terça-feira, 19 de outubro de 2010

Alvarina Amaral de Oliveira Toledo (1910 – 2010)


Nasceu no dia 20 de setembro de 1910, na cidade de Pouso Alegre.

Alvarina Amaral de Oliveira Toledo era filha do Dr. Antônio Marques de Oliveira e Maria Amaral de Oliveira (Dodoca).

Na juventude, trabalhou em várias peças no Teatro Municipal.

Em 1918, foi matriculada no Instituto Santa Dorotéia, nesta cidade, onde cursou o primário, ginasial e normal, saindo graduada como professora.

Em 1928, iniciou seu curso de Farmácia na Escola Federal de Farmácia de Pouso Alegre. Na década de 30, fez um curso intensivo de oratória e declamação com a professora Edelveis Barcelos, em Belo Horizonte.

Tornou-se uma grande declamadora e, por esse motivo, participou de muitas horas de arte no Clube Literário e Recreativo de Pouso Alegre e no Teatro Municipal de Belo Horizonte, apresentando-se para a apreciação da imprensa mineira e da grande declamadora brasileira Margarida Lopes de Almeida, recebendo nota de louvor.

Apresentou-se também como declamadora no Palácio do Ingá, sede de governo da antiga Província do Estado do Rio de Janeiro.

Como Presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBA) de Trajano de Moraes (RJ), em 1949, construiu a gruta de Nossa Senhora das Graças, hoje local turístico e de grande devoção naquela cidade.

Foi agraciada com os títulos de Cidadã Honorária de Niterói e de Trajano de Moraes (RJ), por relevantes serviços prestados às duas comunidades fluminenses.

Ocupa a cadeira n.º 04, que tem como patrono o Professor Joaquim Queiroz Filho.
Tem publicados os livros:
“Minha Mãe”, 1976;
“Uma história que já vai longe”, 1997;
“Renovando a fé para o Terceiro Milênio”, 1999;
“Meu Amigo o Tempo”, 2000.

Viúva do Desembargador Geraldo Toledo, com quem teve 5 filhos, 11 netos e 15 bisnetos.

Faleceu em 18 de outubro de 2010, em Pouso Alegre, aos 100 anos de idade.

Fonte:
http://www.acadpousoalegrensedeletras.com.br/Alvarina_Amaral.htm
– Conceição Assis

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.22)


Trova do Dia

Não sou ave nem sou peixe,
nunca aprendi a nadar,
mas peço a Deus que me deixe
num dia desses voar!
DIAMANTINO FERREIRA/RJ

Trova Potiguar

Bíblia – única apostila
(é o próprio Autor quem o diz)
para a disputa tranquila
da eternidade feliz.
EVAN MONTEIRO/RN

Uma Trova Premiada

2009 > Cambuci/RJ
Tema > POETA/POESIA > Vencedora

Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
Não sou louco!... Eu sou poeta.
OLYMPIO COUTINHO/MG

Uma Poesia livre

Maria Luiza Walendowsky/SC
SOU

Sou como o vento
a embalar
um barco à deriva...
Como a brisa marinha:
persistente...
Constante!
Sou um leve sopro
a murmurar sorrateiramente,
doces palavras...
Às vezes sou ciclone:
forte...
determinada.
...sou como o vento.

Uma Trova de Ademar

Correndo muito, ou de chôto,
mesmo em pista esburacada,
sendo Deus meu co-piloto
enfrento qualquer estrada!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Deus, de forma oculta e muda,
generoso em seu poder,
quantas vezes nos ajuda
sem a gente perceber.
ORLANDO BRITO/MA

Estrofe do Dia

HOMENAGEM AO MÉDICO

O médico é obra divina,
que de maneira aguerrida,
estudou, fez medicina
para salvar nossa vida.
Não quer ver ninguém sofrer,
e se acaso acontecer
do doutor ficar doente;
por vocação... Por amor...
Ele esquece a própria dor
pra curar a dor da gente!...
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia

Olga Maria Dias Ferreira/RS
NOSTALGIA.

Ao perceber, então, rugas, no rosto,
tive invadido de emoção meu peito,
na nostalgia ímpar do sol posto,
na angústia tanta de meu lar desfeito.

Foi-se a ventura, o riso decomposto,
na face insana de um viver sem preito.
ressurge o pranto já antes deposto,
nas marcas todas de meu pobre leito...

Assim a vida aos poucos vai passando,
meus sonhos todos, célere, levando,
na desventura desta triste sorte.

E os companheiros não mais retornando,
outros partindo sós ou mesmo em bando,
me deixam à espreita da própria morte.

Fonte:
Ademar Macedo

II Concurso de Trovas de Tremembé (Classificação Final(

Montagem sobre foto de Celio Gonçalves Dias
(Igreja de São Sebastião)
NÍVEL MUNICIPAL – Tema: VIVER

VENCEDORES

1º Lugar – ISABEL NOGAROTTO
2º Lugar – BENILSON TONIOLO
3º Lugar – ISABEL NOGAROTTO
4º Lugar – MARTINHO MONTEIRO
5º Lugar – BENILSON TONIOLO
6º Lugar – CLÁUDIO DE MORAIS
7º Lugar – ANDREIA JOFRE SIMAS

MENÇÕES HONROSAS

ALDA LOPES
ALEXANDRE SILVA
Dom ANTONIO AFFONSO DE MIRANDA
LAMARQUE MONTEIRO
MARTINHO MONTEIRO

MENÇÕES ESPECIAIS

ALDA LOPES
ANDRÉIA JOFRE SIMAS
CELINHA MARQUES
LORIS TURRINI
WALTER MOTA

MELHORES CONJUNTOS DE TROVAS
1º Lugar – ISABEL NOGAROTTO
2º Lugar – BENILSON TONIOLO
3º Lugar – MARTINHO MONTEIRO

COMISSÃO JULGADORA
DOMITILLA BORGES BELTRAME – São Paulo-SP
GILVAN CARNEIRO – São Gonçalo-RJ
JEANETTE DE CNOP – Maringá-PR
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA – Pindamonhangaba-SP
PEDRO MELLO – São Paulo-SP
MILTON SOUZA – Porto Alegre-RS


NÍVEL REGIONAL – Tema: ECOLOGIA

VENCEDORES

1º Lugar – ÉLBEA PRISCILA SOUZA E SILVA – Caçapava-SP
2º Lugar – ÉLBEA PRISCILA SOUZA E SILVA – Caçapava-SP
3º Lugar – AMILTON MACIEL MONTEIRO – São José dos Campos-SP
4º Lugar – LUIZ MORAES SANTOS – São José dos Campos-SP
5º Lugar – MYRTHES MASIERO - São José dos Campos-SP
6º Lugar – DARCY BANDERANTE AZEVEDO COSTA – Taubaté-SP
7º Lugar – NÉLIO BESSANT - Pindamonhangaba-SP

MENÇÕES HONROSAS

ALFREDO BARBIERI – Taubaté-SP
AMILTON MACIEL MONTEIRO – São José dos Campos-SP
JOSÉ GUARANY RODRIGUES – Pindamonhangaba-SP
MARIA ARLINDA DOS SANTOS – Taubaté-SP
NÉLIO BESSANT - Pindamonhangaba-SP

MENÇÕES ESPECIAIS

AUGUSTO GOMES – Taubaté-SP
JOEL HIRENALDO BARBIERI – Taubaté-SP
MARIA MARLENE NASCIMENTO TEIXEIRA PINTO – Taubaté-SP
MIFORI – Paraibuba-SP
MYRTHES MASIERO - São José dos Campos-SP

MELHORES CONJUNTOS DE TROVAS
1º Lugar – ÉLBEA PRISCILA SOUZA E SILVA
2º Lugar – AMILTON MACIEL MONTEIRO
3º Lugar – NÉLIO BESSANT

COMISSÃO JULGADORA
ADEMAR MACEDO – Natal-RN
ARI SANTOS DE CAMPOS - UBT de Itajaí-SC
CLÁUDIO DE MORAIS – UBT de Tremembé
DELCY CANALLES – Porto Alegre-RS
FRANCISCO MACEDO – Natal-RN
GISLAINE CANALES – Balneário Camboriú-SC
JOÃO COSTA – Saquarema-RJ
LUIZ ANTONIO CARDOSO – UBT de Tremembé-SP

NÍVEL ESTADUAL – Tema: DESAFIO

VENCEDORES

1º Lugar – PEDRO MELLO – São Paulo-SP
2º Lugar – PEDRO MELLO – São Paulo-SP
3º Lugar – ERCY MARIA MARQUES FARIA – Bauru-SP
4º Lugar – MARINA BRUNA – São Paulo-SP
5º Lugar – ANTONIO DE OLIVEIRA – Rio Claro-SP
6º Lugar – HÉRON PATRÍCIO – São Paulo-SP
7º Lugar – MARINA BRUNA – São Paulo-SP

MENÇÕES HONROSAS

CAROLINA RAMOS – Santos-SP
DARLY O. BARROS – São Paulo-SP
MARILUCIA REZENDE – São Paulo-SP – duas
RENATA PACCOLA – São Paulo-SP

MENÇÕES ESPECIAIS

CAROLINA RAMOS – Santos-SP
CLÁUDIO DE CÁPUA – Santos-SP
DOROTHY JANSSON MORETTI – Sorocaba-SP
MARIA IGNEZ PEREIRA – Mogi Guaçu-SP
MARTA MARIA DE OLIVEIRA PAES DE BARROS – São Paulo-SP

MELHORES CONJUNTOS DE TROVAS

1º Lugar – PEDRO MELLO
2º Lugar – MARINA BRUNA
3º Lugar – MARILUCIA REZENDE

COMISSÃO JULGADORA
A. A. DE ASSIS – Maringá-PR;
ANGÉLICA VILELLA SANTOS – UBT de Taubaté
ARLINDO TADEU HAGEN – Belo Horizonte-MG
EDMAR JAPIASSU MAIA – Rio de Janeiro-RJ
JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba-SP
LUIZ ANTONIO CARDOSO – UBT de Tremembé
MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO – Rio de Janeiro-RJ
OTAVIO VENTURELLI – Nova Friburgo-RJ
THEREZA COSTA VAL – Belo Horizonte-MG
VANDA FAGUNDES QUEIROZ – Curitiba-PR

NÍVEL TROVADORES MESTRES

Tema: ETERNO

VENCEDORES

1º Lugar – LUIZ ANTONIO CARDOSO – Tremembé-SP
2º Lugar – ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES – Taubaté-SP
3º Lugar – ANGÉLICA VILELLA SANTOS – Taubaté-SP
4º Lugar – ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES – Taubaté-SP
5º Lugar – ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES – Taubaté-SP
6º Lugar – LUIZ ANTONIO CARDOSO – Tremembé-SP
7º Lugar – JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba-SP
8º Lugar – LUIZ ANTONIO CARDOSO – Tremembé-SP
9º Lugar – JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba-SP
10º Lugar – LUIZ ANTONIO CARDOSO – Tremembé-SP

MELHORES CONJUNTOS DE TROVAS

1º Lugar – LUIZ ANTONIO CARDOSO
2º Lugar – ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES
3º Lugar – ANGÉLICA VILLELA SANTOS
3º Lugar – JOSÉ OUVERNEY

COMISSÃO JULGADORA
CAROLINA RAMOS – Santos-SP
ERCY MARIA MARQUES FARIA – Bauru-SP
JOSÉ LUCAS DE BARROS – Natal
MARINA BRUNA – São Paulo-SP
PEDRO ORNELLAS – São Paulo-SP
THALMA TAVARES – São Simão
SELMA PATTI SPINELLI – São Paulo-SP

A premiação será realizada no dia 13 de novembro de 2010, às 15h, em reunião da UBT de Tremembé, no Salim - Comida Árabe, Estrada Nova Taubaté x Tremembé. Para maiores informações basta entrar em contato com Luiz Antonio pelos telefones: (12) 3025-0921 e (12) 8154-2177, lembrando que, caso não atenda durante o dia (trabalho dia sim, dia não, em local onde os telefones devem permanecer desligados), deverá voltar a ligar após as 18h.

Tremembé, outubro de 2010.
Luiz Antonio Cardoso
UBT de Tremembé-SP

domingo, 17 de outubro de 2010

Trova 180 - Arlene Lima (Maringá/PR)

Montagem da Trova e inserção de corações sobre imagem obtida em http://www.decoesfera.com

Graça Graúna (Manifesto)


...fragmento que sou
da fúria no choque cultural,
aqui, manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o que ainda resta
do cheiro da mata
da água
do fogo
da terra e do ar

Torno a dizer:
manifesto o meu receio
de não conhecer mais de perto
o cheiro da minha aldeia
onde ainda cunhantã
aprendi a ler a terra
sangrando por dentro
––––––––––-

Graça Graúna é natural do Rio Grande do Norte e tem doutorado em letras pela (UFPE). Em uma apresentação sua ao universo indígena expõe com inequívoca propriedade: “A literatura indígena é um lugar de confluência de vozes silenciadas e exiladas ao longo da história há mais de 500 anos. Enraizada nas origens, esse instrumento de luta e sobrevivência vem se preservando na autohistória de escritores (as) indígenas e descendentes e na recepção de um público diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo de poemas e prosas autóctones.” Graça participa ativamente do Overmundo e tem um blog próprio: http://ggrauna.blogspot.com/ onde apresenta suas ideias.
Membro do grupo de Escritores Indígenas, Educadora universitária na área de Literatura e Direitos Humanos.

Fonte:
Texto e imagem = http://ggrauna.blogspot.com/

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas XI)


Alguém bate à minha porta,
vou ver quem é, num momento;
há muito tempo está morta
minh´alma gêmea... É o vento !

A manchete de jornal
sempre indica uma notícia,
que a imprensa tradicional,
é a melhor arma patrícia.

As plantinhas que cultivo
em meu jardim pequenino,
estão dizendo que vivo
pelo teu amor divino...

Cuidado com a ilusão,
romântico trovador,
pois pelo sim, pelo não,
não creias no falso amor !

Enquanto passam as horas,
fico pensando em você,
vencido pelas demoras,
qual alguém que não mais crê.

Eu serei sempre contente,
se algum dia me quiseres,
és a musa mais ardente,
entre todas as mulheres !

Eu te amei intensamente,
mas foram momentos vãos,
pois vejo que fui somente
um brinquedo em tuas mãos...

Foste a musa que escolhi,
desfolhando um bem-me-quer,
mas vejo que me iludi,
pois eras falsa, mulher !

Hoje faço quaisquer trovas
para cantar meu amor;
e por serem sempre novas,
eu lhes dou muito valor !

Imprensa livre, meu povo,
não deixe nunca acabar;
pois consegui-la de novo,
é difícil conquistar !

Já fiz trovas e fiz versos
para a linda namorada,
que depois andam dispersos
no vento da madrugada...

Labutei muito na imprensa,
fui cronista popular,
hoje sei o quanto é tensa,
a notícia divulgar...

Mergulhado no desejo
de te amar na juventude,
hoje penso de sobejo
que te amei mais do que pude.

Não há renúncia a quem quer
viver feliz nesta vida;
só o amor de uma mulher,
poderá me dar guarida.

Na vida dos sonhadores,
existe um sol que fulgura,
para aquecer os amores
que necessitam ternura...

No Dia do Trovador,
escrevo esta simples trova,
para o meu sincero amor
que a minha vida renova...

Olhavas triste, indecisa,
no meio da rua, quando
sentes o abraço da brisa
que vai assim te afagando...

O prazer de amar alguém,
é o mesmo de ser amado;
pois o amor que a gente tem,
deve ser compartilhado.

O respeito é necessário,
faz muito bem, sim senhor;
deve viver num sacrário,
vem a ser irmão do amor !

O vento leva o meu canto
pelos confins do universo;
em vez de chorar, eu canto
através deste meu verso !

Para escrever estes versos,
procuro ouvir minhas musas;
trazem-me assuntos diversos,
mas não ideias confusas.

Persegue o lobo que existe
dentro de ti, sonhador,
não sendo alegre nem triste,
fazes só versos de amor...

Por que será que na vida
nós temos contrariedades,
se depois da despedida
vamos lembrar com saudades?!

Quando te vejo passar
ao meu lado sorridente,
é difícil renunciar
ao sorriso que não mente...

Quero o amor que não ilude
e me faz amar alguém,
que tenha paz e virtude
e seja séria e do bem.

Se a chuva cai mansamente,
me fazendo meditar,
dá no coração da gente,
louca vontade de amar..

Se chorei, também choraste,
naquela tarde vazia,
hoje sou um velho traste,
já sem qualquer serventia.

Tinha tudo a meu favor
e não vivia ao relento,
se tu foste meu amor,
passaste assim como o vento...

Um casamento perdura
pela amizade e o respeito,
pois quem ama com ternura
só vê amor, não defeito !

Vou vivendo na incerteza
de assumir o nosso amor;
a renúncia tem tristeza,
da tristeza surge a dor…

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.21)


Trova do Dia

Sonhei um sonho tão triste!...
Sonhei que o mundo acabou...
- Logo depois, tu partiste,
e o sonho se confirmou...
JOSÉ OUVERNEY/SP

Trova Potiguar

Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada,
quebra o silêncio entre nós
PROF. GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

2010 > São Paulo/SP
Tema > FEITIÇO > Vencedora

Por teu feitiço ou magia,
mesmo sabendo quem és,
troquei a minha alforria
e fui escravo a teus pés...
ERCY MARQUES DE FARIA/SP

Uma Poesia livre

Cecília Meireles/RJ
CANÇÃO DO AMOR PERFEITO.

O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

Uma Trova de Ademar

Tal e qual os nossos pais,
todos nós, já velhos, temos
no cabelo, as digitais
dos anos que já vivemos.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Nessa cabana de palha
não tem chão nem cobertor.
Só a ternura agasalha
os sonhos do nosso amor.
ADELIR MACHADO/RJ

Estrofe do Dia

E agora não tem mais jeito,
Somos dois apaixonados,
Entretanto, separados,
Cada qual, no seu direito...
Sinto calor no meu peito,
Dispara a minha pressão;
É uma inquietação,
Toda noite fico insone,
Quando chama o telefone
Bate forte o coração.
DJALMA MOTA/RN

Soneto do Dia

Fernando Pessoa/Portugal
SÚBITA MÃO DE UM FANTASMA OCULTO.

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Fonte:
Ademar Macedo

Flávia Carpes Westphalen (O que é uma literatura indígena?)


A categoria “indígena” é por si mesma problemática. O termo é aplicado como substantivo e adjetivo ao longo deste trabalho. No entanto, não foi sem hesitação que o adotamos, visto que, especialmente entre os autores norte-americanos, termos ligados à indianidade (Indianess) são rechaçados pelo bem de outros como Native Americans e First Nations. O termo indian é, de modo geral, considerado inapropriado, especialmente pela homonímia confusa indian (nativo-americano)/ indian (nativo da Índia). Além disso, autores como Louis Owens e Gerald Vizenor se opõem fortemente ao termo, afirmando que este é um nome generalizador imposto pelos desbravadores europeus, sem qualquer correspondência na realidade plural das diversas tribos indígenas. As alternativas Native Americans e First Nations são preferidas por reconhecerem o fato de que esses povos são autóctones e anteriores a qualquer "descobrimento". Contudo, cabe lembrar que nenhum dos termos é ou será considerado ideal, visto que a generalização peca sempre pelo apagamento de diferenças e peculiaridades de diferentes tribos.

No Brasil, o caso é bastante diferente: os autores parecem ter adotado os termos índio e indígena com orgulho, talvez por não se fazerem confusos como o correspondente anglófono. Contudo, em uma tentativa de manter uma terminologia semelhante ao falar dos dois contextos, decidimos adotar os vocábulos indígena e nativo para falar dessas populações e literaturas. O termo índio é apenas utilizado quando explicitamente reivindicado pelos autores. No que diz respeito ao caráter genérico dos termos, sustentamos a escolha, pois parece-nos que, assim como nos termos "europeu", “branco” ou "eurocêntrico", essa generalização se faz funcional ao tratarmos de uma experiência, se não idêntica, comum. A fim de minimizar o problema, e em respeito às diferentes ascendências dos autores aqui trabalhados, destacaremos sempre a filiação/afiliação tribal de cada autor. Perguntado sobre sua identificação (ou não) com o rótulo de “escritor canadense”, em uma entrevista dada a Hartmut Lutz (Lutz, 1991: 89-95), Thomas King respondeu com uma
afirmação que evidencia a complexidade identitária de muitos desses autores:

“Há apenas um problema no sentido de que não sou originalmente do Canadá e de que os cherokees certamente não são uma tribo canadense. Agora, isso se torna um problema apenas se você reconhece a linha política em particular que corre entre o Canadá e os Estados Unidos, e se você concorda com as presunções que essa linha faz. Penso em mim como um autor nativo e um autor canadense. Duvido que pudesse me considerar um autor nativo canadense, simplesmente porque não sou de uma das tribos aqui de cima. Mas todos os meus contos, e o romance, e as antologias, e o livro crítico que co-editei foram publicados no Canadá, e todos têm a ver com material canadense. Eu não fiz nada de que se possa falar nos Estados Unidos. Então, sim, eu me considero um autor canadense, eu escrevo sobre as pradarias canadenses, eu não escrevo sobre Nova Iorque”.(Lutz, 1991: 107-8).

Na mesma entrevista, o autor fala sobre o rótulo de “escrita nativa”. Como vamos definir quem é nativo ou não? Há, no contexto das literaturas aborígines australianas, o caso célebre de Colin Johnson (Mudrooroo) que, após uma vida escrevendo como um aborígine, sobre personagens e questões intrínsecas a essa identidade, descobriu que, em verdade, não possuía sangue aborígine. Para evitar as armadilhas de porcentagens sanguíneas e restrições temáticas, o melhor parece ser alinharmo-nos a King quando diz que se sente confortável em falar sobre uma literatura nativa sem tentar defini-la (Lutz, 1991: 108). O autor nativo será aquele que assim se identificar, aquele que apresentar em seu texto evidências dessa identificação.

Uma última questão é pertinente: o que é uma “literatura” indígena? É claro que as populações indígenas vêm se expressando de maneiras criativas e com qualidades estéticas desde o início dos tempos. Isso se revela nas canções, na oratória e no storytelling indígena. Já não é mais estranho falar de literaturas orais, oralitura e termos afins e, sabemos, muitas dessas produções indígenas mencionadas se encaixariam perfeitamente dentro do termo. No entanto, a proposta desta dissertação é estudar um ponto de hibridação, o momento em que as formas de expressão indígenas se encontraram com os conceitos ocidentais de literatura. É por isso que os textos escolhidos para o corpus são obras contemporâneas, escritas e com autores individualizados, dentro do conceito ocidental clássico de literatura. Isso não é de maneira alguma diminuir a importância das produções tradicionais coletivas, mas uma forma de manter o foco do trabalho.

Além disso, todos os autores de nosso corpus têm consciência de encontrarem-se em um entre-lugar, e afirmam que, embora o contato nem sempre seja fácil ou pacífico, não é mais possível ou desejável que se empreenda um retorno ao passado, reafirmando uma identidade de raiz. De acordo com os autores, como veremos, os povos indígenas americanos têm por característica uma abertura ao Outro a qual, através da busca de equilíbrio entre os aportes tradicional indígena e ocidental, resulta em uma identidade rizomática, marcada por uma eterna reconfiguração.

Com o interesse de investigar esse produto novo e fascinante, fruto das negociações transculturadoras que ocorrem já há mais de meio milênio, procuramos trabalhar com textos que explicitamente discordam de termos como "descoberta" e "Novo Mundo", apresentando leituras alternativas da História. Mas como delimitar um corpus tão grande, tendo em vista que, como dissemos, todos os autores da "literatura indígena" com que decidimos trabalhar são, em grande medida, frutos desse processo de hibridação?

No Brasil, a escolha foi pautada, em primeiro lugar, pela visibilidade atingida pelos autores, mas também pelo fato de estes serem alguns dos poucos autores indígenas brasileiros que se dirigem explicitamente a um público adulto. Trabalharemos com os textos Metade Cara, Metade Máscara e Todas as vezes que dissemos adeus, de, respectivamente, Eliane Potiguara e Kaká Werá Jecupé. Estes são, ao lado de Daniel Munduruku, os autores que alcançaram maior expressão em nosso país, trabalhando sempre com a identidade indígena e suas complexificações contemporâneas.

No contexto canadense, a escolha de apenas duas obras se fez extremamente difícil, visto que a quantidade de autores em circulação é muito maior, acumulando um volume impressionante de obras publicadas. Dentre os diversos critérios de escolha possíveis, optamos por trabalhar com os autores que receberam maior atenção de editoras, público e crítica. Essa instância tríplice levou à escolha de Thomas King (1943-) e Tomson Highway (1951-). O primeiro, por seu trabalho multidisciplinar que entrecruza constantemente fotografia, literatura, cinema e rádio, é inegavelmente o mais popular dos autores indígenas norte-americanos. Com um humor irônico e transgressor, King desfaz fronteiras, recolocando-as em um terreno instável e mutante.

Entre suas obras, escolhemos Green Grass, Running Water, romance que, a partir da reescritura de histórias bíblicas, questiona a história dos começos. A obra de Highway é também de extrema importância no contexto canadense, sendo não raro apresentada como iniciadora de um movimento literário indígena no país. Ao contrário dos Estados Unidos, onde há uma tradição forte de romances, o Canadá teve sua literatura indígena em foco a partir do conjunto de peças de Tomson Highway, as quais trazem ao primeiro plano a vida na reserva. Foi apenas em 1998 que o autor escreveu seu primeiro (e até o momento único) romance, Kiss of the Fur Queen. Para além da expressividade e significação do autor no histórico da Literatura Indígena Canadense, o romance nos pareceu de extrema valia para o presente estudo, visto que lida com o momento fulcral do encontro entre a tradição oral indígena e a escola católica em língua inglesa. Em seu romance, Highway toma como base a experiência vivida por ele e seu irmão René desde as residential schools até o momento de equilíbrio entre a tradição e o novo aporte cultural, em uma defesa da hibridação como meio de sobrevivência.
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continua...
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Fontes:
Flávia Carpes Westphalen. Survivance: A Sobrevivência nas Literaturas Indígenas do Canadá e do Brasil. (Dissertação de Mestrado em Literatura Comparada). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.

Teatralização do Conto Venha Ver o Por do Sol


A teatralização do conto de LYGIA FAGUNDES TELLES, a cargo de alunos do Colégio Dante Alighieri, será a grande atração da próxima quinta-feira, dia 21 de outubro, às 18,30 horas, na ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, Largo do Arouche, 312.

Venha assistir a esse espetáculo, que contará com a presença de LYGIA FAGUNDES TELLES, que também falará aos presentes como surgiu esse conto, um dos mais clássicos em sua obra.

Entrada franca.

Fonte:
Academia Paulista de Letras

Programa São Paulo: um Estado de leitores (inscrições abertas até 20 de outubro)

A Fundação Volkswagem, em parceria com o Cenpec e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, por meio do Programa São Paulo: um Estado de leitores, oferecerá três novas turmas de formação nos projetos Entre na Roda - Curso de Formação de Orientadores de Leitura (infantil e fundamental) e Brincar - O brinquedo e a brincadeira na infância. Serão oferecidas 120 vagas ao todo.

Ambos os cursos são gratuitos e direcionados a educadores, professores, bibliotecários, ssistentes de biblioteca, contadores de histórias e demais profissionais que estejam desenvolvendo projetos nas áreas de educação e cultura para a comunidade.

Os cursos terão início em 2011 e são estruturados em 8 módulos de 8 horas cada, uma vez por mês, com encontros realizados às segundas-feiras no Museu da Língua Portuguesa ou na Biblioteca de São Paulo.

A seguir seguem as apresentações do Entre na Roda e do Brincar e a ficha de inscrição pode ser obtida AQUI.

As inscrições devem ser realizadas, impreterivelmente, até o dia 20/10.

Qualquer dúvida, pedimos que entre em contato com o Programa São Paulo: um Estado de leitores, por meio dos e-mail: contato.spel@poiesis.org.br ou ainda pelo telefone 11 3331-5549
––––––––––––––––––––

São Paulo, 04 de outubro de 2010.

Srs. Gestores de Educação

Buscando somar esforços para a melhoria da qualidade e o fortalecimento da educação pública, a Fundação Volkswagen, o Cenpec – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária e a Secretaria de Cultura do Estado de SP – agradecem sua presença e dão as boas-vindas a vocês pela participação nesse evento de apresentação dos Projetos Entre na Roda e Brincar, que constitue o Programa Território Escola.

O objetivo desse encontro é fornecer informações sobre o Projeto e sobre o processo de adesão ao mesmo, tendo em vista a iniciativa da Fundação Volkswagen em estabelecer novas parcerias para a turma de formação em 2011.

Agradecemos sua participação,
Conceição A. Mirandola
Diretora de Administração e Relações Institucionais
Fundação Volkswagen
Claudia Maria Michelucci Petri
Gerente de Projetos Locais
Cenpec
Frederico Tavares Bastos Barbosa
Diretor Executivo
Organização Social de Cultura POIESIS

Entre na Roda: leitura na escola e na comunidade

Forma orientadores de leitura (mediadores) para que atuem na escola e na comunidade, estimulando o gosto pela leitura e desenvolvendo as capacidades leitoras de crianças, jovens e adultos.

Objetivos:

• Formar educadores e voluntários da comunidade para desenvolver rodas de leitura.

• Estimular o prazer pela leitura e ampliar capacidades leitoras por meio
do trabalho sistemático com diferentes portadores e gêneros textuais.

• Ampliar o universo cultural de crianças, jovens e adultos.

• Fortalecer a parceria entre unidades educacionais e comunidade, na perspectiva da educação integral.

• Conhecer e valorizar a cultura local.

Público alvo:

Educadores, gestores educacionais, bibliotecários, agentes sociais e voluntários da comunidade que atuem com crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Modalidades:

• Entre na roda Infantil: para educadores e voluntários que atuam com crianças menores

• Entre na roda Fundamental - para educadores e voluntários que atuam com crianças maiores, adolescentes, jovens e adultos

Conteúdos:

Entre na roda Infantil:
• Organização de tempos e espaços para o trabalho com leitura
• A criança pequena diante do livro
• Livros e histórias
• Poesia
• Textos informativos
• Compartilhando experiências

Entre na roda Fundamental:
• Apresentação do Projeto
• Narrativas curtas: textos da tradição oral e crônicas
• Contos clássicos e modernos
• Romance, novela e texto teatral
• Poesia
• Jornal, textos jornalísticos
• Textos de divulgação científica

Duração:

1(um) ano

Material:

• Para o participante: kit com material de apoio às formações.

• Para a escola/instituição participante: 1(um) baú com acervo de literatura infantil ou infanto-juvenil.

Estrutura do Projeto:

Formação:
• 64 horas de formação presencial: 8 encontros de 8 horas cada realizados ao longo do ano.

• 16 horas de formação não presencial - para estudos, tarefas e coleta de dados.

A formação poderá ser:
• por representação

• Visitas de acompanhamento:
4 visitas do formador à instituições envolvidas para observação e orientação.

Brincar: O brinquedo e a brincadeira na infância

O que é:

Projeto desenvolvido pelo Cenpec, por iniciativa da Fundação Volkswagen.

Projeto de formação de educadores e voluntários que atuam com crianças para que aprimorem suas práticas com relação ao desenvolvimento de atividade lúdicas, expressivas e recreativas com as crianças.

Tem como princípio o reconhecimento de que brincar é um direito da criança e que cumpre um papel decisivo no seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. É uma forma de linguagem e uma rica possibilidade que a criança tem de integrar-se ao grupo com que convive, podendo desenvolver sua identidade pessoal e cultural.

Procura enriquecer a prática dos educadores, ampliando repertório de brincadeiras, instigando reflexão sobre o seu significado para as crianças e para os adolescentes, sobre questões culturais e valores. Propõe pensar sobre tempos e espaços relacionados ao brincar e sobre os critérios para escolha de acervo de brinquedos.

Contribui para a educação integral, uma vez que forma profissionais e voluntários para que entendam o brincar na infância como um dos fatores principais para o desenvolvimento integral do educando, pois desenvolve o corpo, as relações sociais, os aspectos cognitivos e afetivos. Também oferece repertório para o desenvolvimento de ações dentro e fora de instituições educacionais e incentiva a articulação entre unidades educacionais de educação formal, outros espaços e instituições de seu entorno e a comunidade.

Objetivos:

Objetivos gerais

• Favorecer o conhecimento e a reflexão sobre a cultura da infância;

• Proporcionar espaços de formação e reflexão sobre a infância e o brincar;

• Sensibilizar o olhar e enriquecer o conhecimento teórico e a prática dos adultos que atuam com crianças em diferentes espaços.

Objetivos específicos

• Promover o reconhecimento e a valorização do brincar como direito da criança;

• Fomentar a ampliação dos conhecimentos sobre a infância, o brincar e o desenvolvimento infantil;

• Fomentar a ampliação dos tempos e espaços destinados à brincadeira;

• Propiciar a ampliação de repertório de brincadeiras com referência da cultura popular e cultura da infância;

• Promover a reflexão sobre a importância da articulação entre as diferentes instituições de atendimento à criança e destas com as famílias;

• Conhecer as brincadeiras do universo cultural das diferentes territorialidades;

• Difundir as brincadeiras, reconhecendo-as como expressão da diversidade cultural.

Público alvo:

Educadores que trabalham direta ou indiretamente com crianças: professores de creches, EMEI ou primeiras séries do ensino fundamental, gestores de escola, gestores de secretarias de educação, voluntários, educadores de outras instituições.

Conteúdos:

• Memória de infância
• Cultura da infância
• Desenvolvimento infantil
• O espaço e o tempo da brincadeira
• O uso de diferentes linguagens expressivas no trabalho com crianças
• Vivências de brincadeiras da cultura infantil
• Construção de brinquedos com sucatas
• Relações adultos/crianças e criança/criança
• Brincadeiras de rua, quintal e quadra
• Acervo de brinquedos e jogos
• A brincadeira de faz-de-conta
• A brincadeira da criança de 0 a 3 anos

Estrutura do Projeto

Formação:

• 64 horas de formação presencial - 8 encontros de 8 horas realizados ao longo do ano.
• 16 horas de formação não presencial - para estudos, tarefas e coleta de dados.

A formação poderá ser:
• Por representação

Visitas de acompanhamento:
• 4 visitas do formador às instituições envolvidas para observação e orientação.

Prêmios:
Prêmio Criança 2008 – Fundação Abrinq.
Prêmio Ludicidade/Pontinhos de Cultura – 2008 – Ministério da Cultura.

Administrativo - Normas e Procedimentos
Processo de assinatura do Termo de Parceria e Compromisso com Municípios 2010

Para agilizar o processo de assinaturas do TERMO DE PARCERIA E COMPROMISSO que será firmado entre Fundação Volkswagen, CENPEC, POIESIS e Município/Entidade, informamos abaixo algumas normas e procedimentos.

Primeiro passo

Assim que houver a confirmação por parte da Fundação VW, CENPEC e POIESIS dos Municípios/Entidades escolhidos, já poderemos firmar a parceria por meio do Termo.

Até 18/10/2010

O Município deverá encaminhar um e-mail para a Fundação VW (janaina.domingos@volkswagen.com.br) , Cenpec (liliane@cenpec.org.br) e POIESIS (contato.spel@poiesis.org.br) com a indicação da pessoa que cuidará de todo o processo. Dados necessários: nome, telefones, e-mail e endereço.

Processo de Seleção: 18/10 a 05/11/2010

Resultado dos municípios escolhidos: 08/11/2010

Confirmação da Participação: 12/11/2010

Até 06/12/2010
A Fundação VW encaminhará, via e-mail, a minuta do Termo.

Até 17/12/2010
O Município deverá informar a Fundação VW, caso haja necessidade de alteração de cláusulas ou envio de documentos. Se não houver necessidade, o município estará autorizado a imprimir 3 (três) vias do TERMO, colher as assinaturas e devolver, via correio, para a Fundação Volkswagen.

Contatos e endereço da Fundação Volkswagen
Janaina Domingos
E-mail: janaina.domingos@volkswagen.com.br
Fone: (11) 4347-2547 – das 08 às 17hs
Fax: (11) 4347-2874
Fundação Volkswagen
Via Anchieta km 23,5 CPI 1394
Bairro Demarchi - São Bernardo do Campo - SP
CEP 09823-901

05/01/2011
Prazo final para devolução do TERMO assinado pelo Município. O envio deverá ser via correio.

Até 15/01/2011
A Fundação VW providenciará a assinatura dos seus representantes e encaminhará para o CENPEC.

Até 30/01/2011
O Cenpec providenciará a assinatura dos seus representantes e encaminhará para a POIESIS.

Até 15/02/2011
A POIESIS providenciará a assinatura dos seus representantes e encaminhará para a Fundação Volkswagen.

Até 28/02/2011
A Fundação Volkswagen encaminhará, pelo correio, 1 via assinada para controle e arquivo do Município/Entidade.

Contamos com o comprometimento de todos durante o processo, sendo que ficaremos à disposição para negociar qualquer exceção que se fizer necessária.

É importante ressaltar que caso o TERMO não esteja assinado até o 2º encontro de formação, a Fundação Volkswagen suspenderá a participação do representante do município até a regularização da assinatura.

Informamos que esse procedimento foi estabelecido para que não tenhamos problemas com a Auditoria da Fundação Volkswagen.

Obrigada.
Janaina Domingos
Coordenadora Administrativa
E-N Fundação Volkswagen
Via Anchieta km 23,5 CPI: 1394
Bairro Demarchi - São Bernardo do Campo - SP
CEP: 09823-901Fone +55 (11) 4347-2547
Fax +55 (11) 4347-2874
janaina.domingos@volkswagen.com.br
http://www.vw.com.br/
Semeando para um futuro melhor
!

Luis Guimarães Junior (Poemas Escolhidos)


NOITE TROPICAL

Desceu a calma noite irradiante
Sobre a floresta e os vales semeados:
Já ninguém ouve os cantos prolongados
Do negro escravo, estúpido e arquejante.

Dorme a fazenda: — apenas hesitante
A voz do cão, em uivos assustados,
Corta o silêncio, e vai nos descampados
Perder-se como um grito agonizante.

Rompe o luar, ensangüentado e informe,
Brotam fantasmas da savana nua ...
E, de repente, um berro desconforme

Parte da mata em que o luar flutua,
E a onça, abrindo a rubra fauce enorme,
Geme na sombra, contemplando a lua.

Sonetos e rimas (1880)

JAGUAR

Rosna o fulvo jaguar, triste e dormente,
No seio da floresta: — a fera inteira
Dobra à velhice, e a névoa derradeira
Cobre-lhe a fauce lívida e impotente.

O imundo inseto, a mosca impertinente
Zumbe-lhe em torno; — a cobra traiçoeira
Fere-lhe a cauda inerte, e a aventureira
Formiga morde-o calma e indiferente.

Apenas quebra o sono funerário
Do velho herói o grito, entre as folhagens,
Do cordeiro medroso e solitário;

Ou, através das tropicais aragens,
O tropel afastado, intenso e vário
D'um rebanho de búfalos selvagens.

Sonetos e rimas (1880)

“O CORAÇÃO QUE BATE NESTE PEITO”

o coração que bate neste peito,
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito;

Quando eu cair, enfim, morto e desfeito,
Quando a hora soar lugubremente
Do repouso·final, — tranqüilo e crente
Irá sonhar no derradeiro leito.

E quando um dia fores comovida
— Branca visão que entre os sepulcros erra —
Visitar minha fúnebre guarida,

O coração, que toda em si te encerra,
Sentindo-te chegar, mulher querida,
Palpitará de amor dentro da terra.

Sonetos e rimas (1880)

PAISAGEM

O dia frouxo e lânguido declina
Da Ave-Maria às doces badaladas;
Em surdo enxame as auras perfumadas
Sobem do vale e descem da colina.

A juriti saudosa o colo inclina
Gemendo entre as paineiras afastadas;
E além nas pardas serras elevadas
Vê-se da Lua a curva purpurina.

O rebanho e os pastores caminhando
Por entre as altas matas, lentamente,
Voltam do pasto num tranqüilo bando;

Suspira o rio tépido e plangente,
E pelo rio as vozes afinando,
As lavadeiras cantam tristemente

Sonetos e rimas (1880)

FORA DA BARRA

Adeus! Adeus! Nas cerrações perdida
Vejo-te apenas, Guanabara altiva...
- Varella. - Ao Rio de Janeiro.

Já vamos longe... Os morros benfazejos
Metem na bruma os cimos alterosos...
Ventos da tarde, ventos lacrimosos,
Vós sois da Pátria os derradeiros beijos!

As alvas plagas, os profundos brejos,
Ficam além, além! Adeus, gostosos
Tormentos do passado! Adeus, oh gozos!
Adeus, oh velhos e infantis desejos!

Na fugitiva luz do sol poente
Vai se apagando - ao longe - tristemente
Do Corcovado a majestosa serra:

O mar parece todo um só gemido...
E eu mal sustenho o coração partido,
Oh terra de meus pais! Oh minha terra!
1873.

A VOZ DAS ÁRVORES

Enquanto os meus olhares flutuavam,
Seguindo os vôos da erradia mente,
Sob a odorosa cúpula fremente
Dos bosques - onde os ventos sussurravam,

Ouvi falar. As árvores falavam:
A secular mangueira fielmente
Repetia-me a rir o idílio ardente
Que dois noivos, à tarde, lhe contavam;

A palmeira narrava-me a inocência
De um brando e mútuo amor, - sonho que veste
Dos loiros anos a feliz demência;

Ouvi o cedro, - o coqueiral agreste,
Mas, excedia a todas a eloqüência
Duma que não falava: - era o cipreste.

PAULO E VIRGÍNIA

Fomos um dia alegres, estouvados,
Ao clarão matinal do sol nascente,
Colher as flores do vergel ridente
E as primeiras amoras dos cercados.

Risonhos, venturosos, namorados,
Cada qual mais feliz e mais contente,
Esquecemos a terra inteiramente:
Doidos de amor, de gozo embriagados.

Seus cabelos - enquanto ela corria,
Voavam, loiros com a luz, dispersos!
Eu a chamava e ela me fugia.

Por fim voltamos - em prazer imersos:
E das venturas todas desse dia...
Resta a saudade que inspirou meus versos.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior (1847 - 1898)


Luís Caetano Guimarães Júnior, diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17 de fevereiro de 1847, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 20 de maio de 1898. Foi um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira nº 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.

Era filho de Luís Caetano Pereira Guimarães, português, e de Albina de Moura, brasileira. (Há uma divergência na data de seu nascimento: Sílvio Romero indica o ano de 44; outras fontes registram 1847. A filha do poeta, D. Iracema Guimarães Vilela, forneceu a Múcio Leão a data de 45.) Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro. Aos dezesseis anos escreveu o romance Lírio branco, dedicado a Machado de Assis. Partiu para São Paulo, a fim de continuar os estudos preparatórios, e lá recebeu uma carta de Machado de Assis animando-o a prosseguir na carreira das letras. Fez o curso de Direito no Recife entre 1864 e 1869. Ali assistiu ao desenvolvimento da "escola condoreira", em que tomou parte mais ou menos diretamente. Continuou a escrever, multiplicando-se no jornalismo e escrevendo livros de contos, comédias e poesias.

Aos 28 anos, apaixonado por Cecília Canongia, cogitou de se casar. Sua situação no jornalismo e nas letras, embora brilhante, não lhe proporcionava os meios para viver estavelmente. O poeta e amigo Pedro Luís, então ministro dos Negócios Estrangeiros, oferece-lhe um lugar na diplomacia como secretário de Legação em Londres. De 1873 a 1894, passou por vários outros postos, em Santiago do Chile, em Roma, onde serviu sob as ordens de Gonçalves de Magalhães, e em Lisboa; foi, depois, como enviado extraordinário, para Veneza. Em 1894, transferiu-se, já aposentado, para Lisboa, onde veio a falecer.

Em Lisboa, como secretário de Legação, teve ocasião de conhecer alguns dos mais ilustres espíritos do tempo. Foi amigo de Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida. Distinguia-se como poeta e como homem do mundo. Ramalho Ortigão assim o definiu: "Como poeta, ele é um primeiro adido à legação da elegância... O seu estilo tem um lavor de renda, uma suavidade de veludo e um fresco perfume de toilette." Tinha predileção pelas cidades da arte e do pensamento. O poeta celebra Londres, celebra Roma. Mais que tudo, porém, recorda o seu país.

Suas principais obras são Corimbos e Sonetos e rimas. O primeiro representa a fase em que vivia no Brasil (1862 a 1872); o outro, o período em que residiu na Europa. A apreciação de críticos e estudiosos como Vicente de Carvalho, Medeiros e Albuquerque e Carlos de Laet, foi de pleno reconhecimento da poesia de Luís Guimarães Júnior.

Seus sonetos revelam um grande apuro da forma, combinações métricas finas e sutis, e o gosto pelos motivos exóticos que ele pôde sentir e observar em suas peregrinações por terras estrangeiras. Romântico de inspiração, mas já dentro da orientação parnasiana, ele foi, no apuro da expressão, um precursor da poesia de Raimundo Correia, Bilac e Alberto de Oliveira.

Obras:
Lírio branco, romance (1862); Uma cena contemporânea, teatro (1862); Corimbos, poesia (1866); A família agulha, romance (1870); Noturnos, poesia (1872); Filigranas, ficção (1872); Sonetos e rimas, poesia (1880); Teatro: As quedas fatais; André Vidal; As jóias indiscretas; Um pequeno demônio; O caminho mais curto; Os amores que passam; Valentina; A alma do outro mundo (1913).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Alfredo Brasílio De Araújo (Livro de Trovas)


Do galho mirando a água
do riacho que desliza
um sabiá canta em mágoa
vendo um rio que agoniza...

O mar tem lá suas manhas,
faz saltos ornamentais
tenta galgar as montanhas
e beijar Minas Gerais...

Eu descobri contrafeito,
felicidade tardia...
eras o sol do meu peito
que se apagava...eu não via...

Amor é suave presença
que uma ausência não desfaz
quanto mais nele se pensa,
mais presente ele se faz...

Deixo a chave na cancela,
iludo meu coração...
sonhador à espera que ela
retornando a encontre à mão...

Uma boquinha sugando
o seio da mãe querida,
é uma vida festejando
com vinho branco outra vida...

Ela surgiu de repente
na minha vida vazia...
como estrela, lentamente,
fugiu à luz do meu dia...

Num dilúvio de paixão,
despreparados os dois,
vimos nossa embarcação
naufragar logo depois...

Para sempre tu serás
meu trigo, minha videira,
meu alimento de paz,
que colhi a vida inteira...

Tanta graça, santo Deus,
essa menina me passa,
que ao olhar nos olhos seus
os meus se cobrem de graça...

Fonte:
UBT Nacional

sábado, 16 de outubro de 2010

Daniel Mundukuru (Do Fundo do Mundo pro Mundo de Cima)


Contam os velhos que, no antigo tempo da criação do mundo, Karú-Sakaibê fez as montanhas e as rochas soprando em penas fincadas no chão. Foi ele também que criou os rios, as árvores, os bichos do céu, das águas e da terra – e também criou o homem.

Karú-Sakaibê, o grande criador, ao perceber que o povo que ele tinha criado para enfeitar a terra e cuidar de toda a sua obra estava brigando muito, decidiu voltar e lembrá-lo de como havia sido trazido lá do fundo da terra.

Assim contam os velhos sobre a vinda dos Munduruku pro mundo de cima:

Karú-Sakaibê, andava pelo mundo sempre com seu amigo fiel, Rairu, que embora fosse muito poderoso, gostava de brincar e se divertir. Um dia, Rairu fez um tatu com folhas, galhos e cipós. Ficou tão igual ao tatu de verdade que Rairu resolveu cobri-lo com uma resina feita de mel de abelha pra que ele nunca desaparecesse. Pra que a resina secasse, Rairu enterrou o tatu e deixou apenas o rabo de fora. Mas, ao tentar tirar sua mão, viu que ela tinha ficado grudada no rabo do tatu!

Como era poderoso, Rairu deu vida à imagem de tatu que, em vez de sair do buraco, foi se enterrando cada vez mais, cada vez mais, levando com ele Rairu, preso ao rabo. O tatu foi cavando cada vez mais fundo, cada vez mais fundo... Quando chegou ao fundo do fundo do mundo, Rairu viu muita gente, gente de tudo quanto era jeito: bonita, feia, boa, má, preguiçosa... Rairu ficou tão impressionado que decidiu voltar rapidamente pro mundo de cima e contar tudo pra Karú-Sakaibê, que já devia estar preocupado com seu sumiço.

Karú-Sakaibê ficou tão bravo com seu amigo que bateu nele com um pedaço de pau. Rairu, pra se defender, falou da aventura ao centro da terra e das gentes que viu por lá.

Karú resolveu então trazer toda essa gente pro mundo de cima. Começou a fazer uma pelota e a enrolá-la na mão. Depois, jogou a pelota no chão. Imediatamente, nasceu um pé de algodão. Karú colheu o algodão e com ele fez uma corda que amarrou na cintura de Rairu, ordenando-lhe que fosse ao centro da terra buscar as gentes que viu por lá.

Rairu desceu pelo buraco do tatu. Lá embaixo, reuniu todas as gentes e falou das maravilhas do mundo de cima, convencendo todos a subir pela corda. Os primeiros que subiram foram os feios e os preguiçosos, pois achavam que iam encontrar comida com muita facilidade e nunca mais precisariam trabalhar. Depois subiram os bonitos. Mas quando eles estavam quase chegando lá em cima, a corda arrebentou e muita gente bonita caiu no buraco e ficou pra sempre lá embaixo, no fundo da terra.

Como era muita gente, Karú-Sakaibê resolveu diferenciar cada povo, pintando uns de verde, outros de vermelho, outros de amarelo e outros de preto. Mas enquanto Karú pintava um por um, os feios e preguiçosos caíram no sono.

Isso fez com que Karú ficasse muito bravo. E o grande criador resolveu transformá-los em passarinhos, porcos-do-mato, borboletas, bichos-preguiça e outros bichos da floresta.

Mas, aos que não eram preguiçosos, ele disse:

- Vocês serão o começo de novos tempos e seus filhos e os filhos dos seus filhos serão valentes e fortes.

E deu-lhes um presente: preparou um campo, semeou e mandou chuva pra regá-lo. E assim que a chuva caiu, nasceram a mandioca, o milho, o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que até hoje alimentam essa gente.

Contam os velhos que foi assim que Karú-Sakaibê transformou a grande nação Munduruku num povo forte, valente e poderoso.

Fonte:
Munduruku, Daniel. Contos indígenas brasileiros. 2ª ed. São Paulo: Global; 2005. Versão: Roda de Histórias Indígenas

Daniel Munduruku (Literatura Indígena e o Tênue Fio entre Escrita e Oralidade)


A escrita é uma conquista recente para a maioria dos 230 povos indígenas que habitam nosso país desde tempos imemoriais. Detentores que são de um conhecimento ancestral aprendido pelos sons das palavras dos avôs e avós antigos estes povos sempre priorizaram a fala, a palavra, a oralidade como instrumento de transmissão da tradição obrigando as novas gerações a exercitarem a memória, guardiã das histórias vividas e criadas.

A memória é, pois, ao mesmo tempo passado e presente que se encontram para atualizar os repertórios e encontrar novos sentidos que se perpetuarão em novos rituais que abrigarão elementos novos num circular movimento repetido à exaustão ao longo de sua história.

Assim estes povos traziam consigo a memória ancestral. Essa harmônica tranqüilidade foi, no entanto, alcançada pelo braço forte dos invasores: caçadores de riquezas e de almas. Passaram por cima da memória e foram escrevendo no corpo dos vencidos uma história de dor e sofrimento. Muitos dos atingidos pela gana destruidora tiveram que ocultar-se sob outras identidades para serem confundidos com os dasvalidos da sorte e assim poderem sobreviver. Estes se tornaram sem-terras, sem-teto, sem-história, sem-humanidade. Estes tiveram que aceitar a dura realidade dos sem-memória, gente das cidades que precisa guardar nos livros seu medo do esquecimento.

Por outro lado – e graças ao sacrifício dos primeiros – outro grupo pode manter sua memória tradicional e continuar sua vida com mais segurança e garantia. Estes povos foram contatados um pouco mais tarde quando os invasores chegaram à Amazônia e tentaram conquista-la como já haviam feito em outras regiões. Tiveram menos sorte, mas também ali fizeram relativo estrago nas culturas locais e as tornaram dependentes dos vícios trazidos de outras terras. Foram enfraquecidos pela bebida, entorpecidos pela divindade cristã e envergonhados em sua dignidade e humanidade.

Estes povos – uns e outros – estão vivos. Suas memórias ancestrais ainda estão fortes, mas ainda têm de enfrentar uma realidade mais dura que de seus antepassados. Uma realidade que precisa ser entendida e enfrentada. Isso não se faz mais com um enfrentamento bélico, mas através do domínio da tecnologia que a cidade possui. Ela é tão fundamental para a sobrevivência física quanto para a manutenção da memória ancestral.

Claro está que se estes povos fizeram apenas a “tradução” da sociedade ocidental para seu repertório mítico, correrão o risco de ceder “ao canto da sereia” e abandonar a vida que tão gloriosamente lutaram para manter. É preciso interpretar. É preciso conhecer. É preciso se tornar conhecido. É preciso escrever – mesmo com tintas do sangue – a história que foi tantas vezes negada.

A escrita é uma técnica. É preciso dominar esta técnica com perfeição para poder utiliza-la a favor da gente indígena. Técnica não é negação do que se é. Ao contrário, é afirmação de competência. É demonstração de capacidade de transformar a memória em identidade, pois ela reafirma o Ser na medida em que precisa adentrar no universo mítico para dar-se a conhecer ao outro.

O papel da literatura indígena é, portanto, ser portadora da boa noticia do (re)encontro. Ela não destrói a memória na medida em que a reforça e acrescenta ao repertorio tradicional outros acontecimentos e fatos que atualizam o pensar ancestral.

Há um fio muito tênue entre oralidade e escrita, disso não se duvida. Alguns querem transformar este fio numa ruptura. Prefiro pensar numa complementação. Não se pode achar que a memória não se atualiza. É preciso notar que ela – a memória – está buscando dominar novas tecnologias para se manter viva. A escrita é uma dessas técnicas, mas há também o vídeo, o museu, os festivais, as apresentações culturais, a internet com suas variantes, o rádio e a TV. Ninguém duvida que cada uma delas é importante, mas poucos são capazes de perceber que é também uma forma contemporânea de a cultura ancestral se mostrar viva e fundamental para os dias atuais.
Pensar a Literatura Indígena é pensar no movimento que a memória faz para apreender as possibilidades de mover-se num tempo que a nega e que nega os povos que a afirmam. A escrita indígena é a afirmação da oralidade. Por isso atrevo-me a dizer como a poeta indígena Potiguara Graça Graúna:

Ao escrever,
dou conta da minha ancestralidade;
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo.

Diversidade e riqueza cultural

O Brasil é detentor de uma riqueza cultural muito expressiva quando falamos das populações indígenas. São reconhecidos atualmente 230 povos diferentes habitando todos os estados brasileiros com exceção do Piauí. São faladas 180 línguas e dialetos divididos em troncos, famílias e línguas isoladas.

Segundo o IBGE existem cerca de 750 mil indígenas por todo o Brasil e a situação de cada povo é peculiar com relação ao tempo de contato, situação fundiária, atendimento às necessidades básicas.

A Funai acredita que ainda haja entre 30 e 50 grupos indígenas considerados isolados do contato com a sociedade brasileira.

As principais dificuldades que enfrentam estão ligadas à terra, mas hoje há uma crescente demanda por cursos superiores e projetos de economia autosustentável.
A literatura indígena é um fenômeno relativamente recente, mas já é possível identificar vários autores com projeção nacional e internacional. Alguns livros já fazem parte de acervos de bibliotecas internacionais.

Alguns autores com destaque nacional e internacional:
Daniel Munduruku, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Kaká Werá Jekupé, Kanátyo Paraxó, Ailton Krenak.

Fonte:
http://www.rodadehistoriasindigenas.com.br/historias/literatura_indigena.pdf

Héber Sales (Livro de Poesias)


A FELICIDADE

é tão delicado
quanto cuidar de um pedaço de céu

estar de acordo com o ar
o fogo
a água da estação

e não tocar a terra
com ambição

A COLHEITA

guardar a palavra
que apenas a brisa conhece

ser por montanhas apascentado

quando a fruta madura estiver
um vale
sem esforço algum
a recolherá

LIVRE

o céu e a terra
não riem
não choram
com a chegada e a partida
de cada estação:

ser triste ou feliz
é pequeno demais

BOA SORTE

Já é outono por aqui. O céu
está a todo tempo encoberto.
Tem chovido muito. A casa
a praia andam cheias de sono
e à noite há sempre as pessoas
que buscam em vão as estrelas.

Mas eu hoje cedo, bem de manhã
acordei com a algazarra dos cães.
Lá fora os jasmins floresciam
a lembrança de outra estação.

O SENTIDO

Há rastros do silêncio
nas palavras, eu sinto
o predador informe
que nos respira -

uma selvageria me percorre.

Eu adivinho o êxtase
da refrega, o verso
que me acomete de vertigens

o olhar imponderável
da mais antiga fera.

* Releitura do poema publicado na Diversos Afins de novembro/2007.

O VELHO LIMOEIRO

À chuva bastou apenas
cuidar de um verde para a manhã.
O dia está de ave desde o arrebol.

O palavrário eu pus no quarador
para ver se pega cor de riso.
As horas, para ensaiar felicidade.

Em dias assim, o velho limoeiro
se toma um pouco mais de azul
acaba arremedando estrelas.
----------




Geraldo Lima (Zezão)



A figura atravessou a ponte e veio no rumo de casa. Menos que um homem visto assim mais de perto: um espantalho, um bicho.

Corremos pra dentro de casa. De lá, espiando pela greta da janela o ser desgrenhado especado ali no terreiro. Nosso pai veio lá do curral e se aproximou dele. Com certa alegria, a voz do nosso pai: Ora, mas se não é o Zezão de guerra! Quem é vivo sempre aparece... Abrimos então a janela: ali, à nossa frente, no ser maltrapilho, a lendária figura de Zezão. Com quantas festas acabara? Havia roubado a mulher de quem? Duas mortes nas costas, nenhum peso na consciência.

Louco. Andara pelas estradas e pelos ermos. Nos campos, entre o gado, roendo coco e chupando ingá — João Batista, no deserto, sobrevivendo com quase nada. Noção nenhuma de vida e morte. De cócoras, quase nu diante da nossa casa. Por pudor, as mulheres lá na cozinha. Em troca da roupa limpa, a mão suja estendida cheia de coco indaiá. Um quase sorriso em meio à barba cerrada. Ruína de dentes. Tudo o que lhe restara: o silêncio e uma generosidade insana.
––––––––––––––––
Sobre o Autor
Geraldo Lima nasceu em Planaltina, GO. Professor e escritor, é autor dos livros A noite dos vagalumes (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Cultural, FCDF), Baque (contos, LGE Editora/FAC), Nuvem muda a todo instante (infantil, LGE Editora) e UM (romance, LGE Editora/FAC). É um dos colunistas do site O Bule

Fonte:
http://diversos-afins.blogspot.com/

Revista Cultural Eletrônica da Diversos Afins


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Ativa desde junho de 2006.

Contos, Poesias, Entrevistas.

Editores: Fabrí­cio Brandão & Leila Andrade

Entrelinhas

Desengavetando expressões, um mundo novo de caras e formas ganha corpo aos olhos e sentidos daqueles que devoram bem mais do que a si mesmos. Seja em palavras, imagens e outros tantos signos, a cultura fascina por suas proporções ilimitadas. Entre caminhos e palavras, a vida pulsa nas revelações urgentes da alma.
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Extraído da primeira postagem

Eis que aparece um projeto tão esperado por mim. Depois de algum tempo, consigo pôr em prática um espaço de publicações onde a palavra se faz mestra. E o Diversos Afins surge em meio às febres das enxurradas de textos diversos e soltos pela grande rede. Nasce com vontade própria e deseja caminhar por entre as gentes. A proposta principal é a de deixar marcadas as impressões e vestígios deixados pela cultura em nosso imaginário. Falo nosso, porque este baú de artefatos mil não é apenas meu, mas um porto onde quem quiser chegar e ancorar suas idéias, desde já, sinta-se abraçado. Saudações aos nossos leitores e colaboradores!

Fabrício Brandão


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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.20)


Trova do Dia

Um ditado muito certo
- e dos mais inteligentes -:
Mais vale um amigo perto
que dez parentes ausentes!
HÉRON PATRÍCIO/SP

Trova Potiguar

Casar, ainda que seja
a busca de ser feliz,
nasce nos braços da igreja
morre nos pés do juiz...
HELIODORO MORAIS/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Ribeirão Preto/SP
Tema > SUFOCO > Menção Honrosa

Que lua-de-mel aquela!
Faltou luz, foi um sufoco:
a noiva queria vela
e o noivo só tinha um toco...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG

Uma Trova de Ademar

Pra “namorar”, numa boa,
sem Viagra ou injeção,
não basta ser um coroa...
Tem que ser um cinquentão!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Alto lá, diz a franguinha
para o frangão maltrapilho:
- eu não vou sair da “linha”
- em troca de um grão de milho.
P. DE PETRUS/RJ

Estrofe do Dia

Hoje em dia estou sofrendo
procuro e ninguém me quer,
sem carinho de mulher
já estou esmorecendo,
só porque não tô fazendo
o que eu sempre fazia,
ovo que a galinha espia,
se não deitar ele gora;
do jeito que eu tô agora
se ela voltasse eu queria.
ZÉ CARDOSO/RN

Soneto do Dia

Glauco Mattoso/SP
SONETO MALOCATÁRIO

Soneto é um apertado apartamento
num vasto condomínio de inquilinos.
A mesma planta e vários seus destinos:
um drama urbano em cada pavimento.

Dois quartos, pouca luz e muito vento,
que podem ser alcovas ou cassinos,
paróquias parcas, clubes clandestinos,
abrigo do autor brega ou do briguento.

Agora virou zona, mas um dia
foi casa de família e regra tinha:
conversa só começa se o pai pia.

Além da comezinha escrivaninha,
só tem privada, cama, mesa e pia.
Sem sala, o papo acaba na cozinha.

Fonte:
Ademar Macedo

Ponto de Leitura no Maurílio Biagi, de Ribeirão Preto (Programação de domingo 17 de outubro)


Programação reunirá diversas atividades culturais, em comemoração ao dia Nacional do Poeta e do Livro

O Instituto do Livro, grupo Amigos da Fotografia e Secretaria Municipal da Cultura organizaram diversas atrações, envolvendo fotografia e leitura, para este domingo, dia 17, no Ponto de Leitura, localizado no Parque Ecológico Maurílio Biagi. Com a participação do cordelista Nilton Manoel, realizando a leitura de cordel e presenteando leitores com Trovas da Juventude, será comemorando o Dia Nacional do Poeta e Dia do Livro.

Durante o encontro, será lançado o livro "O Passado manda lembranças III", do Grupo Amigos da Fotografia. Após o sucesso dos lançamentos dos dois primeiros volumes, o livro reunirá mais 75 fotos antigas e 75 recentes, clicadas por dezenas de fotógrafos do grupo no decorrer do ano de 2009, acompanhadas de versos do poeta Antonio Carlos Tórtoro e legendas da escritora Fernanda Ripamonte.

Enquanto isso, uma equipe do Grupo Amigos da Fotografia estará fotografando meninas, jovens e mulheres, presentes ao evento, com roupas antigas, e que poderão levar, em CD, suas respectivas fotos como lembrança. Já a Tenda dos Contadores de Histórias está preparada para levar muitas histórias infantis às crianças, com o acompanhamento de monitoras Cassiana de Freitas e Adriana Paim.

Doação - Na oportunidade, o orientador do Colégio Anchieta, Antonio Tórtoro, entregará oficialmente, ao presidente do Instituto do Livro, Edwaldo Arantes, exemplares do livro “30 anos de Boa Educação”, composto por poemas de 40 alunos do Anchieta.

Fonte:
Nilton Manoel

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.19)


Trova do Dia

Depois que desce a cortina,
quando o amor desata os laços,
não é um show que termina...
é a vida feita em pedaços
MARISA VIEIRA OLIVAES/RS

Trova Potiguar

A menina seminua,
presa, disse ao detetive:
– eu não me queixo da rua,
mas do lar que nunca tive!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

1990 > Sete Lagoas/MG
Tema > CASCATA > Menção Honrosa

A cascata em que se espelha
resplandecente beleza,
é o rio que se ajoelha
ante o altar da Natureza!
DIVENEI BOSELI/SP

Uma Poesia livre

João Batista Xavier/SP
CARÍCIAS

As nossas mãos nem se tocam...
e os olhos trocam dardos deslizantes
percorrendo nas veias lavas
e em nossos corpos leves
o suor lânguido, sereno.
A seda dos dedos nos envolvem
paulatina e ternamente
e os olhos cerrados e errantes
dizem-se nos pensamentos
os anseios fugazes então calados.
A eternidade do momento
paira nas carícias dadivosas
e a súplica intempestiva
delineia nossas peles, nossos nervos,
nossos atos e recatos.

Uma Trova de Ademar

Na cruz, Jesus quase exangue,
mesmo assim ele sentia
escorrer gotas de sangue
no manto azul de Maria.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Não sei porque, quando canto,
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto
que vem do meu coração.
ADELMAR TAVARES/PE

Estrofe do Dia

Já plantei minha semente
no roseiral da saudade,
já gozei a mocidade
nessa vida inconseqüente,
deixei de ser imprudente
amando quem não devia,
arranquei a alegria
no calabouço da dor;
onde se planta uma flor
nasce um pé de poesia.
HÉLIO CRISANTO/RN

Soneto do Dia

Diamantino Ferreira/RJ
UMA DÁDIVA DE AMOR.

Passei a minha vida, entre percalços,
tão só pela desdita de haver-te amado.
Corri o mundo afora, transtornado,
buscando outros amores: porém, falsos!

Decênios já passaram; mas, em vão,
ninguém achei que te lembrasse a imagem,
ou que ao menos trouxessem de passagem,
um lampejo de ti, meu coração!

E se nós, um de nós, talvez errados,
culpa dos molestos já passados
já não nos cabe, agora, pesquisar.

A minha dor, no entanto, apenas quero
e no seu fundo, amor! Eu te assevero:
eu vou morrer, te amando sem cessar!...

Fonte:
O Autor

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Projeto 4 em 1) numero 2

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)
RUMO DA VIDA

Tirei o traço na trena,
Toquei fogo na fornalha,
Saí de foco, de cena,
Rezei com fé a novena,
Dei flores pra namorada...

Afinei minha viola,
Recitei o meu poema
Confessei o meu dilema,
Pra vida eu nem dei bola.
Fugi cedo da escola
E o filme da minha vida
Projetei no meu cinema...

Arrumei as minhas tralhas,
Fiquei perdido na trilha,
Refugiei-me na ilha
Desse mundo de ilusão.
Doei pra você todinho
O meu pobre coração!

José Antonio Jacob (Juiz de Fora/MG)
ALMINHA

Desperto, pois que o sol já está lá fora,
E ainda zonzo de sono e de esperança,
Deixo pular pela janela afora
A minha inquieta alminha de criança.

Que corre alegre, rodopia e trança
Entre o florado que a manhã decora,
Depois, como uma folha, vai embora
Seguindo a brisa que na tarde avança.

Não se descuide minha alminha boa
Que vai anoitecer, (a tarde é breve!)
O sol logo declina e o tempo voa!...

E, antes que o dia, ao alto, se deforme,
Ela retorna dócil, meiga e leve,
E acomoda-se, no meu colo, e dorme...

Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior (1847 / 1898)
VISITA À CASA PATERNA

Como a ave que volta ao ninho antigo
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, olhou-me grave terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.

Pedro Emílio (São Fidélis/RJ)
Planta um beijo em meu Jardim
meu amor, quando te fores,
que ao ver teu beijo florir
murcharão as outras flores!

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Nilto Maciel (Aquela Dor no Peito)

Charles James Lewis. Mulher lendo à janela (1830)
Após o almoço, costumo ler. Sempre as novidades. Deixo os clássicos para a noite. Desde ontem folheio o novo livro de Wilson Gorj: Prometo ser breve. Mas nunca leio numa tarde um livro todo. Não por preguiça. Prefiro ler aos goles: vou à copa, beberico umas gotas d’água, caminho pela casa, volto ao assento, reabro o volume. E assim passo uma hora.

Esse sossego, no entanto, é quase todo dia quebrado. Vez por outra, sou despertado pelos telefones – esses objetos quase totêmicos para muitos de nós. Oferecem planos de saúde e morte súbita, automóveis voadores, viagens aos confins do mundo (nosso, meu). Invento histórias terríveis, para me livrar desses vendedores de ilusões: ontem meu filho (não tenho filho) caiu do segundo andar; assaltaram minha casa e me levaram quase tudo.

Também os carteiros – esses portadores de cobranças bancárias – me chamam à realidade. Há, ainda, os vendedores de frutas e verduras, em carrinhos puxados a mão. Gritam, na calçada: Olha o limão verde, freguesa. Hoje tem abacaxi doce.

Às vezes, minha tranquilidade é roubada por jovens leitores. E eu muito me regozijo com esse roubo. Como se me levassem a angústia toda que me cose os retalhos da tarde.

Hoje recebi a visita da estudante Jéssica Morais. Quer ser escritora. Mostrou-me uns poeminhas. Como soube de mim? Buscava poesia na Internet e terminou encontrando meu nome. Deve ter sido no Jornal de Poesia, de Soares Feitosa. Na primeira mensagem escreveu: “Li umas poesias do senhor e gostei muito”. Foram mais de dez comunicações, minhas e dela. Na mais recente, se encheu de coragem: “Quero muito conhecer o senhor. Nunca vi um escritor de perto”.

Com vergonha de falar de mim, perguntei-lhe se conhecia Dante, Camões, Shakespeare. Sim, tinha lido um “resumo” da Divina Comédia, uns sonetos do luso, Romeu e Julieta. Como não sou conhecedor deles, temi meter-me numa enrascada dos diabos e decepcionar a garota. Preferi falar dos novos escritores: “Você conhece Wilson Gorj?” Não, não conhecia. Lembrou-se de Gorki. E falou de Dostoiévski, Gogol, Tolstói, Tchekhov. Fiquei embasbacado. Como esses jovens sabem de tudo!

Abri o livrinho do moço de Aparecida (nasceu em 1977, ano em que a revista O Saco se findou e me mudei para Brasília) e li em voz alta: “Wilson Gorj é um dos expoentes da nanoliteratura.” São palavras de Cairo Trindade, na apresentação do volume. Jéssica me interrompeu: “O que é nanoliteratura?”

As epígrafes de Wilson são do mestre inglês: uma de A tragédia do Rei Ricardo II, outra de Hamlet. O livro é dividido em “Microcontos” (38 narrativas curtíssimas, numeradas e sem títulos, e outras com títulos), “Reinações no reino da palavra” (algumas de uma linha, sem título; outras com título) e “Doses homeopoéticas” (todas com título, algumas mais longas: quatro, cinco, seis linhas).

A tarde morria. Lembrei-me de Castro Alves: “A tarde morria! Nas águas barrentas / As sombras das margens deitavam-se longas” (...). Minha sede aumentava. Meu medo passava, escorria para o quarto, calava-se debaixo da cama. “Quer ouvir algum continho do Gorj?” Eu não esperava resposta tão áspera: “Prefiro Homero, mas gosto do mesmo modo desses meninos de hoje”.

Li o primeiro: “O carro era zerado. Mas a namorada... Como era rodada!” Olhei para a cara dela. Fazia careta. Mas uma careta tão engraçada, tão bonita, que tive ímpetos de beijá-la. Contive-me. Não estou mais na idade desses arroubos. “Parece piada”. Ri, envergonhado. “Ouça este, então: ‘Aquele teria sido o sono mais longo de sua vida. Não tivesse acordado a sete palmos debaixo da terra’. Jéssica sorriu: “Este é bem melhor. O senhor não acha?” Irritei-me: “Por que você me trata assim, menina?” Ela se mostrou surpresa: “Porque o senhor me lembra meu avô”. Que pirralha mais atrevida! Tive até vontade de lhe dar umas palmadas. “Leia outro”. Li, agastado: “Perdeu a fé nos homens. Desde então se devota às mulheres”. O título é “Padre”. Riu, sem querer me ofender. De propósito, continuei a leitura e passei ao igualmente brevíssimo “Ondas”: ‘Teu corpo, praia deserta. Minha língua, o mar’. Ela entendeu tudo: “Esse Wilson Gorj é bem criativo”. Concordei com ela. E li uma frase de Mayrant Gallo, nas abas do livro: “E, se tudo é brincadeira, é preciso lembrar que, freudianamente, não existe brincadeira”.

Sedento, ofereci água à menina. Enquanto sorvia o líquido, ela vasculhava a pequena biblioteca da sala. Súbito, me pediu, por empréstimo, os dois volumes dos contos reunidos de Moreira Campos. Saciado, não pude dizer não. Afinal, literatura é entrega.

Ao se despedir, disse, rindo: “Enfim, consegui realizar mais um sonho: conhecer um escritor pessoalmente”. Dei-lhe um beijo na testa e, sem saber o que dizer, balbuciei: “Moreira Campos é o nosso Tchekhov.” Ela saiu, muito séria e faceira. Voltei ao livro de Wilson Gorj: “Aquela dor no peito, quem dera fosse poesia... Mas era crônica”.

Fortaleza, 8 de outubro de 2010.

Fonte:
Colaboração do Autor. Disponível em seu blog: http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/