segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Concurso de Trovas de Taubaté/SP – 2015 (Resultado Final)



Nacional/Internacional
Categoria Novos Trovadores

Tema: Vitória 
VENCEDORES

Vitória não são medalhas,
mas, sim, gotas de suor:
– é saber que, nas batalhas,
dei de mim sempre o melhor.
Edweine Loureiro da Silva
(Saitama/Japão)
-
Toda vitória comprada
não pode muito durar,
pois é glória fabricada
a quem não sabe lutar.
Edweine Loureiro da Silva
(Saitama/Japão)
-
Subjugar seu inimigo,
não é a maior vitória,
mas fazer dele um amigo…
esta é a verdadeira glória!!!
José Feldman
(Maringá/PR)
-
Quem luta constantemente
nunca pensa em desistir,
a vitória, juntamente
com sucesso vai surgir.
Reovaldo Paulichi
(Atibaia/SP)
-
Se a vitória depender
de trapaça ou falcatrua,
nada poderá se erguer
que este tempo não destrua.
Talita Batista
(Campo dos Goytacazes/RJ)

MENÇÕES HONROSAS

 No caminho desta vida,
a vitória conquistada
deixa a pessoa iludida
que não será derrotada…
Elisa Alderani
(Ribeirão Preto/SP)
-
Ao buscar novos caminhos
se quer mudar sua história,
proteja-se dos espinhos
para alcançar a vitória.
Eulinda Barreto Fernandes
(Bauru/SP)
-
Não se sinta superior
por suas duras vitórias…
Quem lhe parece inferior
já teve dias de glórias.
José Feldman
(Maringá/PR)
-
A chuva bate à janela…
Numa expressão de vitória,
a natureza singela
mostra Deus na minha história.
Plácido Ferreira do Amaral Jr.
(Caicó/RN)
-
Vitória da solidão…
Eu amargo até agora,
confesso fiquei sem chão
quando você foi embora.
Rosa Maria Gomes Mendes
(Rio de Janeiro/RJ)

MENÇÕES ESPECIAIS

Se ela contém a riqueza
que queremos possuir,
é vitória com certeza,
a sensatez atingir.
Eulinda Barreto Fernandes
(Bauru/SP)
A chave do coração
ornada com esplendor
abre a porta da razão:
– Eis a vitória do amor!
José Roberto Canoas
(Barretos/SP)

A vitória é passageira
só dura um raio de luz,
não é para a vida inteira
como um dia, então supus!
Nair Lopes Rodrigues
(Santos/SP)
-
Nas asas de uma ilusão
vislumbrei minha vitória,
e senti meu coração
cheio de esperança e glória…
Nair Lopes Rodrigues
(Santos/SP)
-
A sua grande vitória
foi vencer uma doença
que roubava-lhe a memória
e causava-lhe a descrença.
Plácido Ferreira do Amaral Jr.
(Caicó/RN)

MELHOR TROVA – EDUCAÇÃO FORMATIVA
Prêmio Dr. Paulo Affonso de Negreiros Sayão Lobato

Luto com garra e fervor,
porém mantendo a decência.
Vitória só tem valor
quando a honra é a sua essência.
Agostinho Rodrigues
(Campo dos Goytacazes/RJ)
  
Nacional/Internacional
Categoria: Veteranos
Tema: Vitória
VENCEDORES

 Se há vitória das marés,
desmanchando meus castelos,
vencerei esse revés,
construindo outros mais belos!
Dodora Galinari
(Belo Horizonte/MG)
-
Nos transtornos enfrentados,
a vitória sempre alcança,
quem possui os aliados
a Fé, o Amor e a Esperança!!!
Ercy Maria Marques de Faria
(Bauru/SP)
-
Quem direciona seus passos,
construindo sua história,
não se abate ante os fracassos
– seu foco está na vitória.
João Costa
(Saquarema/RJ)
-
Embora, às vezes, ferida,
não fujo à luta por nada!
– Cada batalha vencida
é uma vitória alcançada.
Maria Madalena Ferreira
(Magé/RJ)
-
Nem honrarias nem glórias
me trazem mais alegria
do que as pequenas vitórias
alcançadas dia a dia!!!
Maria Madalena Ferreira
(Magé/RJ)

MENÇÕES HONROSAS

Apelo ao Senhor da História:
– Tu, que a esperança nos dás,
apressa, ó Deus, a vitória
dos que acreditam na paz!
Antonio Augusto de Assis
(Maringá/PR)
-
Não há vitória maior
que o sentimento de alguém,
ao dar um pouco de amor
àquele que amor não tem.
Antonio José Barradas Barroso
(Parede/ Portugal)
-
A vitória é muito linda,
se a luta, embora renhida,
foi limpa e se ateve ainda
aos bons valores da vida!
Giva da Rocha
(São Paulo/ SP)
-
Nem sempre o atalho escolhido
nos leva ao pódio da glória…
O caminho mais sofrido
dá mais sabor à vitória!
Hélio Pedro Souza
(Caicó/RN)
-
Nas mãos do velho senhor
sulcos de calos marcados,
são vitórias que o labor
concede aos homens honrados.
Gilvan Carneiro da Silva
(São Gonçalo / RJ)

MENÇÕES ESPECIAIS

Bendita seja a vitória
quando o lado vencedor
ao festejar sua glória
não humilha o perdedor.
Alba Helena Corrêa
(Niterói/RJ)
-

Na minha visão modesta,
de um modesto trovador,
a nossa vida é uma festa
quando a vitória é do amor.
Dari Pereira
(Maringá/PR)
-
Acredito na vitória
de quem somente o bem faz.
O mal nunca leva à glória
e sempre destrói a paz.
Jaqueline Machado
(Cachoeira do Sul/RS)
-
 Nas lutas, enfraquecida,
por vitórias eu persisto -
se o sonho mantém a vida,
do sonho, jamais, desisto.
Relva do Egypto Resende Silveira
(Belo Horizonte/MG)
-
Por novo tempo na Terra,
que a luta seja tenaz,
não por vitórias na guerra,
mas por vitória da Paz!
Wanda de Paula Mourthé
(Belo Horizonte/MG)

Regional (Vale do Paraíba)
Tema: Família

VENCEDORES

Vivo feliz minha vida
num lar pobre, mas decente.
Em minha família unida
sinto Deus sempre presente.
Argemira Fernandes Marcondes
(Taubaté/SP)
-
Deus em amor se desvela
e, num momento inspirado,
cria a família e faz dela
um território sagrado.
Elbea Priscila de Souza e Silva
(Caçapava/SP)
-
Se a família rompe os laços
e cada qual segue em frente,
só o Amor junta os pedaços
para atá-los novamente.
Elbea Priscila de Souza e Silva
(Caçapava/SP)
Família, que coisa bela.
Pena que já estou no fim,
ontem eu cuidava dela,
hoje ela cuida de mim.
Maria Therezinha Marcondes de Andrade
(Taubaté/SP)
Na família que se aprende
amor, honradez, verdade;
e desse tripé depende
todo o bem da humanidade!…
Myrthes Mazza Masiero
(São José dos Campos/SP)

MENÇÕES HONROSAS

A família não é ilha
afastada… em mar aberto:
– mas um conjunto que brilha
feito oásis no deserto.
Adamo Pasquarelli
(São José dos Campos/SP)
-
A família é o fundamento
de toda sociedade,
dela vem o ensinamento
que sustenta a humanidade.
Alfredo Barbieri
(Taubaté/SP)
-
O meu lar é um ambiente
repleto de amor fecundo,
família é o maior presente
que Deus nos deu neste mundo.
Argemira Fernandes Marcondes
(Taubaté/SP)
A família verdadeira
com pais, as mães e os irmãos,
forma a nação brasileira
reduto de bons cristãos.
Cláudio de Morais
(Taubaté/SP)
-
A grande felicidade
que uma família irradia
é fruto da afinidade
gerando paz e harmonia!
Glória Tabet Marson
(São José dos Campos/SP)
-
A tarde cai. Anoitece!
No sertão a calmaria;
reza a família uma prece
à santa Virgem Maria
Joel Hirenaldo Barbieri
(Taubaté/SP)
Família grande na fé,
caminhando sempre unida,
parece a de Nazaré:
– no amor é fortalecida!
Nadir Nogueira Giovanelli
(São José dos Campos/SP)

MENÇÕES ESPECIAIS

Família só faz crescer
gente pra todos os lados,
ainda sem esquecer
os animais e agregados.
Adilson Roberto Gonçalves
(Lorena/SP)
-
Uma família moderna
vive da paz e harmonia,
não poderá ser eterna,
mas terá sempre alegria.
Adilson Roberto Gonçalves
(Lorena/SP)
-
O destino traiçoeiro
minha família roubou.
Sou agora um prisioneiro
da saudade que ficou.
Alda Lopes de Oliveira Rezende
(Taubaté/SP)
-
Sem família e sem abrigo
pelas ruas vou vivendo.
Sem um lar e um “ombro amigo”
sinto estar quase morrendo.
Alda Lopes de Oliveira Rezende
(Taubaté/SP)
-
O presente mais bonito
que de Deus fui merecer,
é o meu lar, Santo e Bendito
e a família que fui ter.
Martinho Monteiro
(Taubaté/SP)

Categoria: Professores
Tema: Computador
VENCEDORES

 Ganhei um computador
de presente do meu neto,
mesmo sendo um professor
sinto-me um analfabeto.
Alfredo Barbieri
(Taubaté/SP)
-
Um toque ilumina a tela
e olhar o relógio evito…
computador é janela
que me oferece o infinito!
Carolina Ramos
(Santos/SP)
-
Na escola, o computador
é a tela da leitura.
Para todo educador,
o teclado da cultura.
Isabel Cristina Nogarotto
(Tremembé/SP)
-
Para o mundo transformar
por via computador,
basta o bem multiplicar,
usando-o a seu favor.
Talita Batista
(Campos dos Goytacazes/RJ)
-
Seu mundo é o computador…
E o rapaz, já sem infância,
escreve versos de amor,
só… em seu quarto… à distância!
Therezinha Dieguez Brisolla
(São Paulo/SP)

MENÇÕES HONROSAS

Quantos tesouros guardados
em cada computador:
– desde secretos tratados
recadinhos de amor!
Antonio Augusto de Assis
(Maringá/PR)
Escrevam isso o que digo:
– pode ser caso de amor,
pois eu já não mais consigo
viver sem computador.
Adilson Roberto Gonçalves
(Lorena/SP)
-
Computador na pesquisa
é um recurso auxiliar,
mas o educando precisa
do mestre para ensinar!
Alba Helena Corrêa
(Niterói/RJ)
-
Por mais que um computador
mostre saber em seus atos,
sabedoria, senhor,
só vem dos homens sensatos.
Dodora Galinari
(Belo Horizonte/MG)
-
Poucos têm compreensão
da luta do professor
que ensina a ganhar o pão
num velho computador!
Roberto Resende de Vilela
(Pouso Alegre/MG)

MENÇÕES ESPECIAIS

Nesse vaivém da mensagem,
trocada no dia-a-dia,
computador é “viagem”
que num clique principia!…
Carolina Ramos
(Santos/SP)
-
Sem computador em casa,
não conseguimos ficar…
É como cortar a asa,
não podendo mais voar!
Celinha Marques
(Taubaté/SP)
-
E surge o computador!
Tudo ficou mais veloz.
Até as cartinhas de amor,
com música, verso e voz!
Dalva Maria de Araújo Sales
(Santos/SP)
-
 Nenhum empenho é ruim
quando se quer educar.
Computador é assim:
– “Vai sempre nos ajudar”.
Marialice Araújo Velloso
(São Gonçalo/RJ)
-
Aluno, computador
é útil, bom companheiro,
ajuda-o, mas professor
é o seu melhor conselheiro!
Mercedes Lisbôa Sutilo
(Santos/SP)

Categoria Estudantil – Juventrova
Tema: Esportes
VENCEDORES

 Toda cultura do esporte
valoriza uma nação.
Seja do Sul ou do Norte,
toca em qualquer coração.
Gabriela do Nascimento Almeida
IDESA – 6o B
-
Os esportes são bem mais
do que apenas diversão.
Eles são essenciais
para nossa formação.
Maisa de Oliveira Miranda
IDESA – 6o C
-
 Um corpinho assim enxuto
não é só questão de sorte…
Ninguém sabe o quanto eu luto,
praticando muito esporte.
Matheus Lopes Maruyama
IDESA – 6o C
-
O esporte é uma atitude
que em toda e qualquer idade,
traz ao corpo mais saúde,
à vida mais qualidade.
Milena Dias
IDESA – 2o C
-
Meu esporte favorito
pratico ao me levantar,
com um sorriso bonito
saio cedo a caminhar.
Raffaela Nicoliello Biondi
IDESA – 2o A

MENÇÕES HONROSAS

Esporte é bom para a vida.
É bom se movimentar.
Aquecer para corrida
e o troféu talvez ganhar.
Maria Eduarda Ribeiro dos Santos
E. E. Monteiro Lobato – 1o A
-
Pois é no esporte da vida,]
que todos querem ganhar.
Qualquer que seja a partida,
vale muito se empenhar.
Raquel Bispo Garcia
IDESA – 9o C

MENÇÕES ESPECIAIS

Uma verdade do esporte!
Não se precisa ter fogo,
nem se precisa de sorte
para termos um bom jogo.
Ednalva Braga da Silva Santos
E. E. Prof. Newton Câmara Leal Barros – 3o B
-
No calor da juventude
é que se encontra energia.
Também bastante saúde
com esporte todo dia.
Lívia Oliveira de Almeida
IDESA – 8o B

Categoria: Vicentino
Tema: Conferência
Vencedores

É na minha Conferência
em estado de oração,
que me vem à consciência:
– Devo acolher meu irmão.
Alfredo Barbieri
Conferência Nossa Senhora do Rosário
Conselho Central de Taubaté/SP
-
Eu frequento a Conferência
para aprender muito mais.
É o ponto de referência
que eu não deixarei jamais.
Antonina Cardoso Machado
Conferência São Roque (Lorena/SP)
Conselho Central de São José dos Campos/SP
-
Quem é de uma Conferência,
tem um nobre coração,
trata todos com clemência
e aos pobres reparte o pão.
Edson Ananias Nóbrega
Conferência São Maximiliano Kolbe (Gama/DF)
Conselho Central Santo Antonio do Gama/DF
-
A primeira Conferência
Ozanam foi quem fundou
e com muita persistência
a grande rede criou.
Eunice Regina de Oliveira Silva
Conferência São Sebastião (Matão/SP)
Conselho Central de Araraquara/SP
-
Muitos jovens e crianças,
indo para a Conferência,
são as nossas esperanças
de suprir tanta carência.
Jane Márcia Gomes de Sousa
Conferência Jesus Cristo Rei (Gama/DF)
Conselho Central Santo Antonio do Gama/DF
-
Quando a família se “aperta”,
pede ajuda com urgência;
a caridade desperta
e entra em campo a Conferência.
Luiz Florivaldo Brigato
Conferência Santa Clara
Conselho Central de Indaiatuba/SP
Italiano de nascença
e Francês por adoção,
fundador da Conferência,
Ozanam é nosso irmão.
Lupércio Ferraz de Pontes
Conferência São João Batista
Conselho Central de Sete Lagoas/MG
-
Conferência, para o pobre,
é ajuda sempre presente:
– combate, de forma nobre,
os pesares que ele sente.
Maria da Conceição do Altíssimo França
Conferência Imaculada Conceição
Conselho Central de Sete Lagoas/MG
-
A Conferência é o lugar
em que todos são irmãos;
vão aos pobres, ajudar,
na alegria, dando as mãos.
Pedro José Guimarães
Conferência Jesus Cristo Rei (Gama/DF)
Conselho Central Santo Antonio do Gama/DF

Olivaldo Júnior (Pequeno conto não contado)

Pintura de Salvador Dali
Aquele homem não precisava de psicólogo. Era um homem comum. Trabalhava, estudava, cuidava do que devia cuidar, enfim, ninguém jamais diria que ele precisava de psicólogo. Isso talvez ainda ocorra porque as pessoas nem saibam de verdade o que faz um psicólogo. Na verdade, ninguém sabe muito bem o que se faz na profissão de ninguém. É preciso estar na pele do outro para sentir o que ele sente? Nem sempre. Mas o caso é que, se soubessem que aquele homem comparecia às sessões com psicólogo pelo menos quatro vezes por mês, diriam que ele, de fato, não precisava "disso".

Diziam muita coisa sobre aquele homem. Dizem muita coisa sobre todo mundo. Mas aquele homem não era quase nada do que falavam dele. Sabia que era mais ou menos bom, mais ou menos "humano", isto é, mais ou menos capaz de amar. Amar é lição que causa muita repetência, só não se divulga muito por aí. Nas fotos do Face, nas caras da Caras, o que se vê são olhos sorridentes que, por dentro, se desmancham como frágeis flores de dente-de-leão. Leão. Eis um bicho que aquele homem jamais seria. Estava mais para gato, para ave, ou até mesmo para peixe. Só, "nadava" em si mesmo.

O que acontece é que um dia tudo muda. A mandala da vida se desfaz e se refaz pelas mãos do tempo, que é cristão, zen-budista e todas as demais religiões ao mesmo tempo. Tempo que estava naquele homem. Do trabalho para casa, de casa para o trabalho, sem amigos, sem amor, contava com a presença de uma grande e velha amiga a lhe fazer companhia. Era seu anjo na Terra. De repente, entre um e outro movimento desse planeta, o homem se viu diferente do que sempre foi. Primeiro, foi mudando por dentro e, devagar, mudou por fora também. Não foi o cabelo, mas a cabeça.

Aquele homem foi trocando os hábitos que o prejudicavam por outros, que o favoreciam. A carinha dele, de menino, foi ficando ainda mais jovem. A vida é jovem para quem acredita que aprender um pouco a cada dia é a única e verdadeiramente possível fonte da juventude. Perdeu os quilos que precisava perder, mudou a mente, os pensamentos de outrora, e sua alma, seu espírito ficou mais livre, soou mais light, cantou mais firme ao violão que um companheiro lhe dera. Os sonhos repousavam nele e, como pássaros no fio de luz, lá ficavam. Seu psicólogo, contente, o aplaudia muito.

Diziam muita coisa sobre aquele homem. Mas a verdade é que, pela primeira vez, começaria ele mesmo a dizer a que veio, porque existia sob a forma humana nesse mundo de tantas formas diferentes e (in) decifravelmente afins. O que acontece é que um dia tudo muda. Aquele homem não precisava de psicólogo, diziam. Mas foi um deles que lhe deu a mão e o tirou do "mar morto" em que estava para o prenúncio das areias de Ipanema, com guarda-sóis e gente à beça, um sol a pino, brasileiro, como quis Vinicius, com muita música e poesia. Não foi o cabelo, nem a cabeça: foi ele, sabe?

Fonte:
O Autor
Imagem –

domingo, 20 de dezembro de 2015

Contos Populares Portugueses (História de Debaixo da Terra)

Havia um lavrador que tinha três filhas e ia botar água a uma lameira, e sempre ouvia lá uma voz que lhe dizia:

- Traz-me a tua filha!

E o homem voltava para casa muito triste. As filhas perguntaram-lhe o que tinha, e ele contou-o. Ofereceu-se a mais velha para ir, e foi, mas a voz disse que não era aquela. Depois foi a do meio, e a voz disse o mesmo.

Por fim, foi a mais nova, e logo se abriu na terra um alçapão, por onde ela desceu, e foi ter a um quarto, onde estava sozinha e servida por um negro. O negro viu-a um dia muito triste e perguntou-lhe o que tinha. Ela respondeu que o coração lhe adivinhava que a sua mãe tinha morrido. O negro foi dizê-lo ao amo, e este mandou-lhe as chaves para ela tirar o dinheiro que quisesse e ir a casa. Também mandou aparelhar o cavalo branco e disse que ela montasse assim que este desse três patadas, senão o cavalo não esperava.

A rapariga foi e a mãe estava morta. O cavalo deu uma patada, e ela soltou um suspiro muito grande. Depois o cavalo deu duas patadas, e ela deu outro suspiro. As irmãs perguntaram-lhe o que era, e ela contou. A terceira patada, montou e foi-se embora.

Outro dia, estava muito triste, o negro perguntou-lhe o que tinha. E ela disse que o coração adivinhava que o pai tinha morrido. Sucedeu o mesmo que da primeira vez: ela foi, o pai morrera, mas as irmãs perguntaram-lhe se ela estava bem. Ela disse que sim, só tinha de noite um grande pesadelo. As irmãs disseram-lhe que metesse uma vela acesa dentro de uma panela e a cobrisse com um testo e quando tivesse o pesadelo tirasse o testo para ver.

Assim fez, e viu um homem, que lhe disse:

- Tu nem foste boa para ti nem para mim, que eu tinha o meu encanto hoje acabado, e agora dobraste-me.

Mas vestiu-a de rapaz e disse-lhe:

- Hás de ir servir para o rei. Toma lá este anel. Quando te vires apoquentada, lembra-te de quem te deu.

A rapariga foi servir para um palácio, e a rainha agradou-se muito do moço, porque era muito bonito. Para o tentar, mandava-o trazer água e ramos de flores para ele entrar no quarto dela, mas ele deixava tudo à sua porta.

Um dia, a rainha foi acusá-lo ao rei, dizendo-lhe que o moço a tentara. O rei mandou-o enforcar. A rapariga não tinha tornado a pensar no anel, mas quando o carrasco ia a deitar-lhe a corda lembrou-se, e logo ali apareceu um homem vestido de branco, que perguntou ao rei porque é que o ia enforcar. O rei explicou porquê.

Ele mandou-a descer, e despiu-a toda, e disse que, como era mulher, não podia meter-se com a outra. O rei então mandou matar a rainha e queria casar com a rapariga, mas o encanto disse que não, que lhe tinha custado muito e que era dele. E casaram.

Fonte:
Viale Moutinho (org.) . Contos Populares Portugueses. 2.ed. Portugal: Publicações Europa-América.

Silvana da Rosa (A mulher escritora e personagem nos contos de fadas) Parte X

Libreria Fogolla Pisa
Clarissa Estés (1994)28 observa que o que a mulher vestia, ou quando demonstrava estar alegre e, consequentemente, seu próprio corpo exibia esse estado de espírito, já representava risco para que ela fosse violentada, sendo que os maus-tratos às meninas eram atitudes comuns à época, visto que elas deveriam suprimir seus anseios básicos através de uma educação extremamente severa.

[...] A mulher que se enfeitava despertava suspeitas. Um traje ou o próprio corpo alegre aumentava o risco de ela ser agredida ou de sofrer violência sexual. Não se podia dizer que lhe pertenciam as roupas que cobriam os seus próprios ombros.
Era uma época em que os pais que maltratavam seus filhos eram simplesmente chamados de “severos”, em que as lacerações espirituais de mulheres profundamente exploradas eram denominadas “colapsos nervosos”, em que as meninas e as mulheres que vivessem apertadas em  cintas, amordaçadas e contidas, eram consideradas “certas”, enquanto aquelas que conseguiam fugir da coleira uma ou duas vezes na vida eram classificadas de “erradas”. (ESTÉS, 1994, p.18, grifos da autora)
                     
Além de o pai ser um antagonista ou um pai ausente, não tendo presença marcante ou, de outro modo, mostrando-se cruel nos contos de fadas, a imagem de homem-príncipe-herói é bastante intrigante, uma vez que, em Grimm, observa-se o seguinte:

Cem anos exatos haviam se passado, e chegado o dia em que Rosinha dos Espinhos deveria despertar. Assim que o príncipe aproximou-se da cerca viva, os espinhos eram inúmeras flores belas e grandes que se afastavam sozinhas, deixando-o passar ileso, fechando-se de novo atrás dele [...] (GRIMM, 1996, p.17)
                     
Nessa situação, questiona-se por que o príncipe é considerado um herói, pois todo o ambiente que, outrora, era fatalmente contrário aos que se aproximavam, inusitadamente, após o término do período de sonolência da princesa, tornou-se mágico, não apresentando mais nenhuma dificuldade a quem chegasse lá. Aliás, abrir-se-lhe-ia passagem. Dessa forma, é possível se questionar se havia o auxílio de alguma fada madrinha ou algum ser mágico que direcionasse o caminho para o príncipe e o estivesse acompanhando. Sendo assim, o príncipe tornou-se herói por acaso, imerecidamente. Tanto que, na versão de Perrault, também não há variação
quanto à casualidade do surgimento do herói:

O jovem príncipe, com esta conversa, sentiu-se todo aceso; acreditou, sem vacilar, que daria um fim a tão bela aventura; e impelido pelo amor e pela glória, resolveu ir ver na hora do que se tratava. Mal aproximou-se do bosque e todas as árvores grandes, o mato e os espinheiros foram-se afastando para deixá-lo passar: caminhou para o castelo que avistava ao fim de uma longa alameda que trilhou e, o que o surpreendeu um pouco, viu que ninguém da comitiva pudera segui-lo, porque as árvores se tornaram a fechar assim que ele passou. Não deixou de prosseguir seu caminho: um príncipe jovem e apaixonado é sempre valente [...] (PERRAULT, 1996, p.34-5)
                     
No caso do conto de Basile (Sol, Lua e Tália), já visto anteriormente, não há presença de heroísmo, uma vez que o rei encontra a princesa por acaso, adormecida e indefesa em seu castelo, abusa sexualmente da mesma e retorna ao seu reinado, sumindo covardemente desse cenário inicial e esquecendo do feito praticado. No entanto, o que se percebe nos contos escritos por homens é que as ações selvagens praticadas por príncipes e reis são atenuadas de forma incomparável. De outro modo, a figura feminina, representada pela princesa ou rainha é figurante em seu papel e dependente dos atos masculinos, mas quando esta decide agir por impulso próprio, geralmente comete falhas imperdoáveis. Aliás, contrariamente à avaliação masculina, a ação indevida feminina ganha projeções catastróficas, a ponto de fazê-la perder a vida e ser usada como exemplo a não ser seguido pelas demais.

      Por outro lado, paradoxalmente, segundo Franz, o herói é, [...] o restaurador da situação sadia, consciente. Ele é um ego que restabelece o funcionamento normal e sadio de uma situação, onde todos os egos da tribo ou nação estão desviando-se do padrão básico e instintivo da totalidade. (FRANZ, 1981, p. 72)
                     
Analisando-se a definição de herói vista acima, há de se convir que a afirmação de Franz é bastante pertinente, uma vez que o personagem príncipe ou rei assume, sim, um papel dúbio nos contos de fadas, mas depende dele o retorno da harmonia no enredo, outrora conflitante. Desse modo, o príncipe representa o equilíbrio, aquele que reestrutura a história em questão para que, sucessivamente, se tenha e se garanta um final feliz para a mesma.

Em relação à austeridade da figura feminina, Propp salienta que alguns povos cultuavam os limites, o exílio para o sexo feminino imposto pela sociedade, ou seja, a princesa deveria viver em reclusão, jamais podendo ver a luz do sol e nem conviver em sociedade: “[...] Nos contos georgianos e mingrelianos, a princesa é chamada mzedunag av. Esse termo pode ter dois sentidos: “não vista pelo sol” e “que não viu o sol” [...]” (PROPP, 2002, p. 33).

De acordo com essa ideia de solidão, observa-se o ambiente-chave do conto A bela adormecida, o quarto, uma vez que os ambientes estritamente internos eram os únicos permitidos à mulher. Enquanto que aos homens cabia-lhes escolher o que desejassem.

Propp afirma ainda que, nos contos de caráter novelesco, geralmente se percebe a presença de mulheres aprisionadas após o casamento e testadas, cotidianamente, quanto a sua fidelidade ao marido.

[...] Nos contos de cunho novelesco, após o casamento, o marido “constrói para sua mulher um palácio onde havia uma única janela”, etc. Na sequência, percebe-se que assim se fez para testar a fidelidade da esposa.
Às vezes esse confinamento tem como objetivo perseguir uma mulher:
“ - Prenderam sem motivo a pobre mulher inocente. O senhor mandou construir uma torre de tijolo em seu pátio e ali a trancou. Deixaram-lhe apenas uma janelinha, por onde lhe passavam água e pão seco”. O motivo das jovens e das mulheres aprisionadas é amplamente conhecido no gênero novelesco, onde os maridos ciumentos utilizam tal processo [...]  (PROPP, 2002, p. 41)
                     
Como curiosidade, faz-se necessário conferir que, por outro lado, existe a aplicação de outro sistema social e familiar no mundo, além do patriarcal. Marie–Louise von Franz demonstra uma outra realidade vivida pela mulher no Sul da Índia, uma vez que lá se vive uma estrutura matriarcal e isso não representa situação inversa à patriarcal, ou seja, que o sexo feminino seja o mandatário. Nada disso acontece nesse sistema, mas aqui se tem a realidade, não a ficção:

as mulheres confiam espontaneamente em sua natureza feminina. Têm consciência de sua importância, do fato que possuem traços particulares que as diferenciam dos homens, e de que estes não implicam em nenhuma inferioridade. Têm uma segurança inteiramente natural em suas existências e em seu comportamento humanos. (FRANZ, 1995, p. 16)
                     
No entanto, somente em decorrência da    disseminação do movimento feminista no mundo ocidental, é que as mulheres, vítimas de maridos e pais cruéis, bem como de um sistema patriarcal arraigado com raízes bastante profundas, puderam se opor à sua sorte e, a partir daí, brilharam em novos papéis dentro e fora de histórias escritas ou a serem escritas.

Nota:
Surgido nos países ocidentais entre as décadas de 1930 e 40, o Movimento Feminista é um movimento sócio-político, que luta pela igualdade de direitos entre os sexos. Olmi, referindo-se ao Movimento Feminista, cita também o Pós-Modernismo, uma vez que ambas as correntes político - culturais são recentes. Desse modo, Olmi apoia-se em Sarup para definir tais correntes: Como reconhece Sarup, feminismo e pós-modernismo surgiram como duas das mais importantes correntes político - culturais das últimas décadas. Ele aproxima os dois movimentos, tendo em vista que apresentam semelhanças, pois ambos trouxeram uma crítica apropriada e abrangente da filosofia e da relação entre filosofia e cultura, no sentido mais amplo possível. Ambos tentaram desenvolver um novo modelo de crítica social que não se apoia em sustentáculos filosóficos tradicionais [...] (OLMI, 2003, p. 109). Além disso, Olmi cita a voz de Hutcheon para expressar as contribuições do pensamento feminista para o ocidente: “As mulheres ajudaram a desenvolver a valorização pós-moderna das margens e do excêntrico como uma saída com relação à problemática de poder dos centros e às oposições entre masculino e feminino” [...] (HUTCHEON apud OLMI, 2003, p. 108)).


continua…

Fonte:
Silvana da Rosa. Do tempo medieval ao contemporâneo: o caminho percorrido pela figura feminina, enquanto escritora e personagem, nos contos de fadas. Dissertação de Mestrado em Letras. Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), 2009