segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Camila Vardarac (Radar Murnau)


Dois seres pálidos apagam suas sombras ao abandonarem as réstias de luz, seguem fracos e rastejantes como moribundos esperançosos na direção da escuridão plena, porque só no mais puro breu nasce a semente vital que alimenta os seus espíritos, semente que abre as cortinas da alma, fechadas durante a temporada do sol.

Dos habitantes diurnos só querem o sangue contaminado que corre pelos corpos debilitados, aliás, esses seres obscuros valorizam muito mais o sangue por não possuí-lo naturalmente, é preciso consegui-lo a partir dos homicídios (nem sempre premeditados), assaltos a hospitais ou contribuições dos suicidas, que estão cada vez mais raras visto que esses kamikazes de hoje só querem mesmo morrer sem dor, uma morte calada num cômodo de apartamento impenetrável.

Antigamente, corria nas veias um sangue mais limpo, regido ainda por algumas ordens naturais, sem tanta química corrosiva. Antigamente, sangue era néctar e quem quisesse morrer o fazia com honra e tiro e foice, às vezes corda e o desespero avisava aos seres da noite que o banquete estava servido, agora morre-se por pílulas, analgésicos e calmantes em excesso e nenhum alarme soa aos ouvidos dos sedentos noturnos... o fim também está próximo para eles, por mais que saiam das tocas lacradas assim que o sol se põe, na cansativa busca pela vida carregada de contagem regressiva.

O fim se aproxima e o dia é apenas o prelúdio.
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Camila Vardarac nasceu no Rio de Janeiro, em 1987.
Observadora por natureza, escritora por impulsão – pela necessidade (recorrente) de expressar-se em prosa e poesia.
Voyeur da realidade e de suas representações, encontrou no cinema um meio de materializar suas idéias no continuum do espaço-tempo, desconstruindo-se em impressões.

Fonte:
http://www.conexaomaringa.com/

Estante de Livros



Nora Roberts (Pecados Sagrados)

Nos indolentes dias de verão, uma impiedosa onda de calor é o principal assunto na capital norte-americana. Mas a condição climática logo deixa de ser matéria das primeiras páginas quando uma jovem é encontrada morta por estrangulamento. Um bilhete foi deixado - Seus pecados lhe são perdoados. Logo surgem duas outras vítimas, e, de repente, as manchetes passam a ser dedicadas ao assassino que a imprensa apelidou de 'Padre'.

Quando a polícia pede à Dra. Tess Court, uma psiquiatra renomada, que auxilie na investigação, ela apresenta o retrato de uma alma perturbada. O detetive Ben Paris não dá a mínima para a psique do assassino. No entanto, o que ele não consegue descartar com facilidade é a sensual Tess.

Moreno, alto e bonitão, Ben tem uma reputação lendária com as mulheres, mas a fria e elegante Tess não reage como as outras que ele conheceu e o detetive acha o desafio sedutor. Agora, enquanto os dois estão juntos numa perigosa missão para deter um serial killer, irrompe a chama de uma paixão incandescente. Mas há alguém que também está de olho na linda médica loura, e só resta a Ben rezar para que, se o assassino atacar, ele consiga detê-lo antes que seja tarde demais.
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Françoise Bourdin (Mensagem no Jardim)

Em 'Mensagem no jardim', Françoise Bourdin apresenta a história de Pascale Fontanel, uma médica esgotada após seu recente divórcio e cansada de sua vida sem graça em Paris, que decide voltar à sua pacata cidade natal, Peyrolles, no sudoeste da França. Seu pai, contudo, por querer vender a propriedade da família, opõe-se totalmente à decisão da filha. Seria a morte brutal de sua primeira mulher num incêndio e a depressão da mãe de Pascale razões para esta reação tão ferina quanto inesperada?

Mesmo com a resistência do pai, Pascale retorna e instala-se na antiga casa com a determinação de ali reconstruir sua vida. Contudo, ocorrem episódios que vão perturbar as suas lembranças. O jardineiro, um homem de comportamento estranho, recusa-se a deixar a propriedade. Os vizinhos, por sua vez, contam histórias assustadoras ligadas à família Fontanel. E o mais intrigante - a antiga caderneta da família achada no sótão por Pascale.

O que realmente terá acontecido em Peyrolles? Que outros mistérios a casa esconde? Pascale não descansará até descobrir toda a verdade.
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Fonte:
Livraria Cultura

Santos sedia Encontro Internacional de Escritores


A celebração da Literatura quase sempre ocorre num contato silencioso do livro com o seu leitor. Neste momento, pode até parecer que o escritor está ausente, e que a sua presença é menos sentida do que a dos próprios personagens. Este ano, Santos aproxima as pessoas e as histórias, e ganha a sua celebração da leitura. Desta vez, os protagonistas são os autores e você.

Esta rede de histórias, autores e leitores é a Tarrafa Literária, acontece em Santos de 3 a 7 de setembro de 2009 no tradicional teatro Guarany, restaurado e majestoso, no centro histórico de Santos.

Uma Festa Literária, e não uma feira de livros: trata-se de uma grande reunião de leitores e escritores, em quatro dias para dar voz ao pensamento e conversar sobre literatura, jornalismo, filosofia, história, futebol e o que mais vier à mente dos convidados. Não é um ambiente acadêmico, mas de entretenimento e cultura; não é uma ocasião informal, mas a ocasião é despojada e o lugar acolhedor.

Estarão com grandes nomes da literatura nacional e internacional, apresentando temas dos mais interessantes na atualidade, bem próximos de São Paulo capital. Considerando os atrativos do porto e das praias, as partidas de futebol e a praticidade do Sistema Anchieta-Imigrantes para o acesso à região, o período é bem favorável para quem vem de fora, seja para um programa diferenciado de um dia, seja para aproveitar as vésperas do feriado da Independência do Brasil.

PROGRAMAÇÃO

quinta-feira, 3 de setembro de 2009
20:00 - Solenidade de abertura

Intervenção Artísticas com entrega de pergaminhos com trechos da obra de Euclides da Cunha.
Local: Praça dos Andradas

sexta-feira, 4 de setembro de 2009
16:00 - Os livros dentro dos livros 1
Ruy Castro e Heloisa Seixas - Mediador: Ricardo Kotscho
Tarrafinha

16:00 - Retalhos Poéticos, Livros de pano
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

17:45 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do Teatro Guarany

19:00 - Os livros dentro dos livros
Hélio de Almeida e Estela dos Santos Abreu - Mediadora: Patrícia Andrik

Tarrafinha

19:00 - Contação de histórias
Livro: O sapo vira rei vira sapo
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do teatro Guarany

sábado, 5 de setembro de 2009
16:00 - Ficção, a Mentira sem culpas.
Milton Hatoun e André Laurentino.
Mediador: José Roberto Torero.

Tarrafinha
16:00 - Cortina de Histórias
Livro: O Pequeno Rei e o Parque Real
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

17:45 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do teatro Guarany

19:00 Mentiras, culpa da ficção.
Lourenço Mutarelli e Marcelo Mirisola.
Mediação: José Luiz Tahan.

Tarrafinha

19:00 - Contação de histórias
Livro: O Diário de Lelê
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada teatro Guarany

domingo, 6 de setembro de 2009
16:00 - JORNALISTAS ALÉM MUROS
Jorge Caldeira e Laurentino Gomes
Mediação: Zuenir Ventura

Tarrafinha

16:00 - Contação de histórias
Livro: As Letras, de Laura Beatriz

19:00 - Cortina de histórias
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

19:00 - FILÓSOFOS ALÉM MUROS
Theo Ross (Alemanha) e Márcia Tiburi
Mediadora: Mona Dorf

21:00 - Autógrafo com autores
Local: lobby de entrada Teatro Guarany

segunda-feira, 7 de setembro de 2009
11:00 - Jogo de Futebol
Local: Santos Futebol Clube
Estádio Urbano Caldeira, Vila Belmiro

16:00 - FUTEBOL E LITERATURA, PAIXÃO NACIONAL
Matthew Shirts e Xico Sá
Mediador: Vladir Lemos

Tarrafinha

16:00 - Confecção de livros, Poeta dos mares
Local: Foyer, 1º piso do Teatro Guarany

19: 00 - Construção de livros de brinquedo
Local: Foyer, 1º piso do Teatro Guarany

19:00 - LIVROS QUE MOLHAM
Amyr Klink e Tim Winton (Austrália)
Mediador: Arthur Dapieve

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada teatro Guarany

21:15 - Intervenção Artística
Local: Praça dos Andradas

Fontes:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

domingo, 6 de setembro de 2009

Antonio Augusto de Assis (Notas de Viagens)


1
Nobre Porto Alegre.
Em cada rua Quintana
passarinha ainda.

2
Érico sulíssimo.
Olhai os lírios dos pampas,
um deles Veríssimo.

3
Lagoa, Floripa.
De repente um cisne negro:
Cruz e Sousa passa.

4
Curitiba, a chique.
Na lenda da Kolody,
a luz de Leminski.

5
Maringá, Joubert.
Canção que virou cidade
que virou buquê.

6
Vida, luz, ação.
Intrépida Pauliceia
de Mário de Andrade.

7
Guilherme, Campinas.
Haicai que rimando sai
das chuvinhas finas.

8
Ah, Bauru, que bom.
Ah se houvesse mais Helvécios
e Nempuku Satos.

9
Entre aviões e carros,
nos campos de São José,
Cassiano Ricardo.

10
Taubaté tal sítio
do picapau amarelo.
No portão, Lobato.

11
Rio de Janeiro
e de Machado de Assis.
De lambuja, o mar.

12
Niterói se gaba.
Luiz Antônio Pimentel,
o guru da taba.

13
Estação Friburgo.
Luiz Otávio e Jota Gê
regando os florais.

14
Campos, sempre doce.
Tal qual Antônio Roberto
gorjeando trovas.

15
São Fidélis, o eco
das rimas de padre Augusto.
Poeta de Deus.

16
Velho Cachoeiro
de Roberto e Rubem Braga.
Do Itapemerim.

17
A bênção, Fabiano.
Dizei-me qual mais amais:
Belzonte ou Beraba?

18
Mariana, Alphonsus.
Os sinos e os cinamomos
recontando histórias.

19
Um só coração:
Pouso Alegre e o casarão
do poeta Meyer.

20
Ouço Juiz de Fora,
escuto Belmiro Braga.
E haverá quem não?

21
Cordisburgo, a rosa
do Rosa das rosas ledas.
Dos sertões: veredas.

22
Cora Coralina.
Coração do coração
do Brasil, Goiás.

23
De todos os santos.
Bahia de Castro Alves,
da praça do povo.

24
Maceió, Fulô.
Ora se deu que chegou
o Jorge de Lima.

25
Sol da Paraíba,
licença que eu quero ouvir
Augusto dos Anjos.

26
Recife, Recife,
de Bandeira e de Adelmar.
Com engenho e frevo.

27
Natal dos três reis:
Reinaldo, Luís Cascudo
e Luís Rabelo.

28
De Acari partiu,
o coqueiral deu-lhe adeus.
Aparício, o bom.

29
Fortaleza, o mar
de Alencar e de Iracema.
Poeta e poema.

30
Maranhão, Gullar.
As aves ali gorjeiam
com Gonçalves Dias.
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Fonte:
Colaboração do autor

Aristóteles Guilliod de Miranda (Caldeirão Literário do Pará)



RUÍDOS

Traduzo meu risco de ser
buscando-te no desvão do eco
da palavra espanto
plantada no olfato de gestos
deste chão que planejo
assim como a natureza
da morte revisitada
em cada ausência.
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PORTA-RETRATOS

A vida parada num sorriso
que desafia o tempo
e que se destrói
quando alguém
troca a foto
– que já não toca.
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XXII

O cinzeiro mede a hora
e a alma
O tapete acalma os pés
inquietos
com seu carinho sintético
A lâmpada e seu olho quente
observam a
natureza morta do homem

Só o relógio, impunemente,
enterra o tempo
entre os ponteiros
–––––––––––––––––––

1964

Então, foi decretado o escuro.
Eu, que nem iniciara
o aprendizado da luz,
fiquei sem sol.

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MACACO

Do espelho ancestral me olhas
em caretas e curiosidade
como a perguntar pelas eras
em que eras eu

Semi-ereto, teu caminho
encontra meu destino recurvo

Em guinchos saúdas a razão
em seu caminho milenar
até a voz

Teus riscos no chão inauguram
as palavras com que te celebraria
mais tarde.
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ANIMA/IS

em penas
em pêlos
em pele
– plenos de si

cantos e escamas
cascos, carapaça e casulo
caudas

seda envoltos
vital invólucro
vôo & passo
uivos

patas irmãs das minhas mãos
em asas e nadadeiras

quebra-cabeças da natureza
misteriosa mistura
de cheiros e gritos e textura
universo inverso
de mim
––––––––––––––––––

PARA SEMPRE

Remeter ao vértice
ao pubiano vórtice incendiado
em alegóricas auroras
entranhadas na hora amortecida
Entre pêlos
..................sábios
.............................lábios
aludir segredos
diluir delírios
Sucumbir em vagas
em estridentes vagas ressoadas
como um bote
––––––––––––––––

Aristóteles Guilliod de Miranda (1954)



Aristóteles Guilliod de Miranda, nasceu em Belém do Pará em 1954.

Médico desde 1977, em atividade. Arrisca-se na poesia desde a adolescência. Mais tarde reavalia a “produção” tendo sobrado poucos poemas desta fase.

Leituras de Pessoa, Vinícius e Bandeira, principalmente, vão ajudando na determinação de continuar. “Edita” de forma artesanal Viagem Íntima (1984), trinta poemas para comemorar seus 30 anos.

Ainda na década de 80 participa de antologias poéticas.

Licenciatura em Letras (1989) e Mestrado em Teoria Literária (1991). Nesse período colabora com regularidade, por quase dois anos, para o jornal O Liberal com artigos. Três prêmios em poesia e um em ensaio pela Academia Paraense de Letras.

Publica Travessia do Ser, poesia, em 1999. Incluído na Poesia do Grão-Pará (2001), antologia organizada por Olga Savary. Em 2006 lança um novo livro de poemas: Para Além dos Alísios.

Fonte:
http://www.culturapara.art.br/

Cleuza Sarzêdas (O Sapo Sonhador)



Na beira de um pequeno lago em um terreno baldio, um sapo vivia. Ele era diferente de todos os outros: sua pele lisa tinha um prateado claro, com listras marrons. No alto da cabeça, um desenho dourado semelhante a uma coroa. Seus olhos eram da cor do céu. Sonhava ser rei daquele lugar, comandar com muito amor seus irmãos e irmãs e protege-los dos animais malvados e dos humanos que ali chegavam para caçar as rãs. Irresponsáveis, muitos nem sabiam a diferença entre uma rã e um sapo, matando-os até descobrirem o que queriam. Seria um paraíso! Cada morador teria o próprio nome, e iria à escola para aprender a ler e saber a razão de ter nascido e qual a participação de cada um no mundo. Teria casa, trabalho e família. Os adultos trabalhariam para os menores e todos seriam respeitados.

Ele, como rei, casaria com sua namorada, uma linda sapinha de grandes olhos negros, que seria a rainha. Teriam muitos filhos e formariam uma grande família abençoada por Deus.

Naquele momento, uma claridade cobriu o lago e o sapo sonhador viu-se sentado num trono com enorme coroa sobre a cabeça. O terreno e o lago eram o seu reino e a sapinha de olhos negros transformara-se em sua esposa. A população, composta de anfíbios e répteis, era muito feliz, vivia cantando. Ali morava a felicidade! Mas os súditos percebiam uma tristeza no rei e comentavam que a rainha não queria filhos, pois alegava darem muito trabalho e ela dizia não ter tempo para cuidar deles.

O rei, tranqüilo e paciente, tentava convencê-la de que os filhos são o futuro da nação e que onde não há pequeninos falta alegria. O sapo argumentava: “Quando formos bem velhos, o que faremos se não tivermos netos para contar histórias de sapos? E o reinado ficará nas mãos de quem quando Deus nos chamar para junto dele? Fomos criados para aprender muitas coisas e para procriar, dando oportunidade a outros sapos de viverem o que nos vivemos. Eles serão o que nós fomos e muito mais, farão mais do que fizemos. Tudo é uma questão de evolução.”

Mas a rainha, orgulhosa e vaidosa, não queria ouvir o que o marido dizia e continuava teimosamente não querendo filhos. Decepcionado, o rei foi chorar à beira do lago quando, súbito, teve a atenção despertada para algo que se movimentava muito rapidamente de um lado a outro até que finalmente parou: era um girino.

Girino é filho de sapa com sapo, nasce de um ovo dentro d’água, respira por brânquias, ou seja, guelras, é semelhante a uma bolinha preta com um rabinho. Esse rabinho cai quando ele se torna um sapo adulto e vai morar em terra firme. O pequenino colocou a cabecinha fora d’água e falou:

“Senhor rei, vivo triste neste lago porque não tenho ninguém. Meus pais na terra foram morar e eu aqui fiquei. Nem irmão tenho para brincar. O senhor não quer ser meu pai? Juro ser obediente, estudar bastante, me alimentar o suficiente para crescer e ser bem sadio e nutrido. E, quando adulto, fazer de você um vovô bastante feliz. Palavra de girino.”

O rei sorriu comovido e se encantou com aquele ser tão inteligente. “Vou adotar você. A partir de hoje será meu filho querido e se chamará Girinino. Sempre que puder virei conversar com você, até tornar-se adulto e ao meu lado governar. Quando eu me for, você será o novo rei.”

Feliz, o girino balançava eufórico o minúsculo rabinho e cantava: “Agora tenho um pai... agora tenho um pai... nunca mais ficarei só...”

A partir daquele dia, o rei, alegre, passou a ser visto junto do lago a conversar com o filho amado. Os dois brincavam e se divertiam por horas e horas.

Mas a rainha, enciumada com medo de perder o reinado, mandou pescar o girino e o colocou no mato, dentro de uma concha somente com água, na intenção de matá-lo de fome. Agindo daquela maneira, achava que iria livrar-se do que pensava ser uma ameaça para ela. Preocupado com o sumiço de Girinino, o rei chamou a guarda e ordenou:

“Vasculhem todo o lago e encontrem meu filho.” Inútil a procura. Não o encontraram. Mas, na esperança de achar seu querido pequenino, o rei voltava ao lago todos os dias e punha-se a chamar: “Cadê você, filho adorado? Apareça!”

Os dias passaram e o rei voltou a ficar triste. Ele contornava o lago por várias e várias vezes à procura de Girinino. A saudade apertou tanto que ele adoeceu e foi chorar junto a um matagal próximo. Lá, já sem esperanças, debruçou-se sobre uma pequena concha como se fosse uma mesinha e, de repente, ouviu uma voz bem fraquinha.

“Paizinho, vem me buscar”. O rei olhou em volta, assustado, mas nada viu. Procurou entre as folhas, revirou tudo e nada achou. Decidiu voltar para casa, mais triste ainda. No entanto, no momento em que se afastava, novamente ouviu a voz, quase sumindo: “Paizinho, vem me buscar”.

Teve, então, certeza de que era seu filho. Ele estava preso ali, em algum lugar. Desesperado, o rei recomeçou a busca e encontrou a conchinha. Abriu-a e deparou-se com o pobre girino quase morto de fome. Levou-o rapidamente para o lago e conseguiu salvá-lo.

Chamou sua guarda pessoal e ordenou que não o deixassem só nunca mais. Em seguida, decidiu punir o malvado e perguntou a Girinino quem lhe fizera aquilo.

Mas o sapinho tinha bons sentimentos e não acusava ninguém, pois sabia do amor que o rei sentia pela rainha. Mentiu para que seu paizinho querido não sofresse: “Um sapo malvado me enganou dizendo-me que o Rei me chamava. Fui atrás dele e o bandido me trancou naquela concha. Para não morrer de fome comi os mosquitos que entravam pela abertura, pois tinha certeza que você me encontraria.” “Agora, filho, ficaremos juntos para sempre. Ninguém nunca mais tocará em você.” Abraçaram-se fortemente.

Ainda com os bracinhos apertando o próprio peito, o sapo ouviu a voz da sua amada, a sapinha dos grandes olhos negros, de dentro do lago: “Vetusto! Acorda, seus filhos nasceram. Veja! são muitos.” Sonolento e sob a ação do sonho, o sapo abriu os olhos devagar e viu muitos girinos nadando rapidamente de um lado a outro. Feliz, jogou-se ao lago entre os tantos filhos e cantou.

“Agora sim, sou um verdadeiro rei...”.

Fonte:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/

Ana Maria Machado (1941)


Ana Maria Machado (Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1941) é uma jornalista, professora, pintora e escritora brasileira.

Na vida da escritora Ana Maria Machado, os números são sempre generosos. São 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza, em pleno dia 24 de dezembro.

Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, a 24 de dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro Machado, Ana Maria teve dois filhos.

Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York, tendo participado de salões e exposições individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras (depois de desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas, resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as palavras, apesar de continuar pintando até hoje.

Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.

Deu aulas na Faculdade de Letras na UFRJ (Literatura Brasileira e Teoria Literária) e na Escola de Comunicação da UFRJ, bem como na PUC-Rio (Literatura Brasileira). Além de ensinar nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel, no Rio, e no Curso Alfa de preparação para o Instituto Rio Branco, também lecionou em Paris, na Sorbonne (Língua Portuguesa) e na Universidade de Berkeley, Califórnia – onde já havia sido escritora residente. Escreveu artigos para a revista Realidade e traduziu textos.

No final de 1969, depois de ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos também detidos, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes Études cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado em Lingüística e Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese resultou no livro Recado do Nome, sobre a obra de Guimarães Rosa.

Como jornalista, trabalhou no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, no O Globo, e colaborou com as revistas Realidade, IstoÉ e Veja e com os semanários O Pasquim, Opinião e Movimento. Durante sete anos, chefiou o jornalismo do Sistema Jornal do Brasil de Rádio. Criou e dirigiu por 18 anos, com duas sócias, a primeira livraria do país especializada em livros infantis, a Malasartes. Também foi editora, uma das sócias da Quinteto Editorial. Há 25 anos vem exercendo intensa atividade na promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da UNESCO em diferentes países e sido vice-presidente do IBBY (International Board on Books for Young People).

Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro pelo livro História Meio ao Contrário, em 1977. Abandonou o jornalismo em 1980, para a partir de então se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. Sua filha Luísa nasceu em 1983. Em 1993 a acadêmica se tornou hors concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Recebeu vários prêmios no país e no exterior, entre eles o Casa de Las Americas (Cuba, 1980), o Hans Christian Andersen, internacional, pelo conjunto de sua obra infantil (2000), o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, da Academia Brasileira de Letras (2001), o Machado de Assis da Biblioteca Nacional para romance. Foi também agraciada, em alguns casos mais de uma vez, com prêmios como: Jabuti, Prêmio Bienal de SP, João de Barro, APCA, Cecília Meireles, O Melhor para o Jovem, O Melhor para a Criança, Otávio de Faria, Adolfo Aizen, e menções no APPLE (Association Pour la Promotion du Livre pour Enfants, Instituto Jean Piaget, Génève), no FÉE (Fondation Espace Enfants, Suíça) e Americas Award (Estados Unidos).

Em 2003, após quatro meses de uma campanha trabalhosa, Ana Maria teve a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e afetuosa homenagem ao seu antecessor.

É membro do PEN Clube do Brasil e do Seminário de Literatura da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, no grau de Grão-Mestre, a Medalha Tiradentes e a Grande Ordem Cultural da Colômbia.

Bibliografia

Ensaio
- Recado do Nome. 1976
- Esta Força Estranha. 1996.
- Contracorrente. 1997.
Texturas. 2001.
- Como e Por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo. 2002.
- Ilhas no Tempo. 2004.

Romance
- Alice e Ulisses. 1983.
- Tropical Sol da Liberdade. 1988.
- Canteiros de Saturno. 1991
- Aos Quatro Ventos. 1993.
- O Mar nunca Transborda. 1995.
- A Audácia Desta Mulher. 1999.
- Para Sempre. 2001.
- Palavra de Honra. 2005.

Literatura infanto-juvenil

- Bento-que-bento-é-o-frade. 1977.
- Camilão, o Comilão 1977.
- Currupaco Papaco. 1977.
- Severino Faz Chover. Reunião de quatro contos, reeditados em separado a partir de 1993.
- História Meio ao Contrário. 1979.
- O Menino Pedro e Seu Boi Voador. 1979
- Raul da Ferrugem Azul. 1979.
- A Grande Aventura da Maria Fumaça. 1980.
- Balas, Bombons, Caramelos. 1980
- O Elefantinho Malcriado. 1980
- Bem do Seu Tamanho. 1980
- Do Outro Lado Tem Segredos. 1980
- Era uma Vez, Três. 1980.
- O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. 1980
- O Natal de Manuel. 1980.
- Série Conte Outra Vez (O Domador de Monstros; Uma Boa Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pudesse...; O Barbeiro e o Coronel; Pimenta no cocuruto). 1980-81.
- De Olho nas Penas. 1981.
- Palavras, Palavrinhas, Palavrões. 1981.
- História de Jaboti Sabido com Macaco Metido. 1981.
- Bisa Bia, Bisa Bel. 1982.
- Era uma Vez um Tirano. 1982.
- O Elfo e a Sereia. 1982.
- Um Avião, uma Viola. 1982.
- Hoje Tem Espetáculo. 1983.
- Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota de Mágica; Pena de Pato e de Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra; Com Prazer e Alegria). 1983-88.
- Passarinho Me Contou. 1983.
- Praga de Unicórnio. 1983.
- Alguns Medos e Seus Segredos. 1984.
- Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. 1984.
- Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). 1984.
- O Menino Que Espiava pra Dentro. 1984.
- A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. 1985.
- O Pavão do Abre-e-Fecha. 1985.
- Quem Perde Ganha. 1985.
- A Velhinha Maluquete. 1986.
- Menina Bonita do Laço de Fita. 1986.
- O Canto da Praça. 1986.
- Peleja. 1986.
- Série Filhote (Lugar Nenhum; Brincadeira de Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). 1987.
- Coleção Barquinho de Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, Quem Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). 1987.
- Uma Vontade Louca. 1990.
- Mistérios do Mar Oceano. 1992.
- Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. 1992.
- Vira-vira. 1992.
- Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). 1993.
- Dedo Mindinho. 1993.
- Um Natal Que não Termina. 1993.
- Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem Valente. 1994.
- O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê. 1994.
- Exploration into Latin America. 1994.
- Isso Ninguém Me Tira. 1994.
- O Touro da Língua de Ouro. 1995.
- Uma Noite sem Igual. 1995.
- Gente como a Gente. 1996.
- Beijos Mágicos. 1996.
- Os Dois Gêmeos. 1996.
- De Fora da Arca. 1996.
- Série Lê pra Mim (Cachinhos de Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado e a Onça; João Bobo). 1996-1997.
- Amigos Secretos. 1997.
- Tudo ao Mesmo Tempo Agora. 1997.
- Ponto a Ponto. 1998.
- Os Anjos Pintores. 1998.
- O Segredo da Oncinha. 1998.
- Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. 1998.
- Amigo é Comigo. 1999.
- Fiz Voar o Meu Chapéu. 1999.
- Mas Que Festa!. 1999.
- A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. 2000.
- O Menino Que Virou Escritor. 2001.
- Do Outro Mundo. 2002.
- De Carta em Carta. 2002.
- Histórias à Brasileira. 2002.
- Portinholas. 2003.
- Abrindo Caminho. 2003.
- Palmas para João Cristiano. 2004.
- O Cavaleiro dos Sonhos. 2005.
- Procura-se Lobo. 2005.
- Coleção Gato Escondido (Onde Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar de Escola?, e Delícias e Gostosuras). 2004-2006..

Organização de Antologias
- O Tesouro das Virtudes para Crianças. vols. I e II em 1999 e 2000; vol. III em 2002.
- O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002.

Poesia
- Sinais do Mar. 2009.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/
Site de Ana Maria Machado. http://www.anamariamachado.com/biografia/biografia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Maria_Machado

Conheça um pouco mais de Ana Maria Machado



1. Quando você era criança, já sonhava em ser escritora?

Não. Sonhava em ser artista de cinema, mas achava que ia mesmo era ser professora. Estudei para isso. E fui professora por um bom tempo. Só depois é que descobri que era escritora. Mas sempre gostei de escrever. Fazia diário, escrevia muitas cartas, fazia parte da equipe do jornalzinho da escola, essas coisas…

2. De onde você tira as idéias para os seus livros?

Da cabeça, como todo mundo. O importante não é isso, é como elas entram na cabeça. Acho que um livro começa muito antes da hora em que a gente senta para escrever. É um jeito de prestar atenção no mundo, em todas as coisas, nas pessoas, e ficar pensando sobre tudo…

3. Quais são os seus temas favoritos?

Os críticos em geral dizem que eu escrevo com uma visão crítica, sobre temas como a rebeldia, o combate ao autoritarismo, a ética, a fome de justiça… Mas do meu ponto de vista não é bem assim: eu acho que cada vez estou querendo contar uma história diferente, acontecida comigo mesma ou com gente que eu conheço, e transformada pelas coisas que eu sonho ou imagino a partir daí.

4. Qual o ponto de partida para o que você escreve?

Do meu ponto de vista, eu escrevo sempre a partir de duas coisas: o que eu lembro e o que eu invento. Memória e imaginação são as duas grandes fontes do que eu faço.

5. Como é que você escolhe seus ilustradores?

Muitas vezes quem escolhe não sou eu, são os editores. Mas alguns aceitam que eu dê palpites. Nesse caso, eu tento escolher aqueles com quem eu tenho mais afinidade, ou cujo trabalho eu admiro, e que sejam bons de trabalhar. Quer dizer, conversem comigo, leiam o livro com atenção, se disponham a trocar idéias e cumprir prazos.

6. Você também é pintora. Por que nunca ilustrou um livro seu?

Porque eu acho que pintura e ilustração são duas coisas completamente diferentes. Uma pintura tem apenas que resolver problemas visuais que ela mesma inventa a cada vez. Uma ilustração, como o nome está dizendo, tem que dar um lustre, um brilho, lançar uma luz sobre algo que está escrito. Tem que ser narrativa também. E o tipo de pintura que eu faço não é narrativo. Acho muito mais difícil ilustrar do que pintar, e eu não tenho capacidade para isso.

7. Que mensagem você gostaria de mandar para seus leitores?

Antigamente eu dizia que quem tem que mandar mensagem é telegrafista. Hoje diria que é a Internet. Um escritor não tem que se preocupar com mensagens. Tem que contar uma boa história, de uma maneira interessante, com surpresas de linguagem, e criar um livro que divirta, faça pensar e fique na lembrança do leitor de alguma maneira, dando vontade de reler ou relembrar de vez em quando.

8. O que a levou a escrever para crianças?

Eu já escrevia para adultos e sabia que "tinha jeito" para escrever. Conhecia muito bem a língua (era professora de português), estava começando a trabalhar numa tese de doutorado sobre Guimarães Rosa. Quer dizer, língua e literatura eram meu elemento. Por que não para crianças também? Não vi nenhum motivo para excluí-las de minha preocupação estética com o uso da linguagem, terreno onde sempre me movi. Então somei, ampliei, e incluí a criança nessas minhas vivências da arte da palavra.

9. Como é a sua rotina de trabalho?

Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador - esse é só o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior. A minha criação é assim, um processo meio mágico, que a gente não sabe de onde vêm nem como se desenrola. Procuro merecer, estar pronta, criar condições. Essas condições passam por trabalho e disciplina. Em geral, escrevo todo dia, sempre de manhã, quanto mais cedo melhor. Sem interrupções de fora. E com possibilidade de uma vista agradável, quando levanto os olhos da página.

10. Você foi uma das pioneiras, no Rio de Janeiro, na criação de uma livraria voltada para o público infanto-juvenil. O que aprendeu dessa experiência?

Criei a Malasartes em 1979 e vendi a minha parte em 1996. Durante esse período, descobri que acaba se tornando impossível tentar compatibilizar as duas coisas. Um escritor é um artista, tem que ser livre. Um livreiro é um comerciante, tem que dar sempre razão ao freguês.

11. Qual foi o primeiro livro que você escreveu?

O meu primeiro livro foi para adultos, em 1976 - Recado do Nome. Em 1977, veio o primeiro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, saído quase ao mesmo tempo que os três volumes das "Histórias de Recreio", reunindo alguns dos contos publicados na revista, sob os títulos Camilão, o Comilão, Severino Faz Chover e Currupaco Papaco. Hoje, novamente desmembrados nas doze histórias originais que constituem doze livros, eles estão sendo publicados pela Editora Salamandra, na Coleção Batutinha.

12. Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas para vários países. Como ficam os valores e referências mais regionais, explorados por você nos textos, no caso dessas traduções?

Não sei bem. Toda tradução sempre perde muita coisa, por melhor que seja. Mas quando é boa, pode ganhar outras, por ser uma recriação. Alguns dos autores que mais me fascinaram na vida (de Cervantes a Garcia Marques, de Shakespeare a Camus) tinham valores regionais muito fortes, mas nem por isso deixaram de ser universais.

13. Dos livros que você escreveu, qual você gosta mais?

Taí uma coisa que não existe. Acho que livro é que nem filho, a gente gosta de todos igualmente com muita intensidade, mesmo sabendo que cada um tem características diferentes do outro.

14. Tem algum que você gosta menos, ou não gosta?

Já teve muitos, mas eu não publiquei. Para isso existe lata de lixo.

15. Qual o livro mais difícil que você já escreveu? E o mais fácil?

Na verdade não dá para responder objetivamente a essas duas perguntas. Depois que passa o momento de escrever o que fica é só a memória desse momento, que pode não corresponder a verdade. Eu lembro que um dos mais difíceis, entre os infantis, foi "Um Avião e uma Viola", que só tem uma linha por página. Os primeiros da série Mico Maneco também foram muito difíceis, por trabalharem com um repertório de sílabas muito limitado. Entre os de adulto, dois foram especialmente difíceis: "Tropical Sol da Liberdade", por ter me lançado numa profundidade de dor para a qual eu não estava preparada, e "E o Mar nunca Transborda", pelo intenso trabalho de pesquisa e recriação de linguagem que ele exigiu. Fácil, nenhum é.

16. Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?

Quase todas. Mas sempre muito misturadas com outras que não aconteceram.

17. Qual a sua relação com a escritora Ruth Rocha?

Eu sou a mais velha de onze irmãos e acho que sempre quis ter uma irmã mais velha. Quando casei com o irmão da Ruth, compreendi que tinha ganho essa irmã tão desejada. Até hoje continuamos muito amigas e o fato de termos posteriormente começado a escrever na mesma revista só nos aproximou.

18. Como é a sua relação com seus pequenos ou grandes leitores?

Eu costumo dizer que o maior prêmio de um escritor é um bom leitor. Um leitor que entende, qualquer que seja a sua idade, é um presente. E quando ele entende, não confunde a relação com o livro e a relação com uma pessoa. Para mim, o importante é que meu leitor se aproxime do que eu escrevo, e não de mim. Muitas vezes a pessoa física do escritor pode atrapalhar o contato com a obra. Uma coisa que me preocupa muito nessa esfera é não ser injusta, não privilegiar um leitor em detrimento de outro. Se eu começar a conversar muito com um, como vou fazer para conversar igualmente com todos os outros? Só através do livro, que é justo e democrático. Mas adoro quando o leitor se manifesta.

19. Que tipo de livro você mais gosta de ler?

Qualquer livro bem escrito. Devoro romances e ensaios, leio e releio poesias.

20. Como você escolhe o título dos seus livros?

Quase sempre o título é a última coisa. Com muita freqüência o livro fica pronto e eu não sei como ele vai se chamar. Muitas vezes depois do título escolhido eu percebo que de alguma forma esse título já estava escondido dentro do livro, de tantas referências que havia pelo meio do texto. Mas não é uma coisa que eu tenha facilidade em decidir. Vivo me dizendo que um dia eu vou fazer um livro que tenha como título uma palavra só, mas nunca consegui.

Fonte:
http://www.anamariamachado.com/

sábado, 5 de setembro de 2009

Vidal Idony Stockler (Trovas Avulsas)


Na bateia das poesias
lindas pedras coloridas,
vislumbram em alegrias
e enfeitam as nossas vidas.

Saudade, novo pensar,
um pensar do que passou,
querendo até resgatar
a beleza que ficou!

Eu rememoro a saudade
de minha mãe, as carícias:
serena necessidade
de seu carinho e delícias...

Lembro da mãe a ternura,
inda criança em seus braços;
hoje vivo a desventura,
sem calorosos abraços.

Mãe! A doçura querida,
serena amabilidade,
legou-nos a própria vida
a paz e a felicidade!

Lenço branco desdobrado,
acenando com amor,
em adeus lacrimejado
como os orvalhos da flor!

Numa riqueza sem fim,
nasce a força da bondade,
como as flores do jardim
na sua simplicidade!

Lembranças, ricas lembranças,
volta e meia vêem a mim
dos bons tempos de crianças,
saudade...que não tem fim !
---------
Fontes:
União Brasileira de Trovadores - Balneário Camboriú - SC. Revista Trovamar - Ano 4 - Nº 45 - Setembro - 2008
http://www.clevanepessoa.net/
TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs.). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.
http://ubttremembe.blogspot.com/2007/06/5-concurso-de-trovas-pela-internet.html
http://www.caestamosnos.org/rev_trovamar/Nov_2006.htm