sábado, 28 de maio de 2016

Samuel da Costa (Poemas Escolhidos)



O POETA E A MUSA
(a beleza na escuridão)
Para Fá Butler

É o poeta que sofre e chora...
Todas as dores do mundo!

Em algum lugar existe
Um místico e nevoento vergel
Orvalhado pela noite outonal eviterna

É o poeta que sangra e chora
Pela virginal musa etérea
Em um voo noturno!

É o bardo perdido em...
Um jardim encantado
Habitado por grandes,
Perdidos e secretos amores

Para o aedo...
Um simples eu te amo não basta!
Ele prefere apreciar...
A beleza eterna
Na escuridão infinda...
Sangrar e morrer por platônicos amores!
Sagrar em odes imortais
A divinal musa vaporosa
Em horas improprias!

Pois um simples eu te amo...
Para menestrel não basta!
MAR AZUL CÉU AZUL

Mar azul
Céu azul
Navego sozinho pelo mar da tranquilidade
Cheio de esperanças

Tenho pensamentos probos
Tenho pensamentos bons
Pois sei que tenho
Um longo caminho a percorrer

Mar azul
Céu azul
A minha negra arte não conhece limites
Criou asas
Voo para além do infinito

Mar azul
Céu azul
Tenho um longo e tortuoso caminho
Pela frente
Mas sei que ela vai estar lá
A minha espera
Tão linda como só ela sabe ser

Mar azul
Céu azul
Já não dói mais...
A minha negra arte tão carregada
De dor e sofrimento
Não existe mais
A minha negra dor se foi
Dobrou a esquina e desapareceu
Por completo

Mar azul
Céu azul
O crepúsculo eviterno
Já não cega mais meus quasímodos olhos
Não temo a negra noite eterna
Com seus mistérios infindos

Mar azul
Céu azul
Tenho o sono tranquilo
Pois sei que ela estará
Ao meu lado
Quando eu acordar pela manhã

BLACK-FACE

A minha poesia é letra morta
Está descalça.
Está ferida...
Está magoada!
Que pede licença para Tupã.
Embrenha-se mata virgem!
E evanesce!
Em ouvidos surdos.

As minhas entoadas!
São belas-letras sideradas...
Aceleradas!
Que foge do capitão-do-mato!
Baladas dos loucos.
Tortas e abstratas!

A minha écloga ouve o ladrar...
Dos cães selvagens!
E vai se abrigar no Quilombo.

Não! Não minha Deusa de Ébano
Minha sacrossanta virgem vaporosa
Não falaremos do nosso ontem
Nem do nosso amanhã
Muito menos do nosso hoje
Ficamos nos dois deitados
Mudos!
Calados
Inertes!

Ainda vejo a tua carne nua!
Carne trêmula...
Extrema...
O teu corpo incorpóreo

Não me fale do teu ontem.
Nem do teu amanhã
Ficamos nos dois mudos
Abrigados no silêncio eviterno
Para todo o sempre

POEMA PEDRA E A REALIDADE LIQUEFEITA
Para Roberto Lamim

Preciso compor um poema!
Com a urgência...
Escrever com poesia.
Palavras lançadas ao vento!
Sem regras e sem lógicas...
Sem rimas!
Sem dores!
Sem choros e sem lágrimas.
Sem velas.

Preciso esculpir na pedra-sabão.
Um poema com pretéritos...
Mais que perfeitos!!!
Sem deméritos.
Para me recompor...
Com o mundo líquido!
Com a realidade mutável...
Re-produzir a vida sem regras.
Sem rumos...
Onde reina as incertezas...

Mais que preciso...
Tenho que re-escrever!
A vida pós-moderna!
Sem crases...
Sem vírgulas...
Sem métricas...
E sem um ponto final.

Preciso com toda a emergência...
Escrever poemas na areia da praia...
Com verbos mais que perfeitos.
Com poética!

Peças soltas do mais...
Puro platonismo démodé...
Milimetricamente imperfeitos!
Em uma mimese...
Que não imita coisa alguma
Peças ocas liquefeitas
Que nada valem
Que não duraram nano-segundos!
Poemas sintéticos...
Para a Deusa de Ébano!

Re-produzir o deserto dentro de mim!
Re-produzir as belas-artes...
Em pedra-sabão,
Sem gritos sintéticos de dor!
Sem sustos...
Soluços...
E sem ponto final

Quero esculpir a minha negra poesia
Na dita pós-modernidade!
Virar as páginas em branco.
Sair do mundo virtual...
Ganhar as ruas...
Dobrar as esquinas...
Voar e voar leve como uma pluma
Ganhar os céus sem nuvens...
Abraçar os astros.
E se perder no cosmo infindo!
Ser livre afinal!
De todas as dores
E de todos os amores

Fonte:
O Autor

Olivaldo Júnior (A Fonte Azul)

Era uma vez uma antiga vila que sofria com a falta do bem mais precioso que existe: a água. Por mais que tivessem bens de toda a espécie, coisas que o dinheiro compra, lhes faltava o H2O, néctar, o supra sumo que faz o mundo girar, circular, se animar.

Eis que um dia, do grito da gruta mais funda, do fundo da concha mais cálida, do sal da terra mais doce, um fio cristalino do que em nós é quase tudo, a água brotou de uma fonte que, refletindo o rosto do sol, se azulava e foi chamada por todos de "Fonte Azul".

Essa fonte ficava bem no meio de uma divisa de terras entre quatro cidades, que eram como os quatro cantos da Terra. De quem seria essa dádiva? A quem pertenceria aquela que matava a sede do justo e do injusto, do "Cristo" e do iníquo, sem olhar a quem?

Juntaram-se homens das quatro cidades e, por mais que suas mulheres pedissem a eles que se sentassem e resolvessem pelo bem comum, ou seja, pela partilha do mel que sacia a sede, aqueles homens estavam dispostos a derramar sangue pela água.

Assim, num dia em que o sol tinha jeito de lua, nova, com a face escondida mesmo à mostra, em batalha, cada exército de cada cidade, com lança nas mãos, guerreou pela fonte que azulava ao sol pleno em seu fino cristal, pronta a saciar quem a visse.

Depois de uns dias assim, a fonte, em meio a guerra por ela, de azul foi passando a cinza e, de cinza, a negra, escura, pastosa, até que, no lugar de água, vertia mesmo petróleo. Quem pode querer beber ouro negro em vez da prata azul que o sustenta?

Uma a uma, caíram as lanças no chão, todo negro, sem água, em nada adiantou a peleja. Assim que os pobres se deram conta de que morreriam de sede, as mulheres, devagar, buscaram cada uma seu homem. A luta fora vã. A "Fonte Azul" era morta.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.pt.dreamstime.com

Pedro Du Bois (Poemas Avulsos)


NATURAL

Na natureza decomposta
a dor exposta
em espécies
abatidas
cortadas
decepadas
depenadas
destocadas na força dos tratores
matrizes dos progressos: o homem
traz na aproximação a visão incolor do lucro
e a subsistência dos excluídos se defronta
com a terra ressecada após as passagens
a recomposição do solo exala
a acidez perpetrada
nos tempos desnecessários
das farturas: o homem
esquece o inconsentido passado
em projetos futuros inexequíveis
onde se debatem mortes
e avanços ao fim do mundo.

CONTIGO
Estarei contigo no tempo
partilhado das indecisões

na rapidez com que transitamos
reteremos imagens da coragem
divididas entre dívidas e dúvidas.

Recolheremos o bastante
recebido em dádiva: estarmos juntos
conduz os corpos ao esgotamento
do encontro em duradouras
combinações sensíveis

juntos no conjunto bipolarizado
das refregas e fugas diremos ao silêncio
em gestos de desilusões na perpetuação
dos entrelaces em que nos prendemos livres
dos aconselhamentos em desvãos abertos
no recolhimento sutil dos amorosos.

ASPEREZA
Não ouço o som
do vento contra a vidraça

no farfalhar da cortina
o estampido

sou silêncio
esculpido em pedra
árida
seca
descoberta no tempo
cristalizado.

DESFECHO
No desfecho
fecho a porta
e dentro
esqueço
a hora
permitida
aos pensamentos
filosóficos

o desvelo com que cuido
meu tempo permitido
na desilusão aleatória
dos enganos

fecho o caderno
e repouso a mão
sobre o tempo

o grafite inerte
sobre razões confessadas
em juízo.

DESGOSTOS

Não gosto do sentimento expressado
em náuseas: ondas elevam o nível
d’água ao extremo desgosto.
No afogamento o corpo levado ao fundo
do recomeço em outra forma: informalidade
com que sentimentos transitam
ódios e amores desgastados em gostos
negativos atrelados à memória.
Reparo no erro imperceptível e o amplifico
em externo conhecimento
onde o demonstrado gesto
recupera o sentido: retraído
o desgosto gera o espaço
em que me recolho: o desgosto
tolhe o movimento empedrado
em irrefletidas lembranças.

HORIZONTES

Na fórmula encerra o contexto.
Nenhum número impensado à palavra.
Nenhum verbo disparado à ação.
Nenhuma palavra armada em números.

O lugar comum permite ao cientista
avançar a busca: o inalcançável
se faz longe em horizontes.

(Os horizontes se repetem).

TÁCITO

Acordo: faço-me desconhecido
ao amigo: sofro suas dores: retorno
ao ponto inicial no me dizer ávido
em consolos: reencontro palavras
ao negar o confronto: acordos
não escritos perduram silêncios.

PODER

Posso indicar o mar como consolo
a vista como alcance e a companhia
como distração. Mentir amizades
e razões. Dialogar palavras
de desengano.

Posso ficar no silêncio
de escuros quartos. Desdenhar
o esquecimento e omitir
fatos desenhados.

Posso refazer as paredes
e entre tábuas enxergar
o lado de fora.

Fonte:
O Autor

Irmãos Grimm (Branca-de-Neve e Rosa-Vermelha)

Uma pobre viúva vivia isolada numa pequena cabana. Em seu jardim havia duas roseiras: em uma florescia rosas brancas, e, na outra, rosas vermelhas. A mulher tinha duas filhas que se pareciam com as roseiras: uma chamava-se Branca de Neve; a outra Rosa Vermelha. As crianças eram obedientes e trabalhadeiras. Branca de Neve era mais séria e mais meiga que a irmã. Rosa Vermelha gostava de correr pelos campos; Branca de Neve preferia ficar em casa ajudando a mãe. As duas crianças amavam-se muito e quando saíam juntas, andavam de mãos dadas.

Elas passeavam sozinhas na floresta, colhendo amoras. Os animais não lhes faziam mal nenhum e se aproximavam delas sem temor. Nunca lhes acontecia mal algum. Se a noite as surpreendia na floresta elas se deitavam na relva e dormiam.

Uma vez, passaram a noite na floresta e, quando a aurora as despertou, viram uma linda criança, toda vestida de branco sentada ao seu lado. A criança levantou-se, olhou com carinho para elas e desapareceu na floresta. Então viram que tinham estado deitadas à beira de um precipício e teriam caído nele se houvessem avançado mais dois passos na escuridão. Contaram o fato à mãe que lhes disse ser provavelmente o anjo da guarda que vigia as crianças.

As meninas mantinham a choupana da mãe bem limpa. Durante o verão, era Rosa Vermelha que tratava dos arranjos da casa e no inverno, era Branca de Neve. À noite, quando a neve caía branquinha e macia, Branca de Neve fechava os ferrolhos da porta.

À noite sentavam perto da lareira e enquanto a mãe lia em voz alta num grande livro as mãozinhas das meninas fiavam; aos pés delas, deitava-se um cordeirinho, e atrás, em cima do poleiro, uma pomba muito branca dormia com a cabeça entre as asas.

Uma noite, quando estavam assim tranquilamente, ouviram bater à porta e a mãe mandou Rosa Vermelha abrir a porta pois devia ser alguém procurando abrigo.

Ao abrir a porta Rosa Vermelha, um enorme urso meteu a grande cabeça através da abertura da porta. Ela soltou um grito e correu para o quarto; o cordeirinho pôs-se a balir, a pomba a voar, e Branca de Neve se escondeu atrás da cama da mãe.

- Não tenham medo. - falou o urso - Estou gelado me deixem aquecer perto da lareira.

-Pobre animal! - disse a mãe - Chega perto do fogo, mas cuidado para não se queimar.

Então a mãe chamou as meninas. Elas voltaram e, pouco a pouco, aproximaram-se o cordeirinho e a pomba, sem medo.

-Meninas!  - disse o urso – Por favor tirem a neve que tenho nas costas!

As meninas pegaram a vassoura e limparam o seu pelo. Em seguida, o urso estendeu-se diante do fogo, grunhindo satisfeito. Não demorou muito, ela puseram-se a brincar com ele. Puxavam o pelo com as mãos, trepavam nas suas costas ou batiam nele com uma varinha de nogueira. Ele só reclamou quando elas se excederam.

- Rosa Vermelha e Branca de Neve! - ele disse – Tratem o pretendente como se deve!

Quando chegou a hora de dormir e as meninas foram deitar-se, a mãe disse ao urso:

-Fique perto do fogo e você estará ao abrigo do frio e do mau tempo.

Logo que amanheceu, as meninas abriram a porta ao urso e ele se foi para a floresta, trotando sobre a neve. A partir desse dia, ele voltou todas as noites, à mesma hora. Estendia-se diante do fogo e elas brincavam com ele.

Chega a primavera e tudo se cobre de verde, então o urso disse a Branca de Neve que tinha que ir embora e não voltaria durante o verão, pois tinha que proteger seus tesouros dos maus anões. No inverno eles permaneciam nas tocas, mas quando o sol derrete a neve eles saem e roubam tudo o que podem, escondendo em suas cavernas.

Ela ficou muito triste e quando abriu a porta para o urso passar, ele esfolou a pele na lingueta da fechadura e Branca de Neve viu o brilho de ouro, mas não teve certeza.

Algum tempo depois, a mãe mandou as meninas apanharem gravetos na floresta. Lá chegando, viram uma árvore caída ao solo, e no tronco, entre a relva, qualquer coisa se agitava, pulando de um lado para o outro. Ao se aproximaram, viram um anão de rosto acinzentado, envelhecido e enrugado, com uma barba branca muito comprida. A ponta da barba estava presa numa fenda da árvore. Ao vê-lo Rosa Vermelha perguntou como sua barba ficara presa na árvore.

- Sua estúpida!- respondeu o anão - eu quis partir esta árvore para ter lenha miúda na cozinha, porque, com pedaços grandes, o pouco que pomos nas panelas queima logo. Nós não precisamos de tanta comida como vocês, gente estúpida e glutona! Tinha introduzido a minha cunha no tronco, mas a maldita madeira é muito lisa, a cunha saltou e a árvore fechou-se tão depressa prendendo minha linda barba. Riem, suas bobonas!

As meninas fizeram muitas força para livrar o homenzinho, mas não conseguiram desprender a barba, então Rosa Vermelha disse que precisariam de ajuda.

- Suas burras! - estrilou o anão - Chamar mais gente? Não podem ter uma ideia melhor?

-Não fique nervoso! - disse Branca de Neve - Vou resolver isto.

Tirou do bolso uma tesourinha e cortou a ponta da barba. Ao se ver livre, o anão agarrou um saco cheio de ouro oculto nas raízes da árvore e, pôs às costas, sem agradecer, saiu resmungando:

-Suas brutas! Cortaram-me a ponta de minha barba! O diabo que vos recompense!

Passado algum tempo, Branca de Neve e Rosa Vermelha foram pescar peixes para o jantar. Quando chegaram perto do rio, viram uma espécie de gafanhoto grande saltitando à beira d'água. Correram até lá e reconheceram o anão.

Rosa Vermelha perguntou: - Você não quer se jogar na água?

- Não sou tão burro! - gritou o anão – É esse maldito peixe que me arrasta para a água.

Para pescar o anão lançou a linha, mas o vento enroscou sua barba na linha e, nesse momento, um grande peixe mordeu a isca do anzol e suas forças não eram suficientes para mantê-lo fora da água, mesmo agarrando-se aos ramos.

As meninas seguraram o anão para desembaraçar sua barba, mas foi necessário usar mais uma vez à tesourinha e cortar outro pedaço da barba. Ele gritou, zangado:

- Isso é modo, suas patas chocas, de desfigurar a cara de uma pessoa? Já não bastava cortarem minha barba da outra vez, agora cortaram a parte mais bonita!

Pegando um saco de pérolas, escondido numa touceira ele sumiu atrás de uma pedra.

Pouco tempo depois, a mãe mandou as meninas à cidade comprar linha, agulhas, cordões e fitas. O caminho serpeava por uma planície de rochedos. Lá viram um grande pássaro pairando no ar, que depois de descrever um círculo cada vez menor, foi descendo, até cair sobre um rochedo não muito distante. No mesmo instante ouviram um grito. Correram e viram com horror que a águia segurava nas garras o seu velho conhecido, o anão, e se dispunha a carregá-lo pelos ares. As meninas seguraram o anão com todas as forças, e puxa de cá e puxa de lá, por fim a águia teve de largar a presa. Quando o anão voltou a si do susto, gritou-lhes com voz esganiçada:

- Não podem me tratar com mais cuidado? Estragaram o meu casaco! Suas palermas!

Depois pegou um saco cheio de pedras preciosas e deslizou para dentro da toca, entre os rochedos. Sem se incomodar com sua ingratidão, elas foram pra cidade.

Ao regressarem pela floresta, elas surpreenderam o anão, que tinha despejado o saco de pedras preciosas num lugar limpinho. Os raios do sol caiam sobre as pedras, fazendo-as brilhar tanto, que as meninas, deslumbradas, pararam para as admirar.

- Que fazem aí de boca aberta? - berrou o anão. Seu rosto acinzentado estava vermelho de raiva. Ia continuar xingando, quando se ouviu um grunhido surdo e, um enorme urso negro saiu da floresta.

O anão deu um pulo de medo, mas não teve tempo de alcançar um esconderijo, o urso cortou-lhe o caminho. Então ele implorou:

- Querido urso eu lhe darei todos os meus tesouros! Deixe eu viver! Você nem me sentirá entre seus dentes. Pegue essas duas meninas gordinhas para o seu estômago!

O urso não ouviu suas palavras, deu-lhe uma forte patada que o estendeu no chão.

As meninas fugiram, mas o urso chamou os seus nomes e elas reconheceram a sua voz e pararam. Quando o urso as alcançou, caiu a sua pele e, surgiu um formoso rapaz, todo vestido de trajes dourados.

- Sou filho de poderoso rei. - disse ele - Este anão mau me condenou a vagar pela floresta sob a forma um urso depois de ter roubado os meus tesouros e só com sua morte eu poderia me libertar.

Branca de Neve, pouco tempo depois, casou com o príncipe e Rosa Vermelha com seu irmão. Partilharam, entre todos, os tesouros que o anão tinha acumulado na caverna e a velha mãe viveu ainda muitos anos tranquila e feliz junto de suas queridas filhas e as duas roseiras que foram plantadas diante da janela dos seus aposentos. E todos os anos elas continuaram a dar as mais lindas rosas brancas e vermelhas.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Caravelas da Poesia (Portugal)

Eugênio de Sá (Sintra)
Ontem...


Ontem, perdi as ilusões de ser feliz
Pensei... que depois do adeus, te veria de volta
Mas, bárbaro destino; nenhum de nós o quis!

Depois de ontem...

Ontem, esquecido o norte, barco à solta
Sem leme, sem vontade a dar-me rumo
Já nem um esgar assumo, de revolta.

Um ano depois de ontem...

Ontem, vi-te num bar; queres um café?
Como vai tua vida, estás feliz?
E as mãos se deram, sem saber porquê.
________________________________

Tiago Barroso (Paredes)
Sinais da Idade


O verso já não flui com à vontade,
As rugas, o meu rosto, vão sulcando,
A noite, já mais cedo, está chegando,
E há mais recordações da mocidade.

No peito, cresce, agora, uma saudade,
Cabelos brancos há, mas rareando,
E, aos poucos, um inverno se instalando,
Promessas de trovões e tempestade.

Sinais, tantos sinais que a vida dá,
Que vão surgindo aqui, ou acolá,
Mas sempre com condão, ou com virtude

De esclarecer, em mim, grande dilema,
Devo, ou não, elaborar novo poema
Se inda há, no pensamento, juventude?
________________________________

Tito Olívio (Faro)
Meu Futuro


Vou pintar meu futuro de esperança
E pôr-lhe asas azuis, da cor do céu,
Para atingir o sol, se houver bonança,
Sem ninguém ver, oculto por um véu.

Será, porque assim quero, apenas meu,
Já que o passado foi, desde criança,
Luta minha, que a sorte pouco deu,
Mas passei a ter já mais confiança.

Quero beber a luz de cada aurora,
Chorar cada minuto de demora
P’las coisas que no tempo já perdi.

Não sei quanto me resta. Quero só,
Até ser finalmente outra vez pó,
Gozar tudo o que ainda não vivi.
________________________________

Isidoro Cavaco (Loulé)
Sonho Louco


És a luz no infinito
E o sonho em que acredito
Poder contigo encontrar;
Faço poemas na rua
Com os retalhos de Lua
Que vejo no teu olhar.

Grito mais alto que o vento
Porque trago em pensamento
Esse amor que tanto quero,
Neste silêncio que é meu,
Onde apenas vivo eu
E a toda a hora te espero.

Dizer que te amo é pouco
Ao viver meu sonho louco
Numa ilusão permanente;
Até nas ondas do mar
Eu oiço pronunciar
Teu nome constantemente.

Tenho na alma esculpida
Essa tua imagem qu’rida,
Que já não posso apagar
Deste meu destino estreito,
Que vegeta no meu peito
Sem asas para voar.
________________________________

Luís da Mota Filipe (Sintra)
De Uma Lisboa Esquecida


Das ondas, das maresias
Dos mares, dos rios
Das canastras, das varinas
Dos barcos, dos pescadores

Das vielas, das guitarras
Dos fados, dos destinos
Das revistas, das canções
Dos teatros, dos aplausos
Das tertúlias, das declamações
Dos poetas, dos Cafés
Das sinas, das sortes
Dos pregões, dos cauteleiros
Das floristas, das feiras
Dos arraias, dos mercados
Das rosas, das sardinheiras
Dos cravos, dos manjericos
Das esquinas, das calçadas
Dos Pátios, dos azulejos
Das praças, das fontes
Dos jardins, dos namorados
Das janelas, das varandas
Dos telhados, dos beirais
Das rezas, das procissões
Dos devotos, dos amantes
Das saudades, das paixões
Dos amores, dos corações

De uma Lisboa… esquecida
________________________________

Cremilde Vieira da Cruz (Lisboa)
Embrulho


Embrulhei-me num embrulho,
Fiquei assim embrulhada.
Quis desfazer o embrulho,
Mas fiquei mais embrulhada.

Pus o embrulho num canto,
Perdi o canto do embrulho.
Fiz de tudo uma embrulhada,
Perdi até o meu canto;

Ficou dentro do embrulho.
Ando assim desesperada,
À procura do embrulho!
De campainha na mão,

Subo escada, desço escada,
Chamo, chamo, pelo embrulho,
Espreito pelo corrimão,
vejo só uma embrulhada.
_______________________________
Fonte:
Os Confrades da Poesia. Boletim Nr. 59. Novembro/Dezembro 2013.

Olivaldo Júnior (Conto para os que amam ou @AmorPraSempre)

No ano de 2046, o amor tinha virado peça de museu. Eu explico: a rapidez da comunicação virtual tinha suplantado a comunicação real de um tal modo que as pessoas sequer falavam umas com as outras. Tudo era na base da transmissão energético-magnética, e os homens eram cada vez mais impelidos a se comunicar sem palavras. E, sem elas, o toque foi ficando ausente das relações sociais, e o mundo intensamente high-tech cobrava seu preço dos tão maravilhados usuários de redes sociais e afins, que dominaram a cabeça, o corpo e a alma da gente. Onde entra o amor nessa história? No caso de amor entre um moço e uma moça do futuro que estão ali...

Ele, recostado na parede de um shopping ultra, super, hiper, mega moderno, mal pode esperar por ela, que já mandou telepaticamente uma mensagem para ele, com o ícone de um coração. Palavras? Elas tinham cedido lugar aos desenhos, e todo o mundo se comunicava mais por símbolos que pela fala, ou pela escrita. Tudo era um símbolo. O do amor, claro, era um doce coração, que variava entre um e outro, de acordo com o humor. O daquele casal adolescente era um coração cercado de estrelas, cada uma representando uma semana de namoro. Relações duráveis? O que era durável para um povo que já falava com o outro através do pensamento e, daqui a pouco, quem sabe, se locomoveria pelas dimensões no Expresso Quântico, que já era uma tendência em países mais adiantados que o nosso. Viajar no tempo? Isso não era coisa de cinema, mas do dia a dia. E você? Para onde quereria ir, hein?

Voltemos ao jovem esperando a namorada. Quando ela chegou, enviou para ele um beijinho metafórico, que foi prontamente respondido com outro, um pouco mais afoito, que mereceu repreensão. Certas coisas nunca mudam... O shopping, aliás, era um ambiente bem parecido com o que temos agora, mas os produtos não ficavam mais expostos. Tudo era visto e sentido em hologramas sensoriais. O que se queria era mentalmente pedido em forma de compra que, em questão de minutos, era materializado na frente do pensador, digo, comprador. Onde o romantismo de se escolher a mercadoria, pedir para entregá-la, enfim, todo o trâmite da compra? Não havia mais. Assim como o amor. Ficava-se junto porque se ficava. O amor, como questão de posse, pertença a outra pessoa, era coisa do passado, da vovó... Gostar de alguém era um luxo. Aqueles jovens passeando pelo shopping era um luxo.

Ao fim do passeio, nada de beijos. A moça percebeu uma intenção mais quente no moço e, pra fim de conversa, "blindou" sua mente, e ele ficou sem poder se comunicar com ela por quase um mês. Foi um gelo cibernético, sabe? Depois, passaram a conversar pelo WhatsApp versão 5005, que nem consigo descrever do que era capaz. Mais uma coisa não tinha mudado: a sensação de saber que era possível burlar as regras e fazer diferente dos demais contemporâneos. Marcando encontro com ela, tirou seu chip do encaixe atrás da orelha direita e pediu a ela que também fizesse o mesmo. Assim, quando se encontrassem, seriam puros, naturais. E assim se deu. Tiraram a tecnologia excessiva, a pedra, do meio do caminho, e, tão soltos quanto um verso bem livre, beijaram-se muito quando se viram.

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Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.noticiasdeitauna.com.br

29º Jogos Florais de Ribeirão Preto/SP - 2016 (Classificação Final)

Tema:  Forja (Lírica/Filosófica)

VETERANOS

Vencedores:

1o Lugar
Therezinha D. Brisolla
São Paulo/SP


2o Lugar
Dulcídio de Barros M. Sobrinho
Juiz de Fora/MG


3o Lugar
Carolina Ramos
Santos/SP


4o Lugar
Olímpio da Cruz S. Coutinho
Belo Horizonte/MG


5o Lugar
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ


Menções Honrosas:

1o Lugar
Delcy Rodrigues Canalles
Porto Alegre/RS


2o Lugar
José Antonio de Freitas
Pitangui/MG


3o Lugar
Relva do Egypto R. Silveira
Belo Horizonte/MG


4o Lugar
Dodora Gallinari
Belo Horizonte/MG

 

5o Lugar
Antonio Augusto de Assis
Maringá/PR


NOVO TROVADOR

Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

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Trovas Humorísticas
Tema: Alfinete


VETERANOS

Vencedores:


1o Lugar
Antonio Augusto de Assis
Maringá/PR


2o Lugar
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ


3o Lugar
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ


4o Lugar
Roberto Tchepelentyky
São Paulo/SP


5o Lugar
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley
Natal/RN

 

Menções Honrosas:

1o Lugar
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP

 

2o Lugar
Marialice de Araujo Velloso
São Gonçalo/RJ

 

3o Lugar
Antonio Colavite Filho
Santos/SP


4o Lugar
Heder Rubens Silveira e Souza
Natal/RN

 

5o Lugar
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ

 

NOVO TROVADOR

Luiz Moraes
São José dos Campos/SP

Irmãos Grimm (O Músico Maravilhoso)

Num país distante havia um músico que tocava muito bem violino. Como a vida não lhe corria muito bem, decidiu procurar um companheiro. Foi até à floresta e pôs-se a tocar, até que lhe apareceu um lobo assustando-o. O lobo disse-lhe que tocava muito bem e que gostava de aprender a tocar como ele. O músico prometeu ensinar-lhe se ele fizesse tudo o que lhe mandasse. Então ao dirigirem-se para um carvalho velho, que estava oco e que tinha uma fenda a meio do tronco, o músico disse ao lobo que se quisesse aprender a tocar violino teria que meter a pata nessa abertura. O lobo obedeceu e o músico apanhou uma pedra, entalando a pata do lobo na fenda.

Como o músico queria encontrar um companheiro, lá continuou a tocar violino com entusiasmo, até que apareceu uma raposa encantada com a música, dizendo-lhe que gostava de aprender a tocar como ele. Pelo que o músico respondeu que para isso bastava que ele fizesse tudo o que lhe mandasse e então continuaram a andar até chegarem a um caminho estreito, aí ele prendeu com os pés dois ramos de aveleira e dizendo à raposa que se quisesse aprender a tocar violino lhe desse a pata esquerda. O animal obedeceu e o homem atou uma das patas a um ramo e a outra ao segundo ramo. Ao tirar os pés dos ramos, eles endireitaram-se e a raposa ficou suspensa pelas patas.

Como ainda não tinha encontrado o companheiro para formar sociedade e ganhar a vida, sentou-se a tocar o violino. Entretanto apareceu uma linda lebre que ao gostar da música lhe pede para o ensinar a tocar. O músico promete-lhe ensinar se ela obedecer às suas instruções. A lebre aceita e deixa-o atar um cordel à volta do pescoço, prendendo-a a um tronco.

Entretanto o lobo debatendo-se consegue soltar a pata e enfurecido vai atrás do músico, encontrando pelo caminho a raposa que lhe pede para a soltar. Ao passarem perto da lebre esta gritou por ajuda e foram todos os três em busca do músico. Este entretanto, tinha atraído com a sua música um caçador que lhe pede para aprender a tocar. O músico satisfeito disse-lhe que o ensinaria de muito bom agrado, já que tocar bem um instrumento era um privilégio de homens e piscando-lhe o olho deu-lhe sinal para os animais que se aproximavam furiosos.

O caçador apontou-lhes a arma ameaçando-os pelo que assustados fugiram todos a correr.

O músico ficou todo satisfeito por ter encontrado um companheiro e assim passaram a andar de vila em vila tocando e caçando para que nunca lhes falte comida.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

quarta-feira, 25 de maio de 2016

José Feldman (Trovas de Louvor a uma Princesa Morta)


Susana Custódio (Poemas Avulsos)

TANGO
Na noite pejada de magia
Os dois rodopiando no salão
Os olhos sorrindo d’alegria
Transmitíamos pura emoção.

Enlaçados com elegância
Em compasso de dois por quatro
Das tuas mãos o meu corpo pendia
Espargindo do amor a fragrância.

Por todo aquele anfiteatro
Os aplausos foram-se propagando
Já da noite despontava o dia
E após o ultimo passo condutor.

A vênia em plena sedução
Não era ser somente um tango
No leito continuaríamos
A performance do nosso amor.

QUANDO

Naquele jardim, te afastaste
E já longe gritaste!
Corre para mim...
Eu, louca fui correndo,
Abriste os teus braços...me agarraste...
Rodopiando num louco frenesi!

Quando
Naquele barco
Que lento ia cortando as águas do Sado,
Com a tua viola...
Dedilhando nas cordas "Les feuilles Mortes”
E a tua voz grave cantava a doce melodia!!!
Esquecemo-nos de tudo e de todos,
E de olhos nos olhos eu te ouvia...
Amando-te cada vez mais!!!Quando
Nas dunas da praia nos deitamos
E nos amamos,
Entre beijos, carícias e gemidos!!!

Quando
Hoje olho para ti...
A saudade me invade...
EU continuo a ser EU!
E TU já não és TU!
És a sombra daquele,
Quando
No jardim...
No barco...
Nas dunas...
Me amaste!!!

ENCÔMIO À MINHA MÃE

Não sei o que mais minh’alma chora;
No momento que escrevo, eu revivo
Esta dor que é antiga e que é d’agora,
P'lo sentimento qu’ inda está tão vivo…

Mãe! Não sei porque te foste embora!
Também esta amargura que cultivo
Em mim, e do que sinto, és geradora
E esta dor é lamento muito antigo.

Meu coração encharca-se de mágoas
Recordar? – Se destes olhos brotam águas...
Oh! Mãe, minha Mãe, quanta saudade!

Vê meu carinho mãe, por piedade...
Já que partiste da minha mocidade,
Vê! Quero mostrar-te as minhas mágoas!

DESAPEGO

É este não saber o que quero,
Que me amargura,
Que me dá este desassossego
Que me persegue e em mim perdura
A vontade de tudo querer
E logo este desapego!

Esta vontade não sei de quê, é dura!
Sinto o meu peito em chaga…
Eu queria tanto um amor doçura,
Esta falta que sinto me esmaga…

Todo o meu ser é confusão,
Quero pensar e não me compreendo…
Toda esta vida é uma ilusão
Só eu sei como estou sofrendo!

Ah! Seu eu tivesse alguém a quem beijar,
Que me tirasse este desejo,
Esta ânsia de amar!

RESILIÊNCIA

Possuo a delicadeza das flores
Torno-me fera para proteger
Todos os meus divinos amores
Pois sem eles não sei viver

Posso ser dura como a rocha
Mas carrego comigo um sorriso
Que ilumina o deserto qual tocha
E vou buscar forças onde for preciso

Mesmo quando me apetece gritar
Permito que entrada da alegria
Faça no meu peito o amor aportar
Pois nos sentimentos há magia

Eu sei, nasci com o dom da paciência
Altiva, couraçada, percorro a sorte
Enigmática, mas essa é minha essência

Nada temo - ares de fraca - sou forte
As forças vêm desta resiliência
Que só se deterá perante a morte

Fontes:
Boletim Os Confrades da Poesia Nr 62 | Maio / Junho 2014
http://susanacustodio.blogspot.com.br

Susana Custódio (1949)

Susana Custódio nasceu em Lisboa em Maio de 1949, reside em Sintra desde os 18 anos. Desde os 14 anos começou a escrever alguns “rabiscos” a que ela chama “Estados de Alma”.

Estudou em Lisboa e em Londres, mais tarde viajou para Moçambique, país pelo qual viria a ter uma “Grande Paixão” que ainda hoje perdura.

Aos 27 anos ganhou um prêmio de literatura oferecido pelo Inspector Varatojo na RTP, ao escrever um conto inédito sobre a grande escritora inglesa de ficção policial Agatha Christie.

Em 2010 a convite de una editora teve a oportunidade de ver alguns dos seus poemas no livro “ Sentimentos Profundos” que dedicou a seu filho.

Lecionou por muitos anos a língua inglesa.

Membro de várias associações poéticas, como:
APP – Associação Portuguesa de Poetas;
Poetas del Mundo e cônsul de Sintra;
Poetas do Povo – Sintra;
Os Confrades da Poesia;
AVSPE Brasil;
AVBAP Brasil.

Tem vários poemas escritos e alguns contos.

Fontes:
Boletim Os Confrades da Poesia Nr 62 | Maio / Junho 2014

Carlos Lúcio Gontijo (A Vida e Morte de Todos Nós)


Todos nós somos sementes de luz espiritual semeadas na Terra pelo Criador. E assim, à medida que, aos olhos do Senhor, nos apresentamos maduros, somos colhidos para auxilia-Lo na conservação e luminosidade da verdadeira "Cidade Luz": O PARAÍSO!

Sempre achei e continuo achando um grande equívoco as páginas dos jornais, aqueles poucos que ainda abrem espaço para artigos de opinião, tratarem tão-somente da análise de assuntos políticos, dentro do radicalismo tacanho do contra e a favor, sem enveredar por qualquer tentativa de levar os leitores à reflexão sobre temas capazes de introduzir no mar de tanta discórdia social e violência alguma gota de sensibilidade e noções relativas ao invisível, que rege a nossa existência e nos dá ânimo diante da perda de pessoas queridas e amadas para o inexorável destino da morte física que a todos nós espreita.

No vazio desse trabalho jornalístico de cunho espiritual, sempre visto como assunto menor ou mesmo irrelevante, assistimos ao desespero de seres humanos diante da morte, principalmente pelo fato de as pessoas terem a sua mente absorvida pela pregação materialista da cultura construída pelo consumismo desenfreado em que vivemos.

Durante o tempo em que publicamos artigos em jornal impresso de grande circulação, jamais tivemos acanhamento em misturar temática mais espiritualizada a assuntos de essência política, abrindo-os ou terminando-os com versos e pensamentos voltados ao enlevo do espírito humano, sob a crença de que, sem incensar a alma, palavras e ideias contidas em um texto não conseguem ser integralmente compreendidas pela amplitude da mente e da razão.

Em todos os momentos de nossa vida, devemos diminuir a distância entre o Céu e a Terra, porque quanto mais nos agarramos às coisas terrenas mais nos afastamos da sensibilidade e do amor ao próximo, lastreando o caminho rumo à violência e à desvalorização da vida, que é dádiva divina concebida pelo Criador, cuja misericórdia faz da morte um processo de transformação, através do qual renascemos para o resplendor da vida eterna.

Talvez não haja nada mais político que colocar à mesa da discussão gráfica nas páginas dos jornais a luz espiritual que habita cada um de nós, como se fosse um sopro de Deus, que nos abastece, fornecendo o combustível que nos conduz até determinado ponto – uns mais cedo; outros mais tarde –, até a morte, conforme os desígnios do Senhor.

Se verdadeira é a premissa que nos indica que tudo precisa de disciplina e esforço para se tornar realidade, também é de significado inarredável o conselho que nos aponta a conveniência de que a toda realização humana convém uma elevada dose de sonhos, emoção e olhos do coração voltados à satisfação dos anseios da maioria das pessoas, quebrando a visão individualista e impregnada pelo egoísmo ao qual nos encontramos subjugados.

Enfim, não importa sua condição social, a fé que professa, a cor de sua pele ou a sua ideologia política, o fato inconteste é que o imposto sobre a vida – e que, justa e democraticamente, sobre todos recai – é a morte! Já passa da hora de a sociedade introduzir o tema no dia a dia, com naturalidade e desmitificação, até mesmo como forma de livrar os incautos das mãos de tanta gente usando o santo nome de Deus em vão e incrementando o fanatismo apocalíptico do qual alimenta o seu diabólico pastoreio.

Fonte:
O Autor

terça-feira, 24 de maio de 2016

Nilton Tuller (Pai, Desculpe a Franqueza)

PAI. Puxa ! Faz tempo que não pronuncio esse nome. Sabe, papai, eu era um menino cheio de vida. Tinha sonhos febris como os meus colegas de escola. Sim eu sonhei em ser tantas coisas lindas!!! Só não sonhei em ser o que sou hoje. Eu pensava: vou crescer, estudar, trabalhar, etc., etc.

O senhor era meu herói. Sim! Meu Pai Herói! Para mim não existia ninguém com mais autoridade que o senhor. É certo que eu estranhava quando o senhor chegava, meio alcoolizado em casa, abetumado, macambúzio e jururu. Mas, papai, eu quero dizer aqui de longe algo que trago no meu peito há muito tempo. O senhor não me preparou para enfrentar a vida. Lembra, papai? O senhor não tinha tempo para mim. É verdade que o senhor me dava presentes, eu creio que o senhor nunca se esqueceu de um presente de natal, aniversário e tantas outras vezes. Só se esqueceu da minha pessoa. Lembrou-se do que eu precisava, e até do supérfluo, mas não se lembrou do que eu era. Eu era, na verdade um órfão de pai vivo! Pai, eu não queria os seus presentes apenas, eu queria mesmo era o senhor. Queria e ansiava seu calor, o seu abraço, o seu beijo a sua atenção. Abraço!!! Nem me lembro de ter recebido um! O senhor nunca elogiou um boletim escolar que trazia para casa. Um dia a minha bicicleta descentralizou as rodas. Lembro-me como se fosse hoje. O senhor ia saindo para o escritório. Eu lhe pedi para me ajudar. Lembra, papai, o que me respondeu? “Eu não tenho tempo. Meus clientes estão me esperando”. Puxa vida! Eu senti tanto ciúmes do senhor. Afinal seus clientes eram mais importantes do que eu. O senhor e mamãe estavam tão ocupados que mal me viram crescer. Vocês tinham que satisfazer os compromissos com a sociedade. Eu me sentia só, e isto me revoltava. Nasceu dentro de mim um conflito. Eu não sabia bem se o odiava ou tentava chamar a sua atenção para o meu dilema. Eu queria tanto que o senhor soubesse que apesar de tudo, eu o amava. Hoje estou confuso, e nem sei mais o que é amor. Eu sei, papai, que o senhor não é de tudo culpado. O senhor é fruto de uma sociedade consumista e humanista. O senhor nunca me ensinou nada sobre religião, fé, Deus. Nas refeições o senhor só falava em negócios, dinheiro, ações, investimentos etc... Eu quase não via o senhor chegar. Ah! Se o senhor tivesse adivinhado que as poucas vezes que eu estava acordado, esperava que a porta do meu quarto abrisse e o senhor fosse sentar-se na minha cama e pudesse me desejar uma boa noite. Mas... o senhor passava direto para o seu aposento. Por causa disso, papai, eu por curiosidade, por auto-afirmação ou aventura, não sei, entrei para as drogas. Como o senhor não me ajudou, os traficantes me adotaram.

E então os meus sonhos se desmoronaram. Eu que o admirava tanto, passei a chamá-lo de quadrado, velho, coroa e outros adjetivos.

Hoje estou aqui atrás das grades. Sim, papai! Estou preso nas garras do vício, na malha da lei. Pior que isto. Estou preso nas minhas esperanças.

Mas... pensando melhor, pai, eu olhei agora pelas grades da prisão e vi lá fora bem alto e longe uma nesga de céu azul. Creio que há esperança. Eu quero sair daqui, papai. Quero ser livre. Liberte-se também de tudo aquilo que lhe prende, e vamos começar de novo. Vamos fazer um convênio. EU VOLTO A SER CRIANÇA, E O SENHOR VOLTA A SER PAI.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Irmãos Grimm (A Bola de Cristal)

Houve, uma vez, uma feiticeira que tinha três filhos, os quais se amavam extremamente. Mas a velha não confiava neles e vivia a desconfiar de que pretendiam expropria-la. Então transformou o mais velho numa águia, a qual tinha de viver nos píncaros rochosos e só, às vezes, era vista descrevendo grandes círculos no espaço, descendo e subindo com as largas asas abertas.

Ao segundo filho, transformou numa baleia que vivia nas profundezas do mar, podendo ser vista só quando subia à tona e de suas costas saía um repuxo de água que espirrava à grande altura. Foram concedidas aos dois apenas duas horas por dia, nas quais podiam retomar seu aspecto humano.

O terceiro filho, temendo que a mãe o transformasse, também, nalgum animal feroz, urso ou lobo, fugiu de casa às escondidas.

Ele ouvira contar que no castelo do Sol de Ouro havia uma princesa encantada, que aguardava a sua libertação; mas se alguém tentasse libertá-la arriscaria a vida. Vinte e três rapazes já haviam perecido deploravelmente, ainda um podia apresentar-se e, depois desse, mais ninguém.

Sendo um rapaz destemido e arrojado, resolveu ele procurar o castelo do Sol de Ouro. Depois de andar muito tempo, sem conseguir encontrá-lo, foi parar numa grande floresta; tendo-se extraviado, não sabia como sair dela. De repente, avistou ao longe dois gigantes acenando-lhe com a mão e, quando se lhes aproximou, disseram-lhe:

- Estamos brigando por causa de um chapéu. Queremos saber a quem de direito deve pertencer. Como somos os dois de igual força, nenhum pode vencer o outro. Os homens pequenos são mais inteligentes do que nós, por isso pedimos que tu decidas.

- Como é possível engalfinhar-se assim por causa de um simples chapéu? - disse ele.

- É que não conheces as propriedades que possui. Esse é um chapéu mágico. Quem o põe na cabeça, chega no mesmo instante a qualquer lugar que deseje.

- Dai-me um pouco esse chapéu! - disse o rapaz; - vou andar até àquela distância e, quando vos chamar, correi os dois juntos. Quem chegar primeiro ganhará o chapéu.

Pegou o chapéu, botou-o na cabeça e foi andando, andando. Mas, pensando sempre na princesa, exalou um suspiro do fundo da alma e murmurou:

- Ah, quem me dera estar no castelo do Sol de Ouro!

Mal lhe saíram da boca essas palavras, eis que se achou no cume de uma montanha, bem em frente à porta do castelo.

Sem hesitar, penetrou no castelo e foi atravessando todos os aposentos até chegar a uma sala onde estava a princesa. Mas como se espantou ao vê-la! tinha o rosto de uma cor cinzenta e cheio de rugas, os olhos torvos e os cabelos vermelhos. Sem se poder conter, exclamou:

- Então, sois vós a princesa cuja beleza é exaltada no mundo inteiro?

- Oh! - respondeu ela - Esta não é a minha fisionomia real! Os olhos humanos só podem me ver assim deformada, mas se queres saber como sou realmente, olha naquele espelho: ele não engana e te mostrará a minha verdadeira imagem.

Assim dizendo, apresentou-lhe um espelho e o rapaz, olhando para ele, viu refletida a imagem da mais linda moça que pudesse existir no mundo. E viu lágrimas de intenso sofrimento escorrendo-lhe pelas faces. Então perguntou:

- Que posso fazer para te libertar desse encanto? Dize, pois eu não temo coisa alguma.

A princesa disse-lhe:

- Quem conseguir apoderar-se da bola de cristal e apresentá-la ao feiticeiro, anulará o seu poder e eu readquirirei o meu verdadeiro aspecto. - mas acrescentou: - Muitos já encontraram a morte por tê-lo tentado! Lamento, imensamente, que tu, tão jovem, queiras expor-te a tão graves perigos.

- Nada poderá deter-me. - respondeu o rapaz; - Dize-me, porém, que devo fazer para me apoderar da bola de cristal.

- Já vais saber tudo. - disse a princesa. - Se quiseres descer a montanha onde está o castelo, lá embaixo, perto de um manancial, encontrarás um feroz bisão, com o qual terás de lutar. Se conseguires matá-lo, sairá dele um pássaro de fogo, voando, o qual tem no corpo um ovo incandescente. Nesse ovo, no lugar da gema, está a bola de cristal. Mas o pássaro não deixa cair o ovo, se não for violentamente obrigado a isto. Além disso, se o ovo cair no chão, quebra-se e incendeia tudo à sua volta, destruindo-se no fogo juntamente com a bola de cristal, de maneira que, nesse caso, todo o teu trabalho terá sido inútil.

O rapaz desceu até ao manancial onde se encontrava o bisão, o qual o recebeu bufando e resfolegando, ameaçador. No mesmo instante, travou-se entre os dois uma tremenda luta e o rapaz conseguiu enterrar-lhe a espada no ventre, prostrando morta a terrível fera. Imediatamente saiu voando o pássaro de fogo, procurando elevar- se no espaço, mas a águia, que era o irmão do rapaz, chegou nesse momento através das nuvens, investiu contra o pássaro e com o bico adunco empurrou-o para o mar. A ave, vendo-se em perigo, deixou cair o ovo.

Mas o ovo não caiu no mar; caiu sobre uma choupana de pescadores situada na praia. Caindo em cima dela, imediatamente se elevou uma nuvem de fumaça e ateou- se o fogo, então se elevaram no mar ondas da altura de uma casa, despejaram-se sobre a choupana e extinguiram o fogo. Fora obra do outro irmão, transformado em baleia, que, vendo o fogo, sublevara as ondas.

Depois de extinto o incêndio, o rapaz foi em busca do ovo e, por grande sorte, o achou. Não tivera tempo de derreter, mas a casca incandescente, esfriada repentinamente pela água gelada, partira-se toda. Assim lhe foi possível extrair a bola de cristal.

Quando, finalmente, foi ter com o feiticeiro e exibiu a bola de cristal ao seu olhar, o bruxo disse-lhe:

- Meu poder está anulado. De hoje em diante serás o rei neste castelo do Sol de Ouro. E tens poder, também, de restituir a teus irmãos a forma humana.

Então o rapaz correu para junto da princesa e, ao entrar na sala em que se achava, ela surgiu-lhe pela frente em todo o esplendor de sua radiosa beleza.

Cheios de alegria, trocaram as alianças que os devia unir e viveram na mais perfeita felicidade.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

Olivaldo Júnior (Para gostar de poesia)

O menino, para gostar de poesia, pôs seus ouvidos na fonte e se deixou virar água. Depois, como ser água era pouco, fez-se mesmo em vapor. Lá no céu, refeito em mil partículas concêntricas, achou por bem virar chuva e, num dia de sol, deixou-se cair e, no meio do rio, na beira do mar, em todo o sertão, se fez chuva grossa, se fez chuva fina e voltou a ser água. Assim, compreendeu que, para gostar de poesia, preciso era mesmo ser a alma do verso, a base do som, senhor e sem hora para a matéria urdida, exposta em verso. Servo da água, rumou para o mar de si mesmo, onde a vida era onda, a onda era forma, a forma, uma via para gostar de poesia. Ai de quem não gosta, de quem não gasta seus olhos e não se deixa ser água como aquele menino!... A vida, que é líquida e fim, nubla os olhos de quem não quer chorar e cristaliza no peito as águas que empedram. Mágico, para gostar de poesia, o menino fez mares onde o pó sufocava, deixando vir-lhe a vida que há nas águas de si, sinal de que somos versos de um poema em uníssono, mesmo sem vermos sua forma na folha em branco dos dias. Sábio, para gostar de poesia, o menino (des)fez-se do rio e se encharcou de mar, não só de mágoa. Água, rio novinho à margem velha, fez brotar silêncio e música no bico das aves, na boca dos homens, na brusca poesia que busca ser água, córrego manso, dique, ou represa, para gostar, menino, só de poesia.

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Concurso de Trovas Centenário de Nascimento de Luiz Otávio (1916 - 2016) (Resultado Final)

Promovido pela UBT/Santos

CONCURSO NACIONAL/INTERNACIONAL
(idioma português)

TEMA - “Meus Irmãos, os Trovadores”

VETERANOS

Vencedores


1º lugar: 
Edweine Loureiro da Silva
(Saitama/Japão)

2º lugar:
José Ouverney
(Pindamonhangaba/SP)

3º lugar:
Roberto Resende Vilela
(Pouso Alegre/MG)

4º lugar:
Gilvan Carneiro da Silva
(São Gonçalo/RJ)

5º lugar:
Agostinho Rodrigues
(Campos dos Goitacazes/RJ)


MENÇÕES HONROSAS

Giva da Rocha
(São Paulo/SP)

Jota de Jesus
(Saquarema/RJ)

Myrthes Mazza Masiero
(São José dos Campos/SP)

Plácido Ferreira do Amaral Junior
(Caicó/RN)

Relva do Egypto Rezende Silveira
(Belo Horizonte/MG)


MENÇÕES ESPECIAIS
 

Antônio Augusto de Assis
(Maringá/PR)

Ari Santos de Campos
( Balneário de Camboriú/SC)

Messias da Rocha
(Juiz de Fora/MG)

Therezinha Diegues Brisolla (2)
(São Paulo/SP)


NOVATOS

VENCEDORES


1º lugar:
Edy Soares
(Vila Velha/ES)

2º lugar:
Maria do Carmo Zerbinato
(Niterói/RJ)

3º lugar:
Madalena FerrantePizzatto
(Curitiba/PR)


MENÇÕES HONROSAS
4º lugar:
Rosa Maria Gomes Mendes
(Rio de Janeiro/ RJ)

5º lugar:
Valter Rodrigues Mota
(Taubaté/SP)


CONCURSO UBT/SANTOS “CENTENÁRIO DE LUIZ OTÁVIO” -
LOCAL (SANTOS)

VENCEDORES


1º lugar:
Maria Nelsi Sales Dias

2º lugar:
Carolina Ramos

3º lugar:
Edna Gallo

4º lugar:
Mercedes Lisbôa Sutilo

5º lugar: 
Antonio Colavite Filho


MENÇÕES HONROSAS
Ana Maria Guerrize Gouvêia

Carolina Ramos

Elenir Ferreira

Nair Rodrigues Lopes

Sônia Regina Rodrigues


MENÇÕES ESPECIAIS

AntonioColavite Filho

Edite Rocha Capelo

Edna Gallo

Nair Rodrigues Lopes

Nilce I. Lemont


CONCURSO INTERNACIONAL CENTENÁRIO DE LUIZ OTÁVIO
(idioma espanhol)

Vencedores
.
1º lugar:
Gisela CuetoLacomba
(USA)

2º lugar:
Maria Rosa Rzepca
(Argentina)

3º lugar:
Andrik Bannack Alvarez
(USA)

4º lugar: Martha Lúcia Jimenez Trojillo
(Colômbia)

5º lugar:
Jayme Hoyos Forero
(Colômbia)


MENÇÃO HONROSA

AdyYagur
(Israel)

Azucena de los Angeles Farias Hernandez
(México)

Germán Echeverría Aros
(Chile)

José Hector Rodríguez
(Argentina)

Olinda Rosa Harache
(Argentina)


MENÇÃO ESPECIAL

Ime Biassoni
(Argentina)

Irene Mercedes Aguirre
(Argentina)

Líbia Beatriz Carciofetti
(Argentina)

Maria Elena Spínosa Mata
(México)

Marguerita Tejera
(Uruguai) 

DESTAQUES

Catalina Margarita Mangione
(Argentina)

Elizabeth Leyva Rivera
(México)

Freddy Ramos Carmona
(México)

Hildebrando Rodriguez
(Venezuela)

Júlio San Martin Órdenes
(Chile)

II Concurso Internacional de Trovas do Japão (Resultado Final)

Promovido pelo Professor Edweine - Loureiro
Delegado da União Brasileira de Trovadores UBT-Japão

Tema: ESPERANÇA

Troféu Cristina Olivera Chavez

VENCEDORES:

1º Lugar:


Tenho um jardim diferente...
e entre nós, há uma aliança:
Por mais que eu mude a semente,
só nasce a flor da esperança!
Professor Francisco Garcia
(Caicó/RN)

2º Lugar:


Quando as chuvas tão pedidas
caem fartas no sertão,
a esperança é refletida
nas poças d'água no chão.
Eliana Ruiz Jimenez
(Balneário Camboriú/SC)

3º Lugar:

 
A escola... a farda... eu criança...
o hino nacional... a fila...
-Oh meu Deus, quanta esperança
eu levava na mochila...
Manoel Cavalcante de Souza Castro
(Pau dos Ferros/RN)

4º Lugar:

 
Matar a alheia esperança
é crime cruel demais...
É um pecado sem fiança,
mais grave que os capitais!
Antonio Augusto de Assis
(Maringá/PR)

5º Lugar:

 
Com esperança eu persisto,
aguardo o tempo que for...
De te querer, não desisto:
creio na força do amor!
Alba Helena Corrêa
(São Paulo/SP)

MENÇÃO HONROSA


Para quem nutre a esperança,
qualquer desejo é possível.
Luto com perseverança
e, com Deus, sou invencível!
Alba Helena Corrêa
(São Paulo/SP)

-

Minha esperança é tão grande,
que afastá-la, não consigo,
onde quer que eu vá ou ande,
ela sempre vai comigo!
Delcy Rodrigues Canalles
(Porto Alegre/RS)


Com a fé que me conduz
e a esperança que me atrai,
caminho seguindo a Luz
que leva à casa do Pai.
Maria Luíza Walendowsky
( Brusque/SC)


Para os sonhos de criança:
eu...você...nós dois depois,
roda-gigante e esperança
têm cadeirinhas pra dois!
Austregésilo de Miranda Alves
(Salvador/BA)


Sempre existe uma esperança
a acenar à nossa frente...
Feliz de quem não se cansa
de ouvir seu apelo: - “Tente!”
Carolina Ramos
(Santos/SP)

MENÇÃO ESPECIAL


Esperança é veio d’água
que brota dentro da gente;
quando, na veia, deságua,
jorra uma densa corrente.
Geraldo Trombin
(Americana/SP)


Quando a treva a mim alcança
e me deixa sem saída,
busco uma luz de esperança
no escuro túnel da vida.
Marialice Araújo Velloso
(São Gonçao/RJ)


O fardo da insegurança
faz o pai perder seu brilho,
ao dizer: - Tenha esperança!
- Não desanime, meu filho!
Wandira Fagundes Queiroz
(Curitiba/PR)


Mantenho viva a esperança
de ver unidas as mãos
e, corações, com voz mansa,
cantando em roda de irmãos!!!
Carolina Ramos
(Santos/SP)


Aceito o adeus com pujança...
Bem maior que o teu desdém,
foi ter que ver a esperança
partir contigo também!
Gilvan Carneiro da Silva
(São Gonçalo/RJ)

TROVAS DESTAQUE


A esperança é tecelã
do amor, ventura, abastança
e fiação do amanhã
que tece a calma, a bonança...
Maria Cristina Cacossi Capodeferro
(Bragança Paulista/SP)


Se encruzilhada me lança
na indecisão que ela enceta,
tiro do alforje a Esperança,
fazendo dela uma seta.
Dodora Galinari
(Belo Horizonte/MG)


Eu perco toda a esperança
e quase toda a razão
quando vejo uma criança
pedindo um pouco de pão.
José Antônio de Freitas
(Pitangui/MG)


Se a cada dia me entrego
e me sinto um derrotado,
quanta esperança eu renego
e me rotulo um coitado!
Jessé Nascimento
(Angra dos Reis/RJ)


A esperança é como um canto
que embala nosso viver,
e é tão necessária quanto
o sol para o alvorecer!
Renata Paccola
(São Paulo/SP)

domingo, 15 de maio de 2016

Trova 273 - Vanda Alves da Silva (Curitiba/PR)


Teatro da Terra (O Cravo Espanhol) Estreia 25 de Maio

de Romeu Correia

direção de produção e luz Pedro Domingos

Estreia a 25 de maio às 21H30

Teatro Cinema de Ponte de Sor / Portugal
de 25 a 29 de maio
quarta a sábado às 21h30
domingo às 16h e 21h30

info e reservas: 967 710 598 | 242 292 073
teatrodaterra@gmail.com | teatrodaterra.pt.vu
bilhete – 6 €
“Assim, com o tempo, conseguimos fundir o que de vagas recordações trouxemos da infância com o belo-da-idadeadulta saído do gênio criador dos seus autores, que para o caso d’O Cravo Espanhol foram: algumas figuras dos saltimbancos do Picasso do período rosa; a Paulette Goddard, a do vestido-trapo, quando esta personificava o fruto juventude colhido por Chaplin; a Anna Magnani de alguns filmes neo-realistas italianos do pós-guerra; o clima patético dos vagabundos com um sonho dentro d’A Estrada, de Fellini, e todo o sortilégio que, felizmente, ainda surpreendemos para nosso regalo nas feiras, romarias, exibições de fantoches, nos dias de Circo, nos pantomineiros vendedores da banha da cobra (que arte e que poder de comunicação têm alguns destes tipos!); tudo isto, dizíamos nós, o passado e o presente muito bem digeridos no almofariz-da-vida, creio ter sido a teia mestra da nossa farsa trágica. Farsa trágica, um conflito de amor e frustração baseado nas cegadas carnavalescas dos anos vinte. História  dialogada numa linguagem direta e rude, sem papas na língua, como acontecia nos espetáculos de rua desses tempos.”

É desta forma que o autor Romeu Correia descreve resumidamente a sua obra O CRAVO ESPANHOL. O Escriturário, símbolo dos improvisadores que logo perdem a autoria para o anonimato, é o impregnador das antigas cegadas no clima das cenas. Miguel, o toureiro frustrado, procura realizar-se lidando touros de pano com pernas de homem, no Carnaval. A filha bonita faz de “cavaleiro” e o filho rebelde de “bandarilheiro”. Dois cavalheiros atraídos na ocasião colaboram, vestidos de “boi” para esta “casa da brincadeira”. As memórias de infância de poetas, compositores de improviso, cantadores de fado e toda uma fauna artística eminentemente popular, despertaram a necessidade de, já nos anos setenta, voltar a um conceito esquecido e até desprezado por alguma intelectualidade da época. Tratasse de uma literatura criação-desabafo de dores e alegrias com as raízes mergulhadas no cerne da alma do Povo. A ânsia de comunicar é de tal forma imperativa que nem o desconhecimento da escrita serviu de obstáculo a uma criação artística, que teve mais tarde uma correspondente identificação no plano estético, quer nas artes plásticas quer na cinematografia.
   
O Teatro da Terra inicia com Romeu Correia uma série de espectáculos baseados na nossa investigação da corrente neo-realista portuguesa, a “batalha pelo conteúdo” precursora de muitos dos agora considerados mestres do cinema, das artes plásticas ou do teatro.

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Fonte:
Teatro da Terra

Professor Francisco Garcia (Teu Retrato)

TEU RETRATO
 
Na moldura contemplo o teu retrato
Que me deste sorrindo um certo dia,
E por vê-lo, confesso e te relato,
que ainda vivo este sonho e fantasia.
 
Passa o tempo e não passa esta alegria
Que conservo na mente e não maltrato,
Porque sem conservá-la, a nostalgia,
Transformava este sonho em sonho ingrato
 
Vendo o teu rosto lindo e sedutor,
Como eu lembro da força deste amor
Nestes seus lábios ternos, sensuais,
 
Ah! Que pena que o tempo nada sente,
E o que guardo comigo eternamente
É uma foto, consolo dos meus ais!

Olivaldo Júnior (Aquela lá)

A claridade do dia avançava sobre o quarto como se a convidasse para a vida. Era ela que se levantaria, tomaria banho e, quase por encanto, vestiria aquele vestido de flores, meio feliz demais para uma segunda-feira, mas, vá lá, só viveria aquela segunda-feira uma vez, então...

Pronto, abriu os olhos e, sentada ao pé da cama, passou a mão levemente nos cabelos, como se certificasse de que era ela mesma que estava ali. Sim, era ela. Bem, hoje é segunda, né?...

Levantou-se, pôs-se em frente ao espelho, escovou os dentes e, quando voltava para o quarto a fim de se vestir, lá estava ela.

- O que quer aqui? Já não me fez mal o suficiente?, disse, imperiosa, para a mulher que julgava ser a dona de sua ruína.

- Eu sempre estarei aqui, você sabe. Pode me mandar embora, eu não posso sumir..., respondeu à "preguiçosa" dona daquela casa, com jardim à beira-porta, colibris beijando flores, pardaizinhos de passagem.

- Eu preciso ir trabalhar, estou atrasada!, retrucou, áspera, à indesejável mulher sentada numa poltrona em seu quarto, onde ela, quando podia, costumava ler.

- Vou com você., calmamente falou a "penetra" à sua rival.

- Não mesmo!, decretou, impaciente, a senhora de seu quarto, a rainha de suas horas, seu Reino de Copas, recém-invadido por aquela que não queria desgrudar de seu caminho.

- Olha a bolsa, amiga!..., disse a "intrusa", só querendo ajudar.

- Um momento... Preciso me olhar no espelho!, avisou a proprietária daquele quarto, daquela cama, daquele oásis onde se refazia de sua luta diária. Lutava contra uma depressão havia meses, anos, talvez "séculos".

- É preciso mesmo isso?, indagou a "forasteira" a sua "amiga", que, ao se olhar no espelho, sem querer, deu cabo da falastrona que esvaneceu no ar qual nuvem de poeira, pó de Pirlimpimpim, restando apenas a mulher, sua segunda-feira e um espelho, interrogativamente mudo, manhãzinha, olhando-a, só.

Aquela lá, sentada na poltrona, era ela mesma. Será?! Sim, era ela.

Fontes:
O Autor

Edweine Loureiro (O Filho da Floresta e outros poemas)


 
  São 26 poemas, todos premiados em concursos literários no Brasil e em Portugal, nos quais o author escrece sobre os mais diversos temas ― entre estes: ecologia, paz e, claro, literatura.

    A obra obteve o Prêmio Literacidade – 2015.

    A capa foi feita pela artista japonesa Junko Tomita, e o prefácio pelo grande escritor Edelson Nagues. Eis o link da Editora LiteraCidade:
 http://www.literabooks.com.br/filhodafloresta

    Edweine Loureiro nasceu em Manaus em 1975. Advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (Prêmio LiteraCidade 2015). Vencedor do Prêmio Ganymedes José (Literatura Infantil e Juvenil) da União Brasileira de Escritores - RJ, em 2015. Também obteve o primeiro lugar, em 2016, nos Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ), o mais tradicional concurso de trovas do Brasil. É membro correspondente da UBE-RJ e da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências – SP.

Alguns poemas do livro:

FILHO DA FLORESTA

Sou forte, sou altivo.
Nascido, por encanto,
no encontro das águas.
Curumim atroari,
que não teme nada:
seja a grande sucuri,
seja a onça-pintada…

Sou desbravador de igapós
e dos mistérios de Marajó.
E, para ter o muiraquitã,
matei o gigante Piaimã.

Não tenho medo de saci,
nem do feroz mapinguari…
E, de noite, à beira do lago,
afago o boto-encantado.

Só uma coisa me apavora:
É descobrir, em má hora,
que nada mais resta
de minha amada floresta.

[Poema vencedor do VII Concurso Poesiarte – Arraial do Cabo/ RJ (Janeiro/2013) e 4º lugar no 3º Concurso Literário da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências (AMLAC) – Vinhedo/ SP (2013).]
AFLIÇÃO

Vejo-a ferida: nossa Mãe Terra…
Ela que, nascida para ser Eterna,
deu Vida a tantos…

E, no entanto,
ao longo dos tempos,
estando Ela em tormento,
a ninguém importou o Seu lamento.
Ninguém enxugou o Seu pranto.

E agora,
ainda esquecida,
Ela agoniza…

Aguardando, entristecida,
a derradeira hora…

Que, temo, não demora.

[Menção Honrosa Internacional no VIII Concurso Poesias sem Fronteiras (2012)]

Fonte:
O Autor

Irmãos Grimm (O alfaiate no céu)

    Um belo dia, o bom Deus quis dar um passeio pelo jardim celestial, levou consigo todos os apóstolos e santos, não ficando no Paraíso senão São Pedro. O Senhor recomendou-lhe que não deixasse entrar ninguém durante sua ausência e São Pedro ficou de guarda junto à porta do céu. Não demorou muito, alguém bateu. São Pedro perguntou quem era e o que desejava.

    - Sou um pobre e honesto alfaiate - respondeu uma vozinha humilde - que pede para entrar.

    - Sim, honesto! - disse São Pedro - como um ladrão candidato à forca! Tinhas os dedos compridos quando surrupiavas o pano aos fregueses! No Céu, não podes entrar, o Senhor recomendou-me que não deixasse entrar ninguém durante a sua ausência.

- Tende compaixão de mim! - choramingou o alfaiate - pequenos retalhos que caem da mesa não são roubados, não merecem sequer que se fale neles. Olhai, estou mancando por causa das bolhas que fiz nos pés, de tanto andar; não posso absolutamente voltar daqui. Deixai-me entrar, prometo fazer todo o serviço pesado, carregarei as crianças, lavarei as fraldas, limparei e esfregarei os bancos onde brincam e remendarei os rasgões de suas roupas!

São Pedro acabou por compadecer-se e abriu um pouquinho a porta do Céu, um tantinho apenas que deu para o alfaiate coxo insinuar-se. Recomendou-lhe que ficasse quietinho num canto atrás da porta para que, quando o Senhor voltasse, não o descobrisse, senão se zangaria.

O alfaiate obedeceu. Sentou-se no canto atrás da porta, mas, assim que São Pedro deu as costas, levantou-se e pôs-se a esquadrinhar curiosamente todos os recantos do Paraíso. Por fim, foi ter a um lugar onde havia muitas cadeiras esplêndidas e, no centro, uma poltrona de ouro cravejada de pedras preciosas; era muito mais alta que as cadeiras circunstantes e à sua frente havia um escabelo também de ouro.

Era a poltrona onde sentava o Senhor quando estava em casa e da qual podia ver tudo o que se passava na terra. O alfaiate quedou-se a contemplá-la por algum tempo, pois ela lhe agradava mais que todo o resto. Até que, não conseguindo refrear a temerária curiosidade, foi sentar-se nela. Então viu tudo o que acontecia na terra e, particularmente, notou uma velha feia lavando roupa num regato, que subtraiu e pôs de lado dois véus. Vendo isso, o alfaiate foi tomado de tal indignação que agarrou o escabelo* de ouro e, através do Céu, lançou-o violentamente na velha ladra, lá na terra. Como, porém não podia mais ir buscar o escabelo tratou de escapulir o mais depressa possível da poltrona e correr para o seu lugar atrás da porta tudo como se nada houvesse acontecido.

Quando o Senhor e Mestre regressou com o séquito celeste para dizer a verdade não percebeu o alfaiate atrás da porta, mas ao sentar na poltrona deu pela falta do escabelo. Chamou São Pedro e perguntou-lhe onde fora parar. São Pedro não o sabia. Então perguntou-lhe se havia deixado entrar alguém.

- Não sei de ninguém que aqui entrasse - respondeu São Pedro - a não ser um pobre alfaiate coxo que ainda está esperando atrás da porta.

O Senhor mandou chamar o alfaiate e perguntou-lhe se tinha se apoderado do escabelo e onde o escondera.

- Senhor - respondeu prontamente o alfaiate - num ímpeto de raiva atirei-o na terra, atrás de uma velha que vi, daqui, roubar dois véus dentre a roupa que estava lavando.

-Seu patife! - disse-lhe o Senhor - se eu julgasse como tu, que pensas que teria acontecido desde tanto tempo? Eu não teria, desde séculos, cadeiras, poltronas, nem tenazes, porque tudo teria jogado sobre os pecadores. Por isso não podes ficar no Céu, apenas te será permitido ficar fora do portão. Vês que belo resultado? Fica sabendo que aqui ninguém pode castigar, somente eu, o Senhor!

São Pedro teve de reconduzir o alfaiate para fora do Paraíso. O alfaiate, que tinha os pés cobertos de bolhas e os sapatos rotos, se apoiou num bastão com a mão, e foi embora bem devagarinho, dizendo "Esperem um pouco", enquanto os bons soldados se sentavam de tanto rir.
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Nota:
* escabelo = banquinho para descanso dos pés.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

sábado, 14 de maio de 2016

Trova 272 - Edweine Loureiro (Saitama/Japão)

Montagem da trova sobre pintura de Dantin, "mulher na sacada com pombos".

Carolina Ramos (A Música… meu Sol!)

“A música e a Alma! ”  Esta é a união perfeita,
sem que exista maior, desde que a vida é vida!
A Música, ao nascer, já tem destino, eleita
para encantar quem chega… e abençoa-lo à partida.

Se a Música morresse… a magia desfeita
tornaria a existência amarga e tão sofrida,
sem o bálsamo amigo e sem a ideal receita
que cura qualquer mal… ou mágoa indefinida!

Se chove dentro em mim… sem que chova, lá fora,
Tenho a Música – um Sol, fiel, à minha espera!
…Afago o meu piano… as notas ganham cores,

a consolar a dor de um coração que chora.
- E… ao Sol, que me devolve a luz da primavera,
desnuda-se minha alma… envolta em sons e flores!…