quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Estante de Livros (O Homem que Adivinhava, de André Carneiro)


(texto de Marcello Simão Branco)
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Lançado originalmente em 1966.

André Carneiro faleceu em novembro de 2014, em Curitiba e nos deixou uma obra das mais significativas dentro da ficção científica brasileira. Muito atuante ainda antes de seu ingresso na FC, como jornalista e poeta, Carneiro tornou-se a partir dos anos 1960 no principal nome do gênero no país, e o mais publicado e reconhecido no exterior.

Três obras estabeleceram sua reputação a partir desta época. As coletâneas  O Diário da Nave Perdida (1963) e O Homem que Adivinhava (1966), ambas publicadas pela editora EdArt, e seu ensaio pioneiro Introdução ao Estudo da “Science-Fiction”, de 1967.

Em O Homem que Adivinhava, o autor retoma alguns dos temas de seu interesse já vistos em Diário da Nave Perdida. Mas longe estão de meras variações sobre os mesmos temas, pois ele os explora sob novos ângulos e pontos de vista, sobretudo a questão da incompreensão entre as pessoas e as várias formas com que essa incompreensão se manifesta.

A ficção científica de André Carneiro é sobretudo humanista, preocupada com os impactos que a ciência e a tecnologia podem ter sobre a sociedade e a cultura. Em O Homem que Adivinhava, somos expostos a níveis refinados de observações sobre a condição humana, mostrando mais uma vez como o autor é um crítico sensível sobre a ambiguidade do comportamento humano.

A coletânea apresenta oito histórias que se equilibram em termos de qualidade, o que é difícil em se tratando de um conjunto de trabalhos tão diferentes entre si. Talvez porque, além da semelhança no subtexto das narrativas, a prosa seja segura, fluente, com um estilo já maduro quando o autor tinha 46 anos, e que seria ainda mais desenvolvido nas décadas posteriores — ainda que o rico impacto de suas ideias e reflexões tenha obtido melhor resultado no conto e na novela, do que nos seus dois romances, Piscina Livre (1980) e Amorquia (1991).

A questão principal que permeia os contos de O Homem que Adivinhava são as dificuldades de comunicação, relacionamento e compreensão entre as pessoas. Se é verdade que esta dimensão ganharia contornos ainda mais complexos na sua coletânea Confissões do Inexplicável (2007), livro de notável riqueza psicológico-existencial, já nos anos 1960 Carneiro possuía pleno domínio da palavra e do que queria transmitir ao leitor ao contar-lhe uma história.

Alguns contos são aparentemente esquemáticos, como “Um Casamento Perfeito”, “Um Caso de Feitiçaria”, “Planetas Habitados” e “O Relatório Secreto”, mas a previsibilidade das ações não esconde o tratamento sutil a respeito das situações humanas, nem a afirmativa de que a vida moderna e tecnológica, ou a busca e a prática de rituais sobrenaturais, não conduzem à felicidade ou paz interior às pessoas. Ou então, que o que consideramos como certo ou normal guarda estreita — e nem sempre aceita — relação com um certo relativismo moral, trazendo ao primeiro plano virtudes esquecidas ou subestimadas, como humildade ou modéstia em relação tanto ao desconhecido no plano externo (“Planetas Habitados”), quanto no interno à mente (“O Relatório Secreto”), também deixando nas entrelinhas que não devemos nos levar tão a sério.

Duas histórias abordam mais de perto a questão do preconceito e desajuste social. Em “O Homem que Adivinhava”, um sujeito tem o dom da clarividência — enxerga o futuro de outras pessoas, mas isto acaba por conduzi-lo ao caminho fácil e traiçoeiro da fama rápida. Da mesma forma que as pessoas o bajulam, também o discriminam quando seus poderes começam a falhar. Já em “O Mudo”, o talento que diferencia o protagonista é mais sutil e mesmo discutível. Ele não fala e não ouve, mas tem uma sensibilidade apurada em lidar com as plantas. Vive num mundo marginalizado e particular, até que se apaixona e descobre o que as pessoas verdadeiramente pensam dele. As duas histórias trabalham com o preconceito da sociedade e a dificuldade dos personagens em lidar com suas diferenças; e Carneiro não é nem um pouco otimista quanto aos desdobramentos.

Duas noveletas estão mais próximas de temas tradicionais da ficção científica: “A Espingarda”, uma história de pós-holocausto nuclear, e “A Invasão”, sobre o contato com seres extra-terrestres.

“A Invasão” é uma curiosa história de fc ufológica e mostra como seria a reação da imprensa, dos políticos, dos militares, das pessoas do povo e dos cientistas ante a aterragem de dois gigantescos discos voadores numa floresta. O país destinatário do contato é Calamar, nome de um Brasil fictício, que não por coincidência vive sob uma ditadura militar. Assim, o autor pode se sentir mais livre para criticar a falta de transparência, a censura e a truculência dos militares no poder, e, sob o caos, lidar com um evento de interesse a toda a humanidade. O texto é narrado como se fosse apresentado em recortes, com flagrantes de comentários e noticiosos a respeito do evento, e mostra novamente como a questão do preconceito e da luta pelo poder está enraizada no comportamento das pessoas, ainda mais numa circunstância tão especial.

Carneiro é mais feliz, porém, com “A Espingarda”, um dos melhores textos de sua carreira. Incluída em Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica, antologia organizada por Roberto de Sousa Causo em 2007, é um relato angustiante sobre um sobrevivente do pós-holocausto que vaga à procura de comida, abrigo e, sobretudo, companhia humana, que resgate algum sentido à sua vida. A certa altura ele encontra uma pessoa, mas o contato não é pacífico, pois o outro vive cercado em uma casa de muros altos e brada para que o visitante vá embora, pois ele teria trazido a praga do sul do país. Como notou M. Elizabeth Ginway (in Ficção Científica Brasileira; 2005), há uma referência sutil à clivagem entre o Sul desenvolvido e industrializado e o Norte miserável e rural. Embora o Brasil tenha mudado desde então, a desigualdade regional continua significativa.

“A Espingarda” é um flagrante de um mundo que se desfez e deixou apenas restos aos sobreviventes. Tanto é que a imagem do homem com sua espingarda e a estrada como destino, não comunica um sentido de esperança, mas antes de solidão e incerteza sobre o que virá.

Publicado há 49 anos, O Homem que Adivinhava foi premiado como “Livro do Ano”, pela Câmara Municipal de São Paulo em 1966, e ilustra o destaque que o autor trouxe à fc brasileira, ao mostrar que, se realizada como literatura de qualidade, a questão do preconceito literário recua a um plano secundário. Ainda mais se o autor reflete de forma despojada e madura sobre temas importantes da condição humana, seja em que época, conjuntura tecnológica ou tipo de sociedade que estivermos inseridos.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Versejando 76

 

Martins Pena (Minhas aventuras numa viagem nos ônibus)

Depois de um baile, o que eu gosto mais é de uma viagem nos ônibus. Lá, como em marmota animada, veem-se cenas sérias, ridículas, engraçadas, enfim tudo que pode acontecer entre pessoas de diferentes condições. O modesto cruzado faz o que não tem podido fazer a imensidade de livros e sermões, pois nivela as condições, e estabelece uma completa igualdade entre todas as pessoas que o possuem e querem fazer uma viagem nos ônibus. Abençoados ônibus!

Fiquei tão entusiasmado que estou quase fazendo uma minuciosa pintura deles... porém, não; isto levaria muito tempo; vou antes dar a relação da minha última viagem.

Eu fui um domingo pela manhã às Laranjeiras com a intenção de voltar à tarde em um ônibus, assim o fiz. Às 6 horas já eu caminhava para comprar o meu bilhete, porém o ônibus ainda não tinha chegado, e eu tive de esperar com mais dois sujeitos que lá estavam.

"Ó compadre, dizia um deles para o outro, o ‘ônis’ não chega, já é muito tarde, e a comadre já deve estar arrenegada."

"Não faça caso... Oh! Ele ali vem!"

O compadre tinha razão, o ônibus vinha chegando.

"É desaforo! — dizia um deles — estas surpresas (empresas) públicas devem ter horas certas, e não fazerem a gente esperar. Há mais de um quarto de hora já nós devíamos estar assentados!"

Enfim o ônibus chega, e cada um de nós comprou o seu bilhete. Depois que as pessoas que vinham dentro saíram, eu e os dois compadres entramos, e nos assentamos. Daí a cinco minutos chegou uma bela menina acompanhada de seu paizinho, e fui tão feliz que ela se assentou junto de mim. Oh! Que deliciosa coisa é estar no ônibus assentado junto de uma bela moça! sobretudo quando ela não traz chapéu!!...

Em menos de dez minutos o ônibus estava com as pessoas que podia levar, e entre elas (ainda me lembra com zanga) estava um rapaz que me pareceu o namorado da minha vizinha, e que se tinha assentado defronte dela. Eu estive quase furando-lhe os olhos com a bengala, porém contive-me.

Já íamos principiar a nossa viagem, quando vimos um embrulho rolando pela estrada em direção a nós, e em pouco tempo percebemos que era uma pobre mulher gorda como uma baleia, que corria a botar os bofes pela boca, para poder achar ainda um bilhete. Coitadinha! Ficou lograda! Que caretas que fez! Como eu tive pena dela, aconselhei-a que viesse rolando até a cidade, e em troco deste bom conselho deu-me uma descompostura formal. E deem lá conselhos!

"O Senhor Juca ainda não pagou", disse o recebedor, dirigindo-se para o namorado de minha vizinha.

"Aqui está o dinheiro!", e puxando por uma nota de 5$ que ele teve o cuidado de fazer que a sua amada visse, entrega ao recebedor.

"Eu já lhe dou o troco."

"Não é preciso, não é preciso, eu não faço caso de 5$." E depois de mostrar este heroico desprezo, olhou impavidamente para a sua amada. Bravo, bravíssimo, disse eu, isto vai às mil maravilhas! Assim é que se namora!

Por mais esforços que fizesse o recebedor para que o nosso namorado recebesse o troco, não foi possível.

Enfim partimos com grande satisfação dos dois compadres, e ainda não tínhamos dado vinte passos, quando o ônibus passando por uma vala deu um forte salto, e a minha vizinha com o solavanco caiu por cima de mim! Se eu fosse administrador dos ônibus, mandava fazer valas por todo o caminho, e morava dentro de um deles.

Logo que principiamos a nossa viagem, eu senti que me pisavam o pé, Em princípio pensei que seria acaso, porém eu recuava o meu pé, e o outro acompanhava-o sempre pisando. Por fim, estando já um pouco zangado com a teima, olho e vejo que era o nosso namorado que porfiava a pisar no meu pé, pensando pisar no da sua amada! Na verdade, tive vontade de dar uma risada, porém achei que era mais divertido desfrutá-lo um pouco, e logo que tive esta ideia, arrumo o pé que estava livre em cima do pé do sujeito. Oh! se vissem o prazer que brilhou nos seus olhos! Ele fazia trejeitos, revirava os olhos, lambia os beiços, enfim todas as asneiras que é capaz de fazer um namorado. O brinquedo já não me ia agradando muito, porque os calos principiavam a doer-me, e o namorado, achando pouca sensibilidade no pé, pisava cada vez mais forte. Por fim, já não podendo aturá-lo por ter machucado o meu melhor calo, disse-lhe muito arrebatadamente: "O senhor pretende alguma coisa? Se me quer falar, não é preciso pisar-me."

Todos olhavam espantados para mim, o sujeitinho ficou branco como a cal, e a minha vizinha olhou para mim com tanta raiva que quase lhe disse: “Minha bela senhora, ainda que eu tenha muita sensibilidade nos pés, pode pisar neles todas as vezes que quiser.” Porém como não queria envergonhá-la, e como também o paizinho já olhava de través para mim, calei-me, e no meio de seus arrufos, e das ameaças que me fazia o namorado, chegamos ao Largo do Machado. Aí principiou uma contestação entre os dois compadres.

"Ó compadre", dizia um deles apontando para uma bandeira holandesa que estava em um mastro, "sabes que bandeira é aquela?"

"Sei, respondeu o outro, é bandeira francesa."

"Pois não é! A bandeira francesa é perpendicular, e esta é às avessas."

"Às avessas! Ah! Ah! Essa não é má! – replica-lhe o outro - Assim não é que se diz, compadre. Você deve dizer: a bandeira francesa é perpendicular, e a holandesa oriental (horizontal)."

Uma risada geral apoderou-se de todas as pessoas que vinham no ônibus, e os dois compadres, desconfiando, por isso saíram, e continuaram a sua viagem a pé, fazendo deste modo esperar a comadre.

"Para! para!" gritaram de uma porta na Rua do Catete. O ônibus para, e entra uma mulher velha e feia como uma bruxa. Ela se assenta a meu lado, mas enfim havia compensação, se tinha uma velha de um lado, tinha uma moça de outro.

"O senhor gasta?" diz-me a velha puxando pela manga de minha casaca.

Eu calado.

"O senhor tem tabaco?" torna a insistir a bruxa.

Ora, como desta vez eu podia mostrar a minha vizinha que eu não era nenhum tolo, e que sabia meu bocado de francês, respondo em voz alta: Je n'en ai pas.

"Eu não peço jenipapo, eu peço tabaco", responde-me a velha.

Desta vez fui o alvo das risadas, O nosso namorado, achando ocasião de vingar-se, ria como um doido, e a minha vizinha fazia coro.

No meio destes e outros muitos acidentes, chegamos ao Largo do Rocio. Cada um tomou para seu lado. A minha ex-vizinha deu o braço ao paizinho, e encaminharam-se para a Rua dos Ciganos, e o namorado, que tinha talvez que fazer, e não podia acompanhá-la, ficou olhando com olhos de lula, até que ela desapareceu.

Eu fui para casa, jurando passear nos ônibus todas as vezes que pudesse.

Fonte:
Periódico Correio das Modas. Rio de Janeiro, RJ: 26 de janeiro 1839, pp. 30-32. Disponível em O Poeteiro.

Fernando Pessoa (Caravela da Poesia) XXVIII

“CLAREIA CINZENTA A NOITE DE CHUVA”

 
Clareia cinzenta a noite de chuva,
Que o dia chegou.
E o dia parece um traje de viúva
Que já desbotou.

Ainda sem luz, salvo o claro do escuro,
O céu chove aqui,
E ainda é um além, ainda é um muro
Ausente de si.

Não sei que tarefa terei este dia;
Que é inútil já sei...
E fito, de longe, minha alma, já fria
Do que não farei.
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“COMEÇA, NO AR DA ANTEMANHÔ
 
Começa, no ar da antemanhã,
A haver o que vai ser o dia.
É uma sombra entre as sombras vã.
Mais tarde, quanto é a manhã
Agora é nada, noite fria.

É nada, mas é diferente
Da sombra em que a noite está;
E há nela já a nostalgia
Não do passado, mas do dia
Que é afinal o que será.
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“COMO ÀS VEZES NUM DIA AZUL E MANSO”
 
Como às vezes num dia azul e manso
No vivo verde da planície calma
Duma súbita nuvem o avanço
Palidamente as ervas escurece
Assim agora em minha pávida alma
Que súbito se evola e arrefece
A memória dos mortos aparece…
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“COMO É POR DENTRO OUTRA PESSOA”
 
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Como que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
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“COMO NUVENS PELO CÉU”
 
Como nuvens pelo céu  
Passam por mim.
Nenhum dos sonhos é meu  
Embora eu os sonhe assim.

São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transforma?
Que coisa inútil me dói?

Figueiredo Pimentel (A Princesa dos Cabelos de Ouro) parte III, final

 III – NOVAS FAÇANHAS DO PAJEM FORMOSO

– Consentirei em me casar com o príncipe Frederico, se me trouxeres um pouco da água da gruta Tenebrosa. É uma gruta que existe perto daqui, com dez léguas de circunferência; sua entrada é guardada por dois dragões que impedem a aproximação de qualquer mortal, deitando fogo pela boca e pelos olhos, de sorte que não pode escapar da morte quem se aventura a ali penetrar. Quando se desce à gruta vê-se a duzentos passos um único buraco, que é ao mesmo tempo entrada e saída. Esse buraco está cheio de serpentes, cobras, lacraias, em suma, toda a espécie de bichos venenosos. No fundo dele é que está a fonte da Beleza e da Saúde. É essa água que eu quero. Quem se lavar com ela se é velho, fica moço; se é doente, são; se é feio, torna-se bonito; e se é bonito torna-se lindo como os amores. Compreendes, Formoso, que não posso deixar meu reino sem ter essa água. Vai e traze-me um frasco cheio dela.

– Princesa, disse o pajem, sois tão bela que esta água vos é inútil. No entretanto, seja feita a vossa vontade: irei buscar o que deseja embora na certeza de não voltar.

A princesa dos Cabelos de Ouro, não mudou de resolução e o pajem partiu no dia seguinte em direção à gruta.

Sabendo do destino que levava, dizia toda a gente:

– É pena que um moço tão bonito, tão amável, vá à fonte dos Dragões. Nem que fossem mil soldados cada qual mais valente, lá ficariam, quanto mais ele, que vai só. Para que anda a princesa a pedir impossíveis?

O pajem, entretanto, caminhava sempre. Chegando ao alto de uma montanha, sentou-se para descansar. Deixou o cavalo pastando e Sultão começou a seguir alguns pássaros. Formoso sabia que a gruta era por ali perto, e olhava para ver se distinguia alguma coisa.

Descobriu afinal um rochedo, negro como tinta de onde saía fumaça. Após dois minutos, viu um dragão que deitava fogo pelas goelas, com o corpo malhado de preto e amarelo, e uma grande cauda que se enroscava numa infinidade de voltas.

O cachorrinho latiu, assim que avistou tão medonho bicho, e não sabia onde se esconder, tanto era o medo que tinha.

O pajem, estando resolvido a morrer, apanhou a garrafa que a princesa lhe dera para encher. Com a outra mão segurou na espada, dirigiu-se para a entrada da gruta, e disse ao cãozinho:

– Tudo está acabado para mim. Nunca poderei apanhar esta água, guardada por dois dragões. Quando eu morrer, meu leal Sultão, enche a garrafa com o meu sangue, e leva-o à princesa, para que ela veja quanto custou o seu capricho. Volta em seguida para o reino do nosso senhor e conta-lhe a minha desgraça.

Havia apenas acabado de proferir tais palavras, quando ouviu:

– Formoso, Formoso!

– Quem me chama? indagou. Olhando em torno viu por acaso no buraco de uma velha árvore, uma coruja, que lhe disse:

– Há tempos livraste-me de um laço que caçadores me tinham armado. Salvaste-me a vida. Quero te pagar essa dívida. Dá-me a garrafa que irei buscar a água da fonte da Beleza e da Saúde.

Formoso deu-lha, e, em menos de um quarto de hora, viu a coruja de volta com o vaso cheio.

Montou a cavalo, e apressadamente cavalgou para o palácio da princesa, depois de agradecer muitíssimo ao pássaro aquele favor que lhe fizera, livrando-o da morte.

Apresentou à moça a garrafa; e ela agradecendo, deu ordem para que se preparasse tudo para a sua viagem.
***
No entanto a princesa achava Formoso cada vez mais amável, e dizia:

– Se quisesses eu te teria feito rei, e não teríamos partido do nosso reino.

Ele, porém, respondia:

– Nem por todos os reinos da terra, eu seria capaz de trair meu amo, conquanto vos considere mais linda que o sol.

Passados alguns dias, a comitiva chegou, enfim à grande cidade do rei Frederico, que sabendo da vinda da princesa dos Cabelos de Ouro, foi ao encontro, levando os mais belos e ricos presentes do mundo.

Semanas após, casou-se o rei com a princesa. A moça, entretanto, que amava Formoso do fundo de seu coração, só estava satisfeita quando o via, e vivia sempre a louvá-lo.

– Eu não seria tua esposa, Frederico, se não fosse Formoso, que fez coisas impossíveis. Por minha causa, deves ser-lhe grato. Se não fosse a sua intrepidez, eu não possuiria a Água da Beleza por meio da qual nunca envelhecerei, e serei eternamente bela.

Os intrigantes, que ouviram a rainha, disseram um dia ao rei:

– Vossa real majestade não é ciumento, e tem contudo bastante motivos para o ser: a rainha gosta tanto de Formoso, que não come no dia que não o vê. Elogia-o a todo o momento; diz que lhe deve muitas obrigações; que ele é um herói como se outro qualquer que fosse designado a embaixada não fizesse tanto como ele.

– Na verdade, previno-me a tempo. Prendam-no na torre com ferros nos pés e nas mãos, ordenou ele.

Os intrigantes e invejosos, que não viam com bons olhos as atenções e honras que os soberanos prestavam a Formoso, apressaram-se em cumprir a ordem real.

Encarcerado nos lôbregos e úmidos subterrâneos da torre, Formoso vivia isolado e esquecido, exceto pelo carcereiro que, assim mesmo, lhe atirava por um buraco um pão duro e lhe dava água numa caneca de ferro.

Todavia, Sultão, o seu fiel cão, não o abandonou. Todos os dias vinha visitá-lo, e contava-lhe as novidades ocorridas no palácio.

Quando a princesa soube da desgraça que acontecera ao pajem, lançou-se aos pés do rei, pedindo o perdão do corajoso mancebo. Frederico, porém, enfurecido pela proteção de sua mulher ao pajem. maltratava cada vez mais o pobre moço.

Torturado de ciúmes, julgando que não era bonito, a ponto de não saber fazer-se amar pela esposa, o rei resolveu lavar o rosto com a preciosa água da Fonte da Beleza, que se achava numa garrafa sobre a toilette da rainha, onde ela própria a guardava, para melhor a vigiar.

Aconteceu, porém, que uma das criadas, indo uma vez espanar o lavatório, desastradamente atirou a garrafa ao chão, quebrando-a, e perdendo assim todo o precioso líquido.

Amedrontada, foi aos aposentos do rei Frederico, e apanhou uma garrafa, em tudo semelhante à que quebrara e substituiu-a.

A água que essa outra encerrava tinha a particularidade de matar a pessoa que lavasse o rosto com ela.

Frederico, que não sabia da troca feita pela criada, lavou-se na água e morreu pouco depois.

O cãozinho, assim que soube da morte do rei, chegou perto da rainha e disse-lhe:

– Linda rainha, não vos esqueçais do pobre Formoso.

A rainha, lembrando-se das penas e maldades que por sua causa o pajem sofrera, correu à torre, e com as suas próprias mãos tirou os ferros que torturavam o pajem.

Depois, colocando-lhe uma coroa de ouro sobre a cabeça e o manto real sobre os ombros, exclamou:

– Vem, amável Formoso, faço-te rei e tomo-te para meu esposo.

Os invejosos e perversos cortesãos que tanto haviam intrigado o ex-pajem, foram condenados à pena última, e subiram à forca.

Um ano depois, findo o luto, a princesa dos Cabelos de Ouro celebrava o seu casamento com o valente Formoso, realizando-se imponentes festejos que duraram sete dias e sete noites, toda uma semana de folguedos, luminárias, bailes públicos, espetáculos gratuitos, e mil festejos diversos.

Fonte:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Adega de Versos 45: Gilson Faustino Maia


 Curiosidade: Como surgiu a expressão "Cabra da peste"

    Existe mais de uma versão para a origem da expressão, que até hoje possui duplo sentido. "Em geral, é usada para designar o sujeito destemido, mas também pode ser dita em tom de ofensa, quando a valentia vira prepotência", diz o linguista Flávio de Giorgio, da PUC-SP.

No Dicionário do Folclore Brasileiro, o folclorista Luiz da Câmara Cascudo afirma que "cabra" era como os navegadores portugueses chamavam os índios que "ruminavam o bétel", uma planta com folhas de mascar.

Com o passar do tempo, o bicho pode ter virado sinônimo de homem forte por causa de seu leite, considerado mais denso e nutritivo que o da vaca. Tudo indica que a associação com "peste" surgiu por causa da má fama da cabra, considerada um animal simpático ao diabo na tradição sertaneja. Vale lembrar que os nordestinos também usam a palavra "peste" para nomear doenças graves.

Assim, o "cabra da peste" seria o sertanejo que sobreviveu superando todos os sofrimentos, "da dentição difícil, do sarampo certo, da caxumba, da desidratação inevitável, da catapora, da coqueluche, da maleita e do amarelão, e de tudo mais que atormenta a vida de um cristão nascido no Nordeste", como sugere o folclorista Mário Souto Maior no livro Como Nasce um Cabra da Peste.

"Por tudo isso, a expressão completa só deve ter surgido por volta do século 17", afirma Flávio. Mas alguns especialistas defendem outra hipótese.

A expressão seria uma variação de "cabra-de-peia", também usada para indicar a valentia do nordestino, que apanhava sem reclamar. "Depois de açoitada com a peia (chicote), a vítima era obrigada a beijar o açoite na mão do seu algoz", diz o etimologista Deonísio da Silva, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Fonte da Imagem e da explicação: Blog do Arretadinho (Joaquim Dantas)

Sammis Reachers (Ei, você, me dá esse dinheiro aí)

A dupla da linha 49-2 (Fonseca x Icaraí circular) Antônio Marcone e Gilberto "Infernal", circulando num moderno veículo 'piso baixo', automático, avançava tranquilamente pela praia de Icaraí, em Niterói.

Ao aproximarem-se daquele que é o segundo ponto da praia, o motorista Marcone, homem tranquilo e boa praça, percebeu algo inusitado. Um indivíduo, notando de relance a  aproximação do ônibus, tirou sua mão do bolso da calça para fazer sinal. Ao arrancar bruscamente a mão, uma nota saiu desapercebidamente de seu bolso e caiu ao chão. Marconi comentou o fato com o 'cobra' Gilberto, apenas a título de curiosidade.

Pois bem: ao parar a viatura e abrir a porta para o embarque do cidadão, por sinal o único passageiro do ponto, Marcone fez menção de avisar ao mesmo sobre a nota. Mas, quando ia abrir a boca, Gilberto (que estava em sua roleta bem ao lado da porta dianteira, como é comum nesses veículos 'piso baixo') se antecipou e disse para o cidadão, com a maior das caras de pau:

- Por favor cidadão, você pode pegar aquela nota ali pra mim?

O coitado do indivíduo, pego de surpresa, simplesmente apanhou a sua própria nota que caíra e entregou de mão beijada a Gilberto...

Detalhe: eram míseros dois reais...

Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Concurso de Trovas da ATRN e UBT Seção Natal/RN (Trovas Premiadas)

ATRN – Academia de Trovadores do Rio Grande do Norte
UBT – União Brasileira de Trovadores


NACIONAL/INTERNACIONAL
VETERANOS

Tema: Tapera (l/f)

1º Lugar
De uma tapera caindo,
chega uma voz aos pedaços.
Canta o milagre mais lindo,
a mãe e o filho nos braços.
Albano Bracht
Toledo/PR

2º Lugar

Do que restou da tapera
sinto pesar nos meus ombros;
e a esperança ainda espera
soterrada nos escombros!
Edmar Japiassu Maia
Miguel Pereira/RJ

3º Lugar

Vai-se no tempo a quimera...
e a juntar reminiscências,
a saudade é uma tapera
habitada só de ausências!
Antônio de Oliveira
Rio Claro/SP

4º Lugar

Uma tapera, um roçado,
a rede, a viola, um cão...
e um caboclo apaixonado
num retrato do sertão...
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo/SP

5º Lugar

Mil prédios pela cidade
e em nenhum, porém, impera
a régia hospitalidade
que há numa humilde tapera!...
Cléber Roberto de Oliveira
São João de Meriti/RJ

6º Lugar

Minha tapera, a viola
e essa morena querida,
é tudo que mais consola
um seresteiro, na vida.
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG

7º Lugar

A tapera em pé resiste,
se é um reino de amor e paz.
Mas é uma ruína triste,
se é de um lar que se desfaz!
Jaime Pina da Silveira
São Paulo/SP

8º Lugar

Pelo sertão resplandece,
o predomínio, absoluto,
do intenso amor que enriquece,
a tapera de um matuto!...
Ailto Rodrigues
Nova Friburgo/RJ

9º Lugar

Na meninez, quando eu lia,
tudo ficava mais belo;
e a tapera em que eu vivia
transformava-se em castelo.
Edweine Loureiro da Silva
Saitama/Japão

10º Lugar

Não fosse a seca-megera
matar meus sonhos, meu gado,
o meu rancho - hoje tapera -
não seria abandonado!
Maria Madalena Ferreira  
Magé/RJ

11º Lugar

Se é palácio, se é tapera...
Afinal, importa o quê?
Que haja alguém à minha espera
e esse alguém seja você!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

12º Lugar

Nessa tapera sem teto,
que de barro... eu mesmo fiz,
vivi recebendo afeto,
na pobreza, mas feliz!
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT

13º Lugar

Para o espanto dos ateus
numa tapera sem glória,
nasceu um Menino-Deus
para dividir a história!
Luiz Antônio Cardoso
Taubaté/SP

14º Lugar

A riqueza genuína
da tapera ou da mansão
vem do amor que predomina,
não se mede com cifrão.
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO

15º Lugar

Dos castelos de quimera
que eu, em livros, tanto vi,
nenhum, ah, nenhum, supera
a tapera onde eu nasci!...
José Manuel Veloso Galvão
São Paulo/SP

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NACIONAL/INTERNACIONAL
NOVO/A  TROVADOR/A

Tema: Tapera (l/f)


1º Lugar
A vida toda estivera
procurando a tal Ventura.
Foi numa humilde tapera
que encerrei minha procura.
Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas/MG

2º Lugar

Tapera linda e singela,
obra-prima do pintor.
A saudade em aquarela,
com cena do interior.
Ademarcos Santana
Nossa Senhora Aparecida/SE

3º Lugar

Eu quero a serenidade
de uma tapera escondida...
Entre as heras da saudade,
lembranças de minha vida!
Maurício Moura Maranhão da Fonte Filho
Recife/PE

4º Lugar

A tapera mais simplória,
mas cheia de puro amor,
contém a infinita glória
de um palácio em esplendor!
Vera T. Rolim Chyczy
Curitiba/PR

5º Lugar

Naquela humilde tapera
tem um tesouro guardado:
um lar, onde a paz impera
na família lado a lado.
Maria Aparecida Ferreira Lima
Campinas/SP

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NACIONAL / INTERNACIONAL
VETERANOS/AS

Tema: Espanto (Humor)


1º Lugar
Zé corre à maternidade...
- Que espanto!  A cegonha o logra!
Sua filha, na verdade,
era uma cópia da sogra!!!
Carolina Ramos
Santos/SP

2º Lugar

Vendo o filho no hospital
se espanta o corno freguês:
"Agora é internacional,
tem cara de japonês."
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte/MG


3º Lugar

Vendo o velho centenário,
seu espanto sobressai:
- Vive o senhor solitário?
- Não, eu moro com meu pai!
Renata Paccola
São Paulo/SP

4º Lugar

- Amor, sou feia?  - Nem tanto;
dá pra amenizar o efeito,
mas... essa cara de espanto...
nenhum cirurgião dá jeito!
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

5º Lugar

Operada a catarata,
outro espanto sobreveio:
passei a ver – coisa chata! –
o quanto estou velho e feio!...
Antonio Augusto De Assis
Maringá/PR

6º Lugar

O caipira se casou,
sua esposa era um frangalho;
lá na roça ela virou
- sem espanto - um espantalho!
Geraldo Trombin
Americana/SP

7º Lugar

Nada mais me causa espanto
e nenhum medo me logra
após ver um pai-de-santo
incorporar minha ex-sogra!...
Maria Madalena Ferreira  
Magé/RJ

8º Lugar

Lembra o baile à fantasia
com raiva e espanto o gaiato:
a sogra usou no outro dia
o batom da Mulher-Gato.
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO

9º Lugar

Espanto teve a "sogrinha",
assim que abriu a janela...
viu meu sogro, de calcinha,
provando o sutiã dela.
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT

10º Lugar

Mistura de raiva e espanto,
a voz da sogra... um castigo!
- Eu me ajeito em qualquer canto,
não se preocupe comigo!
Silvia Maria Svereda
Irati/PR

11º Lugar

Barulho no elevador...
Espanto! O povo assustado...
Mas vem logo um certo odor
e o barulho está explicado...
Antônio de Oliveira
Rio Claro/SP

12º Lugar

Ela era feia, era tanto
que, toda vez que surgia,
tamanho era o meu espanto
que, amedrontado, eu corria.
Julimar Andrade Vieira
Aracaju/SE

13º Lugar

Flagrou a filha, espantada,
e o namorado com ela...
Parecia arquibancada
os vizinhos na janela!
Edmar Japiassu Maia
Miguel Pereira/RJ

14º Lugar

Relaxando a compostura,
provoca espanto em meu filho,
ver vovó sem dentadura,
comendo espiga de milho.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

15º Lugar

Na foto ela é puro encanto,
belo rosto, maquiada.  
Ao vivo, tremendo espanto,
toda a pele repuxada.
Jessé Fernandes do Nascimento
Angra dos Reis/RJ

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NACIONAL/INTERNACIONAL
NOVO/A TROVADOR/A

Tema: Espanto (Humor)


1º Lugar
Pensa do morto, o coveiro:
Nem me espanto... Fico alerta!
"Vivo", o morto, mais ligeiro:
Durma e deixe a cova aberta...
Rosângela Caron Bastos
Curitiba/PR

2º Lugar

Minha sogra foi ao poço   
dos desejos e caiu.   
Fiz o maior alvoroço...     
mas, que espanto: ela saiu!
Carla Alves da Silva
Curitiba/PR

3º Lugar

Com a preguiça, eu me espanto,  
que nem sei como contar.  
Começa quando levanto,  
finda, quando eu vou deitar.
José Airton Mellega
Piracicaba/SP

4º Lugar

Há um ano longe de ti,
depois do beijo às escuras,
com espanto percebi
a troca das dentaduras!
Lothar Antenor Bazanella
São Paulo/SP

5º Lugar

Vi moça bonita à frente,
sempre máscara no canto,
esconde a face da gente...
quando tira, causa espanto!
Júlio Augusto Gurgel Alves
Fortaleza/CE

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ESTADUAL

Tema: Andarilho (l/f)


1º Lugar
Sou andarilho do vento,
e a solidão me transporta.
Nas asas do pensamento,
o caminho não me importa.
Marcos Antonio Campos

2º Lugar

Na estrada da vida, assumo!
Meu coração sofredor...
É um andarilho sem rumo,
vagando em busca do amor.
Lucélia Santos

3º Lugar

Sem meus sonhos, perco o brilho
e, à luz da vida apagada,
sou apenas andarilho,
sem ver meus passos na estrada!
Mara Melinni

4º Lugar

Sou andarilho e, sem dores,
contorno os caminhos tortos,
procurando enxergar flores
nas cinzas dos galhos mortos.
Francisco Gabriel

5º Lugar

A trilha de um andarilho
é feita de solidão,
num caminho sem ter brilho,
só bolhas de pés no chão...
Plácido Ferreira do Amaral Júnior

6º Lugar

Pobre andarilho sem nome,
figura desconhecida;
um tangerino da fome
tangendo a fome da vida.
Carlos Alberto

7º Lugar

Sou andarilho dos sonhos
nas terras mais perigosas,
venço os dramas enfadonhos
das jornadas tenebrosas.
Marciano Batista de Medeiros

8º Lugar     

Teus chinelos andarilhos,
cuido, pai, de todos eles!...
Levaste os pés de teus filhos
junto aos teus pés, presos neles!
Professor Garcia

9º Lugar

Andarilho segue errante
carregando solidão,
procurando a todo instante
abrigar seu coração.
Aída Maria de Faria

10º Lugar
Andarilhos somos todos
na travessia terrena...
Ora mediante engodos,
ora consciência plena.
Ieda Lima

11º Lugar

Nessas esquinas do tempo,
todo andarilho conduz,
uma vida em contratempo,
sob o céu que é sua luz.
Rozanni Garcia

12º Lugar

Noite escura traz o brilho
do manto estelar distante,
mostrando ao velho andarilho
o que, de fato, é importante...!
Magnus Kelly

13º Lugar

Vaguei feito um andarilho
a procura do amor certo,
qual um cego, olhar sem brilho,
não via este amor tão perto.
Antônio Fernandes do Rego

14º Lugar    

Todo andarilho carrega
mil angústias, frustrações,
desapegado, se nega,
a viver das ilusões.
Edson de Paiva

15º Lugar

Na longa estrada, da vida,
quantas cenas, envolveu,
o andarilho, em sua lida,
em busca, de um sonho seu...
Fabiano de Cristo M. Wanderley

Trova “hors concours”
No quarto, entre as várias trilhas
do fogo da sedução,
minhas mãos são andarilhas,
mas sabem para onde vão.
Manoel Cavalcante
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ESTADUAL

Tema: Espanto (Humor)


1º Lugar
Num velório, usando um manto,
um fantasma apareceu…
Foi tanto grito de espanto
que até o morto correu.
Francisco Gabriel

2º Lugar

Seu desespero foi tanto,
quando um leão encarou
que, com seu grito de espanto,
o leão quem se borrou.
Aline Ribeiro

3º Lugar

A sogra, tem muita classe,
me espanto, com seu requinte.
Se a minha mulher, deixasse,
eu já teria, umas vinte!
Fabiano de C. M. Wanderley

4º Lugar

Para o meu maior espanto,
hoje eu vi um senador
dando esmola para um santo!
Era um cheque ao portador...
Plácido Ferreira do A. Júnior

5º Lugar

Pelo espanto da galinha,
de ciúme, o galo morrendo,
viu que na ninhada, tinha
um patinho se escondendo.
Professor Garcia

6º Lugar

Supermercado... que espanto!
Será que, agora, emagreço,
com a metade do tanto
custando o dobro do preço?!
Magnus Kelly

7º Lugar

Tem medo de quem morreu?
Pergunta um moço a velhinha,
que espantada respondeu:
Quando eu era viva tinha!
Marciano B. de Medeiros

8º Lugar

O espanto maior do mundo,
tive, quando mergulhado;
nadando num poço fundo
peguei na mão de um finado.
Professor Maia

9º Lugar

No espanto, ao ver meu portão,
o motorista embriagado,
em vez do freio de mão,
puxou o botão errado!
Mara Melinni

10º Lugar

Não se calcula o espanto,
quando alguém na procissão,
disse ter visto que o santo,
tinha balançado a mão.
Edson de Paiva
 
Magnus Kelly

Figueiredo Pimentel (A Princesa dos Cabelos de Ouro) parte II

II – AVENTURAS DO PAJEM FORMOSO NO REINO DE GABOR

Formoso tinha pressa de chegar ao reino da princesa dos Cabelos de Ouro para dar conta de sua embaixada.

Dois dias depois de sua última aventura, aportava à capital. Pediu que lhe ensinassem onde ficava o palácio, e disseram-lhe:

– Siga por esta rua, em frente, quando chegar ao fim, encontrará uma praça muito grande que tem um chafariz de mármore, o qual em vez de jorrar água, jorra leite para os pobres que a princesa manda dar. Em frente a este chafariz fica um palácio muito bonito; é aí que mora a princesa Mirtes.

O pajem seguiu pela rua que lhe haviam ensinado, ficando maravilhado ao chegar em frente ao edifício.

Nunca vira nem mesmo imaginara em sonho um palácio tão rico. Era um grande castelo todo de mármore cor-de-rosa, com portas e portais de ouro maciço. Ao redor via-se um gradil de prata lavrada de uma riqueza maravilhosa.

Vestiu-se com a roupa mais rica que tinha e dirigiu-se para o palácio levando consigo um cachorrinho que comprara à entrada de um bosque a alguns meninos que queriam atirar o animalzinho no rio.

Como dissemos, Formoso era um lindo rapaz. Apresentou-se aos guardas do palácio da princesa, dizendo-lhe o que queria, e os soldados acharam-no tão bonito, simpatizaram tanto com ele que o deixaram passar.

Lacaios foram avisar a princesa que o Formoso, o pajem de um rei vizinho, desejava uma audiência.

Mirtes ao ouvir o nome do pajem disse:

– Formoso é um nome que significa alguma coisa; não foi à toa que lhe deram esse nome. Aposto que é um pajem bonito e que me vai agradar.

– É verdade, princesa, disseram as damas de honra; é um rapaz de uma beleza extraordinária. Nós o vimos através das persianas e ficamos tão admiradas de sua beleza, que não saímos da janela enquanto ele falava com os guardas do palácio.

Mirtes mandou então buscar o seu vestido mais rico e depois de desatar os seus cabelos louros da cor do sol, foi sentar-se no trono, dizendo:

– Quero que esse pajem tão bonito diga que sou verdadeiramente a princesa dos Cabelos de Ouro.

As damas estavam com tanta curiosidade de ver Formoso, que não sabiam mais o que faziam.

A princesa, depois de pronta, sentou-se no trono e mandou que começassem a tocar vários instrumentos e cantassem baixinho, de modo que não interrompessem a conversa.

Conduziram Formoso à sala das audiências e, ele, ao entrar, ficou admirado, tão admirado de ver uma moça tão linda, a ponto de perder a voz. Encorajando-se adiantou-se um pouco, e comunicou à princesa o fim de sua embaixada.

– Formoso, respondeu ela, todas as razões que me dás para me casar com teu rei são muito aceitáveis, e eu as aceitaria de bom grado se não fosse o seguinte. Há um mês, indo eu tomar banho no rio, sem saber como, por descuido mesmo, caiu dentro d’água o anel que trazia ao dedo, com um enorme brilhante. A perda desse anel foi para mim maior que a do meu trono. Fiz um juramento de não aceitar proposta alguma de casamento, se o embaixador que para isso viesse ter comigo, não trouxesse o meu anel. Vê, portanto, o que te compete fazer. E não há nada neste mundo que me faça mudar de resolução.

Formoso ficou admirado de ouvir tal juramento e retirou-se para casa muito triste, sem saber que fazer.

Dizia o pobre rapaz.

– Onde irei achar o tal anel, e como posso encontrá-lo no fundo do rio? A princesa inventou esse juramento para me colocar na impossibilidade de reiterar o pedido de sua mão para o rei Frederico. É até uma loucura empreender encontrar uma jóia que caiu no rio.

O cachorrinho, que se chamava Sultão, lhe disse:

– Meu senhor, não desespereis assim de vossa fortuna; tendes sido muito bom, para não serdes feliz. Vamos amanhã cedinho à beira rio.

Formoso afagou o animalzinho e nada respondeu.

Sultão, assim que rompeu o dia, tanto gritou, tanto latiu, que acordou o amo e lhe disse:

– Meu amo, vesti-vos e vamos até ao rio.

O rapaz vestiu-se e caminhou insensivelmente para a margem do rio. Passeava muito triste, pensando como fazer a vontade da princesa, e já planejando o dia de sua partida, quando ouviu uma voz que dizia:

– Formoso, Formoso!

Olhou para todos os lados e não viu pessoa alguma.

Pensou que fora uma ilusão e começou a passear quando ouviu de novo:

– Formoso, Formoso!

– Quem me chama? disse ele.

Imediatamente apareceu a piaba, que lhe disse:

– Salvaste-me a vida, Formoso, um dia à beira de um rio, muito longe daqui. Prometi pagar essa dívida. Aqui tens o anel da princesa dos Cabelos de Ouro.

O pajem abaixou-se, apanhou da boca do peixe o anel, agradecendo muito. Em vez de voltar para casa, dirigiu-se imediatamente ao palácio da princesa, com Sultão, que estava muito satisfeito de ter conseguido seu senhor ir até à beira do rio.

Disseram à princesa que o jovem pajem pedia para lhe falar.

– Coitado! O pobre rapaz, disse ela, veio se despedir de mim, pois viu que o que eu quero é impossível, e vai dizer isso ao seu rei.

Fizeram entrar o pajem que disse:

– Princesa aqui está o seu anel e, portanto cumprida a sua ordem. Quer agora receber meu rei por esposo?

Quando Mirtes viu o anel ficou tão admirada que pensava sonhar.

– De fato, é preciso que sejas protegido por alguma fada, porque, sozinho, não acharias esta jóia.

– Princesa, não conheço nenhuma fada, porém, o desejo que tenho de obedecer é grande.

– Já que tens tanta vontade de me servir, faze-me outro serviço, sem o que não me casarei. Há um príncipe vizinho do meu reino que tem vontade de se casar comigo. Fez-me sabedora disso por meio de ameaças temíveis que se eu não me casar com ele desgraçará meu reino. Assim, qualquer dos meus vassalos que entra no seu país é logo morto e comido por ele. Esse príncipe é o gigante Baltasar, tão alto como a mais alta torre. Quando vai à caça, serve-se de canhões como se fossem pistolas. É o meu maior inimigo, por isso se queres que me case com o teu rei, vai matá-lo e traze-me a sua cabeça.

Formoso amedrontou-se ouvindo tanta coisa de um gigante e mais ainda quando a princesa comunicou querer que ele trouxesse a cabeça do seu inimigo.

Ficou muito tempo pensativo e depois disse:

– Pois bem, princesa, eu vou combater com Baltasar. Com certeza morrerei, porém, serei um herói.

Arranjou armas e partiu em direção ao palácio do gigante.

No caminho, todos que encontrava diziam-lhe que desistisse da empresa. Tanto falaram do gigante, contaram tantos horrores que Formoso já estava desanimado.

Nisto disse o cachorrinho:

– Meu amo, vá sem susto. Eu mordo-lhe os calcanhares, e quando o gigante se abaixar para ver o que é, meta-lhe a espada.

Enfim, chegou perto do palácio de Baltasar, onde encontrou ossos, caveiras de corpos humanos que tinha sido comidos pelo gigante.

Começou a ouvir um estrondo que mais parecia trovoada.

– Onde estão os pequenos homens para eu trincar nos dentes?

Era o gigante que aparecia mais alto do que as árvores.

Formoso respondeu:

– Aqui estou para com minha espada quebrar teus dentes.

Quando Baltasar ouviu aquilo, olhou para todos os lados e viu o pajem mais baixo que os seus joelhos. Arremessou com fúria uma bengala de ferro muito grossa, que trazia consigo, como se fosse uma varinha, e teria esmagado Formoso, se nessa ocasião não aparecesse um corvo, que, com o bico, lhe furou os dois olhos. Este, ao sentir a dor, e vendo-se cego, começou a bater a torto e a direito sem nada conseguir.

Formoso, começou a ferir as pernas do gigante, que cada vez mais se enfurecia. Tanto sangue perdeu o gigante que afinal caiu por terra; e Formoso, aproveitando, cortou-lhe a cabeça para levá-la à princesa.

O corvo que fora se empoleirar numa árvore assim que viu o gigante sem cabeça, dirigiu-se ao pajem desta maneira:

– Não me esqueci do serviço que me fizeste há tempos, salvando-me das garras de uma águia. Não te lembras, Formoso? Agora estamos pagos.

– Eu é que te devo ainda, corvo, disse o pajem. Se não fosses tu, estaria agora reduzido a migalhas.

Montou o cavalo levando na garupa a cabeça do gigante.

Assim que o pajem entrou na cidade, o povo começou a gritar:

– Venham ver o bravo Formoso que matou o gigante Baltasar.

A princesa, ouvindo aquela enorme gritaria pensou que vinham lhe comunicar a morte do pajem.

Ficou admiradíssima ao saber que trazia a cabeça do gigante.

Formoso lhe disse:

– Agora princesa, nada lhe resta senão consentir em desposar o meu amo, o poderoso rei Frederico, já que o nosso inimigo está morto.

– Consentirei em ser a esposa do teu rei, intrépido e corajoso pajem. Para isso é preciso no entanto que me prestes um último serviço. Desde já previno-te que é o mais arriscado de todos. Queres assim ou preferes dizer ao teu rei que nada conseguistes?”

– Princesa, já que comecei irei até ao fim, disse Formoso, falai que estou ao
vosso serviço.

– Pois, então, ouve:
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Nota do Blog: O autor cometeu um equívoco no original, a princípio deu o nome de Peri ao cão, mas na sequência usou Sultão. Para o leitor não se perder, optei por usar somente Sultão.
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Continua… III – Novas façanhas do pajem Formoso

Fonte:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896.

Estante de Livros (Aristides Theodoro; Carlos Minuano; Chimamanda Ngozi Adichie)


ARISTIDES THEODORO
O cangaceiro e outras estórias de Curiapeba


O cangaceiro é um texto denso, ao mesmo tempo simples e leve pelo jogo de metáforas e a abordagem de um assunto que se torna a cada dia mais polêmico e inusitado. Estórias de Curiapeba trata-se de estórias, causos, ditos e chistes apanhados diretamente da boca do povo e sabiamente transformados em conto pelo jagunço curiapebano, tal como o grande historiador Câmara Cascudo, que colhia o material para os seus livros no universo do folclore e da cultura popular.
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CARLOS MINUANO
Raul Seixas: Por Trás Das Canções


Um mergulho por trás das principais composições de um dos maiores nomes do rock brasileiro, com novas histórias e fotografias inéditas.  Em agosto de 2019 completa-se trinta anos da morte de Raul Seixas, considerado por muitos o pai do rock brasileiro. Mesmo após todo esse tempo sua influência na música brasileira e a paixão de seus fãs permanecem, mantendo viva a figura do Maluco Beleza e de sua obra, que segue influenciando músicos e sofrendo releituras até os dias de hoje.  Em Raul Seixas: Por trás das canções, Carlos Minuano — autor de Tons de Clô, biografia do apresentador Clodovil — vai, através das letras de Raul e de sua relação com a composição, abordar a vida e a carreira do artista de uma forma precisa e íntima, nunca feita antes. O livro também conta com depoimentos de amigos, parceiros de trabalho e familiares de Raul e com o relato de uma inusitada e incrível turnê Ouro de Tolo por dois garimpos no interior do Pará e fotos inéditas dessa viagem. Uma jornada pela memória de um dos brasileiros mais ilustres e peculiares de todos os tempos, guiada pela própria poesia única de suas composições.
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CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Americanah


Uma história épica de amor e de imigração, um romance arrebatador da premiada autora de Meio sol amarelo. Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Principal autora nigeriana de sua geração e uma das mais destacadas da cena literária internacional, Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. Bem-humorado, sagaz e implacável, Americanah é, além de seu romance mais arrebatador, um épico contemporâneo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Varal de Trovas n. 523

  
 
Nota: Barnard (Christiaan Neethling Barnard) foi um cirurgião cardíaco sul africano, que realizou a primeira operação de transplante de coração de pessoa para pessoa. 

Solange Colombara (Carreata de Micro-Contos) – 5 –

PLANILHA


Era ótimo em Exatas mas ao calcular o Ativo e Passivo, por um momento suas mãos tocaram as dela. Deixaram para fazer a planilha do mês mais tarde.
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TERRORISMO

Gostava de olhar o pôr do sol ou a garoa fininha no inverno. Sua imaginação "voava"...

Nesses momentos, quase esquecia o terrorismo que vivia dentro de casa.
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ESPECTRO

Diz a lenda que a casa abandonada no cume da montanha é guardada por um espectro brincalhão e carcomido pelo tempo. As solteironas da cidade foram verificar e voltaram com um sorrisinho nos lábios.
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SÍNDICO

Tomava seu café da manhã de frente para o mar,  ouvindo o voo rasante das gaivotas. Não sentia saudade da vida na cidade grande, tampouco daquele  condomínio. Agora era o síndico da praia.
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EQUÍVOCO

As estrelas encontram-se com o luar a cada pôr do sol. E o casal apaixonado agradece todos os dias por esse equívoco do destino.

Figueiredo Pimentel (A Princesa dos Cabelos de Ouro) parte I

Quantos séculos correram depois da história que vamos narrar, não sei, nem pessoa alguma poderá sabê-lo, só se sabe que, por esse tempo, existiu o reino das Maravilhas, e nele uma jovem tão linda, que nada neste mundo se podia comparar.

Chamava a princesa dos Cabelos de Ouro, porque os seus cabelos eram louros, tão louros, que pareciam feitos de raios de sol, e tão grandes e crespos que chegavam aos pés.

O seu nome, porém, era Mirtes.

A princesa andava sempre com os cabelos desenastrados (soltos); tinha uma coroa de flores na cabeça, e usava vestidos bordados a ouro, diamantes e pérolas, de sorte que, quem a via, ficava logo apaixonado pela sua formosura.

Existia em Gabor, país vizinho, um rei ainda moço e solteiro, chamado Frederico, e possuidor de extraordinária riqueza. Sabendo da existência da princesa dos Cabelos de Ouro, conquanto nunca a tivesse visto, ficou apaixonadíssimo, resolvendo enviar um embaixador pedindo-a em casamento. Para isso mandou preparar um carro de ouro, puxando por cavalos brancos, e seguido de mais de cem criados, recomendando que lhe trouxessem a princesa Mirtes, a todo o custo.

O embaixador chegou ao reino das Maravilhas e entregou a mensagem. Mas, ou porque nesse dia não estivesse de bom humor, ou aquela comitiva toda não lhe parecesse a ela suficiente para uma princesa tão linda, o fato é que respondeu que agradecia muito ao rei Frederico, tão alta distinção, mas que não pensava ainda em casar.

O embaixador saiu, da corte muito triste por não regressar com ela para Gabor, voltando com todos os presentes que levara da parte de seu senhor.

Mirtes, que era sensata, sabia que uma moça não deve receber presentes de um rapaz, mas, para o rei não tomar essa recusa, como ofensa, aceitou apenas uma carta de alfinetes.

Assim que o embaixador chegou à cidade, onde era esperado impacientemente, todo o mundo se afligiu por não haver ele trazido a princesa dos Cabelos de Ouro; e o rei chorou, sabendo do resultado da embaixada.
***

Ora, havia na corte um pajem de beleza extraordinária, tão lindo que era conhecido pelo apelido de Formoso.

Todos o estimavam muito, menos os cortesãos invejosos que se incomodavam com a preferência que lhe dava o rei Frederico encarregando-o dos seus mais importantes negócios.

Formoso, estando uma vez a conversar num grupo, onde se falava da volta do embaixador, criticando de sua inépcia em comissão tão melindrosa, sem refletir no que dizia, assim se externou:

– Se o rei me tivesse enviado em embaixada à princesa dos Cabelos de Ouro, estou certo que a traria comigo.

Não faltaram alcoviteiros que fossem ao rei e dissessem:

– Saiba vossa real majestade que o pajem se gaba de ser capaz de trazer a princesa dos Cabelos de Ouro, assim que vossa majestade o mande. Considere bem vossa majestade no seguinte: Formoso, com isso quer ter a pretensão de ser mais belo que o nosso rei, pensando que se a princesa o visse, o amaria tanto que o acompanharia.

O rei ficou desesperado ouvindo tão pérfida intriga, e exclamou:

– Ah! esse pajem brinca com a minha desgraça! Pois bem: prendam-no na torre grande e que o deixem lá até morrer de fome.

Os soldados do rei foram à casa de Formoso, que já nem se lembrava mais do que dissera; arrastaram-no à prisão, e aí fizeram-lhe as maiores atrocidades.

O pobre rapaz só tinha um bocado de palha para se deitar; e teria morrido de sede se não fosse pequena uma fonte que corria perto da torre onde estava preso.

Um dia em que já não podia mais, exclamou suspirando:

– De que se queixa El-rei meu senhor? Nunca fui infiel, nunca o ofendi. Porque estou preso, quase a morrer de fome?

Frederico, por acaso passava perto da torre. Quando ouviu a voz daquele que tanto estimara, parou para ouvi-lo, apesar dos vassalos que estavam ao pé do rei e que odiavam Formoso, dizerem:

– Não lhe ouvidos, real majestade. Não sabe que Formoso é um tratante?

O rei respondeu:

– Deixem-me quero ouvi-lo.

Tendo escutado aquelas queixas, as lágrima subiram-lhe aos olhos.

Abriu a porta da prisão e chamou o seu pajem favorito.

Formoso veio muito triste se ajoelhar aos pés do rei dizendo:

– Que lhe fiz, senhor, para me tratar tão cruelmente?

– Zombaste de mim e do meu infortúnio, dizendo que se eu te houvesse enviado como embaixador à princesa, traze-la-ia com certeza.

– É verdade, disse Formoso, eu teria feito a princesa conhecer as qualidades de tão ilustre monarca, e estou persuadido que ela não recusaria aceitar o meu ilustre rei por esposo. Suponho que isto não é caçoar nem falar mal de vossa majestade.

Frederico achou que não tivera razão para ser tão cruel.

Mandou que lhe tirassem os ferros e levou-o consigo, arrependido da maldade que fizera.

Depois de mandar Formoso jantar em sua companhia, chamou-o aos seus aposentos e lhe disse:

– Ainda amo apaixonadamente a princesa Cabelos de Ouro, e apesar da recusa que tive, não desanimo de me vir a casar com ela. Queres ser meu embaixador?

– Senhor, respondeu o pajem: Estou pronto para cumprir vossas ordens. Se quiserdes partirei amanhã.

– Amanhã, não, disse o rei: quero mandar uma embaixada mais rica do que a primeira.

– Perdoe-me vossa majestade, mas não desejo levar comitiva alguma. Desejo apenas que me mande dar um bom cavalo e as cartas que devo entregar à princesa.

O rei abraçou-o, vendo a disposição com que estava ele de o servir.

No dia seguinte de manhã, Formoso partiu sem pompa nem ruído, pensando no meio que empregaria para fazer Mirtes dar o sim.

Levava consigo uma pasta, onde havia tudo quanto era necessário para escrever: papel, pena, tinta, lápis, etc., e quando vinha à sua cabeça um bonito pensamento, escrevia-o no seu livrinho de notas para o não esquecer e poder dizê-lo à princesa.

Assim procedendo o fiel pajem, pensava apenas na maneira de ser agradável à princesa para ver se ela consentia em se casar com seu amo.

Uma manhã, passando ele por um prado extensíssimo, apeou-se do cavalo em que ia montado, e sentou-se em uma pedra, à margem do rio que atravessava o campo. Admirava a beleza do lugar quando viu uma piaba pular fora da água e debater-se durante alguns segundos.

O pobre peixinho ia morrer quando Formoso o apanhou, atirando-o ao rio. Assim que a piaba se sentiu outra vez na água, nadou rapidamente para longe da margem, voltando, porém, logo após para dizer:

– Formoso, agradeço-te muito o serviço que acabas de me prestar. Se não fosses tu, estaria morta. Talvez algum dia te pague esta dívida.

Disse e desapareceu.

O pajem ficou admirado de ver um peixe falar, mas não se importou mais com o caso e seguiu viagem.

Em outro dia viu um corvo perseguido por uma águia.

O corvo voava para um lado e para outro, mas sempre perseguido. Estava prestes a cair no bico do seu inimigo, quando o rapaz que assistia àquela luta apanhou a espingarda e fazendo boa portaria, matou a águia.

Vendo-se livre, o corvo fugiu para longe, dizendo:

– Formoso, livraste-me de uma morte certa. Se não fosse o teu socorro estaria nas garras do meu perseguidor. Nada valho; sou apenas um pobre corvo, mas talvez algum dia te possa pagar esta dívida, porque não sou ingrato.

Mais admirado ficou ainda Formoso, vendo um pássaro falar.

Seguiu adiante e já estava muito distante, quando ouviu uma coruja piando desesperadamente.

O pajem disse consigo:

– Eis aí uma coruja que está piando demais. Com certeza caiu em algum laço que caçadores armaram.

Adiantou-se mais e viu uma grande coruja presa numa armadilha colocada no galho de uma árvore.

Tirou da bainha uma faca, que trazia e cortou o barbante que a prendia.

– Não é necessário, Formoso, fazer discursos para agradecer o bem que me acabas de fazer. Sou uma coruja que para nada presta. Mas, se algum dia precisares de mim, estarei pronta para te servir. Talvez ainda te pague este beneficio que me fizeste.

Foram estas as três aventuras mais importantes que aconteceram ao jovem pajem Formoso, no trajeto de Gabor até o palácio do reino das Maravilhas, onde residia Mirtes, a linda princesa dos Cabelos de Ouro.
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Continua… II – Aventuras do Pajem Formoso no Reino de Gabor

Fonte:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896.

domingo, 12 de setembro de 2021

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 4

 

Carolina Ramos (Um dia pesado)

Ao sair de casa, pela manhã, puxou ligeiramente a manga da jaqueta azul, consultando o relógio. Caso perdesse o ônibus, era certo chegar mais uma vez atrasado à firma.

Um rápido olhar ao longo da rua pôs por terra esperanças, ao comprovar que o ônibus já se fora e... por menos de um minuto, a tempo de ver-lhe o traseiro sumir na primeira curva. Que azar!

Perder uma noite de sono, olhos grudados na TV para ver as cores nacionais olimpicamente batidas... e ainda ter que enfrentar a cara feia do patrão - cada dia mais feia por conta dos contínuos atrasos - decididamente, não era fácil!!

O fuso horário da Austrália, adotado desde o início dos jogos, estava acabando com sua vida útil. O sono, brevíssimo, interrompido pelo alarido do televisor, não satisfazia às necessidades mais prementes. Acordava moído, estremunhado, abatido pela carga emocional, mais pesada ainda porque sem o relaxamento sadio propiciado por uma vitória gratificante, que apaga qualquer cansaço!

Não adiantava chorar sobre as derrotas, nem lamentar a perda da condução. Era esperar por outro ônibus, que só o levaria até metade do caminho, obrigando-o a uma baldeação para completar o percurso.

Quando desceu do primeiro ônibus, o comércio principiava a abrir portas.

Relaxava, à espera do segundo, quando foi abordado por um pivete armado de estilete, que lhe levou a carteira, o relógio e a jaqueta, deixando-o de algibeiras vazias.

Teria de voltar para casa a fim de reabastecer os bolsos murchos. Antes disso, porém, teria que esmolar alguns níqueis para a passagem, pois ficara a zero.

Ruminava o desgosto, quando novo vulto suspeito aproximou-se. Pôs-se em guarda. Suspeitas confirmadas: - Vai passando a grana logo... Isto é um assalto.

Foi então que perdeu as estribeiras, encarando o meliante:

- Que grana, cara?!... Que grana?! Seu amiguinho, ainda agora, levou minha carteira... levou minha jaqueta, meu relógio e tudo o mais que eu tinha!!! Quantas carteiras você acha que alguém leva consigo?! Não tenho nem um real!! Nem sequer para uma passagem de ônibus! Vocês são todos uns bandidos que deviam estar trancafiados no xadrez! Por que não vai trabalhar? Eu sei... eu sei... é mais fácil afanar o dinheiro honesto daqueles que molham o pão no suor de cada dia... Eu sei!...

Falava de um fôlego! Quase parou de respirar ao ser surpreendido com a atitude do larápio, que, primário e condoído com as palavras da vítima, lhe estendia uma nota de dez reais, instando para que aquele homem desesperado, e agora perplexo, a aceitasse.

Foi, justamente... quando a viatura encostou no meio fio.

Dois policiais, cara fechada e mão no coldre, não mostravam dúvidas: - Com a boca na botija, hein, cara?!

Ainda atônito e sem tempo para explicações, o ex-dono da jaqueta azul viu-se algemado e atolado num carro entre dois atletas!

De nada lhe valeram os protestos! Nem as tentativas de explicação! Fora pego em ação, tomando o dinheiro de um trabalhador que, ante a situação agravada, acelerara as canelas, sumindo como fumaça ao sopro da brisa.

- Mas, o que é isso, gente...?!! Era ele que estava me assaltando! Eu juro!!! Juro pelo que vocês quiserem!

- Cala essa boca aí, seu... seu mentiroso. Ou a coisa vai piorar muito! Quer fazer agente de bobo?! Né?!

Calou-se. Na delegacia, tudo esclarecido. E tudo acabaria em paz se Rodrigo não tivesse tido a infeliz lembrança de ligar para o patrão.

- Olá, seu Júlio, é o Rodrigo. Peço que o senhor me desculpe por mais este atraso. Depois eu explico. Ainda vou demorar um pouquinho... é que estou na delegacia... fui preso por assalto... mas...

- O quê...?! Preso por assalto ?! Eu bem que já desconfiava de você, seu malandro... sem-vergonha!... Logo vi que não era boa coisa! Sempre com essa cara sonolenta de quem gosta da noite ou... vive drogado. Um assalto!... Vejam só!... Não faltava mais nada!!... Pode ficar por aí mesmo... Que aí é o seu lugar! Por aqui, eu não quero vê-lo nem pintado... nunca mais! Está despedido... e por justíssima causa!!!

- Mas... seu Júlio... ouça... por favor...

O pasmo de Rodrigo foi quebrado por um desaforado Plac! – telefone desligado com violência!

Impossibilitado de dizer uma só palavra, Rodrigo encostou-se à parede, tão pálido quanto o seu espanto!

- Despedido?!... E por justa causa?!!!

Aos poucos, uma raiva surda, vinda do mais íntimo do seu ser, rugiu ameaçadora precipitando-se para fora! Lava de vulcão... cuja cadência foi alcançar os dois guardas que o haviam arrastado até a delegacia.

- Seus canalhas... seus... idiotas!... Eu não disse que era inocente?! Olhem só no que deu a "cabeçudagem" de vocês! Fui despedido!!! Ouviram bem?! Fui des-pe-di-do! Perdi o meu emprego, seus cabeças duras! Seus... seus...

Não encontrou classificação que o satisfizesse e nem conseguiu concluir os próprios pensamentos. A quebradeira e os chutes, simultâneos aos protestos, foram mais do que suficientes para que o trancafiassem numa cela! - Agora, sim, com culpa definida e devidamente formalizada: - Desrespeito à autoridade!

Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021. Capítulo 5: Contos rústicos, telúricos e outros mais.

Franccis Yoshi Kawa (A janela)

Parecia delírio quando disse que estava partindo a procura de um reino para ser o soberano. Tinha feroz determinação de conquistar um reino para poder coroar sua amada, cobrir de ouro e transformá-la em rainha. Era obsessão ou mania de grandeza, ninguém sabia. Certamente era um louco em busca de sucesso e fama. Não queria ser apenas um grão de areia solto no mundo. Partiu para conquistar o mundo sonhado, despedindo-se do amor de sua vida. O tempo passou, talvez demais. Apostava na sorte e a bola de neve rolava montanha abaixo, destruindo tudo pelo caminho em direção à linha de chegada. Parou como toda bola que rola, agiganta, bate e esborracha. Foi adentrando o portal de um castelo para chamar de seu. Finalmente havia conquistado o seu almejado reino.

Foi como acordar de um pesadelo, estava imobilizado em uma cadeira de rodas. Havia retornado de sua louca e trágica aventura. O preço que pagou para obter o que queria foi alto demais. Mas, era tudo o que queria: “Um reino com direito à coroa”. Confinado no seu quarto, olha o mundo através da janela de seu castelo. Acreditava que a riqueza era tudo que importava, mas se enganara. Se pudesse voltar atrás, teria feito diferente. Já era muito tarde para entender que o amor verdadeiro era possível sem ter nada. De repente percebe que tem tudo e ao mesmo tempo nada tem. Coberto de riqueza, olha o mundo através da janela de seu castelo. No auge de sua arrogância, havia desprezado a chance de ser feliz, achando que merecia muito mais. Não queria apenas o amor, mas cobrir de ouro sua amada. Acreditando que só assim o amor seria verdadeiro, pleno, feliz. Se soubesse que ela não queria nada disso. Nem ouro, nem reino, nem coroa. Ela queria apenas o seu amor e cansara de esperar. Se pudesse voltar no tempo olharia para aquele amor simples e singelo sendo atropelado pela avalanche que descia a montanha. Não, ela não morreu atropelada. Cansada de esperar, só o amor havia morrido.

Revoltado com o seu destino, olha a outra janela além do muro e vê alguém que também o observa. Ela se parece com aquela que almejara cobrir de riquezas e transformar em rainha. Parece, mas não é. Está debruçada no parapeito, como se fosse uma princesa prisioneira na torre de um castelo. Ela o vê e sorri retribuindo o aceno. O sorriso dela o faz sonhar novamente. Sonha com ela. Quem sabe ela seja uma princesa prisioneira de um mundo cercada de cuidados.

Ela nunca saberá que por detrás do busto que aparece na moldura da janela, esconde uma cadeira de rodas. Quem ia querer um rei estropiado? No seu sortilégio, o sonho é seu único privilégio. No sorriso de bom dia de toda manhã, um aceno de boa tarde depois e uma boa noite ao anoitecer. Em sua fantasia, ela está pensando nele de manhã, tarde e noite. É seu único sonho possível. Imagina como seria bom se pudesse abraçá-la. O desespero toma conta. Se nunca mais puder voltar a andar, os seus devaneios jamais deixarão de ser apenas um belo sonho.

Aquela ilusão de amor era como um fio invisível que o prendia à vida. Daria tudo para deixar de ser apenas um alguém emoldurado na janela de seu castelo, observando uma bola de neve que rola montanha abaixo. Não quer continuar olhando o mundo sem poder fazer nada. Quer mais, muito mais. Quer transformar o sonho de amor da princesa prisioneira em realidade. Lembra que no passado, quando era jovem, podia correr contra a vento. Era belo e certamente seria amado, mesmo sem ter nada.

No presente não tem mais a juventude, mas um rico castelo abarrotado de tesouros. Lamenta o equívoco de ter acreditado que só a riqueza traria amor e felicidade. Não sabia que podia ser feliz sendo pobre. Somente depois de receber a notícia de que estava condenado a uma cadeira de rodas, admitiu que estava equivocado. Sonha com a princesa, pensa nela toda hora. A cada aceno acompanhado de um sorriso, sua alma se enche de alegria e esperança.

Não tem coragem de revelar que está imobilizado em uma cadeira de rodas. Naquele momento o seu tesouro, sua riqueza não servem para nada. Não podia se revelar por inteiro. Quer reverter a sua história a qualquer custo. Está disposto a se desfazer de seu reino se pudesse voltar no tempo. Não quer mais tanta opulência. Só quer voltar a andar.

Quer girar o mundo ao contrário, trazer a bola de neve rolando de volta ao topo da montanha. Quer desfazer o seu reinado para poder caminhar novamente, libertar seu corpo prisioneiro. Está disposto a tudo por aquela que está debruçada na janela. Quer que ela seja o amor que nunca teve. Quer voltar a ser como antes, quando era possível ser amado, mesmo quando nada tinha.

A princesa prisioneira na torre de seu castelo acena com um sorriso. Ela também sonha com a possibilidade de ser livre e ser amada como nunca foi. Quer também se libertar da moldura da sua janela. Quer ser amada como ela é. A linda princesa também estava presa à uma cadeira de rodas.

Estante de Livros (livros de Ana Maria Machado)


AMIGOS SECRETOS


Um dos membros do "Clube da Árvore" (uma confraria de jovens que se encontram no alto de uma árvore para brincar e contar histórias) coloca um livro de Monteiro Lobato dentro do videocassete e, com isso, abre uma passagem que os liga ao mundo encantado do pai de Emília e Narizinho e de outros autores caros ao universo infantojuvenil, como Cervantes, Mark Twain e a própria Ana Maria Machado. A turma vive inúmeras peripécias com personagens da literatura. E aprende que a literatura pode ser um instrumento para a compreensão da realidade.
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MENSAGEM PARA VOCÊ

Em um trabalho de História sobre o Egito, o grupo formado por cinco alunos tira a nota mais alta. Eles ficam surpresos: afinal, nenhum deles pesquisou sobre a importância intelectual da rainha Nefertiti, menção elogiada pelo professor - essa parte do trabalho apareceu misteriosamente entre as outras. Depois disso, os jovens passam a receber mensagens de computador, celular e outros meios, todas de personagens históricos mortos há muito tempo, Elas mencionam a importância de ler e escrever. Agora eles precisam desvendar: quem será o hacker misterioso, e o que ele pretende?
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O CANTO DA PRAÇA

Arlindo ama Paloma. Mas Pedro também quer a garota. Em nome do amor, os dois amigos viram rivais, ganham seguidores, montam exércitos. No que vai dar tudo isso? Numa aventura recheada de símbolos e brincadeiras bem-humoradas com a linguagem, o leitor encontra questões pra lá de sérias, como a intolerância e a difícil busca da paz.