domingo, 14 de agosto de 2011

José Feldman (Cadeira Vazia)


(Soneto Póstumo a Meu Pai 1915-1980)

Um bandolim no fundo do armário,
uma cadeira vazia,
lágrimas por um velho cenário,
saudades de um outro dia.

A música que reinava, se cala
a palavra dita e não dita,
a solidão em meio a sala,
um coração cuja saudade habita.

O tempo que houve, se dissipou,
deixando uma lágrima pendida.
Como uma peça de teatro, se findou,

gravando na alma, sua partida.
Tempos de abraços, sorrisos e certezas,
um fio esticado que desenrolamos na vida.

Maringá, 14 de agosto de 2011.

Carolina Ramos (Meu Pai...)


(O soneto que ele não teve tempo de ler.)

Quando te vejo, assim, domando a vida,
com a fibra invulgar do cavaleiro
que não teme as corcovas da subida,
nos reveses e quedas, altaneiro...

cabeça branca, face já curtida
pelo tempo e inclemência do roteiro,
velho e valente, fronte sempre erguida,
que a rude estrada forja o caminheiro...

mesmo que eu queira te dizer o tudo
que na alma eu sinto, meu falar é mudo,
minha voz na garganta se retrai!

Assim... faço dos versos o ofertório...
do coração, um cálido oratório...
e neles rogo a Deus por ti, meu pai!

Fonte:
CRESPO, Heloísa (organizadora). Corrente Literária Dia dos Pais 2011. Campo dos Goytacazes, RJ: 2011.

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Meu Pai)


(Homenagem Póstuma Ao Meu Pai no Dia dos Pais - 14 de agosto, Henrique Schneider Filho, falecido em 1970)

Descansa aqui o nosso pai da vida
por esta terra onde se sofre tanto.
Não basta sua lembrança ao nosso pranto
que a saudade é perpétua e não se olvida...

Viveu, lutou... foi breve a despedida;
aos pés do Criador caíu, entanto;
morte serena como morre um santo,
após saber da sua missão cumprida.

Mas viverá pra sempre nos seus filhos
e na recordação de sua esposa;
ninguém há de seguir confusos trilhos

por falta dos conselhos que nos deu;
se o corpo permanece nesta lousa,
a alma, com certeza, está no Céu...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Heloisa Crespo (A Força de um Pai)


Se todo pai percebesse
a força dada por Deus,
perante todos os filhos
‘se acharia’ um deus.

Ele é sempre um grande homem,
líder por natureza,
não precisando de esforço
para mostrar sua grandeza,
não importando o que seja:
velho, alegre, fechado,
austero, novo, feliz,
intransigente ou calado.

Pai tem um quê de fascínio
sobre seu filho bebê,
adolescente ou adulto,
tem magia do poder.
O perdão sempre ele tem
para voltar a reinar,
de qualquer gesto ruim,
basta um sorriso esboçar.

Se todo pai percebesse
a força que ele tem,
ensinaria a seu filho
a arte de viver bem:
mão estendida, amor,
carinho e atenção,
uma palavra amiga
cheia de compreensão,
vendo o olhar do seu filho,
vendo o que ninguém vê,
dando o braço num abraço,
fazendo a dor não doer.

Acorde, enquanto é tempo
no tempo que não se vai.
Descubra o valor que tem
e a grande força de um pai!

Fontes:
CRESPO, Heloísa (organizadora). Corrente Literária Dia dos Pais 2011. Campo dos Goytacazes, RJ: 2011.
Imagem = Alzira Macedo in Percurso de Vida

Alzira Macedo (Meu Pai)


Hoje é teu dia e em ti pensei.
Ao escrever este poema então recordei.
O quanto te amo pai,
dizer-te isto, sempre sonhei.
O quanto foste, e és importante em minha vida.
É bom relembrar o quanto passamos,
Com tua rudés nos intimidavas
Com teus defeitos e virtudes
lutaste sempre pelos teus ideais
nos ensinaste o respeito e a humildade
Tu trabalhavas, nós brincávamos.
Nem sempre foi fácil te entender,
Nós crianças, tuas mágoas vivia-mos sem perceber.
Hoje...
depois de adulta,
tudo isto com saudade fico a reviver.
Sim querido pai, sei e quero te dizer.
O quanto sofrias, e trabalhavas para melhor vida nos dar.
Só em ver tuas mãos com calos, nos fazias arrepiar.
Foste sempre um homem honesto e Trabalhador
Para que nada nos faltasse, não mostravas tua dor.
Sem mesmo assim o querer,
nos fazias sofrer.
Quando nos deitávamos sem um carinho teu ter.
A vida falou-me e fez-me entender,
Como é maravilhoso pai te dizer.
És o melhor pai, que eu poderia ter.

Fonte:
Imagem e poema = http://alzira-poesia.blogs.sapo.pt/2008/03/

Adozinda Aguiar (Meu Pai)


Queria ainda uma vez mais mostrar-te
As rosas que nasceram na varanda
Os rouxinóis pousando na sacada
E a canção do Roberto nas paradas.

Queria que ainda visses meus poemas
E me dizer , talvez de qual gostavas
E o cachecol de lã que estou tecendo
Pra me aquecer nas frias madrugadas.

Queria beijar mais uma vez
As fortes mãos com que me abençoavas
E o teu límpido olhar iluminado
Sentir me acompanhar por onde andava.

Chego à casa , abro a porta , tua guitarra
Abandonada no canto do sofá
Tem um triste lamento em cada corda:
...Ele se foi e não vai mas voltar!

Fontes:
Colaboração Carlos Leite Ribeiro. Iara Melo. Recanto da Prosa e do Verso. Ano III – julho de 2010.
Imagem = http://educadorarejane.blogspot.com/2010/07/dia-dos-pais-lembrancas.html

JJ Leandro (O Presente do Pai)


Dia dos pais. Todo pai deseja receber um presente e ser homenageado nesta data. A regra geral funciona assim: a esposa compra o presente e os filhos entregam. Uma rotina cumprida de maneira fria e maquinal por gerações. Dona Matilde tentou inovar, fugir a essa regra para surpreender o maridão Carlos. Pegou o filho Daniel, um menino sapeca de dez anos, e foi ao Shopping. Para agilizar a escolha do filho, deu-lhe três opções: gravata, cinto ou lenço. Não seria nada especial ou caro, apenas uma lembrança cujo carinho do filho na escolha julgava ser o mais importante. E, lógico, emocionaria o marido, pois se o dia era dos pais justo que a decisão da escolha fosse de Daniel, que deixaria isso claro a Carlos.

Mãe e filho andaram muito no Shopping e entraram em várias lojas. Mas nada contentava Daniel. Pararam após muita andança, tomaram sorvete, um intervalo para descanso por exigência da mãe, que quase já se arrependia da inovação pelo demorado esforço sobre os saltos altos e a indefinição do garoto. Mas como Daniel ainda não havia visto nas vitrines de nenhuma loja o que realmente lhe interessava, não se decidia. Já impaciente, a mãe tentou apressar a escolha entrando numa loja de roupas para jovens. Talvez fosse isso. Talvez aí estivesse a solução. Carlos praticava esportes, era sarado como se diz de quem malha muito na academia para manter a forma, e o filho — que se orgulhava do paizão jovem — podia estar a procura de algo que combinasse com essa imagem. Apresentou-lhe calções e tênis modernos, camisas pólos que realçariam os músculos avantajados do marido. Nada! A tudo Daniel balançava negativamente a cabeça.

Não pode ser, esse menino está de gozação, pensou Matilde quase a ponto de perder a paciência. E mais se agastava quando via que nadava contra a maré: a maioria das esposas entrava displicentemente na primeira loja e saía com o presente em uma sacola. Não é possível, o que deseja esse menino? Impacientou-se.

Daniel abriu um sorriso e arrastou-a a uma livraria quando se viu diante de uma delas. A mãe, surpresa, acompanhou-o. De imediato imaginou que tudo aquilo era um engano se não fosse um despropósito. Era no que dava deixar ao arbítrio de uma criança de dez anos a escolha do presente do pai. Carlos podia ser tudo, menos um intelectual. Um livro, seria essa a escolha? Inacreditável! Sorriu. Carlos era um pai atencioso e amoroso, um marido esforçado e apaixonado, um empresário competente, mas andava longe de ser um intelectual. Livros que ele já lera? Bem, dissera-lhe que leu O Pequeno Príncipe na infância, e só! Depois de casado? Ah! Havia lido O Maior Vendedor do Mundo.

Mas não era um livro que Daniel queria para o pai. Depois de várias voltas no interior da livraria parou diante de uma estante com lindas canetas. Apontou para a mais bonita e olhou para a mãe. É essa! disse convicto. Menos mal, pensou a mãe. Ao menos, ao contrário do livro, teria utilidade no escritório.

No domingo, festa em casa. Pai, mãe e filho. Daniel, quando comemoravam a data ao almoço, tirou do bolso a sofisticada caneta num estojo de veludo e deu-a ao pai com um sorriso. Recebeu um abraço efusivo de Carlos e beijos em abundância.

Com olhos marejados, diante da esposa comovida, agradeceu ao filho o presente. Mas quis saber por que uma caneta depois que Matilde relatou a dificuldade da escolha e o fato de o filho ter recusado suas sugestões de gravata, cinto, lenço e até tênis e camisas.

— Por que uma caneta, filho? — disse, abrindo um sorriso com o qual reconhecia a precocidade de Daniel.

O menino também sorriu, olhou para longe como se vislumbrasse o futuro e declarou:

—É que com ela o senhor pode assinar o cheque para o meu presente de aniversário daqui a dez dias, tá lembrado?

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/banco/o-presente-do-pai-cronica#-banco-10098

Laelson Moreira de Oliveira (Crônica para o Dia dos Pais)


(Parafraseando Rubem Braga)

Meu ideal seria escrever uma crônica que todos os pais pudessem ter acesso, até aqueles que não sabem ler, mas que, ao mandarem alguém soletrar as palavras, pudessem absorvê-las com toda sua ingenuidade e dissessem: “é isso que sou”; porque ali, estaria o retrato do pai que protege e que rir com nossos risos e que chora com nossas lágrimas e que se preocupa com nossas preocupações e que lutam pela nossa sobrevivência e que trabalharam para sermos o que somos.

Meu ideal seria escrever uma crônica que lembrasse de todos os pais; dos que se foram, porque, alguns, partiram sem ao menos terem tempo de se despedirem; dos que estão ausentes, porque precisaram sair para tentar a vida em outro lugar; dos presentes, porque consolam, lamentam, abraçam, reconfortam, aprovam, reprovam… mas ensinam.

Não seria uma crônica triste. Não. Meu ideal seria escrever uma crônica igual àquela em que se retrata o homem; o homem puro, fraterno, sem mágoa, sem manchas, sem sinal de ódio no coração, forte; um homem que mostra o caminho, que reza enquanto não chegamos em casa, que se preocupa por não saber aonde fomos ou estamos, que nos chama a atenção quando dizemos ou fazemos o que não é de direito.

E esse ideal seria a confirmação da nossa idiossincrasia, daquilo que nos foi ensinado, daquilo que representamos.

E esse ideal seria, também, não mais que a inveja boa que temos de querer ter sido ele, nosso pai, que – mesmo que já tenha ido -, não sai, não se apaga da nossa memória.

Meu ideal seria escrever essa crônica, porque sinto vontade de retratar meu pai – e por que não todos os pais? -, em palavras; de desenhar seus traços a nanquim, em formas de letras. Queria, nessa crônica, dizer que a palavra “Pai” representa futuro, que transmite ensinamento, que cheira a saudade, que significa amor. Mas não um amor que mostre, apenas, a cópia fiel do que somos hoje; não, mas um amor que signifique começo, meio e fim: começo de uma vida que o temos como professor; um meio onde o acolhemos como mediador, um mestre, e um fim que acalentamos como certeza de que possuímos um bom e verdadeiro velho pai.

Ah, como queria saber escrever essa crônica! Mas como é difícil! É difícil, porque desenhar em formas de palavras só foi possível no princípio do mundo. E hoje… Ora, hoje se os pais são desenhados em traços desconcertos por mãos de crianças, sabemos que é a pureza de ser representado assim; é, antes de tudo, uma mostra do nosso amor paterno desde o nascimento.

Meu ideal seria escrever essa crônica e, depois que todos os pais a lessem, ela tivesse a magia de aproximá-los mais dos filhos, das esposas, dos amigos, dos irmãos, dos vizinhos, dos genros, das noras, dos netos, dos amigos, dos inimigos… de Deus.

Meu ideal seria apenas querer saber escrever essa crônica.

Fonte:
O Jornal Alagoas

Leonilda Yvonneti Spina (Teus Passos)


Teus passos pesados ficaram gravados
em nossa memória... Pisaram caminhos,
destruíram espinhos, fizeram uma história!
Com o suor do rosto colheste a vitória!

O amor ao trabalho, a tua luta constante
fizeram de ti nosso exemplo marcante!
O grande respeito que nos incutias
até pelo passo, pausado, imporias!

Já te deitavas, mal a noite surgia.
Ao romper da manhã, disposto acordavas.
Teus passos tão fortes ao longe se ouvia,
quando, no silêncio, a dormir nos deixavas.

Nos livros da vida, meu pai, aprendeste
que só por si mesmo se pode vencer!
A fé e a coragem com as quais conviveste
traçaram, pra sempre, teu modo de ser!

Depois... te cansavas numa caminhada.
Já não tinhas, de outrora, a força dos braços.
Mas, confesso, meu pai, não havia nada
melhor de se ouvir... que o rumor de teus passos!

Fonte:
CRESPO, Heloísa (organizadora). Corrente Literária Dia dos Pais 2011. Campo dos Goytacazes, RJ: 2011.

Milton Souza (Missão de Pai)


Ser pai é a grande missão
que Deus põe no coração
dos homens que têm valor.
Ser pai é dedicação,
é a total realização
da função de dar amor.

Porém eu fico apreensivo
e vejo, às vezes ao vivo,
minha apreensão confirmada:
em tudo se exige estudo,
mas para ser pai, contudo,
não se exige quase nada.

Para um dentista, doutor,
engenheiro, professor
ou qualquer profissional,
precisam muito estudar,
por muitas provas passar
até o diploma final.

Para pôr filhos no mundo,
que é destes dons mais profundos
que o bom Deus ao homem deu,
casais, que mal se conhecem,
juntam trapos... acontecem...
amanhã o filho nasceu...

E o filho fica rolando,
sem pai nem mãe, naufragando
no mar da vida, aonde vai.
Depois vira um marginal
cuja culpa principal
é nunca ter tido um pai.

Por isto, nesta homenagem,
quero, com força e coragem,
este pedido fazer:
Papais, assumam seus filhos,
eles não são empecilhos,
nunca foi culpa nascer.

A família é como um templo
e o pai tem que ser exemplo
que o filho possa seguir.
Pai também pede desculpa,
maior que um erro é a culpa
de num erro persistir.

Ser pobre não é defeito,
na vida tudo tem jeito,
o importante é ter vontade.
Quem planta amor sem cobrança
faz do filho uma esperança,
sabe ser pai de verdade.

O pai tem sempre um tempinho
para escutar, com carinho,
o que o filho quer contar.
Pai tem que dar segurança
sempre que a luz da esperança
ameaçar se apagar.

Um pai precisa ser tudo,
falar muito... ficar mudo...
brincar ou ser o brinquedo.
Educar dando valor,
mostrando, com muito amor,
o caminho desde cedo.

Parabéns papais queridos,
que seus sonhos e pedidos
possam se realizar.
Quem já for um pai completo
prossiga no rumo reto.
Quem não for... tente mudar.

Porém o mais importante
eu vou dizer neste instante,
para deixar bem gravado :
qualquer pai, durante a vida,
só terá a missão cumprida
se tiver Deus ao seu lado!!!

Fonte:
CRESPO, Heloísa (organizadora). Corrente Literária Dia dos Pais 2011. Campo dos Goytacazes, RJ: 2011.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 300) Dia dos Pais


Uma Trova Nacional

Esse mesmo pai que um dia
Deus me ofertou, ao nascer,
é o pai que eu escolheria,
caso pudesse escolher!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Meu pai, que nada sabia,
em grau de escolaridade,
me deu mais sabedoria
que a própria universidade.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

1991 - São Paulo/SP
Tema: FORTUNA - M/H

Eu sou rico, disso eu sei,
mas fortuna não me atrai.
Devolvo tudo que herdei...
“Ó Deus... devolve meu pai!”
–ROGÉRIO TAVEIRA RAMOS/SP–

Uma Trova de Ademar

Com minha alma enternecida
confesso com todo ardor:
eu tenho dois dons na vida...
Ser “Pai” e ser “Trovador”!
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Herdei de ti, pai querido,
essa força de condor
que te fez, sendo um vencido,
ter ares de vencedor.
–LILINHA FERNANDES/RJ–

Simplesmente Poesia

Ao Meu Pai
–JOÃO ALFREDO/RN–

Na sala procuro o inexistente
duas cadeiras refletidas mutuamente
ante o brilho de olhares ternos.
Hoje ao fitá-las na solidão dos dias
meus olhos choram envolto no silêncio
só a saudade é que ficou vivendo!

Estrofe do Dia

A missão, por mim cumprida,
dada pelo criador,
deixou-me muito orgulhoso
pois me tornei sabedor
que a tal missão emitida,
mandava eu ser nesta vida
bom Pai e bom Trovador!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Meu Pai
–ALVARO TEIXEIRA FILHO/RJ–

Em um canto da sala, a olhar respeitoso,
escutava meu pai descrever, com voz cheia,
os encantos da terra – como era gostoso
o vinho maduro, fabricado na aldeia.

De manhã, bem cedinho, era a sopa de aveia,
o cultivo do solo, do chão generoso,
a conversa, animada, na hora da ceia,
no fumeiro o chouriço a curar... tão cheiroso...

Cerejeiras em flor... parreirais infinitos...
aos domingos a missa onde todos, contritos,
rezavam ao Senhor da Suprema Bondade.

A lareira a arder... noites frias de inverno...
Falava enlevado, seu olhar era terno...
Escutava calado... Ah meu pai! Que saudade!...

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem por Ricardo Veneziani

sábado, 13 de agosto de 2011

Paulo Leminski (Ai daqueles)


Jorge Fregadolli (Livro de Trovas)


O homem nasce, cresce, morre,
deixa o mundo, a ilusão.
O que ninguém jamais esquece,
seu caráter, retidão.

No Rotary ou no lar,
é bom praticar o bem.
E deixe o tempo passar,
pra viver feliz também.

Bendito o irmão que na roça
puxa a enxada e planta o grão.
Tirando da terra a nossa
diária alimentação.

Neide Rocha Portugal,
pintora, jaz consagrada.
Poeta internacional…
nas telas, idolatrada!

Sem amor e sem carinho
vive o homem a lamentar.
Deixa o calor de seu ninho,
prá buscar noutro lugar!

Antenor, na plena idade,
chamou de Cidade Canção,
Maringá, bela cidade.
Aclamada pela multidão.

Por amar nossa Maringá,
divulgo meu amado chão!
– Lugar melhor não verá
meu torrão, meu coração!

Do arco-íris, o sinal
rebrilhando em Maringá,
nos mostra que a catedral
é benção ao Paraná!

Oh, bem-vindos, trovadores,
daqui, ali e acolá.
Trazendo sonhos e flores,
à radiante Maringá.

As garças brancas voando,
já no silêncio da aurora…
O seu sustento buscando,
ao romper da primeira hora.

Borboleta beijoqueira
dá beijos em cada flor.
Voando solta, fagueira,
vai fecundar seu amor.

Laura, tão querida tia,
será sempre a mãe amada.
Com gratidão, todo dia,
eternamente, idolatrada!

Na terra, no céu, no mar,
somos todos peregrinos.
A ciência há que buscar
os grandes e os pequeninos.

Arma-se a lona do circo,
todos os dias, no meio da rua.
Artista, enfrenta o risco…
o sorriso é marca sua.

Chove-chove, chuva amiga,
é benção à plantação.
Multiplica o fruto, a espiga,
dá mais vida e força ao chão!

– Que tamanho tem o mundo?
– Contém tudo, é o universo.
São seus sonhos mais profundos!…
Ele está em cada verso.

Fonte:
Olga Agulhon e Eliana Palma (orgs). Academia de Letras de Maringá: VII Coletânea 2011.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 299)

Uma Trova Nacional


Uma Trova Potiguar

A trovadora reclama
o peso do pé gessado;
e repousando na cama,
faz trovas de pé-quebrado.
–DJALMA MOTA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 – Curitiba/PR
Tema: PIJAMA - M/H

Depois que se aposentou,
seu pijama é só frangalho,
pois nunca mais o tirou,
para não lhe dar trabalho.
–VANDA ALVES/PR–

Uma Trova de Ademar


Me tornei um eremita,
um verdadeiro ermitão,
quando a “gata” mais bonita
perdi para um sapatão!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Minha sogra bateu asa,
quando, com muita cautela,
pus um retrato, lá em casa,
da finada sogra dela...
–APRYGIO NOGUEIRA/MG–

Simplesmente Poesia

Jogando na loteria,
jogo do bicho ou cassino,
por descuido do destino
consegue ganhar um dia,
quando recebe a quantia
é na calçada assaltado,
presta queixa ao delegado
e a própria polícia encobre
- O sanduíche do pobre
só cai no chão emborcado.
PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Estrofe do Dia

Eu, de caneta na mão
sinto o verso que vem vindo,
ouço o barulho na mente
do repente se bulindo;
quando estou muito inspirado,
eu tanto escrevo acordado
como eu escrevo dormindo!...
ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

A Cirurgia do Leito Cinco.
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Num público hospital do meu estado,
devido ao meu estado de falência,
após muita vigília e persistência,
com muito custo, enfim, fui internado.

Na enfermaria, sem nenhum cuidado,
com rodízio de leito e impaciência,
fizeram-me cobaia da ciência
e fui rodando até ser operado.

A confusão lá dentro era total...
E consta no fichário do hospital,
o fato raro que, de fato, é dose!

De uma senhora, ao leito cinco presa,
consulto o prontuário e, com surpresa,
vejo anotado que operou... Fimose!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Roldão Aires (Antologia Poética)


VOLTAS

Nas voltas que a vida dá,
nas voltas que damos nós.
Coisas passam,sem as vermos
coisas ficam sem querermos.
Caminham juntas a nós,
fazem parte de nossa vida,
dão-nos, amor atenção,
trazem descanso a fadiga.
Em uma volta destas,
passastes em meu caminho.
Não percebi, segui adiante
Voltastes, e frente a frente,
agora pude notar-te.
Por que permiti que passa-ses?
És meiga como um anjo,
delicada como uma rosa.
Quantas voltas, tenho dado,
estavas bem ao meu lado,
e eu só queria amar-te!Amar-te!

MAIS UM BLOCO

Nem dei conta, mas mais
um bloco termina.
Quantas poesias nele fiz,
e em cada folha escrita
tua presença nela estava.
Quem versos faz,
canta sempre seu amor
por alguém, e nesse canto,
encantada a musa , ao lado
fica, morando no pensamento.
E o poeta sonhando pensa,
em um dia o seu verso sair,
e que presente esteja, o seu anjo
tão amado, sentada bem ao seu
lado, a musa do seu pensamento,
mesmo que seja, por um momento.

BIBELÔ

És linda,
pareces um bibelô importado.
Cabelos, olhos e boca, pedaços
de ti, que dentro do peito, tenho
guardado.
Quando para dentro de mim olho,
os vejo mas não gosto tanto de o
fazer.
Prefiro olhar à frente, e caminhar
bem devagar.
Arejar o pensamento, a vida viver,
cantar.
Prefiro isto, ao contrário do desejo
que sinto, quando para eles olho, e
começo, a de ti lembrar.

NÃO SEI

Não sei se são os teus olhos,
ou se o teu jeito inocente,
faz com que eu sinta, pelo
meu corpo inteiro,algo que
não sentia, alguma coisa
diferente.
Me pego às vezes, pelos cantos
a falar, palavras que há muito
não dizia.
Sinto que renovo-me,
que procuro uma maneira,
de poder vir a possuir um novo
sonho para ser vivído,
um novo amor, que dentro tenho,
e não pode ser contido

RIMA

És a rima que mais procuro,
para encerrar cada poema.
Procuro te usar bem pouco,
para não cansar,a quem lê.
Mas a cada verso escrito,
lá estas de novo voltando,
reescrevo,troco palavras,mas
de mim não sais ,continuas
teimando.
Tudo o que tento escrever,
tento esquecer o que para mim
representas, mas é só a caneta
pegar, que depressa retornas,
para mostrar, que és a parte
importante,deste ou de outro
poema, que eu venha a fazer.

QUANDO ANDAS

Fico perdido às vezes
olhando o teu caminhar.
São passos tão leve dados,
que eu não canso de olhar.
Princesa o és, em tudo.
O balanço do teu cabelo
conforme o teu andar
parecem que a acenar à mim
ficam, eu que vivo a te olhar.
Sonho de criatura,
juro-te com sinceridade,
olho-te com os olhos do amor,
prá mim és toda, ternura.

Fonte:
Poemas enviados pelo Autor

Roldão Aires (1948)


Roldão Aires Joaquim nasceu em São Paulo, capital, em 6 de fevereiro de 1948.

Sua primeira atividade foi a de piloto aviador, na década de 70. Posteriormente atuou em propaganda e atualmente, exerce trabalhos na área de comunicação e artes (locução de rádio, publicidade - criação, pintura e poesia).

Em 1997, foi convidado pela secretaria de Cultura do Município de Mogi das Cruzes, a fazer uma exposição experimental, pois era muito conhecido como publicitário. Neste ano, efetuou uma pequena mostra que abriu caminho a mais de 20 exposições efetuadas até os dias atuais, tendo participado recentemente de várias mostras em São Paulo, na Casa de Cultura da Penha, dentre outros lugares.

Possui quadros no exterior, em países como México e Portugal, e outras obras suas com artistas como o cantor Roberto Leal, o cantor Juca Chaves, a apresentadora Angélica, a atriz da TV Record Bianca Rinaldi, o jornalista Paulo Henrique Amorim, o falecido deputado Federal (ex-presidente do Conselho de ética da Câmara) Ricardo Izar, o humorista Zé Vasconcelos, vereadores Toninho Paiva e Myryam Athiê, dentre outros artistas e jornalistas.

Pertence à Associação Paulista de Belas Artes, desde julho de 2001.

É membro da Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências – ACLAC da cidade Arraial do Cabo – RJ (cadeira nº 27).

É responsável pela parte publicitária do PORTAL R.A.J (www.portalraj.com.br) – que administra junto aos filhos, e que também trabalha com exposições virtuais de arte e catálogo de artistas.

O artista é poeta e catalogado no Livro “Artes Plásticas do Brasil”, da Editora Júlio Louzada, Vol. 13. Pág. 05. Artes.

No dia 13 de junho de 2010, recebeu o prêmio “Jorge T. Rizzini”, pelo segundo lugar no concurso de contos e poesias, com temática espírita, realizado na cidade de Jacareí, interior do estado de São Paulo.

Fonte:
União Brasileira de Escritores

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 5


57 - Zé Lucas
No Nordeste não se sente
a variação do clima.
O termômetro daqui
só marca de trinta acima;
por isso nossa poesia,
em qualquer hora do dia,
mantém o calor da rima.

58 – Gislaine Canales
A vida é uma obra-prima,
solidão jamais eu sinto,
pois tenho muitos amigos,
e me fala o meu instinto,
que é mais que amor, a amizade,
que me dá a felicidade
que eu desejo e que pressinto!

59 - Prof. Garcia
Falo a verdade e não minto
da luta eu nunca desisto,
trabalho feito a formiga
e a tudo eu sempre resisto;
porque a fé a que me apego
tira o peso que carrego
desta cruz que me deu Cristo!

60-Delcy Canalles
Para mim, sempre é benquisto,
o ser que tem fé, tem crença,
que não foge dos problemas
e impõe a sua presença,
alguém que busca saúde,
mas não muda de atitude,
se pego pela doença!

61 - A. A. de Assis
Para mim faz diferença,
eu que sou muito friorento,
mais um domingo a Drummond,
chuvinhoso, chuvinhento.
Por isso, que nem Delcy Canalles,
me quedo encolhido aqui,
trancado no apartamento.

62 - Arlindo T. Hagen
Não mostrar abatimento
se a doença aparecer,
mais que respeitar a Morte,
é respeitar o Viver,
pois, nos percalços da vida,
sofrer de cabeça erguida
é um pouco menos sofrer.

63 – Thalma Tavares
Procuro não me abater
por causa de sofrimentos,
nem fazer de minha vida
um rosário de lamentos,
porque nós somos autores
de todas as nossas dores
e de outros tantos tormentos.

64 - Zé Lucas
Todos nós temos momentos
de alegrias e de dores;
a vida é o que há de melhor,
porém nem tudo são flores.
Ninguém se isenta do pranto:
Jesus sofreu, sendo santo,
quanto mais nós, pecadores!

65-Gislaine Canales
Mesmo a sentir muitas dores,
quero viver a alegria
dentro do meu coração,
pra espantar a nostalgia
para bem longe de mim,
e dar, à tristeza, um fim,
e me vestir de poesia!

66 - Prof. Garcia
Sob o mando da poesia
eu me escondo e me protejo,
fujo de um mundo insincero
e das maldades que vejo;
ser feliz, sendo poeta,
é minha senha secreta
de tudo quanto desejo.

67-Delcy Canalles
Os meus sonhos são voejos
que procuram as estrelas,
que viajam às galáxias
desejando conhecê-las,
e ante tantas maravilhas,
faço minhas redondilhas
pelo prazer de fazê-las!

68 - A. A. de Assis
As flores, que bom revê-las,
e até o bem-te-vi voltou...
Bem-me-vendo na janela,
bem cedinho me saudou.
Há muito ele não cantava,
decerto porque aguardava
o tempo mudar. Mudou.

69 - Arlindo T. Hagen
O inverno nem terminou
e, em demonstrações festeiras,
saudamos a Primavera.
E nestas horas fagueiras
fico escutando, feliz,
a orquestra de bem-te-vis
e sabiás-laranjeiras.

70 – Thalma Tavares
Nos ramos das laranjeiras,
em minha terra, o bem-te-vi
tem um parceiro canoro:
é o cantor pitiguari
que nos desperta bem cedo
avisando, no arvoredo:
“vem gente de fora, aí”.

71 – Zé Lucas
Minha vida em Pirangi
é fazer verso e sonhar,
conversar com as estrelas,
tomar banho de luar
e colher, durante o dia,
os retalhas de poesia
que a Lua deixa no mar.

72 - Gislaine Canales
Por isto eu vivo a cantar,
na minha nova morada;
em meio ao mar e à montanha,
eu escuto a passarada,
que me acorda todo o dia
com seu chilrear de alegria,
com a voz do mar, mesclada.

73 – Prof. Garcia
Em cada manhã sagrada
pela mão do criador,
eu olho para o infinito
só vejo paz e esplendor;
não tem montanha nem mar,
mas minha vida é sonhar
fazendo versos de amor!

74 – Delcy Canalles
Como um voo de condor,
pelo céu das minhas rimas,
faço um passeio estonteante,
enfrentando quaisquer climas,
e, então, eu escrevo versos,
em poemas bem diversos
que, às vezes, dão obras-primas!

75 – A. A. de Assis
Se a natureza sublimas,
começa a alegrar-te então,
que ela está pronta e enfeitada
para a troca de estação.
É a grande festa das flores,
o espetáculo das cores,
lá fora e no coração.

76 – Arlindo T. Hagen
Quando o sol da inspiração
banha de luz e energia
o coração de um poeta
por encanto, se inicia
um período multicor
e a estação, seja qual for,
vira estação da Poesia!

77 – Thalma Tavares
Quanta luz, quanta energia
que a poesia libera
quando o poeta pressente
a vinda da primavera!...
E o poeta sentindo a brisa,
sonhos de paz realiza
e a inspiração prolifera.

78 - Zé Lucas
Quando chega a primavera,
cobrindo o mundo de flores,
parece que nossos versos
se vestem de novas cores,
e nós, de alma renascida,
cantamos o amor à vida
e a vida em nossos amores.

79-Gislaine Canales
Num mundo cheio de cores,
devemos sempre viver
cada momento da vida,
sem nossa alma entristecer,
pois nós temos a alegria
de saber que a poesia
não nos deixará morrer!

80 - Prof. Garcia
Lutar é um grande dever,
e obrigação que se tem,
muito embora, nossa vida,
seja um eterno vai-e-vem;
porque por mais que se faça,
de repente, tudo passa
e a vida passa também!

81-Delcy Canalles
Viver a vida é um bem
e mais que bem, eu diria,
é graça que nos é dada
pelo Senhor, cada dia!
Sejamos, pois, bem unidos
e amigos fortalecidos,
em nosso amor à poesia.

82- A. A. de Assis
Traz o ipê branco alegria
às ruas de Maringá;
espetáculos mais belos,
poucos no mundo haverá.
Lembram fofas cabecinhas
de elegantes vovozinhas
brincando de roda, olá!...

83 - Arlindo T. Hagen
Eu, que já estive por lá,
afirmo e ninguém contesta:
Maringá é mesmo linda!
Eis a impressão que nos resta
das alturas a observando:
uma cidade brotando
pelas frestas da floresta!

84 – Thalma Tavares
Quanto caminho nos resta
para ver toda a beleza
que o Brasil nos oferece
em termos de Natureza!...
Belo exemplo é Maringá
e quem já andou por lá
tem disso plena certeza.
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Parte 1 – http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/07/cantando-ao-som-das-setilhas-debate.html
Parte 2 – http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/07/cantando-ao-som-das-setilhas-debate_10.html
Parte 3 – http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/07/cantando-ao-som-das-setilhas-debate_11.html
Parte 4 – http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/07/cantando-ao-som-das-setilhas-debate_12.html
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continua...
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Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Hermoclydes S.Franco ( Ser Pai)


Ser pai é ser amigo diligente,
é saber escutar mágoas e dores...
Ser pai é procurar ser indulgente,
sem deixar de entender jovens clamores...

Ser pai é compreender novos valores,
ser um guia seguro e confidente.
Ser pai é dar conselhos, mandar flores,
é ser franco e leal, justo e exigente!

Ser pai é dar arrimo, força e amparo,
de carinhos jamais fazer-se avaro,
sobretudo se um filho, acaso, cai.

Ser pai é estar atento e sempre em guarda,
se vencido, manter a voz galharda
e chorar, se preciso... Isto é SER PAI!...

Oficina de Criação Poética em Londrina/PR


Estão abertas as inscrições para a Oficina de Criação Poética com o escritor londrinense Maurício Arruda Mendonça.

A oficina é parte do projeto O Recado dos Livros, que este ano realiza atividades mensais em comemoração aos 60 anos da Biblioteca Pública de Londrina.

A oficina será realizada em seis encontros, das 14 às 17 h, nos dias 15, 17, 19, 22, 24 e 25 de agosto na Biblioteca Pública.

Estão sendo ofertadas 20 vagas e as oficinas são gratuitas.

Os participantes devem ter 15 anos ou mais.

As inscrições podem ser feitas através do email orecadodoslivros@yahoo.com.br, na própria Biblioteca ou pelo telefone 3371-6500.

A oficina acontece na Biblioteca Pública de Londrina, Avenida Rio de Janeiro, 413 Centro - Londrina/PR.

Antonio Brás Constante (Morde com Raiva ou Assopra com Carinho)


Hoje este pretenso aprendiz de escritor resolveu escrever algo mais direcionado aos aspirantes a escritores, que muitas vezes me procuram questionando se vale à pena mergulhar no mundo das letras. Muitos acham que escrever é fácil e que escritores, assim como técnicos de futebol, decepcionam simplesmente por não saberem ler os pensamentos, gostos, preferências ou estados de humor de seus leitores ou torcedores.

Escrever realmente não é difícil, normalmente se aprende o básico já nas series iniciais da escola. Mas para querer ser escritor a pessoa antes de tudo tem que estar pronta a ser uma vidraça humana, suportando todas as pedras atiradas contra suas obras, a cada vez que ousa publicar um novo texto, sem se fragmentar com isso. Uns escrevem porque querem mudar o mundo, outros para se autoafirmar, outros para deixar sua marca, ou porque acham que é mais fácil escrever do que plantar uma árvore ou ter um filho. E outros ainda, como é o meu caso, escrevem por prazer (não para agradar ou irritar os outros como muitos pensam), um prazer inexplicável, que nos faz sentar na frente de um computador e deixar fluir o que vier na mente, deixando para os sites, jornais, blogs, revistas, etc, a decisão de publicar aquele texto ou não.

Mas voltando aos aspirantes das letras, vou deixar aqui algumas das mensagens que freqüentemente recebo, com elogios e críticas. Transcrevi as mensagens apenas separando-as entre mensagens sobre textos publicados e opiniões sobre meu livro. Ao lerem estas mensagens, imaginem-se sendo vocês que as receberam, e reflitam se vale à pena entrar para este mundo... Ou não.

ALGUMAS MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE TEXTOS PUBLICADOS

“Por um momento pensei estar lendo Luis Fernando Veríssimo...” (Lepore)

“Tem um chato que escreve (escrevinhador) qq coisa, sobre qq assunto, e tenta dar uma roupagem aos textos. Textos monótonos, idéias pedestres, monopolizando o espaço.” (Lepore)

“Sou leitor fidedigno e gostaria de lhe saudar pela crescente qualidade de seus escritos. Ressalto nesta mensagem a profundidade e a simplicidade de sua mensagem. Nunca li algo parecido, no foco e no desenvolvimento de seu texto. Gostaria de agradecer por ter a atitude de escrever a vida em seus artigos, brindando seus leitores com risadas, discussão de temas e reflexão acima de tudo.” (William).

“Acho vc um idiota, que não tem o que fazer e fica mandando essas palhaçadas, a coisa já chegou de outra maneira na net, acho que não se deve brincar com essas coisas, não tem um pingo de graça”. (Pessoa identificada como Conceição, sobre o texto “E a gente ainda leva a sério”, entendendo que eu estava criando as tais correntes malditas que povoam a internet e não apenas parodiando-as, justamente para tentar alertar as pessoas sobre elas).

ALGUMAS MENSAGENS RECEBIDAS SOBRE O LIVRO: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”

“Houve um momento em que eu quase ri (...). Levando-se em consideração que me fizeram acreditar que era um livro de humor, foi um efeito completamente decepcionante. Sem falar na abordagem previsível e repetitiva dos assuntos escolhidos. Há tantos lugares-comuns no livro que quase achei que fosse minha casa (droga, acho que o humor ruim de Antônio me contagiou momentaneamente). O autor deve ser um tio e/ou pai e/ou ou avô metido a engraçado, metido a atualizado, metido a inteligente... Mas está apenas um nível acima da mediocridade em cada um desses aspectos. Talvez até divertido pessoalmente, mas entediante num livro. Não sei se tem potencial para vir a ser um bom escritor um dia. Afinal, falta a ele o ingrediente principal para isso: auto-crítica. Se ele achou que este livro estava bom o bastante para ser publicado e divulgado ferrenhamente aqui no Skoob, não sei se tem capacidade de "cair na real" e perceber que as coisas que ele aparentemente tem tanta vontade de dizer ao mundo (algo que gostei nele... o prazer em escrever... mesmo as bobagens que escreve) não têm mais graça, em nenhum sentido, e sabendo disso começar a mudar, a pensar mais criativamente. Talvez isto envolva mudanças na própria maneira de ele ver o mundo... Algo difícil e trabalhoso de se conseguir. Mais uma razão para eu crer que desse mato não deve sair coelho tão cedo.” (Victor).

“Li seu livro, estou sem palavras para comentar. rs Amei, de verdade! Suas críticas são duras mas ao mesmo tempo tem uma leveza de humor incrível. Ah uns dias atrás li o livro de um autor mtoo famoso e conhecido, tanto me indicaram que acabei lendo, mas foi uma leitura com crônicas cansativa, a leitura se tornou forçada. Com seu livro aconteceu completamente o contrário, tudo fluía, e cada página que lia, queria apreciar mais e mais. Você está de parabéns! Vou divulgar seu trabalho!) Um abraço!” (Mary)

Enfim, amando ou odiando aquilo que escrevo a ponto de continuarem lendo e relendo meus singelos textos apenas para muitas vezes criticá-los ferozmente depois, de minha parte só o que posso dizer é que vou continuar escrevendo enquanto tiver prazer em fazer isso, para sorte ou azar de todos aqueles que esbarrarem com minhas pérolas textuais. E a vida, esta caixinha de surpresas onde vivemos, a vida continua...

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Notas sobre Palavras da Cronica de Amosse Mucavele (Gaza, meu Útero)


http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/08/amosse-mucavele-gaza-meu-utero.html

Algumas palavras que estavam nesta crônica do moçambicano Mucavele, geraram dúvidas sobre o seu significado. Após contato com o autor, ele elucida:

Mabalane é o nome de um distrito da província de Gaza, onde outrora tinha um campo de reeducação no tempo colonial.

Niketche – nome de uma dança do centro de Moçambique– e que é um titulo de uma das obras mais representativas da Paulina Chiziane (Niketche uma Historia de Poligamia).

Ngungunhane – rei do Império de Gaza,

Changana – lingua falada na província de Gaza.

Poesia Sem Fronteiras II


Porquê
ALFREDO DOS SANTOS MENDES


Procuro e não encontro uma razão
do teu afastamento prematuro.
Que fiz de mal? Não sei!!! Por Deus te juro!
Se um dia te ofendi...Peço perdão!

Espero não ter sido grosseirão
ou deixar descambado meu apuro.
Se foi esse o motivo não censuro,
O teu silêncio como exaltação!

Cada dia passado é um tormento,
se não te sinto aqui por um momento,
representada em meu computador!

Que poderei fazer para voltar
ao ligar meu PC eu encontrar:
teus poemas pintados com amor!

Começar Tudo, Outra Vez !
ANA PAULA COSTA BRASIL
  
Para todo o sempre,
meu amor.
Quero te amar...
para todo o sempre.
Abraçar-te
e sentir tua alma,
eternamente.
Sentir-te...
Tê-lo...
Viver o amor
que temos um pelo outro,
que ainda teremos
e que tanto desejamos.
Amor,
tu me fazes sentir viva,
tu me fazes ter vida
e me fazes querer... querer...
Tê-lo para todo e sempre
e amá-lo eternamente
não são sonhos
e sim a mais bela aspiração.
Meu amor,
desejá-lo mais a cada toque;
senti-lo mais a cada beijo
e viver mais a cada momento
de amor
é a mais doce melodia.

Navegando
APARECIDO DONIZETTI HERNANDEZ

Navego o turbulento barco de minha vida...

Turbulento e cismado barco de angústias,
Angústias que parecem fazer parte de todas as existências.
- Turbulento barco de minha existência -

Barco turbulento à procura de águas calmas
A fazer contra-ponto aos turbilhões internos de minha alma,

Onde encontro tais águas a não ser junto a ti,
Que tens o dom de acalmar o turbulento barco de minha vida.

Minhas angústias parecem amainar com sua presença,
Presença de águas calmas, que geram esperanças
Nas angústias de minha alma.

Somente você me acalma,
Tens o dom de purificar minha alma

Cantarei o Amor!
DANIELA WAINBERG
 
A paixão é um sentimento
a invadir meu coração.
Chega ardente e envolvente,
incendiando corações.
Esses, outrora, tranquilos,
parecem ter dois lados:
um escuro e o outro claro.
A paixão ora faz meu corpo
ferver de intenso ardor,
ora é devastadora e extremamente
cruel e egoísta,
deixando-me triste e desolada.
Não me deixarei abalar;
feliz, cantarei o amor.

Morada da Minha Infância
DIANA CAMARGO

Altiva e majestosa
Com suas paredes brancas
Plantada aos pés do serro
Sob o olhar da Virgem Santa.
Foste palco de uma história
Tantos sonhos e quimeras
Abrigaste tantas vidas
Entre tantas primaveras.
Sempre muito hospitaleira
Aos que ali se achegavam
Muitos causos, muitos risos
À sombra da tua figueira.
Lembrança das brincadeiras
Aos poucos vão se apagando
Pois ainda muito cedo
Deixei o teu aconchego.
Hoje apenas na lembrança
De cada um de teus filhos
Foi tombada pelo tempo
Morada da minha infância.
Mas tua imagem tão clara
Não se apaga da memória
Vai transcender pelo tempo
Faz parte da nossa história.

Nosso Jardim
JANDYRA ADAMI

A trepadeira está florida
Assim... outras flores do jardim
Os pássaros e borboletas
Não deixam de passar por aqui
Fico sentada olhando
Este pedaço de mundo
Que foi nosso... tão nosso...
O jardim de nossa casa.
O caramanchão num canto
onde, às tardinhas, vínhamos conversar.
Tudo está aqui, como antigamente,
as cadeiras, a mesinha de cimento,
pintadas de branco, conforme seu desejo.
No chão, espalhadas, folhas e pétalas
que o vento traz.
Entre a brisa suave que toca meu rosto,
e a ventania que move as nuvens,
meu pensamento voa e recordo
todos nossos momentos, nossa alegria,
a conversa animada, todos os dias,
antes de o sol se por.
Continuo olhando tudo por nós dois,
sentindo a mesma sensação de prazer,
olhando a natureza...
Sua presença está marcada, indelével,
em cada cantinho do nosso jardim...

Ah! Saudade!
JOÃO PRETTO CAVALCANTI
 
Da minha janela,
vejo as árvores e as flores.
A rua silenciosa e vazia;
apenas o canto dos pássaros.
Percorro outros pontos da cidade:
movimentada, muito agitada
e, quando vejo,
deparo-me com o Guaíba
e passo a admirar um pôr do sol lindo,
de um vermelho alaranjado
Começo a pensar
no que existe,
além daquele pôr do sol.
Qual o seu mistério?
Sonho que estou percorrendo
um lugar florido,
de uma beleza ímpar,
sem impurezas.
Com isso, volto a minha alma pequenina,
infantil, inocente, pura...
Como num passe de mágica,
volto a dura realidade,
e saio andando, lentamente,
sorrindo de meu doce sonho.

Utopias do Pampa
JURACI DA SILVA MARTINS
 
Como uma promessa
Como um vago alento
Novos sentimentos
Podem renascer,
Das raízes índias
Vindas de outros tempos
Que brotam em eventos
Para um florescer...
 
Como a chuva fresca
Faz viver a planta
Toda a crença adianta
Um raiar de sol.
E sobre a terra seca
Doa abandonados
Vem soprar alado
Um vento de paz...
 
Então teremos
Sem os preconceitos
Muitos eleitos
Para um mutirão
Pois tantos valores
Que foram perdidos
Serão ressarcidos
Se nos Irmanar!

Coração Calejado
LUCAS COZZA BRUNO

Tua poesia fala de um coração calejado
de dores, de perdas e de decepções;
coração temeroso de arapucas
e caminhos tórridos,
fendas que cicatrizam e outras que se abrem,
que se pergunta como ser feliz?
Ah! Quanta incerteza!
Que descrença!
Este coração é generoso,
consolador, fraterno,
com desejos e anseios;
um campo fértil de sinceridade,
de amor, de lindas nuances
que tocam as almas de quem o conhece,
coração que sabe levar os amigos
ao mais infinito dos sonhos.
Acorde minha Estrela,
teu coração brilha tanto,
tanto... que supera as dificuldades.
É um canteiro de esperanças e desejos,
que faz com que a poesia
me tire até do rumo.
Coração com perfume, com beijos
como noite de lua cheia
embalado em papel colorido
retirado de pedaços do arco-íris.
Abre este teu coração calejado,
que vejo com olhos de amor e de gratidão
querendo te dizer: do grande bem
que este teu coração nos faz!

Atordoada...
MARJORIE CASSOL SPAGNOLO CANSAN
 
Lamento não ter aproveitado
melhor o meu dia a dia.
Momentos passaram voando
sem perceber continuei caminhando,
deixando para trás muitas coisas.
Nada volta ao início.
Se perdermos, temos que continuar.
Não adianta se remoer.
O que devemos fazer
é aproveitar o que nos resta.
Sigo me lamentando, chorando,
gritando, esperneando até perceber
que nada volta
e que cada acontecimento
é único mesmo
se quisermos vivê-los novamente.

Se...
TÂNIA REGINA DA SILVA GUIMARÃES
 
No meu canto, eu me encontro no passado;
no silêncio;
na dor;
na saudade;
no querer...
No meu canto, eu encontro o encanto no canto;
na cor;
na flor.
No meu canto, eu me encanto com o meu encontro!

Agosto à Contra-Gosto
TCHELLO D'BARROS

O tempo nos tece uma veste
E muito nos custa esse imposto
Pois lento nos dá outro susto
Gastou-se mais um agosto

Posto que vasto é o tempo
E visto que nos é imposto
Viver só um tempo sucinto
Numa sina à contra-gosto

A teia insana das horas
Aos poucos nos sela um desgosto
No vasto espaço do espelho
O tempo esculpe o seu rosto

Vivenciando a Vida
TEKA NASCIMENTO

Meigas tardes, de sol aureoladas,
flores olentes perfumando o ar,
o arvoredo a sorrir pelas calçadas,
que mais queremos, pra nos encantar?

A vida é uma benesse dadivosa
que eterniza de amor cada momento;
esse milagre, que é música maviosa,
nos enche de ternura e encantamento!

Cada mágico instante desta vida,
é um anseio de paz que nos convida
na luz do amor o espírito aquecer!

Mas essa luz de encanto e claridade
o excelso Pai só ousa conceder
a quem cultiva o bem e ama a bondade!

Despedida (II)
TITO OLÍVIO

Um ano passou já sobre esse dia
Em que juntos dormimos docemente,
Depois de nos amarmos loucamente,
Jurando amor eterno em euforia.

Partiste de manhã, sem alegria,
Com a alma dorida de quem sente
Que vários meses vais estar ausente
E pode o amor morrer em agonia.

Mas eu fui-te fiel e assim serei,
Sofri todo este tempo e esperei,
Cuidando com amor nosso jardim.

Se o meu corpo definha de tristeza,
Eu acredito em ti, tenho a certeza
Que voltarás um dia para mim.

Fonte:
Colaboração Carlos Leite Ribeiro. Iara Melo. Recanto da Prosa e do Verso. Ano III – julho de 2010.

Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Decio de Almeida Prado e Paulo Emílio Sales Gomes (A Personagem de Ficção) Parte III – O Problema Epistemológico (a


3) O problema epistemológico (a personagem). É porém a personagem que com mais nitidez torna patente a ficção, e através dela a camada imaginária se adensa e se cristaliza. Isto é pouco evidente na poesia lírica, em que não parece haver personagem. Todavia, expresso ou não, costuma manifestar-se no poema um “Eu lírico” que não deve ser confundido com o Eu empírico do autor. Sem dúvida, houve no decurso da história grandes variações neste campo. Não se devem aplicar os mesmos padrões e conceitos a poemas da Grécia antiga, a poemas românticos e a poemas atuais. Parece, contudo, que se pode negar em geral a opinião de que nas orações de poemas líricos se trata de juízos, de “enunciados existenciais” acerca de determinada realidade psíquica do poeta ou qualquer realidade exterior a êle. É precisamente no poema que são mobilizadas todas as virtualidades expressivas da língua e toda a energia imaginativa.

No caso de versos como estes:
A chuva de outono molha
O pêso da minha altura
E tal rosa que desfolha
Tenho pétalas na figura
(Lupe Cotrlm Garaude, Raiz Comum.)

seria absurdo falar de juízos, mesmo subjetivos, referentes, passo a passo, a estados psíquicos reais da poetisa (4). É perfeitamente possível que haja referência indireta a vivências reais; estas, porém, foram transfiguradas pela energia da imaginação e da linguagem poética que visam a uma expressão “mais verdadeira”, mais definitiva e mais absoluta do que outros textos.

O poema não é uma “foto” e nem sequer um “retrato artístico” de estados psíquicos; exprime uma visão estilizada, altamente simbólica, de certas experiências.

Mesmo em versos aparentemente confessionais como estes de Safo: “A lua se pôs e as Plêiades, pelo meio anda a noite, esvai-se a juventude, mas eu estou deitada, sozinha” — não se deve confundir o Eu lírico dentro do poema com o Eu empírico fora dele. Este último se desdobra e objetiva, através das categorias estéticas, constituindo-se na personagem universal da mulher ansiosa por amor. Até um poeta como Goethe que, na sua fase romântica, considerava a poesia a mais poderosa expressão da verdade, como “revelação” da intimidade, chegou, já aos vinte anos, à conclusão de Fernando Pessoa (o poeta finge mesmo a dor que deveras sente), porque o poema é, antes de tudo, Gestalt, forma viva, beleza. Variando concepções de Platão, declara que a beleza “não é luz e não é noite; é crepúsculo; é resultado da verdade e não-verdade. Coisa intermediária”. São quase os termos com que Sartre descreve a ficção.

Contudo, a personagem do poema lírico não se define nitidamente. Antes de tudo pelo fato de o Eu lírico manifestar-se apenas no monólogo, fundido com o mundo (“A chuva de outono molha / O pêso da minha altura”), de modo que não adquire contornos marcantes; depois, porque exprime em geral apenas estados enquanto a personagem se define com nitidez somente na distensão temporal do evento ou da ação.

Como indicadora mais manifesta da ficção é por isso bem mais marcante a função da personagem na literatura narrativa (épica). Há numerosos romances que se iniciam com a descrição de um ambiente ou paisagem. Como tal poderiam possivelmente constar de uma carta, um diário, uma obra histórica. É geralmente com o surgir de um ser humano que se declara o caráter fictício (ou não-fictício) do texto, por resultar daí a totalidade de uma situação concreta em que o acréscimo de qualquer detalhe pode revelar a elaboração imaginária.

No nosso exemplo de Mário seria possível que as orações “Mário estava de pijama. ele batia uma carta na máquina de escrever” constassem de um relato policial que prosseguisse assim: “. . . quando entrou o ladrão. . .“ Se o texto, porém, prosseguir assim: “Sem dúvida ainda iria alcançá-la. Afinal, Lúcia decerto não podia partir depois-de-amanhã”, sabemos que se trata de ficção. Notamos, talvez sem reconhecer as causas, que Mário não é urna pessoa e sim uma personagem. Certas palavras sem importância aparente nos colocam dentro da consciência de Mário, fazem-nos participar de sua intimidade: “sem dúvida”, “afinal”, “decerto”, “depois-de-amanhã”. Tais palavras indicam que se verificou uma espécie de identificação com Mário, de modo que o leitor é levado, sutilmente, a viver a experiência dele.

Mais evidentes seriam verbos definidores de processos psíquicos, como “pensava”, ‘duvidava”, “receava”, os quais, quando referidos à experiência temporalmente determinada de uma pessoa, não podem, por razões epistemológicas, surgir num escrito histórico ou psicológico. Numa obra histórica pode constar que Napoleão acreditava poder conquistar a Rússia; mas não que, naquele momento, cogitava desta possibilidade. Só com o surgir da personagem tornam-se possíveis orações categorialmente diversas de qualquer enunciado em situações reais ou em textos não-fictícios: “Bem cedo ela começava a enfeitar a árvore. Amanhã era Natal” (Alice Berend, Os Noivos de Babette Bomberling); ... and of course he was coming to her party to-night” (Virgínia Woolf, Mrs. Dallowcry); “A revolta veio acabar daí a dias” (Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma); “Daí a pouco vieram chegando da direita muitas caleças. . .“ (Machado de Assis, Quincas BOrba).

É altamente improvável que um historiador recorra jamais a tais orações. Advérbios de tempo (e em menor grau de lugar) como “amanhã”, “hoje”, “ontem”, “daí a pouco”, “daí a dias”, ‘aqui”, “ali”, têm sentido somente a partir do ponto zero do sistema de coordenadas espaço-temporal de quem está falando ou pensando. Se surgem num escrito, são possíveis somente a partir do narrador fictício, ou do foco narrativo colocado dentro da personagem, ou onisciente, ou de algum modo identificado com ela. O “amanhã” do primeiro exemplo citado põe o foco dentro da personagem, cujo pensamento é expresso através do estilo indireto livre:

No caso, os pensamentos são reproduzidos a partir da perspectiva da própria personagem, mas a manutenção da terceira pessoa e do imperfeito “finge” o relato impessoal do narrador. Seriam possíveis outros recursos:

“Ela pensava: Amanhã será Natal”; “Ela pensava que no dia seguinte seria Natal”; mas nenhum como o indicado (aliás já usado na literatura latina, na literatura francesa desde o século XII e com bem mais freqüência no romance do século XIX, desde Jane Austen e Flaubert) revela o caráter categorialmente singular do discurso fictício. Em nenhuma situação real o amanhã” poderia ser ligado ao “era”; e o historiador teria de dizer “no dia seguinte” já que não pode identificar-se com a perspectiva de uma pessoa, sob pena de transformá-la em personagem.

Embora tais formas não surjam nem na poesia lírica, nem na dramaturgia, e não necessariamente na literatura narrativa, o fenômeno como tal é extremamente revelador para todos os tipos de ficção, já que a análise deste “sintoma” da ficção indica, ao que parece, estruturas inerentes a todos os textos fictícios, mesmo nos casos em que o sintoma não se manifesta. O sintoma lingüístico evidentemente só pode surgir no gênero épico (narrativo), porque é nele que o narrador em geral finge distinguir-se das personagens, ao passo que no gênero lírico e dramático, ou está identificado com o Eu do monólogo ou, aparentemente, ausente do mundo dramático das personagens. Assim, somente no. gênero narrativo podem surgir formas de discurso ambíguas, projetadas ao mesmo tempo de duas perspectivas: a da personagem e a do narrador fictício. Mas a estrutura básica do discurso fictício parece ser a mesma também nos outros gêneros.

O “sintoma” linguístico, óbvio nos exemplos apresentados, revela, precisamente através da personagem, que o narrar épico é estruturalmente de outra ordem que o enunciar do historiador, do correspondente de um jornal ou de outros autores de enunciados reais. A diferença fundamental é que o historiador se situa, como enunciador real das orações, no ponto zero do sistema de coordenadas espaço-temporal, por exemplo, no ano de 1963 (e na cidade de São Paulo), projetando a partir deste ponto zero, através do pretérito plenamente real, o mundo do passado histórico igualmente real de que ele, naturalmente, não faz parte. Ao sujeito real (empírico) dos enunciados corresponde a realidade dos objetos projetados pelos enunciados (e só neste contexto é possível falar de mentira, fraude, erro etc.).

Na ficção narrativa desaparece o enunciador real. Constitui-se um narrador fictício que passa a fazer parte do mundo narrado, identificando-se por vezes (ou sempre) com uma ou outra das personagens, ou tornando-se onisciente etc. Nota-se também que o pretérito perde a sua função real (histórica) de pretérito, já que o leitor, junto com o narrador fictício, “presencia” os eventos. O pretérito é mantido com a função do “era uma vez”, mero substrato fictício da narração, o qual, contudo, preserva a sua função de “posição existencial”, de grande vigor individualizador, e continua “fingindo” a distância épica de quem narra coisas há muito acontecidas.

A modificação do discurso indica que na ficção (e isso se refere também à poesia e dramaturgia) não há um narrador real em face de um campo de seres autônomos. Este campo existe somente graças ao ato narrativo (ou ao enunciar lírico, dramático). O narrador fictício não é sujeito real de orações, como o historiador ou o químico; desdobra-se imaginariamente e torna-se manipulador da função narrativa (dramática, lírica), como o pintor manipula o pincel e a cor; não narra de pessoas, eventos ou estados; narra pessoas (personagens), eventos e estados. E isso é verdade mesmo no caso de um romance histórico (5). As pessoas (históricas), ao se tornarem ponto zero de orientação, ou ao serem focalizadas pelo narrador onisciente, passam a ser personagens; deixam de ser objetos e transformam-se em sujeitos, seres que sabem dizer “eu”.

“A rainha se lembrava neste momento das palavras que dissera ao rei” — tal oração não pode ocorrer no, escrito de um historiador, já que êste, nos seus juízos, sòmente pode referirr-se a objetos, apreendendo-os exclusivamente de “fora”, mesmo nos casos da mais sutil compreensão psicológica, baseada em documentos e inferências. Sòmente o “criador” de Napoleão, isto é, o romancista que o narra, em vez de narrar dêle, lhe conhece a intimidade de “dentro”.
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Notas:
(4) Tal é, contudo, a opinião de Kaethe Hamburger em Die Logik der Dichrung (A Lógica da Ficção); segundo a autora, os enunciados de um poema lírico seriam “juízos existenciais”, juízos subjetivos, mas juízos.
(5) Kaethe Hamburger, na obra citada, estuda agudamente os vários problemas envolvidos.

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continua… A personagem nos vários gêneros literários e no espetáculo teatral e cinematográfico
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Fonte:
Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Decio de Almeida Prado e Paulo Emílio Sales Gomes. A Personagem de Ficção. 2. ed. SP: Perspectiva.
Este livro é digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a intenção de facilitar o acesso ao conhecimento a quem não pode pagar e também proporcionar aos Deficientes Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 298)


Uma Trova Nacional


Uma Trova Potiguar

No horizonte do poente
o sol deita a fronte langue,
queimando-se em febre ardente,
tingindo as nuvens de sangue.
–IVORY/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Nova Friburgo/RJ
Tema: CERTEZA - M/E

Temos certeza da idade
quando as rugas do sol-posto
passeiam com a saudade
na tarde do nosso rosto.
–HÉRON PATRÍCIO/SP–

Uma Trova de Ademar

É divinamente lindo,
é um momento singular,
ver a luz do sol partindo
com vontade de ficar...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Sou tão feliz, minha gente,
que nem sei - feliz assim -
se o sol provém do Nascente
ou nasce dentro de mim!
–APRYGIO NOGUEIRA/MG–

Simplesmente Poesia

Só a Natureza é Divina
–FERNANDO PESSOA/PORTUGAL

Só a natureza é divina, e ela não é divina...

Se falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nome às cousas.

Mas as cousas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...

Bendito seja eu por tudo quanto sei.
Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.

Estrofe do Dia

O sol vai morrendo além,
deixando marcas na serra
e a asa da noite vem
cobrindo a face da terra,
a floresta silencia,
nenhum passarinho pia,
neste quadro sonolento
só o murmúrio das águas,
que propagam suas mágoas
pelos soluços do vento.
–CANÇÃO/PE –

Soneto do Dia

O Espelho do Sol-Posto
–JOSÉ TAVARES DE LIMA/MG–

Ser idoso não é ser dependente,
ou se julgar inútil, inseguro.
É pensar que, por trás de um céu escuro,
pode esconder um sol aurifulgente!...

É, sem perder a crença, ter na mente
planos, ainda, para o seu futuro...
É relevar o desrespeito duro
do jovem zombeteiro e irreverente.

Seja, pois, otimista e, decidido,
para a velhice dê outro sentido,
que não o de queixar-se dos abrolhos...

Mire-se mais no espelho do sol-posto,
que, em seu adeus, pela amplidão, por gosto,
pinta quadros que encantam nossos olhos!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XXI – O grito de Dona Benta


Enquanto isso, os meninos lá na Lua contavam a São Jorge como eram as coisas em Saturno.

— Gostosura maior não pode haver! — dizia Narizinho. — A gente boiava, boiava como peixe na lagoa — e aquele saturnino de geléia ali a conversar como se fosse um amigo velho. Eles têm uns crocotós que saem de dentro da gelatina — são os órgãos lá deles.

São Jorge não sabia o significado de “crocotó” e a menina teve de explicar que era uma das melhores palavras do vocabulário da boneca.

— A Emília gosta de usar termos de sua invenção e às vezes saem coisas bem boas. Esse crocotó é ótimo.

— Mas afinal de contas que é crocotó? — indagou o santo.

— Crocotó é uma coisa que a gente não sabe bem o que é. Crocotó é tudo que sai para fora de qualquer coisa lisa. O seu nariz, por exemplo, é um crocotó da sua cara — mas como sabemos que nariz é nariz, não dizemos crocotó. Mas se nunca tivéssemos visto o seu nariz, nem soubéssemos o que é nariz, então poderíamos dizer que o seu nariz era um crocotó... São Jorge franziu a testa no esforço de entender aquilo — e se não entendeu fingiu que entendeu e passou adiante. Pôs-se a contar a história do dragão, nos tempos da sua mocidade na Terra. Falou do rei da Líbia e da bela princesa que o dragão quase havia devorado.

— Mas apareci de repente — disse ele — e dei um grande brado: “Sus! Sus!” O dragão, que já estava com a boca aberta e a língua de fora, entreparou e virou a horrenda cabeça para meu lado — e eu então, zás! Fisguei-o com a lança.

— Esta mesma? — quis saber Emília, apontando para a lança no colo do santo.

— Sim — respondeu São Jorge. — Fisguei-o, e ele, então...

Foi exatamente nesse “então” que o berro de Dona Benta chegou até lá — “Pedrinho! Narizinho! Emília! Desçam já daí, cambada!”

O santo capadócio interrompeu a frase e todos puseram-se de ouvido alerta.

— Lá está vovó nos chamando! — disse Pedrinho. — Como será que descobriu que estamos aqui?

— E temos de voltar já, numa voada — acrescentou a menina. — Mas... e o Doutor Livingstone? — Como deixá-lo perdido por estas imensidades infinitas?...

Pedrinho andava com uma hipótese na cabeça.

— Para mim — disse ele — o Doutor Livingstone está girando em redor da Lua como um satélite. Está na zona neutra — na zona em que a força de atração da Terra equilibra-se com a força de atração da Lua, e por causa disso não cai nem na Terra nem na Lua — fica girando eternamente em redor da Lua. Temos de passar por essa zona e agarrá-lo por uma perna.

Mas como arrancar o Doutor Livingstone de sua órbita? Era um problema dos mais difíceis. No vôo para a Terra eles iriam cortar a órbita do novo satélite da Lua, isso era evidente: mas o satélite podia estar muito distante do ponto da órbita que eles cortariam. Como fazer para cortar a órbita exatamente no ponto em que estivesse o satélite-Livingstone?

— Só fazendo cálculos astronômicos — lembrou a menina. — Os astrônomos descobrem no céu tudo quanto querem por meio de cálculos. Lembra-se do que vovó contou do tal astrônomo Halley?

São Jorge quis saber o que era. Narizinho tentou explicar.

— Pois esse Halley previu que um grande cometa ia passar pelo nosso céu em... em... em que ano mesmo, Pedrinho?

Pedrinho, que sabia aquilo na ponta da língua, gritou:

— Em 1.758! Halley previu isso por meio de cálculos. Mas não pôde ver se seus cálculos deram certo, porque morreu em 1.742.

São Jorge estava de boca aberta, admirado da ciência do menino.

— Pois bem — continuou Pedrinho — dezessete anos depois da morte de Halley o tal cometa apareceu de novo, exatinho no ponto indicado e no ano que ele disse — 1.758. Só que em vez de aparecer em meados de abril, como Halley previra, apareceu a 12 de março — menos de um mês de diferença. Era um errinho insignificante para um cometa que só aparece de setenta e tantos em setenta e tantos anos.

— Mas isso é estupendo! — exclamou São Jorge sacudindo a lança no ar de tanto entusiasmo. — Prever por meio de cálculos que um cometa vai aparecer em tal ponto do céu, em tal mês e tal ano, parece-me o assombro dos assombros!...

— Pois é para ver! — tornou Pedrinho. — A matemática é o que há de batatal, como diz a Emília, e esse Halley era batatalino na matemática. Depois de 1.758 outros astrônomos calcularam que o cometa ia aparecer de novo em 1.834 e a 24 de maio de 1.910.

— E apareceu?

— Apareceu, sim. Vovó o viu muito bem quando apareceu em 1.910, no dia 6 de maio. O erro foi ainda menor — só de dezoito dias. Batatalífero, não?

São Jorge ficava tonto com as batatalidades daquele menino...

— Pois é isso, Pedrinho — disse a menina. — Você também é astrônomo. Faça os cálculos e marque o momento e o ponto em que o Doutor Livingstone vai passar, e nós cheiraremos o pó nesse momento exato.

A boca de São Jorge não se fechava. Aquelas crianças falavam que nem um livro aberto...

Mas Pedrinho, com medo de errar nos cálculos e desmoralizar a astronomia, veio com uma desculpa.

— Não posso fazer os cálculos porque não tenho papel nem lápis.

— Isso é o de menos! — gritou Emília. — Papel eu tenho aqui no bolso — o papelzinho da bala puxa-puxa, e lápis Tia Nastácia tem no fogão — um pedacinho de carvão serve — e correu a buscar o “lápis” depois de entregar ao menino o papel da bala.

O pequeno Flammarion não teve remédio senão fazer todos os cálculos — e foi com base nesses cálculos que marcou o instante da partida, dizendo:

— Neste momento exato o Doutor Livingstone deve estar passando no ponto X de sua órbita. Partiremos então daqui e de passagem o agarraremos por uma perna.

E assim foi. Depois das comoventes despedidas do santo, o qual deu um beijo na Emília e outro no anjinho, os aventureiros celestes sorveram o pó de pirlimpimpim na horinha indicada pelas contas do jovem Flammarion.

Fiunnn!...

Tudo deu certissimamente certo. Eles cruzaram a órbita do satélite-Livingstone no momento exato em que o sabugo de cartola ia passando. Pedrinho agarrou-o pelo pé e lá se foram todos para a Terra.
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Continua … XXII – O Café dos Astronomos
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa