A bela estátua consagra,
na perícia do escultor,
intensa arte que deflagra
cinzel de mágico autor.
À sombra da juventude,
vejo meu tempo passar,
e sinto, nesta amplitude,
a longa idade avançar...
As trovas mais desejadas
nesta vida sonhadora,
manifestam-se rimadas,
em minha alma trovadora...
A vida só nos ensina
o que ela mesmo contém,
e nem sempre nos destina
aquilo que nos convém...
Belos gestos de inocência,
bênçãos de amor despertaram,
e, nos trilhos da existência,
só saudade carregaram...
Bons momentos escondidos,
nas taças em esplendor,
revelam sonhos vividos,
nas asas tênues do amor...
Das chaminés do passado,
em uma bruma sem fim,
ressurge o sol decantado,
a trazer vida pra mim...
Denso grito das entranhas
ergue gemidos de dor,
toda vez que te emaranhas
nas raízes deste amor.
De tal crime sou culpada,
afirmo ser ré confessa.
Por desejo dominada
eu descumpri a promessa.
Do teu relógio os ponteiros,
marcam com exatidão,
tantos momentos fagueiros
vividos com emoção.
É meu desejo ser tua,
na mais doce e pura essência,
pois a verdade mais crua
é tua, minha existência.
Em meu retorno ao passado,
fantasias, ilusão,
ainda corro a teu lado,
nas ondas do coração...
Em teu olhar fascinante,
meu coração se perdeu,
e, mantém minha alma errante,
plena do amor que é só teu...
Enlaçados numa rede,
co’os pés à beira do mar,
saciamos a nossa sede,
na doida sede de amar...
Esquece o vento cortante,
desfeito em chuva e cansaços,
vem ninar minha alma errante
no aconchego dos teus braços.
Fitando o espelho do lago,
onde formosa eu a vi,
lembro a ternura que trago
dos momentos que vivi.
Grilhões, um dia partidos,
pela voraz servidão,
ressoam como estampidos
da vida sem solução.
Hoje sonhei acordada,
estava enfim delirante
e de tão apaixonada
até te fiz meu amante.
Incríveis fachos de luz
brilhavam de forma intensa,
na silhueta da cruz,
em sua forma mais densa...
Lampeiro o nobre gaúcho,
galopeia na fronteira,
ao trazer, com brilho e luxo,
amor por nossa bandeira
Lanço um grito à liberdade,
arranco-te do meu peito,
prefiro a dor da saudade
que o cativeiro em teu leito.
Meus sonhos, em grandes asas,
voam no azul infinito,
e fulgem tal como brasas,
por este céu tão bonito.
Minha mão em tua face,
teu corpo junto do meu,
não é verdade, é disfarce
de um sonho que já morreu.
Na defesa da floresta,
com arroubo e galhardia,
todo ser humano atesta
nobreza e cidadania.
Não te moleste o cansaço,
quando me houveres perdido.
Eu testemunho o fracasso
deste amor enlouquecido.
Nas tardes de primavera,
plenas de luzes e cores,
relembro aquela tapera
toda enfeitada de flores...
Navegando pelos mares
agitados da procela,
treme a nau dos meus pesares,
trazendo saudades dela...
Nobre gaúcho largado
campeia pela coxilha
e traz no peito encilhado
o santo amor farroupilha...
Numa noite enluarada,
de bela praia sem fim,
sinto a imagem ondulada
das vagas batendo em mim...
O eletrônico faz tudo.
Traz imagem, bonitinho,
porém me deixa mudo
e cada vez mais sozinho...
Ó meu doce canarinho,
abre as asas contra o vento
e leva, pelo caminho,
nas asas, meu pensamento...
O sol, em pano de fundo,
grande navio ancorado,
relembram rastros do mundo,
n’algum baú do passado.
Revolta a nada conduz,
impõe-se docilidade,
segundo de Deus a luz,
surge límpida a verdade.
Sendo tua, não importa
que destino eu possa ter.
A minha alma não suporta
o medo de te perder.
Se tu me amares querido,
sem o menor preconceito,
meu sonho tão proibido
há de voltar ao meu peito.
Solto, no mar, o barquinho,
no horizonte refletido,
vaga, nas águas, mansinho,
buscando o rumo perdido...
Suplico com humildade
permissão para te amar.
Porém se o medo te invade,
deixa-me ao menos sonhar.
Toda saudade guardada,
maciça dentro do peito,
estampa-se revelada
na solidão do meu leito.
Tristonho vento assobia
uma dolente canção
que se faz luz, melodia
na pauta do coração.
Vagando em revolto mar,
a embarcação solitária
lembrava um cisne a chorar,
numa ilha imaginária.
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