quarta-feira, 8 de julho de 2009

Arthur Conan Doyle (Através do véu)



Ele era um fronteiriço enorme, cabeludo e de rosto sardento, descendente direto de uma tribo dada ao roubo de gado em Liddesdale. Apesar de sua descendência, era um cidadão tão sensato e sóbrio quanto podia se desejar, vereador em Melrose, presbítero da Igreja e presidente da seção local da Associação Cristã de Moços. Seu nome era Brown – e se via impresso como “Brown and Handiside”, sobre as grandes mercadorias da rua principal. Sua esposa, Maggie Brown, era Armstrong antes de se casar, e vinha de uma velha família de camponeses nos ermos de Teviothead. Era de baixa estatura, moreninha e possuía olhos negros, além de um temperamento estranhamente nervoso para uma mulher escocesa. Não se podia encontrar maior contraste entre o homem grande e trigueiro e a pequena mulher morena, porém ambos eram da terra, até onde podia alcançar a memória.

Um dia – era o primeiro aniversário de seu casamento – eles saíram juntos para ver as escavações do Forte Romano em Newstead. Não era um lugar particularmente pitoresco. Da ribanceira norte do Tweed, exatamente onde o rio forma uma curva, estende-se uma rampa suave de terra arável. Através desta corriam os valos dos escavadores, expondo, aqui e ali, velhos trabalhos de pedra, indicando os alicerces das antigas muralhas. Havia sido um lugar enorme, pois o acampamento possuía cinqüenta acres de extensão e o forte, quinze. De qualquer modo, tudo era fácil para eles, uma vez que o Sr. Brown conhecia o fazendeiro proprietário da terra. Sob sua direção, passaram uma longa tarde de verão inspecionando as valas, as covas, as muralhas e toda a estranha variedade de objetos que esperavam ser transportados para o Museu de Antigüidade de Edimburgo. A fivela de um cinturão de mulher havia sido desenterrada naquele mesmo dia e o fazendeiro estava discorrendo sobre isto, quando seus olhos se fixaram no rosto da Sra. Brown.

Sua boa senhora acha-se cansada, disse ele. Talvez seja melhor descansar um pouco antes de continuar.

Brown olhou para a esposa. Ela estava pálida, certamente, e seus olhos escuros, luminosos e estranhos.

O que é Maggie? Cansada? Acho que é hora de regressarmos.

Não, não, John, continuemos. É maravilhoso. Igual a um país de sonho. Tudo parece estar tão chegado e perto de mim. Quanto tempo os romanos permaneceram aqui, Sr. Cunningham?

Longo tempo, senhora. Se a senhora visse as covas de lixo das cozinhas, compreenderia que levaria muito tempo para enchê-las.

E por que eles partiram?

Bem, senhora, por todos os sinais, partiram porque tiveram de o fazer. O povo das vizinhanças não podia suportá-los mais, por isso levantaram-se e queimaram o forte. Pode ser a marca de fogo nas pedras.

A mulher estremeceu ligeiramente.

Uma noite feroz... horrível, disse ela. O céu devia estar vermelho aquela noite... e estas pedras cinzentas também.

Sim, acho que se encontravam rubras, disse seu marido. É uma coisa estranha, Maggie, e talvez fossem suas palavras que a ocasionasse; mas pareço ver este incidente mais claro do que jamais vi qualquer coisa em minha vida. A luz brilhava na água.

Sim, a luz brilhava na água. E a fumaça agarrava-se à garganta. E todos os selvagens estavam gritando.

O velho fazendeiro começou a rir.

A senhora escreverá uma história acerca do velho forte, disse ele. Eu o tenho mostrado a mais de um indivíduo, mas nunca ouvi explicação tão clara. Algumas pessoas têm o dom.

Haviam bordejado a margem do fosso, e um poço abria sua boca à direita deles.

Aquele poço possui 14 pés de profundidade, disse o camponês. Imaginem o que retiramos do fundo? Bem, era somente o esqueleto de um homem com uma lança ao lado. Penso que a empunhava quando morreu. Ora, como pode um homem com uma lança achar-se num buraco destes? Não estava enterrado, porque eles queimavam seus mortos. Que conclui disso, senhora?

Ele saltou ao fundo para livrar-se dos selvagens, disse a mulher.

Bem, é plausível e um dos professores de Edimburgo não poderia apresentar melhor explicação. Gostaria que estivesse aqui, senhora, para responder às nossas dificuldades. Aqui está o altar que encontramos semana passada. Há uma inscrição. Disseram-me que é latim que significa que os homens deste forte agradecem a Deus por sua segurança.

Examinaram a velha pedra gasta. Havia dois VV largos e profundamente entalhados, no topo.

Que significam estes dois VV, perguntou Brown.

Ninguém sabe, respondeu o guia.

Valeria Victrix, disse a senhora, suavemente. Seu rosto se encontrava mais pálido que nunca, os olhos muito distantes, como quem observa pelas passagens obscuras das abóbadas dos séculos.

Que é isto? perguntou o marido, asperamente.

Ela estremeceu como alguém que acorda de um sono.

Acerca de que falávamos? perguntou.

Destes VV na pedra.

Não há dúvida de que é somente o nome da legião que erigiu o altar.

Sim, mas você lhe deu um nome especial.

Realmente? Que absurdo! Como poderia eu saber qual era o nome?

Você disse algo... Victrix, suponho.

Acho que estava conjecturando. Este lugar me dá o sentimento singular de não ser eu própria, mas outra pessoa.

Sim, é um lugar misterioso, disse seu marido, olhando ao redor com uma expressão quase de medo em seus olhos cinzentos e agressivos. Também sinto isto. penso que somente lhe desejaremos boa noite, Sr. Cunningham, e regressaremos a Melrose.

Nenhum deles pôde sacudir a estranha impressão que lhes havia sido deixada, pela visita às escavações. Era como se algum miasma houvesse subido daquelas valas úmidas e passado ao sangue deles. Toda a tarde permaneceram silenciosos e pensativos, mas os poucos comentários que faziam mostravam que o mesmo objeto ocupava a mente de cada um. Brown passou a noite sem repouso na qual teve um sonho estranho e bem concatenado, tão vívido que ele acordou transpirando e tremendo como um cavalo amedrontado. Tentou descrevê-lo à sua mulher quando se sentaram para o lanche, de manhã.

Foi a coisa mais clara, Maggie, disse ele. Nada que me aconteceu quando acordado tem sido mais claro do que isto. sinto-me como se estas mãos estivessem pegajosas de sangue.

Conte-me devagar, disse ela.

Quando começou eu estava numa encosta. Encontrava-me deitado no chão. Este era áspero e havia moitas de urzes. Tudo ao meu redor era somente escuridão, mas eu podia ouvir o sussurro das respirações dos homens. Afigurava-se uma grande multidão em ambos os lados ao meu redor, mas não podia ver ninguém. Às vezes, havia um baixo tinido de aço, e então um número de vozes sussurrava “Silêncio!”. Eu tinha uma clava nodosa na mão e esta era guarnecida de pontas de ferro na extremidade. Meu coração batia rapidamente, e eu sentia que pairava um momento de grande perigo. Uma vez deixei cair minha maça, e as vozes todas ao meu redor ordenaram na escuridão “Silêncio!”. Apoiei minha mão no chão e toquei o pé de outro homem deitado à minha frente. Havia outros ao meu alcance de ambos os lados. Mas não disseram nada.

Então todos começamos a nos mover. A encosta inteira parecia estar rastejando para baixo. Existia um rio no sopé e uma ponte de madeira com arcos altos. Além da ponte viam-se muitas luzes – tochas numa muralha. Os homens rastejantes dirigiam-se todos em direção à ponte. Não houve som de espécie alguma, porém uma quietude aveludada. Então ouviu-se um grito na escuridão, o brado de um homem que era apunhalado no coração, subitamente. Aquele único grito elevou-se durante um momento e depois ouviu-se o rugir de mil vozes furiosas. Eu estava correndo. Todos corriam. Uma luz vermelha brilhou e o rio tornou-se uma faixa rubra. Podia ver meus companheiros agora. Eram mais demônios do que homens, figuras ferozes vestidas de peles, com o cabelo e a barba caindo em torrentes. Estavam todos furiosos de raiva, saltando enquanto corriam, as bocas abertas, os braços em agitação, a luz vermelha batendo em seus rostos. Corri também, e gritei maldições como os demais. Então ouvi um grande estralejar de madeira que soube que as paliçadas tinham caído. Percebi um silvo alto em meus ouvidos e eu me achava consciente de que as flechas voavam ao meu redor. Caí no fundo de um valo e vi uma mão estendida de cima. Segurei-a e fui puxado. Olhamos para baixo e vimos homens prateados segurando suas lanças para o alto. Alguns dos nossos saltaram sobre as pontas. Nós os seguimos e matamos os soldados antes que pudessem desenterrar as lanças dos corpos novamente. Eles gritavam alto em uma língua estrangeira, mas não tivemos misericórdia. Caminhamos sobre eles como uma onda, e os espezinhamos para baixo da lama, pois eram poucos e o número dos nossos infindável.

Encontrei-me entre edifícios e um destes estava incendiado. Vi as chamas ressaindo através do telhado. Corri e achei-me só entre os edifícios. Alguém cruzou correndo à minha frente. Era uma mulher. Segurei-a pelo braço e segurando-lhe o queixo, voltei seu rosto a fim de que a luz do fogo o iluminasse. Quem você pensa que era, Maggie?

A esposa umedeceu os lábios secos.

Era eu, disse ela.

Ele olhou para ela, surpreso.

É certo seu palpite, disse. Sim, era exatamente você. Não simplesmente parecida, você compreende. Era você, você própria. Eu vi a mesma alma nos seus olhos amedrontados. Você parecia branca e formosa, maravilhosa à luz do fogo. Eu tinha somente um pensamento na cabeça – levá-la para longe comigo; conservá-la toda para mim no meu lar em algum lugar nas colinas. Você arranhou meu rosto. Levantei-a sobre o ombro e procurei achar um caminho para fora da luz do edifício em chamas e de retorno à escuridão.

Então aconteceu a coisa que relembro mais que tudo. Você está doente, Maggie. Devo parar? Meu Deus! você tem no rosto o mesmo olhar que possuía a noite passada no meu sonho. Você gritou. Ele veio correndo à luz do fogo. Sua cabeça estava desprotegida; seu cabelo era negro e encaracolado; e ele tinha uma espada nua na mão, curta e larga, pouco maior que uma adaga. Ele lançou-se contra mim, mas tropeçou e caiu. Segurei-a com uma das mãos, e com a outra...

Maggie havia saltado, ficando de pé, com feições contraídas.

Marcus! Gritou ela. Meu belo Marcus! Oh, seu animal! Fera! bruto! Houve um estardalhaço de xícaras de chá, quando ela caiu para a frente, sobre a mesa, inconsciente.

Nunca falam daquele incidente isolado e estranho em sua vida de casados. Por um instante, a cortina do passado tinha sido afastada, e algum estranho lampejo de uma vida esquecida tinha sido mostrado a eles. Mas o véu caiu, para nunca mais levantar-se. Vivem em seu círculo estreito – ele na sua loja, ela no lar – e não obstante horizontes mais novos e amplos formaram-se vagamente em torno deles, desde aquela tarde de verão no fragmentado Forte Romano.

Fontes:
Scribd
Imagem = Oficina de Idéias e Ideais

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Trova XXXVIII

Nestor Vítor (Poesias Avulsas)


MORTE PÓSTUMA

Et vraiment quand la mort viendra que reste-t-il?
P. Verlaine


D'esses nós vemos: lá se vão na vida,
Olhos vagos, sonâmbulos, calados;
O passo é a inconstância repetida,
E os sons que têm são como que emprestados.

— Dia de luz. – Respiração contida
Para encontrá-los despreocupados,
Aí vem a morte, estúpida e bandida,
Rangendo em seco os dentes descarnados.

Mas embalde ela chega, embalde os chama:
Ali não acha nem de longe aqueles
Grandes assombros que aonde vai derrama!

E abre espantada os cavos olhos tortos:
Vê que se eles têm os olhos vítreos, que eles...


Do livro: "Transfigurações" (1902)
================

DUETO DE SOMBRAS

Ah! descuidosa Ofélia, é o irresistível que me está chamando,
Mas não te deixarei abandonada ...
A coroa de rosas desfolhando,
Não pela doida correnteza,
— Mãos esguias de cera enregelada —,
Irás, mas docemente, aos meus dois braços presa,
Teu olhar, a sorrir, no meu olhar fitando.

— Mas como é frio este caminho!
— Abriga-te em meu manto de loucura!
— Estás tão alto! Não alcanço o teu carinho...
Eu era mais feliz com a paz que há na planura ...

— Sobe! - Subirei, que te amo!
— Sobe, sofrendo embora! Leva para o alto a fé!
Lá em cima de uma árvore nova pende um ramo
(Palma? Loureiro? - áureo_e viril) que não se sabe para quem é.


Turris eburnea (1900)
=======================

OS VERSOS

Versos ... são candelabros que se tocam
Tirando estrelas do cristal ferido ...
Óleo de que perfumes se deslocam .
Estranhos, num vapor vago e fluido...

Bergantins marchetados de ouro e prata
A balouçar num mar sonoro e ardente,
Que todo em nenúfares se desata
E em ilhas verdes, infinitamente ...

Versos ... largas cadeias de diamante,
Lançadas de um extremo a outro da Terra
Para pô-la risonha e soluçante,
— Áureas grilhetas de amorosa guerra ...

Flores do Desespero, doloridas,
Lírios feitos de sangue, transmudados,
Sob o ardor das insônias homicidas
Qual um punch a luz verde germinados ...

Versos! que alma sonora e tumultuosa
— Céu em que os astros chocam-se cantando —
Que alma grande, alma nobre, alma ansiosa
Não vos anda risonha procurando.

Dos Eleitos vós sois os mensageiros!
Canta, por eles, florescente rima,
Por eles mergulhais, filtros traiçoeiros,
As almas numa embriaguez opima.

Adernando-vos leves e graciosos
É que o Poeta arrebata e nos transporta
Para aqueles países fabulosos
Do Sonho, abrindo ao Infinito a porta.

Não pode alguém se libertar dos laços
Sob os quais o tenhais escravizado
Enquanto lhe ritmar, sonora, os passos
A grilheta de um verso terso e ousado.

Ah! toda esta ânsia que nos arde ao seio,
Todo este fogo que nos queima a boca,
Se revela das formas neste anseio,
Nesta sofreguidão absurda e louca.

Porém, se nós pudéssemos apenas
Abrir os olhos, dominar o Mundo,
E em atitudes nobres e serenas
Mostrar-lhe todo o nosso estranho fundo ...

Se em palavras se dissesse tudo,
Num ardor, num cantar vivo e direto,
Fora melhor que se ficasse mundo:
Era mais simples e era mais completo ...

Transfigurações (1902)
________________________

Nestor Vítor (12 Abril 1868 -13 Outubro 1932)



(Paranaguá, 12 de abril de 1868 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1932) . Poeta, contista, ensaísta, romancista, crítico e conferencista. Foi amigo e estudioso da obra de Cruz e Sousa. Autor de uma vasta obra, assim também um divulgador da literatura estrangeira, em particular da francesa. Nestor Vítor dos Santos.

Fez parte do grupo simbolista carioca e deu apoio ao grupo Festa. Foi o pioneiro, no Brasil, a dissertar sobre Ibsen, Emerson e Novalis, em quem, num artigo de 1899, percebeu a "genealogia" de Mallarmé. Apontou assim o neo-romantismo dos simbolistas, seu privilégio da imaginação, como apontou também seus limites em terras brasileiras. Tem um livro de poemas e outros de ficção e ensaios.

Obras
Paris, 1911
A Crítica de Ontem, 1919
Prosa e Poesia, 1963

Fontes:
Wikipedia
Antonio Miranda

Anita Philipovsky (Poesias)


NOITE FRIA EM ALTO MAR

Que vento tão forte!
Que vento tão frio!
Vem das geleiras
Esse sopro do Norte,
Esse vento gelado
Esse vento bravio.
Soturnos, plangentes
Os mastros rouquejam...
Parece um queixume
Esse rangido assim.
E queixa-se em vão
A madeira cativa
Ao ar impassível
Ao ar fugidio.
As velas flambelam
Ansiadas crepitam
Com a força incessante
De um tatalar a fio...
E lá bem em cima,
Que é que se passa?
O vento que se escoa
No cesto da gávea
Inventa e emite
Vozes de assobio.
Estalam as velas...
E marouços tontos
Vêm e se despedaçam
De encontro ao navio.

Vem das geleiras.
Vem de muito longe
Esse vento teimoso,
Esse vento bravio.

Que voz é essa agora,
Que anda chorando?
Que vai e que vem
Com o vento erradio?
Náufragos?... E os mortos?
São eles que choram:
São eles que gemem:
_ Que frio!...ai que frio...
================

OS POENTES DA MINHA TERRA

A Stefan Kujavski


( Stefan, não sei onde te achas atualmente. Mas tenho a esperança de que possas ler estes versos que fiz pensando no teu fino espírito, que tanto aprecia tudo o que de belo nos oferece a Natureza! )

Os poentes da minha terra
São belos,
Tão belos,
Mas tão belos
Como ninguém viu fora daqui.
Uns são roxos . . . outros amarelos . . .
Outros de bronze com pedrinhas de rubi . . .
E os cor de opala, então ?
Lembram a palheta de algum pintor flamengo
As nuanças leves de um pôr-de-sol assim.
E os de seda cor-de-rosa ?
E os poentes de verão ?
Às vezes o poente de verão
É todinho borrado de carmim.

Há os de nuvens frágeis, esgarçadas.
Tocadas de luz desfalecente.
E a essas nuvens leves,
E luz desfalecente,
A gente olha e pensa . . .
Fica pensando que o ocidente sonha
Sonhos de renda, de gaze e nostalgia,
Sonha saudades para magoar a gente.

Patéticos . . . Uma rima de saudade,
Um verso do poema – nostalgia . . .
Tonalidades de exótica poesia,
De poesia apenas pressentida
Através do tempo e através do espaço. . .
Patéticos. Legendários. Quase irreais . . .
Estes poentes às vezes são assim.
Neles canta, e numa voz que ninguém ouve,
Um noturno . . .
Canta inaudível a alma de Chopin.

Sentimentais . . . muito sentimentais,
Estes poentes às vezes são assim.
E às vezes . . ah! são exaltados !
De cariz violento. Rubros ! De tragédia !
Esbraseados . . .
São chamas ! . . .
Vede então – o ocaso pegou fogo !
Há um grande incêndio onde termina o céu.
E logo mais:
Feitos de chumbo, azinhavre e de zarcão,
Com faíscas medrosas de safira.
E nesses dias,
Que colorido onde entra o Sol!

Que cores fortes !
E do contraste agressivo dessas tintas,
Furiosas e terríveis,
O Sol se esquiva: o Sol vai fugindo,
O Sol se escapa como quem delira.
Poentes extravagantes !
Poentes indescritíveis !
Até parece que o céu enloqueceu.

Agora vede:
Negro e de sangue . . . de tragédia, um dia,
E outro dia,
Um pôr-de-sol suave e dolente,
Que a alma da gente veste de cisma,
E que veste de cisma a alma da gente.

Poentes extravagantes !
Poentes indescritíveis !

Sobre a magia desses coloridos
Expressou-se arrebatado certa vez
Um espírito vibrante de estesia.
Era sem saber que o era – um poeta.
Mas falou:
“Nesta terra é assim:
Quando termina o dia,
U’a mão invisível, misteriosa,
Pinta onde acaba o céu,
E com as tintas que quer,
Pinta tudo o que há de emocionante,
Na essência emocionante da poesia.”

Assim expressou-se embevecida, um dia,
Uma alma vibrante de estesia.

E o poente de hoje, não vistes ?
Foi imponente. Foi egrégio.
O rei dos astros quando foi-se embora.
Deixou no céu o lindo manto seu .
Era de púrpura, que eu sei,
Com franjas de ouro, e bordados de ouro,
Mesmo um manto de rei.
Portanto esse presente foi um presente régio.
Afinal Ponta Grossa pode usar,
Como usa, e muitas vezes usa,
Na hora crepuscular,
O ouro e as púrpuras das galas reais.
Porque – quem não sabe da sua nobreza ? –
Ela é princesa.
É soberana.
E os seus domínios ?
É toda a terra dos Campos Gerais.
E por isso ela tem a regalia
De usar a púrpura das galas reais.

Estes ocasos . . .
Cada um tem sua beleza peculiar, eu acho.
Os outros . . . não sei que pensam, nem o que dirão.
Mas para mim o pôr-do-sol mais sugestivo
E emotivo,
É o pôr-do-sol lilás.
Quando faz fundo para uma paisagem campesina,
É de tão grande beleza,
E de tristeza tal,
Que a impressão que causa, não há quem a defina,

Na lomba da coxilha há um pinheiro isolado,
Forte e dorido na sua solidão.
Altivo. Sobranceiro. Algo de audaz . . .
Esse pinheiro sobranceiro,
O vento embate-o. Ele resiste.
Luta com o elemento hostil, ele sozinho,
Deslembrado na verde imensidão
Do campo sem fim.
Na lomba da coxilha há um pinheiro isolado . . .
E por detrás,
Muito atrás
Da curva da coxilha,
O céu a agonizar em cor lilás.
Só lilás ?
Não. Bem pertinho do horizonte,
Há uns fiapinhos de nuvens enxofradas,
Cloróticas. Agoniadas.
Parecem doentes essas nuvens fininhas.
Isto bem pertinho do horizonte.
O mais é só amaranto. É só lilás.
É tarde. É o fim de um dia que não teve sol.
A gente olha isso tudo, e fica olhando.
Fica cismando em tanta coisa . . .
A dor da ausência fica doendo mais.
Um fim de tarde assim,
Como faz sentir !
Como faz pensar !
Faz pensar nas almas incompreendidas,
Esmagadas de incerteza e de pesar,
Essa árvore sozinha, tão sozinha !
E o céu a agonizar clorótico e lilás.
Mais uma nota triste, nesse quadro:
Lá longe há um aterro.
E nesse aterro,
Um cavalo sacoleja um cincerro.
A gente olha ainda:
O dia se desfaz
Doente e lilás
O campo é triste !
O pinheiro é triste !
[ O cincerro é triste ! ]
Meu Deus onde vai parar essa tristeza ?
E essa beleza ?
Ouvi ! Andam soluços soluçando no ar . . .
A gente olha, e tem vontade de chorar.

Minha terra tem cada poente !
É um dom que igual, nenhuma terra tem.
Muitas vezes ao findar do dia,
Na horinha em que vai baixando o Sol
Entre nuvens leves como véu,
É só ver:
Aperta o coração da gente, uma saudade !
Uma saudade diferente . . . não sei como,
Não é saudade de nada desta vida.
É coisa incompreendida
Talvez seja a nostalgia indefinida

Que a gente tem do céu.
Poentes da minha terra !
Quando longe de vós, para vós é a minha saudade. . .
Poentes da minha terra, que fazeis pensar !
Poentes da minha terra, que fazeis sonhar !
Poentes da minha terra, que fazeis chorar !

(Ponta Grossa – Janeiro de 1936.)
----------------------

Fontes:
– SANTOS, Luisa Cristina dos. SANTOS, Nelson Rodrigues dos. Escritoras Brasileiras do Século XIX (Antologia de Textos Representativos). In BONNICI, Thomas (org.). Anais do XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários dos Paraná). Campo Mourão: 21 a 23 outubro de 1999. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. CD-Rom.
A Mulher na literatura.

Anita Philipovsky (2 Agosto 1886 – 30 Março 1967)

Anita Philipovsky, filha do austríaco Carlos Leopoldo Philipovsky e de Maria do Nascimento Branco Philipovsky, nasceu em Ponta Grossa (PR), a 2 de agosto de 1886.

A sede da fazenda da família era distante da cidade, por isso sua educação e a de seus irmãos se processou basicamente através de professores contratados, quase sempre estrangeiros, que passavam a residir na fazenda. Coube a eles, não só o ensino básico, como o de línguas estrangeiras (alemão e francês), e também foram os responsáveis por seus estudos de artes, particularmente, de música e pintura. A jovem Anita era muito apegada a seu pai, homem inteligente e de grande cultura, possuidor de nobre caráter e de elevados sentimentos. Foi seu incentivador maior nas letras, quer na prosa ou verso; assim como na pintura.

Anita Philipowski foi a primeira poetisa de Ponta Grossa, membro do Centro Cultural Euclides da Cunha. Publicou o livro Poentes da minha terra (1936)

Obra

Quer como contista, poetisa ou novelista, desenvolveu extraordinária atividade intelectual, notadamente no período de 1910 a 1930, colaborando assiduamente em numerosos jornais e revistas da época. Fez parte do grupo das primeiras animadoras das letras femininas do Paraná, ladeada por Mariana Coelho, Mercedes Seiler, Maria da Luz Seiler, Zaida Zardo, Annette Macedo e Myrian Catta Preta.

“Os poentes da minha terra” é seu poema mais divulgado, publicado pela primeira vez em Curitiba, em edição individual e integral, pela “Prata de Casa”, em 1936. Mais de duas décadas depois, em 1959, o mesmo texto saiu impresso, com pequenas modificações, em antologia realizada pelo Centro Paranaense Feminino de Cultura. O texto, tal como o apresentamos agora, obedece a essa edição, que deve, muito provavelmente, ter recebido aprovação definitiva da escritora.

Anita Philipovsky faleceu em 30 de março de 1967, em Ponta Grossa (PR).

Pode-se, com relativa facilidade, vislumbrar em sua produção suas mais prováveis leituras, o legado cultural herdado de Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Baudelaire, Raimundo Correia, Rimbaud, Cruz e Sousa, Castro Alves, entre outros. Tal proliferação acaba revelando como a autora se posiciona em face da tradição literária.

Fontes:
- SANTOS, Luisa Cristina dos. SANTOS, Nelson Rodrigues dos. Escritoras Brasileiras do Século XIX (Antologia de Textos Representativos). In BONNICI, Thomas (org.). Anais do XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários dos Paraná). Campo Mourão: 21 a 23 outubro de 1999. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. CD-Rom.
- A Mulher na Literatura.

Lucie Lavall (Por quê?)


Por que vens perturbar a minha solidão
Com o prolongado olhar dos teus olhos ideais,
Tu que já me ensinaste (ah! terrível lição!)
Que o amor se já murchou não floresce jamais.

Habituada a iludir, passa por mim e então
Tua boca que amei abre em risos joviais.
Por quê? Se esta incerteza atroz ao coração
Me diz sempre: - Ele mente, ah! não o creias mais.

Por que é que tua voz, se acaso estou a escuta-la,
Torna-se, ela também, triste quando me fala?
Por quê? Se agora o amor com seus longos tormentos,

Já me dá a esperança alegre de outros dias
E não revive mais passadas alegrias,
Por que vir despertar antigos sofrimentos?

[tradução de Rodrigo Junior, publicado em O Progresso de 23 de fevereiro de 1915]
------------------

Fonte:
- SANTOS, Luisa Cristina dos. SANTOS, Nelson Rodrigues dos. Escritoras Brasileiras do Século XIX (Antologia de Textos Representativos). In BONNICI, Thomas (org.). Anais do XIII Seminário do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários dos Paraná). Campo Mourão: 21 a 23 outubro de 1999. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2000. CD-Rom.

Lucie Laval (19 Abril 1895 – 21 Janeiro 1914)

Lucie Laval nasceu em Dakar, Senegal, em 19 de abril de 1895, filha de Maurício Laval e Alix Laval. Nascida na África do Norte, quando seu pai ali estava no desempenho de suas funções de diplomata francês, Lucie voltou à França para receber instrução primária. Deixou o seu país em 1908, aos 13 anos de idade, vindo para o Brasil. Com seus pais, residiu algum tempo em Minas Gerais, para, em 1911, fixar residência em Curitiba, onde viveu três anos incompletos, no entanto repletos de fulgurantes lampejos de sua criação poética.

A menina inteligente, só aqui, aos 17 anos, encontrou sua alma de poetisa, e o livro “Dans l’ombre”, com os seus quarenta e nove poemas, foi escrito de um jato, de abril a outubro de 1913, em Curitiba, e publicado postumamente no Rio de Janeiro em 1924.

A sua descobridora foi a intelectual Georgina Mongruel que, acompanhada pela moça, compareceu a uma reunião do Centro de Letras do Paraná.

Morreu, no dia 21 de janeiro de 1914, em Curitiba, vítima de moléstia cardíaca, aos 19 anos, “pedindo ao médico, já às portas da morte, que a salvasse, porque ela queria viver, queria cantar todas as estações da vida e a sua página única era apenas uma primavera cheia de tempestades”.
Obra:

Em Curitiba, colaborou nos jornais e revistas da época (Gazeta do Povo, Diário da Tarde, Revista do Centro de Letras do Paraná, Álbum do Colégio Renascença, Senhorita). Em Ponta Grossa, seus inspirados poemas enriqueceram algumas páginas do Diário dos Campos, periódico que, tempos depois, critica o Centro de Letras do Paraná pelo injusto esquecimento da obra de Lucie Laval.

Lucie Laval, nos três anos em que viveu no Paraná, particularmente nos sete meses (abril a outubro de 1913) em que descobriu a sua alma de poetisa, conquistou para sempre um lugar entre os bons poetas paranaenses. Apesar da pálida luminosidade física, legou-nos o brilhantismo da poesia triste, porém consoladora. A palavra, artifício do existir ilimitado, foi (re)construída na busca de traçar na convulsão interior de sentimentos um caminho de reflexão e entendimento de usa própria essência.

Ressonâncias melancólicas, estrofes diáfanas de versos sem alegria, mas indisfarçadamente belos. Num abismo de contrastes de percepções e encantos a mergulhos solitários nos momentos – silêncio. A poesia de Lucie Laval despetala-se em instantes de sedutor lirismo físico a contatos profundos com o “eu”, desnudando-o na ausência do humano, em confissões apenas temerosas da majestade dos céus.

A solidão, a tristeza, a amargura na percepção do outro tornam-se, nas linhas poéticas de Lucie Laval, sentimentos ternos e fogem de sua acepção negativa ao revelarem o perfil de uma alma sofredora e de uma aparência frágil.

Em sua poética, a solidão justifica, não é justificada. Preferindo a ausência aos momentos de presença, o que perturba e “agita” o eu-lírico é aquilo que o faz perceber-se, sentir-se e envolver-se no outro. A solidão é exposição de sentimentos dolorosos, mas saudáveis. A presença vem causar a esse equilíbrio um sofrimento tumultuado, uma ilusão, uma percepção falsa.

A sensibilidade da emoção jovem aliada à capacidade de elaboração de poemas em atmosferas de melancólica ternura e esperançada tristeza tornam Lucie Laval poeta de sutil criatividade e incontestável harmonia sentimental.

Fontes:
– CENTRO Feminino de Cultura. Um século de poesia: poetisas do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado do Paraná, 1959.
– SANTOS, Luísa Cristina dos. “Lucie Laval”. Ponta Grossa: Diário da Manhã, 17 de junho de 2001.
Luisa Cristina dos Santos.

domingo, 5 de julho de 2009

Trova XXXVII

Trova sobre charge de Márcio Diemer

Lupe Cotrim Garaude (Cristais Poéticos)


SAUDADE

(a Guilherme de Almeida)

A saudade é o limite da presença,
estar em nós daquilo que é distante,
desejo de tocar que apenas pensa,
contorno doloroso do que era antes.

Saudade é um ser sozinho descontente
um amor contraído, não rendido,
um passado insistindo em ser presente
e a mágoa de perder no pertencido.

Saudade, irreversível tempo, espaço
da ausência, sensação em nós premente
de ser amor somente leve traço

num sonho vão de posse permanente.
Saudade, desterrada raiz, vida
que se prolonga e sabe que é perdida.
================

Ó QUE IMENSO DISSIPAR

Ó que imenso dissipar
por assim gostar de tudo.

Com o meu ser estendido,
tenso ao apelo do mundo,
pulsando seu movimento
vou erguendo esta prisão.

Os pés retidos, imóveis,
pelos choques de atração
com a alma paralisada
contendo tanta largueza
e aspectos de vastidão.

Por que ter tantos sentidos,
o sentimento tão apto
e o coração vulnerável?

Por que o sentir sem repouso
num sentir que é um rapto,
exausto de comunhão?

Um pobreza qualquer,
pobreza em voz, em beleza,
em querer, em perceber,
uma pobreza qualquer
onde eu possa enriquecer.
===============

DE PEDRA

— Eu sou de pedra, me dizias,
a defender tua distância.

E esquecias o musgo,
essa tua epiderme de ternura,
e o teu corpo de carinhos,
num horizonte de água e terra,
a te envolver na vida.

— Eu sou de pedra — insistias.
— Pesado. Denso. Inalterável.
De estofo eterno.
Apenas estou, não sofro;
se algum gesto me ferir,
eu sou duro;
quebrarei o gesto sem sentir.

E esquecias
que és pouso de borboletas,
alicerce de flores,
abraço de raízes,
vulnerável em tudo
do que em ti pertence
e minha mão possui, acaricia.

— Eu sou de pedra.
E esquecias, esquecias.
=======================

DESTINO MINERAL

Sou feita de uma carne perecível
futuro de outra carne, sem nenhuma
eternidade. A rocha é uma invencível
parte da terra; que ela me resuma

no seu mesmo destino mineral.
A solidez ausente que tortura
nossa matéria frágil, no final
se renderá: serei de pedra dura.

Nunca mais chorarei nessa passagem
de poesia. Com nítida certeza,
recorto nas montanhas minha imagem

mais que raiz, expressa na beleza.
Pela terra em que não me desfiguro,
hei de surgir um dia em cristal puro.
=====================

AO AMOR

O que desejas de mim
nunca o dará o lampejo de um momento,
a conquista de um dia da montanha.

Meu corpo — para ti somente —
deve emergir a cada gesto 1ímpido
e profundo deve ser meu futuro
para reter-te e recriar-te permanente.

Sei que em mim te estenderás, não mais disperso,
em desejo e em procura de teu filho
e que todo movimento de meu ser
será o rumo de teu universo.

E por isso temo. No meu sentimento
sofro por ti. Receio
ser larga a hesitação de meu caminho,
ser um mito a conquista da montanha,
ser pobre e fugaz o meu espaço
na extensão que reduz teu infinito.
==================

DE MAR
III

A chuva cai, sem figura,
mantendo espaços vazios
na sua própria textura:
é uma água desfiada.

Diante dela o mar contido
É superfície compacta.
Nele tudo é preenchido,
indo pela mesma água.


Não tem vão ou intervalo
a carne crespa do mar,
mas paredes maleáveis,
bem lisas de penetrar.

A chuva que estende ao mar
os seus dedos insistentes
é uma presença molhada
de tanto se derramar:

o mar guarda uma secura
de quem sabe repetir
em si mesmo seus desígnios;

é seco porque perdura.

Embora suas franjas leves
se esparramem pela areia
toda maré lhe garante
a forma guardada e cheia.

No seu tempo passageiro
mesmo de raio ou trovão
a chuva é o que escorre,
não tem corpo ou duração.

Diante de sua água estreita,
só de perfil, vertical,
o mar estende a planície
tramada em fôrça de sal

e germina suas águas
em permanência e conquista:
sustenta sua espessura
e mantém entranhas vivas.
======================

DE AMOR
(entreato)

POSSE II

Ele — Seduzir o cotidiano pelo corpo.
Penetrá-lo deste brilho longo,
compacto,
onde o cansaço não é tédio
mas úmido intervalo.

A paisagem não sustenta
mais os olhos; estrelas
despojaram-se dos monólogos,
a flor voltou a si, não mais
dizer exausto, a primavera guardou
sua intimidade no discurso
das árvores, e o amor,
esgarçado de imagens,
procurou outro equilíbrio
além da frase, de um silêncio
a outro.

Nem sempre a paz levou-nos
a suas tácitas paragens:
a liberdade aspirou um ser estranho,
em que de novo nos olhássemos.

No corpo prosseguimos
onde o amor parava.
E inventamos. Sem palavras
tornamos nossa a carne da manhã,
a exaurir o tempo, sem fidelidade
alguma, no dia imprevisível,
além do nosso invento.
=======================

MONÓLOGO IV

Ele — É o tempo meu receio, não o amor,
que este perdura. Por novos desígnios
refaz em outro aquilo que não for
mais seu momento: trama outro domínio.
Esta brisa entre nós, este sossego
agudo de desejo, esta presença
alerta, esta carne toda apego
certo se apagam: tempo algum sustenta
ou seduz uma solta intensidade.
É a hora que me assusta: o amanhã
do íntimo ser neutro, e a unidade
uma palavra a mais na posse vã.
O futuro só nasce de um invento:
nós dois, amor, nós somos este tempo.
========================
Fonte:
Antonio Miranda