quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Casamento De Narizinho – VII – Vem Vindo o Socorro


Pedrinho suava na maior aflição. O socorro que pedira não vinha nunca. Quando chegasse, talvez Rabicó já estivesse estrangulado pelo monstro. O que estava retardando isso era a curiosidade do polvo. Parecia divertir-se em olhar para o focinho aterrorizado do mísero marquês de língua de fora, que revirava os olhos para todos os lados em procura da salvação. Pedrinho, que espiava a cena por uma fresta do camarote, fazia-lhe sinais para que não morresse antes da chegada do socorro. Quanto ao Visconde, estava, por ordem de Pedrinho, trepado à gávea do mastro grande para dar aviso logo que avistasse as tropas do príncipe. Mas foi coisa que nada adiantou. O Visconde era um verdadeiro sábio e os sábios são muito distraídos. Logo que chegou ao alto do mastro, distraiu-se com uma baratinha do mar que andava por ali, ficando a parafusar que nome científico poderia ela ter. Por isso não viu a chegada dos couraceiros, nem pôde dar o aviso. Eram os tais couraceiros uns terríveis caranguejos rajados, de casca rija como a da tartaruga e armados de pinças piores que boticão de dentista. Por serem muito vagarosos, vinham montados em peixes-elétricos. Chegaram, apearam. O comandante perguntou ao menino onde estava o senhor Marquês.

— No camarote número 7, bem no fundo – respondeu Pedrinho em voz baixa para que o polvo não ouvisse.

Os couraceiros foram avançando, pé ante pé. Foram avançando e, de repente, deram um pulo, todos ao mesmo tempo, e “fulminaram” o polvo. Sim, fulminaram. Como viessem montados em peixes elétricos, tinham ficado carregadíssimos de eletricidade, como pilhas, e assim, mal seus ferrões tocaram o polvo, produziu-se o terrível choque elétrico que o fulminou. E não fulminou Rabicó também? Não. Rabicó tinha-se agarrado por acaso a um pára-raio que havia ali. Isso o salvou. E mal escapou do monstro, correu, coin, coin, coin, para onde estava o menino. Mas apesar de salvo continuava, coin, coin, coin, como se ainda estivesse sofrendo alguma coisa. Pedrinho examinou-o. O pobre marquês estava com um siri ferrado na pontinha da cauda!

— Escapei dum mas caí noutro! — gemia o mísero. – Este polvinho que me está agarrado à cauda é duas vezes mais doído que o grande...

Em vez de livrá-lo do siri, Pedrinho achou graça no caso.

— Você fica lindo assim, marquês! Esse siri na cauda vai muito melhor que o laço de fita vermelha — e deixou-o como estava.

Pedrinho foi dali examinar o polvo moribundo, naquele momento rodeado dos valentes couraceiros. Nisto viu o Visconde que vinha descendo do mastro com a baratinha dentro da cartola.

— Acho que esta baratinha deve ser um Balabera gigantea das Índias Ocidentais, começou ele a explicar.

O menino ficou danado.

— E eu acho que o senhor Visconde é um perfeito palerma. Foi para pegar baratinha que eu o mandei subir ao mastro?

— É verdade! — exclamou o Visconde batendo na testa. — Esqueci-me completamente da sua recomendação. Mas não faz mal, volto para lá outra vez e assim que as tropas do príncipe apontarem ao longe darei sinal.

— Vai voltar mas é para o palácio, isso sim. Não vê que as tropas do príncipe já vieram e Rabicó já está salvo? — e pondo o marquês em marcha tomou rumo do palácio.

O Visconde seguiu atrás, com a baratinha na mão. “Será uma Balabera ou uma Stylopyga? Que pena estar tão longe aquele livro de dona Benta...” — ia pensando ele, todo rugas na testa.

Chegando ao palácio encontraram as portas fechadas. O porteiro disse-lhes que o casamento já havia começado. Pedrinho aborreceu-se.

— Essa é boa! Será que terei de assistir ao casamento de Narizinho aqui da rua? Abra a porta! — ordenou ao porteiro.

— Só com ordem do príncipe — respondeu este. Pedrinho armou o bodoque; mas mudando de idéia disse a uma minhoca do mar que estava de prosa com o porteiro:

— Senhorita, faça-me o favor de passar pelo buraco da fechadura e ir dizer ao príncipe que mande abrir a porta incontinenti, pois estou esperando aqui na rua...

Partiu a minhoca e Pedrinho, ansioso por saber o que estava se passando, trepou a uma das janelas para espiar lá dentro. E viu tudo.

Viu Narizinho deslumbrante no seu vestido cor do mar com todos os seus peixinhos. Na cabeça trazia um diadema feito das mais raras pérolas dos sete mares, e na mão um cetro de nácar todo esculpido.

Ao lado dela caminhava o príncipe no seu maravilhoso manto de rei, feito das mais raras escamas. Atrás vinha a Emília, de vestido de cauda, braço dado a um soleníssimo Bernardo Eremita. Este senhor trazia nas mãos uma salva de escama onde repousava a coroa com que o príncipe ia ser coroado. Firmando a vista, Pedrinho viu que a coroa era a tal rosquinha que a menina lhe havia mandado de presente.

— Esta Narizinho é de muita sorte! — murmurou ele consigo.

— Apanhou um marido que além de príncipe tem idéias muito felizes...

Chegados aos primeiros degraus do trono, os reais noivos principiaram a subir passo a passo, ao som das mais belas músicas que se possam imaginar. Eram cantos de sereias vindas de todos os pontos do oceano. Pedrinho, que jamais vira sereia, arregalou bem arregalados os olhos pensando lá consigo : “E a boba da vovó que não acredita em sereia?” Súbito, o príncipe parou, como se alguém estivesse a lhe mexer no pé. Olhou para baixo. Viu a minhoca com o recado. Entendeu muito bem o que ela disse e, voltando-se para Narizinho, explicou:

— É Pedrinho, o Visconde e o marquês que acabam de chegar.

— Que bom! — exclamou a menina batendo palmas. — Mas agora temos de recomeçar a festa desde o começo, se não Pedrinho fica danado.

Quem mandava no reino já era Narizinho. Um desejo seu valia por ordem terminante, de modo que o príncipe fez parar a festa para começar novamente.

Cada qual foi para o seu posto, todos muito compenetrados, à espera de que Pedrinho, o marquês e o Visconde entrassem e tomassem as poltronas que lhes estavam reservadas. As portas do palácio abriram-se afinal e os três aventureiros surgiram. Emília incontinenti notou qualquer coisa estranha na ponta da cauda do marquês.

— Que é que Rabicó tem na cauda? — interrogou ela firmando a vista. — Parece que o laço de fita virou siri... e correu para ver bem.

Verificando que era siri mesmo, desmaiou de vergonha — Ah!...

Houve grande rebuliço. Toda a corte correu para ampará-la.

Veio à pressa o doutor Caramujo, que lhe tomou o pulso demoradamente.

— Não está morta, não! — disse ele por fim. – Apenas desacordada.

— E como há de ser para acordá-la? — perguntou Narizinho ansiosa. — Não haverá éter por aqui?

— Há coisa melhor — declarou o doutor Caramujo. — Há siris. Para acordar uma criatura desmaiada, não conheço nada melhor do que botar um siri em cima. Tragam-me um siri!...

O príncipe gritou:

— Um siri! Meu reino por um siri!...

— Aqui está um — disse Rabicó voltando-se de costas para o doutor Caramujo, muito contente de ter aparecido aquele jeito de se livrar do incômodo brinco da cauda.

O doutor agarrou no siri, tirou-o da cauda de Rabicó e aplicou-o no nariz da Emília. A boneca imediatamente deu um suspiro.

— Onde estou eu? — murmurou abrindo os olhos, ainda apalermada.

— Sente-se melhor? — indagou o médico.

— Um pouco... Mas tenho a vista turva. Vejo tudo atrapalhado, como se o mundo estivesse cheio de pernas...

Eram as pernas do siri ainda penduradas no nariz dela! O doutor riu-se e, afastando-lhe do nariz aquele pernudo “éter”, guardou-o no bolso para outra emergência, dizendo:

— Um médico deve andar sempre prevenido...

Terminado o incidente, ia a festa começar de novo. Chegou o casamenteiro — outro Bernardo Eremita, muito respeitado no reino pelas suas manhas. Fora convidado não só para fazer o casamento como também para coroar o príncipe com a famosa coroa de rosquinha engastada de diamantes.

— Começa tudo de novo desde o principio! — foi a ordem do príncipe.

E tudo recomeçou desde o princípio. As sereias repetiram os lindos cantos que já haviam cantado e os noivos repetiram a marcha a passos lentos em direção ao trono nupcial! Enquanto caminhavam, uma chuva de pérolas em pó caía sobre eles. Subiram ao trono. Sentaram-se. O venerando Bernardo Eremita pronunciou as palavras sacramentais e os casou, bem casadinhos. Palmas romperam, e gritos, e hurras. Narizinho estava princesa, finalmente! Restava a coroação.

O venerando Bernardo pronunciou outras palavras sacramentais e concluiu pedindo a coroa.

Mas... que é da coroa? Havia desaparecido.

— A coroa sumiu! — murmurou o fidalgo que segurava a salva de escama, mais pálido que uma folha de papel. — Alguém furtou a coroa!...

— Miserável! — rugiu o príncipe, avançando para ele, tomado de súbito acesso de cólera. — Como deixou perder-se a mais rica jóia de meu tesouro? — e deu-lhe uma cetrada na cabeça.

Foi um rebuliço. A corte debandou apavorada. Todos sabiam que quando o príncipe surrava alguém com o cetro era sinal de fim do mundo, pior que tempestade em alto mar. Narizinho e seus companheiros acharam melhor debandarem também. Saíram dali correndo e chegaram pingando ao sítio de dona Benta. Assim que pararam para tomar fôlego, Emília voltou-se para a menina e disse:

— Eu vi, Narizinho! Juro que vi! Foi Rabicó quem comeu a coroa do príncipe!...

––––––––
Continua... Aventura do Príncipe – I – O Gato Félix

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Alerta aos Assinantes do Blog



Por uma falha minha de digitação, faço uma errata no Trovia do Assis

Ao final da postagem onde se lê
Visite e participe da Trova-Legenda de Eliana Jimenez - http://poemaemtrovas.blogspot.com

No endereço do blog da Eliana, o correto é http://poesiaemtrovas.blogspot.com

Na postagem abaixo, já foi corrigido.


Perdoem-me a falha.
José Feldman

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trova Ecológica 55 - Prof. Garcia (RN)

A. A. de Assis (Lançamento da Revista Virtual Trovia n. 144 - dezembro de 2011)

Jogos Forais de Porto Alegre – 2011
Flávio Stefani e Maurício Friedrich
Trovadores de Balneário Camboriú


INESQUECÍVEIS

Na conquista de troféus,
um só quero merecer:
chegar às portas dos céus
e a mão de Deus me acolher.
Aurolina de Castro

Gostar de ti, quem não há de?
Inspiras tal simpatia,
que a gente sente saudade
se deixa de ver-te um dia.
Colombina

Meus irmãos, tenham piedade
do infeliz que, sem talento,
na muleta da vaidade
tem seu único sustento.
Ernesto Machado

Miséria de pão maltrata...
Mas quanta gente, Senhor,
sabeis que morre ou se mata
quando há miséria de amor!
Lilinha Fernandes

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !...
Luiz Otávio

Senhor, escuta os cicios
dos excluídos, sem teto...
Troca seus ninhos vazios
por ninhos cheios de afeto!
Milton Nunes Loureiro

Parabéns, presidente Luiz Carlos Abritta.
A trova e os trovadores esperam muito de você.

BRINCANTES

Vendia colchões... vendia,
porque em nova “profissão”
ganha mais grana hoje dia
usando o mesmo colchão...
Darly O. Barros – SP

Eu vivo numa sinuca
por causa de uma vizinha:
ela desarma a arapuca
sempre que eu solto a rolinha...
Divenei Boseli – SP

O pobre do pipoqueiro
não escapa da fofoca:
faz pipoca o dia inteiro,
mas, de noite, só... “pipoca”...
Izo Goldman – SP

Ao homem muito ciumento
há um dilema que emperreia:
ou esquece o casamento,
ou casa com mulher feia!
Josa Jásper – RJ

– Preciso falar contigo...
E eu, que o conheço tão bem,
lhe disse: – Prezado amigo,
vamos falar mal de quem?...
José Fabiano – MG

Sobre o colo da visita
pula logo a cadelinha
e a visita, mesmo aflita,
tem que dizer: - Que gracinha!...
Marina Bruna – SP

Enquanto conta lorota
cantando as gatas na rua,
em casa vira chacota,
por não dar conta da sua...
Osvaldo Reis – PR

A pulga e o “pulgo” a brigar...
Foi enorme a confusão!
A pulga deixou o lar
e... foi morar noutro cão!
Renato Alves – RJ

LÍRICAS E FILOSÓFICAS

No meio da multidão,
pode ocorrer-lhe o imprevisto:
alguém, que lhe estenda a mão,
ser de novo Jesus Cristo.
A. A. de Assis – PR

Nossa cultura se entende
nas lições que eu mesmo tive;
o saber a gente aprende,
a cultura a gente vive.
Ademar Macedo – RN

Eu vi crianças brincando
junto de lindas roseiras
como aves cantarolando
nos ninhos todas faceiras
Agostinho Rodrigues – RJ

Este amor que é meu tormento
bate em casa abandonada;
responde, na voz do vento,
somente o eco – mais nada!
Amaryllis Schloenbach – SP

Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
a trova em mim fez pousada,
trazendo a felicidade.
Andréa Motta – PR

Tudo em ti pede carinho,
pela graça que tu és...
– Amo o teu corpo inteirinho,
beijável da testa aos pés!
Bruno Pedina Torres – RJ

No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
se estás longe, ele se arrasta;
se perto, corre demais”
Carolina Ramos – SP

Eu queria ser feliz,
Deus me deu sabedoria;
era simples aprendiz,
virei mestre da alegria.
Carmem Pio – RS

Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto sofro por você!
Conceição de Assis – MG

Um coração que se isola
cava a própria solidão
e não há melhor escola
que o convívio com o irmão.
Dáguima de Oliveira – MG

Tua amizade é tão bela
que confrange o coração.
Por isso me lembro dela
no momento da oração!
Diamantino Ferreira – RJ

Poeta mantém acesa
a chama do amor fecundo,
minimizando a tristeza
e as dores cruéis do mundo.
Djalma Motta – RN

Procure espalhar, na vida,
alegria em sua estrada,
que a alegria dividida
é sempre multiplicada!
Domitilla B. Beltrame – SP

A saudade se embaraça
e a paixão se intensifica...
Não pelo instante que passa,
mas pelo instante que fica!
Eduardo A. O. Toledo – MG

Eu não preciso de ajuda!
Quem essa frase repisa,
meu amigo, não se iluda,
é o que dela mais precisa...
Élbea Priscila – SP

Abra a porta, deixe a luz
resgatar seu coração.
Vá sem medo, faça jus
a viver nova paixão.
Eliana Jimenez – SC

Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Gerador de paz e calma,
que dispensa cerimônia,
o livro é o jantar da alma
nas noites claras de insônia.
Flavio Stefani – RS

Ao longo deste ano distribuímos trovas à mão-cheia.
Ajudamos o mundo a sonhar, pensar, sorrir. Missão cumprida.

Toda tarde o passarinho
bate as asas, quando canta.
Quanto mais longe do ninho,
mais afinada a garganta!
Francisco Garcia – RN

Espremam o coração
deste vate trovador,
e vocês conhecerão
o doce suco do amor!
Francisco Macedo – RN

Os sonhos da mocidade
são diferentes dos meus...
O jovem quer liberdade
e eu quero estar preso a Deus!
Francisco José Pessoa – CE

Um mundo melhor... queria,
para deixar aos meus netos,
onde imperasse a alegria
numa transfusão de afetos!
Gislaine Canales – SC

Nesta terra que volteia
sob ditames divinos,
somos meros grãos de areia,
transitórios inquilinos.
Humberto Del Maestro – ES

A velhice, meu irmão,
não é uma questão de idade.
É quando vai-se a ilusão
e vem chegando a saudade.
Jaime Pina da Silveira – SP

A falsa humildade é feia,
raramente é uma façanha;
geralmente é um grão de areia
se dizendo uma montanha.
J.B. Xavier – SP

Transformou nosso destino
uma pequena criança,
pois junto a Jesus menino
nasceu no mundo a esperança!
Jeanette De Cnop – PR

Grato por sua amizade,
pelo incentivo e carinho;
ter amigo é, na verdade,
jamais caminhar sozinho.
Jessé Nascimento – RJ

Na saliência do seu ventre
quanta promessa...esperança...
Que a luz do amor se concentre
na vida dessa criança!
João B. X. Oliveira – SP

Os meus versos se calaram,
à saudade sucumbi;
minhas lágrimas secaram
de tanto chorar por ti...
João Costa – RJ

Ontem... florestas... encanto...
flores a desabrochar.
Hoje... pinheiros em pranto,
grito parado no ar!
José Feldman – PR

Depois que ela me deixou,
foi pra longe e não mais veio;
a saudade atravessou
meu coração pelo meio!
José Lucas de Barros – RN

Alma serena... e que abriga
velho sonho que vagueia...
parece varanda antiga,
onde a saudade passeia!
José Messias Braz – MG

A idade, a chegar de manso,
respeitando o meu cansaço,
põe cadeiras de balanço
nas tardes por onde eu passo!
José Ouverney – SP

Partiu, deixando o seu traço
no meu caminho dos sós...
A saudade é esse espaço
que existe sempre entre nós.
José Valdez – SP

Enquanto a chuva, lá fora,
escorre pela vidraça,
choro meu pranto que, embora
passando a chuva, não passa.
Laérson Quaresma – SP

Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
Lucília Decarli – PR

Não foi perto, nem distante
o nosso amor ideal;
nasceu da luz de um instante
e se tornou imortal!
Luiz Carlos Abritta - MG

Um abraço a todos os divulgadores de trovas.
Graças a eles os nossos versos rodam mundo.

A cada dia que passa,
muda minha realidade,
meus sonhos viram fumaça,
amores viram saudade.
Luiz Hélio Friedrich – PR

Zune o vento – na janela...
Zumbe a abelha – no jardim...
Zarpa a nau – rumo à procela...
- Zomba a saudade... de mim!...
Ma. Madalena Ferreira – RJ

A saudade é um bem guardado
que nos volta, de repente,
num presente do passado,
quando o passado é presente.
Maria Nascimento – RJ

Não há fronteira na vida
que separe um grande amor,
quando a ponte foi erguida
pelas mãos do Criador.
Olga Agulhon – PR

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
Olympio Coutinho – MG

De que estranho ingrediente
será a saudade composta,
que maltrata tanto a gente
e assim mesmo a gente gosta!
Pedro Ornellas – SP

Dos instantes devotados
a cada luta vencida,
todos estão retratados
no painel da minha vida.
Roberto Acruche – RJ

Embora livre, sozinho,
não conheço liberdade...
– Fui presa do teu carinho,
hoje estou preso à saudade!
Rodolpho Abbud – RJ

Prestigie sempre os novos trovadores.
Deles depende muito a trova para ter futuro.

Minha infância – que linguagem!
Se no céu relampejava,
eu sentia, nessa imagem,
que Deus me fotografava!
Roza de Oliveira – PR

Se a realidade me abate,
jamais me dou por vencida:
vou à luta, entro em combate
e, com fé, enfrento a vida!
Thereza Costa Val – MG

Meu coração não se expande.
Chora sozinho e sem queixa...
Sabe quando o amor é grande
pela saudade que deixa.
Therezinha Brisolla – SP

É tão vazia a paisagem,
e nem um vulto se vê...
Mas, sem ver qualquer imagem,
consigo enxergar você!
Vanda Fagundes Queiroz – PR

Vence valores, de fato,
quando em meio à discussão,
se revolta de imediato,
mas, na ofensa... dá o perdão!!!
Vânia Ennes – PR

Palavras, rica mistura
que o livro sempre nos traz,
em direção à cultura,
com a leveza da paz.
Vidal Idony Stockler – PR

Somos velhos caminhantes...
a doçura nos invade;
namoricos vão distantes,
fica o flerte da saudade!
Wagner Lopes – MG

Sem outra opção que a rotina
de esperar-te sempre em vão,
minhas noites de neblina
só gotejam solidão...
Wanda Mourthé – MG

Nós, os trovadores, felizes somos, e a todos
queremos ver felizes também. Neste Natal e sempre.

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 411)


Uma Trova Nacional

Com essa boca molhada
e esse aroma de hortelã,
mal disfarças a noitada,
ao beijar-me de manhã...
–LOURDES PAIVA/SP–

Uma Trova Potiguar

A saudade é um trem alado
que transporta, inconsciente,
a bagagem do passado
para o vagão do presente.
–RENATO CALDAS/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Rio de Janeiro/RJ
Tema: CONVITE - M/E

O convite amarelado,
que o envelope resguardou,
traz lembranças do passado
que nem o tempo apagou.
–SÔNIA MARIA SOBREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Um sonho que me extasia
e me traz muita esperança,
é ver livros de poesia
nas mãos de toda criança.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Buscando a calma na vida,
nos meus roteiros tristonhos,
achei a calma perdida,
perdido em meus próprios sonhos!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

A Luz da Lua Branca.
–MIFORI/SP–

A luz da lua branca me fascina
espreitando nossos beijos.
Sua chuva de prata me alucina
aumentando meus desejos.
Amor! Quando a luz da Lua
em sua janela bater,
lembre-se de que sou só sua
e sua serei até morrer!

Estrofe do Dia

A poesia está na reta
da estrada, em cima da ponte,
está na luz das auroras
que nascem por trás do monte,
está no calor das fráguas
e no soluço das águas
que se despedem da fonte.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Soneto do Dia

Realidade e Sonho
–CONCEIÇÃO A. C. DE ASSIS/MG–

Sonho contigo e penso em casamento,
pois sou “certinha” para uma aventura
e voa o sonho nesse encantamento
pensando num futuro de ternura.

E ponho endeusamento em tua figura,
querendo ser real meu sentimento,
mas esse meu desejo não perdura
se volto à realidade o pensamento.

A vida a dois... Amar ... Mas que trabalho!
Fogão e pia; as mãos cheirando a alho...
Camisa limpa, com botões, passada...

Casa arrumada, tudo a tempo e hora...
E a liberdade, nela já não mora...
Melhor sonhar, sonhar não custa nada!

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Paraná em Trovas Collection - 16 - Mafalda de Sotti Lopes (Irati/PR)

Emiliano Perneta (Ilusão) Parte 15


CORAÇÃO LIVRE

Ao Augusto Rocha

Ah que enfim se rompeu o ergástulo sombrio,
Onde estiveste preso, ó pássaro erradio!

Rompeu-se o espesso véu dessa brutal prisão,
Onde choraste, mas de dor, mas como um cão.

Livre agora, porém, de tudo, sim, de tudo,
A esse cárcere azul, cárcere de veludo,

Mas cárcere cruel, que te fez tanto mal,
Não tornes nunca mais, ó vagabundo ideal.

Não tornes nunca mais, e nunca mais te iludas,
Ao trágico furor dessas cóleras mudas,

A esse nojo, afinal, que tanto ódio te fez,
O incoercível horror banal da fixidez.

Livre. É poder fugir por esse mundo afora...
Quem mais feliz que tu, meu coração, agora?

Livre. O espaço é teu, é teu todo esse ar:
É somente bater as asas e voar...

Segue essa curva azul. É o caminho mais reto,
Ó nômade febril, ó trovador inquieto!

Livre por condição e por índole, tu
Nasceste para ser como um selvagem nu.

Um selvagem, porém, que tem paixão por astros,
Estátuas, capitéis, colunas e alabastros...

Quanto me sinto bem, e como é bom saber
Fugir assim, batendo as asas de prazer!

Ser livre para mim é tudo quanto eu amo:
Não há como poder saltar de ramo em ramo.

Não há gozo melhor, seja lá como for,
Do que esse de voar de uma para outra flor.

Nem orgulho maior e nem glória tamanha
Que o delírio de andar de montanha em montanha!

Olha. Não pares no teu caminho, a não ser
Só para olhar o que for digno de se ver.

O que tiver o dom soberbo de arrancar-te
Numa explosão sincera as lágrimas com arte.

Segue. Na fonte em que beber a ovelha, em paz,
Com as tuas próprias mãos, tu também beberás.

E a árvore sob a qual dormires o teu sono,
Há de dar-te abundante os seus frutos de outono.

E que perfume bom! Que embriaguez assim
Por esse vasto céu, por esse azul sem fim!

O dia é uma canção de luz maravilhosa,
Que se pudesse ouvir cantar por uma rosa...

Segue pois, segue pois, sem saber onde vais...
Nômade, o teu destino é esse e nada mais!

LIED

Ao Júlio Prestes

Num cavalo branco, vales e barrancos,
Caminha p’ras guerras em tempos de paz
Plumas todo verdes, lírios todo brancos...
– Cavaleiro, não vás!

Cavaleiro andante (fulgem armaduras!)
Galopa, galopa, sob estrelas más.
Vai correr o Mundo pelas aventuras...
– Cavaleiro, não vás!

Cavaleiro fino como um argueiro,
Com espada d’ouro, rico falbalás,
Cabelos ao vento – Palmas! – Cavaleiro!...
– Cavaleiro, não vás!

Cavaleiro triste (ceifa a lua nova)
– Que é da sua dama? Que é do seu gilvaz? –
Entra p’los salgueiros caminho da cova...
– Não direi que não vás!
1899

A FOME DE ERISÍCTON

Meu coração é como esse infeliz que um dia
Ceres, p’ra o castigar, deu-lhe fome voraz,
Deu-lhe uma fome tal que quanto mais comia,
Mais queria comer e não ficava em paz.

Era a fome canina, era o horror e a fúria,
De tal maneira que todos os bens vendeu,
E reduzido enfim a uma extrema penúria,
Vendeu o que era seu o que não era seu...

Desesperado até veio a vender a filha
Metra, que era, porém, uma estrela polar,
Tinha a virtude ideal, possuía a maravilha,
O dom de se poder metamorfosear...

Logo, logo que o pai conseguia vendê-la,
Mal se via nas mãos do seu possuidor,
Transformava-se em flor, ou então em cadela,
Em pássaro, em veado, em boi ou em pescador.

Mas a fome cruel daquele esfaimado
Uivava como os cães, os lobos e os chacais,
Nem bem tinha engolido o último bocado,
Sangrando de desejo, ela pedia mais...

Davam-lhe de comer, porém, doentia e louca,
Queria devorar o mundo de uma vez,
O olhar como um demônio, escancarada a boca,
Tomada de um furor bestial de embriaguez.

E tanto desejou, afinal, e tanto ela
Pediu, e soluçou, e ambicionou, e quis,
Que não havendo mais com que satisfazê-la,
Deu em se devorar a si próprio, o infeliz!
Março – 1906

Fonte:
Emiliano Perneta. Ilusão e outros poemas. Re-edição Virtual. Revista e atualizada por Ivan Justen Santana. Curitiba: 2011

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte II


REDAÇÃO ANULADA

A redação poderá ser anulada, ou receber nota zero, se:

Estiver ilegível.

Fugir do assunto.

For escrita a lápis.

For escrita com rasuras e sem título.

For apresentada sob a forma de verso.

Não obedecer ao espaço e ao número de parágrafos determinados.

Não seguir as instruções relativas ao tema escolhido.

Tiver menos ou mais linhas do que a quantidade preestabelecida.

Contiver cópias das idéias do texto de motivação, quando este for dado.

Contiver elemento que identifique o candidato (como letra de forma ou de imprensa, por exemplo).

APOSTO.

Use o aposto — explicação sobre um termo ou expressão da frase — quando, ao mesmo tempo que caracterizar, você pretender explicar a própria atitude da personagem.

Mariana, enfurecida, arremessou o valioso colar no rio.

A Universidade pública deve ser defendida por todos, ricos ou pobres.

O estudo do Romeno, língua neolatina como o Português, pode ser bastante facilitado com o uso de uma gramática comparativa.

ARGUMENTAR.

Não comece a redação com períodos longos. Exponha logo suas idéias.

Não fundamente seus argumentos com fatos que não sejam de domínio público.

Os argumentos do desenvolvimento da redação devem surpreender o leitor. Suas idéias precisam ser saborosas para atrair sua atenção.

Dê sua opinião, argumentando. Não use expressões como eu acho, eu penso, para mim ou quem sabe, pois denotam imprecisão em suas ponderações. É preciso mostrar conhecimento e domínio sobre o tema que está escrevendo.

ARTIGO, PREPOSIÇÃO: A, À, PARA, PARA A.

A (artigo): Fui a Salvador (fui e voltei logo).

PARA (preposição). Fui para Salvador (fui e vou passar alguns dias ou morar lá).

À (craseado): Fui à fazenda (fui e voltei logo).

PARA A (preposição + artigo): Fui para a fazenda (fui e vou passar alguns dias ou morar lá).

ASPAS.

Vêm entre aspas:

Os estrangeirismos (as palavras estrangeiras): “Pizzaria”, “mobylette”, “show”, “vídeo game”. Observação: Matinê, buate e pingue-pongue, no entanto, não vêm entre aspas, por serem estrangeirismos aportuguesados.

Os apelidos: “Zezinho”, “Juca”, “Nice”.

As citações que não sejam de sua autoria:
Oxalá não se me fechem os olhos sem que o queira Deus”. (Rui Barbosa).

“Se viveres com dignidade, não melhorarás o mundo, mas uma coisa é certa, haverá na terra um canalha a menos” (Confúcio).


Observação: As citações, quando não colocadas entre aspas, constituem plágio, o que é errado e desonesto. Plagiar, segundo o dicionário do Aurélio, é “assinar ou apresentar como seu obra artística ou científica de outrem” (de outro autor).

As gírias. Isto é, as palavras usadas em sentido figurado. A festa foi um “barato” (ótima, “legal”). Não “saquei” (entendi) nada. Aliás, evite usar gírias.

ASPECTO VISUAL.

Qualidade da letra, margem, espaços entre as palavras, legibilidade, limpeza, pontuação, facilidade de leitura, parágrafos (espaços), períodos (se não deixou períodos longos).

ASSÍNDETO.

É a ausência de conjunções coordenativas no período composto.

Cheguei, vi, venci.

O barco veio, chegou, atracou, chegamos.

AVALIAÇÃO.

A autocrítica pode ser essencial quando se deseja melhorar o texto.

Avalie o texto. Verifique se as frases soam bem, se não contêm cacófatos ou rimas. Começou bem a redação e terminou-a melhor ainda?

A avaliação de uma redação segue um critério rigoroso, pois está relacionada à norma culta da língua portuguesa. Além da parte específica de gramática, muitas vezes recorre-se à grafologia para verificar-se o perfil psicológico e pendores vocacionais do candidato à função que pleiteia.

BARBARISMO OU ESTRANGEIRISMO.

É a utilização de palavras ou construções estranhas à língua portuguesa. Evite usá-lo.

Estrangeirismo ... Prefira
Show……......……………espetáculo
Jeans …………......……..calça de brim

BATE-PAPO.

Evite a projeção de bate-papo, ou seja, escrever com estilo coloquial numa redação.

A Guerra do Iraque foi duramente criticada, vai daí que os americanos tiveram abalado seu conceito de democracia.

A expressão “vai daí que” é da fala coloquial, devendo ser substituída por uma construção mais adequada:

A Guerra do Iraque foi duramente criticada e, em função de sua postura, os americanos tiveram abalado seu conceito de democracia.

Ele repetia tudo o que dizia, que nem um papagaio de madame.

A palavra adequada é como; “que nem” desmerece o texto em que está inserido, a não ser que represente a fala popular da personagem.

BILHETE.

É uma forma de comunicação da língua escrita, bastante simples e breve.

BOM SENSO.

Evite construções complexas. Leia o texto várias vezes para ter certeza de que ficou claro e preciso.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Pedro Nogueira (O Trovador em Versos Diversos)


CADA MINUTO DE TODO DIA

Sobre o verde vestido
Eu te falo um outro dia
Vais saber após ter lido
A minha ultima poesia.

Que já estou elaborando
Composta de muita verdade
E todas elas só falando
Sobre essa meiga beldade.

Inclusive o sorriso dela
E os cabelos em desalinho
A cor de neblina fica bem nela
E deixa esse trovador doidinho.

Mas vamos falar outra hora
Qualidades bem detalhadas
De lembranças que vem agora
Daquela fada emcantada.

A regente da singela poesia
Que jorra da minha mente
Cada minuto de todo dia
Visando o eternamente.

ANTES QUE O ASSUNTO TERMINA.

Tomara que ela ouça
Essa vóz tão fraquinha
Do coração que não é de louça
E que acha ela uma gracinha.

Vê se de atenção a ele
Não vais se arrepender
E saiba que o sonho dele
É de bem de pertinho te ver.

Se você achar que deve
Pode lhe perguntar tambem
Pra quem é que ele escreve
E pode ir ainda mais alem.

Encoste ele na parede
Tente tirar dele,mistério
Pergunte sobre o vestido verde
Mas sobre isso fale bem sério.

Com esse coração atrevido
Que faz germinar poesia
De modo ansioso e atrevido
Mas sem nenhuma ironia.

E antes que o assunto acabe
E correndo ele vai embora
Pergunte do sorriso cor de neblina
Por que ele ainda tanto chora

POR ISSO A SAUDADE.

Uma tarde chuvosa
A imaginação voando
Minha alma ansiosa
Noticias esperando.

O corção em brasas
Uma taça de vinho
O pensamento bateu asas
O trovador está sozinho.

As rosas molhadas
Parecem gostando
Sem noite enluarada
Eu acordado sonhando;

Tentando uma trova
Bem diferente agora
Tambem queria uma prova
Que ela lê meu verso que chora.

E ao mesmo tempo sorri
Ao pensar na beldade
Que eu nunca esqueci
Por isso a saudade.

NA MENTE FICOU O RETRATO

Nos campos da minha terra
Eu quero de novo correr
E a chuva branca na serra
Outras vezes eu quero ver.

O cantar de um sabiá
A flor branca da laranjeira
Um perfume que só tem lá
Na terra do Pedro Nogueira.

A DEUS eu sou muito grato
Porque ali foi nascido
O trovador mais pacato
E de coração tão atrevido.

Recordo a bela italianinha
Dela eu gostei de verdade
Belos olhos azuis ela tinha
Até hoje eu tenho saudade.

Na beira do manso regato
Eu ia perseguir borboleta
Na mente ficou o retrato
Da estradinha florida e estreita.

MEU SONHAR E MEU MEDO

O lago mansinho
Um espelho da lua
A flor do caminho
Traz saudade tua.

A noite tão calma
Uma taça de vinho
Pra alegrar a alma
De quem está sozinho.

É alta madrugada
Já vai amanhecer
E a saudade da amada
Me obrigando escrever.

O lindo nome dela
Meu tesouro,o segredo
Razão da poesia singela
Meu sonhar e meu medo.

Assim vai seguindo
O cotidiano da vida
E te percebe sorrindo
A minha alma atrevida.

COMPOR POESIA QUE CHORA

O luar do fim de noite
Misturado com lembrança
E o estalo de um açoite
Fé e muita esperança.

Se torna embriagador
Me faz sair fora do sério
Ai eu me vejo trovador
Querendo desvendar mistério.

Escrevo coisa sem nexo
Tentando me encontrar
No emaranhado complexo
Da despedida do luar.

Me sinto um rouxinol
Admirando um pardal
Tentando prender um raio de sol
No topo de um pedestal.

Já que o luar foi embora
É válido um improviso
Compor poesia que chora
Por um amor que eu preciso.

BUSCANDO A PAZ QUE EU TINHA
.
A madrugada está fria
E a saudade judiando
Vai virando poesia
O meu verso sonhando.

Com a beleza dessa mulher
A ternura do meu amor
Que meu coração tanto quer
Pureza e essencia de flor.

Essa caneta que desliza
Parece ter sentimento
E rabiscar ela precisa
Registrando cada momento.

As batidas de um coração
Que ama dioturnamente
Fazendo da vida a emoção
De arrancar versos da mente.

Como petálas,só pra ela
Sentir a presença minha
Em cada poesia singela
Buscando a paz que u tinha.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=10626&categoria=J

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 14)


SER O LANTERNA
Lanterna veio do latim lanterna, archote, lampião.
Lanterna também é o último colocado numa competição. A palavra ganhou esse sentido na França.
A mais importante corrida de ciclistas em todo o mundo é promovida pelos franceses: a Volta da França, que dura 22 dias e tem um percurso de aproximadamente 3.400km, passando por várias cidades. A prova é disputada desde 1903* e, pelo menos no início, era cheia de trapaças, com os concorrentes pegando trens, sendo rebocados por carros ou dando outros jeitinhos franceses.
Foi nessa competição que os franceses passaram a chamar o último colocado de lanterne rouge, em associação com as luzes vermelhas que brilham no último vagão das composições ferroviárias, avisando ao mundo que ali acaba um trem.
A expressão, com esse sentido de último competidor, foi parar em Portugal assim mesmo, "lanterna vermelha", mas no Brasil se reduziu simplesmente a lanterna ou lanterninha.
* Anualmente, é claro (em julho). Ou você estava imaginando um bando de velhinhos pedalando até hoje?

LERO-LERO
Do Qicongo (grupo de línguas faladas no Congo e em Angola) lelu, boca.
É sinônimo de blablablá, que veio do francês blablabla, uma onomatopéia, provavelmente influenciada pelo verbo blaguer, dizer coisas ridículas. O verbo é derivado de blague, farsa, origem de blague em português. O francês blablabla veio depois do inglês blah, que também se usa repetido (blah-blah-blah), com o mesmo sentido de papo enfadonho. Em espanhol, também existe a palavra blablablá. Como se vê, os chatos têm um som universal.
O lero-lero é uma conversa fiada, em que fiada, enganosa, é o particípio do verbo fiar com o sentido de tramar para iludir. Aliás, fiar e tramar são palavras que passaram do mesmo sentido concreto (associadas a fio) para o mesmo sentido abstrato (engendrar para enganar). Fiar veio do latim filare, formado defilu, fio; tramar é derivado de trama, do latim trama, fio, trama.

LHAMA
O gracioso bichinho ganhou esse nome por engano. Quando os invasores espanhóis viram aquele estranho animal na América do Sul, perguntaram aos índios "eComo se ilama?" (Como se
chama?). Os índios não entenderam nada e ficaram repetindo a última palavra da pergunta: "Liama". Os espanhóis tomaram a perplexidade por resposta e assim batizaram o animal.
Interessante, não? Pois, o prezado leitor acaba de conhecer mais um caso de etimologia fantasiosa que ganhou fama. Infelizmente a verdade é outra, sem a menor graça: o português lhama e o espanhol llama vieram do quíchua (língua indígena dos Andes) ilama, nome dado pelos índios ao animal.
O lhama é uma variante de outra espécie, o guanaco, do espanholguanaco, que veio do quíchuawanáku. O espanhol guanaco também é usado para designar uma pessoa tola, em razão da comovente estupidez do bicho.

FAZER OUVIDOS DE MERCADOR
Mercador veio do latim. mercatore, comerciante. Fazer ouvidos de mercador é fingir que não ouve.
O mercador não escuta nada, só quer mesmo berrar as qualidades e o preço do produto e vender. Uma ligeira variante dessa explicação fala de mercadores agiotas, surdos às súplicas dos devedores.
Há duas outras teorias, pouco prováveis, para a origem da expressão, ambas calcadas em deturpações populares.
A primeira sustenta que mercador seria uma corruptela de "mau credor".
A segunda, mais inventiva, refere-se ao tempo em que os escravos eram marcados a ferro quente, como as reses. O marcador exercia sua função, indiferente aos gemidos da vítima.
Assim, "fazer ouvidos de marcador" teria sido corrompido pelo uso popular para fazer ouvidos de mercador.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Casamento De Narizinho – VI – o Vestido Maravilhoso

Enquanto a tragédia de Rabicó se desenrolava no camarote do navio afundado, Narizinho e Emília escolhiam figurinos em casa de dona Aranha Costureira. Depois passaram a escolher fazendas. Dona Aranha tirou dos seus armários de madrepérola um vestido cor do mar com todos os seus peixinhos; e com o maior pouco caso, como se fosse de alguma cassinha barata, desdobrou-o diante das freguesas assombradas.

— Que maravilha das maravilhas! — exclamou Narizinho, de olhos arregalados, sentindo uma tontura tão forte que teve de sentar-se para não cair.

Era um vestido que não lembrava nenhum outro desses que aparecem nos figurinos. Feito de seda? Qual seda nada! Feito de cor — e cor do mar! Em vez de enfeites conhecidos — rendas, entremeios, fitas, bordados, plisses ou vidrilhos, era enfeitado com peixinhos do mar. Não de alguns peixinhos só, mas de todos os peixinhos — os vermelhos, os azuis, os dourados, os de escamas furta-cor, os compridinhos, os roliços como bolas, os achatados, os de cauda bicudinha, os de olhos que parecem pedras preciosas, os de longos fios de barba movediços — todos, todos!... Foi ali que Narizinho viu como eram infinitamente variadas a forma e a cor dos habitantes do mar. Alguns davam idéia de verdadeiras jóias vivas, como se feitos por um ouvires que não tivesse o menor dó de gastar os mais ricos diamantes e opalas e rubis e esmeraldas e pérolas e turmalinas da sua coleção. E esses peixinhos-jóias não estavam pregados no tecido, como os enfeites e aplicações que se usam na terra. Estavam vivinhos, nadando na cor do mar como se nadassem n’água. De modo que o vestido variava sempre, e variava tão lindo, lindo, lindo, que a tontura da menina apertou e ela pôs-se a chorar.

— É a vertigem da beleza! — exclamou dona Aranha sorridente, dando-lhe a cheirar um vidrinho de éter.

Emília espichou a munheca para apalpar a fazenda; queria ver se era encorpada.

— Não bula! — murmurou Narizinho com voz fraca, ainda de olhos turvos.

O mais lindo era que o vestido não parava um só instante. Não parava de faiscar e brilhar, e piscar e furta-cor, porque os peixinhos não paravam de nadar nele, descrevendo as mais caprichosas curvas por entre as algas boiantes. As algas ondeavam as suas cabeleiras verdes e os peixinhos brincavam de rodear os fios ondulantes sem nunca tocá-los nem com a pontinha do rabo. De modo que tudo aquilo virava e mexia e subia e descia e corria e fugia e nadava e boiava e pulava e dançava que não tinha fim... A curiosidade de Emília veio interromper aquele êxtase.

— Mas quem é que fabrica esta fazenda, dona Aranha? — perguntou ela, apalpando o tecido sem que Narizinho visse.

— Este tecido é feito pela fada Miragem — respondeu a costureira.

— E com que a senhora o corta?

— Com a tesoura da Imaginação.

— E com que agulha o cose?

— Com a agulha da Fantasia.

— E com que linha?

— Com a linha do Sonho.

— E... por quanto vende o metro?

Narizinho, já mais senhora de si, deu-lhe uma cotovelada.

— Cale-se, Emília. Os peixinhos podem assustar-se com as suas asneiras e fugir do vestido.

Nesse instante a porta abriu-se assustadamente e o príncipe apareceu, mais assustado ainda.

— Uma grande desgraça! — foi ele dizendo. — Acaba de chegar uma sardinha mensageira com aviso do senhor Pedrinho, comunicando que o marquês de Rabicó está nas garras dum polvo!...

Narizinho empalideceu de susto e exclamou:

— É preciso salvá-lo, custe o que custar, príncipe! Se Rabicó for comido pelo polvo, vovó vai ficar danada!...

— Já mandei em seu socorro o meu melhor batalhão de couraceiros. Só resta que cheguem a tempo...

— Quem são eles?

— Os caranguejos rajados.

— Mas caranguejo anda tão devagar, príncipe! — murmurou a menina com cara de desconsolo.

— Sim, mas partiram montados em velocíssimos peixes elétricos. Tenho esperança de que tudo acabe bem.

— Os anjos digam amém! — suspirou a menina, ainda com o pensamento no pito que poderia levar de dona Benta.

Emília aproveitou a oportunidade para perguntar ao príncipe que tal achava o figurino que escolhera para o seu vestidinho de cauda.

— Muito bonito — respondeu ele maquinalmente, pensando noutra coisa.

— Pois está às suas ordens — disse amavelmente a boneca.

Narizinho chamou-a de parte e cochichou-lhe ao ouvido:

— Não se meta a conversar com o príncipe. Você diz sempre o que não é para dizer.

Emília amarrou um pequeno burrinho, certa de que era de ciúmes que a menina não queria que ela falasse com o príncipe.
––––––––
Continua... Vem vindo o socorro

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Trova Ecológica 54 - Wagner Marques Lopes (MG)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 410)


Uma Trova Nacional


Beija a mãe, filho querido,
convocado para a guerra!
Não há adeus mais doído
em toda a face da Terra!...
–HÉLIO DE CASTRO/PR–

Uma Trova Potiguar

No pôr-do-sol comovente,
que de tristeza me invade,
rezo, enternecidamente,
uma oração de saudade.
–REINALDO AGUIAR/RN–

Uma Trova Premiada

1987 - Resende/RJ
Tema: ABANDONO - M/E

Se vejo um roto menino,
desvalido, pela praça,
no abandono, sem destino,
estranha culpa me abraça.
–JOSUÉ VARGAS FERREIRA/SP–

Uma Trova de Ademar

Quem faz da vida um tatame
e da família um penhor,
não tem ninguém por quem chame
nos seus momentos de dor.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Numa calma que revolta,
ele chega, de repente;
e eu aceito a sua volta,
para sofrer novamente...
–NYDIA IAGGI MARTINS/RJ

Simplesmente Poesia

Desejo
–MANOEL RODRIGUES DE LIMA/SP–

Queria muito,
saber tudo sobre as flores.

Saber
sentir seu perfume.

Saber
ver suas cores.

Assim,
saberia qual lhe ofertar.

Estrofe do Dia

Poesia é a minha paz,
meu mundo, meu universo;
um mar de sabedoria
onde eu vivo submerso;
é minha alimentação,
é meu sustento, é meu pão
feito de rima e de verso.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Caminhada do Tempo
–JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA/BA–

Idade dos noventa. Aqui do alto
Faço um apelo ao sonho, à fantasia:
Não me deixe jamais, eu tornaria,
Ao insignificante e triste asfalto.

Para chegar aqui, de salto em salto,
Medindo passos e horas, noite e dia,
A fé me conduziu e mais, diria,
A vontade de ser hino em contralto.

Não me arrependo do que fiz. Se errei,
É que o destino humano marca a lei
Do certo e errado, alvorada a alvorada.

Resta levar o tempo que me sobra,
Seguindo firme, refazendo a obra
Que produzi durante a caminhada.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Célio Simões de Souza (A Triste Sorte de um Pinto sem Dono)


Moleque do meu tempo, em Óbidos, não dispensava em casa ou na rua uma brincadeira de bola, de pião, jogo de carteira de cigarro, belário, camonha, empinar papagaio ou simplesmente jogar pedra nas frondosas mangueiras que existiam na cidade, que o tempo e o desleixo das administrações foram deixando acabar.

Todo o time da minha faixa etária era por completo integrado nesse fuzuê, cujos mestres perlustravam os bancos das escolas municipais e ali concebiam as brincadeiras, algumas de duvidoso bom gosto, como aquela de jogar bomba de São João, comprada nas barracas dos marreteiros da Praça de Sant’Ana, em cima dos cães vira-latas só para vê-los correr sem rumo, latindo em desespero pelo açoite dos estampidos. Coisa de moleque espora, com certeza...

Vez por outra a adrenalina aumentava. Era quando eu resolvia subir a Serra da Escama para passarinhar lá no alto, inicialmente armado de baladeira e com o passar dos anos, com rifle calibre 22 de repetição e ferrolho na culatra. Perdi a conta das piaçocas abatidas no Lago Pauxis (que me perdoe o IBAMA, na época chamado IBDF), das cobras venenosas ou não que atravessavam o meu caminho e das saborosas “santa cruz”, uma espécie pouco maior que a codorna, que no Nordeste é conhecida como “avoante”, a exemplo daquelas, degustadas nos espetos de improvisadas fogueiras.

Quando não apareciam as minhas imbiaras prediletas, ficava eu sentado em um dos canhões Armstrong lá no alto da serra, desfrutando a bela visão da curva estreita do Rio Amazonas, com os telhados da cidade servindo de pano de fundo ao intenso verde da paisagem, compondo um quadro contraposto, naquilo que os poetas chamam de harmonia dos contrastes, até hoje registrada em minha memória.

Nesse dia não foi diferente. Atravessei a ponte de madeira sobre o Laguinho, inspecionei suas margens atrás de uma que outra piaçoca e, a míngua de pássaros que não pipiras e bem-te-vis, subi a serra pela tortuosa trilha que eu conhecia como a palma da mão. Lá do alto, recuperado o fôlego (ufa!!), fiquei maravilhado com a frondosa mangueira recheada de frutos amarelos, no ponto de serem consumidos. Com a ajuda da faca que sempre portava, deliciei-me com aquela iguaria presenteada pela natureza, o suficiente entretanto para não ser vítima de indigestão.

Tudo parecia estranhamente calmo à minha volta. Aliás, deliciosamente calmo. Um silêncio convidativo me impedia de empreender o caminho de volta, apesar do velho jargão de que “pra baixo todo santo ajuda...”. Demorei-me o que pude, desfrutando daquela paz só encontrável no elevado das montanhas. Quem já esteve nas serras gaúchas, cariocas ou cearenses ou em Campos do Jordão que o diga. Só que tudo tem um limite, a tarde ia se findando - soava a hora do regresso.

Redobrei a cautela por causa das cobras. Já adulto, esse sobrosso levou-me a procurar pelo “mestre” curandeiro Didico Assis, que, após um ritual de iniciação, tornou-me imune a sua peçonha. Isto porque desde criança, sempre tive medo delas. Tanto medo, que quando via uma, preferia matá-la primeiro e depois verificar se era ou não venenosa. Dessa regra não escapavam nem as inofensivas jibóias ou as mal humoradas pepéuas. Cheguei ao sopé do morro sem qualquer atropelo. Bastava agora vencer uma largura de uns duzentos metros, driblando as terríveis touceiras de juquirís e jurubebas, para atingir a cabeceira da ponte. E foi o que fiz, olho pregado no murizal, atento ao menor movimento do capim.

Foi quando ouvi o piado característico e insistente. Apurei o ouvido para vencer o barulho do vento, assim identificando o rumo daquele ruído familiar. A aproximação foi lenta. Ergui com o cano da arma o tufo de capim e para minha surpresa, lá estava um pinto pedrês praticamente saído do ovo, piando de fome ou com saudades da mãe. Fiz uma busca ao redor na tentativa de encontrar a galinha e nada; ele estava mesmo sozinho no meio do mato e com a noite caindo, morreria de fome ou devorado pelas serpentes.

Segurei-o nas mãos colocando-o dentro do bornal que eu trazia atracado no boldrié e assim cheguei em casa com aquela preciosidade, despertando a curiosidade da família, que queria saber onde e como eu conseguira aquele inusitado troféu. Explicações dadas e aceitas, foi o pequeno animal solto em nosso quintal, uma espécie em miniatura de Arca de Noé, onde proliferavam patos, galinhas, galos, porcos e outros bípedes e quadrúpedes, sempre lembrados às vésperas de algum aniversário ou no dia de Natal.

Ocorre que o pinto passou a desfrutar de mordomias. Para início de conversa, comia milho moído na minha mão, pelo menos uma vez ao dia. Eu aparecia no quintal e lá vinha ele atrás de sua porção de comida fosse ou não hora da chepa. Não satisfeito com esse tipo de tratamento diferenciado, deu de andar atrás de mim pela casa e pelo quintal, tal qual um cachorro anda atrás do dono. E de tanto comer na hora ou fora de hora, cresceu precocemente e virou um frangão robusto, enfrentando nosso galo “Argentino” em renhidas disputas pelo escancarado amor das galinhas, que o cortejavam abertamente. Situação complicada essa, que estava a merecer uma solução, que ainda não se poderia vislumbrar qual era.

Nessa época eu tinha uma bicicleta comprada na “Casa Gina”, que ficava bem ao lado da “A Pernambucana” e nela eu fazia miséria nas ladeiras da Cidade Presépio, sempre em alta velocidade. A sucessão de tombos era uma conseqüência natural dessa imprudência; meus braços e pernas viviam permanentemente feridos e quando estavam sarando, outra queda me impunha novas cicatrizes, inclusive no rosto, uma das quais torna até hoje incômoda a prosaica tarefa de fazer a barba. Quando esse fato aconteceu, eu estava me recuperando de uma derrapagem que sofrera na ladeira do mercado, que fez desaparecer a pele do meu joelho direito.

Minha mãe se queixou que uma quantidade exagerada de urubus vivia à espreita em nosso quintal, pousados na cerca de pau-a-pique, esperando a hora de brigar pelos rebotalhos de carne que eram descartados por nossa empregada doméstica, a bondosa Eulália. Um deles, inclusive, de maneira acintosa e precipitada, entrou voando dentro de casa, na tentativa de saciar a fome, quase fazendo minha querida irmã Edna (que tinha medo até dos filmes do Drácula), desmaiar de pavor. Foi a gota d’água! Chegou-me o apelo materno para que eu desse um jeito naquela insustentável situação, de vez que os vizinhos também se queixavam do mesmo abuso da urubusada, mas não tomavam nenhuma iniciativa.

Urubu de Óbidos é igual a urubu do Ver-o-Peso ou de qualquer outra parte. Adora uma bagunça. E com autorização de dona Lady, decidi solucionar aquele aflitivo problema. Combinei com a Eulália que ela me avisaria o dia em que cuidaria da carne, para atrai-los. E assim foi feito. Ela começou seu trabalho como se nada de anormal fosse ocorrer, cantarolando baixinho “Coração de Papel”, música de sua predileção; esgueirei-me por trás de um tambor de água que ficava bem próximo, empunhando o rifle e dali pude enquadrar na alça de mira o urubu mais vistoso e ousado, que vivia aporrinhando a rotina da minha casa.

Não obstante, antes do tiro fatal, senti uma dor lancinante no bendito joelho esfolado, cuja pele eu perdera na ladeira do mercado. Olhei e vi que era o desgraçado do frangão, de quem nem estava lembrando, que pelo vício de andar atrás de mim, dera uma senhora beliscada no ferimento, arrancando parte dele e fazendo o sangue jorrar com abundância, impondo-me uma dor que me fez gritar, para a sorte daquela revoada de corvos que simplesmente bateu asas, sumiu, como que fazendo gozação da minha cara.

A juventude é uma fase de impulsos, por isso julgo dispensável contar os detalhes do final dessa história. O almoço do dia seguinte foi um suculento frango, que eu particularmente comi com um misto de fome e de desforra, porque o ferimento infeccionou (“arruinou”, como diria o mestre Bereco), obrigando-me a recorrer aos inestimáveis serviços da Zuraia, a zelosa enfermeira da Santa Casa de Misericórdia, até sua completa cicatrização.

Jamais senti remorso pelo que fiz, pois o próprio pedrês não soube valorizar as regalias que desfrutou no seu privilegiado espaço. Ademais, faltou-lhe o necessário instinto para assimilar uma lição básica nas regras de sobrevivência no mundo dos animais, isto, sem qualquer eiva de duplo sentido: pinto que trai o dono tem mais é que levar o farelo.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto após ler Crime do Padre Amaro de Eça de Queiroz)


Uma história de amor que nos surpreende,
libélulo ao celibato imposto,
lança no espírito feroz desgosto
que por maior esforço não se entende.

São os mistérios que jamais se aprende:
uma existência trágica ao sol-posto
penetra o cérebro e no próprio rosto
dá contrações de nervos e se estende.

O mundo estupefato ao Padre Amaro
lançará seu desprezo inconformado,
pois mesmo que procure achar amparo

na vã filosofia de um idílio,
surgirão tão fatal como o pecado
a pobre Amélia morta e morto o filho...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte I


Muitas vezes se tira nota baixa em REDAÇÃO simplesmente porque se comete uma série de erros gramaticais bobos, tolos, inadmissíveis.

A principal finalidade do MANUAL... será contribuir de forma decisiva para que erros dessa natureza não mais sejam repetidos.

É uma obra que se destina a estudantes que estejam fazendo o último ano do curso pré-escolar, cursando os ensinos fundamental e médio, até aqueles que estão se preparando para concurso ou vestibular.

Servirá, portanto, para qualquer membro da família, inclusive para quem já concluiu o curso universitário e queira aprimorar-se na arte de escrever.

“A propósito de sua obra, no momento em que se destina a estudantes (pré-vestibulandos ou concursistas), é ótima. Parabenizo-o pela iniciativa e pelo interesse em construir algo de útil em prol do ensino da redação.”

O comentário acima, sobre o MANUAL DE TÉCNICAS DE REDAÇÃO, foi feito pela professora Maria Afonsina Ferreira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia—UESB, lotada no Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários da Faculdade de Formação de Professores de Jequié, BA.

ABAIXO-ASSINADO.

É um documento assinado por várias pessoas, que contém pedido, reivindicação ou manifestação de protesto.

ABREVIAÇÕES.

Escreva as palavras por extenso. As abreviações são consideradas incorretas. Portanto, não use abreviações quando no corpo do texto de sua redação.

ERRADO
P/, c/, tá, pra, qdo
CERTO
Para, com, está, para, quando

ERRADO
Prof., edif., pop
CERTO
Professor, edifício, população

ERRADO
Fone, cine
CERTO
Telefone, cinema

ABSURDO.

Use o raciocínio absurdo, a percepção exagerada dos fatos, para sugerir a visão alterada da personagem.

Embriagado, achou que a mulher estava conversando com o amante e atirou no seu próprio cunhado.

Achava que o cãozinho estava silencioso apenas para ludibriá-lo, que preparava um ataque feroz; talvez até saltasse no seu pescoço em um momento de distração.

AÇÃO.

Quando quiser, em narrações, fazer sentir a atenção dada pela personagem às próprias ações, mostre os pormenores da cena.

Colocou cuidadosamente o cristal sobre a mesa, pegando a taça com a ponta dos dedos, pressionando-a levemente, mas com firmeza. Aproximava-a da mesa muito lentamente, quase sem fazer barulho algum ao tocá-la.

Se desejar mostrar ações sucessivas da personagem, efetuadas sem pressa e valorizadas uma a uma, separe-as em períodos diferentes.

Entrou na sala. Caminhou lentamente em direção ao cofre. Observou se o sistema de segurança estava desativado. Tirou o quadro da parede. Passou a girar lentamente o segredo do cofre, escutando atentamente quando daria o estalo que lhe permitiria abri-lo com segurança.

Para construir na narrativa a idéia de rapidez, use períodos curtos. Se buscar transmitir a sensação de um longo tempo transcorrido, use frases extensas.

Correu até o outro lado da rua. Girou a chave na fechadura. Entrou no prédio. Acenou para o porteiro. Entrou no elevador.

Estacionou o carro na frente do prédio, observando se a esposa já havia descido. Abriu a caixa de discos, escolhendo o que faria a mulher lembrar dos tempos de namoro. Reclinou o banco do automóvel, baixando o volume do rádio; pensou que a mulher estava atrasada; devia estar escolhendo seu melhor vestido ou talvez terminando de fazer a maquiagem com o cuidado que a ocasião merecia.

ACENTUAÇÃO.

Verifique sempre a acentuação dos vocábulos.

Procure conhecer as regras de acentuação sem, contudo, decorá-las como papagaio.

Uma técnica de aprendizagem infalível: Estude o assunto, por exemplo, em mais de dois autores, fazendo, depois, os respectivos exercícios. Proceda da mesma forma com os demais assuntos de gramática, que jamais precisará tomar curso de Português desse capítulo.

ALITERAÇÃO.

É a repetição de fonemas-consoantes, que resulta num resultado sonoro específico.

Velho vento vagabundo...

Chove chuva choverando.

Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando.

AMBIGÜIDADE OU ANFIBOLOGIA

Evite frases ambíguas (confusas) ou de duplo sentido. Ocorrem em conseqüência da má pontuação ou da má colocação das palavras.

A ambigüidade deve ser evitada com a utilização de termos que expressem clara e objetivamente o que se pretende mostrar.

FRASES AMBÍGUAS
Alice saiu com sua irmã.
CORRIJA PARA
a irmã dela
OU
a irmã de uma amiga

FRASES AMBÍGUAS
Vi José beijando sua namorada.
CORRIJA PARA
a namorada dele
OU
a namorada de um amigo

FRASES AMBÍGUAS
Um ladrão foi preso em sua casa.
CORRIJA PARA
na casa dele
OU
na casa da vítima

FRASES AMBÍGUAS
João ficou com Mariana em sua casa.
CORRIJA PARA
na casa dela
OU
na casa dele

FRASES AMBÍGUAS
Pintaram o quarto da casa em que durmo.
CORRIJA PARA
no qual durmo
OU
na qual durmo

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Paraná em Trovas Collection - 15 - Lúcio da Costa Borges (Morretes/PR)

Emiliano Perneta (Ilusão) Parte 14


A CIGARRA E A ESTRELA

Ao Figueiredo Pimentel

No bosque uma pobre cigarra vivia,
Cantando, a coitada, de noite e de dia.

Cantava tão cheia de um vivo prazer,
Que feliz não sendo, parecia ser.

Cantava tão leve, tão sonoramente,
Que até parecia mais feliz que a gente.

Cantava cantigas do bosque e d’além,
Que um dia aprendera sem saber com quem...

Mas, em certa noite, por desgraça dela,
Tamanha brilhara no céu uma estrela,

Tão grande, tão viva pérola d’Ormuz,
De tamanho brilho, de tamanha luz,

Que tudo que amava, tudo quanto d’antes
Fulgira-lhe aos olhos, como diamantes,

Tudo quanto vira e dera-lhe prazer,
Hoje não olhava, nem queria ver...

Nem aqueles campos onde o olhar se perde,
Nem aquelas folhas, nem aquele verde.

Nem mesmo esses vales, nem os alcantis
Onde a pobre fora d’antes tão feliz.

Foi como um delírio de paixão primeira,
Foi uma loucura, foi uma cegueira...

Dentro desse inseto rude dos pauis,
Houve como um sonho de amplidões azuis...

Foi como se dessa região suprema
Lhe descesse um áureo, régio diadema...

Foi como se um manto de uma maciez
De plumas descesse sobre a sua nudez...

Ficou deslumbrada, ficou de tal jeito
Que mais parecia com um doido perfeito.

Teve tal delírio cego, que apesar
De viver alegre, vivia a chorar.

Ela que era pobre como uma cigarra,
Tocando de noite e de dia a fanfarra,

Ela que não tinha de seu um real,
Que passava fome, que vestia mal,

Daria orgulhosa, para ser querida,
Tudo quanto tinha, coração e vida.

Aqueles castelos, com brasões reais
De orgulhos antigos, que não morrem mais.

E durante a noite pálida, estrelada,
Ambas conversavam, sem dizerem nada.

Conversavam juntas e unidas, assim,
Ambas debruçadas sobre um varandim...

Como se a existência fosse um cisne doce,
E o universo um lago murmurante fosse...

Nem tudo na vida são rosas, porém:
Se há rosas, decerto, logo espinhos vêm...

No meio dos sonhos e da primavera,
O inverno chega, ruge e dilacera...

Aparece o inverno, bem como um leão,
Entre as ovelhinhas brancas da ilusão.

Assim, muitas vezes, tal desesperança
Feria a cigarra com espada e lança,

Que ela até pensava, triste de uma vez,
Fazer o que Safo certo dia fez...

Que suspiros flébeis! Que profunda mágoa!
Os seus grandes olhos enchiam-se d’água.

A ilusão morria triste, sem um ai,
Como a glória morre, como a folha cai.

Realmente, como donde a gente brilha,
Sobre tanta coisa, tanta maravilha,

Poderia um astro ver um fanfarrão,
Que só tinha penas de imaginação?

Quem era esse inseto triste e sem valor
Para ser amado, para ter amor?

Tão cheio que fosse da sua cantiga,
Valia o coitado menos que a formiga,

Porque ao menos esta não tem fome, nem
Frio, nem sede, como aquele tem...

Porém a cigarra, como a alma do povo,
Se chorava agora, ria-se de novo.

Ria-se de tudo, de tudo que não
Fossem as loucuras do seu coração.

Pois sempre lá dentro d’alma de quem sofre,
Guardados no fundo dourado de um cofre,

Há eflúvios tão vagos, horas tão sutis,
Que por mais que a pobre fosse uma infeliz,

Logo que se via como que possuída
Dessa onda nervosa de gozo e de vida,

Tamanha doçura sentia e embriaguez,
Que esquecia tudo, doida de uma vez.

E o estrídulo canto tinha o colorido
De um amor que sabe que é correspondido...

Assim, que importava que essa brisa em vão,
Em vão suspirasse que era uma ilusão?

Que importava a ela que, triste ou risonho,
Tudo quanto via fosse apenas sonho?

No meio das ondas furiosas do mar,
Felizes aqueles que andam a sonhar!

Esse aroma doce, que a deixava langue,
Custava-lhe a vida, custava-lhe o sangue,

Custava-lhe tudo que tinha afinal;
Mas que sonho lindo, que paixão ideal!

Bem compreendia que, passando o outono,
Dormiria logo seu último sono;

Mas que bom ao menos de poder dormir
No meio de puras pérolas d’Ofir...

Via-se torcida dentro de uma grade,
A prisão de ferro chamada ansiedade;

Via-se encerrada dentro do pesar
Como numa torre, sem poder voar;

Porém que loucura mais rara e mais bela
Do que esse delírio de amar uma estrela?
Novembro – 1907

FELICIDADE

Ao Gonzaga Duque

Quem me dera que uma vez, em meu caminho,
Eu enlevado a visse pelo luar,
E tal como se fora um passarinho
Verde, nos verdes ramos a cantar...

Eu deixaria o meu sossego, tudo,
Sairia como um cervo, mais veloz,
Para seguir seus passos de veludo,
Seu rastro, seu perfume, sua voz...

E seguiria, cada vez mais bela,
Por onde quer que fosse, e onde quer,
Cada vez mais enamorado dela,
No encalço dessa flor, dessa mulher...

Embora fossem duros os caminhos,
Com que transporte, com que doce amor,
Eu pensaria que eram só arminhos,
Que eram veludos, que eram como flor...

E que esperança doce, e que esperança,
Nunca teve o mundo encanto igual:
Eu a correr atrás, como criança,
Dessa que corre e foge, por meu mal!

E tal o meu ardor, a minha vida,
Tal o delírio vão, tal o prazer,
Que se mais longa fosse essa corrida,
Mais desejos tivera de correr...

Tão enlevado, pois, tão enlevado,
Que quando desse acordo um dia em mim,
Quando eu olhasse, já tivesse dado
A volta ao mundo, embriagado assim...

Seria uma cidade que eu não vira,
Com tantas torres brancas para o ar,
Cidade d’ouro antiga, de safira
Batida pelos ventos, pelo mar...

Seria um sonho de cair de joelhos,
A soluçar, a soluçar em vão,
Por seus cabelos lindos, por seus olhos,
Por seu perfume, pela sua mão...

Seria um sonho ardente, um sonho lindo,
Nunca mais, nunca mais teria fim
Eu a chamá-la: vem! e ela fugindo,
Eu, doido, doido, ela a chamar por mim...

Eu nunca saberia d’onde ela vinha,
Nem quem era também jamais, e nem
Se era uma pastora ou uma rainha,
Se era uma rosa, um sonho, uma cecém...

Ela seria um astro, a realeza,
A encarnação de tudo que aspirei,
O pão da minha fome de beleza,
O meu orgulho, a púrpura d’um rei...

Tal a beleza, o êxtase, o abandono,
Que tivesse desejos, mas cruéis,
De dar-lhe um reino, pô-la sobre um trono,
E eu assim, desesp’rado, sob seus pés...

Haviam de passar anos e anos,
E sempre, sempre ela a me seduzir,
A embriagar-me sempre com os enganos,
A música de pérolas d’Ofir...

A minha vida toda pouco amena,
Antes fanada como folha vã,
Floresceria mais que uma açucena,
Mais que uma rosa verde da manhã...

No encalço dessa flor, dessa donzela,
O lírio e o vale e o serro e o mar e eu,
Fugiríamos todos atrás dela,
Envolvidos na túnica d’Orfeu.

E que doçura única, que doçura
Feita de manto e púrpuras reais,
E essa paixão, crescendo, e essa loucura
Os braços a estender cada vez mais...

E que delírio vão! e que delírio
De eu a querer, de ansiar por sua nudez,
Como se aquele corpo fosse um lírio,
Que se beijasse todo d’uma vez...

Oh que sorriso leve! que ansiedade!
Todo um furor banal de ser feliz,
De me abraçar contigo, F’licidade,
De te beijar, mulher que me não quis.

Oh que sorriso mágico! que enleio!
Que bom! que bem! nunca pensei, cruel,
Que houvesse assim no mundo tanto anseio,
Reinos tão lindos, doces como mel...

E que florido céu! que ânsia! que vago
Som mavioso! que luar! que flor!
Eu dormiria ao fundo desse lago,
Abraçado contigo, meu amor...

Tudo feneceria, como a estrela,
À luz forte, hiperbólica do sol,
Como fenece uma rainha bela,
Um sonho bom, um lírio, um rouxinol.

Tudo adormeceria o mesmo sono,
Tudo por terra havia de rolar,
Como um fino crepúsculo d’outono,
Como uma torre gótica do luar.

Flores, flores do mal, uma por uma,
E cavaleiro, e dama, e olhos fatais,
Mãos divinas, mãos leves como pluma,
E gestos lindos, gestos imperiais,

Tudo se acabaria, ó luz tranquila,
Ó ilusão dulcíssima! ó ilusão!
E eu sempre com a esperança de possuí-la,
Mas sem tocá-la nem sequer com a mão...

Fonte:
Emiliano Perneta. Ilusão e outros poemas. Re-edição Virtual. Revista e atualizada por Ivan Justen Santana. Curitiba: 2011