domingo, 18 de agosto de 2024

Vereda da Poesia = 87 =


Trova de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG

Procura longa e constante,
num sempre querer achar…
Um sonho louco e distante,
impossível de alcançar…
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Poema de Gurupi/TO

ZACARIAS MARTINS

Sorriso enigmático

À noite,
ficava horas a fio
com aquele sorriso maroto,
mergulhada em seus pensamentos.
Jamais se conformou por ser apenas
uma dentadura num copo d´água!
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Trova de São Paulo/SP

DÉCIO VALENTE

Mãe! Criatura querida,
santa heroína sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
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Soneto de Paraisópolis/MG

SÔNIA MARIA DE FARIA 

Travessia 

Se num belo sonho se envolve a vida,
Traz ele novos ares de alegria,
Uma força com meta definida
E um desejo incontido se anuncia.

Mergulha o coração no desafio…
Busca firme traçar a sintonia
Entre dias de sol, noites de frio,
Nada fere sua essência, a euforia.

Se é difícil a paz na travessia,
São os sonhos as borbulhas de magia,
A força estranha, o caminho, a certeza…

Escolher sonhar é sabedoria:
É dos que sonham o raiar do dia…
É dos que lutam sua realeza. 
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016

DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

Com carinhos redobrados,
numa gratidão sem fim,
vive sob os meus cuidados
quem sempre cuidou de mim.
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Poema de Marabá/TO

GUTEMBERG GUERRA

A questão

 Deu um tiro no peito
por ser cidadão com direito à busca
da (in)felicidade,
conforme o seu sentimento.

Morrer ou não é outra.
Ser ou não ser é uma.
A dor é
          a questão.

Deu um tiro no peito!
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Trova Popular

Os teus olhos, pretos, pretos,
são como a noite cerrada...      
Mesmo pretos, como são,  
sem eles, não vejo nada.
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Soneto de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Soneto a Arthur Azevedo (In Memoriam)
 
Foi dramaturgo, poeta e contista, 
com “Arrufos”, um soneto forte, 
após desentender-se com a consorte, 
fez uns ares de quem do amor desista... 

Toma o chapéu e sai, sem que suporte, 
fingir que não mais ama e se contrista, 
mas algo o faz voltar e então persista 
a manter a paixão até a morte... 

Assim são os amores verdadeiros, 
ao menos na aparência dos amantes, 
que às vezes têm questiúnculas por nada... 

E quando voltam ficam companheiros 
para viverem todos os instantes, 
seguindo adiante pela mesma estrada…
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
LUIZ GILBERTO DE BARROS

Bela estátua, a do poeta!
Drummond não vê - que ironia -
que cada onda inquieta
tem dom de musa e poesia.
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Poema de Tocantinópolis/TO

ISABEL DIAS NEVES

Pomar de nós
         Para Marcelina Dias Neves, minha mãe

 É doce e vão esse pomar;
sombra feita,
flores fartas,
frutos gerados
sensualizam a boca.

Pomar que se almeja e conta
é o que se planta.

Sombra firme - reduzida,
flores novas - raras,
frutos fartos - racionados.
Tudo à mão - sem suor
 nem invenção.

Pomar que se almeja e planta
 é o que conta.

O trabalho com a terra
é um gesto de promessa:
molha a raiz com pranto e riso,
canta o plantio e a colheita,
sonha e arde a todo canto.

Pomar que se planta e conta
é o que se canta.
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

“Que consulta milionária!”
diz o velhinho... e diz mais:
“Se a doença é hereditária,
é dívida dos meus pais!”
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Soneto de Indaiatuba/SP

LUCAS MUNHOZ

O espelho do mar

Olha-me, pelo espelho... Os meus poderes!
Lembro-me, se cessar os teus fulgores;
Lembro-me, ao meu olhar dos ditadores
Ao luar poderoso, sem tolheres!...

 D´água que chora o Deus, pelos colheres!
 A lua primorosa, e os teus rigores
 Dos ares perfumosos, pelas flores
 Tens os entes perfeitos dos cozeres.

 Quanto a ti, pelos sonhos desejáveis!
 Lua, e os meus corações que me conheces
 São os deuses amáveis e adoráveis.

 Ao mar dos corações, pelo carinho!
 Amo-te, agora foste o mar que teces...
 Olho-te, pelo véu limpo, sozinho.
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Apesar do sofrimento
ser o algoz daquele adeus,
lembrar de um feliz momento
traz alento aos dias meus.
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Poema de Filadélfia/TO

LURDIANA ARAÚJO

Cálice

Se o amor acabou,
traz-me o cálice
que finda esta vida,
transforma minha alma
nas flores, na lua.

Se o amor acabou,
acabou-se a lida.
Traz-me o cálice
sem despedida.

Esquece as juras
Sob a luz da lua,
esquece que minh’ alma
desejava a tua.

Esquece o silêncio
na madrugada fria,
minh’ alma partiu,
sem despedida
pra longe da tua.
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Noite enluarada e calma.
A tua voz em seresta
na janela da minha alma...
E o mundo desperta em festa.
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Soneto de Florianópolis/SC

CRUZ E SOUSA
(JOÃO DA CRUZ E SOUZA)
1861 – 1898, Antonio Carlos/MG

Ironia de Lágrimas
 
Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
da cova é como flor apodrecida.
 
A Morte lembra a estranha Margarida
do nosso corpo, Fausto sem ventura…
Ela anda em torno a toda criatura
numa dança macabra indefinida.
 
Vem revestida em suas negras sedas
e a marteladas lúgubres e tredas
das Ilusões o eterno esquife prega.
 
E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
faminta, absconsa, imponderada cega!
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016

EDWEINE LOUREIRO DA SILVA
Saitama/Japão

Amar é jogar os dados:
deixe à sorte a decisão.
Pois excessos de cuidados
tiram toda a diversão.
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Poema de Marabá/TO

XAVIER SANTOS

Infâncias

O mundo fez piruetas
Com o pé de manga-rosa
Pintou as bolas-de-gude
Com as sobras do arco-íris.
Brincavam de amarelinhas
Felizes muricizeiros.
Curiós, xexéus e sanhaços
Faziam o maior furdunço
Nas frutas, nos arvoredos.

Os anos de todos eles
A gente contava nos dedos.

Com argamassa dos sonhos
A terra forjava os homens:
Era Bruno, Erick, Carol e Rafa
Brincando de lobisomem.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A mulher, que é toda encanto, 
lembra a abelha, meiga e boa: 
dá mel gostoso; no entanto, 
se for preciso, ferroa!
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Pantun de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Pantun da eterna ilusão

TROVA TEMA:
Foi pela guerra enlutada...
Mas a ilusão de Maria
Fincava os olhos na estrada
Quando a porteira batia!...
José Messias Braz 
Juiz de Fora/MG

PANTUN:
Mas a ilusão de Maria
era um eterno estribilho;
quando a porteira batia
ela ouvia a voz do filho.

Era um eterno estribilho;
quanto mais a mãe rezava,
ela ouvia a voz do filho
que da guerra não voltava.

Quanto mais a mãe rezava,
mais sentia entre os arcanjos
que da guerra não voltava,
que o filho estava entre os anjos.

Mais sentia entre os arcanjos
já chegando ao fim da estrada,
que o filho estava entre os anjos.
Foi pela guerra enlutada!...
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

A verdadeira alforria
é aquela que estende as mãos,
unindo em plena harmonia
branco e negro, como irmãos.
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Hino de Jundiaí/SP

Ó terra querida, Jundiaí
Teus filhos amantes são de ti
que Deus abençoe eternamente 
esta terra onde nasci.

Ó terra querida, Jundiaí
Teus filhos amantes são de ti
saudades mil levam 
os que passam por aqui.

Terra gentil, altruísta,
De ti me orgulho,
Pois és bem Paulista!
Teus filhos com devoção
Marcham pra luta como heróis
Cheios de fé em tua oração.

Que belas tardes amenas!
Que lindas noites,
Felizes, serenas!
Teu jardim, é um paraíso
Onde a mocidade sempre jovial,
Com seu odor, confunde o riso.

Quem poderia imitar
O teu céu com suas cores?
Com teus lindos fulgores?
Os teus campos, tuas flores?

Só a natureza guiada pelo Criador
É que pode pintar este arrebol
Que jamais vi,
Tardes ao pôr do Sol!
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Trova Potiguar

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

A esmola às vezes se "enfeita" 
com tinturas de vaidade, 
mas a caridade é feita 
de amor e fraternidade.
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Poema de Miracema do Norte/TO

FRANCISCO PERNA FILHO

Estado

Embora presa,
a água borbulha solta na chaleira
efervescente.
É de fora
a sua natureza líquida.
Não há fôrma que a aprisione,
não há temperatura que a molde.

Embora verso,
embora prosa,
A poesia sabe-se leve,
sabe-se solta.
Amorfa,
não se prende ao vocábulo.
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Trova de Maringá/PR

CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

A trova é flor tão pequena 
neste jardim de emoção.
Chamo-te rosa, açucena,
amo-te com afeição.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O rato e o elefante

Um mínimo ratinho, ao ver um elefante
Dos de vulto maior — quadrúpede gigante —
A motejar se pôs do caminhar pausado
Do famoso animal, que no dorso elevado,
Como em terceiro andar, tranquilo conduzia
Com sultana gentil de ilustre hierarquia,
O seu gato, o seu cão, sua velha companheira,
Um papagaio e um mono, a sua casa inteira,
Que iam de romaria. O mísero ratinho
Pasmava ao ver o povo atento no caminho
A contemplar absorto aquela enorme massa:
«Como se o ocupar maior ou menor praça
Tirasse — ele dizia — ou importância desse!
Homens, que admirais vós num animal como esse?
O volume será do corpo seu robusto,
Que infantes apavora e os faz tremer de susto?
Nem um só grão, sequer, nós nos prezamos menos
Que um elefante, nós, que somos tão pequenos!»

E mais ainda o rato iria granizando,
Se o gato, da gaiola um lesto salto dando,
Não lhe houvesse mostrado, em menos dum instante,
Que diferença vai dum rato a um elefante.
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Trovador Homenageado

Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
GILSON DE CASTRO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

1
Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio …
2
Às vezes, tenho pensado
que a nostalgia é, somente,
desejo de que o Passado
seja, de novo, Presente…
3
Brinquedo de porcelana
na mão de criança arteira...
Assim é a ventura humana,
tão frágil... tão passageira…
4
Com tanta pureza, tanta
bondade em teu coração,
não és rainha, mas santa,
no altar da minha Paixão…
5
Creio em ti e sem favor…
Sabes bem que é mesmo assim!
E em mim tu crês, meu amor,
bem mais do que creio em mim!…
6
Enfrentando tantas provas,
ao desenrolar dos anos,
vou tirando da alma Trovas,
e enchendo-a de desenganos…
7
Glórias, riqueza, esplendor,
nunca te dei... e nem tive...
Porém, mais dura um amor
quando com pouco ele vive…
8
O que meu filho herdará?
(Esta dúvida me atrai...)
— Da mãe a franca alegria,
ou a tristeza do pai?!
9
Poupou-me, Deus não querendo
que eu filhos viesse a ter,
pois não quis me ver sofrendo,
vendo os meus filhos sofrer…
10
— Quem só deseja encontrar
no futuro lar; bonança,
entre rosas há de achar
um chorinho de criança…
11
Se foi sua alma ferida,
não culpe à Vida, rapaz...
— Não é má ou boa a Vida...
É só Vida... e nada mais…
12
Se trazes em ti, querida,
um amor igual ao meu,
ninguém jamais nesta vida,
amor assim conheceu...

O texto literário em Preto e Branco (“Maria e Maria”, de Sinclair Pozza Casemiro)

 
Conto publicado neste blog em 22 de julho de 2020, no link 

RESUMO

Caminhoneiro Feliz
Tião, um caminhoneiro feliz, vive com suas duas Marias: a esposa e a filhinha. Apesar das dificuldades, ele se considera afortunado por ter um caminhão e uma família amorosa. As Marias são seu maior tesouro, e juntos enfrentam os desafios da vida.

A Vida na Estrada
A rotina de Tião é marcada por viagens e o convívio com os amigos. Maria, sempre rindo, cuida da casa e da filha, transformando a boleia do caminhão em lar. A amizade e o chimarrão são essenciais em sua vida simples.

Mudança e Mistério
A chegada de novos vizinhos traz mudanças. A história de um rancho amaldiçoado, onde uma mulher foi assassinada, assombra a vizinhança. Tião, cético, ignora os avisos, mas Maria começa a mudar, perdendo a alegria.

Tragédia e Consequências
A tensão aumenta quando Tião descobre a infidelidade de Maria, resultando em tragédia. Ele volta para casa e, em um momento de desespero, confronta a realidade devastadora. A dor da perda transforma sua vida para sempre.

ANÁLISE

Amor e Perda
A narrativa explora os laços familiares e a fragilidade do amor. Tião, inicialmente contente, enfrenta a desilusão e a tragédia.

Cultura e Vida Rural
A história retrata a vida rural no Brasil, com suas tradições, desafios e a luta diária por sobrevivência.

Mistério e Sobrenatural
Elementos do sobrenatural permeiam a narrativa, refletindo as crenças populares sobre lugares amaldiçoados e o impacto do passado nas vidas presentes.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

Tião
Um caminhoneiro otimista e trabalhador, que valoriza sua família acima de tudo. Sua alegria é contagiante, mas ele se torna vulnerável às circunstâncias e à traição.

Maria (esposa)
Uma mulher forte e amorosa, que enfrenta as adversidades com graça. Sua risada é um símbolo de esperança, mas sua mudança de comportamento reflete a tensão crescente em sua vida.

Maria (filha)
A criança que representa a inocência e a alegria da família. Sua presença traz luz aos dias de Tião, mas sua tragédia acentua a dor do pai.

TEMAS CENTRAIS

Amor e Compromisso
A história examina como o amor pode ser testado e como os compromissos podem ser rompidos. Tião e Maria compartilham um laço profundo, mas as dificuldades e a traição geram uma fissura irreparável.

Superstição e Folclore
A presença do rancho amaldiçoado e as histórias locais refletem as crenças populares sobre o sobrenatural. Esses elementos criam uma atmosfera de mistério e tensão, influenciando as ações dos personagens.

A Vida Rural
O cotidiano de Tião e sua família é retratado com riqueza de detalhes, mostrando as dificuldades enfrentadas por quem vive no campo. As interações sociais, o trabalho duro e a simplicidade da vida rural são centrais para a narrativa.

DESENVOLVIMENTO DA TRAMA

A Rotina de Tião
Tião e suas Marias desfrutam de momentos simples, como passeios no caminhão e encontros com amigos. Essa felicidade inicial estabelece um contraste com os eventos futuros.

Chegada dos Novos Vizinhos
A mudança traz novos personagens e provoca rumores sobre o passado do rancho. A curiosidade e o medo começam a afetar a dinâmica da vizinhança.

Desvio de Comportamento
A transformação de Maria, que passa a demonstrar tristeza e desinteresse, gera preocupação em Tião e começa a criar uma fissura na relação.

A Tragédia
O clímax ocorre quando Tião descobre a traição. A cena final, marcada pela violência e perda, resulta em um desfecho trágico que ecoa os temas de desilusão e arrependimento.

FOLCLORE

Na narrativa de "Maria e Maria", vários elementos de folclore são destacados, criando uma atmosfera rica e carregada de simbolismo.

1. A Maldição do Rancho
A história sobre o rancho amaldiçoado, onde uma mulher foi assassinada, reflete crenças populares sobre lugares assombrados. Essa narrativa é central para a tensão da história, trazendo um senso de mistério e medo.

2. Lendas Locais
O passado trágico da mulher assassinada e o choro do bebê perdido são elementos que evocam lendas locais, conectando a comunidade a um passado sombrio e a histórias que circulam entre os moradores.

3. Superstições
A ideia de que tragédias atraem mais tragédias, como mencionado pelo amigo de Tião, demonstra a crença popular de que certas situações podem ser "amaldiçoadas" ou trazer má sorte.

4. Chimarrão e Tradições Regionais
O ato de compartilhar chimarrão entre amigos é uma prática cultural que simboliza união e acolhimento, ressaltando as tradições e a convivência social da comunidade.

5. Crenças sobre o Sobrenatural
Os personagens discutem fenômenos sobrenaturais, como a aparição da mulher que busca seu filho, mostrando como o sobrenatural permeia a vida cotidiana e afeta as emoções dos personagens.

Esses elementos folclóricos não apenas enriquecem a narrativa, mas também refletem a cultura e as crenças da comunidade, conectando os personagens a uma tradição mais ampla que molda suas vidas e interações.

Os elementos de folclore em "Maria e Maria" têm um impacto significativo na identidade cultural da comunidade de várias maneiras:

1. Preservação da História Coletiva
As lendas e histórias, como a do rancho amaldiçoado, ajudam a preservar a memória coletiva da comunidade. Elas conectam as gerações passadas às presentes, criando um senso de continuidade e identidade.

2. Construção de Valores e Crenças
As superstições e crenças locais moldam a forma como os moradores enxergam o mundo. Tais crenças influenciam decisões, comportamentos e interações sociais, promovendo uma cultura de precaução e respeito às tradições.

3. Fortalecimento dos Laços Comunitários
Práticas culturais, como o compartilhamento de chimarrão, reforçam laços sociais e criam um sentido de pertencimento. Esses momentos de convivência fortalecem a identidade da comunidade, promovendo solidariedade e apoio mútuo.

4. Reflexão sobre Medos e Desafios
As histórias de horror e mistério, como a do rancho, permitem que a comunidade explore e expresse medos coletivos. Isso ajuda a criar um espaço seguro para discutir problemas e desafios sociais, refletindo a resiliência da comunidade.

5. Identidade Regional
Os elementos folclóricos, incluindo costumes e lendas, contribuem para uma identidade regional única. Eles diferenciam a comunidade de outras, celebrando suas particularidades e características.

6. Relação com a Natureza
Muitas histórias e crenças estão intrinsicamente ligadas à natureza e ao ambiente local, promovendo um respeito profundo pelo espaço que habitam e enfatizando a interdependência entre as pessoas e seu entorno.

Esses aspectos não apenas moldam a vida cotidiana, mas também ajudam a construir uma base sólida para a identidade cultural da comunidade, promovendo um sentimento de união e continuidade frente aos desafios da vida moderna.

CONCLUSÃO

A obra de Sinclair Pozza Casemiro nos convida a refletir sobre a complexidade das relações humanas, a luta pela felicidade e as consequências de nossas escolhas. A jornada de Tião é um lembrete de que a vida pode mudar rapidamente, e que o amor, embora forte, pode ser quebrado por desilusões.

"Maria e Maria" é uma história que capta a essência da vida rural, explorando a complexidade das emoções humanas. Sinclair Pozza Casemiro nos lembra que a felicidade é efêmera e que os laços familiares podem ser tanto fonte de alegria quanto de dor. Essa dualidade, entre amor e tragédia, ressoa profundamente, tornando a narrativa uma reflexão poderosa sobre as relações e suas consequências.

Fonte: Análise por José Feldman. Open IA 

Recordando Velhas Canções (Nada além)

 

(Fox, 1934)

Compositores: Mário Lago e Custódio Mesquita

Nada além
Nada além de uma ilusão
Veja bem
É demais para o meu coração
Acreditando em tudo que o amor
Mentindo sempre diz
Eu vou vivendo assim feliz
Na ilusão de ser feliz
Se o amor
Só nos causa sofrimento e dor
É melhor, bem melhor
A ilusão do amor
Eu não quero e nem peço
Para o meu coração
Nada além
De uma linda ilusão…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A Doce Ilusão do Amor em 'Nada Além'

A música 'Nada Além', é uma reflexão melancólica sobre o amor e suas desilusões. A letra aborda a ideia de que o amor, muitas vezes, traz mais sofrimento e dor do que felicidade. O eu lírico, ciente das mentiras e enganos que o amor pode trazer, prefere viver na ilusão de ser feliz, ao invés de enfrentar a dura realidade. Essa escolha pela ilusão é uma forma de proteção emocional, uma maneira de evitar o sofrimento que o amor verdadeiro pode causar.

Orlando Silva, conhecido como o 'Cantor das Multidões', foi um dos maiores intérpretes da música popular brasileira nas décadas de 1930 e 1940. Sua voz marcante e interpretação emotiva conferem à canção uma profundidade ainda maior. A letra de 'Nada Além' é simples, mas carregada de significado, refletindo uma visão cínica e resignada do amor. A repetição da palavra 'ilusão' reforça a ideia de que, para o eu lírico, a felicidade verdadeira é inatingível, e a única forma de ser feliz é através de uma ilusão.

A música também pode ser vista como uma crítica à idealização do amor romântico. Ao afirmar que 'é melhor, bem melhor a ilusão do amor', o eu lírico sugere que a busca por um amor perfeito é fútil e que aceitar a ilusão pode ser uma forma mais realista de lidar com os sentimentos. A melodia suave e a interpretação emotiva de Orlando Silva complementam a letra, criando uma atmosfera de resignação e melancolia que ressoa profundamente com o ouvinte.

No dia 09 de julho de 1937, estreava no Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, a revista Rumo ao Catete, título que aludia a uma eleição presidencial que Getúlio não deixou acontecer. Além de um elenco de primeira - Araci Cortes, Oscarito, Eva Tudor -, a peça tinha libreto e direção musical de dois grandes compositores, Custódio Mesquita e Mário Lago. Reunindo todos esses valores, "Rumo ao Catete" foi um sucesso, com mais de 300 representações e, de quebra, ainda enriqueceu a música popular com duas belas composições, o fox "Nada Além" e a valsa "Enquanto houver saudade".

Maior sucesso da dupla Lago-Mesquita, "Nada Além" era motivo na peça de um quadro cômico-romântico: um homem de aparência simplória examinava, à porta de uma loja, várias mercadorias que lhe oferecia um vendedor. Vendo que o suposto freguês não se decidia, o vendedor o interpelava: "Afinal, o que deseja o cavalheiro?" ao que o sujeito respondia, cantando: "Nada além, nada além de uma ilusão...".

Apesar de aprovarem a interpretação operística dada no palco pelo tenor Armando Nascimento, os autores achavam que as canções se adaptavam melhor a uma voz popular, como a de Orlando Silva, à época no auge da fama. Então Custódio, sempre vaidoso, usou de um expediente para induzi-lo a gravá-las, sem correr o risco de uma rejeição, convidando-o a assistir a peça. E deu certo, pois ao final da sessão o cantor, entusiasmado, exigiu: "Custódio, me dá agora mesmo as partes de piano dessas músicas que eu quero gravá-las, o mais rápido possível". E assim o fez no início de 38.