sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Febo (Caderno de Poemas) – 1

A SONDA


“...and to preserve and cherish the pale blue dot, the only home we've ever know.”*
 (Carl Sagan – astrônomo)


No universo lilás sempiterno e noturno
Trabalhando convicta e científica, a sonda,
Fotografa e registra em maneira hedionda
Os anéis de metais, caracóis de Saturno...

Esticando-se igual ofensiva anaconda,
E negando-se a ponto azulado e sonurno**,
Desenrola Cassini insolente no turno
A bandeira estrelada, a de América em ronda,

Coloniza o planeta, investiga o planeta,
As camadas até que capture-o, que ataque-o
Nas amostras que tira e revela à Gazeta...

De repente, na luz elegante dos astros,
Um nativo arruinando o navio terráqueo,
Dos humanos apaga a qualquer um dos rastros.

[O soneto integra a Antologia Pulpversos - Ficção Científica: 01 (2023)]
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* “...e preservar e valorizar o ponto azul claro, o único lar que conhecemos.”
** Sonurno = que se vê em sonhos.
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INGLÊS XI – “Priscas eras”

Amor, amor nas cortes, vilas, festas
Busquei sensato, insano a todo custo
Qualquer pessoa nestas três florestas
Mostrar de mim o traço mais augusto...

O dom das línguas, ler, saber latim
A fé cristã, bordar, viris valores...
Lutei em grandes guerras; delas vim
Trazendo à pátria glórias, mil louvores   

Rubis e opalas postos neste pote
E antigas armas, meus brasões, emblemas
Doei a quem quisesse como dote
Ninguém comigo quis levar as gemas.
 
Relógio, roda o tempo atrás. Sinceras
Virtudes tenho e são de priscas eras.

[Soneto inglês – Menção Honrosa no 11° Concurso Literário da Academia Madureirense de Letras (2022)]
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ELES!

A fazenda, o café, plantações de um engenho,
Um perfume do mal cintilava em nitrato,
Circular, curvilíneo e global o formato
Das imagens rurais, um estranho desenho...

Alfabeto de longe incompleto, inexato,
Decifrá-lo tentei em sofrível empenho
E da torre enxerguei o tamanho ferrenho,
Colossal dimensão, o mistério no mato...

Anoitece... sutil, a esmeráldica etnia  
Do estrangeiro distante a que cada um dos grifos
Do navio produz em moderna magia.

Temporadas atrás e que tempos aqueles!
Quem teria grafado os pagãos agroglifos*?
A resposta direi, mas assusta-nos: ELES!

[Soneto que integra a II E-Antologia de Poesia Retrô (2022)]
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* Agroglifos = Fenômeno do aparecimento de figuras geométricas ou grandes círculos, sem explicações plausíveis, em plantações de trigo, milho, cevada etc.
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O TROVADOR DAS TREVAS

Precedendo a Quaresma, ao Carnaval,
Bailando a barcarola da Occitânia,
Surgiu em seu delgado e branco corpo,
Ostentando uma taça de altas trevas,
Um cavaleiro a nome trovador,
O mesmo da sextina: Daniel!

Daniel, Daniel, Dan, Daniel!
Chegou cantando o nobre Carnaval,
Pulsando o coração de trovador,
Declamando as sextinas da Occitânia
E no quarto dos hóspedes nas trevas,
Revelou o brocado de seu corpo...

Perdido a tal pecado ao negro corpo,
Tateando o vigor de Daniel,
Eu derramei amor de claras trevas,
Ele falou viril do Carnaval,
Eu conheci o mapa da Occitânia
Ao possuir o escravo trovador!

Eu quem me transformei em trovador
Descrevendo o esmeráldico, alvo corpo
Numa canção sextina da Occitânia...
Daniel, Daniel, Dan, Daniel!
Naquele leito à noite ao Carnaval
Mergulhado em translúcidas mil trevas...

Mas na manhã seguinte em plenas trevas,
Fugiu de meu castelo o trovador
Carregando o brilhante Carnaval
E a cútis asiática do corpo...
Em meus versos trovejo Daniel
Em seu cavalo em Nice, na Occitânia!

Eu mantenho as lembranças d’Occitânia
Nesta minha sextina escrita em trevas,
Daniel, Daniel, Dan, Daniel!
Por que partiu o pobre trovador
Levando o seu divino e rubro corpo,
Quaresmando p’ra sempre o Carnaval?!

CODA
Não volta o Carnaval lá da Occitânia,
Em seu corpo cromático das trevas,
Meu amor trovador dor, Daniel!

[Sextina que integra a III E-Antologia de Poesia Retrô (2023)]

Fonte:
Enviado pelo poeta.

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