quinta-feira, 19 de junho de 2008

Heloísa Seixas (Assombração)

Clara deu uma risada nervosa quando ouviu a insistência de Clarice ao telefone:

— Eles fazem questão de que você vá. Querem que você conheça o sítio mal-assombrado.

— Mas... você tem certeza de que vai ter lugar para todo mundo? — indagou. Sabia que Clarice iria com os dois filhos. Ela mesma teria de levar seu menino, pois o ex-marido estaria viajando no fim de semana. Contando com os donos do sítio e mais um casal convidado, que ia com o filho adolescente, seriam ao todo dez pessoas. — Talvez fosse melhor nós irmos num fim de semana em que eles não tenham outros convidados — argumentou.

— Não seja boba, Clara. Tem lugar, sim. Senão eles não teriam insistido tanto. Não adianta vir com desculpas. O que há? Está com medo?

— Claro que não! Você sabe muito bem que eu não acredito nessas coisas — retrucou.

Não, não era medo. Sentia uma inquietação. Sim, estava inquieta, tinha de admitir. Como se pressentisse a aproximação de um perigo. Mas sabia que isso era uma bobagem. O que poderia haver, afinal? Seu filho, Pedro, de sete anos, estava louco para ir. E ela própria ficara curiosa com as histórias de fantasmas.

Vinha ouvindo as tais histórias havia meses, desde que conhecera Clarice. Os olhos castanhos da amiga brilhavam de excitação quando ela as contava.

Clarice. Era engraçado pensar que só a conhecia havia... quantos meses? Junho, julho, agosto, setembro. Quatro. Só quatro meses. Sentia como se fossem amigas de infância. As crianças também. Pedro e os dois meninos se entendiam e desentendiam como irmãos. E de certa forma o eram. Pelo menos Pedro e Paulo. Os dois, o filho de Clara e o filho mais novo de Clarice, haviam nascido na mesma época, com uma diferença de apenas dois dias. Nada demais, não fosse por um detalhe, descoberto por acaso: um dia em que Clarice aparecera com a certidão de nascimento de Paulo, as duas viram, com grande surpresa, que o nome da testemunha no documento era do ex-marido de Clara, pai de Pedrinho. Como é de praxe em cartórios, os pais que estão na fila do registro assinam como testemunhas uns dos outros. A coincidência engraçada era que os ex-maridos de Clara e Clarice tivessem ido ao mesmo cartório, no mesmo dia e na mesma hora para registrar os filhos, sete anos antes de elas duas se conhecerem.

Clara sorri, lembrando-se do espanto de Clarice ao fazer a descoberta. Sempre tão engraçada, tão alegre, Clarice prendia a atenção de todos onde chegava. Era uma mulher bonita, de cabelos. muito negros, pele morena aveludada como a superfície de um pêssego, olhos de um castanho líquido que pareciam a todo momento umedecer seus longos cHios. Uma pessoa tão doce... Pena que se metesse em tantas loucuras. A própria Clarice lhe contava suas aventuras, suas noites de bebedeiras e drogas, a sucessão interminável de namorados, como se quisesse se vingar dos dez anos de casamento que tanto a haviam atormentado. Errava pelos bares à noite em companhia de pessoas que pareciam dispostas apenas a sugá-la, aproveitando-se de sua bondade, gravitando em torno dela como vampiros sedentos. Bebia demais e quanto mais se misturava àquela gente mais compulsiva se tornava. Drogava-se com freqüência, às vezes mesmo subindo morros com os companheiros de noitada, em busca de droga. Clara temia por ela, pelas crianças. Procurava dar-lhe conselhos, mas de nada adiantava. Havia nela, naquela mulher tão delicada, uma poderosa sede de autodestruição, que a subjugava. O tal casal dono do sítio mal-assombrado era talvez um dos poucos de seu círculo de amigos, além da própria Clara, que não vivia metido em loucuras.

O sítio. O sítio mal-assombrado. Ia afinal conhecê-lo. Clarice falava tanto nele... Clara não podia negar que estava curiosa. Outro dia, num jantar em casa de amigos comuns, o sítio mal-assombrado fora o assunto da noite. Clara lembrava-se bem. Todos falavam com naturalidade dos fantasmas, parecendo mesmo divertir-se com a situação. Ninguém tinha medo. Clara tampouco. Na verdade ouvia aquilo com grande dose de incredulidade. Mas sentira uma sensação desagradável ao ouvir dos donos do sítio a explicação para tanta assombração: segundo eles, o antigo dono do lugar se suicidara lá, enforcando-se junto a uma bela cachoeira existente dentro da propriedade.

Clara arrepiara-se ao ouvir aquilo. Tinha horror a enforcamentos. Desde muito pequena, quando ouvia na escola as histórias de Tiradentes, fixava na professora os olhinhos muito abertos, sentindo um nó na garganta, como se uma invisível corda ali lhe apertasse. Perguntara ao casal como eles tinham ficado sabendo daquilo. Por intermédio dos próprios herdeiros, de quem haviam comprado a propriedade, disseram. Clara engolira em seco.

Eram muitas, as histórias. Todos ou quase todos os amigos do casal que já haviam passado dias no sítio tinham um caso para contar. Um rapaz, de nome Caio, relatara que certa vez vira uma mulher agachada chorando num canto da sala. Ia passando distraído quando dera com ela. Voltara-se para olhar uma segunda vez, a fim de se certificar do que estava vendo, e ela já havia desaparecido. Alguém perguntou se ele não tinha bebido muito naquela noite e ele teve de admitir que sim. Todos riram.

Outra amiga relatara sua experiência, dizendo ter acordado no meio da noite com um infernal barulho de pratos e panelas na cozinha. Como muitas pessoas estavam hospedadas no sítio naquele fim de semana, levantara-se furiosa pensando em reclamar com a turma que fazia o barulhento lanche da madrugada — e ao chegar ao fim do corredor se deparara com a cozinha silenciosa e vazia.

Havia também o caso do suspiro. Este se dera com Pablito, rapaz solteiro e mulherengo que era velho freqüentador dos fins de semana assombrados. Na ocasião, ainda se vangloriava de ser um dos poucos que jamais tinham visto uma alma penada na casa. Certa noite, já estava deitado sozinho no quarto, com as luzes apagadas, quando ouvira, a seu lado na cama de casal, um suspiro. Um suspiro profundo e sentido, um suspiro de mulher. Logo imaginara que alguma das moças hospedadas na casa fora refugiar-se a seu lado. Levantara-se, intrigado. Fora, às apalpadelas, até a parede junto à porta em busca do interruptor, já que o abajur estava sem lâmpada. Acendera a luz. A cama estava vazia. E no mesmo instante ele se lembrara, sentindo-se gelar da cabeça aos pés, de que havia trancado a porta por dentro antes de se deitar. Desde então nunca mais duvidara das histórias de assombração.

Clara ouvira aquelas histórias com curiosidade mas, por um motivo ou por outro, fora adiando a ida ao sítio. Agora, ao que parecia, chegara a hora. Tempo de enfrentar os fantasmas, pensou, com um sorriso de incredulidade. Dali a três dias.


Já lhe tinham dito que o sítio era um local belíssimo, encravado num vale em meio a montanhas, mas Clara se surpreendeu. Que lugar! Assim que os carros deixaram a Rio-Petrópolis, tomando à direita um caminhozinho de terra, todo esburacado, ela sentiu como se penetrassem um mundo intocado pelo homem. O caminho de terra, que só dava passagem para um carro de cada vez, cortava a mata fechada, com cipós pendurados. Nas margens, tapetes de marias-sem-vergonha e no ar um cheiro penetrante de folhas apodrecidas.

Era úmido ali. A mata quase se fechava sobre a estradinha e, como ainda havia muita névoa, o caminho se tornava mais sombrio. Fazia frio, muito frio. Fecharam as janelas. Vidros embaçados, mal se enxergava o caminho à frente e os três carros seguiam devagar, pelo chão de barro escorregadio. Risadas nervosas cortavam o silêncio.

De repente, Clara viu surgir o vale à sua frente, deslumbrante. Era um descampado cheio de sol, cercado de montanhas sombrias por todos os lados. A trilha úmida terminava de repente, desembocando em toda aquela luminosidade que quase cegou.

Saltaram. A casa, daquelas antigas, com varandões em arco e janelas pintadas de azul colonial, ficava a um canto, junto a um imenso flamboyant. À frente, estendia-se o gramado, salpicado por troncos com bromélias e alguns arbustos. Era um vale descarnado em meio às montanhas cobertas por mata fechada, num lindo contraste.

— Não parece uma casa mal-assombrada — comentou Clara.

Clarice sorriu, sem nada dizer. E a amiga do casal, mãe do adolescente, dando de ombros:

— De noite é que vamos saber.

A primeira coisa que fizeram, depois de deixar a bagagem nos quartos, foi sair para conhecer a cachoeira, o lugar mais bonito do sítio, pelo que todos diziam.

Do lado esquerdo da casa, havia uma pequena trilha na mata que levava até lá. Um caminho menos sombreado do que a estrada de carro. Ali, a luminosidade penetrava pelo trançado das folhas. Junto à trilha, grandes touceiras de colônias, lírios e xaxins formavam a vegetação.

À medida que caminhavam, Clara sentia como se a mata os envolvesse, com seus cheiros de flores e terra úmida, seus murmúrios e zumbidos que se fundiam em uníssono, como uma respiração. Caminharam assim durante algum tempo, até que começaram a ouvir o som das águas. Chegavam ao fim da trilha. A pequena clareira, ornada pelas pedras do regato, foi o ponto onde todos pararam, hipnotizados pela beleza do lugar. A cachoeira era um santuário. Um fio d'água se despejando sobre um laguinho verde-escuro, pequeno e gelado, como um cenário de cinema. Era tudo tão perfeito, tão harmônico e bonito, que o primeiro pensamento de Clara foi que era difícil entender como alguém podia se matar num lugar assim. Arrepiou-se ao pensar nisso.

Ficou por um tempo sentada sobre uma pedra limosa, olhando toda aquela beleza. Depois tomou coragem e mergulhou na água cor de esmeralda. Tão gelada que sentiu vontade de rir e chorar. Começou a nadar para se aquecer. Nadou em direção à queda-d'água. Quando já sentia os respingos gelados sobre sua cabeça, parou de nadar e olhou para cima. A água parecia fumaça de gelo seco. E os respingos que lhe caíam no rosto produziam uma sensação de choque na pele. Ficou assim por uns segundos, tentando manter os olhos abertos apesar da água que caía com força.

Foi quando sentiu a tontura. Uma tontura tão forte que precisou se segurar na parede de pedra para não afundar. Agarrou-se a ela, respirando fundo, os olhos arregalados, com a sensação de que ia desmaiar. Procurou acalmar-se. Sabia que não havia perigo, já estava passando. E depois todos estavam ali, nada de mal lhe poderia acontecer. Com o coração batendo forte, nadou de volta para a parte rasa.

Chegou ofegante.

— Está fora de forma, hein? — brincou alguém.

Clara deu um sorriso sem graça:

— Foi o frio.

Quando a água ia ficando cada vez mais gelada e as crianças já começavam a reclamar de fome, decidiram que era hora de voltar. Tomaram outra vez a trilha estreita, um atrás do outro, por entre as árvores. Clarice ia bem à frente de Clara, sempre brigando com o filho, Paulo, que ameaçava embrenhar-se no mato a cada instante.

De repente Clara sentiu o cheiro. Um cheiro doce e inconfundível de caju. Caju maduro, já meio pisado, quando dele escorre líquido, fazendo juntar mosquitos. Cheiro forte e gostoso, quente, que destoava da paisagem fria da montanha.

— Que engraçado... que cheiro de caju! — disse para Clarice, à sua frente.

Ouviu com nitidez a resposta dela, embora Clarice não chegasse a se virar para trás.

— É ele. Ele gostava muito de cajus.

Clara bateu no ombro da amiga.

— Ele quem?

Clarice virou-se e olhou para ela.

— O quê?

— De quem você estava falando? — insistiu Clara.

Clarice franziu a testa, com ar debochado.

— Ficou maluca, é? Do que você está falando?

— Eu estava falando sobre o cheiro de caju. E você respondeu alguma coisa sobre alguém que gosta de cajus...

Clarice olhou para ela, espantada.

— Eu? Eu não abri a boca! — disse.

E depois de uma pausa:

— ... e além do mais com o frio que faz nestas montanhas, não sei como você pode estar sentindo cheiro de caju. Um pé de caju aqui morreria congelado...

A noite chegou muito fria, mas nada assombrada. Clara sorriu ao pensar nisto. Estivera inquieta todo o dia, por causa dos acontecimentos estranhos na cachoeira, mas já quase se recuperara. A tonteira, claro, fora conseqüência do frio. Ou estômago vazio, talvez. E o comentário de Clarice... bem, com certeza se enganara, ouvira errado. Ou talvez fosse molecagem de Clarice, para testar seu medo. Sorriu. Respirou fundo. Precisava livrar-se daquele aperto no peito. O lugar era tão bonito, tudo tão agradável. Não havia razão para se sentir inquieta.

Assim que a noite caiu completamente, todos foram até a varanda olhar o céu. Um céu de planetário. Fundo negro e estrelas, estrelas, estrelas, como só é possível ver num lugar assim. E em torno das montanhas, suas sombras imensas, silenciosas. Nenhum ponto de luz na mata, nada. Nenhum vestígio do ser humano.

Depois do jantar, aquecidos por vários copos de vinho tinto, foram todos lá para fora. As crianças também, muito bem agasalhadas, pois o frio era cada vez mais cortante. Iam, por sugestão dos donos da casa, brincar de se pendurar no céu.

Estenderam cobertores no gramado em frente à casa e se deitaram, depois de apagar todas as luzes. A brincadeira consistia no seguinte: cada um devia ficar deitado, de olhos fixos no céu, e tentar imaginar que estava em cima dele, pregado em uma abóbada e vendo o infinito a seus pés. Preso ali na crosta terrestre pela força da gravidade, como no brinquedo rotor dos parques de diversão.

Clara sorria com excitação. Depois de alguns minutos imóvel ali, a sensação começou. Logo já era perfeitamente nítida. Sentia mesmo como se estivesse no alto, pendurada, grudada, com o céu lá embaixo. Era uma sensação deliciosa e surpreendente.

Até as crianças pareciam hipnotizadas pela ilusão da brincadeira. Logo descobriram que quando alguém falava a sensação se perdia. E ficaram em silêncio.

Ouviam apenas os grilos, os murmúrios da mata. Clara estremeceu com o frio, mas esforçou-se para se manter imóvel, sabendo que do contrário quebraria o encanto, perderia a sensação de euforia e domínio, de estar acima do céu, senhora do infinito.

Era impressionante o silêncio. Parecia fechar-se cada vez mais em torno dela, denso, quase palpável. Ouvia os zumbidos da mata mais e mais fortes, de novo como uma respiração, como lhe parecera na cachoeira.

Teve de repente a sensação de estar só ali, apenas ela e as estrelas na noite silenciosa. E ao redor a mata, com seu zumbido que crescia, crescia, como se... a espreitasse. Abriu muito os olhos, assaltada por um medo súbito, a nítida impressão de que ia cair. A vertigem outra vez! Isto não pode acontecer agora, não agora que está ali sozinha, pendurada na crosta da terra. Se não se agarrar com força, vai se desgrudar e despencar no infinito!

— Não!!! — Senta-se, assustada.

Todos se levantam e olham para ela.

— Ah, você estragou a brincadeira! — reclama uma das crianças.

Clara se desculpa.

— Acho que cochilei e tive um pesadelo...


Pouco depois entram. O frio já se tornara insuportável. Comentam a beleza do espetáculo, excitados ainda, como meninos saindo de um circo. Apenas Clara está quieta.

Acendem as luzes a contragosto, com pena de macular com sua presença humana aquela noite primitiva e bela. Depois, sentam-se ao redor da mesa tosca, para jogar buraco. O frio os faz beber sem parar, sorvendo em grandes goles o vinho tinto de garrafão, acre, rascante. As crianças se divertem assando na lareira batatas-doces envoltas em papel laminado, que depois comem com melado, entre gritinhos e sopros.

O tempo passa. O jogo de buraco se arrasta, entre bocejos e esfregar de olhos vermelhos. Logo as crianças começam a cochilar nos sofás ao redor da lareira. No silêncio, ouve-se o crepitar da lenha, enquanto as chamas fazem dançar as sombras projeta das na parede. O velho cuco de madeira faz seu tique-taque seco, em meio ao lento arrastar das correntes que sustentam os pesos do relógio.

Súbito, ouvem passos lá fora.

Passos de alguém correndo em volta da casa, passadas rápidas e pesadas no cimento do passeio que circunda a construção. Entreolham-se, sem nada dizer. Clara franze o rosto. Levanta-se e já se prepara para abrir a por­ ta quando a dona do sítio a retém.

— Aonde você vai?

— Ver quem está lá fora. Quem pode ser, com este frio? — indaga.

— É melhor deixar para lá, Clara. Já ouvimos isto muitas vezes. Procuramos simplesmente não dar importância. É isto. É melhor pensar que não ouvimos nada. E depois, não sei... talvez sejam os cachorros — diz a amiga.

Clara senta-se, sentindo voltar o aperto no peito, na garganta. Cachorros... Tem certeza de que eram passos humanos. Não é possível! Devem estar querendo pregar-lhe alguma peça. Olha em torno. Onde está Clarice? Teria sido ela? Clarice não estava na sala. Fora lá para dentro havia pouco e não mais voltara. Clara anuncia que está cansada, que não tem mais vontade de jogar. Levanta-se outra vez. Vai até o corredor, mas logo se detém. As portas entreabertas lhe revelam a escuridão dos quartos e um frio de medo lhe percorre a espinha. Decide entrar no banheiro, o grande banheiro de azulejos pintados, que fica à esquerda, logo no início do corredor.

Acende a luz. Olha-se no espelho que toma quase toda a parede do banheiro. Chega mais perto, olhando-se. Decide retocar o batom, pois vê que seus lábios estão cada vez mais ressequidos pelo frio. Tira do bolso o batom que traz sempre consigo e começa lentamente a fazer o desenho dos lábios. É quando vê Clarice surgir às suas costas. Sorri para ela através do espelho. Mas Clarice está séria. Tem os olhos avermelhados, olhos de quem bebeu demais. Fica ali alguns segundos, em silêncio junto à porta. Clara a encara com ar interrogativo, o bastão do batom parado no ar.

— Onde você estava?

Silêncio.

— O que houve? — insiste.

Clarice a olha com seus olhos líquidos.

— Você já sabe, não é?

Clara franze o rosto, como quem não compreende.

— Sei o quê?

Clarice sorri e leva aos lábios o copo de vinho que tem nas mãos.

— Sabe, sim — diz. E desaparece na penumbra do corredor.

Clara entra na cozinha em busca de um copo d'água, a boca subitamente seca. Encontra a dona da casa, guardando pratos. Ela percebe a inquietação de Clara e sorri com doçura:

— Você já sabe, não é?

— Já sei o quê? — Clara recua.

— A história dos cajus. Clarice não lhe contou? Ela me disse que lhe contaria.

— Ah... não, ela não me contou — Clara retruca, confusa. — Qual é a história dos... cajus?

— Clarice me falou do cheiro que você sentiu na cachoeira — diz a dona do sítio. — Não é a primeira vez que acontece, sabia? Houve outros casos. Um dia comentei com a neta dele, a que nos vendeu o sítio, e ela me disse que ele tinha verdadeira loucura por cajus. Era sua fruta preferida. Talvez seja por isso que...

— Pra mim chega! — corta Clara, com a voz alterada.

— Estou farta dessas histórias ridículas!

E sai da cozinha, batendo com força a porta atrás de si.

Na divisão dos quartos, Clara havia ficado com Pedro no cômodo ao lado de Clarice, que dormiria com os dois filhos. Só que, na hora de deitar, Pedro preferiu dormir com os outros meninos. E Clara acabou ficando com um quarto só para ela.

Não se importou. Talvez fosse até melhor, pensou, pois assim conseguiria dormir até mais tarde. Já havia recuperado seu bom humor e até pedira desculpas à dona da casa por sua irritação na cozinha. Afinal, tudo aquilo não passava de uma grande bobagem, não havia mesmo razão para se irritar.

Olhou o quarto à sua volta. Era aconchegante. Tinha cortinas de babadinhos feitas em tecido xadrez azul e branco, igual ao forro da cama. Móveis pesados, de madeira escura, assoalho de parquê desenhado, tapete de corda no chão. Sobre a penteadeira, um escovão antigo e um arranjo de flores secas, com pinhões. O abajur também tinha a cúpula quadriculada, mas logo percebeu, desapontada, que não tinha lâmpada.

Vendo a cama de casal, lembrou-se da história. Ouvira quando Pablito, o amigo dos donos do sítio, descrevera o quarto. Com certeza fora ali. Era aquele o quarto. O quarto dos suspiros. Seus olhos examinaram a cama vazia e pousaram nos travesseiros, primeiro um depois o outro, como se procurando adivinhar onde se deitara o fantasma. Mal conteve o riso nervoso ao pensar nisto. Devo ser muito impressionável mesmo, concluiu. Outra vez pensando bobagens. Encolheu os ombros e voltou a concentrar-se no abajur sem lâmpada, em dúvida sobre se valeria a pena ler com a luz de cima e depois ser obrigada a levantar-se para apagá-la. Decidiu afinal que não leria. Estava com tanto sono que não conseguiria ler mais do que duas páginas do livro.

Encostou a porta, apagou a luz e deitou-se. Logo seus olhos acostumaram-se à escuridão e ela percebeu a luminosidade que penetrava pela fresta embaixo da porta. Era a luzinha vermelha que a dona do sítio deixava acesa no corredor, para que as pessoas não se perdessem a caminho do banheiro. Sentiu um doce torpor envolvê-la. Vertigem? Suave vertigem de sonho, enredando-a pouco a pouco, como um novelo de lã, macio e quente.

Bruma, névoa. Vertigem. Suave vertigem de sonho, enredando-a pouco a pouco, como um novelo de lã, macio e quente.

Agora tudo é silêncio. Clara não se move, não pode fazê-lo. É um ser sem vontade própria, envolto pela escuridão que o acolhe. Nada vê. Mas todo seu corpo está à espreita, aguardando, pressentindo. Súbito o silêncio é rompido por um rangido de porta e Clara sente seu corpo ser golpeado pelo sopro do ar frio. Está chegando. Seu coração pára ao perceber a aproximação da presença assombrada. Ouve os passos imateriais, murmúrios, suspiros. Continua imóvel, como se a noite a atasse.

De repente, sente o toque das mãos, primeiro em seu rosto, depois descendo lentamente pelo pescoço, pelos ombros. Nos vapores da noite, o hálito espectral se aproxima, buscando-a. Continua inerte. É um sonho estranho, feito apenas de tato e cheiro. Arrepia-se, estremece. Pensa que é preciso abrir os olhos e encarar a presença assombrada, mas não o faz. Apenas se mantém à espera, imóvel e silenciosa, para que ela a possua, envolvendo-a no ectoplasma daquele amor proibido. Assombração, fantasma, espectro, fino tecido translúcido vindo de outro mundo, emergindo das sombras, para tomá-la. Tremendo de pavor e desejo, Clara se entrega.

Está agora presa na teia mágica de longos fios, cabelos de seda com cheiro de almíscar que a encobrem e rodeiam, formando a doce tenda que abrigará o beijo, afinal. Sim, o beijo. Lábios carnudos e molhados que tocam os seus, primeiro suavemente, depois com mais e mais ardor, molhando, sugando, buscando, explorando-lhe a boca, sorvendo-lhe a língua, bebendo-lhes a saliva com louca paixão.

O beijo vai agora tomando posse de todo seu corpo, sanguessuga que a percorre inteira, vencendo as formas, subjugando a matéria, acendendo-lhe, com seu sopro, imaterial, o fogo do mais louco desejo. Cada parte de seu corpo é uma cidadela que cai ante a fúria daquele beijo úmido e quente, que transforma tudo por onde passa em chama acesa. Seus seios se entregam e, mal são tomados, já seu ventre se arqueia na busca do contato com aqueles lábios que a devoram como animais selvagens. Logo toda ela é uma flor que se abre para revelar seu mais secreto perfume, essência da fenda misteriosa onde o beijo vai penetrar para sorver-lhe a alma. Aroma, néctar, pólen, mágicas poções do amor, todas as delícias que ali se escondem já não são suas, perderam-se na morna mistura de saliva que lhe inundou o ventre, torrente caudalosa que a arrebata, arrastando-a por mares e rios, arrancando as folhas das margens, tomando tudo, tudo dominando, para atirá-la no louco redemoinho do prazer, vertigem que a faz cair no infinito, tendo o céu a seus pés, como se mergulhasse num sonho dentro de um sonho.

Não, não está sonhando. Clara sabe. Sabe que já não precisa fugir, que é tudo real. E no entanto o medo cessou. Já não sente pavor ou inquietação. O cheiro doce do prazer impregnou o ar com suas essências eternas, que através dos séculos encharcam o leito dos amantes.

Clara abre os olhos.

Em meio à penumbra rosada que penetra pela porta entreaberta, ela vê o brilho dos olhos, derramando-se liquefeitos. Olhos vermelhos, como vermelha é a luz que as envolve. Olhos de Clarice. Sim, Clara sabe que não foi um sonho. Sabe que está presa na teia daquele amor de mulher, doce e proibido. Pressentira-o há tempos, lutara contra ele, fingira não vê-lo, mas agora já não pode fugir.

Está frente a frente com sua assombração.
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Sobre a autora
Heloisa Seixas (1952) é carioca. Tradutora, romancista e cronista, cursou jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Foi diretora da Rio-Gráfica editora e trabalhou na Agência de Notícias UPI. De 1990 a 1997, foi assessora de comunicação da representação da ONU no Rio de Janeiro (RJ). Sua coluna, "Contos Mínimos", mantida na revista "Domingo", do Jornal do Brasil, faz sucesso entre seus inúmeros leitores. Alguns de seus livros publicados:

Pente de Vênus - Histórias do amor assombrado (contos) 1995
A porta (romance) - 1966
Diário de Perséfone (romance) - 1998
Contos mínimos (contos) - 2001
Através do vidro (novela) - 2001
Pérolas absolutas (romance) - 2003
Sete vidas - Sete contos mínimos de gatos (contos) - 2003

Participa de diversas coletâneas, como "25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira", "Boa companhia" e "13 maneiras de amar", além da abaixo citada. Dentre os livros por ela traduzidos, destacamos "A casa do passado - Dez grandes contos de terror", "Visões da noite - Histórias de terror sarcástico" e "Depois - Sete histórias de terror e horror.
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Fonte:
"Contos de Escritoras Brasileiras", Editora Martins Fontes - São Paulo, 2003, seleção e organização de Lúcia Helena Vianna e Márcia Lígia Guidin. Disponível em
http://www.releituras.com

Educação no Mundo (1a. Parte)


ECCO, ABIAMO ARTE!
Nas escolas italianas, falar, estudar, viver a arte é muito mais do cumprir o currículo

As crianças italianas têm o privilégio de ver e tocar o que a maior parte das outras crianças do mundo só podem apreciar por meio das páginas físicas e virtuais de livros e sites. Pertinho dessa garotada estão museus, exposições, praças e monumentos que mostram as grandes obras primas dos maiores nomes da arte mundial, como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Tudo ali, ao alcance dos olhos. Basta uma curta viagem, e pronto! No início do ano letivo as escolas recebem dos museus a programação do ano, assim podemos escolher a qual queremos levar os alunos, explica a educadora Bianca Montevecchio, da escola de Ensino Fundamental Dante Alighieri, em Forli, região da Emilia-Romagna, nordeste da Itália.

E, como a arte na Itália pode ser vista em cada prédio, casa, jardim, praça... Enfim, dapertutto, todos os artistas - e não somente os mais famosos - entram no programa de estudo da criançada. Cada escola enfoca os principais artistas da região. Por exemplo, os estudantes de Florença, na Toscana, estudam os artistas daquela região, salienta Bianca. Pode parecer bairrismo, mas nao é. Acontece que cada parte da Itália tem uma história e um dialeto particular, o que muitas vezes dá a impressão que são vários países dentro de um só. Daí a importância de valorizar os artistas regionais.

Os professores têm também por interesse fazer os alunos lerem o contexto social, cultural e até econômico do período de cada obra - o que pode mudar muito de acordo com a região. Sem dizer que existe uma infinidade de grandes e maravilhosas obras espalhadas pelo país, feitas por artistas desconhecidos aos olhos do mundo, mas muito importantes para a Itália.

Uma aula especial

Na escola Dante Alighieri, a professora Silvia Bartolletti fez uma verdadeira viagem no tempo com os alunos da 2ª série. O artista escolhido foi pintor Silvestro Lega. Para fazer a turma conhecer e entender a época em que ele vivia, Silvia iniciou uma viagem ao ano de 1840, período em que o artista começou a desenvolver seus trabalhos. As crianças pesquisaram em bibliotecas e na internet quais eram os costumes das pessoas, o que vestiam, o que comiam. O enfoque da pesquisa voltou-se às mulheres e crianças, freqüentemente relatadas nas obras de Lega. Silvia também se preocupou em explicar a técnica usada por Lega e apresentou à turma aspectos da vida pessoal do artista. Quando os alunos já estavam bem familiarizados com o autor, a professora marcou o dia da visita ao museu.

As crianças gostam não somente por ser uma excursão afinal, são crianças e adoram passear - mas dá para perceber a curiosidade em cada uma. É como se elas estivessem indo encontrar Silvestro Lega em pessoa, relembra Silvia. No dia marcado, os alunos chegaram entusiasmados ao museu. Para a surpresa deles, logo na entrada, a guia que os acompanharia estava vestida como as mulheres da época de Lega - outra invenção de Silvia para tornar ainda mais atrativa a exposição.

Conforme caminhavam, a guia explicava o contexto histórico e perguntava aos alunos o que sabiam daquela época. Conversava com eles sobre a técnica e as cores mais evidentes em cada quadro. Por que Lega teria feito cada uma dessas escolhas? À frente de algumas obras, a guia pedia para que as crianças fechassem os olhos. Então, descrevia o quadro e pedia que imaginassem as danças, os sons, os cheiros e as vozes ali retratadas. É impressionante ver até onde pode ir a criatividade deles, ressalta Silvia.

O desfecho não poderia ser outro: a turma foi apresentada ao autoretrato do autor. Em seguida, a guia pediu a todos que descrevessem, por meio daquela pintura, a personalidade de Lega. As respostas foram as mais diversas e inesperadas: Bravo! Carrancudo! Um homem sério! Muito sério! Ele não teve filhos, né! Um homem fechado! Perfeccionista! Triste!.

E ali terminava a visita ao museu, mas não as atividades. De volta à escola, hora de colocar a mão na massa! Ou, mais precisamente, no pincel! Cada aluno escolheu o quadro de que mais gostou e fez sua releitura. Não uma simples reprodução, mas uma aplicação de tudo o que haviam aprendido até o momento sobre a história e a arte de Lega. Façam de conta que vocês são Lega e imaginem o que ele queria transmitir no momento em que pintava essa obra!, pediu Silvia. Segundo a professora, é notável a diferença entre a produção dos alunos antes e depois da visita ao museu.

O trabalho com a arte não é exclusivo de Silvia. A escola Dante Alighieri é arte pura. Ao entrar no pátio, é possível ver em todas as paredes as obras dos pequenos artistas. É grande a variedade de técnicas trabalhadas e as exposições são permanentes.

A REVOLUÇÃO NA SALA DE AULA
Ponto chave da Batalha de Idéias proposta por Fidel Castro, a educação é um dos pilares de sustentação da Revolução em Cuba, país que se dá ao luxo de declarar-se território livre de analfabetismo há 45 anos

Em 22 de dezembro de 1961, diante de milhares de pessoas que lotavam a Praça da Revolução, em Havana, Fidel Castro agradeceu aos 282334 voluntários cubanos responsáveis pela redução do analfabetismo na ilha a quase zero. Em um ano e dois meses, a Campanha Nacional de Alfabetização fez o índice cair de 23,6% para 3,9%, o que levou o governo da Ilha a declarar Cuba um território livre do analfabetismo.

Sem educação não há revolução nem socialismo possível, alegou Fidel na ocasião. Mais agradecidos ficaram os 707212 cidadãos que, ao final desse período, aprenderam a ler e a escrever.

Passados 45 anos, os índices cubanos mostram que, ao menos no campo da Educação, a Batalha de Idéias continua vitoriosa. Em 1981, os analfabetos em Cuba somavam 1,9% e, no início dos anos 2000, o governo local garantia que 98% das crianças freqüentavam regularmente a escola - gratuita e obrigatória até que se complete o ensino secundário, de nove anos. Um outdoor fixado numa das estradas que levam à capital escancara esse orgulho e é, certamente, objeto de inveja para visitantes: Anualmente 100 milhões de crianças no mundo precisam trabalhar para viver. Nenhuma delas é cubana.

Um ideal

Gratuito para todos os níveis desde o pré-escolar até cursos de pós-graduação -, o sistema educacional em Cuba tem seu primeiro degrau nos chamados Círculos Infantis. Esses centros abrigam as crianças com idade entre 1 e 6 anos, que têm ali o primeiro contato com a Educação formal.

Quando chega à escola, a criança deve ter recebido, além dos elementos emocionais de educação, conhecimentos preparatórios para o primeiro ano como cores, figuras geométricas e relações espaciais. O pré-escolar traz ainda conhecimento de algumas letras, explica a vice-diretora de uma escola primária em Havana, Olidia Diaz Raveiro.

Alguns entram na primeira série já sabendo ler, ainda que não saibam desenhar os traçados das letras. No ensino primário, aprendem elementos como numeração e todas as letras e terminam o ano lendo e escrevendo corretamente.

Na escola de Olidia, no bairro de Centro Havana, estudam 236 crianças entre a 1ª e a 6ª série, atendidas por 22 professores. A média de 10 alunos para cada mestre é outro número que os cubanos fazem questão de exaltar. O país conta com 250 mil professores espalhados por todos os cantos da ilha, o que lhe confere a menor densidade em sala de aula da América Latina, mais Estados Unidos.

Aqui, por mais distante que seja o lugar, há ali um mestre. Podem ser escolinhas de madeira nas montanhas, mas todas têm computadores e televisão. Nos locais onde não há corrente elétrica, painéis solares geram energia, afirma a professora Olidia, que trabalhou na escola da minúscula San Cristóbal (província de Pinar del Rio), onde costumam estudar não mais que três a quatro alunos.

Se parece um exagero, o que dizer das 164 escolas em todo o território cubano que funcionam única e exclusivamente para atender a um só aluno? O lema é: se há uma criança por perto, obrigatoriamente haverá uma escola.

Espanhol, geografia e política

Na escola de Olidia, a abertura dos portões acontece às seis da manhã. O expediente termina só depois que o último aluno sai, não importa a hora. Geralmente os pais vêm buscar entre 17h e 19h, mas sempre há alguns que têm problemas no trabalho, entende a professora.

Como a atividade docente começa às 7h50 e termina às 16h30, os professores fazem uma escala semanal para ajudar os assistentes educativos na recreação. Nessa escola de Havana, são três responsáveis pelos horários extra-classe, encarregadas da entrega dessas crianças aos pais. Enquanto não chegam, os filhos ficam brincando e fazendo atividades. Fazendo atividades significa, entre uma brincadeira de pega-pega ou um jogo de beisebol, por exemplo, disputar uma partida de xadrez ou a ler a biografia de um líder político importante, como Che Guevara ou Jose Martí, cujos bustos enfeitam a fachada do prédio.

O conhecimento político é, em Cuba, uma disciplina tão importante como Matemática ou Espanhol. Todos os dias os alunos do país inteiro repetem o mesmo ritual quando chegam à escola. O Matutino como é chamado o período de dez minutos que antecede as classes tradicionais inicia às 7h50 em ponto, com todos reunidos no pátio, em fila. Quatro ou cinco monitores alunos mais destacados de cada série percorrem as filas para verificar as presenças. A chamada não é feita individualmente, mas por turma: um ranking premia as classes com maior numero de freqüências.

Em seguida, um anúncio evidencia o regime socialista da ilha e a exaltação constante à pátria: Coletivo da escola primaria, atenção para a nossa bandeira. Um pequeno grupo marcha com o estandarte nas mãos enquanto o resto dos alunos permanece em posição de sentido e silêncio absoluto. O hasteamento acontece ao som do Hino Nacional de Cuba. Na primeira nota todos postam as mãos na cabeça numa típica saudação militar e cantam os versos com furor. Duas professoras são advertidas pelos próprios alunos por estarem conversando durante a execução de La Bayamesa homenagem à cidade de Bayamo, marco da primeira vitória das tropas mayombes que lutaram pela independência na Guerra dos Dez Anos (1868 1878).

Semanalmente, as turmas se revezam na condução da leitura e na discussão das efemérides. É uma via de caráter informativo, onde se trabalha o acontecido. O nascimento de algum mártir, alguma figura importante ou os destaques do noticiário, por exemplo. Podem compor a pauta a criação de um partido único na Venezuela, uma nova fábrica de canos nas proximidades de Havana ou os resultados da liga nacional de beisebol. O que se quer é que as próprias crianças desenvolvam as temáticas, não os professores. Assim vemos seu protagonismo, seu desempenho como cidadãos, explica Olídia.

Uma vez dentro da sala de aula, os alunos ainda têm mais dez minutos da disciplina de Informação Política, também abordando temas relevantes no cenário mundial e local.

Matemática

Às 8h começam as aulas das demais disciplinas, com duração de 45 minutos, até às 12h40, quando as crianças seguem para o refeitório. O almoço (em geral, arroz, feijão, carne e salada) é fornecido pelo governo. Entre 13h30 e 14h30, há um novo período de recreação e depois, até às 16h30, aula novamente. Para as crianças em fase de alfabetização, depois do almoço é hora de dormir.

Assim como nas Escolas Rurais, o trabalho também é incentivado na área urbana. As crianças se revezam no preparo dos alimentos, assistidos por funcionários do governo e na limpeza do refeitório, após o almoço. Uns retiram os pratos, outros limpam as mesas e os terceiros, lavam a louça.

O ano letivo em Cuba vai de setembro a julho, quando todos tiram férias de um mês. No resto do tempo, a sistemática é de uma semana de descanso para cada quatro de trabalho. Assim o curso se divide em quatro períodos, com três semanas de recesso mais as férias em julho, anota a diretora Olga Posada Fuentes.

Além da educação tradicional e do Matutino, os alunos cubanos assistem a teleclasses (aulas em vídeo complementares ao conteúdo presencial) e das atividades realizadas nos computadores, que abrangem todas as disciplinas.

A presença de especialistas em Educação Física e Computação nas escolas abre precedente para a única queixa da vice-diretora. Uma coisa que ajudaria seria contar também com músicos e artistas plásticos. Ainda que tenhamos instrutores de arte que supervisionam o conteúdo, o trabalho na aula é feito pelos professores das turmas.

Segundo Olga Posada Fuentes, a aprovação é quase total, em todos os anos, graças às aulas de apoio que os próprios professores ministram aos alunos que apresentam alguma dificuldade.

Pais e mestres

A cerimônia diária de hasteamento da bandeira é espiada pelos pais, por trás dos muros da escola. Mas a relação família-escola se fortalece nas reuniões mensais entre pais e professores. O encontro não serve tanto para abordar o comportamento das crianças em sala de aula, mas para saber de que maneira a família está interferindo na educação dos pequenos. Nos últimos encontros, por exemplo, tratou-se do tema pontualidade, algo que, se negligenciado, atrapalha a rotina escolar.

O conteúdo programático das escolas cubanas está determinado no chamado Livro Reitor, que norteia a Educação na ilha. É um programa ministerial: para todas as escolas do país, o ensino é o mesmo. Além de objetivos a serem atingidos por série, o Livro contém orientações metodológicas, não obrigatórias. Cada mestre tem sua própria maneira de ensinar, que depende da sua experiência em sala de aula, afirma Olga.

Ainda que na escola de Olidia existam professores com mais de 20 anos em sala de aula, também é função da vice-diretora monitorar as práticas didáticas que estão utilizando. Para saber como vai o processo de ensino e aprendizagem, Olidia percorre diariamente as classes, observa o comportamento de alunos e mestres. Além disso, acompanha o desempenho escolar dos estudantes, conversa com os pais e realiza reuniões com os professores. Também prepara aulas de metodologia, ministradas à noite na própria escola e freqüentadas por todo o corpo docente.

A luta continua
Encarnando o ideal Martiniano de que ser culto é o único modo de ser livre, Cuba persegue a meta de ter 100% de sua população alfabetizada. Desde 1961, quando começou a Campanha de Alfabetização, o governo se dedica especialmente a manter as taxas de escolaridade cada vez mais próximas do ideal. Para isso, em 2006, por exemplo, 19,4% do PIB foram investidos na área da Educação.

Outro projeto que completou cinco anos de atividades é a formação de Maestros Emergentes. Não satisfeito com a formação acadêmica tradicional de professores e com intuito de levar escolas a pontos cada vez mais distantes, Fidel criou grupos de estudo onde se formam docentes em menos de um ano. Qualquer pessoa que tenha segundo grau completo pode desempenhar a função.

O interessado começa a freqüentar cursos teóricos que incluem disciplinas tradicionais como Espanhol, Matemática, Historia e Geografia. Também são apresentados à metodologia de ensino e, aproximadamente em um ano, os novos docentes já estão aptos a ministrar classes. Essa fase culmina na própria escola, onde são preparados para a sala de aula. Mesmo depois que já estão inseridos no cotidiano escolar, seguem nessa atividade teórica e metodológica, para se desenvolverem ainda mais, destaca Olidia.

Olga Puentes faz questão de sublinhar a importância dessa colaboração. Na escola que dirige, dos 15 professores excluindo os especialistas três são emergentes. Mas há algumas escolas onde quase todos são dessa categoria. Nas secundárias, lembra a mestra que acumula 30 anos de experiência, a maioria tem licenciatura. Segundo a diretora, não existe discriminação entre os licenciados e os emergentes, além da evidente diferença de experiência. Esses três que tenho aqui são muito bons.

A política de formar professores emergenciais foi criada por necessidade, já que, na visão do governo cubano, o número de licenciados não alcançava a demanda. Para reverter o quadro, as escolas estão trabalhando com os próprios alunos, para que se interessem por carreiras pedagógicas. Além de um sistema parecido com o magistério brasileiro, onde estudantes do 12º ano podem optar pela licenciatura, os pequenos também são estimulados a descobrir essa vocação.

Já a partir da 4ª série, os professores estimulam na garotada o gosto pelo ensino. Em cada grau são eleitos monitores, os mais destacados em cada disciplina e a eles cabe responsabilidades como revisar tarefas e auxiliar os colegas na compreensão de algum tema. Uma vez ao mês, eles têm a oportunidade de ministrar uma aula previamente planejada com o mestre, conta Olidia. Nas séries iniciais a atividade não é obrigatória, mas se há interesse por parte do aluno, desenvolvem atividades semelhantes.

O magistério é minha vida

Sentada tranqüilamente em uma carteira ao lado do portão da escola, Sila Corona Torres cumprimenta cada aluno que chega. Atualmente está aposentada, depois de 38 anos de sala de aula. A paixão pela escola, no entanto, a fez procurar a administração, que lhe concedeu o cargo de recepcionista, para não se afastar das crianças.

Os dentes faltando indicam que a idade já avançou para a senhora, nascida em 1944, mas o tempo transcorrido não apaga de sua memória aquele ano. Em 1961, Sila Corona Torres freqüentava a escola secundaria e tinha 17 anos de idade. Não fazia parte de nenhum movimento revolucionário até então, mas conta que quando ouviu o chamado de Fidel Castro para a Campanha Nacional de Alfabetização, a vocação para a docência se despertou. Acompanhe seu depoimento:
O governo anterior não se preocupava com isso, havia muito analfabetismo, as pessoas não sabiam ler nem escrever. E graças ao Triunfo da Revolução, começamos essa campanha. A partir da chamada de Fidel Castro, muitos alfabetizadores se mobilizaram e entre eles, eu. Eu estava estudando secundário e quando veio o chamamento, me incorporei à campanha. Houve também muitos companheiros que ainda eram alunos, gente que tinha 14, 15 anos.
Muitos foram às montanhas, e os que não puderam, ficaram nos seus povoados mesmo. Porque na cidade também tinha problema de analfabetismo. Eu trabalhei com dois companheiros de um povoado chamado El Caino, no município de Havana. Marieta Pinhal, era uma mulher de 40 e poucos anos que aprendeu muito bem e Alfredo Goncalves, que tinha uns 60. Em menos de um ano, estavam alfabetizados. Eu os ensinei.

Ministrava minhas aulas nas suas casas, e vivia aqui na cidade. Porque não pude ir ao campo, por problema de saúde. Continuo vendo eles, todos os anos. O companheiro já faleceu, porque tinha 62 anos na época. Mas a companheira vive ali em Carlos III (Avenida de Centro Havana).

Conheci muita gente que foi para o campo, para a Sierra Maestra, que levaram a cabo a campanha se movendo pelas montanhas. Esses companheiros viviam na casa dos campesinos, repartiam a pouca comida que havia e dormiam em colchões no chão. Eram casinhas muito pobres e as aulas eram ministradas ali mesmo, no seio da família.

As boas lembranças são dos avanços comemorados pelos campesinos, quando já eram capazes de identificar algumas letras. Depois, as algumas palavras soltas, seus nomes. Por fim, já eram capazes de compor pequenas frases, saudações, recorda.

Senti-me muito orgulhosa depois que vi que estavam lendo e escrevendo, quando antes não sabiam nada. Esse foi o momento mais marcante. Isso foi o que me incentivou, continuei a estudar e me tornei professora, para ensinar também as crianças. Passei muito tempo dando aulas em uma escola primária durante o dia, e, pela noite, dava aulas aos campesinos que já sabiam ler e escrever algo. Quando recebi minha medalha me senti muito orgulhosa. A cerimônia foi lindíssima, num lugar muito bonito, as escadarias do Teatro Nacional de Havana, em 22 de dezembro de 61. Sinto me orgulhosa, por mim e por meus filhos, que são dois e vivem felizes por sua mãe.

Por outro lado, Sila fala das negras marcas deixadas pela perseguição aos alfabetizadores. Em um ano, muitos morreram, depois de brutalmente torturados.

Houve problemas porque havia muitos contra-revolucionários. No primeiro caso que me lembro, foram a casa de um campesino onde havia um alfabetizador, e mataram aos campesinos e ao jovem alfabetizador. Queriam interferir na campanha, mas não puderam porque todos os cubanos defenderam essa Revolução e estamos defendemos até hoje. Porque aqui em Cuba, nunca um campesino havia vivido como vive agora, eram muito mais pobres, muito mais necessitados¨.

A primeira batalha vencida, Sila segue na luta pela Educação. Acredita que hoje, os meios de aprendizagem são mais modernos, o que facilita a assimilação dos conteúdos. O próprio desenvolvimento da escolaridade contribui para a alfabetização no século XXI e para a formação cidadã.

Agora é distinto, antes a gente era analfabeta, não sabia nada. Quem sabe ler e escrever entende melhor tudo, se dá conta dos males da sociedade, sabe como ir adiante, resume.

A escola de Che

O professor Miguel de La Rosa Perez tem 48 anos de idade e há 29 vive no povoado de Manaca Ranzola, no município de Fomento, província de Sancti Spiritus. No pátio de sua casa exibe um privilégio raro entre os cubanos: a estátua em tamanho natural do argentino Che Guevara, doada por mexicanos. No mesmo lugar onde Miguel vive hoje com sua esposa, em 1958, Che instalou seu posto de comando, de onde emitiu as ordens que resultaram na rendição definitiva das tropas do ditador Fulgêncio Batista, na célebre batalha de Santa Clara a cerca de 40 km.

O casebre de alvenaria tem paredes brancas, janelas e portas em tom azul escuro. Um amplo jardim recebe os eventuais visitantes levados ao local pela curiosa homenagem a Che. Quase ninguém freqüenta aquelas ruelas de chão batido, com exceção dos 11 alunos de Miguel. No marco da porta principal da casa, pode-se ler Escuela Primaria Rural Silverio Blanco.

Auxiliado por uma jovem professora, que está concluindo o curso de docência, Miguel leciona para quatro turmas. Na 1ª série, apenas um aluno; quatro na 2ª, seis na 3ª e outros dois na 4ª. São duas salas de aula equipadas com televisão e videocassete e ainda três computadores, nos quais se fazem lições repassadas semanalmente por um técnico em informática que se desloca até o povoado. O mesmo acontece com as professoras de Educação Física e de Arte, por dois períodos semanais.

Na Escuela Silvério Blanco não há refeitório. Três dos 11 alunos sentam-se à mesa do mestre e comem a refeição preparada por sua esposa, que também é auxiliar de serviços gerais do local. Os demais alunos vão até suas casas para almoçar e retornam em seguida para o turno inverso, quando trocam os cadernos e lápis por ferramentas de jardinagem. A horta fornece legumes para o almoço e frutas para o lanche das crianças. A idéia de conhecimento aliado ao trabalho surgiu em 1966, com a criação das Escolas Rurais, onde os alunos dividem seu tempo entre os estudos e a agricultura.

Dados da Educação em Cuba
População total
11.245.000
Entre 0 e 14 anos: 2.024.100 (18%)
Entre 15 e 64 anos: 7.871.000 (70%)
Mais de 65 anos: 1.124.000 (10%)

População em idade escolar
845.922
Educação Infantil
100% matriculados
Ensino Fundamental
95% de meninas e 97% de meninos matriculados
Ensino Médio
87% de meninas e 86% de meninos matriculados

Total de escolas
Públicas
9029 primárias (6 a 11 anos)
1005 secundárias (12 a 14 anos)
Privadas
Não existem

Total de professores
90.867 em primárias
250 mil pedagogos

Alunos por sala de aula
10 (Unesco)
20 (Ministério da Educação)

Concluintes do Ensino Fundamental na idade correta 99%

Taxa de reprovação 0,1%

Taxa de evasão 0

Índice de analfabetismo
Jovens: 0
Adultos: 0,2%

Jornada diária
99,1% das crianças tem aulas em dois turnos (oito horas diárias). Nas escolas do campo, um dos turnos é destinado à tarefas da agricultura.

Formação dos professores
Cursos de licenciatura estão espalhados em todas as universidades do país. Há também os chamados Maestros Emergentes, categoria de estudantes egressos do ensino médio que realizam preparação intensiva em seis meses para lecionar. Nesse caso, os professores seguem recebendo lições dos mais experientes durante cerca de um ano. Na Educação Infantil, 16.619 são emergentes.

Piso dos professores de 1ª série
240 pesos (aproximadamente 10 dólares, valor do salário mínimo).

Investimento do Estado em Educação
19,4% do PIB

DE VOLTA ÀS TRADIÇÕES
No ano do centenário da Imigração Japonesa ao Brasil, é uma escola que recebe brasileiros no oriente que dá uma aula de respeito à diferença

A escola municipal Ishihamanishi, em Higashiura, província de Aichi, é a única em território nipônico a participar oficialmente da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil. Para seus 90 alunos brasileiros (de um total de 300), isso tem um significado bem especial. Descendentes diretos do chamado “Fenômeno Dekassegui” – que desde a década de 90 levou 300 mil descendentes de japoneses e seus familiares “de volta” ao oriente – os pequenos não precisaram dos livros para aprender o significado da palavra imigrar.

Alguns não estiveram no Brasil mais do que uma ou duas vezes. Outros alternam a vida entre os dois países. De um jeito ou de outro, assim como seus avós, tiveram de aprender a viver no meio de duas culturas. Boa parte das escolas do arquipélago não dá bola para as diferenças culturais dos estrangeiros. Atua dentro das regras próprias da educação japonesa e espera que haja uma adaptação rápida aos hábitos locais. Os que não conseguem, são deixados de lado. Vítimas de preconceito dos colegas, muitos passam a ter vergonha das origens e tentam fingir que são japoneses. Se negam a falar em português e rejeitam os pais, que são motivo de constrangimento para os filhos, por não dominar o idioma local.

Na Ishihamanishi, que oferece do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental (chamado em japonês de shoogakkoo), a história era parecida. Localizada numa área de plantações e fábricas e vizinha de um danchi (moradia do governo muito procurada por estrangeiros pelo preço acessível), o número de estudantes de outros países, sobretudo do Brasil, só aumentou desde a década de 90. Não se sabia o que fazer com eles.

Foi então que, há cinco anos, o então recém-assumido diretor Yoshiaki Koyama percebeu que era era preciso tomar uma atitude – esperava-se que os não-japoneses voltassem logo a seus países, mas a realidade se mostrava diferente. Muitos, como Luis Guilherme Higa Katayama, de aluno do 5º ano, passaram a maior parte da vida no novo país e mal sabiam como é o Brasil. “Eu só morei lá até os dois anos, não me lembro de mais nada”, diz Luís.

A primeira decisão: tratar a todos com a mesma dedicação, independentemente da origem. O novo lema foi o ponto de partida para uma série de implementações, que mudaram o cotidiano da Ishihamanishi. Duas intépretes foram contratadas, além de uma assistente de classe que fala português. Criaram-se as salas de JSL (Japanese as Second Language), com três professores de língua japonesa para ajudar quem tem dificuldades em entender o conteúdo de classe. Percebendo que muitos faltavam na aula por motivos banais – como o frio e a chuva – os professores começaram a buscar os ausentes na porta de casa, um costume que até então só era aplicado aos nativos, além de ligar para saber de notícias em caso de ausências seguidas. E todos iniciaram um trabalho conjunto para dar um basta no preconceito.

Para aproveitar o conhecimento dos brasileirinhos nos conteúdos de sala de aula e melhorar a integração com os colegas japoneses, foi elaborada uma série de atividades multiculturais para serem feitas dentro e fora de aula.

Por exemplo, na disciplina de Tarefas Domésticas, a criançada foi para a cozinha preparar comidas dos dois países. Com ajuda das mães, todos aprenderam a tradicional receita japonesa de udon – macarrão de trigo ensopado – e a nossa irresistível coxinha.

Para resgatar a história dos antepassados, os brasileiros do 6ª ano tiveram uma atividade especial. Quando a aula de Estudos Sociais abordou a Era Meiji (1868-1912), abriu-se um espaço especial para falar de Imigração. Uma avó japonesa, que tinha partido para a América do Sul e depois retornou às origens como dekassegui, contou sua história. Com base no depoimento, os alunos procuraram fotos antigas na internet e escreveram textos nas duas línguas para explicar o material. Assim, eles entenderam um pouco mais sobre a própria história e o percurso que sua família seguiu até retornar ao Japão.

Lição para os pais

“Mas só isso não adianta, pois, muitas vezes, a influência vem de casa. Se os país brasileiros têm preconceito e não gostam de japoneses – e vice-versa –, as crianças repetem o comportamento na escola”, afirma Lucia Ikenami, assistente de classe. O jeito foi pôr os adultos para aprender também. Em junho do ano passado, a escola transformou uma reunião obrigatória do ensino nipônico – em que os pais acompanham um dia dos filhos na escola – numa tremenda festa multicultural. Normalmente realizado de dia, o encontro mudou para o sábado à noite, de modo que os pais brasileiros – que trabalham até 12 horas por dia e dificilmente têm folga – pudessem participar. Depois de ver os filhos na aula, famílias das duas nacionalidades assistiram a apresentações de música verde-amarela tocada com instrumentos orientais, capoeira e taiko (tambor nipônico). Tudo com o apoio de membros da comunidade local.

As crianças parecem aprovar os esforços. “Eu gosto de tudo aqui”, diz Beatriz Komaru, da 6ª série, que só esteve duas vezes no Brasil e fala com fluência as duas línguas. Mas os desafios ainda são grandes. Escolas como a Ishihamanishi se deparam freqüentemente com problemas como o aprendizado incompleto dos dois idiomas, as mudanças excessivas de colégio por conta da troca constante de emprego dos pais, a dificuldade em se adaptar aos hábitos locais e o temido ijime, palavra em japonês para os maus-tratos sofridos dos colegas, chamado em inglês de bullying.

Neste ano, o diretor Koyama quer ampliar as atividades de integração, aproveitando que o Centenário da Imigração se aproxima. Uma delas vai levar dez alunos do colégio – entre brasileiros e japoneses – a uma cerimônia oficial em Tokyo, na qual poderão declamar uma mensagem sobre a convivência multicultural ao primeiro-ministro japonês Yasuo Fukuda e a uma comitiva do governo do Brasil. Foram as próprias crianças que se candidataram para participar – o pré-requisito era escrever uma redação sobre o Centenário (a mensagem foi feita com partes das composições). “O Brasil aceitou os japoneses há cem anos, então chegou a hora de nós mostrarmos nossa gratidão. Por isso, acho que essa data não é apenas para festividades. Os brasileiros precisam ter seus direitos como moradores do Japão, entre eles o de poder estudar e ir para a faculdade, assim como qualquer japonês”, afirma o diretor.
Dados da Educação no Japão
População total do país: 127.053.000
População em idade escolar
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 1.738.766
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil)10.823.873
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil)3.605.242

Número total de escolas no país
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 13.949
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil) 34.158
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil) 5.418
Públicas 5.595 (Infantil) 33.252 (Fundamental) 4.917 (Médio)
Privadas 8.354 (Infantil) 915 (Fundamental) 1.321 (Médio)
Total de professores
Educação Infantil (0 a 5 no Brasil) 110.393
Ensino Fundamental (6 a 14 no Brasil)665.527
Ensino Médio (15 a 17 no Brasil)251.408
Média de alunos por sala de aula 27
Porcentagem de crianças que freqüentam a Educação Infantil. 58,4%
Porcentagem de alunos que concluem o Ensino Fundamental na idade correta 100%, pois não existe reprovação no Ensino Fundamental.
Taxa de reprovação Zero.
Taxa de evasão 2,4%
Índice de analfabetismo do país 0,02%
Quantas horas as crianças ficam por dia na escola 6 horas
Formação dos professores Nível superior.
Piso dos professores de 1ª série Cerca de 3.500 reais.
Investimento do Estado em Educação 3,5% do PIB

Dados de 2005 fornecidos pelo Ministério de Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão

Fontes:
Thiago Minami (Higashiura, Japão). De volta às tradições.
Naira Hofmeister (Havana, Cuba). A Revolução na sala de aula
Vanessa Moura. Ecco, abiamo arte!
Revista Nova Escola.
http://revistaescola.abril.com.br/

Notícias em Tempo


A editora Carlini&Caniato/TantaTinta ganhou destaque na edição de junho da revista Globo Rural, pela publicação do livro “Aldeia de Minas”, dos autores César Saullo e Regis de Morais. O livro tem como tema a cidade de Passa Quatro, retratada por meio de fotos e poesias que revelam o cotidiano do interior mineiro. O prefácio do livro é do famoso escritor e psicanalista Rubem Alves. Mais informações sobre a editora pelo telefone (65)3023-5714, ou pelo site http://www.tantatinta.com.br/ .
Fonte:
http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=319399
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O Japão é um país repleto de lendas e tradições milenares. Para quase tudo o que existe lá, há uma lenda explicando sua origem. Os contos são passados de geração para geração e costumam encantar adultos e crianças.
Com as comemorações dos cem anos da imigração japonesa, o interesse pelas histórias japonesas tem aumentado no Brasil e para esse público há uma boa novidade. Semana que vem, o ilustrador da Tribuna do Paraná, jornalista, poeta e escritor Cláudio Seto estará lançando o livro Lendas trazidas pelos imigrantes do Japão. São quinze histórias ilustradas.
Lançamento de Lendas trazidas pelos Imigrantes do Japão, 26 de junho (quinta-feira), 19h30.
Livraria Curitiba do shopping Estação. Entrada gratuita.
Fonte:
http://www.parana-online.com.br/noticias/
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VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX
VI ANNUAL INTERNATIONAL OF POETRIX CONTEST
Com o objetivo de popularizar a linguagem poética POETRIX, o MIP - Movimento Internacional Poetrix promove o VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX, que será regido pelo seguinte regulamento:

REGULAMENTO

POETRIX é um poema composto de título e uma estrofe de três versos (terceto) com um máximo de trinta sílabas métricas.

Cada autor pode enviar quantos poetrix inéditos (jamais publicados nem divulgados em qualquer meio) desejar, em português, inglês, italiano ou espanhol, sobre qualquer temática.

Os trabalhos deverão ser enviados em qualquer formato, em três vias, sob pseudônimo.
Junto com os trabalhos deverá ser enviado envelope lacrado onde, externamente, constará apenas os títulos dos poetrix e o pseudônimo do autor. Internamente deverá ser informado seu nome, endereço completo, telefone, e-mail, títulos dos poetrix, pseudônimo e breve curriculum literário.

Para cada poetrix inscrito deverá ser enviada uma taxa de R$ 1,00 (um real) para o Brasil ou US$ 1,00 (um dólar) para os demais países, até o dia 30/06/2008.
Os trabalhos deverão ser enviados para:

VI CONCURSO INTERNACIONAL DE POETRIX – Caixa Postal 8622 – Ag. Shopping Itaigara – 41857-970 - Salvador – Bahia – Brasil.
[...] mais informações aqui: http://www.movimentopoetrix.com/
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Euclides Cavaco tem a subida honra de participar a todos os seus amigos e leitores a apresentação do seu novo livro HORIZONTES DA POESIA no PALÁCIO GALVEIAS, Localizado junto ao Campo Pequeno, em LISBOA, Sábado dia 14 de Junho às 19:00 horas. Com a colaboração da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS, presidido pela sua digníssima Presidente, Dra. Maria Ivone Vairinho
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EDITORIAL MINERVA (DNA), e os autores realizaram a sessão de apresentação da obra POIESIS - antologia de poesia e prosa poética portuguesa contemporânea, Vol. XVI - 58 autores*, (capa do artista plástico Luís Folgosa) no dia 14 (Sábado) de Junho de 2008 16:30 horas no AUDITÓRIO CARLOS PAREDES, Junta de Freguesia de Benfica, Avª Gomes Pereira, 17 – Benfica – Lisboa.
Apresentação dos autores e da obra pelo “animador de ideias” Ângelo Rodrigues. Todos os autores interessados tiveram a oportunidade de uma breve intervenção. Seleção e leitura de dois poemas da obra por Cristina Estrompa e von Trina. Momento musical (canções) pela ANIMATUNA de Lisboa.
Autores presentes: Alberto Pereira; Ana Sara Carvalho; Ângela Constantino; António da Conceição Penedo; Armando Mendes; Arnaldo Guedes; Carlos Barroso; Carmen Zita Ferreira; Carvalho Marques; Catarina Mouro; Cátia Alves; Débora d’Andrade; Delmar Maia Gonçalves; Emídia Salvador; Fernando Duarte Pereira; Irondina Viegas; Jeracina Gonçalves
João Aires Guerreiro; João Amendoeira; João Filipe Ferreira; João Franco; João Luís Cardoso Martins Alves; John E. Contreiras; José Branquinho; José Verdasca dos Santos; Júlia Brimbela; Leonor Bettencourt Bernardo; Lúcia Lupenny Rodrigues; Lucília Novo Quesada; Luísa Ferreira Redondo; Manuel José Caria Gonçalves; Maria Alice Peixoto; Maria Ana Silva; Maria do Céu S.; Maria Elisabete Simões; Maria Helena Dinis Prata Tomás; Maria Victória Rodrigues Pereira; Mariana Reis; Mário Cirilo Viegas; Mel de Carvalho; Nobre Serena; Pais Garcia; Penélope Ramos Chichorro Rodrigues; Piedade Araújo Sol; Roberto Tavares; Rosélia Maria Guerreiro Martins; Rute Galvão; Rute Silva; Sara Madaleno; Sara Martins; Sérgio Godunhos; Severino Moreira; Shinya Jordão; Sílvia Soares; Vanda Caetano; Vera Alexandra M. de Sousa; Vera Novo Fornelos; Yeshua
PREÂMBULO

1. E voltou a “acontecer poesia”, isto é, POIESIS – Vol. XVI, antologia que inclui também alguns autores da CPLP bem como autores portugueses residentes no estrangeiro. Sejam bem-vindos à leitura e fruição desta obra colectiva que, quer queiramos quer não, conquistou já um pequeno lugar no “panorama literário português”, seja lá isso o que for.

2. POIESIS é uma obra de continuação, consolidação, luta e resistência para um número apreciável de autores e também uma oportunidade de publicação para muitos outros; também por isso, uma parte do que aqui se encontra, são experiências literárias com óbvias diferenças técnicas, estilísticas, estéticas, intenção e sentido (...). Seria muito difícil e provavelmente inútil, desconstruir e analisar manchas criativas de tão grande e diversa subjectividade, experimentação e procura (do graal de cada um). Não vamos por aí.

3. A obra em presença resulta de uma comum paixão; não é apenas um espaço de divulgação poética e para-poética com ecletismos, “ecumenismos”, nostalgias, futurismos, diferenças, atitudes, descobertas, revelações... pretende também e mais do que tudo, aferir, “fazer-desenvolver” e facultar uma alternativa intercultural e se possível transcultural, estabelecendo um sistema global de comunicação, de crítica e debate - ser alternativa, dar expressão e sentido aos processos criativos em Língua Portuguesa.

4. E porque há coragem, sonho, amor, vontade de partilha, cumplicidades, mistérios, encantamentos, desejos..., ficou menos tímida e um pouco mais ousada, a Musa oculta e irregular que habita a espiritualidade dos homens.

5. Porque escrever é um acto de solidão e porque publicar é sempre um acto de resistência, de muita coragem e ousadia, um renovado e intenso abraço a todos os autores que - uma vez mais - tornaram possível esta outra aventura.

Ângelo Rodrigues
Coordenador literário do DNA
Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/agenda.htm
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Fonte:
Colaboração de Douglas Lara. In http://www.sorocaba.com.br/acontece

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Prêmio Literário “Notáveis Escritores do Brasil” e “Agenda 2009"


REGULAMENTO
I Premio Literário Notáveis Escritores do Brasil

1 – Categorias

O “I Premio Literário Notáveis Escritores do Brasil” estará recebendo obras nos seguintes gêneros literários: poesia, conto, novela, crônica e romance.

2 – Como participar:

As obras concorrentes poderão ser inscritas até o dia 30 de junho de 2008. As obras inscritas poderão ter sido publicadas anteriormente.

Etapas para inscrição:

* preenchimento da ficha de inscrição;
* pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 40,00 (quarenta reais). O pagamento deverá ser efetuado no ato da inscrição, através de depósito bancário, na seguinte conta em nome de Katya Marcos da Silva, Banco do Brasil – agência 4214-5, c/c: 6195-6 (envie uma cópia do comprovante de depósito para a Editora por e-mail ou correio).
* envio postal ou entrega, na própria Editora, de 1 (um) exemplar da obra concorrente, obedecendo às seguintes especificações:
* obra impressa em Times New Roman, corpo 12, entrelinhamento duplo e com, no máximo, 100 (cem) páginas;
* os exemplares enviados para o prêmio NÃO serão devolvidos após sua leitura pela Comissão Julgadora;
* não serão aceitas antologias para julgamento;
* o autor poderá concorrer em uma ou mais categorias, obedecendo sempre aos itens deste regulamento, como envio das obras nos moldes descritos e o pagamento da taxa para cada obra inscrita.

3 – Envio da(s) obra(s)

As obras deverão ser enviadas por e-mail: casadonovoautor@uol.com.br, ou pelo correio para Rua General Lecor, 56 – Ipiranga – São Paulo – SP – CEP. 04213-020.

4 – Comissão Julgadora

As obras inscritas serão analisadas por uma equipe de 5 (cinco) jurados especialmente convidados para o prêmio, e responsáveis por selecionar, cada um, 1 (um) título de cada categoria.

(4a) Serão selecionadas cinco (cinco) obras de cada categoria e, na etapa final, os editores da Casa do Novo Autor Editora tomarão parte, selecionando, com o auxílio da Comissão Julgadora, a obra vencedora.

5 – Premiação

O ganhador do “I Prêmio Literário Notáveis Escritores do Brasil”, promovido exclusivamente pela Casa do Novo Autor Editora, irá receber certificado de premiação e a edição da obra premiada em 100 (cem) exemplares, com registro de ISBN (código de barras) e Catalogação na CBL.

6 - Resultado

O resultado do concurso será divulgado dia 20 de julho de 2008.

7 - Outras informações

Os concorrentes que preencherem todos os requisitos dispostos neste regulamento estarão fazendo parte do “I Prêmio Literário Notáveis Escritores do Brasil” e concorrendo ao prêmio de publicação.

A decisão da Comissão Julgadora será soberana e não merecerá mudanças por parte dos concorrentes.

Os casos omissos serão resolvidos diretamente pela Editora e, havendo dúvidas, os concorrentes poderão solicitar informações complementares através do e-mail casadonovoautor@uol.com.br, ou pelos tel.: (11) 6163-0709 e 6169-9963.


Modelo de FICHA DE INSCRIÇÃO I PREMIO LITERÁRIO NOTÁVEIS ESCRITORES DO BRASIL (encontrado no site)

INSCRIÇÕES ATÉ 30 DE JUNHO DE 2008!

DADOS DO AUTOR:
Nome completo: ___________________________
Nome como será editado no livro: _________
Data de nascimento:____/____/_____________
Endereço :________________________________
CEP: ____________ Tel:( )_______________
e-mail: ________________
Cidade:____________________ Estado:_______
RG:________________ CPF: _________________

PAGAMENTO DA INSCRIÇÃO:
( ) em dinheiro
( ) cheque
( ) depósito bancário

Para depósitos em conta corrente:
Em nome de Katya Marcos da Silva - Banco do Brasil - agência 4214-5 - conta corrente: 6195-6
* enviar cópia do comprovante do depósito por e-mail ou correio.

Data____/____/____


________________________________
Assinatura do autor/responsável


Enviar esta ficha preenchida e assinada por e-mail ou pelo correio.

Fonte:
http://www.casadonovoautor.com.br/

Quer editar seu livro?




A Casa do Novo Autor Editora está fazendo de tudo para você publicar suas obras literárias!

“REALIZE SEU SONHO, PUBLIQUE SEU LIVRO!”

A Casa do Novo Autor Editora criou facilidades para você ter seu livro editado. Entre elas, e graças ao moderno sistema de impressão digital adotado, conseguimos produzir pequenas tiragens, viabilizando assim sua publicação.Além do baixo custo de impressão para pequenas quantidades, o sistema dispensa o uso de fotolitos, inclusive para capas em quadricromia, possibilitando menor custo e economia já na produção.

O processo digital permite ainda usar um original antigo ou mesmo um exemplar já esgotado como matriz. A possibilidade de imprimir edições a partir de 50 exemplares é hoje uma realidade. A quantidade certa de livros em pequenas tiragens é o nosso negócio.Basta enviar-nos sem compromisso sua obra digitada que a encaminharemos à nossa comissão de leitura e avaliação de originais. Após esta etapa você receberá a seguinte proposta:

A Casa do novo Autor criou o PEP (Plano Executivo de Publicação) Neste sistema você poderá pagar a edição em até 12 parcelas, isso mesmo, UM ANO e receberá um cronograma completo da edição passo a passo, assim você poderá acompanhar todo o processo de edição do seu livro.

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* revisão ortográfica,
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Tel: (11) 6163-0709 ou (11) 6169-9963
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Fonte:
e-mail enviado pela Casa do Novo Autor

Paraná em Trovas (Convite)


A Diretoria da Seção de Curitiba da União Brasileira de Trovadores convida para as as festividades dos XV JOGOS FLORAIS DE CURITIBA/2008

Dia 20/06/2008 – Sexta-feira
18h00 – Recepção de boas-vindas aos Trovadores visitantes, no saguão do Alta Reggia Plaza Hotel
19h30 – Saída para a Câmara Municipal de Curitiba.
20h00 – Abertura do evento no Palácio Rio Branco - Plenário da Câmara Municipal de Curitiba.
Após, coquetel de confraternização oferecido pela Câmara Municipal, no auditório do prédio anexo .
Distribuição do Livro dos XV Jogos Florais de Curitiba
Lançamento do livro “Paraná em Trovas” por Vânia Ennes – Presidente Estadual da UBT.

Dia 21/06/2008 – Sábado
10h00 - Passeio turístico pela cidade
13h00 - Almoço festivo com rodada de trovas, sorteio de brindes e muita alegria na Sapolândia – Chácara Derosso – Rua Desembargador Antonio de Paula, 3695 – Bairro Xaxim.
Final da tarde livre
20h00 - Ato Solene de premiação, dos vencedores dos concursos de âmbito nacional e estadual, no auditório Sala Londrina do Memorial de Curitiba Rua Claudino dos Santos com R José Bonifácio.(Junto ao Largo da Ordem)
A seguir, coquetel, no saguão do primeiro andar.
Distribuição do livro dos XIV Jogos Florais de Curitiba.

Dia 22/06/2008 – Domingo
10h - Visita à feira de artesanato do Largo da Ordem
13h00 – Almoço de encerramento, com rodada de trovas no salão do Instituto de Engenharia do Paraná (1ºAndar).( almoço por adesão: R$ 30,00 por pessoa).
_______________________________
Haverá ônibus para deslocamento para os eventos e passeio pela cidade.
_______________________________
Informações: Luiz Hélio (41)3078-7357 ou (41)9228-6129 ou pelo
e.mail: luizheliof@gmail.com

Pará em Luto



Depois de quase um mês internado faleceu na noite deste domingo (15), em um hospital particular da capital, o escritor Benedicto Wilfredo Monteiro. O velório será na Academia Paraense de Letras. O sepultamento acontece na segunda-feira (16), no cemitério Max Domini, em Ananindeua.

Monteiro foi internado no dia 22 de maio, após uma reação a um medicamento. Desde então teve oscilações em seu quadro clínico. Chegou a ficar interando na UTI(Unidade de Terapia Intensiva) e também a ter melhora no quadro.

Segundo a família a causa da morte foi falência múltipla dos orgãos. 'Ele estava em tratamento de câncer nos ossos. Estamos muito chocados ainda', disse a neta, Taiana Monteiro.

Aos 84 anos, Benedicto Monteiro é um dos mais importantes e destacados escritores paraenses do século 20. Nascido em Alenquer, é escritor, advogado, jornalista e político reconhecido nacional e internacionalmente pela sua luta pela democracia e ligação com os movimentos que combateram o regime militar de cuja ditadura, o escritor foi vítima, perseguido e prisioneiro.
Benedicto Monteiro criou a Procuradoria Geral do Estado, sendo o primeiro Procurador Geral. Em 1983, também criou e organizou a Defensoria Pública do Estado do Pará.

Além de integrante da Academia Paraense de Letras, Monteiro também era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e da Academia Paraense de Jornalismo.

Fonte:
Defensoria Pública do Estado do Pará
http://www.defensoria.pa.gov.br/?q=node/105

Benedicto Monteiro (1924 - 2008)


Benedicto Wilfredo Monteiro nasceu no dia 1°. de março de 1924, em Alenquer no Estado do Pará. É filho de Ludgero Burlamaqui Monteiro e Heribertina Batista Monteiro. Fez o curso de Humanidades no Colégio Marista N.S. de Nazaré em Belém e completou os seus estudos de ginásio no Rio de Janeiro, onde cursou Direito na Universidade do Brasil. Ainda no Rio, exerceu o jornalismo na imprensa local e publicou o seu primeiro livro de poesia Bandeira Branca, pela editora Zélio Valverde (1945) prefaciado pelo escritor Dalcídio Jurandir.

Casado com Wanda Marques Monteiro, com a qual teve cinco filhos: Aldanery, Ana Luiza, Wanda Benedita, Benedicto Filho e Dulcinez. Os filhos lhe deram dez netos: Bonny, Tahiana,Carlos Tadeu, Carla, Marcelo, André, Aline, Diego, Cauê, Iago e duas bisnetas: Luara e Luma.

Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu os cargos de Promotor Público, Juiz de Direito e Secretário de Estado. Foi eleito Deputado Estadual, tendo sido cassado em 1964, pelo regime militar instalado. Caçado como animal, nas matas de Alenquer, ficou preso e incomunicável por vários meses e foi torturado e marginalizado da sociedade, tendo seus direitos políticos suspensos por mais de 10 anos. Depois que saiu da prisão, dedicou-se ao exercício da advocacia agrarista e à literatura, tendo publicado o livro Direito Agrário e Processo Fundiário e vários livros de poesia e ficção que constam de seus dados bibliográficos.

O seu livro de contos Carro dos Milagres, foi premiado pela Academia Paraense de Letras, e o romance A Terceira Margem, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura da Fundação Cultural do Distrito Federal.

Benedicto Monteiro, além de se destacar por sua atuação como Advogado Agrarista e como Parlamentar em defesa da Amazônia, também exerceu o magistério, como Professor convidado, ministrou palestras em Seminários e Cursos de Extensão Universitária e aulas de Direito Agrário em Instituições de Ensino de Nivel Superior, ainda encontrava tempo para compor músicas com temas amazônicos que apresentam rítmos que fazem parte da cultura do Pará, como o lundum, o marambiré e a toada.

Redemocratizado o país, foi eleito Deputado Federal e foi reeleito para a Assembléia Nacional Constituinte. Criou a Procuradoria Geral do Estado do Pará e foi o seu primeiro Procurador Geral. Criou e organizou a Denfensoria Pública do Estado do Pará.

A obra do escritor Benedicto Monteiro é reconhecida e prestigiada não só no Brasil, mas,sobretudo no Exterior. Na Europa, em países como Portugal, Holanda, Itália e Alemanha ( Berlim e Colonia), onde suas obras são traduzidas e servem como objeto de teses de mestrado e doutorado, e de monografias e estudos acadêmicos.

Especialmente na Alemanha, onde em tese de doutorado defendida pelo Professor Klaus Meyer Koeken, intitulada "Die Illusion Von oraitãt im brasilianischen Roman": "Zur Simulation realer Sprechsituationen in drei ‘mündich erzählten Lebensgeschichten ", com resumo em português: "A ilusão da oralidade no romance brasileiro", destaca e considera o romancista brasileiro Benedicto Monteiro como um dos representantes da literatura brasileira neste estilo de narrativa, colocando-o ao lado dos renomados escritores França Junior e Guimarães Rosa.

Nos Estados Unidos da América, sua obra literária é objeto de estudo acadêmico de autoria do Professor Macolm Silverman da San Diego State University – Califórnia, que em sua obra traduzida para o português intitulada "Protesto e o novo romance brasileiro", dá destaque à obra do escritor Benedicto Monteiro e comenta: "...Ao iluminar a noite simbolicamente,

Benedicto Monteiro termina Verde Vagomundo com uma nota de esperança e resistência, cujo otimismo era, ironicamente, difundido logo após o golpe militar, embora já houvesse terminado ao tempo da publicação do romance...". Esta estudo, com tradução de Carlos Araújo, foi publicada no Brasil pela Editora Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro, no ano de 2000 e é considerado o melhor "Melhor Livro de Ensaios"- Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Seu livro de Contos O Carro dos Milagres foi, durante vários anos consecutivos, recomendado como leitura obrigatória para o Vestibular, com textos selecionados para interpretaçao, pela Universidade Federal do Pará e por outras entidades privadas de ensino superior. E ainda, serviu de roteiro para peças de teatro e filmes de curta metragem.

O escritor Benedicto Monteiro recorrendo a sua vasta experiência literária, contextualizou a história do Pará, com todas as suas nuances e dimensões, resgatando, de forma didática, os valores da rica cultura paraense, lançando em parceria com as Organizações Rômulo Maiorama- ORM, a obra História do Pará, distribuída em fascículos encartados pelo jornal "O Liberal" no ano de 2001. Esta obra representa a síntese da história paraense, desde os fundamentos da pré-história amazônica à sua contemporaneidade, sob o ponto de vista econômico, geográfico, social, político e ecológico.

Na literatura publicou os livros: A Tetralogia Amazônia - Verde Vagomundo, O Minossauro, A Terceira Margem e Aquem Um. Além dessa tetralogia, publicou os livros Carro dos Milagres, Cancioneiro do Dalcídio, Como se faz um Guerrilheiro, todos publicados em editoras do Rio de Janeiro e São Paulo. Recentemente publicou, Maria de Todos os Rios, Transtempo, Discurso sobre a Corda e A Poesia do Texto. Dedicou-se, há mais de 10 anos, a escrever artigos semanais para os jornais O Liberal e a Província do Pará. Tanto os seus livros que compõem a Tetralogia Amazônica como O Carro dos Milagres e a Maria de Todos os Rios, têm sido objetos de estudo das Universidades Brasileiras.

Em Colônia e Berlim, Alemanha, seus livros foram selecionados na literatura brasilera como repretativos da ilusão da oralidade no romance brasileiro juntamente com Guimarães Rosa e Osvaldo França Jr., tendo a Universidade de Colônia editado um livro sobre esse assunto.

Recentemente Maria de Todos os Rios, foi publicado na Holanda.

Como membro da Academia Paraense de Letras, recebeu a Medalha José Veríssimo. Assim como recebeu o título de Honra ao Mérito da Câmara Municipal de Santarém, da Câmara Municipal de Alenquer, da Câmara Municipal de Belém e da Assembléia Legislativa do Estado do Pará.

Recentemente, Benedicto Monteiro, publicou cinco volumes de livros sobre história, geografia, economia e questões sociais da Amazônia e especificamente do Estado do Pará. São livros didáticos dedicados ao ensino fundamental, mas que interessam a todas as pessoas que queiram conhecer a Amazônia. Eles tratam desde a época pré-colonial, a era dos descobrimentos, até os nossos dias.

Benedicto Monteiro escreveu também dez contos infanto juvenis, sobre as lendas amazônicas.
"Quando escrevo faço o exercício da minha mais íntima liberdade".

Fontes:
http://www.verdevagomundo.com.br/obrasverde.htm
http://www.alenquerpara.com.br/?pg=noticia&id=144

Lendas Indigenas (Kuadê – Jurun mata o sol ; Poronominaré; Sinaá; Begorotire; Kuát e Iaê; Iamulumulu)

Kuadê – Jurun mata o sol

Jurun mata o Sol Kuadê, o Sol, era gente também. Morava longe e falava outra língua. Os Juruna costumavam passear na casa dele. Perto de onde morava o Sol tinha um buraco na pedra que estava sempre cheio de água. Era uma armadilha para pegar bicho. Bicho que enfiava a cabeça no buraco para beber água ficava preso. Todos os dias o Sol ia ver se havia caça presa. Quando encontrava, matava e levava pra casa para comer. A pesca, ele só fazia à noite, clareando a água com uma luz que ele tinha no traseiro. Ele zangava e matava quem dizia ter visto a sua luz. Havia um moço Juruna que não sabia da armadilha do Sol, o buraco na pedra.

Passando perto um dia, com sede, foi beber e ficou preso pela mão. Quando no outro dia viu o Sol que se vinha aproximando na sua visita diária, o moço fingiu de morto. Deitou e ficou imóvel, com o coração parado também, de tanto medo. O Sol chegou e começou a examiná-lo. Abriu a boca, os olhos, apalpou o peito e verificou que estava tudo parado como gente morta. Aí o Sol desprendeu o moço Juruna do buraco e o colocou dentro de um cesto para ser transportado. Mas antes de pôr o cesto nas costas, para ver se o moço estava bem morto mesmo, jogou formiga em cima dele. O Juruna aguentou as formigas, sem se mexer, mas quando elas morderam nos olhos, ele se mexeu um pouquinho.

A borduna do Sol, que estava perto, percebendo o movimento, quis logo bater, mas o dono não deixou, dizendo que o Juruna estava bem morto. Em seguida, o Sol levou o cesto com o corpo para perto da casa dele, pendurando-o no galho de uma árvore. No dia seguinte, pediu ao filho que trouxesse o cesto para dentro de casa. O filho do Sol foi mas não encontrou mais o Juruna. Ele tinha fugido de noite. O Sol sabendo disso, na mesma hora jogou a sua borduna atrás dele. a borduna saiu voando e logo adiante bateu num veado.

O Sol disse que não era aquilo que ele queria, e saiu em perseguição, até que encontrou o fugitivo escondido na raiz oca de um pau. A borduna chegou e começou logo a bater no tronco. Vendo que isso não dava resultado, cortou uma vara e passou a chuçar o buraco. O Juruna ficou todo machucado, mas continuou dentro da toca. Como já estava muito tarde, o Sol tapou a boca do buraco com uma pedra e disse para a borduna: "Amanhã nós voltamos para acabar de matar". De noite, na ausência do Sol, todo tipo de bicho - anta, porco, veado, macaco, paca, cutia - apareceu para ajudar o moço Juruna a sair de dentro da toca onde se tinha enfiado.

Lá dentro, ele pedia: "Cavem esse pau para eu sair". Os bichos começaram a cavar. Quando os seus dentes quebravam, iam à procura de outros bichos para continuar a escavação. a anta conseguiu abrir uma pequena saída. O moço Juruna pôs a cabeça para fora e pediu que cavassem mais um pouco. Com o alargamento que a cutia e a paca, por último, fizeram, ele pôde sair de uma vez para fora. Quando o sol chegou, não o encontrou mais. O moço a essa hora já estava chegando em casa. Lá, contou para os parentes o que havia acontecido com ele, dizendo que quase tinha sido morto pelo Sol.

Três dias depois foi dizer à mãe que ia sair novamente para colher coco. A mãe, chorando, pediu a ele que não fosse. "Não vá, meu filho, que o Sol vai matar você". O moço, depois de cortar todo o cabelo e se pintar de jenipapo, foi dizer à mãe que assim como estava não ia ser reconhecido pelo Sol. "Não tenha medo, que o Sol não me vai conhecer. Agora estou diferente". Falou isso e entrou mata adentro. Subiu no primeiro inajá que encontrou e ficou lá em cima colhendo coco.

Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado por todas as moças de sua tribo por tocar flauta maravilhosamente bem. Deram-lhe então o nome de Catuboré, (flauta encantada). Entre elas, a bela Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a primavera. Certo dia, já próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou. Saindo a tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida à sombra de uma árvore, mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. Mainá, desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de Catuboré, sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo seu infortúnio. Não podendo encontrar paz pediu ajuda ao Deus Tupã. Este então transformou a alma do jovem no pássaro Irapuru, que mesmo com escassa beleza possui um canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma de Mainá. O cantar do Irapuru ainda hoje contagia com seu amor os outros pássaros e todos os seres da Natureza.

Irapuru = pássaro
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino

O Sol, que passava por perto, pensou que era macaco que estava no alto da palmeira. Quando viu que era gente e reconheceu o Juruna, disse assim: -Quase matei você naquele dia, mas agora você vai morrer. -Eu não sou quem você está pensando. Sou outro - disse o moço lá do alto. Mas o Sol sabia, e replicou: - É você mesmo. Desça daí que você vai morrer agora mesmo. O Juruna, então, lá da copa da palmeira, pediu ao sol que parasse primeiro um cacho de coco que ele ia jogar. -Pega primeiro este cacho que eu vou jogar. -Joga - disse o Sol. O moço jogou o cacho e o Sol pegou. Era um cacho pequeno, esse primeiro jogado.

O moço lá de cima tornou a pedir: Pega mais este. E lá de cima jogou um cacho pesado, muito grande. O Sol estava esperando com os braços estendidos para o alto. O cacho caiu direito no peito dele e o matou na hora. Ao morrer o Sol, tudo ficou escuro. A borduna, com a morte do dono, no mesmo instante correu e se transformou em cobra, a salamanta (uandáre-borduna do Sol).

O sangue que escorria do Sol ia-se transformando em aranha, formiga, cobra, lacraia e outros bichos. Essas cobras e aranhas que forravam o chão não deixavam o moço Juruna descer da palmeira. ele, então, como os macacos, foi passando de árvore para árvore. Só desceu quando viu o chão limpo. Uma vez em baixo, procurou o caminho e voltou para a aldeia. Lá chegando, disse para a mãe: -Matei o Sol. -Por que você fêz isso? eu bem não queria que você saísse. Agora está tudo escuro - a mãe, assustada, lamentou. As crianças todas começaram a morrer com a escuridão, porque ninguém podia pescar, caçar, ou trabalhar. Lá na aldeia do Sol, a mulher dele já sabia da sua morte.

Disse aos três filhos que já estavam passando fome: - IO pai de vocês morreu porque gostava de matar gente. Qual de vocês quer ficar no lugar dele? Experimentou primeiro o mais velho dos três. Este, logo que pôs na cabeça o penacho do pai, achou-o muito quente. Foi subindo, subindo, quando estava quase amanhecendo não aguentou mais o calor e voltou. Aí foi a vez do outro, o do meio. Colocou o penacho na cabeça e começou a subir. Passou um pouco da altura a que chegou o primeiro, mas não aguentou também e voltou dizendo que o calor era demais. Restava o mais novo. A mãe perguntou se ele queria ficar no lugar do pai. Ele disse que sim. Adornou-se com o penacho e subiu, mas como o calor era muito grande, andou depressa e se escondeu logo do outro lado.

De regresso à casa, a mãe lhe disse: -Você aguentou um pouco,mas é preciso andar mais devagar da outra vez, para o pessoal poder matar peixe, caçar e trabalhar. Não corre não. O filho mais moço do Sol voltou a fazer a caminhada, e fez toda ela devagar, desta vez. A mãe havia recomendado a ele que parasse um pouco quando estivesse bem no alto, no meio do caminho, e que começasse a descer bem devagar depois, parando um pouquinho também, antes de entrar duma vez do outro lado. Quando a mãe viu o filho fazer todo o caminho, como devia ser feito, chorou dizendo: -Você agora está no lugar de seu pai, e não vai voltar mais para mim. O filho lá do alto por sua vez falou: -Agora não posso mais voltar para morar com você. Vou ficar sempre aqui em cima. A mãe, ao ouvir isso, chorou outra vez.

Poronominaré - O Dono da Terra

O velho pajé Cauará saiu para pescar, demorando muito a voltar. A filha preocupada resolveu procurá-lo perto das águas mansas do rio. Após muito andar, sentou-se na relva para descansar. Anoitecia e a lua surgiu atrás das montanhas, ficando a jovem a contemplá-la. Subitamente, destacou-se do astro um vulto muito estranho que vinha em sua direção. A índia parecia hipnotizada, sendo em seguida tomada de profunda sonolência. Neste momento o pajé, que havia retornado a aldeia, preocupou-se com a ausência da filha. Tomou então um pote com paricá, pó alucinógeno que, inalado, lhe despertava os poderes de pajé, entrando assim em transe.

Muitas sombras desfilaram a sua frente e entre elas surgiu a silhueta de um homem que subia aos céus em direção à lua. Aos poucos, outras imagens foram tomando formas humanas com cabeça de pássaros, anunciando ao pajé que sua filha estava numa ilha, não muito distante dali. Imediatamente Cauará dirigiu-se ao local revelado, encontrando a moça enfraquecida e faminta. Voltaram à aldeia. Passados alguns dias, a jovem, preocupada contou ao pai um sonho impressionante: no alto da montanha ela dava à luz uma criança muito clara, quase transparente. Não havia leite em seus seios, sendo o seu filhinho alimentado por uma revoada de beija-flores e borboletas.

À sua volta, outros animais que também se encantaram com o bebê, lambiam-no carinhosamente. lgum tempo depois, a filha de Cauará notou que, embora virgem, esperava uma criança. O pajé, estranhando o fato, entrou novamente em transe. As alucinações lhe mostraram ser o homem que ele vira subir à lua, o pai de seu neto. Numa madrugada em que os animais, as aves e os insetos pareciam agitados e felizes, nasceu na serra de Jacamin o neto do pajé, Poronominaré, o dono da terra. Ao ser informado do feliz acontecimento, Cauará seguiu para a montanha para conhecer o herdeiro. Surpreso, encontrou a criança com uma barbatana nas mãos, indicando a cada animal o seu lugar na Natureza. Ao cair da tarde, quando tudo já estava em pleno silêncio, ouviu-se uma cantiga feliz. Era a mãe do dono da terra que subia aos céus, levada por pássaros e borboletas.

Sinaá - Inundação e Fim do Mundo

Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor. Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira, jabutis e sucuris, cobras imensas que habitavam na água. Certa vez, uma enorme sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios. Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas, até então desconhecidas para aquela tribo.

Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a utilizar e preparar tais alimentos e também a fazê-los multiplicar-se. A partir daquele dia, fartas roças se formaram. Para garantir o sustento de seu povo, Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em poucos dias o rio transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu povo da fome. Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas vestes pra melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como tanto queria. Quando isso ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os povos e o mundo teria o seu fim.

Begorotire - O Homem Chuva

Begorotire era um índio feliz. Certo dia, porém, havendo sido injustiçado na divisão da caça, ficou furioso, decidindo que sairia à procura de outro lugar para viver. Cortou os cabelos da esposa e da filha, pintando toda a família com uma tintura preta que havia retirado do fruto do jenipapo. Pegou um pedaço de madeira pesada e resistente, fazendo a primeira borduna Caiapó, com o cabo trançado em preto e a ponta tingida com sangue da caça. Chegou então ao alto de uma montanha, levando sua arma, e começou a gritar. Seus gritos soaram como fortes trovões. Girou fortemente a borduna no ar e de suas pontas saíram relâmpagos. Em meio ao barulho e às luzes, Begorotire subiu aos céus. Os índios assustados atiraram suas flechas, mas nada conseguiu impedir que o índio desaparecesse no firmamento.

As nuvens, também assustadas, derramaram chuva. Por isso Begorotire tornou-se o homem chuva. Tempos depois, levou toda a família para o céu, onde nada lhes faltava, e de lá muito fez para ajudar os que na terra ficaram. Juntos sementes de suas fartas roças, secou-as sobre o girau, entregando-as a uma filha para trazê-las. A índia desceu dentro de uma cabaça enorme amarrada a uma longa corda, tecida com as próprias ramas do vegetal. Caminhando pela floresta, um jovem encontrou a cabaça, amarrou-a com os cipós e pedaços de madeira e, com ajuda dos amigos levou-a para a aldeia. A mãe, abrindo a cabaça, encontrou a índia, a filha da chuva, que estava magra e com longos cabelos, por lá haver permanecido muito tempo.

A jovem foi retirada e alimentada, e teve seus cabelos aparados. Ao ser indagada, a filha da chuva explicou por que viera, entregando-lhes as sementes enviadas por seu pai e deixando a todos muito felizes. O jovem que encontrou a cabaça casou-se com a moça, passando esta a morar novamente na terra. Com o tempo, resolveu visitar os pais. Pediu ao esposo vergasse um pé de Pindaíba, trazendo a copa até o chão. Sentou-se sobre ela e, ao soltarem a árvore, a índia foi lançada ao céu. Ao retornar, trouxe consigo toda a família e cestos repletos de bananas e outros frutos silvestres. Begorotire ensinou a todos como cultivar as sementes e cuidar das roças, regressando depois ao seu novo lar. Ate hoje, quando as plantas necessitam de água, o homem chuva provoca trovões, fazendo-a cair sobre as roças para mantê-las sempre verdes e fartas.

Kuát e Iaê - A Conquista do Dia

No principio só havia a noite. Os irmãos Kuát e Iaê - o Sol e a Lua - já haviam sido criados, mas não sabiam como conquistar o dia. Este pertencia a Urubutsim (Urubu-rei), o chefe dos pássaros. Certo dia os irmãos elaboraram um plano para captura-lo. Construíram um boneco de palha em forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas. Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam previsto.

Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia em troca de sua liberdade. O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo. Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o que os irmãos queriam. Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou. O chefe dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à tarde vai se esvaindo, até o anoitecer.

Iamulumulu - A formação dos rios

Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A pedido dos irmãos Sol e Lua, que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando sua esposa mais velha com o sol e a outra com a lua. Seguiram então os casais em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iumulumulu lhes curou a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer. No dia seguinte, dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam sedentos e pediram água a Kanutsipei.

A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a mais pura água. Contrariados, os casais retornaram a sua aldeia, contando a todos o que ocorrera. O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani, Iananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakui-katu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os potes, conduzindo-a a outras regiões. Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para espantar o dono do local.

Chegaram então os outros espíritos, à medida que os potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos espíritos criou um rio. Assim, o Sol criou o Rio Ronuro; Vani-vani formou o Rio Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do Ronuro. A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para o Morena, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que a engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça do peixe.

Pediram a Tapera (andorinha do campo) que lhes conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo. Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão. Desejando ardentemente que a Lua revivesse, o Sol arrumou no chão seu esqueleto, cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina, provocando-lhe um espirro, que a fez finalmente despertar. Assim foram criados os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o primeiro pajé.
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Fonte:
PINTO, Wilson. As Mais Belas Lendas Brasileiras. Santa Catarina: Excelsus.
http://www.desvendar.com/especiais/indio/lendas.asp

Folclore Indígena (Origem da Música)

No começo, nada existia sobre o mundo terrestre, que produzisse a doce melodia ou suave harmonia. Ninguém celebrava com alegres vozes os feitos mortais, ou tocava qualquer instrumento musical. A melodiosa arte e a divina ciência na combinação de sons, era desconhecida, nenhum conjunto de orquestra havia sido organizado. Homem algum exercia a sacra arte da música e não compunha nem executavam peças musicais.

Um dia, o imortal Anhum, deus do canto e neto de Tupã, o Criador, desceu dos céus e veio passear no lendário Eldorado, as margens do rio Araguaia, em companhia da deusa Solfa, sua noiva e ao entardecer, o deus ficou muito triste, porque a vida dos homens era envolvida em um tenebroso silêncio.

O próprio deus Polo passava sem ruído e Tainacam vivia sem brilho. No alto do monte sagrado, as reuniões dos divinos eram realizadas em grande quietude e as canoras aves, pouco soltavam os seus límpidos gorjeios.

Então, Anhum, desejando manifestar os diversos afetos de sua alma à amada e divina Solfa, convocou no Ibiapaba os deuses, os semi-deuses, os homens e depois de muito discutirem, resolveram sob a orientação do deus melódico, erigir a Tupã, três altares de pedra e celebrar suave dança.

Feito isso, Anhum chamou a semi-deusa Araci, em primeiro lugar, e ela desenhou na madeira uma pauta composta de cinco linhas e quatro espaços, e além destas, outras linhas e outros espaços, pondo o nome nas primeiras, de naturais e nas segundas, de suplementares superiores e inferiores.

Em segundo lugar, convocou Vapuaçú deus dos sonhos amenos e das suaves ilusões, que crioo as sete claves, representadas por três interessantes figuras às quais deu os nomes de Sol, Fá e de Dó.

Em terceiro lugar, chamou Abeguar que rapidamente colocou sobre as linhas, sete pontos que foram chamados notas. Determinou que cada clave daria seu nome à nota que fosse assinada sobre a mesma linha e conseqüentemente, determinaria os nomes de todas as demais notas que estivesses na outras linhas e espaços. Finalmente o próprio Anhum deu nome às notas que subindo são: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

E descendo são: si, lá, sol, fá, mi, ré dó.

Depois Manati formou a primeira Harmonia, aplaudido por todos.

Em seguida, o poderoso Guarací, executou o primeiro ritmo cadente e a primeira canção.

Tujubá, o poderoso mortal apresentou os primeiros acidentes, Sustenidos e Bemóis; formou as escalas; e criou os tons, os semi-tons e os intervalos. Solfã criou o primeiro cântico divino. Saci pintou as notas de preto e deu valor à cada uma.

Quando tudo estava concluído, Tupã ficou muito satisfeito e abençoou a música que tornou-se divina.

O povo unindo suas vozes aos imortais, louvou o amorável Zéfiro, a fresca aragem e terminada a curta e bela oração que Tujubá ofereceu a Tupã, os deuses, tendo à frente o divino Inochiue (deus protetor das virgens), regressaram aos céus e nas verdejantes campinas que circundavam o Eldorado, Anhum e Solfá, louvaram em um grande e solene canto, "O sagrado Tupã e sua poderosa filha Caupé".

E foi assim minha gente....que nasceu e estendeu-se por toda esta imensa e bela pátria, a mais bela de todas as artes: a MÚSICA.

Fonte:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/Deuses%20Musica.html