Vimos que cada verso
da trova deve ter sete sílabas poéticas, que não são contadas da mesma forma
que as gramaticais. As poéticas contam-se pela emissão de voz (fusão ou junção
de sons), agrupando-se as sílabas, geralmente quando há o encontro de duas ou
mais vogais fracas, ou, pelo menos, quando apenas uma delas é forte.
As sílabas poéticas
de cada verso são contadas até a última sílaba forte, também chamada tônica,
aguda ou longa. Convém ler os versos em voz alta, contá-los nos dedos e seguir
o ouvido. Quando houver dúvida, fazer a escansão do verso para ver se não está
de pé quebrado (nota do CDV: pé quebrado é quando o verso tem menos de 7
sílabas). Escandir um verso é dividi-lo em seus elementos métricos. Na contagem
das sílabas, procede-se como se não houvesse pontuação.
Vamos escandir uma
trova como exemplo, colocando barra entre as sílabas poéticas (cada uma com uma
emissão de voz), e pondo duas barras após a última sílaba tônica:
Felicidade,
surpresa
que
a vida às vezes nos faz…
Não
tem base nem firmeza,
e,
como é linda, é fugaz.
COLOMBINA
Fe/li/ci/da/de/
sur/pre//sa
quea/
vi/dás/ve/zes/ nos/ faz//
Não/
tem/ ba/se/ nem/ fir/me//za
e/co/moé/
lin/ dé/ fu/gaz//
Observe-se que as
sílabas de cada verso são contadas até a última tônica (pre, faz, me, gaz) e
cada verso tem sete sílabas poéticas, contadas pela emissão de voz. No 1o
e 3o verso do exemplo não se conta a última sílaba gramatical de
cada uma (sa, za), que vem depois das duas barras por ser fraca. A sílaba
fraca, aquela que não tem acento tônico, é também chamada átona, grave ou
breve.
Assim, o 1o
e 3o verso são versos graves, enquanto o 2o e o 4o
são versos agudos. Os agudos são os que terminam por sílaba tônica, acentuada.
Do ponto de vista gramatical, as últimas palavras do 1o e 3o
verso são paroxítanas; no 2o e no 4o, oxítonas. Em trova,
são muito pouco usados os versos esdrúxulos, que é quando o acento tônico cai
na antepenúltima sílaba, caso das palavras proparoxítonas,e, aí, desprezam-se
as duas últimas sílabas gramaticais, como no no 1o e no 3o
verso da trova a seguir:
É
todo prazer do vândalo
destruir
o que é sagrado:
“o
machado fere o sândalo
para
ficar perfumado”.
RODOLFO
C. CAVALCANTE
Fonte:
CAVALHEIRO, Maria Thereza. Trovas para refletir. SP: Edição do Autor, 2009.
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