Segunda das cinco cronicas vencedoras do V Concurso Literário “Cidade de Maringá” (Cronicas Vencedoras) Troféu Laurentino Gomes.
ÉLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
(Caçapava/SP)
PEQUENA E DOCE CRÔNICA
(Caçapava/SP)
PEQUENA E DOCE CRÔNICA
A sua despensa era o seu “celeiro”.
Ali ela guardava ovos de suas adoradas galinhas, as quais batizava: Branquinha, Dengosa, Gorda, Andeja e por aí afora. Estocava o feijão mulatinho da última safra, o arroz vermelho, socado no pilão, a farinha de trigo integral, as frutas do pomar... Ah! E os potes de geléia e vidros de conserva e a ardida e deliciosa pimenta dedo-de-moça... e os doces cristalizados e a goiabada cascão... e os queijos e manteiga...
Aquele celeiro de provisões e guloseimas era o orgulho de minha mãe. Era parte de seu doce mundo.
Quando chegava uma visita inesperada, ela me chamava:
- Querida, vá até o “celeiro” e traga queijo, geléia, manteiga, que eu já vou aprontar um café para a nossa amiga. E também, traga broinhas de fubá e caramelos para as crianças...
A mesa do café ficava um sonho só, com a toalha branca, de linho bordada, herança da vovó, e com os guardanapos ao lado das xícaras de porcelana. Era uma festa para os olhos e paladares.
Nós morávamos na roça, mas... cultura vem do berço, e aqueles requint3es todos acariciavam a alma de mamãe e de todos nós, filhos e marido.
Aquela mesa era o carinho concretizado de seu espírito sensível.
Quando ela se foi, com ela se foi o “celeiro”.
Ninguém continuou a tradição porque os tempos são outros...
A fazendo foi vendida, os filhos partiram e papai mora comigo.
Eu lhes conto, porém, um segredo: ele, o celeiro, se transferiu para o meu peito, e aí está sempre repleto de doces sabores, de olores suaves e da presença etérea e eterna de uma adorável quituteira.
O “celeiro” e ela vivem aqui, em cores, em meio às demais lembranças, em branco e preto.
Fonte:
AGULHON, Olga. PALMA, Eliana. V Concurso Literário “Cidade de Maringá”. Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.
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