segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Lima Barreto (Conto argelino: Hussein Ben-Áli Al-Bálec e Miquéias Habacuc)

(Ao senhor Cincinato Braga)

Antes da conquista francesa, havia, na Argélia, uma família composta de um velho pai doente e seis filhos varões. Desde muito que o pai, devido aos achaques da idade, não se entregava diretamente aos trabalhos da sua lavoura; mas, sempre que o seu estado de saúde lhe permitia, tinha o cuidado de correr as suas terras com plantações, que eram de tâmaras, alfa, oliveiras, laranjeiras, havendo somente uma parte que era destinada à criação de ovelhas, cabras e bezerros. As plantações e a criação estavam entregues a cinco dos seus filhos, pois o mais velho, ele o tinha mandado ao Cairo, para estudar profundamente, na respectiva universidade, a lei do Profeta e vir a ser um ulemá digno e sábio no Corão.

Áli Bâlec Al-Bâlec era o nome desse filho do velho árabe e esteve de fato no Cairo; mas, bem depressa, abandonou o estudo das santas leis de Alâ e do Profeta e procurou a sociedade dos infiéis.

Foi ter nas suas aventuras à Grécia, onde se demorou muito tempo e adquiriu dos gregos muitos hábitos, costumes e vícios. Não se pode em confiança dizer que os atuais sejam bem netos dos antigos; mas são aparentados. A finura e sagacidade dos últimos para abstrações filosóficas, para especulações científicas, para a análise dos sentimentos e paixões, do que dão provas as suas obras de filosofia, as suas criações científicas e as suas grandes obras literárias, empregam nos nossos dias os atuais na mercancia, no tráfico, no escambo, em que sempre procuram, com a máxima habilidade e sabedoria enganar não só os estrangeiros, como os seus próprios patrícios.

No Oriente, só há um traficante que não seja enganado pelo grego: é o armênio. Diz-se mesmo lá: o judeu é enganado pelo grego, mas o armênio engana ambos.

Os turcos, de onde em onde, matam estes últimos aos milheiros, não tanto por motivos religiosos, mas por ódio do comprador cavalheiresco, do homem leal e crédulo, que se vê enganado despudoradamente, e sente que não há, no outro que o ludibriou, nenhum princípio de honra, de lealdade, de honestidade, que as relações entre os homens o exigem.

Ali Bálec AI-Bálec, apesar de ser muçulmano, foi atraído para o meio dos gregos e, com eles, aprendeu as suas espertezas, maroscas e habilidades para enganar os outros. E assim foi que ele andou fora da casa paterna, fazendo o escambo dos mares do Levante, indo de Alexandria para Constantinopla, daí para Jafa, deste porto para Salônica, desta cidade para Corfu, perlustrando todos aqueles mares azuis, cheios de história, de lenda, de sangue e piratas, comerciando e mesmo pirateando quando a ocasião se lhe oferecia.

Ao saber da morte do pai, vendeu logo a feluca que possuia e correu a receber a herança. Coube-lhe uma grande data de terra, coberta de pés de tâmaras, enquanto os irmãos tinham as suas cultivadas com alfa, com laranjeiras, oliveiras e um mesmo recebeu a sua parte em terrenos de pastagens magras, onde pasciam rebanhos enfezados de ovelhas e cabras.

Todos, porém, ficaram contentes com a partilha e iam vivendo. Áli Bálec Al-Bálec trouxera como sua mulher uma israelita que renegara o Talmude pelo Corão, mas, apesar disso, tinha o maior desprezo pelos muçulmanos, aos quais considerava grosseiros, convencendo de tal cousa o marido a ponto dele não dar mais importância aos seus próprios irmãos.

Logo ao voltar ainda os atendia e os visitava; mas a mulher lhe dizia sempre:

— Esses teus irmãos são uns brutos! Parecem mochos! Uns bobos! Que sandálias! O pano das suas chéchias é barato e sempre está sujo! Deixa-os lá!

Aos poucos, devido aos conselhos de sua mulher, Salisa, da sua insistência, ele deixou de procurar os irmãos, fez-lhes má cara, embora os filhos deles viessem de quando em quando, à casa do tio, para ver o primo Hussein, que se ia criando mais pérfido que o pai e mais orgulhoso que a mãe.

Em pouco, Ali ficou inteiramente convencido da sua imensa superioridade sobre os seus humildes e resignados irmãos. Por ter na sua sala um tapete de Esmirna, serem as suas armas de aço de Damasco, tauxiadas de ouro, julgava os seus manos, que se tinham habituado á simplicidade e à modéstia, como inferiores, iguais aos das tribos negras que viviam para além do deserto.

Julgando-os assim, esquecia-se que, enquanto ele viajava, enquanto ele aprendia aquelas cousas finais, os irmãos plantavam, ceifavam e colhiam, para ele aprender.

Além disso, Áli, como falasse alguns patoás levantinos, julgava-se muito mais que todos os do vilaiete e também, por possuir jóias de ouro e pedras caras, valendo muitas piastras, imaginava que tudo podia.

Por esse tempo, chegaram os franceses e o caid apelou para todos, a fim de socorrer o bei com homens e valores. Áli ofereceu uma das jóias do seu tesouro e quase por isso foi empalado. O joalheiro do palácio verificou que as jóias eram inteiramente falsas e, vindo o bei a saber disso, tomou a cousa como afronta e mandou castigar severamente o doador.

Salisa, sua mulher, ficou, ao conhecer a notícia, no mais completo desespero, não porque o marido estivesse em risco de vida, mas pelo fato que a fortuna representada por aquelas jóias não era mais que fumaça. Ali foi solto e jurou que havia de enriquecer de novo. Aceitou sem resistência a dominação francesa e, com alegria, viu que essa dominação trazia uma grande alta para as tâmaras que o seu terreno produzia prodigiosamente.

Seus irmãos, a seu exemplo, aceitaram os francos e continuaram na sua modéstia, observando muito religiosamente as leis do Corão. Áli, já habituado, em pouco se misturou com os infiéis a quem vendia as tâmaras por bom preço e gastava o grosso do rendimento que ia tendo em bebidas, apesar da proibição do Corão, em orgias com os ofidais e funcionários franceses. Construiu um palácio que ele pretendia parecido com aquele do grande califa Harum Al-Rashid, em Bagdá, conforme é descrito no livro de histórias da princesa Xerazade.

Vendo que as tâmaras eram muito procuradas pelos francos que, por elas, pagavam bom dinheiro, por toda a parte começaram a plantar tâmaras; os irmãos de Áli, porém, não quiseram fazer tal, pois sabiam por experiência de seu pai, que, desde que houvesse muitas tâmaras para vender e, não se precisando desse fruto para o nosso comer diário, não era possível que muita gente as quisesse comprar tão caro. Abundando tinham que vendê-las mais barato, para atingir e provocar os compradores mais pobres.

Continuaram com a sua alfa, as suas laranjeiras, a pascer os seus rebanhos, sem nenhuma inveja do irmão que parecia rico e os desprezava. Os seus sobrinhos, de quando em quando, iam às terras do tio e ele, por ostentação, por vaidade e para mostrar riqueza, lhes dava uma libra turca e as crianças voltavam para casa dos pais, dizendo:

— Tio Ali é que é gente! Tem tudo! Como ele é rico, por Alá!

Os seus pais respondiam:

— Cada um se deve conformar com o que Alá lhe dá! É bom que prospere, pois tem família... Deus é Deus e Maomé é seu profeta.

Veio a morrer Áli, quando as tâmaras começaram a cair de preço. Herdou-lhe os bens, além da mulher, o seu único filho Hussein Ben-Áli Al-Bálec que tinha todos os defeitos do pai aumentados com os de sua mãe. Era vaidoso, presunçoso, ávido, desprezando os parentes, para os quais era somítico e avaro, desprezando-os como se fossem animais imundos e tidos em maldição pelas Leis do Profeta. Com os franceses, entretanto, era mais pródigo do que o pai e fingia ter as suas maneiras e usos.

Nas gazetas que começaram a aparecer em Argel, Hussein Ben-Áli AI-Bálec era gabado e, apesar das leis do Corão proibirem a reprodução da figura humana, uma delas lhe publicou o retrato. As tâmaras começaram a descer; e, como Hussein tivesse notícias que, duas léguas próximas, um outro muçulmano possuia uma grande plantação delas, começou a pensar que era esta que fazia descer o preço das suas.

Em Argel, sobretudo no vilaiete de Hussein, personificam-se sempre os fenômenos e a sutileza de um plantador de tâmaras não pode bem conhecer, apesar de raça árabe, o filigranado das induções da economia política... Imaginou logo destruir a plantação e mesmo toda aquela que aparecesse na redondeza. Supôs de bom alvitre ir com alguns homens e queimar os coqueiros. O dono certamente queixar-se-ia ao caide às autoridades francas; e seria uma complicação. Homem de expedientes, lembrou-se de conseguir do capitão francês da guarnição, AL-Durand OU Al-Burhant, a destruição do plantio rival.

Habitualmente, fez-se amigo do rume, encheu-o de presentes, de festas, de bebidas, pois seguia o exemplo de seu pai nesse tocante; e o "cão do cristão" se fez afinal seu amigo. Um dia, depois de uma festa, o militar, que pisava indignamente a terra onde estavam os ossos do seu pai, após muitas queixas de Áli, apiedado do árabe, apressou-se em ir à plantação do vizinho e castigá-lo. Assim fez, com os seus soldados e os ferozes serviçais de Hussein. Houve queixa; o capitão foi punido; mas o saas de tâmaras não subiu nem meio gourde.

As suas finanças iam de mal a pior, a casa magnífica ia dando mostras de ruína e os seus móveis e alfaias deterioravam-se com o tempo. Sua mãe não cessava de censurar-lhe pelas faltas que não lhe cabiam. Ela, com aquela arrogância muito sua e inveja também muito sua, repreendia-o:

— Vês: as tâmaras caem de preço e tu não tomas providência alguma. Os meus não são assim... Mas tens o sangue de teu pai... E verdade que teus tios estão vendendo alfa, oliveiras, gado e laranjas e ganham... Se tu não fizeres esforço algum, ficarás como eles, uns macacos a viver em tocas e a dormir em pelegos de cameiro...

Xmed, o teu segundo tio, ganhou duzentas piastras em azeitonas e ficou contente. Queres ser como ele?

— Que hei de fazer, mãe?

— Pensa; e não fiques aí a chorar como mulher. Saúl chorou? Davi chorou? Só o Deus dos cristãos chorou: Jeová não ama o choro. Ele ama a guerra e o combate, até o extermínio. Lê os livros, os que foram os meus e os teus que são também agora os meus. Lembra-te de Débora e de Judite e eram mulheres!

Hussein Ben-Ali AI-Bálec não podia dormir com a impressão das palavras de sua mãe. O saas de tâmaras continuava a descer de gourde em gourde, e ele só se lembrava de Áli, de Ornar, de todos aqueles de sua raça que as tinham levado em meio século, do Ganges ao Ebro. Mas o saas de tâmaras parecia não temer aquelas sombras augustas e ferozes. Descia sempre.

Certo dia, apareceu-lhe um homem que queria falar a sua mãe, Salisa. Era o irmão dela, Miquéias Habacuc. A irmã e o sobrinho acolheram muito bem tão próximo parente e lhe falaram na baixa das tâmaras que os atormentava. Miquéias, que era homem esperto em negócios, disse para o sobrinho:

— Filho de minha irmã, tens meu sangue, mas não a minha fé nos livros santos da sinagoga; mas teus avós Isaac, Baruc, Daniel, Azaf, Etã, Zabulon, Neftali e tantos outros mandam que eu te auxilie nesse transe da tua vida que é preciosa a eles e a mim, pois ela é deles e também minha. Portanto, tal forem os presentes que tu me fizeres, eu posso purificar-me de ter socorrido um ente que não é de Israel. Dize-o que o rabino me perdoará.

Hussein ficou de pensar e, à noite, conferenciou com sua mãe Salisa.

— Filho, dá-lhe alguns cequins turcos e aquelas jóias falsas que quase custaram a morte de teu pai. Porque — ouve bem — o conselho dele pode ser falaz.

Despertando Miquéias, logo Hussein foi ter com ele e propôs-lhe o escambo. O israelita, ao ver as jóias, nem olhou mais os cequins. Ficou com os olhinhos fosforescentes de tigre na escuridão. Era como se fosse dar um salto de felino. Contou então ao sobrinho como devia proceder.

— Tu que tens o sangue de minhas avós Micaia, que era da tribo de
Jeroboão, e de Azarela, que era da casa de Leedã, ouve, comprarás todas as tâmaras que houver na redondeza, mesmo antes de amadurecerem, ficando elas nos pés. Quando for época de colhê-las, colhê-las-ás todas, guardando em surrões nos armazéns de tua casa e não venderás senão quando te oferecerem um lucro que dê a fartar para gastares...

— Tio amado e sábio: elas não apodrecerão?

— Não importa. As poucas "medidas" em que isto acontecer darão prejuízo, mas tu marcarás o lucro de modo que o cubras.

Hussein Ben-Ali Al-Bálec descansou um instante a cabeça sobre o peito, depois a ergueu de repente e exclamou:

— Falas com a sabedoria do Profeta, Miquéias Habacuc. Que Alá seja contigo!

Miquéias Habacuc, filho de Uriel de Sepetai, não se quis demorar mais e partiu despedindo-se da irmã Salisa e do sobrinho Hussein Ben-Áli AI-Bálec com lágrimas nos olhos, canastras pesadas com os cequins turcos e as jóias falsas com que o sobrinho lhe pagara o seu profundo conselho de economia política hebraica.

Hussein fez o que lhe foi aconselhado; e as tâmaras começaram a ter mais oferta de preço. Vendeu-as com grande lucro no primeiro ano; no segundo, se sentia uma certa resistência no mercado, ele as reteve em grande parte; mas, no terceiro ano, ele teve que comprar a produção e viu que ia aumentando o estoque do que, se pode chamar de valorização das tâmaras. Viu bem que se continuasse a comprar a produção, ficaria com ele demasiado aumentado, a sua fortuna comprometida e que fez? Cedeu. As tâmaras começaram a descer gourde a gourde. Teve uma idéia que um sargento francês lhe indicou. Vendo que elas encalhavam nos seus armazéns e os pedidos cresciam lentamente; vendo, pouco a pouco, os seus coquinhos perdendo o valor, alugou alguns gritadores que berrassem, nas ruas de Argel, a guerreira:

— Vivam as tâmaras! Não há cousa melhor que as tâmaras de Hussein Ben-Áli Al-Bálec!

Nas gazetas, ele pagava anúncios das suas tâmaras, mas não vendia mais que dantes. Deu-as de graça e, como toda cousa dada de graça, elas só agradavam desse modo. Em se tratando de vendê-las, nada! Os surrões de tâmaras aumentavam nos seus armazéns, pois teimava em comprá-las e guardá-las, para que elas não viessem afinal a não valer nada.

O tapete de Esmirna que o pai lhe deixara desfiava-se, empenhou as armas preciosas, também a herança do pai, para comprar mais sacas de tâmaras. Comprou um tapete falso e umas armas vagabundas de um cabila mais vagabundo ainda, para pôr no lugar das antigas preciosidades. Os outros plantadores, que se tinham limitado a colher e vender, iam vivendo das suas modestas plantações; ele, Hussein Ben-Áli AI-Bálec, corria para a ruína certa.

Foi por ai que, novamente, lhe apareceu Miquéias Habacuc, seu tio, homem hábil e esperto nos negócios. Hussein ficou espantado, mas o tio lhe disse:

— Rebento da minha querida irmã, pelo Deus de Abraão, de Israel e de Jacó, não te amedrontes: vendi as jóias por um bom preço a um grego, com o que ganhei duas cousas: dinheiro e a glória de ter enganado um cão dessa espécie. Mas, pelo Eterno! Esta idéia de pagar-me o conselho em jóias falsas não é tua... Isto tem dedo de pessoa inteiramente da minha raça de Mardoc e Malaquias... Isto é de minha irmã! Não foi tua mãe quem...

— Foi. E que fizeste do dinheiro, tio amado da minha alma; socorro da minha vida?

— Emprestei-o aos turcos com bons juros e quando os cobrei, quase me esfolaram. Muito tem sofrido a raça de Israel; mas o que sofri deles, nem contar te posso — ó descendente do grande Al-Bâlec, companheiro de Musa — conquistador das Espanhas!

Acabava de dizer estas palavras, quando entra no aposento em que estavam Salisa, a feroz Judite, a eloqüente Débora — que, ao dar com o irmão, se põe em prantos, exclamando:

— Irmão do coração, sábio Miquéias! Tu que descendes como eu de Micaia, da tribo de Jeroboão, e de Azarela, que era da casa de Leedã, salva-me pelo nosso Deus de Abraão, de Israel e de Jacó — salva-me!

E a feroz Judite e eloqüente Débora chorou não a sua dor, nem a dos outros, mas o dinheiro que se sumia.

Contou, então, Hussein ao tio, como a ruína se aproximava; como a
valorização das tâmaras, no começo dando tão bom resultado, viera a acabar, no fim, em desastre completo.

O velho Miquéias, filho de Uriel de Sepetai, coçou as barbas hirsutas; os seus olhinhos    luziram    naquele    quadro    de    pêlos    cerdosos;    depois,    faiscando-os malignamente, perguntou ao sobrinho:

— Com que dinheiro tu, sobrinho meu; com que dinheiro fizeste a operação?

Hussein disse-lhe que fora com o dinheiro dele e o da sua mãe.

Miquéias Habacuc, judeu de Salônica, homem esperto e hábil em negócios, sorriu com gosto e demora, dizendo após:

— Tolo que és!

— Por quê?

Habacuc assim falou de súbito, logo imediatamente á pergunta:

— Que me darás em troca pela explicação?

— A última bolsa de cequins de ouro que me resta.

— És generoso e grande, sobrinho meu, filho de Salisa, minha irmã, guarda-a. Ganharemos mais. Fizeste mal em empregar o teu dinheiro e o da tua mãe.

Devias empregar o dos outros.

— Como, tio Miquéias?

— Tu não sabes, meu sobrinho, essas operações de câmbio e de banco. Eu as sei. Nós agora vamos organizar a defesa das tâmaras, isto é, impedir que especuladores reduzam à miséria e à desolação esta rica região do Magreb, como dizia o teu grande avô, Al-Bálec. Vamos pedir dinheiro aos seus habitantes, para que não morram de fome e não pereçam à míngua por falta de trabalho.

— Não me darão, tio.

— Dar-te-ão, sobrinho do meu coração; dar-te-ão. Chama teus tios, irmãos de teu pai, e os filhos, e convence-os que devem dar as economias que têm, em moeda, para poderes lutar com os que querem acabar com as plantações de tâmaras do vilaiete. Dize-lhes que se não o fizerem as plantações morrerão, os habitantes fugirão, aqui ficará tudo deserto, sem água e sem pastagens; e os bens deles nada valerão e serão também eles obrigados a fugir, perdendo muito, senão tudo.

— E em troca?

— Tu lhes darás vales que vencerão juros e pagarás os vales em certo prazo.

— Mas...

Nada objetes, meio do meu sangue de Sepetai, mas meu sobrinho
inteiramente. Não sabes o que é a cobiça; não sabes o que é querer ter dinheiro sem trabalhar. Eles aceitarão na certa e, não sendo ricos em breve precisarão de dinheiro.

Eu vou pôr um "bazar" com o saco de cequins d'ouro que te resta e farei saber que desconto esses vales teus, em dinheiro ou em mercadoria. O pouco dinheiro que tens atrairá o deles, tu comprarás tâmaras, mas pagarás em vales que vencerão o juro de dois por cento, mas que eu descontarei a vinte, trinta e mais por cento.

— Se não quiserem descontar, tio que és sábio como o mais sábio dos ulemás, como há de ser?

— Tens o dinheiro dos teus parentes. Em começo, pagarás tudo em dinheiro. Mas teus parentes, precisando de dinheiro, irão, como te disse, procurar-me. Eu os atenderei imediatamente. A fama correrá e ninguém temerá receber os teus vales.

— Compreendo. E as tâmaras?

— Irás vendendo a bom preço e guardando o dinheiro, deixando que uma grande parte apodreça. Tu viverás na pompa, na grandeza, e um belo dia, em vez de eu descontar vales, adquiro-os com ágio. Toda a gente quererá os teus vales e encheremos as arcas de dinheiro.

— E no fim, no pagamento, como será?

— Marcarás um prazo longo, pela festa do Beirão, e daqui até lá teremos tempo de agir.

Hussein Ben-Áli AI-Bálec empregou todas as lábias que lhe ensinou Miquéias Habacuc. Seus tios e primos entregaram-lhe as economias, pois ficaram muito contentes que ele se lembrasse de defendê-los, de impedir a ser completa a miséria. Tio e sobrinho encheram os simplórios homens de todos os afagos, de todas as blandícias, e iniciaram a defesa das tâmaras, que era a própria defesa do vilaiete. Um único não quis entregar as terras de pastagem. Foi o tio que herdara as terras de pastagem. Dissera o velho:

— As tâmaras não são do gosto de todo o mundo e as que se colhem são de sobra para os que gostam delas. Hão de se as vender barato por força, pois são demais.

Hussein Ben-Áli AI-Bálec, porém, deu inicio à sua obra de grande eficácia para todo o vilaiete, ostentando uma riqueza, um luxo e uma magnificência que reduziram, fascinaram a imaginação do povo do lugar e das circunvizinhanças. O seu palácio foi aumentado; as suas estrebarias ficaram cheias de soberbos ginetes do Hedjaz, nas suas piscinas só corriam águas perfumadas — tudo ficou sendo um encanto no seu alcâçar e dependências. A fama de sua riqueza corria por toda a parte e até, em Argel, a branca, a guerreira, seu nome era falado. Dizia a boca do povo:

— Se todos fossem como Hussein Ben-Ali AI-Bâlec conquistaríamos todo o Magreb, expulsando os rumes.

O seu crédito ficou sendo tal que todo o dinheiro que havia naquelas terras entrou para as suas arcas. As tâmaras subiram de preço, de fato; mas pouco. Entretanto, enquanto vendia um terço, guardava dous. Miquéias Habacuc exultava, com os descontos que fazia e com o dinheiro que era trazido para as mãos do sobrinho. Só a irmã, a feroz Salisa, temia o fim e perguntava ao irmão:

— Como pagaremos tantos vales, se já gastamos o dinheiro deles e temos mais tâmaras guardadas que vendidas?

— Cala-te, irmã que és minha. Ai é que está a minha grande sabedoria.

O dinheiro amoedado desapareceu e os vales de Hussein corriam como moeda. No começo equivaliam ao seu valor em cequins; mas, bem depressa, para se comprar com eles um saco de trigo, tinha-se de gastar o duplo do que se gastava antigamente. O povo começava a desconfiar, quando veio rebentar a guerra de Abdelcáder, emir de Mascara. Andava ele precisando de homens e víveres. O emir, que sabia do prestígio de Hussein naquele vilaiete, oferece-lhe alguns milhares de libras turcas, para que mandasse homens.

Miquéias, que sabe do caso, intervém, e propõe que o sobrinho aceite, contanto que o emir lhe compre as tâmaras. O emir acede, paga as mil libras turcas, compra as tâmaras de que não precisava.
E Hussein convence os parentes que devem partir para os goums. Para isso falou como um santo marabute. Antes da festa do Beirão, época que era marcada para o vencimento dos vales, fugia, com a mãe, a feroz Salisa, o tio Miquéias Habacuc, homem hábil e esperto em negócios — cheios todos de ouro, ricos de apodrecer.

No vilaiete a população caiu na miséria, menos aquele tio de Hussein Ben-Áli Al-Bálec, que não quis entrar na defesa das tâmaras. Durante muito tempo, pastoreou as suas ovelhas e tosou os seus carneiros.

Os seus netos ainda hoje fazem a mesma cousa naquele lugarejo argelino, onde as inocentes tamareiras, se não constituem objeto de maldição, são tidas como simples árvores de adorno.

Fonte:
www.nead.unama.br

domingo, 17 de novembro de 2013

Héron Patrício (Caderno de Trovas)

Adeus, meu sonho perdido,
belo, imponente, palpável!",
disse a mulher ao marido
e ao seu "lixo reciclável"!

A família, reunida,
num projeto de futuro,
cultiva o amor, cria a vida,
põe clarões no mundo escuro!

A gente vê, de manada,
estrela...lua...e planeta...
Basta uma boa topada
numa quina de sarjeta!

A alvorada, em grande gala,
tece a rica fantasia
que faz do Sol, mestre-sala
na passarela do dia.

A minha trova sem ela
– a musa que eu sempre quis - 
é uma trova tagarela,
rima...rima.., e nada diz…

Angustiado, o olhar baço,
ele ao sono não se entrega
porque lhe falta o cansaço
que o desemprego lhe nega!

Antes de uma despedida,
que haja razões de verdade...
- Quem planta um adeus na vida,
um dia colhe saudade.

Antes um "não" que amargura,
antes um "não" que maltrata,
do que a terrível tortura
do teu silêncio - que mata!

Ao criar seu falso drama
o pessimista parece
aranha que tece a trama
e se enreda no que tece!

Ao sentir que a solidão
Vai comigo, em meu caminho,
Tenho a estranha sensação
De que nunca estou sozinho!

Apago as luzes...invento...
e faço tudo o que posso
quando a insônia é meu tormento
no quarto que já foi nosso!

“Apitando” mais que flauta,
- e com sonora potência -,
O Zé nem olha na pauta,
Vai de cor... na “flautulência”!

A quem luta com vontade,
tendo amor no coração,
Deus – a suprema bondade –
dá o problema... e a solução!

A saudade é um passarinho
em teimosa migração...
vem do passado, e faz ninho
nos beirais do coração.

As folhas, feito um tapete,
assoalhando o jardim,
são um tímido lembrete
de que a vida tem seu fim!

A tristeza é uma senhora,
minha velha conhecida,
que me rouba a luz da aurora
e põe noite em minha vida!

Botox... “sarada’... Aos setenta,
com silicone e requinte,
feito uns troféus ela ostenta
seus namorados de vinte.

Cai o luar, transparente,
sobre uma gota de orvalho
e cria um lindo pingente
que dá vida a um velho galho...
 
Cano curto. Olho cansado...
Assim, não foi por acaso
que o velho ficou molhado
quando foi regar o vaso.

Certos corações, fechados,
a bater no isolamento,
têm mais mistérios guardados
do que um cofre de avarento!

Cidadania é um perfeito
e amplo acordo natural
em que o peso do direito
tem, no dever, peso igual!

Coitadinha da infeliz,
com marido gordo, esférico,
arranjou amante, e diz:
- É meu marido... genérico!

Com a dentadura bamba,
que nem “Corega” grudava,
os dentes dançavam samba
cada vez que ele cantava!...

Com seus tons de cinza e neve
a garoa é um manto enorme
aconchegando, de leve,
a São Paulo que não dorme...
 
Desde os tempos de criança
conheço a grande verdade:
jovem vive de esperança,
velho vive da saudade!

Em nossas carícias quentes,
não pesa a idade, nem nada,
porque somos dois poentes
que explodem numa alvorada!

Em ofertório sagrado,
no altar da terceira idade,
com as rimas do passado
rezo em trovas de saudade.

Ergo um brinde... e faço a festa
aos que, honrando o seu dever,
caminham, de forma honesta,
nas vielas do poder!

Eu maldigo a madrugada
que joga luz nos espaços
e manda a rubra alvorada
tirar você dos meus braços!

Eu me recuso, tristeza,
a conviver com teu mundo:
-Vida que tem correnteza
não cria lodo no fundo!
 
Faz-se noite se te soltas
dos meus braços, indo embora..
- és meu sol! Só quando voltas
é que volta a luz da aurora!...

Foi-se a chuva... e a Lua cheia,
que no espaço azul flutua,
põe diamantes na bateia
da poça de água na rua!

Frutos de velhos fracassos,
nossos medos são um muro
limitando novos passos
nos caminhos do futuro.

Hoje, ao reler tuas cartas
com teu perfume marcadas,
vi que todas eram fartas
de mentiras perfumadas!

"Infiéis, os meus cabelos !",
saudoso, o careca chora ...
"Dei carinhos... tive zelos ...
mas foram todos embora!"

Luar... ourives de fama
que, pela mata orvalhada,
faz o engaste, em cada rama,
de uma gota iluminada!
 
Malandro, quando elegante,
detém qualidades raras:
tendo apenas um semblante
consegue ter duas caras.

Mesmo sem assinatura
o bilhete me revela
tanta meiguice e ternura
que eu sei que o bilhete é dela!

Minha saudade é defeito
que outra saudade requer,
pois, sempre que abro o meu peito,
encontro a mesma mulher...

Minha sogra me visita...
Dou-lhe beijinhos melosos...
- Ela finge que acredita...
Que dois grandes mentirosos!

Mulher nova me apetece,
cinco ou seis... nunca é demais.
Se mais saúde eu tivesse...
mentiria muito mais!

Não há ciência que possa
dar receita mais completa:
a ternura é mel que adoça
o coração do poeta!
 
Não ponham fogo na cana
- peço ecologicamente –
pois “cana boa” e bacana
é que põe fogo na gente!

Na sedução ninguém sabe
se há vencido ou vencedor,
que ao sedutor também cabe
ser escravo ou ser senhor!

Nas trovas de amor que eu teço
no meu tear de ilusão,
só faltam nome e endereço
de onde vem a inspiração...

Na voragem da procela
do combate interior
é que o homem se revela
se é escravo ou é senhor!

No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!

Nó na vida?... - Não me abalo,
desfazê-lo não me cansa,
pois consigo desatá-lo
com dois dedos de esperança!
 
Nos caminhos do Universo
eu sou caçador de estrelas,
e jogo o laço do verso
na esperança de prendê-las.

Nos momentos cruciais
em que o pranto é represado
o silencio fala mais
do que um discurso inflamado!

O balouçar da folhagem
- pequenas mãos dando adeus –
é a chuva, em sua passagem,
trazendo as bênçãos de Deus.

O cientista é poeta,
é trovador inspirado
que a pesquisa só completa
quando encontra o seu "achado".

O forró, diz meu amigo,
me esbraseia e deixa quente:
o esfrega-esfrega de umbigo
é um perfeito antecedente.

O forró ia animado;
de briga, nenhum perigo...
- Gostoso, que só pecado:
Era umbigo contra umbigo!…
 
O forte nó da saudade
amarra o tempo num laço
e aprisiona a mocidade
nas trovas de amor que eu faço.

O meu desejo transborda,
feito um rio ardendo em chama,
quando a saudade me acorda
sem você na minha cama!

O poeta é um ser aflito,
um eterno insatisfeito,
por ter um mundo infinito
no exíguo espaço do peito!

O sol parece fornalha
queimando tudo o que existe.
O chão, seco, a fome espalha...
mas, nordestino, resiste!

O sucumbir da virtude
ante o poder, é fatal:
é furo rompendo o açude
por onde escorre a Moral.

O tempo, pastoreando
nos sertões da mocidade,
foi, pouco a pouco, juntando
meu rebanho de saudade...
 
Pela ameaça da fome,
quando a seca teima e avança,
a chuva ganha outro nome,
passa a chamar-se... esperança!

Pondo bom senso no meio
quando surge a indecisão,
o medo parece um freio
a pedir calma e atenção...

Quando a folhagem fenece,
cobrindo o verde de luto,
o outono, em troca, oferece
a recompensa do fruto

Quando foi dada a partida,
com mil gametas brigando,
eu lutei por minha vida ...
e continuo lutando!

Quem casa com mulher feia,
um “bolo gordo”... um “canhão”,
anda atrás de um “pé de meia”
ou adora assombração!

Ratinho.. lobo... leão...
- mais alguns irracionais -
fazem da televisão
um reduto de... animais!
 
Se o mundo inteiro sorrisse
tão fácil como as crianças,
talvez não fosse tolice
sonhar e ter esperanças!

Sob um manto de neblina,
o sol, que o dia conduz,
aos poucos abre a cortina
e enche o seu palco de luz!

Sou poeta! O meu destino
é manter enclausurado
um coração de menino
num corpo velho e cansado!
 
Tecelã de ricas prendas,
a Lua, no seu tear,
com brilhantes tece rendas
no manto azul do luar!

Temos certeza da idade
quando as rugas do sol-posto
passeiam com a saudade
na tarde do nosso rosto.

Tempo é moinho rangendo
aos ventos da eternidade,
trigais de sonhos moendo
para o meu pão de saudade!
 
Uma estrela no infinito,
é recado que os ateus
recebem, com luz escrito,
sobre a existência de Deus!

Um coração vencedor
não perde, nunca, o combate...
- Quanto mais lhe bate o amor,
com mais amor ele... bate!

Fontes Principais:
http://www.ubtnacional.com.br/
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/
http://ubtrova.com.br/
Boletins da UBT – Nacional
Revista Virtual de Trovas Trovia
Boletins de vários Concursos.
Imagem obtida na internet

Héron Patricio (1931)

Héron Patrício, nasceu em Ouro Fino , Minas Gerais, a 17 de junho de 1931, quando foi dado de presente ao mundo pelo Sr Salvador Santos Patrício e Dona Genoveva Cadan Patrício .
 
Era uma criança muito saudável, porém magrinha. Um amigo vaticinou: vai crescer forte, inteligente, e até se tornará gordinho e Poeta... ("Mas que trem de mineiro advinhão, sô!").
 
O comboio ía correndo entre Ouro Fino e Pouso Alegre... Estávamos na década de 30. A locomotiva espalhafatosa bufava, chiava, apitava nas curvas. E aquele garoto, deslumbrado com a viagem, e com o rosto colado à vidraça do vagão, não compreendía porque naquela terra os postes de energia elétrica, as bananeiras e todas as árvores que margeavam a linha férrea "corriam" em sentido contrário ao do trem...Mas ele "via" que corriam! E para trás foi ficando o seu doce chão onde veio ao mundo, seu mundo de brincadeiras e de folguedos inocentes...
 
A máquina chiou, bufou, deu um vasto suspiro de alívio, frenou e "solavanqueou" os passageiros. O clã do nosso amigo estava chegando na cidade que escolheria para nova residência. E Pouso Alegre foi mesmo um "pouso alegre" para todos.
 
Foi logo providenciada escola para o menino, que viria a tornar-se um ótimo aluno. Foi nessa linda cidade que Héron começou a participar do movimento poético.
 
Em 1964 mudou-se para São Paulo, mas sempre dividiu, emocionalmente, sua residência entre a capital paulista e a cidade de Pouso Alegre.
 
É casado com a Trovadora Yêdda Ramos Maia Patrício. Nasceu-lhes a filha Patrícia, que lhes deu os netos Raphael e Daniel. Patrícia é casada com Flávio dos Santos Szelbracikowski.
 
Funcionário público federal aposentado (Auditor) é Contabilista, Professor e Advogado, exercendo, atualmente, a "nobre" profissão de Poeta/Trovador.
 
Além de ter seus trabalhos publicados em Jornais e Revistas de todo País, participou de "Meus Irmãos, os Trovadores" (Luiz Otávio), "Cigarras em Desfile" (trovas), "Garimpeiros de Sonhos" (Arcádia de Pouso Alegre), "Em Prosa e Verso" (Academia Pousoalegrense de Letras), "I Antologia de Trovas" (Livro Arte-SP), etc...
 
Desde 1994 é integrante da União Brasileira de Trovadores, Seção de São Paulo, onde ocupava uma vice-presidência.
 
Ocupa a cadeira número 17  da Academia Pousoalegrense de Letras.
 
Em francês "Héron" quer dizer "garça real", mas gostaríamos que quisesse dizer uirapuru, uai, pois quando ele "trova" nós, trovadores menores, emudecemos.
 
(Lavinio Gomes de Almeida). Biografia publicada no livro do 9º Concurso Nacional de Trovas de Barra do Piraí – 1998

1º Concurso da IV Etapa Projeto de Trovas Para uma Vida Melhor (Resultado Final) Grupo 1

TEMA: FAMÍLIA  
1º  LUGAR

A família quando unida
é chama com forte tocha,
que  irradia luz e vida
à casa feita na rocha.
LEDA COLETTI
Piracicaba/SP

2º Lugar

Com toda minha alma eu creio
e nesta tese me afundo:
a família é o grande esteio
que rege e sustenta o mundo.
ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES
Taubaté/SP

 3º Lugar

Com fé e calor de abraços,
partilhando o amor e o pão,
a família estreita os laços
em perfeita comunhão.
LEONILDA YVONNETI SPINA
Londrina/PR

MENÇÃO HONROSA

1. 
Família ideal é aquela             
onde há paz, docilidade;
por mais que seja singela,
tem um quê de majestade.
MARINA GOMES DE SOUZA VALENTE
Bragança Paulista/SP

2. 
Bons princípios semeando   
em permanente vigília
os pais vão edificando
toda a força da família.
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo  Horizonte/MG

3.
Sempre que um mal nos escolhe,
torna a jornada sofrida.
Se a família nos acolhe,
sobra força e segue a vida...
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS

4.
A sociedade futura
Só se manterá de pé,
Com uma família pura,
Cheia de Deus e de fé.
RAYMUNDO DE SALLES BRASIL
Salvador/BA

5.
Família, célula “mater”,
que traz para a sociedade
a influência do caráter
que se faz realidade!
GISLAINE CANALES
Porto  Alegre/RS

MENÇÃO ESPECIAL

1.  
Foram-se os filhos...Porém,
Deus me fez considerar:
- Família é  isto também:
crescer... e multiplicar!!!
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

2.
Nossa família perdura
enquanto o respeito, o afeto,
compreensão e ternura
dividem o mesmo teto!...
DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo/SP

3.
Vejo um lar abandonado,
sem família, sem ninguém!...
E ao longe, a voz do passado,
lembra a família de alguém!
Professor Garcia
Caicó/RN

4.
Amor de mãe – sem igual -
no altar da eterna vigília,
é imagem especial
na catedral da família!
DODORA GALINARI
Belo Horizonte/MG

5.
A família é um presente,
que devemos conservar:
mãe...pai...e os filhos da gente
são o tesouro do Lar!
DELCY CANALLES
Porto  Alegre/RS

TROVAS DESTACADAS PARA A CIRANDA

1.  
Se a família é um abrigo,
De ternura e de paixão,
Com muito orgulho hoje digo
Que a guardo no coração…
FERNANDO MÁXIMO
Avis/Portugal

2.
Não há amor mais profundo
como o que a família tem,
ele abarca todo mundo,
bebe o mar e o céu também
DONZILIA DA CONCEIÇÃO RIBEIRO MARTINS
Paredes/Portugal

3.
Família - um novo conceito - 
pois temos modificado
tudo aquilo que foi feito
em velho tempo passado...
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

4.
Caminhos de luz eu trilho
e feliz minh’alma brilha,
pois meu Sol –autor do brilho-
tem outro nome:  Família.
ANDRÉ BUENO OLIVEIRA
Piracicaba/SP

5.
Quem não tem família sente  
a triste ausência dos seus,
porque a família presente
faz-se um presente de Deus.
GABRIEL BICALHO
Mariana/MG

6.
Família, espinha dorsal,
coluna, eixo, pilar,
elemento estrutural
que faz, de uma casa, um lar...
DARLY O.BARROS
São Paulo/SP

7.
A paz de nossa guarida
 vencia tristeza e dor...
 É na família que a vida
 tem mais vida e mais amor.
 JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal/RN

8.
Minha mãe, pela família,        
sustinha amor sem engodos,
pois sempre a vi, em vigília,
até que chegassem todos!
JOSAFÁ SOBREIRA DA SILVA
Rio de Janeiro/RJ

9.
A maior felicidade
que se pode ter na vida,
no preceito da verdade,
é ter a família unida
RUTH FARAH NACIF LUTTERBACK
Cantagalo/RJ

10.
A família deve ser
um doce ninho de amor,
que aprimora o conviver
e ao caráter dá valor.
PALMYRA MARIA GOULART DUARTE
Rio de Janeiro/RJ

11.
Vem Deus, na luz da harmonia,
a família abençoar:
ofertando o pão do dia,
comungado em cada lar.
VANDA ALVES DA SILVA
Curitiba/PR

12.
A família reunida
pra fazer a refeição
é sinal de força e vida
servindo o pão da união.
ALFREDO BARBIERI
Taubaté/SP

13.
A maior felicidade
é ter a família unida,
é como a Santa Trindade,
lá no céu, e nós na vida!
GISELA ALVES SINFRÓNIO
Olhão/Portugal

14.
Seja em palácio ou favela,
brigam, mas amam também,
e se há feijão na panela
toda família vai bem
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO
São Paulo/SP

15. 
Da Família neste mundo,
anda esquecido o conceito,
porque o amor mais profundo
já não é amor perfeito!
MARIA JOSÉ FRAQUEZA
Fuseta/Portugal

16.
Damos graças pela vida
que levamos com lisura,
por nossa família unida
e a nossa alma sempre pura!
GENILTON VAILLANT DE SÁ
Vitória/ES

17.
Jesus, Maria, José:    
eis a família sagrada
que, por seu Amor e Fé,
pra sempre será louvada!
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ

18. 
No convívio resoluto.
Na relação da pessoa,
Vejo sempre que o bom fruto,
Nasce em família que é boa...
WANDISLEY GARCIA
Jales/SP

19.
Esta família preciosa
ninguém de nós escolheu;
cordial e generosa,
foi Deus quem nos concedeu!
GLÓRIA TABET MARSON
São  José dos Campos/SP

20.
Família sempre reunida,
para fazer oração,
pode viver desunida?
Tenho certeza que não.
JOEL HIRENALDO BARBIERI
Taubaté/SP

21.
"Família que reza o terço
permanece sempre unida";
 isto eu prezo desde o berço
 e vivo feliz da vida!
AMILTON MONTEIRO
São José dos Campos/SP

22.
Ter o amor no coração...
Numa invencível guarida
é certamente a missão
de toda a família e a vida!!!
ANA MARIA GUERRIZE GOUVEIA
Santos/SP

23.
A família é coração,
é um amor permanente
que forma elos de união,
e ninguém rompe a corrente.
OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
Parede/Portugal

24.
Acorda cedo o labor
da mãe que põe o café
na mesa do puro amor
e enlaça a família em fé.
ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

25.  A família bem formada
com equilibrio e união,
consegue em sua jornada
enriquecer a nação.
DALVA MARIA DE ARAUJO SALES
Santos/SP

26.
Família de lar cristão,
 Deus lhe dá muito valor,
porque é sempre uma lição
 com sala de aula de amor.
 JUDITE RAQUEL DAS NEVES FERNANDES
Góis/Portugal

27.
A família, como o norte,
com sua estrela polar,
ilumina muito forte
quantos a queiram amar.
JORGE A. G. VICENTE
Suiça

28.
A Família é acolhida,
é ninho de amor e união,
redil da paz e da vida,
da bondade e do perdão!
ANGELICA VILLELA SANTOS
Taubaté/SP

29.
Estrutura da família,
o casal anda distante:
de um lado, amor em vigília;
do outro, nos braços de amante.
GERALDO TROMBIN
Americana/SP
-
Fonte:
MIFORI
Montagem da Imagem = formatação por J. Feldman, com imagens obtidas na internet

1º Concurso da IV Etapa Projeto de Trovas Para uma Vida Melhor (Resultado Final) Grupo 2

TEMA: FAMÍLIA

1º Lugar

Se a pressão se faz maior
ante a paz em construção,
família é o esteio mor
que sustenta uma nação!
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

2° Lugar

Oh, berço da minha vida!
Família plena de amor...
A minha melhor guarida,
semente do meu valor.
LUIZ MORAES
São José dos Campos/SP

3° Lugar

A família reverbera
os bons valores humanos.
Dá rumo ao bem e modera
paixões e males insanos.
CYRO MASCARENHAS RODRIGUES
Brasília/DF

MENÇÃO HONROSA

1.
Se a família for suporte
dos filhos em comunhão,
todos acharão seu norte
bem seguros, pela mão!
MARYLAND FAILLACE
Santos/SP

2.
Aqui, no Japão, na França,
em todo o mundo, a saber,
a família é a esperança
que nunca deve morrer.
RAYMUNDO DE SALLES BRASIL
Salvador/BA

3.
Família grande na fé,
sempre unida se compraz;
segue  Maria e José,
vive a verdadeira paz !
NADIR NOGUEIRA GIOVANELLI
São José dos Campos/SP

4.
Toda família é celeiro
de cultura e tradição.
É o amor o mensageiro
que reforça essa lição.
LYRSS CABRAL BUOSO
Bragança Paulista/SP

5.
Jesus,  Maria e José...
A Família da trindade!
É a força da nossa fé...
Caminho, Luz e Verdade!
DÉCIO RODRIGUES LOPES
Mogi  das Cruzes/SP

MENÇÃO ESPECIAL

1.
Família é vida é louvor,
virtude e autenticidade.
Cultivá-la com amor,
Transforma a sociedade!
SEVERINO  JOSÉ DE BRITTO
Belém/PA

2. 
O instituto da família
nós devemos preservar:
ele é o farol na vigília,
jogando luz sobre o mar.
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

3.
Há mais sonhos em vigília
que no sono natural;
quando sonho com família,
mudo logo o meu astral!
MIFORI
São José dos Campos/SP

4.
Família, amor, união
é tudo que a gente quer...  
Marido honesto – um leão! –
defende  a prole e a mulher.
ANGELA GUERRA
Rio de Janeiro/RJ

5.
Elo profundo entre seres
a  família favorece ...
Com presença, com dizeres,
com amor ... superaquece !...
CRISTINA CACOSSI
Bragança  Paulista/SP

TROVA DESTACADA PARA A CIRANDA

1.
Era  santa  e  abençoada
a  família  de  Jesus.
Mas  isto  não  valeu  nada:
pregaram-nO  numa  cruz !
ANTÔNIO SIÉCOLA MOREIRA
Santa Rita do Sapucaí/MG

Fonte:
MIFORI

1º Concurso da IV Etapa Projeto de Trovas Para uma Vida Melhor (Resultado Final) Grupo 3 – Lingua Hispânica

TEMA: FAMÍLIA

1° Lugar

Si DIOS reina en la familia
mora la paz  y la unión
todo el mal se reconcilia
pues se vive en comunión.
LIBIA BEATRIZ CARCIOFETTI
Argentina

2° Lugar

 La familia hay que cuidarla
para que esté siempre unida,
siempre quererla y amarla
y tenerla protegida.
ÁNGELA DESIRÉE PALACIOS
Venezuela

3° Lugar

Si es la familia la unión
de sentimientos humanos;
es esa la solución.
para vivir como hermanos.
HILDEBRANDO RODRÍGUEZ
Venezuela

Mención Honorífica:

1.
La familia es la mejor
escuela de sentimientos,
la que brinda más amor
y supera desalientos.
JOSÉ HÉCTOR RODRÍGUEZ
Argentina

2.
Pivote y célula madre
de valores, la familia,
en el amor de Dios Padre
nos alberga y reconcilia.
 ALMENDRA VICTORIA AGUIRRE
Argentina

3.
No existe nada más bello
Que ver la familia unida,
Irradiando el fiel destello
De la esencia de la vida.
 CLAUDIO GARIBALDY MARTÍNEZ
República Dominicana

4.
Base de las sociedades,
fundamento que concilia
cuna de felicidades
sin dudas: ¡es la familia!
CATALINA MARGARITA MANGIONE - MARGA MANGIONE
Argentina

5.
La trova es el fino enlace
de la familia en el mundo,
con el poema renace
la paz y el amor profundo.
MANUEL SALVADOR LEYVA MARTÍNEZ
Venezuela

Mención Especial

1.
Con mi familia querida
sentí la felicidad,
al convivir siempre unida
sin conocer la maldad.
 AGUSTÍN CARLOS IMAZ ALCAIDE
França

2.
Si es célula la familia
de la mundial sociedad
su  amor estará en vigilia
y la paz será verdad.
 STELLA MARIS TABORO
Argentina

3.
Mientras viva un solo niño,
y un corazón se conmueva
por dar cobijo y cariño
¡Habrá una familia nueva!
GISELLE CASTILLO LÓPEZ
México

4.
La  familia es basamento
de la estructura social
donde el ser al nacimiento
construye el  propio ideal.
HÉCTOR JOSÉ CORREDOR CUERVO
Colombia

5.
Es núcleo fundamental
de la vida, la familia;
el bálsamo excepcional
que reconforta y  auxilia.
GISELA CUETO LACOMBA
USA

TROVAS DESTACADAS PARA A CIRANDA.

1.
La familia es el tesoro
más grande que poseemos,
cuidémosla como al oro...
sus valores conservemos.
ALICIA BORGOGNO
Argentina

2.
Silente entrega de amor
cada día es la familia,
donde perfuma la flor
que, unidos, todo concilia.
 MARIA CRISTINA FERVIER
Argentina

3.
La familia es el consuelo
en amarguras y penas,
la alegría y el anhelo
que fraguan bellas cadenas.
 María Oreto Martínez Sanchis
España

4.
Para comenzar el vuelo
en mi familia confío:
duele dejar este suelo
donde está todo lo mío...
 RAMÓN ROJAS MOREL
Argentina

5.
Familia siempre he tenido
la amo como al mar sagrado
lo tengo bien definido
grupo nuclear conformado.
 DR. RAFAEL MÉRIDA CRUZ
Guatemala

Fonte:
MIFORI

A. A. de Assis (Trovia n. 167 - novembro 2013)



Ciúme não é tolice;
ciúme é medo, meu bem.
Medo de ver o que é nosso
sendo dos outros também.
Adriano Carlos

Na velha igreja te ouço
sino alegre ... Estás dizendo
que há muito coração moço
em peito velho batendo.
Lilinha Fernandes

Longe de ti, triste eu passo
(se vivo mesmo, nem sei...).
É cada trova que eu faço
um beijo que não te dei...
Luiz Otávio
 

A resposta custou tanto,
demorou tanto a chegar,
que a esperança, lá num canto,
envelheceu de esperar.
Lucy Sother da Rocha

 

Nessa estrada em que trafego
nem sempre flores conquisto
pois sei que em terra de cego
quem tem um olho... é malvisto!
Antonio Juraci Siqueira – PA

Escrevem tanta besteira!
Parem com isso, de vez!
Pois quem des...fralda  bandeira
de... frauda   o  bom  português!...
Diamantino Ferreira – RJ

Tive tantas namoradas...
Tantas... Tantas... Que castigo!
Hoje estão todas casadas;
nenhuma delas comigo!
Hélio Azevedo de Castro – PR

Alvo da própria pirraça,
o Zé caiu do cavalo;
em vez de ganhar a taça,
na testa ganhou um galo.
Istela Marina – PR

Chega da farra na boa,
como quem acha que pode.
No escuro, beija a “patroa”...
sente na boca um bigode...
Jaime Pina da Silveira – SP

Um eremita perfeito
eu encontrei certo dia...
Era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
Olympio Coutinho – MG

Depois da aviária e a suína,
mais folga o aluno cobiça:
quer que venha, repentina,
a gripe  bicho-preguiça!
Roza de Oliveira – PR

Tentando aparentar trinta,
o cinquentão se “ferrou”.
Comprou um estoque de tinta,
mas... o cabelo acabou.
Wandira F. Queiroz – PR



 

Errar nunca foi demérito,
e eu também estou sujeito.
– Nem mesmo o velho pretérito
é totalmente perfeito.
A. A. de Assis – PR

Busco paz, serenidade...
Quando acho que consegui,
percebo que é só saudade
daquilo que eu não vivi.
Adélia Woellner – PR

Num jogo de sombra e luz
fui tomado de emoção,
ante a porta que conduz
o meu ao teu coração.
Agostinho Rodrigues – RJ

Jorram vidas, crescem flores
num ornamento que esmera,
aos campos com vivas cores
por conta da primavera.
Ari Santos de Campos – SC

Vão-se os dias... os milênios...
e, no anseio do saber,
cresce o delírio dos gênios,
fazendo o mundo crescer!
Carolina Ramos – SP

Nosso amor em demasia,
que importa? Cobre os espaços
quando veste a fantasia
e faz folia em teus braços!
Clenir N. Ribeiro – Austrália

Ter sempre a palavra certa
e a mão em paz estender;
ter a mão ao bem desperta
– isso se chama viver.
Conceição de Assis – MG

Coração de mãe é grande,
infinito como o amor.
Sua ternura se expande
como o perfume da flor!
Cônego Telles – PR

Era un niño silencioso...
Con la mirada me amaba,
y con un beso amoroso
¡sin tocarme me besaba!
Cristina Oliveira Chávez – USA

A saudade é relicário
guardado dentro da mente;
um mal que foi necessário
para tê-lo hoje presente.
Dáguima Oliveira – MG

Luta inglória é essa nossa,
minha e da enxada, dois loucos,
tudo em nome de uma roça
que a seca mastiga... aos poucos...
Darly O. Barros – SP

A mensagem foi pequena:
– Não me espere, por favor!
Não chores! Não vale a pena
chorar por um falso amor!
Delcy Canalles – RS

Contendo ideia completa
e pregando o bem geral,
um só verso de um poeta
pode torná-lo imortal!
Dari Pereira – PR

Menino pobre, sofrido,
perseverante, cresceu.
Hoje, a Deus agradecido,
esse menino sou eu!
Djalma da Mota – RN
 

Das ofensas de um irmão
não guardes nenhum rancor,
que um minuto de perdão
vale uma vida de amor!
Domitilla Borges Beltrame – SP

Sou livre, sem restrição,
mas afinal, para quê?
Mil vezes a escravidão...
mas juntinho de você.
Dorothy J. Moretti – SP

Sorte, aleatório caminho
que cada destino traça:
para alguns, tão farto vinho;
a outros, vazia taça.
Eliana Jimenez – SC

É no conflito da briga
que notamos como agem:
os falsos, com fel e intriga;
os bons, com brio e coragem.
Eliana Palma – PR

Minha saudade é um desvio
que a solidão me propõe
para fugir ao vazio
que a tua ausência me impõe!
Elisabeth Sousa Cruz – RJ

É meu o teu coração,
embora fujas de mim...
Teus lábios dizem que não,
mas teu olhar diz que sim!...
Ercy Maria Marques – SP

Para amainar meus cansaços,
num fim de tarde que tranço,
busco a rede dos teus braços,
meigos laços... meu descanso!
Flávio Stefani – RS

Eu redobrei a procura
e encontrei com tanto gosto
duas fontes de ternura
nas covinhas do teu rosto.
Francisco Garcia – RN

Embora o tempo me marque
com várias rugas na tez,
se um dia voltar ao parque
serei criança outra vez.
Francisco Pessoa – CE

O meu viver enfadonho,
só de amarguras composto,
põe as rugas do meu sonho
sobre as rugas do meu rosto!
Gislaine Canales – RS

Parece que o mundo inteiro
conquisto, ao imaginar
o vento, a vela e o veleiro
nas ondas verdes do mar.
Jeanette De Cnop – PR

Uma noite dura o pranto,
mas, chegando o alvorecer,
diz o salmista em seu canto:
volta a alegria e o viver.
Jessé do Nascimento – RJ

Cigana, linda boneca,
tu sondas meu coração,
na estranha biblioteca
da palma da minha mão...
Josafá S. da Silva – RJ

Tanta gente em si perdida
entre sombras se escondendo.
Cada dia é outra vida
que em disfarces vai morrendo.
José Feldman – PR

Ao rever o sítio antigo
do meu passado risonho,
a saudade andou comigo,
lembrando sonho por sonho.
José Lucas – RN

 Vinde, andorinhas, no estio,
festivas em tarde mansa,
pousar no último fio
que me resta de esperança!
José Messias Braz – MG

Um carro de bois chorão
que eu vi passar, à distância,
trouxe de volta o sertão
que povoou minha infância!
José Ouverney – SP

Nos garimpos desta vida,
que o destino abandonou,
eu sou bateia esquecida
que nem cascalho pegou.
José Valdez – SP

De tanto viver sonhando,
levo o meu barco, a sorrir,
tranquilamente aguardando
mais sonhos em meu porvir!
Lucília Decarli – PR

Após busca pertinaz,
descobri, um dia, a esmo:
- Só hei de encontrar a paz
na renúncia de mim mesmo!
Luiz Antonio Cardoso – SP

Novo estatuto vigora
nas leis do amor hoje em dia:
sei que vale mais o agora
do que a mais bela utopia!
Luiz Carlos Abritta – MG

Nunca mostres apatia
diante da luta na vida,
mas brinda com simpatia
e a inércia será vencida!
Mª Luíza Walendowski – SC

Juntando as tintas mais belas,
Deus, com sublime ousadia,
pinta milhões de aquarelas
no simples raiar do dia!
Ma. Madalena Ferreira – RJ

Ponho meus olhos no espaço
e tropeço entre as estrelas.
Penso em ti: entre elas passo
e nem sequer chego a vê-las.
Mª. Thereza Cavalheiro – SP

Resisto... mas, distraída,
minha razão nem percebe
quando a emoção atrevida
abre a porta... e te recebe!
Marilúcia Rezende – SP

Olhando a escada da vida,
eu me sinto uma criança
que espera achar, na subida,
o corrimão da esperança...
Martha Paes de Barros – SP

Saibam todos que o trabalho
ao homem bom enobrece;
mas quem não pega no malho,
seu espírito empobrece!
Maurício Friedrich – PR

Enfrente toda e qualquer
pressão da vida diária,
da maneira que puder,
na atitude necessária.
Mifori – SP

É na força a paixão
que posso me machucar...
Como dar meu coração
para quem não sabe amar?
Neiva Fernandes – RJ

Escute, esta é a voz do vento
que me traz doces cantigas,
invadindo o pensamento
de lembranças tão antigas.
Nilsa Alves de Melo – PR

No coração trago a estrada
e no olhar terras sem fim...
Mas a rotina, malvada,
fez cercas no meu jardim.
Olga Agulhon – PR

Nos extremos desta vida,
um contraste se percebe:
– A Terra chora a partida
daquele que o céu recebe!
Osvaldo Reis – PR

Na rua do devaneio,
teu desamor, eu suponho,
foi a carreta sem freio
que atropelou o meu sonho...
Pedro Melo – SP

A cor dos teus olhos faz
o que só fazem os vinhos:
me embriaga e é bem capaz
de embriagar os vizinhos.
Raymundo Salles Brasil – BA


Tudo na vida tem preço
e prazo de validade...
Quando tu vais, não te esqueço:
pago teu preço em saudade!
Renato Alves – RJ

Desato o nó da lembrança
e um facho de luz sem fim
me traz de volta a criança
que o tempo levou de mim.
Rita Mourão – SP

Transcendendo o imediato,
poesia é pura emoção.
Nela voamos, num jato,
da terra para a amplidão!
Roza de Oliveira – PR

O silêncio, embora mudo,
quando bem interpretado,
nada diz, mas fala tudo,
decidindo qual jurado...
Ruth Farah – RJ

Somente o amor verdadeiro
é por Deus abençoado;
e por não ser passageiro
é tão sublime e sagrado!
Roberto Acruche – RJ

No amor minha aprendizagem
com tantos erros se fez,
que não tenho mais coragem
de aprender tudo outra vez!
Sebas Sundfeld – SP

Com os elos da amizade,
entre versos nos guardamos;
com a trova na verdade,
bons amigos conquistamos.
Sarah Rodrigues – PA

Receio o destino incerto
de perder-me em teus encantos
e tornar-me um livro aberto,
esquecido... pelos cantos.
Sérgio Ferreira da Silva – SP

Velhice é mal que persiste
se a vida é trilha enfadonha...
É sombra invadindo triste
o espaço de quem não sonha.
Thalma Tavares – SP

Quando  o amor se distancia
e o sonho fica apagado,
não há feitiço ou  magia
que salve o encanto quebrado...
Thereza Costa Val – MG

Ah! Coração, tem cautela
e deixa de brincadeira!
Tens sonhos de Cinderela
e eu sou Gata Borralheira!
Therezinha Brisolla – SP

Doce palavra vibrante,
lapidada na emoção...
É a trova um raro brilhante,
moldado na nossa mão.
Vanda Alves – PR
 

Repletos, alguns cinzeiros
marcam longa madrugada,
perdida em meio aos ponteiros
de um tempo cheio de nada.
Vanda F. Queiroz – PR

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Alexandre O`Neill (Poesias Avulsas)

Albertina

"Albertina" ou "O inseto-insulto" ou "O quotidiano recebido como mosca"


O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstração, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto de beleza.
Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
que tantas vezes, arrastou pelos cabelos...
A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um inseto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava ...

Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...

- Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!

- Albertina! eu quero um verso que não há!...

Conjugal, provocante, moreno e azulado,
O inseto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.

E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado …

O Beijo

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escaracéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar…

Cão

Cão passageiro, cão estrito,
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara-lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado,
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
De remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, cão tétrico, maldito,
A desfazer-se num ganido,
A refazer-se num latido,
Cão disparado: cão aqui,
Cão além, e sempre cão.
Cão amarrado, preso a um fio de cheiro,
Cão a esburgar o osso
Essencial do dia a dia,
Cão estouvado de alegria,
Cão formal de poesia,
Cão-sonêto de ão-ão bem martelado,
Cão moldo de pancada
E condoído do dono,
Cão: esfera do sono,
Cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
Cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
Cão de olhos que afligem,
Cão-problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!

A central das frases

... já te disse que são os do primeiro...
... e afinal não pudémos telefonar...
... ai nem queira saber o engenheiro...
... se me dão licença eu vou contar...

... penses nisso era só o que faltava...
... não as outras duas é que são as tais...
... mas o senhor presidente autorizava...
... na avenida centenas de pardais...

... de facto muito inteligente...
... ó filha por aqui fazes favor...
... que veio ontem para falar com a gente...
... é mesmo lá ao fim do corredor…

Fala

Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar.

Inventário

Um dente d'ouro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um polícia que diz que garante

A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno

Um revolver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria

Um conde que cora ao ser condecorado
Um homem que ri de tristeza
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa

O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pe-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé

Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza

Um octogenário divertido
Um menino colecionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

Poema pouco original do medo
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos Sim
a ratos

Um adeus português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensangüentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Velha fábula em bossa nova

Minuciosa formiga
não tem que se lhe diga:
leva a sua palhinha
asinha, asinha.

Assim devera eu ser
e não esta cigarra
que se põe a cantar
e me deita a perder.

Assim devera eu ser:
de patinhas no chão,
formiguinha ao trabalho
e ao tostão.

Assim devera eu ser
se não fora
não querer.

(- Obrigado, formiga!
Mas a palha não cabe
onde você sabe...)

Fonte:

Alexandre O’Neill (1924 – 1986)

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões GOSE (Lisboa, 19 de Dezembro de 1924 - Lisboa, 21 de Agosto de 1986) foi um importante poeta do movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses.

Em 1943, com dezessete anos, publicou os primeiros versos num jornal de Amarante, o Flor do Tâmega. Apesar de ter recebido prêmios literários no Colégio Valsassina, esta actividade não foi grandemente incentivada pela família.1

Datam do ano de 1947 duas cartas de Alexandre O'Neill que demonstram o seu interesse pelo surrealismo, dizendo numa delas (de Outubro) possuir já os manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. Nesse mesmo ano, O'Neill, Mário Cesariny e Mário Domingues começam a fazer experiências a nível da linguagem, na linha do surrealismo, sobretudo com os seus Cadáveres Esquisitos e Diálogos Automáticos, que conduziam ao desmembramento do sentido lógico dos textos e à pluralidade de sentidos.

Por volta de 1948, fundou o Grupo Surrealista de Lisboa com Mário Cesariny, José-Augusto França, António Domingues, Fernando Azevedo, Moniz Pereira, António Pedro e Vespeira. As primeiras reuniões ocorreram na Pastelaria Mexicana. As posições antineorealistas eram frontais e provocatórias, tal como as atitudes contra o regime: em Abril, o Grupo retira a sua colaboração da III Exposição Geral de Artes Plásticas, por recusar a censura prévia que a comissão organizadora decidira impor. Com a saída de Cesariny, em Agosto de 1948, o grupo cindiu-se em dois, dando origem ao Grupo Surrealista Dissidente (que integrou, além do próprio Cesariny, personalidades como António Maria Lisboa e Pedro Oom).

Em 1949, tiveram lugar as principais manifestações do movimento surrealista em Portugal, como a Exposição do Grupo Surrealista de Lisboa (em Janeiro), onde expuseram Alexandre O'Neill, António Dacosta, António Pedro, Fernando de Azevedo, João Moniz Pereira, José-Augusto França e Vespeira. Nessa ocasião, Alexandre O'Neill publicou A Ampola Miraculosa como um dos primeiros números dos Cadernos Surrealistas. A obra, constituída por 15 imagens e respectivas legendas, sem nenhum nexo lógico entre a imagem e legenda, poderá ser considerada paradigmática do surrealismo português.

Depois de uma fase de ataques pessoais entre os dois grupos surrealistas (1950-52) e a extinção de ambos os grupos, o surrealismo continuou a manifestar-se na produção individual de alguns autores, incluindo o próprio Alexandre O'Neill. Em 1951, no "Pequeno Aviso do Autor ao Leitor", inserido em Tempo de Fantasmas, ele demarcou-se como surrealista. Nessa mesma obra, sobretudo na primeira parte, Exercícios de Estilo (1947-49), a influência deste corrente manifesta-se em poemas como "Diálogos Falhados", "Inventário" ou "A Central das Frases" e na insistência em motivos comuns a muitos poetas surrealistas, como a bicicleta e a máquina de costura.

Neste primeiro livro de poesia inclui o poema que o tornou célebre, "Um Adeus Português", originado num episódio biográfico que o próprio viria a contar, muitos anos mais tarde: no início de 1950, estivera em Lisboa Nora Mitrani, enviada do Surrealismo francês para fazer uma conferência. Conheceu O’Neill e apaixonaram-se. Meses mais tarde, querendo juntar-se-lhe em Paris, O’Neill foi chamado à PIDE e interrogado. Por pressão de uma pessoa da família, foi-lhe negado o passaporte. Coagido a ficar em Portugal, não voltaria a ver Nora Mitrani.

Não foi, de resto, a única vez que Alexandre O’Neill foi confrontado com a polícia política. Em 1953, esteve preso vinte e um dias no Estabelecimento Prisional de Caxias, por ter ido esperar Maria Lamas, regressada do Congresso Mundial da Paz em Viena. A partir desta data, passou a ser vigiado pela PIDE. No entanto, sendo um oposicionista, não militou em nenhum partido político, nem durante o Estado Novo, nem a seguir ao 25 de Abril – conhece-se-lhe uma breve ligação ao MUD juvenil, na altura em que abandona o Grupo Surrealista de Lisboa. A partir desta época, O’Neill foi-se distanciando de grupos ou tertúlias, demasiado irônico e cioso do seu individualismo para se envolver seriamente em qualquer militância partidária.

Em 1958, com a edição de No Reino da Dinamarca, Alexandre O’Neill viu-se reconhecido como poeta. Na década de 1960, provavelmente a mais produtiva literariamente, foi publicando livros de poesia, antologias de outros poetas e traduções.

A poesia de Alexandre O'Neill concilia uma atitude de vanguarda, (surrealismo e experiências próximas do concretismo) — que se manifesta no caráter lúdico do seu jogo com as palavras, no seu bestiário, que evidencia o lado surreal do real, ou nos típicos «inventários» surrealistas — com a influência da tradição literária (de autores como Nicolau Tolentino e o abade de Jazente, por exemplo).

Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletariado heróico criada pelo neorealismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor.

Temas como a solidão, o amor, o sonho, a passagem do tempo ou a morte, conduzem ao medo (veja-se "O Poema Pouco Original do Medo", com a sua figuração simbólica do rato) e/ou à revolta, de que o homem só poderá libertar-se através do humor, contrabalançado por vezes por um tom discretamente sentimental, revelador de um certo desespero perante o marasmo do país — "meu remorso, meu remorso de todos nós". Este humor é, muitas vezes, manifestado numa linguagem que parodia discursos estereotipados, como os discursos oficiais ou publicitários, ou que reflecte a própria organização social, pela integração nela operada do calão, da gíria, de lugares-comuns pequeno-burgueses, de onomatopeias ou de neologismos inventados pelo autor.

Alexandre O’Neill, apesar de nunca ter sido um escritor profissional, viveu sempre da sua escrita ou de trabalhos relacionados com livros. Em 1946, tornou-se escriturário, na Caixa de Previdência dos Profissionais do Comércio. Permaneceu neste emprego até 1952. A partir de 1957, começou a escrever para os jornais, primeiro esporadicamente, depois, nas décadas seguintes, assinando colunas regulares no Diário de Lisboa, n’ A Capital e, nos anos 1980, no Jornal de Letras, escrevendo indiferentemente prosa e poesia, que reeditava mais tarde em livro, à maneira dos folhetinistas do século XIX.

Em 1959 iniciou-se como redator de publicidade, atividade que se tornaria definitivamente o seu ganha-pão. Ficaram famosos no meio alguns slogans publicitários da sua autoria, e um houve que se converteu em provérbio: "Há mar e mar, há ir e voltar". Tinha entretanto abandonado definitivamente a casa dos pais, casando com Noémia Delgado, de quem teve um filho, Alexandre. Nesta época, instalou-se no Príncipe Real, bairro lisboeta onde haveria de decorrer grande parte da sua vida, e que levaria para a sua escrita. Neste bairro, encontraria Pamela Ineichen, com quem manteve uma relação amorosa durante a década de 1960. Mais tarde, em 1971, casará com Teresa Gouveia, mãe do seu segundo filho, Afonso, nascido em 1976.4

Fez ainda parte da redação da revista Almanaque (1959-61), publicação arrojada com grafismo de Sebastião Rodrigues onde colaboravam, entre outros, José Cardoso Pires, Luís de Sttau Monteiro, Augusto Abelaira e João Abel Manta.

A sua atração por outros meios de comunicação, que não a palavra escrita, é testemunhada pela letra do fado "Gaivota" destinada à voz de Amália, com música de Alain Oulman, tal como a colaboração, nos anos 1970, em programas televisivos (fora, aliás, crítico de televisão sob o pseudônimo de A. Jazente), ou em guiões de filmes e em peças de teatro. Em 1982 recebeu o prêmio da Associação de Críticos Literários.

Mas a doença começava a atormentá-lo. Em 1976, sofre um ataque cardíaco, que o poeta admitiu dever-se à vida desregrada que sempre tinha sido a sua, e que, apesar de algum esforço em contrário, continuou a ser. No início dos anos 1980, já divorciado de Teresa Gouveia, repartia o seu tempo entre a casa da Rua da Escola Politécnica e a vila de Constância. Em 1984, sofreu um acidente vascular cerebral, antecipatório daquele que, em Abril de 1986, o levaria ao internamento prolongado no hospital. Morreu em Lisboa a 21 de Agosto desse ano. A 10 de Junho de 1990 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a título póstumo.

Obras

Poesia


    1948 – A Ampola Miraculosa, Lisboa, Cadernos Surrealistas.
    1951 – Tempo de Fantasmas, Cadernos de Poesia, nº11.
    1958 – No Reino da Dinamarca, Lisboa, Guimarães.
    1960 – Abandono Vigiado, Lisboa, Guimarães.
    1962 – Poemas com Endereço, Lisboa, Moraes.
    1965 – Feira Cabisbaixa, Lisboa, Ulisseia.
    1969 – De Ombro na Ombreira, Lisboa, Dom Quixote.
    1972 – Entre a Cortina e a Vidraça, Lisboa, Estúdios Cor.
    1979 – A Saca de Orelhas, Lisboa, Sá da Costa.
    1981 - As Horas Já de Números Vestidas (Em Poesias Completas (1951-1981))
    1983 - Dezanove Poemas (Em Poesias Completas (1951-1983))

Antologias feitas na vida

    1967 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1965), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.
    1974 – No Reino da Dinamarca – Obra Poética (1951-1969), 3.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Guimarães.
    1981 – Poesias Completas (1951-1981), Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982.
    1983 – Poesias Completas (1951-1983), 2.ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1984.
    1986 – O Princípio de Utopia, O Princípio de Realidade seguidos de Ana Brites, Balada tão ao Gosto Popular Potuguês & Vários Outros Poemas, Lisboa, Moraes.

Antologias póstumas

    2000 – Poesias Completas, com inclusão de dispersos, Lisboa, Assírio & Alvim.
    2005 – anos 1970. Poemas Dispersos, Lisboa, Assírio & Alvim.

Prosa

    1970 - As Andorinhas não Têm Restaurante, Lisboa, Dom Quixote.
    1980 - Uma Coisa em Forma de Assim, 2ª edição, revista e aumentada, Lisboa, Presença.

Antologias feitas por O’Neill

1959 – Gomes Leal – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.
    1962 – Teixeira de Pascoaes – Antologia Poética (em colaboração com F. da Cunha Leão), Lisboa, Guimarães.
    1962 – Carl Sandburg – Antologia Poética, Lisboa, Edições Tempo.
    1963 – João Cabral de Melo Neto – Poemas Escolhidos, Lisboa, Portugália.
    1969 – Vinicius de Moraes – O Poeta Apresenta o Poeta, Lisboa, D. Quixote.
    1977 – Poesía Portuguesa Contemporánea / Poesia Portuguesa Contemporânea (em colaboração com a Secção de Literatura da Direcção Geral de Acção Cultural), edição bilingue, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura.

Discos de poesia

Alexandre O’Neill diz poemas da sua autoria – colecção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1010.
    Os Bichos também são gente – colecção «A Voz e o Texto», Discos Decca, PEP 1278.

Filmografia

    1962 – Dom Roberto
    1963 – Pássaros de Asas Cortadas
    1967 – Sete Balas Para Selma
    1969 – Águas Vivas
    1970 – A Grande Roda
    1975 – Schweik na Segunda Guerra Mundial (TV)
    1976 – Cantigamente (3 episódios da série)
    1978 – Nós por cá Todos Bem
    1979 - Ninguém (TV)
    1979 - Lisboa (TV)

Ator (Narrador)


    1933 – Las Hurdes, tierra sin pan
    1969 – Águas Vivas
    1971 – Sever do Vouga. Uma Experiência
    1976 – Máscaras

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_O%27Neill

Nilto Maciel (Contistas do Ceará) Introdução

Um dos mais completos e, ao mesmo tempo, sintéticos estudos da narrativa breve no Ceará intitula-se “Evolução e natureza do conto cearense”, de Braga Montenegro, incluído na revista Clã n.º 12, de 1952, e reeditado como apresentação de Uma Antologia do Conto Cearense, em 1965. O ensaio contém 35 páginas e é composto de oito partes. Inicia-se assim: “A evolução do conto cearense, durante a fase romântica e naturalista, se processou com bastante lentidão. Poder-se-ia mesmo afirmar que nada realizamos, no curso desse longo período, relativamente à arte de contar, não fosse uma que outra manifestação de talento logo sepultada na poeira do tempo”.

Outro estudo valioso se intitula “O Conto Cearense, de Galeno ao Grupo Clã”, de Sânzio de Azevedo, do livro Dez Ensaios de Literatura Cearense, de 1985. Contido em 31 páginas, este ensaio se originou de uma aula proferida em 3 de junho de 1983, na Universidade de Fortaleza, no curso de análise literária “Panorama do Conto Brasileiro”.

Em 2005 se publicou Panorama do Conto Cearense (Brasília; Fortaleza: Ed. Códice), deste autor – estudo histórico, no qual se mencionam todos ou quase todos os escritores nascidos no Ceará ou que nele viveram durante algum tempo e escreveram histórias curtas, com menção especial aos que se dedicaram mais ao gênero conto do que a outros e se sobressaíram, na visão dos historiadores e críticos.

É chegada a vez de se deixar de lado a cronologia, a História, a simples referência a nomes de escritores e títulos de livros e se passar ao comentário. Não exatamente a crítica literária, acadêmica ou não. Entretanto, não será possível analisar um a um todas as obras. Em compensação, ao lado das observações críticas virão alguns contos.

Como seria impossível comentar num só livro todos os contistas cearenses, ou todos os que publicaram pelo menos uma coleção de histórias breves, optou-se por uma seleção. Os mais importantes em suas épocas, segundo historiadores, críticos e, logicamente, o autor deste estudo. Desse modo, das centenas de escritores, selecionaram-se pelo menos dois, por época: século XIX, início do XX, Grupo Clã e assim por diante. Acredita-se, desse modo, que os leitores, sobretudo os mais dedicados ao estudo da Literatura Cearense, não discordarão da seleção dos nomes mais antigos, como Oliveira Paiva, Adolfo Caminha, Gustavo Barroso e Herman Lima.

Quanto à seleção dos contos, foi preciso ser mais exigente, ou seja, reduzir ainda mais a quantidade de contistas, para que o livro não se tornasse um volume de difícil publicação. Assim, foram escolhidos contos de alguns dos escritores comentados.

Leitores discordarão em relação aos nomes a partir do Grupo Clã e mais ainda depois de 1970, tendo em vista que a maioria está viva e escrevendo.

É pretensão do autor desta obra dar continuidade a ela, com a elaboração do volume 2, no qual serão estudados contistas mais novos e incluídos contos de alguns que aqui não tiveram narrativas transcritas.       

E o título do livro? Nada mais simples e objetivo do que Contistas do Ceará. Por que o subtítulo D’A Quinzena ao Caos Portátil? Como informa Sânzio de Azevedo em Literatura Cearense, o Clube Literário “floresceu no ano de 1886” e foi “responsável pelo surgimento de alguns dos maiores nomes da literatura no Ceará”. E mais esclarece: “O Clube Literário teve como órgão na imprensa a revista A Quinzena, que circulou de janeiro de 1887 a junho de 1888, perfazendo 30 números.” Acrescenta: “Ao lado de poemas românticos de Juvenal Galeno e das narrativas, igualmente românticas, de José Carlos Júnior ou Jane Davy (Francisca Clotilde), surgiam os contos cientificistas de Rodolfo Teófilo; o Realismo despontava, porém, com mais força e arte através dos contos de Oliveira Paiva.” Ou seja, com ela, A Quinzena, surgiram os primeiros grandes contistas cearenses. Mas não se pode omitir aqui a história da Padaria Espiritual, fundada em 1892. Muito menos seu órgão oficial, o jornal O Pão, que teve duas fases: a primeira, com seis números, naquele ano, e a segunda, iniciada em 1895, num total de 36 edições. Nele muitos contos se publicaram. Na outra ponta da História se vê a revista Caos Portátil, criada em 2005. Em quatro edições publicou quase todos os contistas cearenses contemporâneos.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

Lima Barreto (Manel Capineiro)

Quem conhece a Estrada Real de Santa Cruz? Pouca gente do Rio de Janeiro. Nós todos vivemos tão presos à avenida, tão adstritos à Rua do Ouvidor, que pouco ou nada sabemos desse nosso vasto Rio, a não ser as coisas clássicas da Tijuca, da Gávea e do Corcovado.

Um nome tão sincero, tão altissonante, batiza, entretanto, uma pobre azinhaga, aqui mais larga, ali mais estreita, povoada, a espaços, de pobres casas de gente pobre, às vezes, uma chácara mais assim ali. mas tendo ela em todo o seu trajeto até Cascadura e mesmo além, um forte aspecto de tristeza, de pobreza e mesmo de miséria. Falta-lhe um debrum de verdura, de árvores, de jardins. O carvoeiro e o lenhador de há muito tiraram os restos de matas que deviam bordá-la; e, hoje, é com alegria que se vê, de onde em onde, algumas mangueiras majestosas a quebrar a monotonia, a esterilidade decorativa de imensos capinzais sem limites.

Essa estrada real, estrada de rei, é atualmente uma estrada de pobres; e as velhas casas de fazenda, ao alto das meias-laranjas, não escaparam ao retalho para casas de cômodos.

Eu a vejo todo dia de manhã, ao sair de casa e é minha admiração apreciar a intensidade de sua vida, a prestança do carvoeiro, em servir a minha vasta cidade. São carvoeiros com as suas carroças pejadas que passam; são os carros de bois cheios de capim que vão vencendo os atoleiros e os "caldeirões", as tropas e essa espécie de vagabundos rurais que fogem à rua urbana com horror. Vejo-a no Capão do Bispo, na sua desolação e no seu trabalho; mas vejo também dali os Órgãos azuis, dos quais toda a hora se espera que ergam aos céus um longo e acendrado hino de louvor e de glória.

Como se fosse mesmo uma estrada de lugares afastados, ela tem também seus "pousos". O trajeto dos capineiros, dos carvoeiros, dos tropeiros é longo e pede descanso e boas "pingas" pelo caminho.

Ali no "Capão", há o armazém "Duas Américas" em que os transeuntes param, conversam e bebem.

Pára ali o "Tutu", um carvoeiro das bandas de Irajá, mulato quase preto, ativo, que aceita e endossa letras sem saber ler nem escrever. É um espécime do que podemos dar de trabalho, de iniciativa e de vigor. Não há dia em que ele não desça com a sua carroça carregada de carvão e não há dia em que ele não volte com ela, carregada de alfafa, de farelo, de milho, para os seus muares.

Também vem ter ao armazém o Senhor Antônio do Açougue, um ilhéu falador, bondoso, cuja maior parte da vida se ocupou em ser carniceiro. Lá se encontra também o "Parafuso", um preto, domador de cavalos e alveitar estimado. Todos eles discutem, todos eles comentam a crise, quando não tratam estreitamente dos seus negócios.

Passa pelas portas da venda uma singular rapariga. É branca e de boas feições. Notei-lhe o cuidado em ter sempre um vestido por dia, observando ao mesmo tempo que eles eram feitos de velhas roupas. Todas as manhãs, ela vai não sei onde e traz habitualmente na mão direita um bouquet feito de miseráveis flores silvestres. Perguntei ao dono quem era. Uma vagabunda, disse-me ele.

"Tutu" está sempre ocupado com a moléstia dos seus muares.

O "Garoto" está mancando de uma perna e a "Jupira" puxa de um dos quartos. O "Seu" Antônio do Açougue, assim chamado porque já possuiu um muito tempo, conta a sua vida, as suas perdas de dinheiro, e o desgosto de não ter mais açougue. Não se conforma absolutamente com esse neg6cio de vender leite; o seu destino é talhar carne.

Outro que lá vai é o Manel Capineiro. Mora na redondeza e a sua vida se faz no capinzal, em cujo seio vive, a vigiá-lo dia e noite dos ladrões, pois os há, mesmo de feixes de capim. O "Capineiro" colhe o capim à tarde, enche as carroças; e, pela madrugada, sai com estas a entregá-lo à freguesia. Um companheiro fica na choupana no meio do vasto capinzal a vigiá-lo, e ele vai carreando uma das carroças, tocando com o guião de leve os seus dois bois - "Estrela" e "Moreno".

Manel os ama tenazmente e evita o mais possível feri-los com a farpa que lhes dá a direção requerida. Manel Capineiro é português e não esconde as saudades que tem do seu Portugal, do seu caldo de unto, das suas festanças aldeãs, das suas lutas a varapau; mas se conforma com a vida atual e mesmo não se queixa das cobras que abundam no capinzal.

— Ai! As cobras!... Ontem dei com uma, mas matei-a .

Está aí um estrangeiro que não implica com os nossos ofídios o que deve agradar aos nossos compatriotas, que se indignam com essa implicância. Ele e os bois vivem em verdadeira comunhão. Os bois são negros, de grandes chifres, tendo o "Estrela" uma mancha branca na testa, que lhe deu o nome. Nas horas do ócio, Manel vem à venda conversar, mas logo que olha o relógio e vê que é hora da ração, abandona tudo e vai ao encontro daquelas suas duas criaturas, que tão abnegadamente lhe ajudam a viver. Os seus carrapatos lhe dão cuidado; as suas "manqueiras" também. Não sei bem a que propósito me disse um dia:

— Senhor fulano, se não fosse eles, eu não saberia como iria viver. Eles são o meu pão.

Imaginem que desastre não foi na sua vida, a perda dos seus dois animais de tiro. Ela se verificou em condições bem lamentáveis. Manel Capineiro saiu de madrugada, como de hábito, com o seu carro de capim. Tomou a estrada pra riba, dobrou a Rua José dos Reis e tratou de atravessar a linha da estrada de ferro, na cancela dessa rua.

Fosse a máquina, fosse um descuido do guarda, uma imprudência de Manel, um comboio, um expresso, implacável como a fatalidade, inflexível, inexorável, veio–lhe em cima do carro e lhe trucidou os bois. O capineiro, diante dos despojos sangrentos do "Estrela" e do "Moreno", diante daquela quase ruína de sua vida, chorou como se chorasse um filho uma mãe e exclamou cheio de pesar, de saudade, de desespero:

— Ai mô gado! Antes fora eu !…

Fonte:
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