sexta-feira, 24 de maio de 2024

Newton Sampaio (Trem de subúrbio)

Calixto interrompe a discussão, enterra o chapéu na cabeça, cai no mundo. 

Esbarra nos homens que passam.

O bonde apinhado também esbarra nele. Por um triz teria os pés esmagados.

Procura um cigarro. No bolso não há cigarros.

Procura o relógio. O relógio mostra o ponteiro pequeno bem em cima do número 3. Chega à estaçãozinha. Só o tempo de entrar e o trem sair.

O maquinário rodando lhe dá o gosto longínquo de desaparecimento, de evasão.

Evasão... Longo tempo lhe dança no cérebro, o termo. Evasão... Fugir da vida...

Mas a vida florescia em tudo, feito milagre permanente. Florescia na paisagem se mexendo sem parar. E no cheiro da máquina vomitando fumaça. E na promiscuidade do vagão, — do vagão cheio de gente se abanando, de cores se exibindo, de perfumes baratos se misturando como os donos.

Ao lado, volumosa ruiva tem os quadris maltratados pela cinta apertadíssima. Perto da ruiva, um velhote percorre as letras de um vago pasquim suburbano. O velhote lê. Mas não fala.

Quem fala toda a vida é aquele rapaz de bigode lustroso. Transmite, ao companheiro, imaginárias peripécias do último jogo de futebol.

O companheiro guarda um interesse imenso na história. Não é como a moça de boina azul que não dispensa atenção a nada.

Ela é bonita, está no segundo banco, e olha, e olha.

No mundo existem milhares de moças — de boininha azul ou sem boina — que fazem a mesma coisa. Que têm esse jeito triste, distante. Que espiam silenciosamente. Com vontade de segurar nas mãos aquilo que corre do lado de lá das janelas. Mas as janelas têm vidraças que separam o corpo das moças dos apelos que correm e se sucedem.

É cheia de vidraças, a vida das moças. Por isso há moças de boina espiando, tristinhas. Espiando com olhos parecidos com os de Calixto. 

Os olhos de Calixto estão vermelhos e molhados. Por causa de uma faísca impertinente. A faísca obriga-o a esfregar as pálpebras, muitas vezes.

Esfrega, esfrega. A ruiva pensa que o rapaz havia chorado. Será que as matronas gordas pensam coisas exatas? Gravíssimo é o problema, cidadãos!

Apesar do problema, o garoto louro do primeiro banco continua chupando o seu caramelo. E se sujando também. Até o fim. Depois, a mãe limpa o rostinho dele. Como agradecimento, o garoto começa a fazer travessuras. Salta no corredor. O trem dá uma sacudidela violenta, e o teria fatalmente derrubado se a moça de boina não o tivesse amparado em tempo.

Cresce um rebuliço. A mãe fica muito pálida, o rapaz de bigode lustroso acha graça, o velhote interrompe a leitura. E a senhorita guarda o menino. Passa-lhe a mão na cabecinha.

— Como se chama?

— Roaldo.

— Quantos anos tem?

A mãe intervém.

— Já fez três. Foi no último agosto.

— Crescidinho, não?

— E ladino! — completa o orgulho materno.

O cabelo do menino tem a cor do sol. Desse sol que atravessa a vidraça e a deixa intacta. Mas a senhorita do segundo banco não tem mais esses pensamentos. Porque uma criança loura quase sempre resolve o silêncio das moças de boina...

Calixto, infelizmente, não se lembra disso. Continua a meditar em torno da discussão com a noiva. Enquanto o trenzinho corre, corre. 

Vomitando fumaça como um demônio.

Fonte> Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.

Vereda da Poesia = 16 =

 


Trova do Rio de Janeiro

Luiz Poeta
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Que trovador desastrado!
… foi direto pro doutor:
Fiz trova de pé quebrado!
Bota um gesso, por favor!
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Soneto de Minas Gerais

Sílvia Araújo Motta
Belo Horizonte/MG

SOL COM CHUVA

No adágio popular ouvi dizer
que quando há sol com chuva...alguém sorriu!
Na despedida vi “viúva” a crer:
-“Marido vivo” em paz, feliz, fugiu...

Mulher tão forte, em tudo, quis vencer!
Enxugou o pranto, teve fé, agiu!
Criou seus filhos, graças viu chover!
Pingos lavaram “alma pura à mil...”

Com seu poder de sol viveu, brilhou...
Sempre enfrentou problemas, mas sorria!
Buscou o saber, destino então traçou.

Chove amizade... só por seu valor!
Ao ritmo dança, canta e faz poesia!
Molhada agora, beija o novo amor.
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Haicai de São Paulo

Analice Feitoza de Lima 
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP

Uma água barrenta,
pássaros sobre o barranco.
Um rio minguante.
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Poema de Portugal

Alice Gomes
Tabuaço, 1910 – 1983, Lisboa

NA IDADE DOS PORQUÊS 

Professor diz-me porquê?
Por que voa o papagaio
que solto no ar
que vejo voar
tão alto no vento
que o meu pensamento
não pode alcançar?

Professor diz-me porquê?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem nenhuma roda
E roda, gira, rodopia
e cai morto no chão...

Tenho nove anos, professor
e há tanto  mistério à minha roda
que eu queria desvendar!
Por que é que o céu é azul?
Por que é que marulha o mar?
Porquê?
Tanto porquê que eu queria saber!
E tu que não me queres responder!

Tu falas, falas, professor
daquilo que te interessa
e que a mim não interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar.
Obrigas-me a dizer
quando eu quero escutar.
Se eu vou a descobrir
Fazes-me decorar.

É a luta, professor
a luta em vez de amor.

Eu sou uma criança.
Tu és mais alto
mais forte
mais poderoso.
E a minha lança
quebra-se de encontro à tua muralha.

Mas
enquanto a tua voz zangada ralha
tu sabes, professor
eu fecho-me por dentro
faço uma cara resignada
e finjo
finjo que não penso em nada.

Mas penso.
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar.
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar!...

E quando tu depois vens definir
o que são conjunções
e preposições...
quando me fazes repetir
que os corações
têm duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tanta mais definições...
o meu coração
o meu coração que não sei como é feito
nem quero saber
cresce
cresce dentro do peito
a querer saltar cá para fora
professor
a ver se tu assim compreenderias
e me farias
mais belos os dias.
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Trova Premiada em Maringá

Lucília Trindade Decarli
Bandeirantes/PR

Aquela alegre canção,
que, outrora, era de nós dois,
traz, hoje, triste emoção
na solidão de um depois…
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Poema do Rio de Janeiro

J. G. de Araújo Jorge
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

POEMA ÀS PALAVRAS 

 Tem uns homens por aí
com medo das palavras.

Tem uns poetas por aí
segregacionistas.

Tem preconceitos contra
as palavras:
esta não serve - é mestiça,
esta também não - é muito comum,
é do povo, não é importante,
e aquela também - não tem educação
fala muito alto, é palavrão.

Tem poeta por aí cochichando
como gente muito fina
de salão,
falando entre dentes
perpetrando futilidades
e maldades, como comadres.

Tem uns homens por ai
tratando as palavras pela cor
de sua pele:
não cruzam com as palavras, negras
amarelas, mulatas,
só fazem poemas brancos, poemas
puros, poemas arianos, poemas de raça.

Que se danem! Faço filhos
com todas as palavras
basta que elas se entreguem, e me amem
e saiam com o meu verso, à rua
para cantar.
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Quadra Popular

Coração entristecido,
por que tanto te magoas?
Se estás cercado de penas,
o que fazes que não voas?
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Décima do Rio Grande do Norte

Ademar Macedo
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN

O SERTÃO

No sertão tem poesia,
tem o preá no serrote
tem mocó dando pinote
e tem cabra dando cria;
tem coalhada na bacia
tem fogueira de São João,
tem festa de apartação
tem porteira e passadiço;
quem nunca viu tudo isso
não sabe o que é sertão!
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Trova Humorística do Rio Grande do Sul

Lacy José Raymundi
Sananduva/RS, ???? – 2014, Garibaldi/RS

É mentira ou é verdade?
É verdade ou é mentira?
Se a mulher disser a idade
não acredite: confira!…
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Martelo Agalopado do Rio Grande do Norte

Professor Garcia
(Francisco Garcia de Araújo)
Caicó/RN

Minha avó também teve competência,
com seu fuso na mão, foi de primeira,
também tinha uma roca de madeira
que lhe deu o sustento, e deu vivência.
Enedina, um sinal de resistência,
não sentia o torpor da nostalgia,
na pobreza do campo onde vivia
resistiu aos insultos da escassez,
mas viveu com ternura e sensatez
encantada com tudo que fazia!
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Aldravia do Rio de Janeiro

Juçara Regina Viegas Valverde
Rio de Janeiro/RJ

respingos
do
ontem
nublam
o
hoje
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Soneto Alexandrino de Portugal

Maria João Brito de Souza
Oeiras/Portugal

MEMÓRIAS DO MAR

Sei duma vozinha que contava estórias,
Dizia segredos que só eu escutava
E que, tantas vezes, me deliciava
Quando me falava de velhas memórias...

 Sempre que contava das antigas glórias
Nos tempos remotos em que navegava
Uma caravela que então procurava
As suas conquistas, as suas vitórias

 Nessa descoberta das terras douradas,
Da canela em pau, do café em grão,
Das madeiras nobres e do açafrão,

De mil coisas lindas para ser usadas,
Coisas requintadas, coisas que só são...
Porque o mar me disse que as teve na mão!
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Trova Humorística do Paraná

Maria da Conceição Fagundes 
Curitiba/PR

Tesoura a vida do alheio
E age de modo imparcial
E ela afirma, sem receio:
- É “terapia social”!!! 
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Poema do Amazonas

Silviah Carvalho
(Sílvia Helena de Carvalho)
Manaus/AM

A MENINA DO RIO AMAZONAS

Fiquei na margem do rio,
Desanuviando minha mente,
Meditando na constância das águas,
No desapego da alma, neste vazio...

Vi pessoas passarem às margens,
E notei, cada um faz seu próprio rio!
E navegam em suas esperanças,
Levando as lendas em suas lembranças.

Vi a menina sentada à beira do rio,
Sonhando com a felicidade,
Esperando o boto... Não sei!
Que a tire da beira e, se faça seu rei.

Na espera inútil à tristeza vem à tona,
Não há encantamento... Eu chorei!
Vendo a tristeza nos olhos da menina
Do rio amazonas...

Eu a vi partindo só e com frio,
Deixando nas margens o fim do seu rio,
Eu a vi sofrer por um conto infantil,
Eu soube que ela nunca mais sorriu.

E eu! Ainda espero só,
Na margem do rio,
Do meu rio...
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Epigrama de Minas Gerais

João Salomé Queiroga
Serro/MG, 1810 – 1878

Oh, deste patrono a musa,
Diz o povo, não se entende,
Pois quando defende, acusa,
E quando acusa, defende…

(a um advogado no júri)
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Écloga* de Portugal

Miguel Torga
(Adolfo Correia da Rocha)
São Martinho de Anta, 1907 – 1995, Coimbra

Na ribeira que secou
Bebia o gado que eu tinha;
Quando chegava à noitinha,
A voz das águas chamava,
E o rebanho que pastava
Deixava os tojos e vinha.

Eu próprio molhava as mágoas
Na pureza da nascente;
Metia as mãos docemente
Na limpidez da frescura,
E as caricias da corrente
Davam-me paz e ternura.

O gado, farto, bebia;
E eu deixava-me correr
Naquele suave prazer
Que me levava consigo...
Eu não tinha que fazer,
E o gado tinha pascigo (1).
´
A noite, então, vinha mansa
Cobrir a lã das ovelhas;
Era um telhado de telhas
Furadas ou embutidas
De luzes muito vermelhas
Por todo o céu repartidas.

E aquela viva irmandade
Do rebanho e do zagal (2)
Era ali tão natural
Que apagava dos sentidos
A saudade do curral
Feita de sono e balidos.
´
Mas a ribeira secou.
Não sei que praga lhe deu
Que no leito onde correu
Há pedras e maldição...
E o meu rebanho morreu
De sede e de mansidão.
=======================
(1) Pascigo = lugar onde o gado pasta.
(2) Zagal = pastor

* Écloga, é uma composição em verso, geralmente escrita sob a forma de diálogo, de conversa aberta entre as entidades presentes no texto e, muitas vezes, entre o autor, as personagens e o próprio leitor, é um pequeno poema pastoral que apresenta, a forma de um diálogo entre pastores ou de um solilóquio. 

A sua origem ficou a dever-se ao poeta grego Teócrito e foi utilizada por Virgílio para a composição das suas famosas Bucólicas.

A temática versada nas éclogas relacionava-se, quase sempre, com a vida campestre, os amores pastoris, as impossibilidades e não correspondências dos amores vários.

Nas épocas mais remotas, na chamada Época Clássica, a écloga servia também como meio para profundas reflexões morais, estéticas e filosóficas.

O introdutor deste subgênero literário em Portugal foi Sá de Miranda, influenciado por escritores italianos como Dante e Boccaccio. (http://www.infopedia.pt/$ecloga)

A écloga clássica parte quase sempre de um quadro idílico, o locus amoenus ou lugar aprazível, e desenvolve com certa brevidade o louvor de uma pessoa, por razões sentimentais, reflete sobre a condição do poeta e/ou da própria poesia, ou entretém-se com sutilezas políticas ou religiosas. Outro tema clássico das éclogas é o da libertação espiritual, a renúncia aos bens terrenos e sociais para uma total entrega à natureza e aos mais puros ideais de vida perseguindo a chamada aurea mediocritas. (http://www.edtl.com.pt/)

Abbie Phillips Walker (Os animais falantes)

Hulda e Nathan tinham ouvido histórias sobre uma floresta maravilhosa onde os animais podiam falar, mas descartaram isso como mera fantasia. Isto é, até que um dia eles se viram vagando pela floresta. Nathan, cativado por um esquilo, o perseguiu, com Hulda logo atrás. Quase pegando o esquilo várias vezes, eles de repente perceberam que haviam se aventurado em uma parte desconhecida da floresta.

“Devemos voltar”, sugeriu Hulda, “pois a escuridão está se aproximando e podemos nos perder.” No entanto, em vez de refazer seus passos e encontrar o caminho que levava para fora da floresta, eles pareciam se aprofundar nela. Logo o anoitecer chegou e a ansiedade de Hulda se manifestou em lágrimas.

“Não tenha medo,” Nathan a confortou. “Esta noite, a lua vai brilhar intensamente e estou confiante de que encontraremos o caminho de volta.”

“Temo que estejamos perdidos,” Hulda lamentou enquanto Nathan a guiava para um assento debaixo de uma grande árvore. De repente, um brilho chamou a atenção deles e, ao olharem para cima, notaram uma luz fraca filtrada por uma pequena janela na lateral da árvore. Uma voz acenou: “Vocês estão perdidos, crianças?”

Uma coruja emergiu da janela e Nathan perguntou: “Você pode nos guiar para fora da floresta?”

“É muito longe para viajar esta noite,” a coruja respondeu. “Venham para dentro, e eu lhes darei o jantar.”

“Eu sei onde estamos,” Nathan exclamou. “Estamos na floresta dos animais falantes.”

A porta se abriu e eles entraram em uma cozinha arrumada. Dona Coruja, enfeitada com um grande avental branco e gorro combinando, preparava o jantar.

“Por favor, sentem-se à mesa,” ela ofereceu. Tigelas e colheres já estavam colocadas, e Dona Coruja as encheu de mingau e leite. Sua gentileza logo deixou Hulda e Nathan à vontade. Assim que terminaram a refeição, a Sra. Coruja perguntou: “Vocês gostariam de ver meus bebês?”

“De fato,” Hulda respondeu ansiosamente. A Sra. Coruja os levou até o quarto, onde três corujinhas dormiam profundamente em uma cama aconchegante.

“Eles são os pássaros mais bonitos de toda a floresta”, proclamou a orgulhosa mãe.

“Não tenho dúvidas,” Hulda concordou, “especialmente quando seus olhos estão abertos.”

Na manhã seguinte, depois que a Sra. Coruja serviu o café da manhã, Hulda expressou a necessidade de partir. Eles se despediram da Sra. Coruja e de seus bebês, reconhecendo com gratidão sua hospitalidade.

“Lá vem o Sr. Bruin”, alertou a Sra. Coruja. “Ele vai guiá-los para fora da floresta. Não se preocupem,” ela assegurou às crianças ao notar suas expressões alarmadas. “Nenhum mal acontece a ninguém nesta floresta de animais falantes. Bom dia, Sr. Bruin,” ela cumprimentou o urso pardo. “Essas crianças estão perdidas. Você vai mostrar a saída a elas?”

“Certamente”, respondeu Bruin. “Elas podem me acompanhar. Vou fazer uma longa caminhada e gostaria da companhia.”

Hulda e Nathan caminharam ao lado de Bruin, que provou ser amável e envolvente, dissipando rapidamente seus medos.

“Bom dia, Sr. Bruin”, um gaio azul gritou de sua varanda. “Onde você está indo?”

Bruin explicou o destino deles e o gaio azul os convidou a entrar. “Talvez as crianças gostem de conhecer meus bebês”, ela sugeriu.

“Ficaríamos encantados”, respondeu Hulda.

A casa do gaio azul aninhada dentro de uma grande árvore, com varandas em todos os lados. Enquanto Bruin permaneceu no andar de baixo, Hulda e Nathan seguiram a Sra. Gaio Azul escada acima.

“Eles não são adoráveis?” ela exclamou, revelando três pequenos gaios azuis aninhados em um berço. “São os pássaros mais bonitos de toda a floresta.”

Hulda e Nathan concordaram de todo o coração, achando as garotas absolutamente encantadoras. Depois de se despedir da Sra. Gaio Azul, elas se juntaram a Bruin. “Eu moro ali”, indicou Bruin, apontando para uma rocha que se assemelhava peculiarmente a uma casa. “Minha esposa ficará descontente se eu não apresentar vocês a ela.”

“Teremos o maior prazer em visitá-la”, respondeu Hulda, e logo chegaram à porta da residência de Bruin. A Sra. Bruin, de boné e avental, deu-lhes as boas-vindas com um sorriso caloroso, exalando um ar carinhoso.

“Entrem,” ela convidou. “Vou preparar o almoço e apresentá-los às crianças. Vocês certamente vão se apaixonar por eles,” ela acrescentou enquanto ela e Bruin buscavam seus filhos. Em questão de minutos, eles voltaram, cada um carregando um ursinho pardo debaixo do braço. Colocados em cadeiras altas, os filhotes jogavam leite com as colheres de brincadeira, como crianças malcomportadas que Hulda e Nathan observaram.

Depois do almoço, eles se despediram da Sra. Bruin e de seus filhotes, assegurando-se de elogiar o charme inegável dos bebês. Continuando a viagem, caminharam uma distância considerável sem encontrar ninguém até que se cruzaram com um esquilo e um coelho.

“Por favor, juntem-se a nós para o chá,” o coelho gentilmente convidou. “E vocês precisam ver meus bebês.”

“E depois, vocês devem ver os meus”, acrescentou o esquilo.

Eles primeiro visitaram o coelho, cuja charmosa casa branca ostentava persianas verdes vibrantes, cercadas por vegetais florescentes. A sra. Coelho conduziu-os a uma aconchegante sala de estar. Enquanto saboreavam o chá, uma babá entrou com duas cestas, colocando-as no chão. A Sra. Coelho descobriu amorosamente as cestas, revelando seus preciosos coelhinhos.

“Garanto a vocês”, ela declarou com orgulho, “que essas são as criaturas mais encantadoras da floresta.” Hulda concordou sinceramente, admirando sua aparência delicada.

Em seguida, eles cruzaram a rua para a casa da Sra. Esquilo, onde seus bebês brincavam no quintal. A Sra. Esquilo explicou: “Deixei-os correr livremente para que vocês possam apreciar sua graciosidade. Eles são os bebês mais adoráveis da floresta.”

“Eu acredito que você esteja certa,” Hulda concordou. “Eles são incrivelmente astutos.”

Finalmente, quando se aproximaram do caminho que saía da floresta, Bruin informou-os de que não poderia ir mais longe. “Entrar nesse caminho faz com que qualquer animal falante perca a capacidade de falar”, revelou.

“Estamos profundamente gratos”, expressou Nathan. “Tivemos uma experiência verdadeiramente cativante.”

“Por favor, voltem”, Bruin estendeu seu convite. “Sempre recebemos visitantes.” Com essas palavras de despedida, Bruin desapareceu na floresta, logo desaparecendo de vista.

“Nunca mais quero comer mingau com leite”, exclamou Hulda. “Eles devem subsistir com isso. Você viu como aquelas mães eram vaidosas? É bastante estranho quando eles perguntam se seus bebês são atraentes.”

“Você concordou com cada mãe”, observou Nathan, “mesmo com a coruja, cujos filhotes eram os mais feios que já vi.”

“Você diz a uma mãe que seu bebê não é bonito?” questionou Hulda.

“Não,” Nathan admitiu, “acho que não.”

“Bem, é o mesmo com animais e pássaros”, concluiu Hulda.

Apesar de inúmeras tentativas no futuro, Hulda e Nathan não conseguiram encontrar o caminho que levava de volta à floresta de animais falantes. No entanto, eles mantêm a esperança, sabendo que ela existe, e sonham em redescobri-la algum dia.

Fonte> Abbie Phillips Walker (EUA, 1867 - 1951). Contos para crianças. 
Disponível em Domínio Público.

Recordando Velhas Canções (The House Of The Rising Sun = A Casa do Sol Nascente)


 Composição: Alan Price

Há uma casa em Nova Orleans
There is a house in New Orleans
Eles a chamam de Sol Nascente
They call the Rising Sun
E tem sido a ruína de muitos garotos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy
E, Deus, sei que sou um deles
And God, I know I'm one

Minha mãe era costureira
My mother was a tailor
Ela costurou meu novo jeans azul
She sewed my new blue jeans
Meu pai era um apostador
My father was a gamblin' man
Em Nova Orleans
Down in New Orleans

Agora, a única coisa que um apostador precisa
Now the only thing a gambler needs
É uma mala e um porta-malas
Is a suitcase and a trunk
E o único momento em que se sente satisfeito
And the only time he'll be satisfied
É quando está completamente bêbado
Is when he's all drunk

Oh, mãe, diga aos seus filhos
Oh, mother, tell your children
Para não fazerem o que eu fiz
Not to do what I have done
Desperdiçar a vida com pecados e tristeza profunda
Spend your lives in sin and misery
Na Casa do Sol Nascente
In the House of the Rising Sun

Bem, estou com um pé na plataforma
Well, I got one foot on the platform
E o outro pé no trem
The other foot on the train
Estou voltando para Nova Orleans
I'm goin' back to New Orleans
Para usar aquele grilhão
To wear that ball and chain

Bem, há uma casa em Nova Orleans
Well, there is a house in New Orleans
Eles a chamam de Sol Nascente
They call the Rising Sun
E tem sido a ruína de muitos garotos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy
E, Deus, sei que sou um deles
And God, I know I'm one
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A Melancolia e o Alerta em 'The House Of The Rising Sun'
A canção 'The House Of The Rising Sun', interpretada pela banda britânica The Animals, é um clássico do folk rock que se destaca por sua melodia sombria e letra carregada de arrependimento e advertência. A música fala sobre uma casa em Nova Orleans, conhecida como Rising Sun, que teria sido a ruína de muitos jovens pobres, incluindo o narrador da história. A narrativa é construída em torno da figura de um homem que reconhece os erros de sua vida, marcada pelo jogo e pela bebida, e que lamenta o caminho que escolheu seguir.

A letra da música apresenta uma forte carga emocional, onde o narrador reflete sobre as escolhas de sua vida. A referência à mãe, que era costureira, e ao pai, um jogador, sugere um contraste entre o trabalho honesto e a vida de vícios. A casa do sol nascente, ou 'House of the Rising Sun', é frequentemente interpretada como um bordel ou um bar, lugares associados ao pecado e à perdição na época em que a música foi popularizada. A música serve como um aviso para que outros não sigam o mesmo caminho de 'pecado e miséria'.

A canção, com sua melodia envolvente e acordes de guitarra marcantes, tornou-se um ícone da década de 1960 e é considerada uma das maiores gravações de todos os tempos. A interpretação de Eric Burdon, vocalista dos The Animals, é carregada de emoção, transmitindo a sensação de arrependimento e desolação que a letra sugere. 'The House Of The Rising Sun' é uma música que transcende gerações, mantendo-se relevante pela sua poderosa mensagem de cautela contra os perigos de uma vida desregrada.

Como Escrever uma História Curta e Engraçada – 3


Escrevendo o conto

1. Defina os elementos da história logo no início.

Em toda as histórias, o leitor deverá compreender quais personagens estão envolvidas e onde o enredo se desenvolve, além de ter uma certa ideia do assunto tratado pela trama. Isso também vale para os contos engraçados, mas com a adição do elemento humorístico.

Não deixe os leitores tentando adivinhar alguma coisa por muito tempo ou eles poderão desistir do conto.

O início de qualquer conto deve definir o cenário e apresentar pelo menos uma personagem.

Descreva onde a trama se passa, mas tente tornar a descrição relevante. Encontre meios de extrair tensão ou humor do ambiente, tanto quanto for possível.

Considere como e quando os elementos humorísticos da história se desenvolveram e tente sugerir uma dica do que vai acontecer logo no início do conto.

Lembre-se de que o início do conto deve apresentar alguma coisa, quer seja um elemento de tensão, uma fonte de humor ou algo que será vital para a história mais adiante.

2. Torne as coisas complicadas e engraçadas no meio do conto.

Esse é o ponto em que as coisas começam a se complicar dentro da história. Em um conto de humor, o meio da trama também propicia uma quantidade razoável de comédia ou o forte estabelecimento de um elemento engraçado que ainda esteja por vir.

Provavelmente, a parte intermediária do conto será também a mais longa. Faça as palavras valerem a pena, tornando as coisas interessantes para uma ou mais personagens nesse momento.

A tensão deverá complicar as vidas dos protagonistas e formar o arco básico do enredo.

Ela costuma surgir de situações de conflito, geralmente entre o protagonista e alguma outra pessoa, ele mesmo, a natureza, a tecnologia, a sociedade, Deus ou deuses.

O autor pode incorporar um elemento humorístico derivado da tensão, ou optar por inclui-lo como uma espécie de alívio cômico, que acompanhará a tensão para não deixar o texto sério demais.

3. Encerre a história com um final curto.

Você não terá muitas linhas para criar um encerramento longo e extenso se estiver escrevendo um conto. As coisas precisam se resolver em tempo hábil e o humor deve surgir com força nesse momento (principalmente se a seção intermediária foi usada para desenvolver o elemento humorístico).

A tensão precisa se resolver rapidamente, e o humor pode surgir a partir desse desenlace ou simplesmente acompanhá-lo. 

Tente criar um final conciso.

Lembre-se de que, enquanto estiver trabalhando na criação de um conto humorístico, talvez você precise reduzir alguns elementos até chegar à essência de cada um deles.

O final deverá ter cerca de um parágrafo e o leitor precisará encontrar um certo alívio e senso de humor na frase de encerramento.

4. Desenvolva um diálogo realista.

Agora que criou personagens plausíveis, você precisa fazer com que elas se comuniquem de forma realista. Em um texto de qualidade, os leitores conseguem ouvir o diálogo e não pensam consigo mesmos, "Esta é uma obra de ficção".

Pense na forma como as pessoas falam umas com as outras. Leia os diálogos do texto em voz alta e se pergunte: "As pessoas realmente falam esse tipo de coisa?".

Um bom diálogo vai empurrar a narrativa para a frente. Evite ser redundante ou afirmar coisas óbvias.

Os diálogos de qualidade evidenciam muito bem a personalidade de cada personagem (incluindo a forma como ela interage e trata as outras pessoas).

Não encha as etiquetas de diálogo (as ações que acompanham as linhas faladas) com detalhes. Por exemplo, em vez de dizer: "O que devemos fazer?", perguntou, olhando nervosamente e compulsivamente para o chão, tomando o cuidado de não olhar nos olhos dela, tente algo mais simples como: "O que devemos fazer?", ele perguntou sem tirar os olhos do chão.

5. Cubra o assunto completamente e em poucas linhas.

Esse é um dos aspectos mais difíceis da criação de contos.

Vendo de fora, a criação de um formato literário mais longo (como um livro) pode parecer mais difícil, mas um bom conto precisa cumprir as mesmas tarefas de um livro dentro de um espaço muito menor.

Todos os elementos precisam se combinar de maneira eficaz no final e, além disso, seu conto precisa de elementos de humor. 

Talvez você tenha grandes ideias para a trama da história, mas é importante lembrar que, quando escrevemos um conto, nosso espaço é limitado.

Não deixe de explorar ou cumprir os elementos da ideia central. A história deverá analisar plenamente o tema ou as ideias apresentadas ao final do conto.

Você poderá eliminar elementos e palavras não essenciais para reduzir a história.

A ideia terá sido totalmente explorada quando você tiver dito (direta ou indiretamente) tudo o precisa dizer a respeito dela. 

Por exemplo, um autor precisará de muito espaço para cobrir adequadamente a complexidade das relações humanas. No entanto, você poderia capturar um momento entre duas pessoas e escrever sobre algum aspecto da amizade (como perdoar os amigos por fazerem ou dizerem coisas ofensivas) dentro de um conto.

6. Concentre-se no essencial quando estiver escrevendo.

Escrever um conto de humor poderá ser difícil para um autor que não esteja familiarizado com a criação de obras mais curtas. Não importa se você quer resumir um texto longo ou expandir um enredo breve, concentre-se nos elementos mais importantes da história.

Algumas pessoas preferem criar histórias mais longas e então reduzi-las até um conto, já que isso garante uma trama completa.

Outros escritores preferem começar com um enredo curto e expandi-lo conforme necessário.

Essa técnica facilita a criação de textos curtos e poupa o escritor do estresse de precisar decidir o que cortar na versão final.

Não existe nenhuma receita certa ou errada para a criação de um conto de humor, portanto, faça o que funcionar melhor no seu caso.

Seja qual for a sua abordagem, assegure-se de que a trama esteja completa, as ideias e os personagens bem desenvolvidos e que o humor seja entregue de forma satisfatória.

continua… Revisando a história

Fonte> wikihow 

quinta-feira, 23 de maio de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 29

 

Antonio Brás Constante (Por que eles preferem os carros e elas a casa?)

Por que os homens gostam tanto de carros, enquanto as mulheres preferem o conforto de um lar? Muitos dizem que isto acontece devido à maneira como ambos (homem e mulher) são geralmente criados. Enquanto a casa é uma espécie de porto seguro para elas, o carro fornece toda liberdade de que eles precisam, e ainda pode sempre ser trocado por outro modelo mais moderno. De preferência novo. Virgem.

O automóvel é o companheiro de aventuras e desventuras do sexo masculino. O homem sente-se como um cowboy do asfalto. Já a casa é o castelo onde vive a rainha do lar. Sendo em muitos casos, também sua masmorra. Uma caixinha de joias onde o marido guarda sua preciosa amada, como se ela fosse um objeto de porcelana. Uma porcelana frágil que lava, passa, varre, cozinha etc.

A casa é um bebezão para a mulher, um gigantesco bebê que deve ser arrumado, limpo e decorado. É sua obra-prima, um mosaico artístico em forma de lar. Uma grande parte das coisas que estão ali, foram presentes recebidos ou peças arrumadas por ela. Os eletrodomésticos, a posição dos móveis, quadros, alimentos, panos de chão, material de limpeza, etcetera e tal. A casa é uma extensão de seu ser, onde o marido é um organismo estranho, que deve ser suportado (porque em alguns raros momentos consegue ser útil, como, por exemplo, para cuidar do pátio e ajudar na recolocação dos móveis mais pesados, ou para pendurar as cortinas). Porém, ele tem que entender que o seu cantinho deve se limitar ao sofá da sala, e de preferência sem colocar os pés na mesinha de centro.

Para o homem, o carro é um tipo de máquina dos sonhos, cheia de curvas, bastando inserir a chave e pronto, ela já estará prontinha para acompanha-lo aonde ele for, fazendo tudo que mandar, sem necessidade de discutir a relação ou perguntando a ele se está gorda. Quando passeia com sua máquina sobre rodas, muitos ficam olhando-o cheios de inveja, acompanhando com os olhos vocês passarem, deixando-o cheio de orgulho de sua maravilha mecânica.

Claro que as mulheres tem atributos que um carro não dispõe. Porém, se ao menos elas fossem tão simples de lidar como um automóvel, o mundo se transformaria em uma auto-estrada sem engarrafamentos e sem pardais. Onde a vida do homem seria algo bem mais fácil e feliz.

Para uma boa parte das mulheres o homem ideal deveria ser como um liquidificador, que agiria no nível de eficiência (e potência) que elas quisessem, estando sempre pronto e limpinho na hora que elas precisassem, e quando não ele não fosse mais necessário bastaria desligá-lo e guardá-lo, sem maiores transtornos, e sem necessidade de ouvir roncos, ou recolher suas roupas espalhadas pelo chão, entre outras tantas “falhas” masculinas.

Talvez no futuro os homens possam ser trocados por práticos “robôs serviçais”, e as mulheres sejam substituídas por delirantes veículos, com acessórios para suprir todas (eu disse TODAS) as necessidades do sexo masculino. Tudo feito de forma fria e eficiente. A partir desse momento, talvez ambos enfim descubram o quanto eram felizes e não sabiam, quando partilhavam de suas imperfeições com as suas caras metades, que seriam taxadas de obsoletas em um futurístico e solitário mundo moderno.

Fonte: Recanto das Letras – 31.08.2008
https://www.recantodasletras.com.br/humor/1155407