sábado, 15 de dezembro de 2012

Concursos Literários Estância da Poesia Crioula (Resultados)


A Estância da Poesia Crioula tem a honra de apresentar o resultado final dos Concursos Literários do 2º Semestre de 2012, que contou com a participação de poetas de vários municípios gaúchos e estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Santa Catarina, Pará, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Piauí, além dos países Argentina, Portugal, Japão, Chile e Estados Unidos. 
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3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA 

EXALTANDO O RIO GRANDE – 2012

1º Lugar
Progresso dos tempos
Autor: Darci Éverton Dárgen
Porto Alegre - RS

2º Lugar
O jogador de bocha
Autor: Ialmar Pio Schneider
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Levando a vida
Autor: Marco Aurélio Vasconcellos
Porto Alegre - RS

4º Lugar
Laus Sus Cris
Autor: Mário Amaral
Eldorado do Sul - RS

5º Lugar
Ferreiro de campanha
Autor: Jorge Moreira
Encantado – RS

3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA RIO GRANDE LÍRICO – 2012

1º Lugar
Mate de espera
Autor: Mário Amaral
Eldorado do Sul

2º Lugar
Embromas de calaveira
Autor: Juarez Cesar Fontana Miranda
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Saudade 
Autor: Maria Arita Madruga Garcia
Pelotas - RS

4º Lugar
Campesino 
Autor: Cesar José Tomazzini Liscano
Viamão - RS

5º Lugar
Querência
Autor: Mauricio da Rosa Ávila
Porto Alegre - RS

3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA OLIVEIRA SILVEIRA – 2012

1º Lugar
De além mar
Autor: Cesar José Tomazzini Liscano
Viamão - RS

2º Lugar
Flores lindas
Autor: Dilmar Paixão
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Toada do alforriado
Autor: Mauricio da Rosa Ávila
Porto Alegre - RS

4º Lugar
Presságios 
Autor: Maria de Lurdes Machado
Santa Maria - RS

5º Lugar
Alma de negro
Autor: Edson Marcelo Spode
Panambi - RS

3º CONCURSO NACIONAL DE SONETOS NILZA CASTRO – 2012

1º Lugar
Contra senso
Autor: Humberto Rodrigues Neto 
Pirituba - SP

2º Lugar
Meu velho Rio Tietê
Autor: Lúcio Rodrigues Junior
Tietê - SP

3º Lugar
La magia Del jardín
Autor: Carlos Eduardo Rodriguez Sánchez
Fort Collins, Colorado, USA

4º Lugar
Persuasão muda
Autor: Paulo Rômulo Aquino de Souza
Iguatu - CE

5º Lugar
O que é um adeus
Autor: Samuel Freitas de Oliveira
Avaré - SP

Fonte:
Ialmar Pio Schneider

XXIII Concurso Nacional de Poesia da ALAP (Resultado Final)


PREMIADOS: 

TROFÉU: 
“Anoitecendo”, 
de Anna Maria Avelino Ayres (Poços de Caldas/MG). 

OURO: 

“Impoetante”, 
de Roque Aloísio Weschenfelder (Santa Rosa/RS). 

PRATA: 

“Vazio” e “Ser Poeta”, 
de Vilma Maria de Jesus Mendes e 

“Soneto decassílabo de Porto Seguro”, 
de Paulo Caruso. 

BRONZE: 

“Sonho de Paz”, 
de Sonia Maria Sobreira da Silva; 

“Chove”, 
de Lucia Perissé; 

“O vestido”, 
de Reginaldo Costa de Albuquerque; 

“Ultimo tango”, 
de Terezinha Ofélia Nascimento Rennó; 

“Carta para Chico Buarque”, 
de Flavio Machado e 

“Meus amigos – o melhor...”
de Alberto José de Araújo. 

MENÇÃO ESPECIAL: 

“Desejo de Paz”, 
de Ruth Farah Nacif Luterback; 

“Amor Cigano”, 
de Josafá Sobreira da Silva; 

“Tudo passa”, 
de Fátima Parente; 

“Máscaras”, 
de Luiz Gondim e 

“Encanto da vida”, 
de Abílio Kac. 

MENÇÃO HONROSA: 

“Poeta do povo”, 
de António dos Santos Boavida Pinheiro (Lagos/Portugal) e 

“Adeus”, 
de Edileuza Bezerra de Lima Longo (Perdizes/SP). 

JUVENIL: 

OURO: 

“Cantos e encantos de um maranhense”, 
de Mayara da Silva Jorge; 

“Na terra dos Homens”, 
de Amanda Cristina; 

“O verde do meu viver”, 
de Jaqueline Maria Ribeiro; 

“A noite é silenciosa”, 
de Douglas Campos Cunha; 

“ Sonho ou realidade”, 
de Ivan de Souza Esteves. 

PRATA: 

“Sem rumo”, 
de Amanda Alves Macedo. 

BRONZE: 

“Levaram a minha vida”, 
de Geovane Alves dos Reis; 

“Minha ex-vida”, 
de Maiara Gonçalves de Oliveira; 

“Embora”, 
de Tatiane Paulo de Oliveira; 

“O tudo e o nada”, 
de Isabela da Silva Nascimento; 

“O dia cinza”, 
de Pamela Portilho de Sousa e 

“Um tempo”, 
de Camila Branco de Souza. 

MENÇÃO ESPECIAL: 

“Meu...”, 
de Thaynara Lima Fita; 

“Sinto(muito)”, 
de Diana Paim de Oliveira e 

“Caminho Novo”, 
de Jéssica Ribeiro dos Reis. 

MENÇÃO HONROSA: 

“Eu sou”, 
de Suelen Cristina; 

“Solidão e amor”, 
de Lauany Rodrigues Ribeiro da Silva e 

“Agonia”, 
de Andriele Vieira Ferreira. 

INFANTIL: 

OURO: 

“Somente achados”, 
de Fernanda Kac Szmajser. 

PRATA: 

“Escadaria de poema”, 
de Olavo José Chicareli Almeida

BRONZE: 

“A morte de um amigo”, 
de Jean Benevides Hiath e 

“Meu Pai”, 
de Thais Quintieri Correa. 

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

1° Concurso de Contos de Ituiutaba “Águas do Tijuco” (Resultado Final)


1º lugar 
A Palavra 
Pseudônimo: Jaguar 
Santiago Vilella Marques 
Sinop - MT 

Outros selecionados: 

A Caruta 
Pseudônimo: João Mattos 
José Carlos Mendes Brandão 
Baurú – SP 

Baleia Assassina 
Pseudônimo: Houlden Caulfield 
Caio Henrique Solla 
O escritor não forneceu endereço 

Buraco Negro 
Psedônimo: Julian James 
Lídio José Franco 
Umuarama - PR 

No leito do frade 
Pseudônimo: Mário Rúpulo 
Sebastião Aparecido Ferreira 
Piracicaba – SP 

Olhos azuis e aroma de sabonete 
Pseudônimo: Tecenos 
Zulamr José Lopes de Vasconcelos 
Rio de Janeiro - RJ 

Sobre o sangue 
Tanussi Cardoso 
Não forneceu endereço 

Viagra na gaveta 
Pseudônimo: Isadora 
Maria da Glória de Menezes Vasconcelos Horta 
Rio de Janeiro - RJ 

Zé Berdegó, vosso criado 
Pseudônimo: Bonifácio 
José Inácio Coelho Mendes Neto 
São Paulo – SP 

2D 
Pseudônimo: João Pedro 
Nana Rodrigues 
Curitiba- PR 

Fontes:
http://fundacaoituiutaba.com.br/?p=435 
http://concursos-literarios.blogspot.com 

Editora Oficina Raquel (Lançamento de "Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos")


Clarice Lispector ganha homenagem da editora Oficina Raquel, que lança o livro "Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos", de grandes autores, no dia 19 (quarta-feira), no Rio de Janeiro, e dia 20 (quinta-feira), em São Paulo

Para homenagear Clarice Lispector em seu trigésimo quinto aniversário de morte, a Oficina Raquel reúne um elenco de doze destacados escritores e lança *Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos*.Cada autor escolheu um personagem clariciano e o reescreveu, acrescendo novos sentidos ao pleno sentido da obra de Clarice.

Entre os autores, seis mulheres, entre as quais Conceição Evaristo, e seis homens - Silviano Santiago, por exemplo; sete brasileiros, como Evando Nascimento, e cinco estrangeiros, inclusive Maria Teresa Horta. A organização é de Mayara R. Guimarães e Luis Maffei.

Este é o começo da coleção Extratextos, que homenageará grandes nomes da literatura brasileira e universal.

LANÇAMENTO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

 Rio de Janeiro: dia 19/12, quarta-feira, das 18:30 às 22:30

Ateliê Cortiço, Rua Buenos Aires, 282, Centro

- Presença de autores
- Leitura de textos do livro e de Clarice com a atriz Juliana Xavier
- Música ao vivo com o saxofonista Daniel Santos

São Paulo: dia 20/12, quinta-feira, das 18:30 às 22:00

Centro Cultural b_arco, Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426, Vila Madalena

- Presença de autores
- Leitura de textos do livro e de Clarice com os atores Júlia Perucci e Osvaldo Romano
- Música ao vivo 

Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos

Autores: Conceição Evaristo, Evando Nascimento, Godofredo de Oliveira Neto, Hélia Correia, Joseli Ceschim, Luis Maffei, Maria Teresa Horta, Mayara R. Guimarães, Pedro Eiras, Vera Duarte e Vera Giaconi, Silviano Santiago.

Organizado por Luis Maffei e Mayara R. Guimarães

Editora: Oficina Raquel

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 756)



Uma Trova de Ademar  

Em inspirações, imerso, 
fiz do sol o próprio guia 
para conduzir meu verso 
nos caminhos da poesia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Guardo a sua despedida 
naqueles olhos tristonhos, 
lembranças de amor e vida 
redesenhando os meus sonhos. 
–Rejane Costa/CE– 

Uma Trova Potiguar  

Se nascemos sem pedir, 
e morremos sem querer; 
só nos resta, usufruir, 
desse intervalo e viver... 
–Bob Motta/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Campo de Goytacazes/RJ 
Tema   -   BRILHO   -   2º Lugar 

Quando a mãe beija seu filho 
- tesouro herdado de Deus! - 
quanto fulgor! Quanto brilho 
se espelha nos olhos seus! 
–Diamantino Ferreira/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Como a gaivota perdida, 
que o vento arrasta nos braços, 
perdi o rumo da vida, 
quando seguia teus passos.
–Hegel Pontes/MG– 

U m a P o e s i a  

Fez o homem, lhe deu sabedoria, 
fez das Tábuas da Lei Sua doutrina. 
Ele manda, não pede, determina, 
mas nos deixa à vontade. Quem diria? 
Fez o lindo Universo em poucos dias, 
mas os homens só querem ser os tais 
e deixar de pecar? Isso, jamais! 
Já mandou o Seu Filho para a cruz, 
nos abriu uma estrada só de luz 
e o que é que Ele falta fazer mais? 
–Gilson Faustino Maia/RJ– 

Soneto do Dia  

CONTRASTE
–Henrique do Cerro Azul/CE– 

Longe de ti, eu te imagino perto:
Vejo esse teu sorriso a todo instante;
Qual se te visse, o coração amante
É um doce ninho ao teu amor aberto.

Perto de ti, te julgo tão distante...
Nem mesmo vejo o teu sorriso incerto;
Com saudade de ti o peito aperto
Relembrando o fulgor do teu semblante.

Também tu és como eu:- os teus sentidos
Se enganam, como os meus, pelos caminhos...
E assim passamos desapercebidos

Do erro de nossos múltiplos carinhos:
- Quanto mais longe tanto mais unidos,
- Quanto mais juntos tanto mais sozinhos !

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 1


Abgar de Castro Araújo Renault
(Barbacena MG, 15 de abril de 1901 – Rio de Janeiro RJ, 31 de dezembro 1995)

    " ENCANTAMENTO "

Ante o deslumbramento do teu vulto,
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em luar a treva em que me oculto.

Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.

E' tua vida minha própria vida
e trago em mim tua alma adormecida . . .
mas, num mistério surdo que me assombra,

tu és, as minhas mãos, vaga, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...
==================

Abílio Chrisóstomo de Carvalho                 
(Vitória, Espirito Santo. 22 de fevereiro de 1916 – Rio de Janeiro/RJ, 8 de outubro de 1977)

" TUAS MÃOS "

Mãos frágeis, mãos divinas, mãos pequenas,
leves, espirituais e perfumadas,
cujas unhas são pérolas morenas
nos escrínios dos dedos engastadas.

Mãos que são duas silabas amenas
no poema dos teus braços enfeixadas;
que, estando acima das visões terrenas,
jamais serão por outras igualadas.

Mãos que ostentam, nas formas delicadas
todo o encanto das noites enluaradas
na linda terra que te viu nascer...

E para eu ser feliz basta somente
beijar teus dedos demoradamente
e sob o afago dessas mãos morrer!
==================

Adaucto Gondim
(Pedra Branca, CE. 17 de janeiro de 1913 - Fortaleza, CE, 12 de setembro de 1980)

 " INGENUIDADE "

Faz, hoje, vários dias que o correio
não traz noticias dela para mim.
Alice me esqueceu, por isso, eu creio
que o nosso amor vai terminar, enfim.

Suas cartas antigas eu releio.
O amor de uma mulher é sempre assim:
falsas promessas, juras de permeio,
e a gente espera até que chegue o fim.

O coração de Alice, eu já sabia
que, empedernido, é como a lousa fria:
não sente e nem palpita de emoção...

O culpado fui eu, fui eu somente,
que sabendo de tudo, ingenuamente,
amei uma mulher sem coração!
==================

Adelino Fontoura  Chaves
(Axixá, Maranhão, 30 de março de 1859 - Lisboa, Portugal, 2 de maio de 1884.

" ATRAÇÃO E REPULSÃO "

- Eu nada mais sonhava nem queria
que de ti não viesse ou não falasse;
e como a ti te amei, que alguém me amasse
coisa incrível até me parecia.

Uma estrela mais lúcida eu não via
que nesta vida os passos me guiasse,
e tinha fé, cuidando que encontrasse
após tanta amargura, uma alegria.

Mas tão cedo extinguiste este risonho,
este encantado, deleitoso engano,
que o bem que achar supus já não suponho.

Vejo enfim, que és um peito desumano;
se fui, té junto a ti de sonho em sonho,
voltei de desengano em desengano.

" CELESTE "

É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo da inocência
nessa criança imaculada e bela.

Peregrina do céu, pálida estrela
exilada da etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura,
e a luminosa aureola sacrossanta
duma visão do céu, cândida e pura.

E quando os olhos para o céu levanta
inundados da mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou" - 1a ed. 1963

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 755)



Uma Trova de Ademar  

É terapeuta da mente,
mestre maior do saber...
O Livro é o melhor presente
que alguém pode receber.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Nesta existência sofrida, 
triste certeza me invade: 
o sonho ardendo na vida, 
e a vida a arder na saudade. 
–Giselda Medeiros/CE– 

Uma Trova Potiguar  

As gaiolas da maldade 
são projetos anti-ninhos, 
retirando a liberdade 
das asas dos passarinhos. 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2004   -  Petrópolis/RJ 
Tema   -  FORTUNA   -  3º Lugar. 

Não há fortuna que valha 
a glória de Trovador
e Deus bem sabe a quem talha
para esculpir-lhe o valor! 
–José Antonio de Freitas/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Somei doçuras às tuas, 
foi tanto amor à granel, 
que pude ver muitas luas 
na minha lua de mel. 
–Analice Feitoza de Lima/SP– 

U m a P o e s i a  

Pus um fim! Pois amar não vale a pena...!
Mesmo sendo a paixão forma sublime,
Desisti de ser santo sem novena...
Eu cansei de ser réu sem ter um crime.
O langor..., a pureza..., meu capricho...,
Tudo foi! Tudo está lançado ao lixo!
Queimei tudo em meu peito injustiçado;
Eu confesso que para seu conforto,
Nosso caso de amor que estava morto,
Para o seu bel prazer foi enterrado! 
–Manoel Cavalcante/RN– 

Soneto do Dia  

COMPADECIDO... 
–Oscar Macedo/RN– 

Não tendo a quem contar as minhas dores, 
ao velho mar me dirigi um dia. 
Para aumentar porém meus dissabores, 
reconheci que ele também sofria. 

Confidente dos homens sofredores, 
cobriu-se, ao ver-me, de uma espuma fria 
e num gesto de quem confidencia 
pôs-se a escutar tranquilo os meus clamores. 

Contei-lhe tudo, confessei as mágoas, 
mais profundas, talvez, que suas águas, 
mostrei-lhe enfim meu coração dorido. 

E o mar que até então ficara mudo, 
ouvindo a triste narração de tudo, 
pôs-se a chorar de mim compadecido.

Ricardo Azevedo (Versão de Conto Popular: O Caso do Espelho)


Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. 

Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:

— Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?

— Isso é um espelho — explicou o dono da loja.

—Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai. 

Os olhos do homem ficaram molhados.

— O senhor... conheceu meu pai? — perguntou ele ao comerciante. 

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.

— É não! — respondeu o outro. — Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito? 

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho. 

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. 

A mulher ficou só olhando. 

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.

— Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. — É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

— Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

— Que foi isso, mulher?

— Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?

— Que retrato? — perguntou o marido, surpreso.

— Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!

O homem não estava entendendo nada.

— Mas aquilo é o retrato do meu pai!

Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:

— Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa? 

A discussão fervia feito água na chaleira. 

— Velho lazarento coisa nenhuma! — gritou o homem, ofendido.

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa. 

— Que é isso, menina?

— Aquele cafajeste arranjou outra!

— Ela ficou maluca — berrou o homem, de cara amarrada.

— Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.

Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

— Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!

E completou, feliz, abraçando a filha:
— Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova! 

Fonte:
Revista Nova Escola

Machado de Assis (O Passado, o Presente e o Futuro da Literatura)


A LITERATURA e a política, estas duas faces bem distintas da sociedade civilizada, cingiram como uma dupla púrpura de glória e de martírio os vultos luminosos da nossa história de ontem. A política elevando as cabeças eminentes da literatura, e a poesia santificando com suas inspirações atrevidas as vítimas das agitações revolucionárias, e a manifestação eloquente de uma raça heróica que lutava contra a indiferença da época, sob o peso das medidas despóticas de um governo absoluto e bárbaro. O ostracismo e o cadafalso não os intimidavam, a eles, verdadeiros apóstolos do pensamento e da liberdade; a eles, novos Cristos da regeneração de um povo, cuja missão era a união do desinteresse, do patriotismo e das virtudes humanitárias.

Era uma empresa difícil a que eles tinham então em vista. A sociedade contemporânea era bem mesquinha para bradar—avante! —aqueles missionários da inteligência e sustentá-los nas suas mais santas aspirações. Parece que o terror de uma época colonial inoculava nas fibras íntimas do povo o desânimo e a indiferença.

A poesia de então tinha um caráter essencialmente europeu. Gonzaga, um dos mais líricos poetas da língua portuguesa, pintava cenas da Arcádia, na frase de Garrett, em vez de dar uma cor local às suas liras, em vez de dar-lhes um cunho puramente nacional. Daqui uma grande perda: a literatura escravizava-se, em vez de criar um estilo seu, de modo a poder mais tarde influir no equilíbrio literário da América. Todos os mais eram assim: as aberrações eram raras. Era evidente que a influência poderosa da literatura portuguesa sobre a nossa, só podia ser prejudicada e sacudida por uma revolução intelectual.

Para contrabalançar, porém, esse fato cujos resultados podiam ser funestos, como uma valiosa exceção apareceu o Uraguai de Basílo da Gama. Sem trilhar a senda seguida pelos outros, Gama escreveu um poema, se não puramente nacional, ao menos nada europeu. Não era nacional, porque era indígena, e a poesia indígena, bárbara, a poesia do boré e do tupã, não é a poesia nacional. O que temos nós com essa raça, com esses primitivos habitadores do país, se os seus costumes não são a face característica da nossa sociedade?

Basílio da Gama era entretanto um verdadeiro talento, inspirado pelas ardências vaporosas do céu tropical. A sua poesia suave, natural, tocante por vezes, elevada, mas elevada sem ser bombástica, agrada e impressiona o espírito. Foi pena que em vez de escrever um poema de tão acanhadas proporções, não empregasse o seu talento em um trabalho de mais larga esfera. Os grandes poemas são tão raros entre nós!

As odes de José Bonifácio são magníficas. As belezas da forma, a concisão e a força da frase, a elevação do estilo, tudo encanta e arrebata. Algumas delas são superiores às de Filinto. José Bonifácio foi a reunião dos dois grandes princípios pelos quais sacrificava-se aquela geração: a literatura e a política. Seria mais poeta se fosse menos político; mas não seria talvez tão conhecido das classes inferiores. Perguntai ao trabalhador que cava a terra com a enxada, quem era José Bonifácio; ele vos falará dele com o entusiasmo de um coração patriota. A ode não chega ao tugúrio do lavrador. A razão é clara: faltam-lhe os conhecimentos, a educação necessária para compreendê-la.

Os Andradas foram a trindade simbólica da inteligência, do patriotismo, e da liberdade. A natureza não produz muitos homens como aqueles. Interessados vivamente pela regeneração da pátria, plantaram a dinastia bragantina no trono imperial, convíctos de que o herói do Ipiranga convinha mais que ninguém a um povo altamente liberal e assim legaram à geração atual as douradas tradições de uma geração fecunda de prodígios, e animada por uma santa inspiração.

Sousa Caldas, S. Carlos e outros muitos foram também astros luminosos daquele firmamento literário. A poesia é a forma mais conveniente e perfeitamente acomodada às expansões espontâneas de um país novo, cuja natureza só conhece uma estação, a primavera, teve naqueles homens, verdadeiros missionários que honraram a pátria e provam as nossas riquezas intelectuais ao crítico mais investigador e exigente.

Uma revolução literária e política fazia-se necessária. O país não podia continuar a viver debaixo daquela dupla escravidão que o podia aniquilar. A aurora de 7 de Setembro de 1882, foi a aurora de uma nova era. O grito do Ipiranga foi o - Eureca- soltado pelos lábios daqueles que verdadeiramente se interessam pela sorte do Brasil cuja felicidade e bem-estar procuravam.

O país emancipou-se. A Europa contemplou de longe esta regeneração política, esta transição súbita da servidão para a liberdade, operada pela vontade de um príncipe e de meia dúzia de homens eminentemente patriotas. Foi uma honrosa conquista que nos deve encher de glória e de orgulho; e é mais que tudo uma eloqüente resposta às interrogações pedantescas de meia dúzia de céticos da época: o que somos nós?

Havia, digamos de passagem, no procedimento do fundador do império um sacrifício heróico, admirável e pasmoso. Dois tronos se erguiam diante dele: um, cheio de tradições e de glórias; o outro, apenas saído das mãos do povo, não tinha passado, e fortificava-se só com uma esperança no futuro! Escolher o primeiro era um duplo dever, como patriota e como príncipe. Aquela cabeça inteligente devia dar o seu quinhão de glória ao trono de D.Manuel e D. João II. Pois bem! ele escolheu o segundo, com o qual nada ganhava, e ao qual ia dar muito. Há poucos sacrifícios como este.

Mas após o fiat político, devia vir o fiat literário, a emancipação do mundo intelectual, vacilante sob a ação influente de uma literatura ultramarina. Mas como? É mais fácil regenerar uma nação, que uma literatura. Para esta não há gritos de Ipiranga; as modificações operam-se vagarosamente; e não se chega em um só momento a um resultado. Além disso, as erupções revolucionárias agitavam as entranhas do país; o facho das dimensões civis ardia em corações inflamados pelas paixões políticas. O povo tinha-se fracionado e ia derramando pelas próprias veias a força e a vida. Cumpria fazer cessar essas lutas fratricidas para dar lugar as lutas da inteligência, onde a emulação é o primeiro elemento e cujo resultado imediato são os louros, fecundos da glória e os aplausos entusiásticos de uma posteridade agradecida.

A sociedade atual não é decerto compassiva, não acolhe o talento como deve fazê-lo. Compreendam-nos! nós não somos inimigo encarniçado do progresso material. Chateaubriand o disse: " quando se aperfeiçoar o vapor, quando unido ao telegrafo tiver feito desaparecer as distâncias, não hão de ser só as mercadorias que hão de viajar de um lado a outro do globo, com a rapidez do relâmpago; hão de ser também as idéias". Este pensamento daquele restaurador do cristianismo-é justamente o nosso-; nem é o desenvolvimento material que acusamos e atacamos. O que nós queremos, o que querem todas as vocações, todos os talentos da atualidade literária, é que a sociedade não se lance exclusivamente na realização desse progresso material, magnífico pretexto de especulação, para certos espíritos positivos que se alentam no fluxo e refluxo das operações monetárias. O predomínio exclusivo dessa realeza parva, legitimidade fundada numa letra de câmbio, é fatal, bem fatal às inteligências; o talento pode e tem também direito aos olhares piedosos da sociedade moderna: negar-lhos é matar-lhe todas as aspirações, é nulificar-lhe todos os esforços aplicados na realização das idéias mais generosas, dos princípios mais salutares, e dos germes mais fecundos do progresso e da civilização.

É sem dúvida, por este doloroso indiferentismo que a geração atual tem de encontrar numerosas dificuldades na peregrinação; contrariedades que, sem abater de todo as tendências literárias, toda via podem fatigá-las reduzindo-as a um marasmo apático, sintoma doloroso de uma decadência prematura.

No estado atual das coisas, a literatura não pode ser perfeitamente um culto, um dogma intelectual, e o literato não pode aspirar a uma existência independente, mas sim tornar-se um homem social, participando dos movimentos da sociedade em que vive e de que depende. Esta verdade, exceto no jornalismo, verifica-se em qualquer outra forma literária. Ora, será possível que assim tenhamos uma literatura convenientemente desenvolvida?

Respondemos pela negativa.

Tratemos das três formas literárias essenciais: -o romance, o drama e a poesia.

Ninguém que for imparcial afirmará a existência das duas primeiras entre nós; pelo menos, a existência animada, a existência que vive, a existência que se desenvolve fecunda e progressiva. Raros, bem raros, se tem dado ao estudo de uma forma tão importante como o romance; apesar mesmo da convivência perniciosa com os romances franceses, que discute, aplaude e endeusa a nossa mocidade, tão pouco escrupulosa de ferir as susceptibilidades nacionais.

Podíamos aqui assinalar os nomes desses poucos que se têm entregado a um estudo tão importante, mas isso não entra na ordem deste trabalho, pequeno exame genérico das nossas letras. Em um trabalho de mais largas dimensões que vamos empreender analisaremos minuciosamente esses vultos de muita importância decerto para a nossa recente literatura.

Passando ao drama, ao teatro, é palpável que a esse somos o povo mais parvo e pobretão entre as nações cultas. Dizer que temos teatro, é negar um fato; dizer que não o temos, é publicar uma vergonha. E todavia assim é.  Não somos severos: os fatos falam bem alto. O nosso teatro é um mito, uma quimera. E nem se diga que queremos que em tão verdes anos nos ergamos a altura da França, a capital da civilização moderna; não! Basta que nos modelemos por aquela renascente literatura que floresce em Portugal, inda ontem estremecendo ao impulso das erupções revolucionárias.

Para que estas traduções enervando a nossa cena dramática? Para que esta inundação de peças francesas, sem o mérito da localidade e cheias de equívocos, sensaborões as vezes, e galicismos, a fazer recuar o mais denodado francelho?

É evidente que é isto a cabeça de Medusa, que enche de terror as tendências indecisas, e mesmo as resolutas. Mais de uma tentativa terá decerto abortado em face desta verdade pungente, deste fato doloroso.

Mas a quem atribuí-lo? Ao povo? O triunfo que obtiveram as comédias do Pena, e do Sr. Macedo, prova o contrário. O povo não é avaro em aplaudir e animar as vocações; saber agradá-lo, é o essencial.

É fora de dúvida, pois, que a não existir no povo a causa desse mal. não pode existir senão nas direções e empresas. Digam o que quiserem, as direções influem
neste caso. As tentativas dramáticas naufragam diante deste czariato de bastidores, imoral e vergonhoso, pois que tende a obstruir os progressos da arte. A tradução é o elemento dominante, nesse caos que devia ser a arca santa onde a arte pelos lábios dos seus oráculos falasse as turbas entusiasmadas delirantes. Transplantar uma composição dramática francesa para a nossa língua, é tarefa de que se incumbe qualquer bípede que entende letra redonda. O que provém daí? O que se está vendo. A arte tornou-se uma indústria; e à parte meia dúzia de tentativas bem sucedidas sem dúvida, o nosso teatro é uma fábula, uma utopia.

Haverá remédio para a situação? Cremos que sim. Uma reforma dramática não é difícil neste caso. Há um meio fácil e engenhoso; recorra-se às operações políticas. A questão é de pura diplomacia; e um golpe de estado literário não é mais difícil que uma parcela de orçamento. 

Em termos claros, um tratado sobre direitos de representação reservados, com o apêndice de um imposto sobre traduções dramáticas, vem muito a pêlo, e convém
perfeitamente as necessidades da situação.

Removido este obstáculo, o teatro nacional será uma realidade? Respondemos afirmativamente. A sociedade, Deus louvado! é uma mina a explorar, e um mundo
caprichoso, onde o talento pode descobrir, copiar, analisar, uma aluvião de tipos e caracteres de todas as categorias. Estudem-na: eis o que aconselhamos as vocações da época!

A escola moderna presta-se precisamente ao gosto da atualidade As Mulheres de Mármore—O Mundo Equívoco—A Dama das Camélias — agradaram, apesar de traduções. As tentativas do sr. Alencar tiveram um lisonjeiro sucesso.

Que mais querem? A transformação literária e social foi exatamente compreendida pelo povo; e as antigas idéias, os cultos inveterados, vão caindo a proporção que a reforma se realiza. Qual é o homem de gosto que atura no século XIX uma punhalada insulsa tragicamente administrada, ou trocadilhos sensaborões da antiga farsa?

Não divaguemos mais; a questão está toda neste ponto. Removidos os obstáculos que impedem a criação do teatro nacional, as vocações dramáticas devem estudar a escola moderna. Se uma parte do povo está ainda aferrada às antigas idéias, cumpre ao talento educá-la, chamá-la à esfera das idéias novas, das reformas, dos princípios dominantes. É assim que o teatro nascerá e viverá; é assim que se há de construir um edifício de proporções tão colossais e de futuro tão grandioso.

Fonte:
Machado de Assis. Críticas Literárias. Pará de  Minas/ MG: Virtualbooks, 2003.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 754)



Uma Trova de Ademar  

Ninguém disfarça o carisma...
Quem o tem, sempre o conduz,
sem saber que tem um prisma
refletindo a sua luz.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Minha infância - que linguagem! 
Se no céu relampejava 
eu sentia, nessa imagem, 
que Deus me fotografava! 
–Roza de Oliveira/PR– 

Uma Trova Potiguar  

As folhas secas de outono 
seguindo, sem direção, 
são sonhos que vão, sem dono, 
à espera de outra estação. 
–Mara Melinni/RN– 

Uma Trova Premiada  

2009   -  ATRN-Natal/RN 
Tema   -  FAMÍLIA   -  3º Lugar. 

A violência e outras formas 
de opressão, mesmo discretas, 
não conseguem ditar normas 
aos corações dos poetas! 
–Rodolpho Abbud/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

No poente, o sol bem louro, 
se reveste de magia 
de ser uma chave de ouro 
fechando o cofre do dia! 
–Eugênia Maria Rodrigues/MG– 

Uma  Poesia  

Um forró de chão batido 
numa noite enluarada 
embaixo de uma latada 
dança mulher com marido; 
um café quente e fervido 
lá na beira do fogão, 
lamparina e lampião 
e a barra do sol nascendo; 
isso é mesmo que está vendo 
Paisagens do meu Sertão...! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

A TRISTEZA, EU E MAIS NINGUÉM. 
–Miguel Russowsky/SC– 

Silenciosa a Tristeza me aparece 
e toma assento ao lado, no sofá, 
pega a xícara e vai servindo o chá, 
como se nada estranho aqui houvesse. 

Sou cordato e um diálogo acontece 
e como em todo absurdo bla-bla-blá, 
não escolhemos rumos que se vá, 
nem temos um senão que nos apresse. 

Tristeza...?! me dá pena!...Pobrezinha! 
Eu me comovo em vê-la a rir, sozinha, 
dos percalços hostis que a vida tem. 

Tem sido assim e muitas vezes digo: 
-Pois bem, Tristeza, janta aqui comigo! 
Seremos dois à mesa e mais ninguém.

Soares de Passos (O Noivado do Sepulcro)


BALADA

Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

«Mulher formosa, que adorei na vida,
«E que na tumba não cessei d'amar,
«Por que atraiçoas, desleal, mentida,
«O amor eterno que te ouvi jurar?

«Amor! engano que na campa finda,
«Que a morte despe da ilusão falaz:
«Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
«Do pobre morto que na terra jaz?

«Abandonado neste chão repousa
«Há já três dias, e não vens aqui...
«Ai, quão pesada me tem sido a lousa
«Sobre este peito que bateu por ti!

«Ai, quão pesada me tem sido!» e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

«Talvez que rindo dos protestos nossos,
«Gozes com outro d'infernal prazer;
«E o olvido cobrirá meus ossos
«Na fria terra sem vingança ter!

– «Oh nunca, nunca!» de saudade infinda
Responde um eco suspirando além...
– «Oh nunca, nunca!» repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

«Não, não perdeste meu amor jurado:
«Vês este peito? reina a morte aqui...
«É já sem forças, ai de mim, gelado,
«Mas inda pulsa com amor por ti.

«Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
«Da sepultura, sucumbindo à dor:
«Deixei a vida... que importava o mundo,
«O mundo em trevas sem a luz do amor?

«Saudosa ao longe vês no céu a lua?
– «Oh vejo sim... recordação fatal!
– «Foi à luz dela que jurei ser tua
«Durante a vida, e na mansão final.

«Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
«Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
«Quero o repouso de teu frio leito,
«Quero-te unido para sempre a mim!»

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrada, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 15 de abril: O Tipo Larmoyeur


Nestor Roqueplan, o espirituoso escritor que tão exatamente descreveu o tipo do larmoyeur, esqueceu-se de classificar uma das espécies mais interessantes deste gênero de bípede implume: o larmoyeur jornalista.

É verdade que esta importante descoberta estava reservada para nossos dias. Conheciam-se diversas classes de larmoyeurs, como políticos, os parlamentares, os pretendentes, os conquistadores; mas o larmoyeur jornalista só apareceu pela primeira vez no sábado da aleluia, no dia de Judas.

Apareceu declarando que estava triste, muito triste, e queixando-se, e pedindo que o consolassem! Que pena! Que pena!...

Lastimava-se por causa do dia? Não creio; é mais natural que se ressentisse de alguma injustiça grave, que estivesse possuído de algum despeito violento.

Que pena! Consolai-o, leitores, porque do contrário ficareis privados do vosso divertimento das quintas, da graça e do espírito de tão belos artigos. Napoleão quer abdicar; César recusa o império; Talma retira-se do teatro! Oh! desgraça! 

Acho escusado dizer-vos a folha a que devemos essa tão curiosa invenção do larmoyeur, assim como o nome do seu abençoado autor.

Qual o jornal desta corte que se distingue pela brilhante iniciativa que tem tomado nos melhoramentos da imprensa?

O Jornal do Comércio.

O que é que exprimem as lágrimas com a sua eloqüência sublime, com a sua expressão irresistível? Tudo e nada.

Só vos peço, por bem de todos, que não deixeis de consolar o nosso larmoyeur, pelas razões que já vos disse. Escrevi algumas correspondências elogiando o seu estilo, o chiste dos seus artigos, e sobretudo que não vos esqueçam os lindos pós-escritos, dignos de rivalizar com as cenas de uma comédia espanhola!

É preciso também chamá-lo algumas vezes, a propósito, de sábio. De gênio, de portento. Gato ruivo do que usa, disso cuida, diz um provérbio nosso.

Demais, o homem é amigo de todo o mundo. Conselheiros de Estado, marqueses, viscondes, ministros, pertencem ao círculo dos íntimos. “Meu amigo Bellegarde, meu amigo Pedreira, meus amigos marqueses”, são frases que lhe v~em a todo o momento ao bico da pena.

E não cuidem que é por vangloriar-se; não, é simples força de amizade, é o poder da simpatia. O nosso escritor é o Pollux de todos os Castores, é o fidus Achates da humanidade ministerial.

Ora, um homem que se acha nesta posição, e que não é justamente apreciado, tem direito a ficar triste, a mostrar-se despeitado e a esmagar os outros com a sua ironia tranchante, chamando-os de sábios e de gênios; isto é: atirando-se em corpo e alma, em palavras e obras, sobre a cabeça daqueles que ainda o não reconheceram como tal!

E, a falar a verdade, o público tem sido injusto e o Jornal do Comércio ingrato. Já lá vão não sei quantos artigos, e nem sequer ainda fizeram sair a mais pequena publicação a pedido elogiando o luzeiro da imprensa, que tudo sabe e nada ignora, o amigo de todo o mundo.

Voltando, porém, ao meu autor, a aparição do Larmoyeur jornalista faz-me lembrar uma página sua que li há tempos, e que recomendo aos meus leitores.

Na opinião do espirituoso escritor, a arte de chorar a propósito é a primeira das artes, assim como as lágrimas são a única língua universal que existe na terra, e que provavelmente foi falada antes da Torre de Babel.

Quereis a prova?

Abri a boca e chorai... todo o mundo entenderá que tendes fome.

Chorai e bebei as lágrimas; e logo se conhecerá que estais morrendo de sede.

Levai a mão ao coração e chorai olhando uma mulher; e ela compreenderá que a amais.

Erguei ao céu os olhos rasos de prantos, juntai as mãos; e ninguém deixará de entender a prece muda de uma alma infeliz.

Voltai as algibeiras e deixai correr algumas lágrimas; e logo se verá que não tendes dinheiro nem crédito.

Uma lágrima isolada, que pende da pálpebra, e corre lentamente por um rosto pálido e triste, exprime uma dor silenciosa e concentrada; é como uma gota de fel que verte o coração.

Duas lágrimas límpidas que empanam às vezes o brilho dos olhos, e se desfilam docemente pelas faces, dizem uma saudade, uma suave recordação.

O pranto e os soluços são a expressão do desespero, assim como uns olhos rasos de lágrimas e um sorriso revelam o momento da suprema felicidade deste mundo.

E entretanto, apesar do poder irresistível desta linguagem universal, todo o mundo trata de rir, e ninguém sabe chorar. As lágrimas vão caindo em desuso; e apenas nas despedidas e nos enterros ainda se usa, bem que raras vezes, deste meio persuasivo.

O Sr. Ministro do Império na sua reforma da instrução pública esqueceu-se de criar uma aula especial desta arte, ou desta língua, como quiserem. Num tempo em que o ensino se multiplica, em que há escolas para tudo, é imperdoável que não exista uma escola onde se aprenda a chorar a propósito.

O choro, segundo o nosso autor, é um flux à deux robinets; é um jorro que inunda num instante, penetra pelos poros da vossa sensibilidade, e vos faz transbordas o coração.

É preciso, portanto, que cada homem tenha à sua disposição uma fonte lacrimal abundante, e sempre pronta a soltar o repuxo. É preciso também que saiba usar dela conforme as regras darte.

Assim, às vezes é mais conveniente uma dessas lágrimas silenciosas de que já vos falei; outras, é preferível uma chuvinha, uma garoa; e alguns casos haverá que seja necessário uma inundação, um verdadeiro dilúvio lacrimal, do qual nem o mesmo Noé escaparia.

Só os mestres podem ensinar esses segredos darte, e adestrar os seus discípulos nestes rasgos, neste tropos, nestas figuras da eloqüência lacrimal; por conseguinte: uma escola do choro é indispensável.

Aberta a aula, os primeiros que se matriculam são os namorados de ambos os sexos; em segundo lugar os pretendentes, os candidatos à eleição; depois os oradores, os ministros e os jornalistas que aspiram à popularidade.

Finalmente se formará uma sociedade importante, uma ordem notável, uma corporação distinta, cujos membros terão o título de – chevaliers de la larme à l’oeil.

Não esqueçam, porém, uma coisa, e é que não sou eu que digo essas coisas; se não lhes agradam, queixem-se de Nestor Roqueplan, que foi quem as inventou. Eu o que fiz, apenas como bom tradutor, foi presumir alguns pensamentos que decerto lhe escaparam, e que ele naturalmente teria, se escrevesse nesta cidade, e não em Paris.

Isto posto, estou às vossas disposições; podemos conversar sobre o que nos parecer, sobre o D. Pascoal no Teatro Lírico, sobre as notícias do Paraguai, sobre o frio e sobre os divertimentos da semana.

Fostes sexta-feira à noite a Botafogo?

Vistes como estava brilhante a linda praia, com a sua bela iluminação, com as suas alegres serenatas, e com os bandos de passeadores que circulavam em frente do palácio?

Havia uma expansão de contentamento e de júbilo em todas estas demonstrações com que era acolhida e festejada a vida de Sua Majestade. O arrabalde aristocrático se desvanecia por ser durante algum tempo a residência da corte.

Uma banda de música desfilava ao longo da praia, soltando às brisas da noite e aos ecos harmoniosos daquela baía alguns temas favoritos do Trovador. Os grupos de mocinhas travessas e risonhas se encontravam e se confundiam um momento numa nuvem de beijos e abraços.

Aquelas areias felizes eram pisadas por muito pezinho mimoso, habituado a roçar com o seu sapatinho de cetim os macios tapetes e o lustroso soalho dos ricos salões; e por isso, se observásseis bem, havíeis de ver entre os passeadores perdidos na multidão muito Romeu, muito Ossian, muito Goethe improvisado.

As auras da noite, que agitavam aqueles cabelos aveludados, que roçavam por aqueles lábios maliciosos, que passavam carregados de ruído, de músicas, de perfumes, trouxeram-me no meio dos rumores da festa ao lugar onde estavam uma palavras soltas que pareciam a continuação de uma conversa interrompida.

A primeira voz que me chegou ao ouvido era doce e melodiosa, era de moça, e pelo timbre devia ser de uma boquinha bonita.

- Está tudo muito lindo, dizia a voz; mas acho que falta uma coisa.

- O quê? perguntou o cavalheiro, que naturalmente dava o braço, não à voz, mas à dona da voz.

- Devia haver um fogo de artifício.

- E o há com efeito.

- Mas onde? Não vejo.

- Nem o pode ver, porque está nos seus olhos.

- Engraçado!...

A brisa escasseou neste momento, e não me trouxe o fim da conversa; mas eu fiquei compreendendo a razão por que hoje não se usam como antigamente em todas as festas, as girândolas, as rodas de fogo, etc. foram substituídas por outra espécie de fogo de artifício.

O que se usava outrora tinha o inconveniente de queimar a gente; mas esta queimadura curava-se aí com qualquer remédio de boitica. O que está em moda presentemente é pior, porque em vez de queimar, abrasa, e dizem que por muito tempo.

O que eu sei é que é esta uma arte capaz de fazer concorrência do larmoyeur, e digna de sério estudo, não só para se poder bem usar dela, como para se evitarem os enganos e as ciladas em que pode cair quem não tiver perfeito conhecimento desses segredos da coquetterie.

Os homens que falam de tudo e nada dizem, têm aí um belo tema para dissertarem; podem mostrar a influência útil que deve ter aquele estudo sobre desenvolvimento da nossa arte dramática, tão desprezada e tão desmerecida entre nós.

E isto vem a propósito, agora que a nova empresa do Ginásio Dramático se organizou, e promete fazer alguma coisa a bem do nosso teatro.

Assistimos, quinta-feira à primeira representação da nova companhia no Teatro de São Francisco: foi à cena um pequeno drama de Scribe, e a comédia do Dr. Macedo.

Embora fosse um primeiro ensaio, contudo deu-nos as melhores esperanças; a representação correu bem em geral, e em algumas ocasiões excelentes.

O que resta, pois, é que os esforços do Sr. Emílio Doux sejam animados, que a sua empresa alcance a proteção do que carece para poder prestar no futuro alguns serviços.

Cumpre que as pessoas que se acham em uma posição elevada dêem o exemplo de uma proteção generosa à nossa arte dramática. Se elas a encorajarem com a sua presença, se a guiarem com os seus conselhos, estou certo que em pouco tempo a pequena empresa que hoje estréia se tornará um teatro interessante, no qual se poderão ouvir alguns dramas originais e passar-se uma noite bem agradável.

Que vale entre tantas despesas de luxo a mesquinha assinatura de um pequeno teatro? Que importa que se sacrifique uma ou duas noites para dar um impulso à nossa arte dramática, e ganhar para o futuro um passatempo útil e agradável?

No momento em que se soubesse que algumas das nossas notabilidades, citadas pelo seu gosto e pelo seu amor à arte,eram assinantes do Ginásio, que as senhoras distintas prontas a aplaudir um belo lance dramático, não haveria mais pena que julgasse se desmerecia escrevendo para o teatro.

Assim, pois a essas pessoas compete dar o exemplo; quanto aos autores, estes estão prontos, e um dos mais distintos já tomou a iniciativa dando uma composição sua para a abertura do teatro.

Não é este o lugar próprio para uma crítica literária, e por isso nos abstemos de falar da espirituosa comédia do Dr. Macedo, a qual foi muito bem acolhida.

Tivemos esta semana boas notícias do Paraguai. A perspectiva de guerra desapareceu; e assim era de esperar, visto que aquela República não era de força para lutar conosco. Tem, é verdade, as suas Três-bocas, mas cada um dos nossos vapores tem muito maior número de bocas; e não são bocas d’água, ou de rio, são bocas de fogo.

Nas altas regiões da política trata-se da vaga de senador pela província da Bahia.

Não faltam candidatos; mas há um que é recomendado pelo seu merecimento e pelos seus serviços, lembrado pelos homens mais ilustrados, e que será muito bem aceito pela província; falamos do Sr. Wanderley.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.