quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 7 (Caipora)

Trova sobre imagem de http://ig.clickeducacao.com.br

Cacique e Pajé (A Lenda do Caipora)



Meu velho avô contava
Uma história interessante
Diz que depois do dilúvio
Que acabou com os habitantes
A geração de Noé
Da Terra foi ocupante
Aquele povo selvagem
Numa intriga constante
Se dividiram em tribos
Seguindo rumos distantes
Foi numa daquelas tribos
Que seu destino seguia
Uma mulher teve um filho
No meio da mataria
A pobre mãe faleceu
Quando o menino nascia
Aquela gente criada
Dentro da selvageria
Abandonaram a criança
Naquela selva bravia
Uma grande chimpanzé
Que perdeu seu filhotinho
No meio da selva bruta
Encontrou o garotinho
Por instinto maternal
Ou por lembrar do filhinho
Pegou aquela criança
Com muito amor e carinho
Com o leite do seu peito
Criou o inocentinho
Criado na selva bruta
Cresceu valente e veloz
As unhas cresceram tanto
Que pareciam anzóis
A fera que ele atacava
Tinha um destino atroz
Ele dominava a fera
Amarrava com cipós
Depois de surrar bastante
Soltava o bicho feroz
Daquele tempo pra cá
Conforme diz a história
Aquele homem selvagem
Tornou-se o rei das floras
Montado num porco-espinho
Percorre o sertão afora
Protegendo todos os bichos
Que dentro da selva moram
É o terror dos caçadores
Conhecido por Caipora
------

Folclore Brasileiro (Caipora)

Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de porco-do-mato e carrega uma vara. Aparentado do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite.

No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular. é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve sair para a caça, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-lo. O Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim, por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico. Mas fracasso na empreitada é atribuído aos ardis da entidade. No sertão do Nordeste, também é comum dizer que alguém está com o Caipora quando atravessa uma fase de empreendimentos mal sucedidos, e de infelicidade.

Há muitas maneiras de descrever afigura que amedronta os homens e que, parece, coloca freios em seus apetites descontrolados pelos animais. Pode ser um pequeno caboclo, com um olho no meio da testa, cocho e que atravessa a mata montado num porco selvagem; um índio de baixa estatura, ágil; um homem. peludo, com vasta cabeleira.

Seus pés voltados para trás serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora. Para os Índios Guaranis ele é o Demômio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.

Os índios, para lhe agradar, deixavam nas clareiras, penas, esteiras e cobertores. De acordo com a crença, ao entrar na mata, a pessoa deve levar um Rolo de Fumo para agradá-lo, caso o encontre.

As histórias acima fazem parte de um vastissimo conjunto de nossas tradições populares, que desde o século XIX são alvo de intenso interesse e controvérsias entre antropólogos e estudiosos em geral. Uma das primeiras questões que aguçam a curiosidade é a de saber sobre a origem, embora muitas vezes os elementos estejam tão mesclados e se transformaram de tal forma que fica impossível localizar a fonte original. Indicar hipotética fonte, o que se faz sacrificando o conjunto da narrativa, pouco esclarece sobre as adaptações que sofre no tempo e no espaço, quando migra de uma região para outra e recebe novas influências. De fato, no caso, tanto o termo Mboitatá como Caapora denunciam a tradição indígena.

Mas as escavações para buscar a origem não dão conta de alguns aspectos bastante interessantes. Um deles é perceber que essas, como tantas outras histórias, são narradas cru determinadas situações: que situações são essas; quem conta para quem? Será que mesmo na região onde, em princípio, estariam mais arraigadas elas seriam compartilhadas da mesma maneira por todos os habitantes? Não se deve esquecer também que essas narrativas impõem, para os que nela acreditam, certas atitudes e revelam certos sentimentos em relação aos perigos da floresta; elas também costumam servir de justificativas, como é ocaso de um caçador mal sucedido, que pode atribuir a má sorte ao fato de ter deparado com o Caipora.

Em regiões onde prevalece a transmissão oral essas histórias desempenham um papel bastante importante na socialização. Contar e ouvir "causos" é uma atividade lúdica, para passar o tempo livre. Na recreação, os indivíduos vão incorporando os valores do grupo em que vivem, e assim aprendem como proceder quando saem, por exemplo, para caçar. Na história do Caipora é inculcada a idéia de que se deve estabelecer limites no abate as presas, e que em dias santos ou sextas-feiras deve-se evitar a floresta. Outras histórias como a da Cuca, nosso papão do universo infantil, ensina que as crianças devem ir cedo para a cama sem fazer traquinagens antes de dormir. Mas o papel da história contada num grupo de seringueiros ou num grupo de pescadores, sobretudo quando não tem muito contato com a vida na cidade, é distinto do papel dessas mesmas histórias na vida de crianças de classe média que ouviam as histórias de sua babá ou de adultos letrados que as ouvem das fontes nativas, dos pais, das instituições de ensino e da indústria cultural e participariam assim simultaneamente da cultura do povo e da cultura erudita. Mas, mesmo numa mesma região, épossível encontrar ausência de consenso quanto à crença em seres fabulosos. Foi o que ocorreu com o antropólogo Eduardo Galvão, quando esteve, em 1948, numa região do baixo Amazonas. Ao recolher relatos sobre seres sobrenaturais, encontrou tanto depoimentos crédulos, sobretudo de seringueiros e de pescadores, que faziam descrições detalhadas de seus encontros com seres sobrenaturais, quanto opiniões céticas de moradores que se referiam à crença no Curupira como "abusão de gente mais velha". Ou comentavam: "são apenas lendas". Obteve um relato de um habitante que dizia acreditar no Curupira, embora jamais tivesse tido uma experiência de ordem pessoal com o ente, pois narrava as histórias que lhe foram contadas pelo avô.

Fatos como o descrito acima por Galvão, em Santos e Visagens, indicam que as mesmas histórias são partilhadas pelo povo brasileiro de maneira diferente, numa mesma época ou em épocas e gerações diferentes. Entretanto, pode-se lembrar que essas tradições populares são muitas vezes reivindicadas como um meio de revelar todos os brasileiros ou de identificar o modo de ser, pensar e agir de uma região do país. Seguindo uma tradição que, de acordo com Peter Burke, tem início no final do século XVIII na Europa. Afonso Arinos. em Lendas e Tradições Brasileiras, vê na descoberta da cultura popular a existência de "um opulento tesouro esquecido". E acrescenta: "Explorai-o, colhei a mancheias, que tocareis na fonte verdadeira da vida de nossa raça e ela repetirá convosco o milagre de Fausto". Embora se possa relativizar o tom ufanístico excessivo do escritor mineiro, não resta dúvida de que vários escritores brasileiros da modernidade, como é o caso de Mário de Andrade (Macunaíma), Raul Bopp (Cobra Norato) e Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas), para mencionar alguns dos mais importantes, estiveram sempre muito atentos às tradições populares brasileiras, o que revela que essas tradições migram e são incorporadas pela cultura erudita.

Origem Provável

É oriundo da Mitologia Tupi, e os primeiros relatos são da Região Sudeste, datando da época do descobrimento, depois tornou-se comum em todo País, sendo junto com o Saci, os campeões de popularidade. Entre o Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Caipora, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Existem entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das américas Latina e Central. Em El Salvador, El Cipitío, é um espiríto tanto da floresta quanto urbano, que também tem as mesmos atibutos do Caipora. Ou seja pés invertidos, capacidade de desorientar as pessoas, etc. Mas, este El Cipitío, gosta mesmo é de seduzir as mulheres.

Conforme a região, ele pode ser uma mulher de uma perna só que anda pulando, ou uma criança de um pé só, redondo, ou um homem gigante montado num porco do mato, e seguido por um cachorro chamado Papa-mel.

Também, dizem que ele tem o poder de ressuscitar animais mortos e que ele é o pai do moleque Saci Pererê. Há uma versão que diz que o Caipora, como castigo, transforma os filhos e mulher do caçador mau, em caça, para que este os mate sem saber.

É representado ora como mulher unípede, o Caipora-Fêmea, ora como um tapuio encantado,nu, que fuma no cachimbo, este último na área do Maranhão a Minas.

Manoel Ambrósio dá a notícia, no Nordeste, de um caboclinho com um olho só no meio da testa, descrição que nos faz lembrar dos ciclopes gregos. Também aparece no Paraná como um homem peludo que percorre as matas montado num porco-espinho.

No Vale do Paraíba, estado de São Paulo, ele é descrito como um caçador façanhudo, bastante feio, de pêlos verdes e pés virados para trás.

Outro nome do Caipora, ou Caapora, é Curupira, protetor das árvores, chamado assim quando apresenta os pés normais.

Em algumas regiões, há fusão dos dois duendes, em outras elas coexistem. O mito emigrou do Sul para o Norte, conforme conclusão dos estudiosos.

Existe na Argentina o mesmo duende, como um gigante peludo e cabeçudo. Couto de Magalhães aceita a influência platina no nosso Caipora.

Segundo Gonçalves Dias, Curupira é o espírito mau que habita as florestas. Descreve-o assim: 'Veste as feições de um índio anão de estatura, com armas proporcionais ao seu tamanho'. Governa os porcos-do-mato e anda com varas deles, barulhando pela floresta. O mesmo mito é encontrado em toda a América Espanhola: no Paraguai, na Bolívia, na Venezuela.

Entre os Chipaias, tribo guarani moderna, há a crença no Curupira, como sendo um monstro antropófago, gigantesco, muito simplório, conforme relato de Artur Ramos, em Introdução à Antropologia Brasileira.

Apesar de serem conhecidos o nome e o mito Curupira, no Vale do Paraíba é mais encontradiço o nome Caipora, usado até para designar gente de cabeleira alvoroçada.

Lá, é um caboclinho feio pra danar, anão de pés virados para trás, cabeludo. Viaja montado em um porco-espinho, com a cara virada do lado do rabo da montaria.

Tão variadas são as suas metamorfoses, que não é difícil vê-lo tomar a forma feminina e mesmo, a dos dois sexos, que lhe dá uma aparência andrógina. O Curupira, entretanto, sob qualquer aspecto que se apresente, sempre tem os pés voltados para trás, que são indícios para filiá-lo ao berço semítico, o qual nos refere a uma crença corrente na Ásia em "Homens com pés voltados para trás", bem como os que tinham "orelhas grandes" eram comuns.

Transplantada para solo americano, esta crença foi se modificando ao sabor das circunstâncias. Assim é que vemos surgir o Curupira sob diferentes nomes: o "Maguare", na Venezuela; o "Selvaje", na Colômbia; o "Chudiachaque", no Peru; o "Kaná", na Bolívia. Como se vê, inúmeras são suas metamorfoses e designações, conforme testemunhos e fatos colhidos na história.

Quando Curupira entra no Maranhão, não muda de nome, mas mora no galho dos Tucunzeiros e procura as margens do rio para pedir fumo aos canoeiros e vira-lhes as canoas quando não lhe dão, fazendo as mesmas correrias pelos matos onde tem as mesmas formas com que se apresenta na Amazônia. Atravessando pelo Rio Grande do Norte e pela Paraíba, toma então o nome de Caapora. Conta-se que tornou-se inimigos dos cães de caça. Obriga-os a correr atrás dele, para fazer com que os caçadores o sigam, mas desaparece de repente, deixando os cães tontos e os caçadores perdidos. Nestes locais anda sempre à cavalo, ou montando um veado ou um coelho.

Em algumas ocasiões, foi descrito como um índio de pele escura, nu, ágil, fumando cachimbo e que adora fumo e cachaça, dominando com seus assobios os animais da mata. Indo o caçador munido de fumo e encontrando o Caapora, se este pedir-lhe e for satisfeito, pode contar que será daí em diante feliz na caça. Por outro lado, o que mais detesta é o alho e a pimenta, capaz de provocar-lhe cólera.

No Ceará conserva o nome de Caapora, porém muda novamente seu aspecto, perde todo o pelos do corpo, que se transforma numa enorme cabeleira vermelha, apresentando também dentes afiados.
Em Pernambuco lá está ele com suas características. Montado em uma queixada, tem nas mãos um galho de iapekanga ou arco e flecha, trazendo consigo sempre um cão a que dão o nome de "Papa-mel". Em uma carta de 1560, o padre José de Anchieta inclui esse duende entre as aparições noturnas que costumam assustar os índios.

Para o sacerdote, que entre nós esteve quando o Brasil amanhecia, o Curupira, muitas vezes, atacava os índios nos bosques, açoitando-os, atormentando-os e matando-os. Os índios costumavam deixar penas de aves, flechas e outras coisas semelhantes, em algum ponto da estrada do sertão, quando passavam por lá, como se fosse uma oferenda e, humildemente imploravam a esse personagem, que não lhes fizesse mal.

Em Sergipe, mostra-se sempre gaiato e, brincando faz o viajante rir até cair morto. Por isso talvez, que ele é venerado como "espírito cômico". Passando pela Bahia, sofre aí uma transformações completa e não só muda de nome como de sexo, aparecendo sob a forma de "caiçara", cabocla pequena, quase anã, que anda montada num porco.

Fontes
http://pt.wikipedia.org/
http://www.vivabrazil.com/
http://sitededicas.uol.com.br/
http://www.grupoescolar.com/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/

Publique seu Livro Gratuitamente no Clube dos Autores



O Clube de Autores é o primeiro site brasileiro que permite a publicação gratuita de livros de forma 100% sob demanda. Em outras palavras, você, autor, pode subir o seu livro, determinar quanto deseja ganhar por venda e disponibilizá-lo na loja sem pagar absolutamente nada por isso.

Uma vez lá, todo e qualquer usuário pode adquiri-lo via comércio eletrônico.

Quando o livro é comprado, o pedido vai diretamente para a gráfica, que imprime um a um, dá o acabamento final e despacha para o comprador – sendo que o autor recebe os direitos autorais após acumular-se um montante mínimo, de R$ 300,00.

Para ver uma apresentação sobre o funcionamento do Clube, clique aqui

Não deixem de acessar a Universidade do Autor tem dicas preciosas para os novos Escritores.

Acesse o site: http://www.clubedeautores.com.br/

Tenho que pagar alguma coisa para publicar um livro no Clube de Autores?

Não. O Clube de Autores é completamente gratuito para o autor, não sendo necessário nenhum tipo de compra por parte dele ou de tiragem minima.

Quem pode publicar um livro?

No Clube de Autores, todos podem publicar um livro imediatamente.

Quem avalia o meu livro?

Não há nenhum tipo de avaliação feita pelo Clube de Autores. Aqui, todos podem publicar o seu livro – a avaliação, na prática, é feita pelos seus usuários e leitores.

Preciso enviar o meu original?

Não. Por trabalhar em um modelo diferente, o Clube de Autores não recepciona originais ou faz nenhum tipo de avaliação. Em outras palavras, você não deve se preocupar com esta etapa.

Como posso publicar o meu livro?

O processo de publicação é simples e rápido, feito pelo próprio site do Clube de Autores.

Qual o formato que o meu livro precisa ter?

Para publicar o seu livro no Clube de Autores, você primeiro precisa dele em formato A5 (14,8cm de largura por 21cm de altura). Para fazer isso a partir do MS Word, você deve selecionar todo o conteúdo, clicar em Arquivo > Configurar página e, no item papel, selecionar a opção A5. Caso a opção não exista, personalize o tamanho para 14,8cm de largura por 21,0cm de altura. Além disso, o arquivo precisa estar em formato PDF.

Como posso gerar um arquivo PDF?

Para converter o seu documento MS Word para PDF, vá até o site Free PDF Convert.
Lá, clique na opção Source to PDF - o primeiro item no menu lateral esquerdo.
Na página, localize o seu arquivo, deixando a opção File demarcada, e clique em Convert.

Pronto: em instantes, você será avisado via email que o seu arquivo está pronto. Basta fazer o download dele para a sua máquina e, em seguida, publicá-lo no Clube de Autores!

Como posso configurar a minha capa?

Você pode utilizar uma das capas disponibilizadas no nosso sistema ou configurar a sua. Neste ultimo caso, é importante que ela obedeça alguns parâmetros do próprio Clube.

No Clube, é possível configurar apenas o miolo da capa (imagem central), sendo que o cabeçalho e o rodapé, bem como o verso, são padronizados e destinados à impressão de título/ subtítulo, nome do autor e descritivo, respectivamente.

Como estipulo o preço do meu livro?

Durante o processo de publicação, naturalmente, você cadastrará o arquivo do seu livro no Clube. A partir daí, o nosso sistema calculará a quantidade de páginas do seu livro e exibirá uma calculadora que mostrará todos os custos envolvidos na impressão – com um campo para que você estipule os seus direitos autorais. É neste campo que você deverá inserir a sua margem de ganho por venda.

Posso utilizar um pseudonimo?

Pode. Durante o processo de publicação, você mesmo escreverá o nome do autor – podendo ser o seu ou qualquer outro que deseje. Esta alteração não terá absolutamente nenhum impacto sobre os direitos autorais.

Como posso divulgar o meu livro?

O Clube de Autores disponibiliza, de forma gratuita, uma série de cursos online sobre divulgação do seu livro. Para acessá-los entre em Universidade do Autor.

Por que preciso cadastrar os meus dados bancários?

Os dados bancários são utilizados pelo Clube de Autores para fazer o pagamento dos seus direitos autorais. Sem os dados, não há como fazer este processo.

Posso editar o meu livro (incluindo o preço)?

Sim, a qualquer momento. Para fazê-lo, acesse Meu Espaço e, em Meus Livros, clique na opção “Livros publicados”. Selecione o livro que desejar e clique na opção “editar”. Aí, basta seguir as etapas. Você poderá mudar o miolo, a capa e o preço quantas vezes quiser.

De quem são os direitos autorais?

Exclusivamente do autor. O Clube de Autores não retém nenhum direito autoral ou trabalha com nenhum tipo de exclusividade comercial. Caso o autor queira, por exemplo, ele pode retirar o seu livro do Clube de Autores a qualquer momento e pelo site, em um processo ainda mais simples que o de publicação do livro.

Como recebo os meus direitos autorais?

30 dias depois que as vendas acumuladas dos seus livros chegarem a R$ 100,00, o Clube de Autores fará uma transferência bancária para a conta que você indicou no momento do seu cadastro.

O que é o ISBN?

Segundo o site da Biblioteca Nacional, "o ISBN - International Standard Book Number - é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo o título, o autor, o país, a editora, individualizando-os inclusive por edição. Utilizado também para identificar software, seu sistema numérico é convertido em código de barras, o que elimina barreiras lingüísticas e facilita a sua circulação e comercialização.”

É preciso ter ISBN para cadastrar o livro no Clube de Autores?

Não, não é. O ISBN é uma forma de catalogar livros - mas não é ele que define o que é e o que não é uma obra literária. O foco do Clube de Autores é permitir que os autores publiquem as suas obras - considerando o seu conteúdo em como a peça mais importante.

Qual a importância de ter o ISBN

A principal importância é facilitar que a sua obra seja encontrada e distribuída. Por exemplo: se você conseguir algum acordo com alguma livraria, para divulgar e vender o seu livro por ela, provavelmente precisará ter o ISBN. Alguns sites ou redes sociais focadas em livros, por sua vez, também exigirão. Assim, por mais que não seja obrigatório ter um ISBN, é aconselhado. Como o custo é relativamente baixo, vale a pena.

Como faço para conseguir o meu registro no ISBN?

Pelo site da Biblioteca Nacional, é possível fazer o registro. Para tanto, você precisará se cadastrar como "editor autor" - capacitando-se a fazer o registro como pessoa física. Para ver a página no site da Biblioteca Nacional que instrui sobre este cadastramento.

Esta mesma página inclui links para download de dois arquivos importantes: a ficha que deve ser preenchida (clique aqui para baixar o arquivo, em formato Excel) e o manual de preenchimento da mesma (clique aqui para baixar o arquivo, em formato PDF).

Todos os custos para o registro também podem ser vistos no site (clique aqui para ver). O cadastramento como editor autor custa R$ 160,00 e o registro de cada obra, R$ 10,00.

Como a obra deve ser registrada?

Você pode escolher registrar a sua obra como publicação física ou eletrônica.

Na publicação física, uma série de regras de diagramação devem ser observadas - incluindo o posicionamento do código de barras no livro (clique aqui para ver as regras). Neste caso, aliás, caberá a você comprar a imagem do código de barras (também vendido pelo site da Biblioteca Nacional) ou gerá-lo em um software especializado de sua escolha.

A possibilidade de se cadastrar a obra como pubicação eletrônica vem do fato dos livros disponíveis no site do Clube de Autores serem comercializados de forma 100% sob demanda (e, portanto, sem uma tiragem física determinada). Esta modalidade é mais fácil para o o autor, até por ter exigências menores quanto à diagramação. O código de barras, por exemplo, não precisa ser gerado e impresso nas obras, sendo que você mesmo poderá diagramá-lo, diretamente no seu arquivo.

É preciso ter um novo ISBN para mudanças na obra?

De forma geral, mudanças nas obras devem, sim, ter um novo ISBN atribuído a ela. Segundo o site da Biblioteca Nacional, deve-se atribuir um novo ISBN:

- a cada edição de uma publicação;
- a cada edição em idioma diferente de uma publicação;
- a cada um dos volumes que integram uma obra em mais de um volume e também ao
conjunto completo da obra (coleção);
- a toda reedição com mudança no conteúdo(texto) da obra;
- a cada tipo de suporte, tipo de formato, tipo de acabamento e tipo de capa;
- as reimpressões fac-similares;
- as separatas (desde que apresentem títulos e paginação próprios);

Obs:
- a reimpressão pura e simples de um livro NÃO requer outro ISBN;
- mudança na cor da capa, formato de letras e correção ortográfica do texto da obra, NÃO requer outro ISBN.

No caso de publicações eletrônicas, no entanto, exige-se apenas que a obra não seja atualizada com frequência - sem que uma periodicidade seja definida
.

Fonte:
http://clubedeautores.com.br/

Mauro Gonçalves Rueda (Histórias sem Pé nem Cabeça)


Histórias sem Pé nem Cabeça

Primeira História

era uma vez uma história sem pé nem cabeça. não tinha início, meio ou fim. era uma coisa desengonçada e fora de moda. contudo, nas horas de fastio, brincava de ciranda-de-roda. certamente, para ver o tempo passar.

o incrível é que, o escritor da história, era pior do que a própria história em si: não sabia quem era, o que era, porque escrevia e o que iria escrever quando iniciou a história.

de forma que, mais que maluquice, ou atrapalho, o escritor pensou em ser a própria história, enquanto a história, brigava dentro dele porque afinal, ela sim, era a história. e ele, tão somente o autor. bem, para dizer a verdade, nem o escritor, nem a história, sabiam o que ia ocorrer ou ser escrito.

da mesma forma que, a história nem imaginava o quê ou quem era. deve ser porque ainda nem existia. uma história que não existe, deve ser algo vazio e sem graça. por isso mesmo, a história chegara à conclusão que, não possuía documentos e portanto, identidade. com isso, o escritor ficou muito zangado e disse: ora, eu sou o maluco aqui!. além do mais, sou eu quem não possui identidade ou documentos. então, vai tirando o cavalinho da chuva porque a história aqui sou eu e não você.

toda essa indecisão acabou gerando uma tremenda discussão cada vez mais acirrada. sem pé, nem cabeça. sem início, meio ou fim. e a história foi ficando naquele “blablablá”, “tititi” e coisa e loisa. como não conseguiam chegar a um acordo, acrescentaram um “etecétera” que é uma palavra um tanto quanto estranha. mesmo para uma história sem pé nem cabeça.

— ora, não me aborreça!. disse o escritor já exaltado.

por sua vez, a história respondeu:

— não vou dizer nada!.

— não quero nem saber.

respondeu o escritor com menosprezo. E a coisa toda continuou naquela lengalenga. sem fim. aliás, sem nexo e sem sentido.

a história enfezada, mudou de linha e de cor de repente. foi aí que o escritor matutou:

— isso não tem a mínima importância. você está pensando que vou me aborrecer?. e amuado, ficou aborrecido com a história. foi por isso que, passou a escrever tudo com letras minúsculas. mesmo no início de cada frase ou parágrafo. por outro lado, a história acabou aborrecendo-se ainda mais com o escritor.

Cerraram o cenho e permaneceram emburrados um com o outro. o escritor mudou de cor. a história também. contudo, apesar das discórdias, acabaram concluindo que, era melhor fazerem as pazes. e fizeram. acabaram ficando de bem um com o outro. tanto a história, quanto o escritor. afinal, brigar não é uma atitude legal e no mais, a gente vive precisando uns dos outros mesmo!...
melhor viver-se em paz, disse. quem disse essa frase?. ora essa, como posso eu saber?. aí, você leitor, vem e fica bravo comigo?. eu não tenho culpa se a história e o escritor viviam brigando. não tenho mesmo!.

foi então que tudo ficou de pernas para o ar. e a história sem ser terminada e sem “se terminar”. mas, como eu disse anteriormente, não tenho nada a ver com o peixe. querem uma sugestão?. porquê vocês não tentam refazer essa história e escreverem vocês?. bem, bem... acho que, por enquanto, essa história termina aqui. mesmo sem terminar. sem pé, nem cabeça. ora essa!. será que toda essa bagunça termina mesmo por aqui?.
–––––-

O Avesso do Fim
Segunda História

como o escritor queria o avesso do fim, o fim entrou na história sem pé nem cabeça pelo avesso. o que ele fez?. fácil, pulou do fim para o começo. E, acreditem se quiserem, começou saltando de linha e trocando de cor. essa atitude deixou o escritor tão irritado que, não conseguindo controlar a história sem pé nem cabeça, acabou transformando-se no avesso do avesso. a história e não ele, o escritor.

e, de repente, lá estava: o avesso do fim.

“deve ser o começo”. concluiu o escritor, empalidecendo e mudando de cor.

empalideceu. Ficou tão transparente no amarelo que, não conseguia enxergar a si próprio.
aí, o escritor resolveu voltar à sua cor natural. pensando bem, é melhor ter qualquer cor do que não ter nenhuma. nem que seja uma coisa assim, meio sem pé nem cabeça. no fim do começo ou, no começo do fim. talvez o avesso do fim, fosse o fim do avesso. vai saber?. matutou o escritor, já completamente esquecido do que iria escrever. ficou olhando para o vazio do nada que, é uma coisa assim, que existe sem existir. uma coisa que, às vezes, se sabe que tem, mas continua faltando.

então, ele ficou ainda mais chateado porque, era uma coisa tão sem graça aquele vazio que, chegava a dar sono. sono, preguiça e vontade de ficar dando risada o tempo todo. risada de tudo e de todos porque, coçava-se distraidamente.

foi então que, de tanto permanecer ali parado, a fitar o vazio, acabou sentindo saudade das coisas do sem-fim. não do avesso do fim. ou do sem pé nem cabeça. ou do avesso do avesso. mas, do sem-fim. foi por isso que ele ficou novamente chateado.

sem mais nem menos, saltou para esta linha abaixo, mudando de cor mais uma vez. decidido a colocar fim no começo ou, começo no fim pelo avesso sem avesso que, naquela história sem pé nem cabeça, o outro escritor que era o avesso daquele que escrevia, tascou um ponto final e pronto. basta!.

mas que coisa mais sem graça!. pensou o escritor falando ao mesmo tempo sem falar ou pensar em coisa alguma. decidido a pôr termo àquela história sem pé nem cabeça, virando-a pelo avesso do avesso, escreveu: aqui é o avesso do fim do começo que vai dar no começo do fim. analisou bem, leu, releu e concluiu:

“acho que ninguém vai entender”.

disse isso porque, ele mesmo, estava bastante confuso. também, não era pra menos. havia feito tanta confusão com a história que ela parecia não ter pé nem cabeça. parecia mais como se estivesse meio pelo avesso do avesso. sem o fim do começo. nem o começo do fim.
com as palavras mudando de cor e embolando-se pelo meio do meio da história que zangou-se com o escritor, ele desligou a lâmpada, vestiu o pijama, deitou-se e despertou para descobrir, finalmente que, estivera o tempo todo sonhando.

ou tendo pesadelo?.....

Fontes:
RUEDA, Mauro Gonçalves. Histórias sem pé nem cabeça (Inventando Coisas). São José do Rio Preto: ebookLibris. Coleção Joyceana, vol.6. 1999.

Sonetos Vencedores do 4º. Concurso Literário Cidade de Maringá - 2008



Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro, RJ)
AO PÉ DA SERRA

Num quarto de choupana, ao pé da serra,
onde a ausência de amor se faz presente,
sofre o caboclo pela dor que sente,
servo da angústia que o abandono encerra...

Sendo forçado a que a tristeza enfrente,
descobre que o destino também erra,
e, nos seus erros, faz ruir por terra
da esperança a muralha resistente.

Fragilizado e ao desespero entregue,
tateia pela noite que o persegue
numa existência quase consumida...

E a chama, que no quarto bruxuleia,
verte um resto de luz, que há na candeia,
no resto do que resta de uma vida!
=====================

Jaime Pina da Silveira (São Paulo, SP)
SOLIDÃO NA ROÇA

Cansei de cultivar – só – minha roça...
Cansei de – só – colher o meu feijão...
Cansei de enfeitar – só – minha palhoça...
De – só – nutrir de lenha o meu fogão...

Da casa, que era minha, eu fiz a nossa
e as portas eu te abri do coração.
E, como contra o amor não há quem possa,
voei nas asas loucas da paixão...

E encheu-se então de viço a minha horta,
veio a felicidade à minha porta
e a roça se esqueceu da solidão...

Mas... como há sempre um “mas” em nossa vida,
ao despertar da noite “bem” dormida,
percebo que foi tudo – só – ilusão!...
=======================

Lucília A. T. Decarli (Bandeirantes, PR)
DIVINO MISTÉRIO

Pura eclosão no encontro de dois seres,
ou de um só ser, chamado hermafrodita.
Sem ser movida por carnais prazeres,
carrega em si leal prenhez, prescrita.

Nas mãos a tens, quiçá sem compreenderes
que um divino mistério nela habita.
Sequer refletes, junto aos afazeres,
quão essencial é o ser que ali dormita...

Mas, lá na roça, alguém sempre a cultua,
vislumbra o embrião, que a espécie perpetua:
- o apaixonado e atento lavrador!

E, na expansão do gérmen, a semente
exalta a vida e aquEle que consente
nesse milagre – prova audaz de AMOR!...
========================

Maria Helena Oliveira Costa (Ponta Grossa, PR)
OS GRÃOS DO TEU ROSÁRIO

Tratas da terra e nos provês a mesa,
ó tu, simples e rude brasileiro,
que entregas teu vigor à enorme empresa
de fazer do país um bom celeiro!

De mãos calosas e coluna tesa,
pões no roçado teu suor inteiro...
E o teu empenho faz da natureza
um promissor e salutar viveiro!

No chão bendito jaz um relicário:
dormem sementes já por ti plantadas!
O dia finda e à oração convida...

Rezas, por fim... E os grãos do teu rosário
são como contas bem manuseadas
que têm no bojo uma explosão de vida!
========================

Neide Rocha Portugal (Bandeirantes, PR)
ÊXODO MENTAL

Ficou distante a roça... E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.

Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim... E, na empreitada,

tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.

Do que é capaz um som?... Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
==========================

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte I



INTRODUÇÃO

A evolução constante da humanidade para um fim inatingível influi sobre a vida do indivíduo; as artes, expressão natural do homem, constantemente modificada, seguem uma curva que pretendemos ser ascendente.

Foi dito que tudo o que era estático, imóvel, era atrasado; a evolução só deve ser dinâmica. Contudo, o estudo da evolução nos confunde dada a soma de mistérios que surgem a todo momento.

Parece paradoxal que homens, em épocas em que a ciência era menos adiantada do que a nossa, tenham descoberto leis que apenas encontramos. Contudo, as características das grandes pirâmides nos provam, de maneira irrefutável, que os egípcios conheciam os segredos de fórmulas que ainda não descobrimos inteiramente. Nossos rigorosos cálculos científicos eram, sem dúvida, substituídos por outra ciência tão precisa quanto a nossa.

Esta evolução ascendente torna-se, desta forma, menos positiva; cremos apenas que as questões formuladas o eram de maneira diferente; é uma transformação de energias. O mar, com seu fluxo e refluxo, pode, em certos momentos, fazer crer que evolui; contudo, permanece como é, não enche sem vazante. Nossa lei de transformação torna-se então uma constante e a contribuição de nossa atividade científica cuja utilidade não é certa — é anulada pela nossa falta de raciocínio. Numa civilização mecanizada o espírito acha-se cada vez mais deslocado

Se nossos conhecimentos se modificaram, a inteligência continua a ser um bem imutável; não se pode dizer que Einstein seja mais inteligente do que Pascal, mas apenas que Einstein resolveu, em seu tempo, outros problemas. Einstein — ou qualquer outro sábio — descobriu apenas o que outros já haviam vislumbrado, e quando diz que o mundo está fechado, repete apenas o que o Evangelho de São João Batista já nos ensinou.

A evolução do homem continua pois a ser uma miragem e os grandes iniciados revelam, simbolicamente, algumas verdades cuja veracidade controlamos com dificuldade. O estudo de problemas humanos, de raças, de folclore; nos leva a crer que o homem, anteriormente, tenha sido um iniciado mas que seus conhecimentos se perderam. Algumas tribos da África equatorial conservaram virtudes e sentidos que já não temos. Nossas sensações se evaporaram. É assim que um ensinamento geral emana dos contos e que toda essa poesia anônima, feita de graça e frescor, reflete a mesma preocupação.

Acontece que essa literatura coletiva, criada pelo produto inconsciente da imaginação, pela massa, pretendia ser um testemunho, uma prova. Não é absurdo pensar que os contos, antes divulgados oralmente e depois, por escrito, provavam, apoiavam teses, argumentavam em seu favor. Sob a forma de um divertimento, a fábula educava.

A moral dessas fábulas é agradável, engraçada; distrai pois não aborrece aquele a quem se dirige.

O estudo do folclore mundial — que reflete a atividade, o pensamento de uma época e de um povo — é pois o estudo da humanidade. Essas obras esclarecem períodos obscuros e suas deformações são instrutivas, pois nada mais são do que a evocação de mores locais, de concepções particulares e humanas. A lenda, mais verdadeira do que a história, é um precioso documento: ela exara a vida do povo, comunica-lhe um ardor de sentimentos que nos comove mais do que a rigidez cronológica de fatos consignados; desta forma, o romance é a sobrevivência das lendas. Imaginamos uma literatura científica na qual os “robots” escrevem poemas; mas esses engenhos mecânicos nunca poderão transmitir emoções iguais às contidas nos poemas de Villon ou de Baudelaire, pois que as obras desses homens eram feitas com sangue.

Além do maravilhoso que envolve esses mitos é preciso descobrir o tema inicial que se reproduz em países diferentes e muito longínquos: essa concepção nos leva a uma nova interpretação. Esses contos misteriosos fazem a Th. Briant escrever (Le Goéland, n.o III) (A Gaivota): “cada lenda podia ter uma explicação mística no plano de analogias e correspondências”, contudo, “as identidades nos fogem e chapinhamos no Relativo”.

Alguns contos, assim tratados, mostraram aspectos de sua evolução e interpretação; é evidente que estas simples páginas não esgotarão o assunto.

Primeira Parte: Evolução Das Lendas

Capítulo I: Generalidades

I. — Definições

A palavra lenda provém do baixo latim legenda, que significa “o que deve ser lido”. No princípio, as lendas constituíam uma compilação da vida dos santos, dos mártires (Voragine); eram lidas nos refeitórios dos conventos. Com o tempo ingressaram na vida profana; essas narrações populares, baseadas em fatos históricos precisos, não tardaram a evoluir e embelezar-se. Atualmente, a lenda, transformada pela tradição, é o produto inconsciente da imaginação popular Desta forma o herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho.

A fábula é uma narração em verso, cujos personagens são animais dotados de qualidades humanas. As mais célebres fábulas são as de Esopo, La Fontaine e Florian.

Os contos de animais são fábulas redigidas em prosa.

O conto é uma narração maravilhosa baseada numa trama romanesca; os lugares não são determinados e os personagens não têm nenhuma precisão histórica; a narração distrai. A lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são precisos e definidos. As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Freqüentemente a história é deformada pela imaginação popular.

O mito é uma forma de lenda; mas os personagens humanos tomam-se divinos; a ação é então sobrenatural e irracional. O tempo nada mais é do que uma ficção. Na realidade, essas categorias se embaraçam e os mitos são de uma infinita variedade; relacionam--se às religiões, são cosmogônicos, divinos — ou heróicos. As lendas, com personagens mais modestos, fazem evoluir mágicos, fadas, bruxas, que, de uma maneira quase divina, influem nos destinos humanos.

2. — Origem

A lenda, mais verdadeira do que a história, devido à quantidade de ensinamentos humanos, contraria freqüentemente a verdade psicológica; uma abóbora transforma-se em carruagem; um rato, em cocheiro. Entretanto, essas ficções não são nem pueris nem grotescas; elas nos interessam, nos repousam e nos deslumbram. Esse mundo fluido que põe em xeque o nosso mundo real, foi definido pelo bondoso Jean de la Fontaine:

e até mesmo eu.
Se me contassem a Pele de burro
sentiria um extremo prazer

Este divertimento do povo é sua aspiração secreta, sua busca espiritual de um mundo maravilhoso onde impere o valor do homem, onde as leis, tão detestadas, sejam abolidas. E o encantamento, a volta ao Paraíso Terrestre.

A lenda existe desde a formação do clã, da sociedade e os temas se desenvolvem com preocupações semelhantes em todas as culturas.

Essa literatura coletiva pode ser proveniente de um único mito propalado de país em país A Índia foi primeira a nos fornecer o índice escrito desse folclore mundial, o que não implica que a Índia seja o seu berço. Divulgados oralmente, esses contos -foram talvez escritos e conservados em outros países, mas sua mensagem não chegou até nós: por muito tempo ignorou-se as riquezas contidas nas pirâmides cujos segredos ainda não foram completamente desvendados, o que não permitiria aos nossos filhos dizerem que as pirâmides não contêm nenhum segredo.

Esses contos, transformados, decantados, modificados, foram portanto transcritos nos Vedas, aproximadamente 4.500 anos a. C. base de nossa mais antiga civilização teriam os Arias e o original da compilação é o Pantchatantra (os “cinco livros”). Considerando os animais que falam e as leis da metempsicose, parece ser a fábula um produto espontâneo da Índia. É curioso, contudo, que uma passagem do romance de Merlin esteja reproduzida num conto Indiano (Gulcasapati) e numa compilação de Somadeva. Sinais do budismo aparecem em vários outros lugares e principalmente na grande caridade demonstrada pelos heróis para com os animais.

Nestes últimos anos, a escola folclorista compilou contos semelhantes aos da Índia, em todos os países. Portanto, os mitos se divulgaram através do tempo e do espaço. A religião grega toma emprestado à religião fenícia, o mito de Adônis e Cibele. Reinhold Kohler e Theodor Benfey ficaram estupefatos ao encontrar os mesmos temas iniciais em todos os países. É verdade que durante sua peregrinação, os contos se transformaram; há a influência do meio, a alteração de certos fatos, lacunas que foram preenchidas e novos motivos surgiram, mas a base da criação continua a mesma; as particularidades locais, muitas vezes morais, fornecem preciosos ensinamentos sobre o povo e sua maneira de pensar.

A divulgação dos contos talvez nos surpreenda em função da época mas, na realidade, os países se comunicavam entre si muito antes das viagens de Cristóvão Colombo, Magellan ou Marco Polo. Teria havido navegadores, verdadeiros aventureiros, que transportavam ensinamento de uma a outra civilização e o ritmo da vida era assim o mesmo em cada país. A América possuía suas fundições no mesmo período que a Ásia ou a Europa.

Concluindo, não se pode afirmar que houve uma única invenção, mas apenas a Índia possui os documentos antigos onde nossos mitos estão registrados.

3. — Os temas

Transcrição do pensamento do povo, os temas simbolizam suas aspirações. Transposição de sentimentos e desejos humanos a lenda abole o real.

O homem — infeliz torna-se poderoso. A pastora bela e incompreendida, desposa um príncipe encantado; o sapatinho perdido, emblema de sua beleza, é cultuado na Índia. As mulheres, prisioneiras dos hábitos, vivem sob a dependência do homem: as princesas terão liberdade e o rei será passivo. O subconsciente criou uma “supercompensação” para os nossos sentimentos de inferioridade

Os mistérios naturais preocupam a imaginação: tudo é maravilhoso, incompreensível, surpreendente e fascinante. Desde o desabrochar da flor até as ondas sorrateiras que dirigimos sem conhecer — a eletricidade — essas manifestações são de uma amplitude desconcertante. O sol e, conseqüentemente, a lua, favorecem com seu culto, a criação de malefícios, de palavras mágicas e de palavras-chave.

Entretanto, esses conhecimentos só podem ser adquiridos com uma certa iniciação; para comandar os espíritos é preciso instrução e o adepto, depois das provas e dos três estágios (purificação, conhecimento e poder), conhecerá, finalmente, todas as virtudes da câmara secreta. O conto será uma lição mas o mito não poderia se enunciar claramente; elementos conscientes, só instruiriam os iniciados enquanto que o povo veria nisso apenas um divertimento. Naturalmente a bruxaria liga-se a essa magia feiticeira. É a estranha personalidade do diabo. A lenda religiosa deveria se utilizar do antagonismo entre a dualidade da alma humana.

De acordo com Freud, a sexualidade desempenha um papel primordial no comportamento da sociedade; é representada sob o símbolo do algarismo 3 — a Trindade mística — e o lírio heráldico representaria o órgão macho. A psicanálise interpretará os contos da mesma forma que os sonhos.

A lenda histórica fundamenta-se em fatos reais, mas o narrador altera a verdade a fim de provar. A lenda do Cid, criada quarenta anos depois da morte do herói, é de composição diferente da de Rolando, escrita duzentos e setenta anos depois de Roncesvales. As suas falhas são flagrantes, bem como nas duas célebres lendas épicas, a Ilíada e a Odisséia.

Outras lendas estão em formação. Eis a de Cartouche, Mandrin, Jack, o Estripador, Mayerling, o mito de Hitler vivendo num rancho americano é análogo ao de Napoleão. A irmãzinha de Lisieux deu origem, segundo o padre de Ars ou São Vicente de Paula, a uma imensa literatura que não pode desaparecer imediatamente.

Todavia, nesses ciclos temáticos, raramente um tema se representa no estado isolado; ele se imbrica com vários outros, também mais ou menos modificados. Sendo esses assuntos primordiais inumeráveis, estudaremos apenas alguns mitos principais.

4. — A pesquisa folclórica

A palavra folklore foi criada por W. J. Thomas, em 1846. Folk significa povo e lore; saber ou conhecimento. Antigamente os franceses empregavam a expressão: “Tradições Populares”.

Perrault, quando publicou, na editora Barbin (Paris), em 1697, suas Histoires ou Contes du temps passé, abriu caminho aos irmãos Grimm que compilavam os contos ouvidos da boca dos camponeses de Hesse, em 1810. Walter Scott fez o mesmo na Inglaterra, em 1820, aproximadamente.

Quando se descobriu, em diferentes países, o mesmo repertório de contos, com pequenas variações de costumes, a atividade dos folcloristas tornou-se intensa. Essa atividade permitiu a interpretação das lendas e principalmente sua classificação; foram unidos entre si e compiladas. Miss Roalfe Cox publicou análises notáveis sobre Cendrillon (Gata Borralheira) e Peau d’Ane (Pele de burro) (Folklore Society, Londres, 1893).

Com o estudo dessas narrações maravilhosas, a análise das crenças e dos costumes permitiu evocar períodos pouco ricos em comentários. Contudo, o folclore não se interessa unicamente pelo passado; dedica-se também ao presente, tanto em economia política como em instituições, ofícios ou atividades populares. Saintyves assim o definiu: “É a ciência da vida popular no seio de sociedades civilizadas.”

Embora a explicação dos contos seja mais ou menos fantasista, este método de observação permitiu ligar os fatos uns aos outros de forma que parecessem, de início, disparatados. O folclore permitiu preencher essas lacunas e acompanhar a evolução da psicologia coletiva mesmo fora das grandes civilizações que nunca foram homogêneas. Essa cultura tradicional, devida à massa popular à margem do ensino oficial, tem uma base permanente que, apesar de incompleta, assegurou definitivamente a estabilidade das sociedades sucessivas. Essa camada inferior, verdadeira corrente cultural, transmite-se de geração em geração e é graças a ela que os contos foram conservados.
––––––––––––––-
Continua…
–––––––––––––––-

Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

Belmonte (É proibido casar!)


Introdução

Benedito Carneiro Bastos Barreto, ou melhor, Belmonte, pseudônimo que adotou por que, como noticia o bom amigo Abrahão, tinha em seu nome “Bs aos Montes” merece ter sua obra conhecida pelas novas gerações a mais de um título.

Tivesse sido “apenas” o primeiro ilustrador dos livros infantis de Monteiro Lobato, um dos maiores chargistas e jornalistas brasileiros, já mereceria lembrança.

Mais não fosse, ainda, pelo simples fato de uma criação sua, o Juca Pato, simbolizar hoje um dos maiores prêmios atribuídos a escritores no Brasil.

Seu criador morreu em 1947. Em 1958, nasceu a União Brasileira de Escritores [ http://www.ube.org.br ], com sede em São Paulo, e em 1962 foi lançado o Troféu “Juca Pato“ em homenagem a Belmonte, para premiar o “Intelectual do Ano”.

João Ninguém, menos conhecido que o Juca Pato, mas talvez mais simbólico do que seu irmão, foi o título que escolhemos para relembrar Belmonte, às vésperas de mais uma entrega do “Juca Pato”.

Antes da publicação, consultamos as livrarias online para conferir quais obras de Belmonte estariam disponíveis. Nenhuma. Só encontramos uma homenagem que lhe foi prestada em 1996, centenário de seu nascimento, com a edição de “Belmonte: 100 Anos” [CARVALL, Editora SENAC, ISBN 8573590076], que o website da Livraria Cultura dá como esgotado (em outros parece estar ainda disponível) e que, com maiores ou menores variantes, é mencionado como “Livro de arte comemorativo devido ao centenário de nascimento do chargista Belmonte. Traz suas principais obras, em uma edição bem cuidada.”

Injustiça total! Um livro de menos de 100 páginas não poderia conter, jamais, as principais obras de Belmonte! Talvez algumas charges e ilustrações; importantes, sem dúvida, mas que nunca, jamais, em tempo algum, retratariam às novas gerações tudo o que foi e representou Belmonte para as letras nacionais. Um aperitivo, não mais.

Só na edição de Idéias de João Ninguém são mencionadas as seguintes obras do autor: Angústias de Juca Pato (álbum de caricaturas políticas), O Amor Através dos Séculos (álbum de desenhos humorísticos), Assim Falou Juca Pato (coletânea de crônicas humorísticas), e o lançamento de A “Realidade Brasileira” (álbum de caricaturas políticas), Bandeiras e Bandeirantes (crônicas históricas ilustradas pelo autor) e uma História de São Paulo (em desenhos, para crianças).

Como se vê, Belmonte foi um artista completo da pena, com um traço maravilhoso para ilustrações e charges, com uma verve cáustica e incisiva ao apontar as mazelas nacionais de mais de quinhentos anos...
–––––––––––––––––––––––––––––
É Proibido Casar!

Um cidadão de indiscutível mau gosto, que tem o feio costume de ler todos os disparates que eu escrevinho aqui, manda-me um recorte de jornal acompanhado desta pergunta inquietante:

“Que é que você pensa desta estupidez?”

O recorte aludido contém um telegrama vindo de Istambul, no qual se dá conta de uma das últimas medidas tomadas pelo governo turco. A tal medida consiste em punir “severamente” todo o professor que se entregue a “flirts” com suas alunas e que “pense” em realizar qualquer projeto matrimonial com alguma delas.

Há dias, referi-me aqui às medidas temerosas que vêm sendo tomadas pelos vários “governos fortes” que existem por aí afora, entre as quais fixei a de um general chinês inimigo figadal dos cabelos ondulados. Hoje, segundo me comunica um heróico leitor, é o governo turco, igualmente “forte”, quem se levanta, de durindana em riste, para castigar os pedagogos sentimentais que “pensem” em contrair matrimônio com alguma das suas alunas.

Não sei se as ditaduras, além da força material, possuem também poderes ocultos que as habilitem a saber, com a devida antecedência, qual o professor que “pensa” em casar-se com qualquer de suas discípulas. É possível que esses governos discricionários, possuidores de tão bravos generais, possuam igualmente ocultistas famosos ao seu serviço, não sendo mesmo temerário supor-se que o governo turco tenha criado, para mais facilmente desempenhar-se de suas funções, um Ministério das Ciências Ocultas ou um Departamento Federal das Transmissões de Pensamento.

Todavia, não devemos estranhar a original medida do sr. Kemal. Poder-se-ia mesmo perguntar: Kemal há nisso? se me fosse permitido perpetrar um trocadilho tão detestável. Não há mal nenhum porque, afinal de contas, se os professores turcos estão proibidos de se casarem com suas alunas, poderão fazê-lo com qualquer outra mulher, mesmo que seja aluna de outrem. A estranheza do meu heróico leitor provém de que ele, como quase nós todos, vivemos de olhos pregados no Estrangeiro sem vistas para o que se passa aqui dentro de casa. “Aqui dentro de casa” é um modo de dizer. Todavia, se nós olhássemos em torno de nós, notaríamos que o governo turco, perto dos governichos brasileiros, é muito menos do que um pinto.

No Rio Grande do Norte, por exemplo, há um interventor cujo nome não tenho a honra de saber — quem saberá o nome de todos eles? — o qual interventor, por motivos que até hoje não estão convenientemente explicados, baixou um decreto — decreto ou qualquer coisa semelhante — proibindo as professoras de contraírem matrimônio.

É verdade que, se, por um lado, o governo do Rio Grande do Norte foi mais liberal, por outro lado foi mais arbitrário. Com efeito: o governo turco não admite que o professorado “pense” em contrair matrimônio. Já o governador brasileiro admite que os pedagogos pensem em casar-se; há no Norte, nesse ponto, inteira liberdade de pensamento. O que ele não admite é que os pedagogos se casem. Mas se, na Turquia, os professores podem contrair matrimônio, desde que não o façam com qualquer de suas alunas, no Brasil isso não é possível ser realizado com ninguém. Na capitania do norte proibiu-se, pura e simplesmente, o casório — seja lá com quem for.

Dir-se-á que isso é um crime de lesa-pátria, uma vez que a pátria precisa de quem a povoe — tanto que resolveu importar vinte mil assírios para esse fim. As professoras, não podendo casar-se, não poderão exercer esse direito multiplicador — embora haja pessoas que afirmem o contrário. O certo, porém, é que, multiplicando-se ou não, o Brasil se mostra eminentemente liberal, eis que permite às suas professoras do norte o direito de “pensar” em casamento. A coação é puramente material, como se vê, porque as professoras nordestinas poderão soltar as rédeas da imaginação em devaneios líricos, sonhando com “ele”, sofrendo por “ele”, pensando “nele”...

Todavia, como o interventor proibiu apenas o casamento não vá acontecer às educadoras rio-grandenses o que aconteceu com o caipira a quem perguntaram, quando o viram de braço dado a uma cafuza, se eles haviam se casado.

— Não! respondeu ele, nóis se ajuntemo...

Fonte:
Belmonte. Idéias de João Ninguém. Livraria José Olympio Editora, 1935.
Imagem de Dirceu Veiga = http://www.dirceuveiga.com.br

Belmonte (1896 – 1947)



Benedito Carneiro Bastos Barreto, aliás, Belmonte, nasceu na cidade de São Paulo em 1896. Paulista e paulistano da gema, aqui mesmo faleceu em 1947, antecedendo em um ano no Parnaso a chegada de Monteiro Lobato, a cujas criações infantis dera corpo e forma.

Suas caricaturas apareciam regularmente em Cigarra, Verde e Amarelo, Kosmos, Vida Paulista, Queixoso, Frou-Frou, O Cruzeiro, Folha da Manhã e, no exterior, em Judge (USA), Caras y Caretas (Argentina), ABC (Portugal), Le Rire (França), Kladeradatsch (Alemanha).

As crônicas e charges que publicou no período que antecedeu a II Guerra Mundial, premonitórias. As que criou durante a Guerra, granjearam-lhe protestos oficiais do Japão e da Alemanha... E olha que vivíamos em “Estado Novo” — mas esta ditadura, por sinal, nunca despertou em Belmonte nem a auto-censura, nem simpatias...

Foi pesquisador, desenhista, pintor, caricaturista e jornalista. Começou fazendo desenhos para a revista Alvorada e posteriormente desenhou para a revista Miscellanea. Tentou conciliar a carreira de caricaturista com os estudos de medicina, porém acabou optando pelo jornalismo. Tempos depois foi contratado como caricaturista pelo jornal Folha da Noite. Como desenhista ilustrou diversos livros de Monteiro Lobato e Viriato Correia.

Nas décadas de 1930 e 1940, se perguntássemos a qualquer paulistano qual era a figura mais popular na cidade, com boa dose de certeza, diriam que era o Juca Pato. A popularidade podia ser comprovada nas ruas: havia nome de bar e restaurante, marca de cigarro, graxa de sapato, vinho, água sanitária, pacote de café, aperitivo de bar e até letra de samba com o nome Juca Pato.

Contudo, Juca Pato, um sujeitinho careca, de óculos, gravatinha e polainas, a mais completa tradução do paulistano médio da época, que sofria a impotência ante os desmandos e injustiças dos poderosos do momento, nunca tivera uma existência de carne e osso...

Foi com a criação do personagem Juca Pato e do lema "podia ser pior", onde procurava traduzir as críticas e aspirações da classe média paulistana, que Belmonte obteve reconhecimento. Se dedicou à caricatura política; seus desenhos não apelavam para a grosseria; ao contrário, revelavam um alto grau de intelectualidade.

O famoso personagem de Belmonte deu nome também ao prêmio da União Brasileira dos Escritores, o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano.

A caricatura de Belmonte estava em dia com os problemas do mundo, trazendo informação de forma ágil, e rendeu inclusive críticas do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebels, em um de seus pronunciamentos pela Rádio de Berlim. Pelo seu conhecimento dos problemas políticos, sociais e econômicos, divulgou trabalhos em diversos jornais internacionais. Recusou convite para ir para Nova York, como desenhista da Metro G. Meyer, mas permaneceu como Diretor do Departamento de Publicidade das Empresas Cinematográficas Reunidas, em São Paulo.


Além de tudo isso, como noticia Romeu Martins [ http://omalaco.hpg.com.br / http://pracinha_belmonte.htm ]: “Um lado seu bem menos citado foi o trabalho como quadrinista, fato que foi resgatado pelo nº 1 da Phenix (é essa mesmo a grafia), revista publicada pelo Clube dos Quadrinhos comemorando o centenário de nascimento de Belmonte, em 1996. Phenix traz uma análise extremamente minuciosa das 210 páginas de HQs que o artista publicou, entre 1933 e 1936, no jornal infantil A Gazetinha”. Nem é necessário dizer: esta revista é, talvez menos que os livros de Belmonte, mas igualmente, difícil de ser encontrada.

Fontes:
Belmonte. Idéias de João Ninguém. Livraria José Olympio Editora, 1935.
http://www.prefeitura.sp.gov.br

Voltaire (Aventura da Memória)


O gênero humano pensante, isto é, a centésima-milésima parte do gênero humano, quando muito, acreditara por muito tempo, ou pelo menos por muitas vezes o repetira, que nós não tínhamos idéias senão por intermédio dos sentidos, e que a memória era o único instrumento com o qual podíamos reunir duas idéias e duas palavras.

Eis por que Júpiter, símbolo da natureza, se enamorou, à primeira vista, de Mnemósine, deusa da memória; e desse casamento nasceram as nove Musas, que inventaram todas as artes.

Este dogma, no qual se fundam todos os nossos conhecimentos, foi universalmente aceito, e até mesmo a Nonsobre o adotou, embora se tratasse de uma verdade.

Algum tempo depois surgiu um argumentador, metade geômetra, metade lunático, o qual se pôs a argumentar contra os cinco sentidos e contra a memória. E disse ao reduzido grupo do gênero humano pensante:

— Até agora estivestes enganados, porque os vossos sentidos são inúteis, porque as idéias são inatas em vós, antes de que qualquer dos vossos sentidos possa ter operado; porque já tínheis todas as noções necessárias quando viestes ao mundo; porque já sabíeis tudo sem nunca haver sentido nada; todas as vossas idéias, nascidas convosco, se achavam presentes em vossa inteligência, chamada alma, e sem auxílio da memória. Esta memória não serve para coisa alguma.

A Nonsobre condenou tal proposição, não porque fosse ridícula mas porque era nova. No entanto, quando em seguida um inglês começou a provar, e a provar longamente, que não havia idéias inatas, que nada era tão necessário como os cinco sentidos, que a memória muito servia para reter as coisas recebidas pelos cinco sentidos, a Nonsobre condenou suas próprias idéias, visto que eram agora as mesmas de um inglês. Ordenou por conseguinte ao gênero humano que acreditasse dali por diante nas idéias inatas, e perdesse toda e qualquer crença nos cinco sentidos e na memória. O gênero humano, em vez de obedecer, pôs-se a rir da Nonsobre, a qual entrou em tamanha fúria, que quis mandar queimar a um filósofo. Pois dissera esse filósofo que era impossível formar idéia completa de um queijo sem o ter visto e comido; e chegou o celerado a afirmar que os homens e mulheres jamais poderiam fazer trabalhos de tapeçaria se não tivessem agulhas e dedos para as enfiar.

Os liolistas juntaram-se à Nonsobre pela primeira vez na vida; e os sejanistas, inimigos mortais dos liolistas, reuniram-se por um momento a estes. Chamaram em seu auxílio os antigos dicastéricos; e todos eles, antes de morrer, baniram unanimemente a memória e os cinco sentidos, e mais o autor que dissera bem dessa meia dúzia de coisas.

Um cavalo que estava presente ao julgamento estatuído por aqueles senhores, embora não pertencesse à mesma espécie e houvesse muita coisa que os diferenciava, tal como a estatura, a voz, as crinas e as orelhas, esse cavalo, dizia eu, que tanto possuía senso como sentidos, contou a história a Pégaso, na minha estrebaria, e Pégaso, com a sua ordinária vivacidade, foi repeti-la às Musas.

As Musas que, durante uns cem anos, vinham singularmente favorecendo o país, por tanto tempo bárbaro, onde se passava esta cena, ficaram muito escandalizadas; amavam ternamente a Memória, ou Mnemósine, sua mãe, à qual essas nove filhas são credoras de tudo quanto sabem. Irritou-as a ingratidão dos homens. Não satirizaram os antigos dicastéricos, os liolistas, os sejanistas e a Nonsobre, porque as sátiras não corrigem ninguém, irritam os tolos e os tornam ainda piores. Elas imaginaram um meio de esclarecê-los, punindo-os. Os homens haviam blasfemado contra a memória; as Musas lhes tiraram esse dom dos deuses, a fim de que aprendessem de uma vez por todas, a que se fica reduzido sem o seu auxílio.

Aconteceu, pois, que durante uma bela noite todos os cérebros se obscureceram, de modo que no dia seguinte, de manhã, todos se acordaram sem a mínima lembrança do passado. Alguns dicastérios, deitados com as suas mulheres, quiseram aproximar-se delas por um resto de instinto Independente da memória. As mulheres, que só muito raramente possuem o instinto de entrar em contato com os maridos, repeliram asperamente as suas desagradáveis carícias, e a maioria dos casais acabou aos tapas.

Alguns senhores, encontrando um chapéu, serviram-se dele para certas necessidades que nem a memória nem, o bom senso justificam. E senhoras empregaram para o mesmo uso as bacias de rosto. Os criados, esquecidos do contrato que haviam feito com os patrões, entraram no quarto dos mesmos, sem saber onde se achavam; mas, como o homem nasceu curioso, abriram todas as gavetas; e, como o homem ama naturalmente o brilho da prata e do ouro, sem ter para isso necessidade de memória, apanharam tudo o que estava a seu alcance. Os patrões quiseram bradar contra ladrão; mas, tendo-lhes saído do cérebro a idéia de ladrão, não pôde a palavra lhes chegar à língua. Cada qual, tendo esquecido o seu idioma, articulava sons informes. Era muito pior que em Babel, onde cada um inventava imediatamente uma língua nova. A inata inclinação dos criados moços pelas mulheres bonitas se manifestou com tal premência que os atrevidos se lançaram irrefletidamente sobre as primeiras mulheres ou raparigas que encontraram, fossem elas taberneiras ou presidentas; e estas, esquecidas das leis do pudor, deixaram-se manobrar com toda liberdade.

Foi preciso almoçar; ninguém sabia o que fazer para isso. Ninguém fora ao mercado, nem para vender nem para comprar. Os criados tinham vestido a roupa dos patrões, e os patrões a dos criados. Todo mundo se olhava aparvalhado. Os que tinham mais jeito para obter o necessário (e era a gente do povo) conseguiram um pouco com que viver; aos outros, faltou-lhes tudo. O ministro e o arcebispo andavam inteiramente nus, e seus palefreneiros passeavam, uns de hábito vermelho, outros com dalmáticas: tudo estava confundido, iam todos morrer de miséria e de fome, por falta de mútuo entendimento.

Ao cabo de alguns dias, as Musas tiveram piedade dessa pobre raça: elas são boas afinal, embora algumas vezes façam sentir aos maus a sua cólera; suplicaram, pois, à mãe, que devolvesse àqueles blasfemos a memória que lhes havia tirado. Mnemósine desceu à região dos contrários, onde tão temerariamente a tinham insultado, e falou-lhes nos seguintes termos:

— Perdôo-vos, imbecis; mas lembrai-vos de que sem sentido não há memória e sem memória não há senso.

Os dicastéricos agradeceram-lhe secamente, e decidiram fazer-lhe uma admoestação. Os sejanistas publicaram toda essa aventura na sua gazeta; viu-se que ainda não estavam curados. Os liolistas transformaram o caso numa intriga de corte. Mestre Coger, pasmado da aventura e sem compreender patavina daquilo tudo, disse a seus alunos do quinto ano este belo axioma: Non magis musis quam hominibus infensa est ista quae vocatur memoria. (O que se chama memória não é mais infenso às musas que aos homens)

Fonte:
VOLTAIRE. Breves Contos. Ed. Ridendo Castigat Mores. Disponível em Domínio Público.

Imagem = ilustração de Julio Saens

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 6 (Boitatá)

Jorge Miranda (Boitatá)



Um brilho no rio
em noite escura é fogo fátuo
gênio protetor dos campos e das águas
cobra grande, boiaçú
boiúna, boiúna, sucurijú
a fera que surge do nada

corre no corpo o arrepio
o sangue nas veias fica frio
o fogo que a água não apaga

um facho de luz ilumina a escuridão
seus olhos de fogo incandeiam
tapando furos, singrando rios
a dona da noite à boca da noite
a dona da noite vai chegar

boitatá, boitatá
fogo no ar, fogo no ar
cobra de fogo, boiaçú
boiúna flutua
------
Fonte:
DVD Festival de Parintins
.

Folclore Brasileiro (Boitatá)


Antigo mito brasileiro cujo nome significa "coisa de fogo", em tupi. Já referido por José de Anchieta em 1560, o boitatá é um gênio protetor dos campos: mata quem os destrói, pelo fogo ou pelo medo. Aparece sob a forma de enorme serpente de fogo, na realidade o fogo-fátuo, ou santelmo, do qual emana fosfato de hidrogênio pela decomposição de substâncias animais. A causa desse mito pode ser explicada com uma reação química, ossos de animais, como bois, cavalos etc. que são ricos em fósforo branco, que é um material inflamável (diferente do fósforo vermelho que é usado como medicamento), se aglomeram em um lugar, o osso começa a se decompor, e sobra apenas o fósforo. Quando um raio ou faísca, entra em contato com os ossos semi-decompostos causa uma enorme chama.

O Boitatá é o gênio que protege as campinas e sempre castiga os que põem fogo no mato. Quase sempre ele aparece sob a forma de uma cobra muito grande, com dois olhos enormes, que parecem faróis. Às vezes, surge também com a aparência de um boi gigantesco, brilhante.

O Boitatá é um mito universal. Na Inglaterra é conhecido como "Jack with a lantern" (Jack com uma lanterna), na Alemanha é "Irlicht" (a luz louca), na França é "Moine des marais" (assombração dos pântanos) e nos países que se fala espanhol é "Luz mala" ou "Víbora de Fuego".

Em 1560 registrou o Padre José de Anchieta:

"Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933)

Etimologia e variantes nominais

O termo mais difundido é boitatá. O termo seria a junção das palavras tupis mboi e tatá, significando cobra e fogo, respectivamente - ou ainda de mboi - a coisa ou o agente. Significa, assim, cobra de fogo, fogo da cobra, em forma de cobra ou coisa de fogo.

Sobre a etimologia, escreveu Couto de Magalhães que "como a palavra o diz, mboitatá é cobra-de-fogo'" .

No Centro-Sul é chamado de baitatá ou batatá e até mesmo de mboitatá. Na Bahia aparece como biatatá. Em Minas Gerais chamam-no de batatal. Em São Paulo é bitatá. No Nordeste é comum o termo batatão. Nos estados de Sergipe e Alagoas recebem os nomes de Jean de la foice ou Jean Delafosse.

Do Boitatá, no Sul, se conhece três versões: a primeira mostra-o com os olhos ferventes. Nas trevas distingue tudo, porém na luz nada vê. Quando as águas tomaram conta da campanha (Dilúvio), alagando caminhos, várzeas e coxilhas, ela foi para o lugar mais alto que encontrou. Tanto furou, que conseguiu fazer um buraco muito fundo e escuro. Recolhe-se neste local e esperou até que as águas baixassem. A necessidade de distinguir nas trevas, obrigou-a a arregalar os olhos. Mas ela arregalou tanto...tanto, que elas passaram a brilhar como duas tochas de fogo. São os olhos de Boitatá, assim transformados, que o gaúcho se depara à noite, quando passeia pelos campos.

A segunda versão, corrente entre os estanceiros gaúchos, é que durante à noite ao cavalgar ou viajar à noite, avistam um fogo volante, às vezes em forma de cobra, outras vezes em forma de pássaro, voando na frente do cavaleiro e impedindo-lhe a marcha. Há uma crendice popular que Boitatá se deixa atrair pelo ferro. E, então um meio de se livrar de seu ataque, consiste em desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. Ele acompanhará o ferro da argola do laço e ao se passar por um arbusto, ele se desmancha todo. Até que se recomponha, a pessoa tem tempo de fugir.

A terceira versão nos foi transmitida por J. Simões Lopes Neto. Ele nos relata que numa noite muito escura iniciou-se o grande dilúvio. A água cobriu todas as coxilhas, inundou as sangas e arroios, encheu todas as tocas dos animais, inclusive a de uma cobra grande chamada de "boiguaçu" que dormia quieta. Acordando com o frio da água, encheu-se de susto. Saiu para fora e apertada de fome começou a comer só os olhos dos animais que encontrava a sua volta. Como os animais sofrem influência do alimento que comem, a Boiguaçu não escapou a regra, sua pele tornou-se muito fina e ficou luminosa pelos mil olhos que devorou.

Os homens quando voltaram à vê-la, não a reconheceram e pensaram tratar-se ser de uma nova cobra, por causa de seu aspecto deram-lhe o nome de Boitatá, ou seja, cobra de fogo.

Passado um certo tempo, a Boitatá morreu de pura fraqueza, porque só os olhos que comeu não a alimentaram o suficiente. Ao decompor-se, a luz que estava presa dentro dela esparramou-se pelos brejos e pode tomar a forma tanto de cobra como de boi. O povo da campanha adverte, ao vê-la deve-se ficar imóvel, de olhos fechados, sem respirar, até que ela resolva ir embora.

Há muitos outros casos e lendas, o povo do País de Gales tinham o seu "Jack com uma lanterna" e atribuem-lhe a intenção de espírito zombeteiro, que ensina o caminho errado aos que se perdem pelos prados. O budismo nipônico, admite entre os seus "gakis", o "Shinen-Gaki", que aparece à noite, sob a forma de fogo errante. E justifica historicamente o caso remontado aos celtas, que tinham o "fogo dos Druidas" e à antiguidade clássica, onde encontramos o fogo de Helena.

Na região missioneira, adquiriu Boitatá uma função disciplinadora de castigo entre pessoas que se estimam e consideram. Para conservar o respeito que deve haver entre compadre e comadre e levando em conta a fragilidade humana, existia a lenda de Mboitatá (Víbora de Fogo) que se reduz ao seguinte: se os compadres esquecerem-se do sacramento que os une, não fazerem caso dele, faltando a comadre a seus deveres conjugais com seu compadre, de noite se transformarão os culpados em Mboitatá, ou seja, em grandes serpentes ou pássaros que possuem em vez da cabeça uma chama de fogo. Eles brigarão toda a noite, lançando chamas e queimando-se mutuamente até o final da madrugada, para tornar a fazer tal feito na noite seguinte, assim por séculos e séculos, mesmo depois de mortos.

Segundo a ciência, todas estas lendas surgiram da mera observação de um fenômeno comum que ocorre sempre em há algo ou pessoa em estado adiantado de decomposição. É conhecido pelo nome de fogo-fátuo, inflamações espontâneas emanadas em virtude da enorme quantidade de gases que se desprendem das ossadas dos animais dispersos pelos pampas.

São estes fogos-fátuos desprendidos de lugares pantanosos, de coxilhas onde encontramos animais decompostos, nas estrumadeiras, nos campos de folhagens apodrecidas, os grandes geradores de tais lendas.

Este mito não é exclusivamente aborígene, porque há nas lendas cosmogônicas dos Fans da África a imagem de Mboya, representando na floresta um acham errante à procura de Bingo, o filho a quem Nzamé atirara ao precipício. Existe também no Maranhão, um mito mais aproximado do da tribo dos Fans do que do Boitatá. É o que se conhece pelo nome de kuracanga. Quando uma mulher tem sete filhas, a última vira kuracanga, isto é, a cabeça sai do corpo, à noite e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação. Há, porém, meio infalível de sustar-se esse horrível fadário, é fazer com que a filha mais velha seja madrinha desta caçula.

SIMBOLISMO

A serpente troca de pele de tempo em tempos. Este ciclo de transformação simboliza viver, morrer e renascer. Na Grécia a serpente é representada como arco-íris. Ela simboliza o poder de cura. Duas serpente entrelaçadas num bastão de madeira ou metal formam o caduceu, símbolo da paz. A serpente gera o fogo. Essa energia atua no plano material, na paixão, na vitalidade e na procriação. Nos mitos, a serpente é mediadora dos deuses e do conhecimento.
================

A LENDA

Fazia bastante tempo que havia anoitecido. As pessoas estavam apavoradas, pensando que o dia não voltaria mais. E como a noite estava durando muito, tudo ficou desorganizado. Não havia mais carne. As colheitas não podiam ser feitas no escuro e ficaram perdidas. Todos estavam cansados da escuridão, daquela noite estranha, onde não brilhavam a lua nem as estrelas, onde não se ouvia um rumor, nem se sentia o cheiro dos pastos e o perfume das flores.

Tão grande era a escuridão, que as pessoas tinham medo de se afastar e não encontrar mais o caminho. Ficavam reunidas em volta das pequenas fogueiras, embora as brasas, cobertas de cinza, mal esquentassem... Ninguém tinha coragem sequer para soprá-las, tão desanimados estavam todos.

Não muito longe, numa gruta escura, vivia a Boiguaçu - a Cobra Grande - quase sempre a dormir. De tanto viver no escuro, seus olhos tinham crescido e ficado como dois faróis.

No início da longa noite, caiu uma chuva tão forte e seguida, que todos os lugares baixos foram inundados. Os bichos atingidos correram, aos bandos, para os lugares mais altos. Só se ouviam berros, pios, gritos. O que salvou as pessoas foram as fogueiras que, então, havia sido acesas. Não fosse isto, não teriam sobrevivido diante daquela multidão de bichos apavorados.

A água também invadiu a gruta onde morava a Boiguaçu. Ela custou muito para acordar e quase morreu afogada. Por fim, despertou; percebendo o perigo, deixou o esconderijo e seguiu para onde já estavam os outros bichos.

Diante da necessidade, todos acabaram ficando amigos: perdizes, onças, cavalos.... Menos o Boiguaçu. O seu mau gênio não lhe permitia conviver com os outros. Ficou de lado, o mais longe possível.

A chuva cessou, mas com a escuridão que fazia, os bichos não conseguiram encontrar o caminho de volta. O tempo foi passando e a fome apertando. Começaram as brigas entre eles. Brigavam às escuras, sem enxergar nada! Somente a Boiguaçu via tudo, com seus olhos de fogo.

Acontece que, se os outros animais sentiam fome, a Boiguaçu também andava com o estômago no fundo. Só não havia atacado por causa da grande quantidade de animais.
Se a cobra podia ficar muito tempo sem comer, os outros bichos já não podiam mais.

Ela percebeu isso e viu que era chegada a hora. Preparou-se, então, para o ataque. O que comeria em primeiro lugar? Um cavalo? Uma onça? Uma perdiz? Eram tantos, que ela nem sabia.

Os bichos têm preferência por determinada coisa. A Boiguaçu gostava especialmente de comer olhos. Como era grande a quantidade de animais que ela podia atacar, naturalmente ia ficar satisfeita comendo apenas os olhos.

O animal que se encontrava mais perto era justamente uma enorme onça pintada. A Boiguaçu atacou-a. Fosse em outra ocasião e a onça não teria sido presa tão fácil, não! Porém, enfraquecida pela fome e cega pela escuridão, ela nem reagiu. A Boiguaçu matou a onça e comeu-lhe os olhos.

Logo depois, atacou outros animais. Mas só comia os olhos.

Gostou tanto que não fazia outra coisa. Ou melhor: também dormia. Quando estava satisfeita, recolhia-se num canto e dormia, dormia.... Depois, quando a fome voltava, ela retornava ao seu trabalho de matar os companheiros.

Como sua pele era muito fina, ela começou a ficar luminosa, com a luz dos inúmeros olhos engolidos. Os que viram a cobra não reconheceram mais a Boiguaçu e pensaram que fosse uma nova cobra.

Deram-lhe, então, o nome de Boitatá, ou seja, cobra de fogo, nome muito apropriado, pois realmente ela era uma grande listra de fogo, um fogo triste, frio, azulado.

A partir de então, as pessoas não tiveram mais sossego. Viviam com medo de ser atacadas pelo monstro. Do jeito que ele andava matando os bichos, logo necessitaria atacar as pessoas.

Entretanto, tiveram sorte. A preferência do Boitatá foi a sua própria perdição.

Só comia olhos e, assim, foi ficando cada vez mais luminoso e mais fraco, também, pois os olhos não sustentavam, embora lhe satisfizessem o apetite. Tão fraco ficou que acabou morrendo, sem conseguir sequer sair do, lugar!

O monstro morreu, mas a sua luz esparramou-se pelos brejos e cemitérios e hoje pode tomar a forma de cobra ou de touro. Parece que, por castigo, o Boitatá ficou encarregado de zelar pelas campinas.

Logo que ele morreu, o dia surgiu outra vez. Foi uma alegria enorme. As pessoas voltaram a sorrir e as aves, a cantar. Tudo, enfim, voltou a ser como era antes

Fontes:
http://www.terrabrasileira.net/
http://pt.wikipedia.org/
http://www.rosanevolpatto.trd.br/

Andréia Donadon Leal (Amanhã, hoje ontem!)



Da janela do apartamento eu espiava a vida lá fora. Era noite clara de lua minguante pendurada caoticamente no céu. Uma estrela lá outra acolá. Não ventava, não chovia nem fazia calor. Um extremo mal gosto do tempo. A maioria das luzes dos postes da rua estavam queimadas. Eu do alto do décimo quinto andar vigiava a rua avidamente; outros apartamentos, casas, cabines de telefone pichadas, janelas de outros apartamentos. Alguns estavam como eu, parado olhando tudo e nada, outros vestiam o uniforme doméstico, outros com o corpo jogado no sofá assistindo ao noticiário da TV. Não me dava o desatino de ligar a televisão e escutar a mesma ladainha de sempre; tudo era cópia da cópia, da cópia, da cópia de ontem! Às vezes fincava noite adentro a encarar a rua pela janela do apartamento e afogava em pensamentos estranhos, ou filosóficos? Será que estava ali mesmo? Eu era eu, ou era outro? Dentro daquela gaiola de loucos, sem sentido.

De manhã levantava de sobressalto com o barulho tormentoso do despertador. Calçava meus chinelos e ia até o banheiro enfrentar minha carranca no espelho amassada pelas listras em alto relevo do travesseiro. As escovas estavam estáticas no copo de alumínio, encardidas de lodo. Duas escovas? Isso não tinha muito sentido. Elas só dependiam de mim para sua existência banal. O estômago contorcia com o gosto de flúor da pasta dental ressecada devido a úlcera não cuidada. Meu desjejum matutino: meia lata de coca-cola misturada com pó de café; um cigarro de maconha e a pílula da felicidade: 180 mg de fluoxetina. Trocar de roupa, qualquer uma serve, pegar a maleta e sair do apartamento. Mais uma vez o martelo no cérebro: pra que mesmo trocar de roupa? Num flash a resposta vinha à tona: para não ficar sujo; mas não estava sujo; para quê? Pra nada? Não! As pessoas trocam de roupa sempre! Tomam banho, trocam de roupa! Vão sair trocam de roupa! Vão trabalhar trocam de roupa! As roupas estão sujas? Trocam de roupa, aí tudo bem! Mas se estão limpas trocam de roupa também!? Tem sentido? Sim, por que isso é a convenção! Isso me causava pânico, tédio, raiva, angústia, revolta, ódio... Sei lá, pouco importa!

O bafo do vento soprou intrometido no rosto ressecado; os cabelos não mexeram engomados de poeira e gel; diabo com o sopro do vento! Não gostava do vento, do sol, do nascer nem do pôr-do-sol, da noite, da madrugada. Das pessoas andando na rua, às vezes, encostando em mim com seus corpos desastrados, uma trombada aqui outra desculpa ali. Ou um tanto pior quando me dirigiam um bom dia! Não olhava para as pessoas, estava farto da existência delas. Eram úlceras pro meu estômago queimado.

Os passos eram trêmulos pelo quarteirão. Dois longos quarteirões, até entrar num outro prédio. O elevador me enjoava o estômago, a cabeça, o corpo, a cara. As pessoas dentro dele me faziam pensar na imbecilidade de cada um que estava ali. Inclusive a minha, a nossa , a de todo ser humano com senso mínimo de raciocínio. O barulho da porta do elevador se abrindo, o porteiro anunciou o andar me acordando da excentricidade. Saí de má vontade do elevador vazio e me dirigi à sala com a placa : Psiquiatria e Terapia.

O ar da sala acometido por ar condicionado e incenso de flores que espantava maus fluidos. O som que entrou nos meus ouvidos lembrava clássicos que acalmavam os nervos. Nos meus não acalmavam, só irritavam, pois não suportava escutá-los mais! Música para os pacientes... Sem querer soltei um bocejo, um sorriso amarelo e finalmente um gemido enfastiado. Parei no limiar da porta, não entrei nem saí... Cocei a cabeça, forcei os olhos para a sala cheia de pessoas distribuídas uma a uma pelas cadeiras estofadas e confortáveis. A secretária no centro completando o cenário insensato do inexplicável olhava para mim com olhos forçados, certamente treinados, pois escondiam qualquer sentimento que viesse à tona em um ser humano que era cópia da cópia, da cópia, da cópia, da cópia... Levantou da cadeira como em câmera lenta, tudo estudado, calculado, treinado como ontem, anteontem, antes de anteontem, diversos anteontens, há uma década! Abriu a porta, levantou as sobrancelhas com ar de cinismo e um sorriso amável no rosto; delicadamente entrei na sala titulada: doutor...

Tudo em ordem... Fui para trás da escrivaninha, sentei na cadeira giratória, peguei as fichas dos novos pacientes com problemas velhos sem interesse, olhei para o relógio, mesma hora ontem, hoje e amanhã ... Amanhã?! Amanhã nunca será, porque quando chegar vai ser hoje! Tudo cópia da cópia, da cópia da cópia, da cópia da cópia…

Fonte:
Jornal Aldrava Cultural. http://www.jornalaldrava.com.br/
Imagem = montagem de José Feldman

Centro Paranaense Feminino de Cultura



Fundado em 5 de dezembro de 1933, o Centro Paranaense Feminino de Cultura, a mais antiga instituição cultural independente de Curitiba, é uma idéia transformada em realidade por intelectuais corajosas.

Numa época em que tantas barreiras inibiam as mulheres, esse grupo abriu novos caminhos para a promoção da mulher. A partir daquela data, qualquer mulher poderia participar de cursos de arte e de idiomas, aprender sobre puericultura e desempenho social, e manter reuniões com a intelectualidade da cidade. Estas atividades ampliaram o espírito feminino, a consciência humana e a generosidade da mulher curitibana.

O Centro Feminino já teve várias sedes. Em 1965, um antigo sonho tornou-se realidade: a aquisição da sede própria, na Rua Visconde do Rio Branco, 1717. Em 1998, novamente demonstrando visão do futuro, foi negociado o terreno da antiga sede pelos três primeiros pavimentos do Edifício “Times Square”, construído no mesmo local.

Sede do Centro Feminino

A nova sede manteve o mesmo endereço, e sua área disponível foi ampliada de 356m² para 825m², com entrada independente e elevador privativo.

As novas instalações foram planejadas a fim de proporcionar conforto e atender as principais atividades: no Térreo encontra-se o hall de entrada, a secretaria, oficina de artes e um lavabo. No Primeiro Andar temos o saguão, auditório, salão nobre com terraço, sala de reuniões, biblioteca, copa-cozinha e toaletes. E no Segundo Andar estão a galeria de exposições, teatro com terraço lateral, camarim e toaletes.

Grandes Espaços no Centro

Para dar uma amostra do Centro Feminino, vamos destacar a Biblioteca, o Auditório e o Teatro:

Teatro: 108m², platéia para 105 espectadores, com equipamento de som e luz, palco, camarim e um piano de meia-cauda Essenfelder.

Auditório: 86m² com 80 lugares confortáveis, equipado com sistema de som e um piano Essenfelder.

Biblioteca: acervo com aproximadamente 3.500 títulos e 7.000 volumes, destacando 1.800 títulos de autores paranaenses, além de livros raros, documentação, atas de reuniões e livros para empréstimo. Atualmente o acervo está na fase final do processo de higienização, restauração e catalogação

ASSOCIADAS

Adélia Maria Woellner
Adelina Kuster
Aidéia Tourinho
Alboni Pianosvski
Ana Maria Lacombe Feijo
Anastácia Lúcia Baron
Anice A. Messmar
Arahyr Di Lauro
Arice Cubas Buchman
Arlete Costa
Arlete Souza
Branca Casagrande Sabbag
Carmem Macedo Gutierrez
Cecília Muller
Céres De Ferrante
Cerli Jardim Kupchak
Chloris Casagrande Justen
Chloris Eliane J. de Oliveira
Ciroba Cecy Ritzmann
Clarice Quadros Dalledone
Cleusa César de Paula
Claudia Teresa Clevé Franklin
Clotilde Bianco Germiniani
Clotilde Quadros Cravo
Dalilla Morgenstern
Daria Farion
Dercilia Ribas Malachini
Diva Bonk Giacomel
Dirce Doroti Merlin Clêve
Doris Anna S. Sanchez
Doris Herdérico
Dorothy Gomes Carneiro
Dulce Bepler Portugal
Dulce Lezan Japiassú
Edith Borges de Macedo
Elizabelh Di Lauro
Elmira Barroso
Eloina Teixeira de Britto
Eni Ferreira da Silva
Enoì Navarro Swain
Ester Essenfelder
Evangelina Strutt
Fabiane Batista Balvedi
Flora Munhoz da Rocha
Glaci Cardoso de Carvalho
Glacy Tramujas Silva Mueller
Heloina Greca
Hilary Gral Passos
Ida Hanemann de Campos
Idalina B. Magalhães
Irena ZetzscheJandira Maranhão
Isabel Sprenger Ribas
Janske M. Schelencke
Judith Corrêa de Araújo
Juril Carnasciali
Kathleen Evelyn Müller
Lais Miranda
Leonídia Otto Debiazio
Leonilda Higenberg Justus
Leonor Lezan
Leony Diotaleve
Lia Passafini
Liamir Santos Hauer
Liana Marcia Justen
Liliane C. Sabbag
Lourete Tacla
Lygia Lopes dos Santos França
Manoela Fernanda Colognazi
Maria Alice Gomes Saldanha
Maria da Luz Portugal Werneck
Maria de Lourdes Canziani
Maria Cannan Moraes de Oliveira
Maria Rosa Cartaxo
Maria Thereza B. Lacerda
Mariliza Fagundes Cunha
Marisa Sampaio
Marisa Soares
Marita França
Marta Francisca Scripes
Milena A. Tassi de Andrade
Mirna Lopes
Muriel Mashke
Nely Lídia Valente Almeida
Nilcéa Romanowski
Noely Bastos Maia
Nylzamira Cunha Bejes
Odete Nauffal Freut
Olga Ana Walcewski Gioppo
Olga Gutierrez
Olga Jorge Kalluf
Olga Miranda Finzeto
Orly Bach Andrade
Osires Haddad
Pura Domingues Bandeira
Quintina Caniné
Rosa Maria Chiamulera
Roza de Oliveira
Rose Anne Lezan Japiassú Ribas
Salete Lins Alencar
Shyrlei Queiroz
Silvia Maria de Araújo
Susy Veloso Queiroz
Teresa Teixeira de Britto
Teresinha Procopiack
Valderez cachuba
Vera Buck
Yaramara de Castro Araújo
Zakie Tacla Sabbag
––––––––––––––––––––––-
Fonte:
http://www.centrofeminino.com.br/literatura13.html