sexta-feira, 5 de agosto de 2011

J.B.Xavier (Ser Pai)


Ser pai é ser anônimo consciente
É ser mestre sem nunca ensinar nada
É apontar o caminho pela estrada
E receber um riso de presente...

Ser pai é abstrair-se de vaidade
No sucesso que o filho venha a ter
É estar preparado prá sofrer
Na solidão da ausência e da saudade...

Ser pai é ser a luz orientadora
Sem nunca brilhar mais que o filho amado
É aceitar não ficar nem ao seu lado
Mas atrás, como sombra protetora.

Ser pai é não viver por recompensas
É levar pela mão, mas na hora certa
Deixar seguir o ser que ali desperta
Mesmo em meio a negras indiferenças...

Ser pai é praticar a tolerância
Sem jamais ser, por isso, permissivo,
Ser pai é ser às vezes lenitivo
Na dor que vem em forma de fragrância...

Ser pai é aceitar ser contestado
Sabendo mesmo assim que estava certo
E, longe, ainda assim estar por perto
Zelando pelo filho tão amado...

Ser pai é aprender quando calar
Se o filho, por acaso, lhe contesta,
Transformar sua tristeza numa festa
Ser pai é dar exemplo e orientar...

Ser pai é dirigir sem obrigar,
Ceder na compreensão das aparências,
Viver só de saudades e de ausências,
Sorrir ao ver o filho caminhar...

Ser pai é conseguir ir se apagando
À medida que o filho se encaminha
Que a vida, por si mesmo já esquadrinha,
Ser pai é se afastar, mesmo que amando...

Ser pai é ser apenas influência
Sem jamais tentar ser imposição,
Ser pai é doar sempre o coração
Mesmo na dor singela de uma ausência...

Ser pai é receber ingratidão
Injúrias, e às vezes, esquecimento
E aninhar, mesmo assim esse momento
Com zelo no fundo do coração...

Ser pai é esclarecer sem ensinar
Levando o filho a tal curiosidade
Que passe a meninice e a mocidade
No gosto do aprender e pesquisar...

Ser pai é ser silêncio angustiado
Na madrugada fria de uma ausência
Rezar ao Deus Maior, na onipotência
Que proteja o seu filho desgarrado...

Ser pai é admitir ao mesmo instante
Que dele seu filho se libertou
E anular-se na obra que criou
E mesmo assim, fazê-lo ir adiante...

Ser pai é freqüentar o tombadilho
De um navio que de si vai se afastando,
Ser pai é ver um homem trabalhando
E dizer com orgulho: esse é meu filho!

Fonte:
Enviado pelo autor disponível no Recanto das Letras
Imagem = http://dirfam.blogspot.com/2009_08_01_archive.html

Amosse Mucavele (Gaza, Meu Útero)

Rio Limpopo, Moçambique
À Paulina Chiziane

A Provincia dos meus olhos é uma flor que nunca murcha, as suas folhas estão pintadas de variadas cores, cores que refletem vários sentimentos, sentimentos que nos tranquilizam, carregados de tanta emoção, fazendo-nos re(viver) nesta ponte de afetos que liga-nos de um passado glorioso a um presente nostálgico.

Nestes ultimamentes a minha querida Gaza anda desalmada, carece de amor, falta-lhe uma voz amiga, pois Os Ventos do Apocalipse abocanharam a sua felicidade e o medo cobriu-lhe o teto. Dorme um sono secular, vive um pesadelo milenar, a natureza trancou-lhe as portas, e ela aceitou estar encarcerada em Mabalane. Não se interessou em contratar um advogado, muito menos procurar ajuda dos amigos, ficou no silêncio das grades da sua angústia, nem a mim que num passado não muito distante juntos plantamos coqueirais de amor.

Quando cheguei a Provincia que tanto me esperava, constatei que algo mudou, o casebre transformado em Castelo, repleto de seguranças, empregados domésticos ,etc., uma prisão domiciliar, creio que ela conseguia me ver, daí descobri a 8ª Cor do Arco Irís.

Bati a porta a 1ª, 2ª, 3ª vez. Ninguém respondeu, mas de longe via-se um monte de gente a circular no quintal. O meu último sentido despertou-me da letargia que me assombrava.

Oh, pobre de mim! Nas grandes casas já não se bate a porta, toca-se a campainha. A resposta veio a uma velocidade da luz, em seguida vieram os serviçais atenderam-me.

-Com quem o senhor deseja falar? – perguntaram-me.

Arrepiado de medo, e a tremelicar de incerteza, dei a seguinte resposta: – Com a dona da casa.

– Quem é o senhor? Pois a senhora está a dormir. Ela quando encontra-se neste estado não gosta de ser incomodada. Espero que entendas, podes vir mais tarde? Se assim o achar conveniente, mas contudo deixe-nos com o seu nome.

De longe ouvia-se uma voz feminina a perguntar: – Oh José! - creio que era o nome do homem que estava a me atender, – não veio alguém me precisar?

– Tem aqui um senhor que precisa da senhora – respondeu o José

– Manda-o entrar – disse ela.

A sua voz planta respeito e felicidade no povo que a circunda, apesar dela não desfrutar dos mesmos. O corpo dela guarda segredos milenares tal como As mumias, os seus olhos são uma verdadeira caixa de surpresas. Sei que quando cruzarem-se com os meus explodirão como a bomba atômica que destruiu Hiroshima e Nagasaki. e os seus estilhaços irão cair nas mãos da potência do nosso amor. Sobrevoarão a caminho do futuro nas asas das Andorinhas. Tenho comigo uma pá para poder cavar os compartimentos do seu coração. Bem sei que Gaza é de poucas palavras e muitas ações, diferente de outras mulheres que sonham, Gaza vive, idealiza e concretiza.

Chegando à sala de visita onde ela estava sentada: – Pode sentar – disse ela, com olhos boquiabertos. Em seguida aproximou-se de mim e deu-me um abraço do tamanho do mundo. Os empregados domésticos ficaram bastante surpresos , pois nunca tinham visto O Alegre Canto da Perdiz. Instalou-se o silêncio, a realidade tinha traços de ficção,.

– Sabes! Hà muito que preciso de conversar consigo. Volvidos 12 anos tive a oportunidade de estar perto de ti, dada as circunstâncias desta auto-estrada da vida, ora quando vinhas ao meu encontro não me encontravas e quando fazia o mesmo você estava em constantes viagens, e neste instante nos encontramos.

A sociedade em que estou inserida nela está contra a nossa relação amorosa, agitava-me para te deixar, te esquecer, cortar os laços que nos une.

– Aquela provinciana não é digna do seu amor – diziam eles

Davam-me dissolventes e eu resistia sempre, tal como fez o ngungunhane, assim transformei a minha palavra em flecha e o amor que uiva dentro de mim num arco. Saiamos deste lugar, pois algo diz de mansinho que este lugar tem alguma coisa de nefasto, caso continuemos sentados nesta mesa onde estamos sentados com os garfos e as facas que mal sabem dançar Niketche e muito menos sabem falar a nossa língua, o nosso changana. Creio que de tanta inveja este lugar pode vir a restaurar estes nossos sentimentos ambulantes dando-lhes um outro ar.

– Princesa, vamos! – disse eu.

– Para onde, meu amor? – respondeu ela

Vamos sentar na esteira do rio Limpopo a sós, para melhor escutarmos A Balada do Amor ao vento.
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Nota: em negrito são nomes de livros de Paulina
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Fontes:
Texto enviado pelo autor
Rio Limpopo = http://devitz.blogspot.com/2010/07/arvore-misteriosa-no-rio-limpopo.html

Estação 3 (Eventos Culturais 6 e 7 de Agosto, em Guarulhos/SP)


Em comemoração aos seus 7 anos, o Grupo LOUPT – LOUcos Por Teatro
promove, em parceria com a Secretaria de Cultura de Guarulhos e entidades beneficentes da cidade, o evento “Estação 3”, que tem por objetivo envolver a comunidade e os artistas numa festa multicultural.

Dias 06 e 07 de Agosto no Teatro Padre Bento
Rua Francisco Foot, 03 - Tranquilidade - Guarulhos

PROGRAMAÇÃO:

Sábado 06/08/11

14:50 - Teatro infantil: Isolados - Grupo 2a. Opção
15:00 - Oficina de mímica com Rodrigo Pignatari
16:00 - Teatro infantil: Aladin - Grupo 5a. Maravilha
17:00 - Experimentação com colagem com Aline Fonseca
17:10 - Uma caixinha de surpresas com Mirian Wartusch
18:10 - Apresentação de curtas com André Okuma
19:30 - Teatro: Vozes da luta com Cia Barca Cênica

Domingo 07/08/11

12:00 - Teatro: A Coroa de Orquídeas com o Grupo LOUPT - LOUcos Por Teatro
15:10 - Sarau literário com Tessália Lemos
18:00 - Contação de estórias com Débora Kikuti
19:00 - Teatro: Maria Maria com a Cia Teatral Apolo e Dionísio
19:00 - Contação de estórias com Gisélia

além de diversos Shows.

Programação sujeita a alterações.

Fonte:
Mirian Wartusch

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XIV – A Via-Láctea


Lá no sítio, quando Dona Benta falou da Via-láctea que os meninos enxergavam no céu, Emília veio com a asneirinha do costume. Estavam na varanda por uma noite muito límpida, a espiar as estrelas.

— E aquela espécie de nuvem branca que estou vendo lá? — tinha perguntado Narizinho; e depois de Dona Benta contar que era a Via-láctea e que láctea queria dizer “de leite”, Emília saíra-se com esta:

— Com que leite teriam feito aquilo? Para mim foi com leite da Grande Ursa...

Dona Benta explicou que naquele caso a palavra “láctea” não queria dizer “feito de leite”, como são os queijos e requeijões, e sim que tinha a aparência duma coisa leitosa.

— E “leitosa” não quer dizer “feita de leite”?

— Não. Leitosa quer dizer que dá idéia da cor do leite ou da consistência do leite. Aquilo lá no céu é o que os astrônomos chamam “nebulosa”. A Via-láctea é uma das muitas nebulosas que com o telescópio eles enxergam no espaço. Deram-lhe o nome de Via-láctea por causa da cor branquicenta com que a vemos daqui.

— E que é nebulosa? — perguntara Pedrinho.

Dona Benta cocou a cabeça. Não é fácil explicar às crianças o que é uma nebulosa. Por fim disse:

— Há várias hipóteses, meu filho. A hipótese mais aceita hoje é que são verdadeiros universos dentro do universo — arquipélagos de estrelas em tais quantidades que à distância parecem uma nebulosa, uma nuvem. São milhões de estrelas afastadíssimas.

— Todas como o Sol?

— Sim, meu filho. O Sol é uma estrela da infinidade de estrelas que há no espaço infinito. Está apenas a 150 milhões de quilômetros daqui, tão pertinho que sua luz leva só 8 minutos e 18 segundos para chegar até cá, caminhando com a velocidade que vocês sabem...

— Trezentos mil quilômetros por segundo — lembrou Pedrinho.

— Isso mesmo. Veja como é perto o Sol! Em 8 minutos e 18 segundos a sua luz chega até nós. Depois do Sol a estrela mais próxima da Terra está a 40 trilhões de quilômetros ou 4 anos-luz. Quer dizer que a luz dessa estrela leva quatro anos para chegar até nós.

— Irra!...

— E sabe que essa estrela está também muito perto de nós?

— Será possível? — exclamou Pedrinho assombrado. — Haverá ainda coisas mais distantes?

— Sim, meu filho. Os modernos telescópios revelam nebulosas a 500 milhões de anos-luz da Terra...

— Quinhentos milhões, vovó? — repetiu Pedrinho no maior dos assombros. — Isso também é demais; chega a ser desaforo...

— Quando inventarem telescópios ainda mais poderosos que os de hoje, é possível que essas nebulosas sejam consideradas próximas. Descobrir-se-ão outras a bilhões de anos-luz... Pois as nebulosas são isso — verdadeiros universos dentro do universo, a tremendas distâncias do nosso sistema planetário. E quando nos pomos a pensar no número de estrelas, então é que ficamos tontos de uma vez. A nossa galáxia, isto é, o universo onde está o nosso Sol e mais as estrelinhas que vemos no céu, compõe-se de mais de 40 bilhões de estrelas...

— Quarenta bilhões, vovó? Estou ficando totalmente tonto...

— Pois tonteie duma vez, sabendo que os telescópios revelam a existência de mais de 100 milhões de nebulosas, isto é, de universos dentro do universo, cada uma delas com bilhões e bilhões de estrelas...

Pedrinho fingiu que caía para trás...

Isso no sítio, nas conversas astronômicas de Dona Benta. Mas agora que estavam no céu e o fiunnn os levara justamente à Via-láctea, não quiseram saber daquela Via-láctea dos astrônomos.

Quiseram a Via-láctea da Emília, muito mais interessante. E foi na Via-láctea da Emília que eles brincaram, lá nos espaços infinitos.

Emília estava que nem doída. Viu por ali inúmeras estrelinhas em formação e começou a brincar com elas como se fossem amigas de infância e a contar-lhes histórias lá do sítio, proezas de Rabicó, façanhas do extinto Visconde de Sabugosa e do novo Doutor Livingstone. As estrelinhas divertiam-se com as novidades, mas confessavam não terem a menor noção da Terra.

— Parece incrível a ignorância destas bobinhas! — exclamou Emília quando suas amigas estrelas começaram a piscar para dormir. — Não sabem nada de nada. Falei do nosso grande planeta Terra, falei da Lua, falei de Marte — e todas arregalaram os olhos e abriram a boca. Era a primeira vez que estavam ouvindo tais palavras...

— Ah, Emília! — suspirou Pedrinho. — Isso prova como o universo é infinitamente grande e como a nossa Terra é pulga. Menos que pulga: é espirro de espirro de espirro de pulga. Cada uma dessas estrelinhas quando cresce vira um sol

— E sabe, Emília, quantas vezes a massa do nosso Sol é maior que a da Terra?

Emília não sabia.

— Um milhão e trezentas mil vezes! — declarou o menino. — O Sol é dum tal tamanho que até dá dor de cabeça nos astrônomos — e há estrelas muitíssimo maiores que ele. Mas quando o Sol nasceu devia ser um coitadinho como estas suas amigas daqui.

— Então é a isto que Dona Benta chama de “massa cômica”? — perguntou Emília.

Pedrinho riu-se.

— Massa cósmica, bobinha. Cômico quer dizer outra coisa. Cômico é o que é engraçado. Cósmico quer dizer relativo ao mundo, ou aos mundos, ou ao universo, que é o conjunto dos mundos.

— Mas que tem a palavra cósmico com mundo? Devia ser “massa múndica” e não massa cósmica.

— Vovó já explicou esse ponto. É porque em grego mundo é kosmos.

Enquanto falava, Emília ia fazendo um montinho de estrelas das menores, para enfeite de seu museu lá no sítio. E Narizinho, longe dali, pulava de cima das estrelas mais graúdas, sobre outras, tal qual lá no sítio pulava dum capim para trepar em outro.

Mais adiante havia um ponto onde a massa cósmica estava ainda pura, sem nenhuma estrelinha formada. Emília correu para lá e pôs-se a enrolar entre as palmas das mãos aquela massa luminosa, como Tia Nastácia enrolava massa de trigo para fazer bolinhos.

— Olhem que linda fiz agora! — disse ela mostrando uma enrolada em forma de rosquinha de polvilho. — Estrelas de rosca não existem no céu. Vou fazer uma porção e soltá-las no espaço para irem crescendo. Imaginem a cara dos astrônomos em seus telescópios, quando derem com as “estrelas emilianas”, todas em forma de rosca...

Pedrinho só queria saber de cometas. Juntou uma dúzia dos mais engraçadinhos para os levar — e ria-se de gosto, imaginando a cara de Dona Benta ao vê-lo ir tirando do bolso filhotes e mais filhotes de cometa.— Parecem sapinhos de cauda, só que estes não perdem o rabo quando crescem. Ficam de caudas cada vez maiores. Aquele cometa de Halley que vovó viu em 1.910 tinha uma cauda de 45 milhões de quilômetros...

E Pedrinho começou a contar o que sabia dos cometas.

— São uns astros muito curiosos — disse ele. — Também giram em redor do Sol como os planetas, mas têm as órbitas diferentes.

— Que é órbita? — perguntou Emília.

— Órbita é o caminho percorrido por um astro. A órbita dos planetas é quase um círculo, mas a dos cometas tem a forma do que os sábios chamam “elipse”.

— E que é elipse? — tornou a perguntar Emília.

— É a forma dos balões dirigíveis ou daqueles bolinhos compridos que Tia Nastácia faz. Os cometas passam muito perto do Sol e depois se afastam a distâncias tremendas. E levam assim toda a vida: a se aproximarem e depois a se afastarem do Sol. Segundo diz vovó, esse cometa de Halley, depois de passar perto do Sol, afasta-se até para lá da órbita de Plutão, que é o fim dos nossos mundos (estes mundos que giram em redor do Sol). Afasta-se sabe quanto? Afasta-se 1 bilhão e 300 milhões de léguas. Quando chega ao extremo da elipse, sente-se tão enregelado que volta para aquecer-se novamente ao calor do Sol. E assim toda a vida. Dá uma volta completa em setenta e seis anos.

— Que bobo! — exclamou a boneca. — Muito melhor se girasse sempre à distância em que a Terra gira, porque então teria um calorzinho sempre igual.

— Eles que usam o sistema da elipse é porque gostam — disse a menina. — Devem ter suas razões. E que mais você sabe dos cometas, Pedrinho?

— Sei a história do cometa Biela, que é muito interessante. Esse Biela costumava dar o seu giro completo em seis anos e meio, mas da vez em que passou à vista da Terra em 1.846 aconteceu-lhe uma coisa extraordinária: partiu-se em dois! Dividiu-se em dois cometas de órbitas paralelas, cada qual com o seu “núcleo”, ou cabeça, e a respectiva cauda.

— Que engraçado! E apostaram corrida no céu?

— Sim. Um começou imediatamente a afastar-se do outro. Um mês depois já estava a 60.000 léguas na frente. Seis anos e meio mais tarde a parelha de cometas foi novamente vista nos céus da Terra, mas separados por uma distância de 500.000 léguas.

— E depois?

— Depois decorreram diversos períodos de seis anos e meio sem que os dois Bielas voltassem, até que no dia 27 de novembro de 1.872 reapareceram desfeitos em milhares de fragmentos luminosos, sempre a correrem pela mesma órbita.

— Que história é essa?

— É que os dois Bielas se haviam espatifado completamente e agora estavam girando transfeitos em farelo de cometa. Os astrônomos calcularam em 160.000 o número dos pedaços dos Bielas que riscaram o céu naquela noite...

— Que assombro dos assombros não devia ser! — exclamou a menina entusiasmada. — Que beleza!...

— Também acho — concordou Pedrinho — e creio que nunca em tempo algum houve pelos céus da Terra um espetáculo mais portentoso. Cento e sessenta mil pedaços de cometa, imaginem!...

— Que regalo para os astrônomos, não?

— Sim, e deu-se um caso muito cômico. O Flammarion, que era um dos maiores astrônomos da época, estava naquele mês em Roma, convalescendo de um ataque de malária. E por causa da doença tinha de recolher-se muito cedo todos os dias. Pois na famosa noite de 27 de novembro aconteceu-lhe a coisa mais terrível de todas.

— Já sei! — gritou Emilia. — Caiu-lhe na cabeça um dos 160.000 pedaços do Biela...

— Não! Coisa muito pior. Flammarion foi para a cama às seis horas da tarde e a maravilhosa chuva de estrelas começou uma hora depois, exatamente às sete, e durou seis horas. Durou das sete até uma hora da madrugada — e ele roncando lá na cama, com as janelas fechadas!... No outro dia, quando se levantou e soube do acontecido, quase morreu de sentimento.

— Mas não houve por lá uma alma caridosa que o acordasse a tempo?

— Não houve nada. Todo mundo estava de nariz para o céu e ninguém se lembrou dele.

— Eu me matava — disse Emília. — Se eu fosse astrônoma e perdesse um espetáculo desses, juro que...

— ...que pregava um tiro de canhão na orelha, já sei — concluiu Pedrinho.

Muitas outras coisas ainda disse o menino sobre os cometas. Só parou quando viu Emília bocejar — então foi encher os bolsos de cometinhas novos. Enrolava-lhes a cauda em redor do núcleo e guardava-os. Narizinho, que também estava a lidar com aquilo, teve de repente uma idéia cômica.

— Sabem o que vou fazer? Amarrá-los uns nos outros pelas caudinhas e soltá-los no éter. Imaginem como vão ficar engraçados quando crescerem! E a dor de cabeça dos astrônomos do futuro para decifrar o mistério...

— Eles não se apertam — disse Pedrinho. — Armam logo uma hipótese e pronto.

— Que é hipótese, Pedrinho? — perguntou Emília. — Dona Benta usa muito essa palavra, que acho ótima para nome do bezerro da Vaca Mocha.

— Hipótese — explicou Pedrinho — é quando a gente não sabe uma coisa e inventa uma explicação jeitosa.

Emilia gostou tanto daquela palavra que se pôs a repeti-la de todos os modos, como era seu costume com as palavras importantes. Hipótese — tesehipo, setepohi, pohitese...

— Pare, Emília! — ralhou a menina. — Pelo menos aqui neste canteiro de mundos não mexa na torneirinha...

Mas a boneca nem ouvia. Estava às voltas com uma estrela dupla, coisa rara como trevo de quatro pétalas num jardim.

— Achei uma das duplas! — gritou ela. — Vou levá-la de presente ao meu cavalinho sem rabo.

Depois, voltando aos cometas, teve uma idéia excelente.

— Que tal, Pedrinho, se eu plantar um rabo de cometa no meu cavalinho sem rabo? — e sem esperar resposta arrancou o rabo dum dos cometinhas, enrolou-o e guardou-o no bolso do avental, enquanto ia murmurando lá consigo: “Como ele vai ficar contente!”

— Você falou em cavalo, Emília — disse Pedrinho e me fez lembrar do Burro Falante. Com certeza está enganchado na cauda dum desses grandes cometas que andam como malucos girando pelos espaços; e o meio de o acharmos é um só: sairmos em procura deles montados em outro cometa. Foi o que eu disse a São Jorge. É possível que aqui encontremos um cometa já crescidote que nos agüente no lombo. Vamos ver se descobrimos um que sirva.

E puseram-se a procurar um cometa já taludote. Súbito, Emília, que se afastara dos meninos, gritou lá longe:

— Estou vendo um que serve. Corram depressa!... Pedrinho e Narizinho correram para lá e realmente viram um cometa de linda cauda e do tamanho exato que queriam. Um verdadeiro potrinho.

Mas não foi fácil agarrá-lo. Era um cometa arisco e manhoso, sabido como ele só; nunca tinha visto gente, de modo que corcoveava e fugia assim que eles se aproximavam. Mas, cerca daqui, cerca dali, conseguiram afinal pegá-lo, e Pedrinho, que era bom cavaleiro, montou-o dum pulo. Depois, dando a mão à menina e à boneca, fez que as duas também montassem.

— E rédea? Como arranjar rédea para guiar este potro pelos espaços?

— Faça uma rédea de caudas de outros cometinhas — gritou Emília. — Rabo de cão se cura com mordedura do próprio cão, como diz Tia Nastácia.

Pedrinho gostou da idéia, e mesmo montado conseguiu alcançar e arrancar vários rabos de cometinhas menores, que num instante teceu em forma de rédea e passou pelo “núcleo” do potro. Os pobres cometinhas derrabados olhavam para trás desapontadíssimos e muito sem jeito. Quem se acostuma com rabo não sabe viver sem ele.

— Não se aflijam! — gritou-lhes a boneca. — Lá em casa há um ilustre marquês que também não tem rabo e vive muito bem. E chama-se Rabicó justamente por isso. Rabicó quer dizer sem rabo. Vocês ficam sendo os rabicós celestes...

Depois de bem domado aquele Potro dos Céus, Pedrinho perguntou:

— Pronto? Podemos partir?

— Não ainda! — gritou Emília. — Esqueci de pôr no bolso o meu montinho de estrelas. Espere que já volto — e apeando-se foi encher de estrelinhas o bolso do avental. Depois montou de novo e berrou para Pedrinho:

— Pronto! Podemos fincar as esporas nesta “hipótese”.

Pedrinho não fez isso; fez coisa mais importante: esfregou no nariz do cometa uma boa pitada do pó de pirlimpimpim.

O potrinho celeste espirrou e saiu ventando.
____________
Continua … XV – A Cavalgada Louca
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 284)


Uma Trova Nacional

Uma Trova Potiguar

As trovas que faço a esmo,
em sentidos tão diversos,
são pedaços de mim mesmo
transfigurados em versos.
–JOSUÉ TABIRA/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Niterói/RJ
Tema: PENUMBRA - M/E

Tanto a paixão nos deslumbra
e o seu ardor nos seduz,
que, em nosso quarto, a penumbra
é pontilhada de luz...!
–PEDRO MELLO/SP–

Uma Trova de Ademar

Sob a sombra de um carvalho,
dormi sentindo os odores
e acordei-me vendo o orvalho
molhando o rosto das flores!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não sabe, quem não aceita
as cruzes que carregamos,
que a nossa vida é colheita
daquilo que nós plantamos.
–ALICE ALVES NUNES/DF–

Simplesmente Poesia

Espelho
–MÁRIO QUINTANA/RS–

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste...”

ESTROFE DO DIA

Na aurora da minha mocidade,
Por alguém me deixar na solidão
Comecei a sentir inspiração
Escrevendo poemas de saudade.
Quando tinha dezoito de idade
Fiz a minha primeira cantoria,
O segredo da arte eu nem sabia
Por que era ainda um rapazola;
Com a graça de Deus e a viola
Consegui arranjar o que eu queria.
–CHICO MOTA/RN–

Soneto do Dia

–FRANCISCO PÉRSIO FALABELLA/MG–
Saudade

Há uma palavra triste, comovente,
que todo mundo vive com certeza,
ei-la vibrando maviosamente:
a mais bela da língua portuguesa.

A saudade da amada que se sente,
da família reunida junto à mesa,
nossa infância feliz, meiga, inocente,
dias idos, tão cheios de beleza.

Saudade! Grande mágoa que me invade.
Pela estada da vida não me iludo
de achar o estado da felicidade...

E eu percebo o meu ser vagando a esmo,
é que eu sinto afinal, ao fim de tudo,
uma grande saudade de mim mesmo!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Montagem da Trova Nacional sobre imagem obtida em http://aicarolina.blogspot.com

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aviso a Todos Trovadores



Vocês possuem mais um espaço para divulgar as suas trovas no site da UBT São Paulo.

Aproveitem este espaço para mostrar os seus textos para as velhas e novas gerações. O espaço é seu, associado da UBT SP ou assinante do informativo, aproveite!

Não deixe que as trovas caiam no esquecimento, mantenhamos acesa a sua chama.

Envie suas trovas para J. B. Xavier, em http://www.ubtrova.com.br/contato.php

Participe! Divulgue! Deixe gravado o seu nome nas páginas de nossa história!

Obs: Site restrito aos associados da UBT São Paulo ou assinantes do informativo da UBT SP.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 283)

Uma Trova Nacional


Uma Trova Potiguar


Quero paz, mão estendida,
carinho, amigos e enfim,
a escolha de amar a vida
e ser amado, por fim ...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada


2007 - Porto Alegre/RS
Tema: NAU - Venc.


No mar revolto da vida,
mesmo sem ter o roteiro,
sei que não sou nau perdida
porque Deus é o timoneiro.
–THEREZINHA DIEGUES BRISOLLA/SP–

Uma Trova de Ademar


Eu que já nasci Poeta,
digo-lhe nesta obra prima:
meu coração só se aquieta
depois que eu faço uma rima!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Se a seca nos traz a mágoa,
seca total não existe:
- sempre cai um pingo d`água
dos olhos de um povo triste.
–APRYGIO NOGUEIRA/MG–

Simplesmente Poesia

Metade de Mim
–GISLAINE CANALES/SC–


Endosso as palavras do Poeta,
que disse como ninguém:
“Porque metade de mim é amor,
e a outra metade... Também“.
Minhas duas metades
se completam,
formando um todo de amor!
Metade de mim ama o Sol,
a outra metade ama a Lua...
Metade de mim ama a noite,
a outra metade ama o dia...
Metade de mim, ama a prosa,
a outra metade, a poesia!

Estrofe do Dia

Por capricho a doença me invade
me roubando a coragem, a força, a Fé,
tudo quanto eu sinto sei que é
consequência do peso da idade.
O meu corpo não tem agilidade,
para mim não existe mais saída,
só Jesus e Maria concebida
poderão este quadro reverter;
só se eu fosse maluco pra não ter
a certeza que estou no fim da vida.
–CHICO MOTA/RN–

Soneto do Dia

Amor-Próprio Ferido
–JOSÉ ANTONIO JACOB/MG–


Anos e anos eu sinto as invejosas
Pontadas de ciúmes no meu peito
Ao recitar poesias primorosas
Com versos que eu queria tê-los feito.

Ah! Deus! Eu trago em mim as rancorosas
Mágoas, e uma coroa de despeito
Das alheias estrofes luminosas
Que leio na penumbra do meu leito.

Mas, ainda tenho uma frase que alimenta
A vingança da dor que me restou...
Caio em delírio e a minha febre aumenta.

E o espectro de loquaz, que acho que sou,
Murmura um verso que a demência inventa
Para um amor que nunca me escutou.
---


Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Montagem da Trova Nacional com fotos por J. B. Xavier e José Feldman

Apollo Taborda França (Encantos de Guaratuba)


Senhora do Bom Sucesso,
Nobre São Luiz da Marinha...
Continuem protegendo
Encantos de Guaratuba!
O seu céu e as estrelas,
As lindezas do seu mar,
A carícia das areias,
Até a Barra do Sai!

A doçura de suas praias,
Suas ilhas, manguezais,
As gaivotas, mergulhões,
Garças brancas, quero-queros.
Deliciosas pescarias,
O pôr do sol na baia,
Claro luar das Caieiras,
O Cristo do Brejatuba!

Os altivos pescadores,
os deslumbrados turistas,
O amor por toda parte.
As garotas tão vistosas,
Circulando pela urbe,
São colírios para os olhos
Que não param de olhar!

Ricas, chics residências,
Suas largas avenidas,
As paineiras, flamboyantes,
Outras árvores que tais.
Seduzindo a não poder
Bem lembrando as serenatas,
No correr das madrugadas!

Sol se estira no horizonte,
Tarde fica rosicler...
Na balada de uma fonte
Há uma aroma de mulher!
No prazer e na alegria,
Em vivência primordial...
Que se passa a cada dia:
- Guaratuba é sem igual!...

Concursos da UBT São Paulo 2011 (Resultados Finais) 2a. Parte











CONCURSO ASSOCIADOS DA SEÇÃO SÃO PAULO – SP

VENCEDORES
Tema: Fornalha


Tua carícia não falha
e ao fogo de amor me induz,
pois tua mão é fornalha
que me esquenta à meia luz.
ANALICE FEITOZA DE LIMA

Deserto, paisagens tortas,
fornalha de inferno e frágua,
as dunas são ondas mortas,
neste mar que não tem água
CAMPOS SALES

Obs: A palavra frágua significa fogueira. Naturalmente, que num sentido figurado se utiliza para exprimir tudo o que está relacionado com este conceito; fogo, calor intenso, etc

O sol parece fornalha
queimando tudo o que existe.
O chão, seco, a fome espalha…
mas, nordestino, resiste!
HÉRON PATRÍCIO

Eu vi queimar os encantos
dos sonhos deste menino
e transformá-los em prantos
na fornalha do destino
JOSÉ GILBERTO GASPAR

O teu adeus é um castigo,
mas, me acalma esta verdade:
a esperança é o meu abrigo
na fornalha da saudade!...
MARILUCIA REZENDE

O sol que vai se deitando,
neste ocaso que me alcança,
é uma fornalha queimando
os meus sonhos de esperança.
MARINA BRUNA

Tu foste embora e, ao partir,
me deixaste só, sem dono,
com minha alma a se extinguir
na fornalha do abandono...
MARINA BRUNA

Uma fornalha é meu leito
e, ao amar-te sem pudor,
embora ele seja estreito,
estreita mais nosso amor!...
MARISA RODRIGUES FONTALVA

Quando a paixão é marcada
por possessão, se resume
numa rosa incinerada
na fornalha do ciúme...
RENATA PACCOLA

Na fornalha deste amor,
fiz um cristal se quebrar,
ao derramar meu calor
no gelo do teu olhar...
RENATA PACCOLA

A vida é um “fogo de palha”
e o tempo se mostra algoz,
mais parece uma fornalha
onde a palha... “somos nós”!...
ROBERTO TCHEPELENTYKY

Na fornalha, em que me abraso,
- você finge que não vê -
seu desprezo não faz caso
do meu amor... por você!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

NOVOS TROVADORES
Tema: Fornalha

Se for teste, meu Senhor,
o viver nesta fornalha,
tu verás que a fé e o amor
de um nordetino não falha!
J. B. XAVIER

Eu lembro a roça, a fornalha,
coisa comum no sertão:
água bebida na talha
e a fornalha assando o pão.
WALDIR GERSON GRANZOTTI

Joguei rosas na fornalha
e o vento, por brincadeira,
vendo as cinzas, as espalha
perfumando a praça inteira!
WALDIR GERSON GRANZOTTI

Tendo fé, não sou ruim,
na caridade eu me esforço,
pois quem é mau tem por fim
a fornalha do remorso!
YEDDA RAMOS MAIA PATRÍCIO

CONCURSO HUMORÍSTICO ASSOCIADOS DA SEÇÃO SÃO PAULO – SP

Tema: Forró

VETERANOS E NOVOS TROVADORES


A Raimunda, minha prima,
lá no forró faz sucesso;
é que o povo adora a rima
que a prima tem em excesso.
CAMPOS SALES

“Fazê forró? Dexo não.
– Dotô, meu povo é pacato.
– E se tivé confusão?
– Si tivé, dexa que eu mato.”
CAMPOS SALES

No forró, cachaça à mão,
a morena dando trela
e o sanfoneiro, “doidão”,
atrás do molejo dela…
DARLY O. BARROS

O forró, diz meu amigo,
me esbraseia e deixa quente:
o esfrega-esfrega de umbigo
é um perfeito “antecedente”.
HÉRON PATRÍCIO

O forró ia animado:
de briga, nenhum perigo…
– Gostoso, que só pecado:
era umbigo contra umbigo! …
HÉRON PATRÍCIO

– Quando saiu… a maninha
foi com “mãinha” ou foi só?
– Sei não! Mas voltou “mãinha”,
quando chegou do forró!
JAIME PINA DA SILVEIRA

Severino tem oitenta!
Raimundinha, vinte e dois!
Mas, quando o velhinho esquenta,
fica o forró prá depois!…
JAIME PINA DA SILVEIRA

No forró do bate-fundo,
Manezinho cai na dançavam
e, naquele fim de mundo,
enche o mundo de criança…!
MARIA DE LOURDES PAIVA REIS

Com sensual rebolado,
a morena, vejam só,
faz o forró assanhado
virar um forrobodó!!!
MARILUCIA REZENDE

No forró, tanto dançava
a decotada senhora
que o que dentro antes pulava
pulou pro lado de fora.
MARINA BRUNA

No forró dança sozinho
aquele gordo, e se queixa
que não dança agarradinho
porque a barriga não deixa!
MARTA MARIA PAES DE BARROS

Falhou, marcando o compasso
do forró… mas, se esforçou
e quando acertou seu passo,
seu marca-passo… falhou!!!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

São dois, no espaço de um só
de agarradinhos que estão…
e a moça, após o forró,
teve direito à pensão!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Fontes:
Revista "Concursos UBT São Paulo - 2011"
Fotos: José Feldman

UBT Seção São Paulo (Homenagem aos Pais)


Meu pai nada me falava
quando me via nervoso.
Aprovava ou reprovava
num olhar doce e bondoso.
(J.B.Xavier)

Foi meu pai, com seu carinho
e o calor de seus abraços,
a luz firme em meu caminho
e a meta para os meus passos.
(Henrique Aragão)

Do meu pai me lembro bem,
nos seus olhos quanto brilho
sempre que dizia a alguém:
"Tenho orgulho do meu filho!"
(Wilson Montemor)

Meu pai! É tal o carinho
com que minha alma te exalta,
que Deus me deu um netinho
Compensando a tua falta.
(Alcy R.Souto Maior)

Palavra alguma conforta
a um pai que vê com tristeza,
a fome rondando a porta
querendo sentar-se à mesa...
(Campos Sales)

Meu pai, humilde e bondoso,
viveu pobre e, mesmo assim,
foi tão nobre e caprichoso
que fez um homem de mim!
(José Maria Machado de Araújo)

Toda criança constrói
um mundo feliz, sem medo.
Foste, pai, o meu herói
do meu mundo de brinquedo.
(Nilci Guimarães)

Papai, eu queria tanto
que hoje estivesses comigo
para secar o meu pranto
sentindo o teu peito amigo.
(Marisól)

Deus Pai, criador do mundo,
sou grato porque o fizestes.
Mas, um favor mais profundo,
Vos devo: o pai que me destes!
(Carlinda Lamego)

Se esta Trova for manchada,
a explicação aqui vai:
Foi a lágrima chorada
de saudade de meu pai.
(Almerinda Liporage)

A lembrança de meu pai
É a chama que me alumia;
é a vida que dá mais vida
a quem tanto ele queria.
(Octávio Babo Filho)

Honesto e trabalhador...
Exemplo que não se esvai...
Eis o perfil mais sem cor
em que revelo meu Pai!
(João Freire Filho)

Dosando amor e energia
ele cumpriu seu destino;
Oh meu pai! como eu queria
ser novamente um menino!
(Ercy Maria Marques Faria)

Quando a voz de um pai ressoa
e a de um filho abaixa o tom,
conselho é semente boa
plantada em terreno bom.
(Aloisio Alves da Costa)

Meu pai deixou esta vida.
Para o céu, Deus o levou.
Foi a ausência mais sentida
que o destino me legou.
(Ivo dos Santos Castro)

Pai, não existe, em verdade,
um dia teu de honrarias:
não há dia sem saudade,
pois são teus todos os dias!...
(Elmo Gomes)

Senhor Deus - o Pai dos Pais,
-porque motivo consentes,
entre teus filhos iguais,
destinos tão diferentes?
(João Rangel Coelho)

Contra este mundo selvagem,
para um filho defender,
um pai descobre a coragem
que nunca soubera ter!
(Marina Bruna)

Fonte:
http://www.ubtrova.com.br/visualizar.php?idt=3136563

Millôr Fernandes (Poesia Matemática)


Um Quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base...
Uma Figura Ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo ortogonal, seios esferóides.
Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela.
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
- O que, em aritmética, corresponde
A alma irmãs -
Primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz.
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar
Constituir um lar.
Mais que um lar.
Uma Perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum...
Freqüentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais
Um Todo.
Uma Unidade.
Era o Triângulo,
Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a
Relatividade.
E tudo que era expúrio passou a ser
Moralidade
Como aliás, em qualquer
Sociedade.

Fonte:
Texto enviado por Efigênia Coutinho.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 282)


Uma Trova Potiguar

Vendo os dotes de Jussara
no seu biquíni miúdo...
–Morro de inveja do cara
que é dono daquilo tudo!!!
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

2005 - Nova Friburgo/RJ
Tema: COMILÃO - M.H

Se é verdadeiro que é o cão
maior amigo da gente,
amigo de comilão
deve ser “cachorro quente”!
–SELMA PATTY SPNILELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

A pimenta é ardilosa...
Toma cuidado, rapaz!
Pois deixa mais dolorosa,
aquela parte de trás.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Na paquera é mesmo craque.
Com muita bossa, a Tereza
joga fechada no ataque
deixando aberta a defesa...
–VASQUES FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

O beijo.
–BASTOS TIGRE/PE–

A namorada do Mário,
Lia - um anjo de inocência,
Para um caso de consciência
Vai consultar o vigário.

E, a face rubra de pejo,
Lhe pergunta se é pecado
Dar um beijo ao namorado,
Ou dele levar um beijo.

Diz o padre: - Um beijo apenas
É pecado, dos veniais,
Mas sendo dois, três ou mais
Merecem do inferno as penas.

Lia está de causar dó!
Pavor do inferno, bem vejo,
Ela bem sabe que o beijo
Não se dá nem leva um só...

Estrofe do Dia

Vi um tatu sanfoneiro
e um tejo cantando hino,
calango no violino
tocando certo e ligeiro,
lagartixa no pandeiro
tocando um samba infernal,
um peba lendo um jornal
sentado em cima dum toco;
vi cobra comendo coco
no centro da capital.
–BEM-TE-VI NETO/CE–

Soneto do Dia

...Na Gandaia.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Eu puxei a meu pai, pois sua praia,
pelo que minha mãe sempre dizia,
foi sempre fazer verso e poesia,
como também, curtir “rabo-de-saia”.

Por isto quando caio na gandaia,
não tem mês, não tem hora, não tem dia,
só mulher cura esta minha arritmia,
só não quero negócio com Lacraia.

Pego toda mulher, desde que nova,
pois mulher para mim é como trova
sendo bonita eu vou na quantidade.

Se a mulher descobrir, eu tô lascado,
eu nego e faço um verso apaixonado,
desminto minha hereditariedade.

Recomendo:
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Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Montagem de trova sobre imagem obtida em http://zumptv.blogspot.com/

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XIII – Proezas da Emília em Marte


Os meninos quedaram-se calados e imóveis atrás da pedra enquanto Emília se afastava. Meia hora depois já estavam inquietos.

— Fomos muito egoístas, Pedrinho, deixando que Emília saísse com o seu lampeirismo por este mundo desconhecido. Se ela nunca mais voltar, vai ser uma tristeza lá no sítio.

— Não tenha medo — animou Pedrinho. — Emília é uma danada.

E tinha razão de pensar assim, porque logo depois a boneca reapareceu, com cara alegre.

— Estamos salvos! — foi dizendo muito lambeta. — Os marcianos não nos podem ver. Fiz todas as experiências. Passei rentinha duma porção deles. Cheguei até a puxar o chicotinho de um. O coitado levou um susto, mas não me percebeu. Podemos passear por aqui sem medo de nada.

E assim foi. Saíram dali sem medo nenhum e, sempre guiados pela Emília, andaram por toda parte como se estivessem na casa da sogra. Como os dois nada pudessem ver, tinham de contentar-se com as informações da Emília.

— Estamos num maravilhoso palácio — disse ela em dado momento. — Deve ser o palácio do governo dos marcianos. Lá está o rei no seu trono, todo batatal, como se fosse o dono dos mundos...

— Como é esse rei? — perguntou a menina, ardendo de curiosidade.

— Oh, um rei e tanto e diferente dos outros marcianos. Tem o chicote da cara mais comprido. Esperem... Estou vendo que o tal chicote não serve só para falar... O rei está danado com alguém. O chicote vibra no ar e dá chicotadas num marciano... Surra e fala ao mesmo tempo... Esperem, esperem ... Estou compreendendo a linguagem do chicote...

Os dois meninos começaram a ficar com medo da boneca. Parecia transformada. Não mais lembrava a Emília bobinha e asneirenta lá do sítio. Falava e raciocinava na maior perfeição como se alguma misteriosa fada lhe houvesse enxertado um novo dom.

— Já aprendi a língua dos marcianos — disse ela por fim. — Compreendo perfeitamente o que falam. E sabem o que o rei está dizendo? Está dizendo a um cara de crocotó (com certeza um ministro) que o planeta foi invadido por entes estranhos.

— Mas como pode saber disso se não nos enxerga? — observou Pedrinho.

— Não enxergam, mas sentem. O rei está falando... Está dizendo: “Há qualquer coisa de estranho por aqui. Quero que os aparelhos detectores sejam postos em ação imediatamente”.

— Que aparelhos detectores serão esses? — indagou Pedrinho. — Com certeza inventaram olhos mecânicos, já que não podem enxergar como nós. Se os tais aparelhos detectores nos descobrem, estamos fritos...

— Fritos, nada! — exclamou Emília. — Havemos de tapear estes marcianos com todos os seus crocotós.

— Que tantos crocotós são esses, Emília? — volveu Narizinho.

— São as coisas esquisitas que eles têm pelo corpo e não posso adivinhar o que sejam. Crocotó é tudo que é empelotado ou espichadinho como os tais chicotes. Os marcianos são crocotosíssimos. Esses crocotós devem ser órgãos próprios deles aqui.

— E como vamos nos arranjar com gente assim?

— Eu dou jeito — declarou Emília. — Vou descobrir os tais ‘‘aparelhos detectores” — e misturo tudo, arraso com eles.

Disse e fez. Meteu-se pelo palácio na pista do ministro, o qual, depois de receber a ordem do rei, se encaminhara para o aparelho detector ali do palácio.

Era um maquinismo esquisito e incompreensível, mas Emília sabia que todas as máquinas têm um ponto comum: só funcionam quando estão com todas as peças perfeitinhas e no lugar. Uma que seja quebrada ou retirada, e já o funcionamento da máquina inteira não é o mesmo.

Pensando assim, Emília agarrou uma espécie de martelo e começou a martelar as peças mais delicadas, quebrando ou amassando as que pôde.

O pobre ministro, muito apavorado, via o amassamento das peças sem conseguir ver o autor do estrago, e tal foi a sua impressão que de súbito caiu por terra desmaiado. Emília aproximou-se para examiná-lo de bem perto.

Que ente esquisito! Não era de carne e sim duma substância branca e mole como a borracha. Emília examinou-o demoradamente sem que conseguisse entender coisa nenhuma. Via uma porção de crocotós ou órgãos muito diferentes dos nossos. Qual seria a boca? Quais seriam os olhos ou os ouvidos? Só quanto ao chicote é que ficou certa, pois era na verdade o órgãozinho com que os marcianos se entendiam entre si.

Depois de muitas pancadas no Aparelho Detector, a boneca percebeu que daquele mato não sairia coelho, isto é, que já não havia perigo de serem detectados por aquele aparelho. Para maior segurança pregou uma terrível martelada num dos crocotós do ministro desmaiado — e foi correndo para onde estavam os meninos. A despeito da martelada no crocotó, o ministro voltou a si e foi dar parte ao rei dos esquisitos acontecimentos.

— Algum estranho invadiu os nossos domínios e acaba de arruinar o detector do palácio — disse ele. — Vi os estragos irem aparecendo como por si mesmos, mas não pude ver o autor daquilo. É invisível. E também sentia a ação do intruso em meu crocotó número 5. Deu-me tamanha martelada que quase fui para o beleléu...

— Nesse caso — ordenou o rei furioso — expeça ordem para que os quinhentos detectores do reino sejam postos em atividade — quero ver se o tal intruso tem forças para arruinar todos os nossos detectores. E logo que ele seja detectado e aprisionado, quero que o ponham num garrafão de álcool e o guardem no museu.

— Hum!... — fez Pedrinho ao ouvir essa história. — Já tive um saci na garrafa1 e não quero que me aconteça o mesmo. O melhor é safar-nos deste misterioso e perigoso planeta antes que nos detectem e engarrafem...

— Isso é o verdadeiro — concordou Narizinho. — Passe para cá a minha pitada de pirlimpimpím e azulemos daqui.

Pedrinho distribuiu as pitadas e deu o sinal:

— Um... dois... e três!

Mas na pressa com que fizeram aquilo esqueceram-se de determinar o rumo a seguir, de modo que em vez de irem para um novo planeta foram despertar na Via-láctea.
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Continua … XIV – A Via-Láctea
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa