeiro de Janeiro sabia de fundamento quando abençoou o inventor de remédio tão conveniente às doenças do tempo. Faz-se mister grande intuição médica de entranhas para diagnosticar hemorróidas universais na nação.

Das alegrias externas, passei a averiguar a gordura anunciada do testáceo hermafrodita.

Não me pareceu tão gorda a ostra espalmada na concha que pudesse disputar vantagens a um jantar do Ugolino de Dante na Torre de Piza.

Autorizado pelas ideias que formo de gordura, suspeito que o empresário destas ostras descobriu o segredo de repartir dez por cada casca; ou, negociando as cascas em Montijo, as encheu com amêijoas (
molúsculo comestível) do Cabedelo. É uma falsificação engenhosa que merece desculpa em quanto se conservar na família dos testáceos; mas desde que o único depositário das ostras portuenses começar a introduzir nas conchas das ostras pedacinhos de bucho de safio (peixe), carochas e grilos de salmoura, quer-nos parecer que uma dúzia destes covilhetes (pratinhos para doces) por oito vinténs não é barato, nem me garante a renovação do meu sangue depauperado.

Não obstante, o consumo de ostras no corrente mês, no Porto e arrabaldes, tocou uma cifra que seria fabulosa, se as consequências da irritação, previstas pelo Primeiro de Janeiro, se não manifestassem formidáveis, nos jeitos, nos ademanes (
trejeitos), nos esgares, nas crispações elétricas que faiscam dos olhos de toda a gente saturada das ostras do único depósito. Conhece-se que os insultos inferiores, que o pó da concha combate, se deslocaram, e evadiram a cúpula do edifício humano. Os sistemas nervosos, levados pela irritação a eletróforos (disco de resina que conduz eletricidade), tornaram-se engenhos luminosos que transcendem as mais fantásticas idealizações da pirotécnica. Esta galvanização de organismos extenuados é realmente um espetáculo que honra muito a ostra; mas que também pode vir a ser nocivo à saúde das almas.

Sei que temos recursos antiflogísticos (
eficaz contra inflamações) para combater as irritações, desde as cataplasmas de fécula até ás ventosas sarjadas; mas o emprego destes meios terapêuticos obriga as pessoas tímidas a andarem na rua com um alforje de drogas, como os antigos físicos, ministrando capilés (xarope adocicado) e orchatas (bebidas refrigerantes) a todos os sujeitos que denunciem instintos inflamados no último grau de irritação.

Em nome da moral pública, pedimos às pessoas irritáveis que se embebedarem em água de cevada, quando sentirem que a ostra se lhes insinua perfidamente nos seios do coração.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
Camilo Castelo Branco. Noites de insomnia a quem não pôde dormir. Bibliotheca de Algibeira. Publicação Mensal n. 1 – janeiro. Porto; Braga: Ernesto Chardron, 1874.
Atualização do Português por J. Feldman.

Baú de Trovas LXV


Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem.
A. A. de Assis
Maringá/PR
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Os aplausos me arrebatam!
Mas perdem toda a valia
quando os meus olhos constatam
tua poltrona vazia...
Almira Guaracy Rebelo
Belo Horizonte/MG
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Se há pedras na encruzilhada
do sucesso que procuras,
faze dela uma escada
para galgar as alturas
Antonio Valentim Rufatto
Bauru/SP
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O amor, para muita gente.
é diversão perigosa.
Quem não sabe ser prudente
transforma em espinho a rosa.
Arlene Lima
Maringá/PR
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Mil conquistas... sonhos vãos
que passaram como a bruma...
Eu apertei tantas mãos
e não segurei nenhuma.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
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Vou, saudoso e abandonado,
tão sozinho pela rua.,,
Meu olhar, enfeitiçado,
busca teu rosto na rua.
Auxiliadora de Carvalho Lago
Belo Horizonte/MG
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Querendo o mundo alegrar,
Deus juntou perfumes, core.s,
e, para o poeta sonhar,
sorrindo criou as flores...
Célia Martins
Bauru/SP
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Ouço ainda a ressonância
das cantigas que cantei
nas tardes da minha infância
no jardim que eu tanto amei.
Conceição Parreiras Abritta +
Belo Horizonte/MG
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Ouvi o conselho do monge,
achei-o mais do que certo:
quem quiser chegar ao longe,
tenha sempre Deus por perto!
Dari Pereira
Maringá/PR
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Mais que migalha de um pão,
vai o faminto buscar
alguém que lhe dê a mão
que lhe permita... sonhar!
Dodora Galinari
Belo Horizonte/MG
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Renúncia é uma ponte estreita,
onde das extremidades,
pode-se ouvir sempre à espreita,
chorando duas saudades...
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP
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- "Onde está a felicidade?"
E sinto ouvir do Senhor:
" -Onde existir igualdade...
- e aonde existir o amor!"
Giovana Campos de Oliveira
Bauru/SP
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Das mensagens que mandaste
o tempo apagou as linhas,
mas lembranças que deixaste
jamais se apagam, são minhas...
Graziella Lydia Monteiro +
Belo Horizonte/MG
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Outono, linda estação,
onde todos, neste mundo,
sentem a enorme emoção
de um renovar mais profundo!

Helena de Barros Barbosa Moreira
Bauru/SP
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Eis um conselho eficaz
que proclamo com fervor:
somente se encontra a paz
pelos caminhos do amor!
Hélio de Aguiar
Bauru/SP
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Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
- Quanto mais longe, mais cresce!
- Quanto mais perto, mais dói!
Helvécio Barros +
Bauru/SP
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No brilho do sol ardente,
que expressa tanta alegria,
eu faço do amor ausente
a volta da fantasia.
Ieda Marine Souza Oliveira
Belo Horizonte/MG
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Nossa vida é dom divino,
cabe-nos cuidá-la bem
com amor e muito tino;
vivenciá-la também...
Irma Rangel Martins
Bauru/SP
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Sem alarde, sem barulho,
procuro um mundo perfeito...
Não deixo que o véu do orgulho
cubra a humildade em meu peito.
Ivone Taglialegna Prado
Belo Horizonte/MG
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Não há sorriso que emplaque
na comédia desta vida,
se na ironia da claque,
toda verdade é escondida!...
João Batista Xavier Oliveira
Bauru/SP
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Canta, canta o bem-te-vi
procurando por seu par.
Por que eu nunca me atrevi
cantar para te encontrar?
José Marques
Bauru/SP
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Na estrada, a perder de vista,
não vou caminhando a esmo,
cada passo é uma conquista
para o encontro de mim mesmo.
José Roberto Pereira de Souza
Bauru/SP
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Para o encontro da esperança,
eu procuro, num segundo,
ser apenas a criança
que acreditava no mundo.
José Valeriano Rodrigues +
Belo Horizonte/MG
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Nos momentos de incerteza,
eu renovo a confiança
de transformar a tristeza
em motivo de esperança.
Lucília Cândida Sobrinho
Belo Horizonte/MG
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"O que machuca é a saudade";
é o que todo mundo diz -
Só não a sente, em verdade,
alguém que não foi feliz...
Lucy Rangel Fraga +
Bauru/SP
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Se tens culpa, nunca apontes
com teus dedos a ninguém.
Existem dedos aos montes
a te apontarem também.
Lucy Sother de Alencar Rocha +
Belo Horizonte/MG
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Eu te amo tanto, mas tanto,
que já pus num pedestal
toda glória desse encanto,
que se tornou imortal!
Luiz Carlos Abritta +
Belo Horizonte/MG
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Encanto maior não há
que a pureza da criança
soletrando o beabá
na cartilha da esperança.
Luzia Aparecida João
Bauru/SP
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Uma lágrima sentida,
um sorriso, um bem-querer,
são detalhes de uma vida
que vale a pena viver!
Maria Dolores Paixão Lopes +
Belo Horizonte/MG
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Saudade! Guardo-a num lenço
que um dia orvalhei de pranto...
Tem o perfume do incenso:
misto de amargo e de santo!
Martinho de Abreu Carvalho +
Bauru/SP
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Sou poeta e trovador,
componho lodos os dias,
cantando alegria e dor
no compasso da Poesia.
N
elson Coimbra +
Bauru/SP
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Da placidez dos teus olhos,
negros como a escuridão,
encontrei, vencendo escolhas,
meu porto de salvação
Nidoval Reis +
Bauru/SP
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Toma o lenço. Enxuga o pranto...
Ninguém precisa saber
que, por amor, sofres tanto
e que eu te faço sofrer...
Pedro Coltro +
Bauru/SP
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Estamos nós dois juntinhos,
olhando o tempo passar,
felizes, nós dois, velhinhos.
que ainda somos um par!...
Perez Filho +
Bauru/SP
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É do romance envolvente
entre a terra e o lavrador
que a esperança da semente
se torna seara em flor.
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte/MG
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Quando eu te encontrei na vida
vinha calmo e consolado:
e agora levo, querida,
o amor e a dor a meu lado
Rodrigues de Abreu +
Bauru/SP
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O dia estava passando
num silêncio tão profundo,
que escutei Deus conversando
do outro lado do mundo!...
Ronaldo Benevenuto +
Bauru/SP
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São testemunhas caladas
do nosso amor e carinho
as duas letras bordadas
no velho lençol de linho.
Thereza Costa Val +
Belo Horizonte/MG
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A vida nos faz promessas
de amor, sucesso, dinheiro;
nunca se sabe qual dessas
é descumprida primeiro...
Vânia Maria Menezes de Figueiredo
Bauru/SP
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Com fé no poder divino,
traço meus rumos assim:
jamais permito ao destino
fazer escolhas por mim!
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG
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Fonte:
Entregue por Carolina Ramos.
Carolina Ramos (org.). A Trova: raízes e florescimento. Santos/SP: 3D Stúdio, 2013.