Trova Humorística do Rio de Janeiro/RJ
WALDIR NEVES
(1924 – 2007)
É um alpinista de fama,
mas dele a vida debocha:
por ironia se chama
Caio Rolando da Rocha
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Poema de São José dos Campos/SP
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
Belos tempos...
Belos tempos, na infância, eu pude vivenciar.
Muitas brincadeiras nas ruas calmas:
de pega-pega, de roda, de cordas, de casinhas,
e muitas outras, de tirar o chapéu e bater palmas,
com as crianças vizinhas.
Belo tempo teve a minha adolescência...
De descobertas, de incertezas, de contestação!
De olhares lânguidos e de efervescência.
Do culto ao modismo e da secreta paixão...
Belos tempos... Os da minha juventude!
A faculdade, o estudo e o trabalho escolhido.
Os bailes, o grupo de amigos, a plenitude!...
O namoro não mais escondido.
Belos tempos... Vivi na maturidade,
aprendendo e transmitindo conhecimentos.
Ensinando tive a oportunidade
de o sonho concretizar e viver belos momentos.
Belos tempos... Usufruo hoje, muito bem,
com novos tipos de aprendizagens;
muitas surpresas e descobertas também!
Feliz, divirto-me em minhas viagens!
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Trova de Miguel Couto/RJ
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Zarpei, em hora furtiva,
no meu barco de emoções...
E hoje navego, à deriva,
o mar das desilusões!
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Soneto de Curitiba/PR
JANSKE NIEMANN SCHLENCKER
Restinho de natal
Estou só nesta sala fria e nua
onde dorme uma sombra em cada vão;
um pinguinho de luz fugiu da rua
e cai, por uma fresta, no meu chão.
Um ar, bem de Natal, pelo ar flutua
e faz nascer de novo uma ilusão.
Um pouco de luar caiu da lua
como uma gota branca em minha mão.
E tantos pensamentos em mim dançam
que os dedos ansiosos os alcançam
e apalpam-lhes a forma tão real!
E os toco, e os acalento de mansinho
como se acalentasse, com carinho,
o pouco que restou do meu Natal…
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Trova Premiada em Saquarema/RJ, 2015
GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo/RJ
Das mãos de Deus é que voa
o encanto poético, quando
faz caber numa lagoa
um céu de estrelas brilhando!
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Poema de Ribeirão Preto/SP
ELISA ALDERANI
Paixão antiga
Volta meu olhar ao passado
quando mocinha olhava curiosa
os poucos livros que minha mãe trazia
e, como joias raras os guardava.
Apesar da longa jornada, a cada noite,
havia um livro na mesa que a esperava.
Ela lia, e também tricotava...
Fazia isso com extrema agilidade.
Quando as minhas aulas se iniciavam,
eu percorria as ruas das livrarias.
Encantava-me na frente das vitrines,
admirando as capas dos livros, ilustradas.
Queria ter dinheiro para comprá-los...
Todos aqueles com os títulos atrativos,
com as imagens que e mim acendiam
tamanhos sonhos e fantasias.
Nos estudos amava ler as epopeias,
havia me apaixonado pela mitologia.
A professora de letras se empolgava
aclarando o texto, e com ela eu navegava.
Abria as asas da fantasia...
Um dia era sereia, outro dia rainha;
Tecendo o pano, e a noite desmanchando.
Esperando seu amado voltar da guerra.
A vida me levou a ser escritora,
gostar de brincar com as palavras.
Falar com elas, é como jogar sementes.
Após, vê-las nascer nos livros como flores.
Pelos caminhos percorridos
já colecionei os livros sonhados.
Um deles é filho muito amado,
leva dentro dele o meu legado.
Livro! Impossível viver sem ele;
ocupa lugar privilegiado...
Sobre a mesa de minha alma...
É meu néctar, o alimento preferido!
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Trova Popular
O anel que tu me deste
era de vidro e quebrou;
o amor que tu me tinhas
era pouco e acabou.
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Soneto de Volta Redonda/RJ
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
A chegada do amor
Cabisbaixo, entre as flores me encontrava,
tão várias, com que os campos, langorosa,
adorna a primavera. Ah, se apagava
de meus olhos a chama esperançosa!
— “Que sentido, meu Deus! — me interrogava —
há nesta vida fútil, dolorosa,
em que as pessoas mandam-me à fava
quando lhes falo da alma mais chorosa?”
Sentia-me pequeno, e dissolvido
estava no fel de minha pequenez...
Foi quando um vulto claro apareceu
e de novo criança então me fez,
e tudo aquilo que havia perdido,
em lágrimas e amor, me devolveu.
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Trova Humorística de São Paulo/SP
MARIA HELENA CALAZANS DUARTE
Sou garota e quero espaço,
meu sonho é um nonagenário
com safena e marcapasso
e um belo saldo bancário!!!
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Poema de Caicó/RN
DILMA DAMASCENO
A paz dos poetas
No dadivoso “Livro dos Poetas”,
as palavras revelam sentimentos…
e entre o realismo e a fantasia,
os Poetas – românticos profetas -,
vão predizendo os acontecimentos,
na linguagem suprema da poesia!...
Falam de sonhos, crenças, devoções!...
Pintam caminhos plenos de beleza!…
"Paisageando" cenas de bonança,
os Poetas alegram os corações!...
E sob a luz da sábia Natureza,
vão tatuando as almas, de esperança!
Eclodem assim, Poéticas Confrarias!
Soam forte, os “Teares do Amor”!
De forma inspiradora e pertinaz,
os Poetas, tecendo alegorias,
vão sublinhando um mundo encantador,
onde o encanto principal, é: PAZ!
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Trova Vencedora em Saquarema/RJ, 2015
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
À tarde, o céu abençoa
a Terra... e em seu ritual,
o pôr do sol na lagoa
desenha um cartão postal!
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Soneto de Portugal
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa/Portugal, 1894 — 1930, Matosinhos/Portugal
Maria das Quimeras
Maria das Quimeras me chamou
Alguém.. Pelos castelos que eu ergui
P’las flores d’oiro e azul que a sol teci
Numa tela de sonho que estalou.
Maria das Quimeras me ficou;
Com elas na minh’alma adormeci.
Mas, quando despertei, nem uma vi
Que da minh’alma, Alguém, tudo levou!
Maria das Quimeras, que fim deste
Às flores d’oiro e azul que a sol bordaste,
Aos sonhos tresloucados que fizeste?
Pelo mundo, na vida, o que é que esperas?…
Aonde estão os beijos que sonhaste,
Maria das Quimeras, sem quimeras?
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Trova de Juiz de Fora/MG
ARLINDO TADEU HAGEN
Não quero glória, dinheiro,
nem mil conquistas sem fim...
Troco os "nãos" do mundo inteiro
pela graça do teu sim!
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Soneto do do Rio Grande do Sul
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Mundos
Um elevador lento e de ferragens Belle Époque
me leva ao antepenúltimo andar do Céu,
cheio de espelhos baços e de poltronas como o hall
de qualquer um antigo Grande Hotel,
mas deserto, deliciosamente deserto
de jornais falados e outros fantasmas da TV,
pois só se vê, ali, o que ali se vê
e só se escuta mesmo o que está bem perto:
é um mundo nosso, de tocar com os dedos,
não este — onde a gente nunca está, ao certo,
no lugar em que está o próprio corpo
mas noutra parte, sempre do lado de lá!
não, não neste mundo — onde um perfil é paralelo ao outro
e onde nenhum olhar jamais se encontrará...
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
RENATO ALVES
Quando a humana insensatez
dissemina a poluição,
para ter sol outra vez,
só com imaginação...
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Soneto de São Paulo/SP
FILEMON MARTINS
Confidente
Velho mar, meu eterno confidente,
quantas vezes chorei ao confessar:
esta mágoa que fere, inconsequente,
e o tempo que não pode mais voltar.
E me dizes, então, naturalmente:
só o amor é capaz de me curar,
enquanto tuas ondas, mansamente,
os meus pés, com carinho, vêm beijar.
Exerces sobre mim grande fascínio,
porque tens sobre todos o domínio
e és tão frio nas tuas mutações.
Ao contrário de ti, eu sofro tanto,
e fico aqui a derramar meu pranto,
onde sepulto as minhas ilusões!
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Trova Premiada em Saquarema/RJ, 2015
DODORA GALINARI
Belo Horizonte/MG
Dominar a minha vida?!
És fadado a fracassar.
Não sou lagoa contida,
eu quero o agito do mar!
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Poema de Salete/SC
ALCIDES BUSS
Afeito à sorte
Circunscrevem-me acasos
que me veem.
Seu intento, sou.
E também seu logro.
Numa praia, à meia-noite,
o tempo no corpo
armazenado se apodera
dos processos sob a alma.
Renascer, renasço.
Mas a flâmula de afrontas
me submete à cicatriz
do caos, ao recorte
de martírios e recessos.
Movimento-me, imóvel.
O porto do meu corpo
está aberto. Ao não-ser
me nego, mesmo que
de tudo só me reste
quase nada.
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Trova de São José dos Campos/SP
LUIZ MORAES
Daqui da minha janela
vejo um lindo entardecer,
e um pequeno barco a vela
trazendo meu bem-querer.
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Pantun de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
Pantun dos mares da vida
TROVA TEMA:
Singrei mares de agonia,
lutei contra vendavais,
para achar a calmaria
que só encontro em teu cais.
Lisete Johnson
(Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS)
PANTUN:
Lutei contra vendavais,
tentando encontrar alguém,
que só encontro em teu cais,
e no cais de mais ninguém.
Tentando encontrar alguém,
procuro por todo canto;
e no cais de mais ninguém,
ninguém verá mais meu pranto.
Procuro por todo canto,
esse alguém, que disse adeus;
ninguém verá mais meu pranto
no pranto dos olhos meus.
Esse alguém, que disse adeus,
me tez sofrer todo dia;
no pranto dos olhos meus,
singrei mares de agonia.
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Trova da Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Nosso amor, quadras desfeitas,
de um poema sem achados...
Rimas tristes, imperfeitas,
fechando versos quebrados!...
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Hino de Barbacena/MG
Terra de encantos mil, jardim de flores
grande berço de antigas tradições
aqui ficas risonha como sempre
como sempre a prender os corações
Assentada no dorso das montanhas
tu tens a solidez das pétreas rochas
e assim o teu viver será perene
como a chama vivaz das grandes tochas
(Refrão)
Cidade dos encantos e das flores
ó Barbacena formosa e altaneira
tu és custosa gema que rebrilha
sobre o peito da pátria brasileira
Do teu seio tem vindo muitos homens
grandes pelo saber e no valor
nas letras, na política, nas artes
tu já tens muitos nomes de fulgor
Teu povo generoso, hospitaleiro
traz sempre como esplêndido troféu
nos brios a rijeza dos teus serros
na mente esplendores do teu céu.
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Trova de Amparo/SP
ELIANA DAGMAR
Batalha infinda e silente
é o da terra em seu labor:
na conquista da semente
gera o fruto, a sombra e a flor!
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Poema de Blumenau/SC
DENNIS RADUNZ
Metapoesia
I
o fonema
fabula
e se fia
na fábula
encadeia asas
II
o poema
incende
insula
música
em miniatura
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Trova de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
Ao ver a imagem singela
do barco, tranquilo, ao mar,
lembrei-me: não há procela
que Deus não possa acalmar!
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
As orelhas da lebre
Conta-se que em noite escura
Certo animal cornifronte
Pôde ferir à traição,
Junto da encosta de um monte,
O rei das feras, leão;
Que em despique mandou logo
Banir por ordens legais,
Para horror de tal delito,
Os bicornes animais
De todo aquele distrito:
Bois, veados, cabras, todos
Que na fronte armas traziam,
Aqueles sítios deixavam;
E os que logo o não faziam,
Dura morte suportavam!
Notando tímida lebre
Cumprirem-se leis tão cruas,
Na sombra um dia observando
As longas orelhas suas,
Disse a um grilo titubando:
«Ai! que estas minhas orelhas
Por chifres se tomarão!
E se houver um delator
Que o vá dizer ao leão,
Da lei me exponho ao rigor!
— Tu fazes de mim pateta?
Fala, tola; pois é crível,
Lhe disse o grilo em bom ar,
Que um par de orelhas flexível
Possa por chifres passar?
— Sim, disse ela; e por que não?
Tenho-os visto mais pequenos.»
Tornou-lhe o grilo: «Vaidosa!
Se os teus fumos fossem menos,
Serias mais venturosa.
Quem és conhece e descansa;
Porque sempre que supomos,
Pela vaidade que temos,
Ser aquilo que não somos,
Mil incômodos sofremos.»