quinta-feira, 7 de maio de 2009

Expressões e suas Origens (Letra P)


PAGAR O PATO
Trata-se de expressão que está presente em vários textos de escritores portugueses e no nosso Gregório de Matos (1636-1695), que escreveu esses versos dirigidos a certa mulata: "quem te curte o cordovão/ por que não te dá sapato?/ pois eu que te rôo os ossos/ é que hei de pagar o pato?" A origem mais remota é uma brincadeira: um pato era amarrado a um poste. A calo, a galope, o jogador deveria de um só golpe, cortar as amarras. Quem errasse pagaria o pato. Passou a significar algum ato pelo qual pagamos sem conseguir nenhum benefício.

PAGAR TINTIM POR TINTIM
No final do século XIX, uma peça intitulada Tintim por tintim, estrelada por uma atriz portuguesa que nela fazia dezoito papéis, teve grande sucesso nos teatros do Brasil. A frase já era famosa por suas ligações com desejos de vingança. Tintim é vocábulo onomatopaico para designar o barulho que fazem as moedas ao se chocarem. A expressão, sempre na boca do povo, indicando que todo pagamento deve ser minucioso, usando-se o dinheiro como metáfora, está presente num clássico da literatura portuguesa, Aulegrafia, de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1583), autor de teatro, mais para ser lido do que encenado.

PARA INGLÊS VER
Esta frase foi dita pela primeira vez em 1808, quando a família real chegou ao Brasil, ainda colônia. A cidade de Salvador, então capital, estava iluminada e Dom João VI (1767-1826) comentou que aquela recepção festiva demonstrava aos ingleses, aliados e protetores dos portugueses, que os brasileiros recebiam-no calorosamente. Virou, depois disso, símbolo de burla nacional ou internacional, sempre de grandes proporções, em que são utilizados vistosos aparatos para enganar. Alguns historiadores dizem que a frase pode ter nascido da fingida vigilância com que os navios brasileiros procuravam navios negreiros. Faziam isso apenas para agradar aos ingleses, que haviam proibido o tráfico de escravos.

PARA TUDO SERVEM AS BAIONETAS, MENOS PARA SENTAR-SE SOBRE ELAS
Esta frase é lembrada quando há ameaça ou promessa de intervenção militar na vida política. Se não foi pronunciada pela primeira vez, foi pelo menos escrita originalmente por Emílio Castelar y Rippol, célebre intelectual e político espanhol, na segunda metade do século XIX. Assumindo o poder, em 1873, na jovem República, cuja instalação liderara, encontrou seu país em grandes desordens. De um homem que já fora condenado à morte durante a monarquia, a Espanha recebeu uma contribuição decisiva para organizar-se como nação. A frase está em sua obra Discurso de cortes.

PARIS É UMA FESTA
Esta frase, título de um dos livros de Ernest Miller Hemingway (1898-1961), nasceu de uma delicadeza parisiense. De acordo com o que nos informa a escritora e psicanalista Betty Milan em seu livro Paris não acaba nunca, em 1957, depois de uma curta viagem à Espanha, o romancista norte-americano hospeda-se no famoso hotel Ritz. Para sua surpresa, os funcionários lhe devolvem duas malas esquecidas 30 anos antes. Dentro delas estavam os diários que escrevera na mesma Paris, entre 1921 e 1926. Outros famosos escritores aprenderam o ofício na mesma cidade, como Henry Miller (1891-1980) e Scott Fitzgerald (1896-1940). Especialmente para estes escritores, a Cidade Luz foi uma festa, pois lá escreveram grandes obras.

PARIS VALE UMA MISSA
Quem pronunciou esta frase pela primeira vez, inaugurando o significado que carregaria pelos séculos seguintes, foi Enrique IV (1553-1610), rei de Navarra e posteriormente da França. Por achar que Paris valia uma missa, abjurou o protestantismo duas vezes, tornando-se católico por conveniência. Primeiro, para casar-se com Margarida de Valois, a rainha Margot (1553-1615), a quem posteriormente repudiou. Escapou do massacre da noite de são Bartolomeu, tonou-se rei da França, voltou ao protestantismo e depois tornou a abjurá-lo por motivos políticos. Morreu assassinado. Paris valeu-lhe outras tantas missas, mas por sua alma. O significado da frase é que vale qualquer sacrifício quando o objetivo é essencial.

PENSANDO NA MORTE DA BEZERRA
A história mais aceitável para explicar a origem do termo é proveniente das tradições hebraicas, onde os bezerros eram sacrificados para Deus como forma de redenção de pecados.
Um filho do rei Absalão tinha grande apego a uma bezerra que foi sacrificada. Assim, após o animal morrer, ele ficou se lamentando e pensando na morte da bezerra. Após alguns meses o garoto morreu.

PENSO, LOGO EXISTO
Um dos pilares da ciência moderna, esta frase celebérrima é de autoria do filósofo, matemático e físico francês René Descartes (1565-1650), e coroa seu método, que se baseia no questionamento de todo o conhecimento, restando apenas a certeza daquele que duvida. As contribuições de Descartes estenderam-se também à geometria analítica e à óptica geométrica. Educado por jesuítas, o filósofo teve também experiência militar, lutando na famosa Guerra dos Trinta Anos. Segundo ele próprio, a natureza de sua ciência, exposta no método sintetizado nesta frase, foi mais claramente revelada num sonho que teve em 10 de novembro de 1619. Com seu nome latino, Renatius Cartesius, foi personagem de Catatau, um importante romance de Paulo Leminski (1944-1989).

PENTEAR MACACOS
Esta frase, proferida como ofensa, é adaptação brasileira de um provérbio português: "Mau grado haja a quem asno penteia". Na tradição de Portugal, pentear burros e jumentos seria tarefa menor, quase desnecessária. Provavelmente o verbo significava escovar, um luxo para animais de carga. Mas no século XVIII, o animal já havia sido substituído por bugio em Portugal e por macaco no Brasil, tal como aparece em documentos de 1756 assinado pelo rei Dom José (1714-1777), que deve ter penteado muitos macacos, já que quem exercia o poder era o marquês de Pombal (1699-1782), que, inclusive, transferiu a capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro. A expressão está registrada por Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) em Locuções tradicionais do Brasil.

PÔR EM PRATOS LIMPOS
O primeiro restaurante foi aberto na frança em 1765. Estabeleceu-se desde o início que a conta seria paga após a pessoa comer, ao contrario do que depois veio a acontecer com os lanches rápidos. Quando o dono ou o garçom vinha cobrar a conta e o cliente ainda não havia feito a refeição, os pratos limpos eram a prova que ele nada devia. A frase passou a servir de metáfora na resolução de conflitos. Quem gostava de pôr tudo em pratos limpos, com "a alma lavada e enxugada", era o personagem Odorico Paraguaçu, criado por Dias Gomes em O bem-amado e vivido por Pelópidas Gracindo, mais conhecido como Paulo Gracindo (1911-1995).

PRIMEIRO VIVER, DEPOIS FILOSOFAR
Esta frase integra proverbiais sentenças latinas e está registrada em Leviatã, livro publicado em 1651, que viria a transformar-se na grande obra do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), um velhinho que teve muito o que nos ensinar. Em seus textos, defendeu a desobediência quando as leis impostas contradizem as leis naturais, mas ao mesmo tempo defende o Estado como elemento coercitivo que leva ao bom comportamento dos homens. Foi, assim, um partidário do despotismo político, do materialismo filosófico e do egoísmo moral. Pregou o recurso o racionalismo contra as imposições vindas de autoritarismo religiosos. Escrevia em latim e se interessava muito por literatura, tendo traduzido para o inglês a Odisséia. A frase foi originalmente escrita em latim: "Primum vivere, deinde philosophare".

Fonte:
SILVA, Deonisio da. Expressões e Suas Origens. SP: Girafa Editora, 2004.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Paulo Leminski (Saudosa Amnésia)

a um amigo que perdeu a memória

Memória é coisa recente.
Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
ou, antes, foi a palavra?
Ao perder a lembrança,
grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.
Fonte:
LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. SP: Brasiliense. 2. Ed
.

Machado de Assis (Papéis Velhos)



Brotero é deputado. Entrou agora mesmo em casa, às duas horas da noite, agitado, sombrio, respondendo mal ao moleque, que lhe pergunta se quer isto ou aquilo, e ordenando-lhe, finalmente, que o deixe só. Uma vez só, despe-se, enfia um chambre e vai estirar-se no canapé do gabinete, com os olhos no teto e o charuto na boca. Não pensa tranqüilamente; resmunga e estremece. Ao cabo de algum tempo senta-se; logo depois levanta-se, vai a uma janela, passeia, pára no meio da sala, batendo com o pé no chão; enfim resolve ir dormir, entra no quarto, despe-se, mete-se na cama, rola inutilmente de um lado para outro, torna a vestir-se e volta para o gabinete. Mal se sentou outra vez no canapé, bateram três horas no relógio da casa. O silêncio era profundo; e, como a divergência dos relógios é o princípio fundamental da relojoaria, começaram todos os relógios da vizinhança a bater, com intervalos desiguais, uma, duas, três horas. Quando o espírito padece, a coisa mais indiferente do mundo traz uma intenção recôndita, um propósito do destino. Brotero começou a sentir esse outro gênero de mortificação. As três pancadas secas, cortando o silêncio da noite, pareciam-lhe as vozes do próprio tempo, que lhe bradava: Vai dormir. Enfim, cessaram; e ele pôde ruminar, resolver, e levantar-se, bradando:

— Não há outro alvitre, é isto mesmo.

Dito isso, foi à secretária, pegou da pena e de uma folha de papel, e escreveu esta carta ao presidente do Conselho de Ministros:

"Excelentíssimo senhor,

Há de parecer estranho a V. Excia. tudo o que vou dizer neste papel; mas, por mais estranho que lhe pareça, e a mim também, há situações tão extraordinárias que só comportam soluções extraordinárias. Não quero desabafar nas esquinas, na Rua do Ouvidor, ou nos corredores da Câmara. Também não quero manifestar-me, na tribuna, amanhã ou depois, quando V. Excia. for apresentar o programa do seu ministério; seria digno, mas seria aceitar a cumplicidade de uma ordem de coisas, que inteiramente repudio. Tenho um só alvitre: renunciar à cadeira de deputado e voltar à vida íntima.
Não sei se, ainda assim, V. Excia. me chamará despeitado. Se o fizer, creio que terá razão.

Mas rogo-lhe que advirta que há duas qualidades de despeito, e o meu é da melhor.

Não pense V. Excia. que recuo diante de certas deputações influentes, nem que me senti ferido pelas intrigas do A... e por tudo o que fez o B... para meter o C... no ministério. Tudo isso são coisas mínimas. A questão para mim é de lealdade, já não digo política, mas pessoal; a questão é com V. Excia. Foi V. Excia. que me obrigou a romper com o ministério dissolvido, mais cedo do que era minha intenção, e, talvez mais cedo do que convinha ao partido. Foi V. Excia. que, uma vez, em casa do Z... me disse, a uma janela, que os meus estudos de questões diplomáticas me indicavam naturalmente a pasta de Estrangeiros. Há de lembrar-se que lhe respondi então ser para mim indiferente subir ao ministério, uma vez que servisse ao meu país. V. Excia. replicou: — É muito bonito, mas os bons talentos querem-se no ministério.

Na Câmara, já pela posição que fui adquirindo, já pelas distinções especiais de que era objeto, dizia-se, acreditava-se que eu seria ministro na primeira ocasião; e, ao ser chamado V. Excia. ontem para organizar o novo gabinete, não se jurou outra coisa. As combinações variavam, mas o meu nome figurava em todas elas. É que ninguém ignorava as finezas de V. Excia. para comigo, os bilhetes em que me louvava, os seus reiterados convites, etc.

Confesso a V. Excia. que acompanhei a opinião geral.

A opinião enganou-se, eu enganei-me; o ministério está organizado sem mim. Considero esta exclusão um desdouro irreparável, e determinei deixar a cadeira de deputado a algum mais capaz, e, principalmente, mais dócil.
Não será difícil a V. Excia. achá-lo entre os seus numerosos admiradores.
Sou, com elevada estima e consideração.
De V. Excia. desobrigado amigo,
Brotero."

Os verdadeiros políticos dirão que esta carta é só verossímil no despeito, e inverossímil na resolução. Mas os verdadeiros políticos ignoram duas coisas, penso eu. Ignoram Boileau, que nos adverte da possível inverossimilhança da verdade, em matérias de arte, e a política, segundo a definiu um padre da nossa língua, é a arte das artes; e ignoram que um outro golpe feria a alma do Brotero naquela ocasião. Se a exclusão do ministério não bastava a explicar a renúncia da cadeira, outra perda a ajudava. Já têm notícia do desastre político; sabem que houve crise ministerial, que o conselheiro *** recebeu do imperador o encargo de organizar um gabinete, e que a diligência de um certo B... conseguiu meter nele um certo C... A pasta deste foi justamente a de Estrangeiros; e o fim secreto da diligência era dar um lugar na galeria do Estado à viúva Pedroso. Esta senhora, não menos gentil que abastada, elegera dias antes para seu marido o recente ministro. Tudo isso iria menos mal, se o Brotero não cobiçasse ambas as fortunas, a pasta e a viúva; mas, cobiçá-las, cortejá-las e perdê-las, sem que ao menos uma viesse consolá-lo, da perda da outra, digam-me francamente se não era bastante a explicar a renúncia do nosso amigo?

Brotero releu a carta, dobrou-a, encapou-a, sobrescritou-a; depois atirou-a a um lado, para remetê-la no dia seguinte. O destino lançara os dados. César transpunha o Rubicão, mas em sentido inverso. Que fique Roma com os seus novos cônsules e patrícias ricas e volúveis! Ele volve à região dos obscuros; não quer gastar o aço em pelejas de aparato, sem utilidade nem grandeza. Reclinou-se na cadeira e fechou o rosto na mão. Tinha os olhos vermelhos quando se levantou; e levantou-se, porque ouviu bater quatro horas, e recomeçar a procissão dos relógios, a cruel e implicante monotonia das pêndulas.

Uma, duas, três, quatro... Não tinha sono; não tentou sequer meter-se na cama. Entrou a andar de um lado para outro, passeando, planeando, relembrando. De memória em memória, reconstruiu as ilusões de outro tempo, comparou-as com as sensações de hoje, e achou-se roubado. Voluptuoso até na dor, mirou afincadamente essas ilusões perdidas, como uma velha contempla as suas fotografias da mocidade. Lembrou-se de um amigo que lhe dizia que, em todas as dificuldades da vida, olhasse para o futuro. Que futuro? Ele não via nada. E foi-se achegando da secretária, onde tinha guardadas as cartas dos amigos, dos amores, dos correligionários políticos, todas as cartas. Já agora não podia conciliar o sono; ia reler esses papéis velhos.

Não se relêem livros antigos?

Abriu a gaveta; tirou dois ou três maços e desatou-os. Muitas das cartas estavam encardidas do tempo. Posto nem todos os signatários houvessem morrido, o aspecto geral era de cemitério; donde se pode inferir que, em certo sentido, estavam mortos e enterrados. E ele começou a relê-las, uma a uma, as de dez páginas e os simples bilhetes, mergulhando nesse mar morto de recordações apagadas, negócios pessoais ou públicos, um espetáculo, um baile, dinheiro emprestado, uma intriga, um livro novo, um discurso, uma tolice, uma confidência amorosa. Uma das cartas, assinada Vasconcelos, fê-lo estremecer:

A L... a, dizia a carta, chegou a S. Paulo, anteontem. Custou-me muito e muito obter as tuas cartas; mas alcancei-as, e daqui a uma semana estarão contigo; levo-as eu mesmo. Quanto ao que me dizes na tua de H... estimo que tenhas perdido a tal idéia fúnebre; era um despropósito. Conversaremos à vista.

Esse simples trecho trouxe-lhe uma penca de lembranças. Brotero atirou-se a ler todas as cartas do Vasconcelos. Era um companheiro dos primeiros anos, que naquele tempo cursava a academia, e agora estava de presidente no Piauí. Uma das cartas, muito anterior àquela, dizia-lhe:

Com que então a L... a agarrou-te deveras? Não faz mal; é boa moça e sossegada. E bonita, maganão! Quanto ao que me dizes do Chico Sousa, não acho que devas ter nenhum escrúpulo; vocês não são amigos; dão-se. E depois, não há adultério. Ele devia saber que quem edifica em terreno devoluto...

Treze dias depois:

Está bom, retiro a expressão terreno devoluto; direi terreno que, por direito divino, humano e diabólico, pertence ao meu amigo Brotero. Estás satisfeito?

Outra, no fim de duas semanas:

Dou-te a minha palavra de honra que não há no que disse a menor falta de respeito aos teus sentimentos; gracejei, por supor que a tua paixão não era tão séria. O dito por não dito. Custa pouco mudar de estilo, e custa muito perder um amigo, como tu...

Quatro ou cinco cartas referiam-se às suas efusões amorosas. Nesse intervalo o Chico Sousa farejou a aventura e deixou a L...a; e o nosso amigo narrou o lance ao Vasconcelos, contente de a possuir sozinho. O Vasconcelos felicitou-o, mas fez-lhe um reparo.

...Acho-te exigente e transcendente. A coisa mais natural do mundo é que essa moça, perdendo um homem a quem devia atenções e que lhe dera certo relevo, recebesse com alguma dor o golpe. Saudade, infidelidade, dizes tu. Realmente, é demais. Isso não prova senão que ela sabe ser grata aos benefícios recebidos. Quanto à ordem que lhe deste de não ficar com um só traste, uma só cadeira, um pente, nada do que foi do outro, acho que não a entendi bem. Dizes-me que o fizeste por um sentimento de dignidade; acredito. Mas não será também um pouco de ciúme retrospectivo? Creio que sim. Se a saudade é uma infidelidade, o leque é um beijo; e tu não queres beijos nem saudades em casa. São maneiras de ver...

Brotero ia assim relendo a aventura, um capítulo inteiro da vida, não muito longo, é verdade, mas cálido e vivo. As cartas abrangiam um período de dez meses; desde o sexto mês começaram os arrufos, as crises, as ameaças de separação. Ele era ciumento; ela professava o aforismo de que o ciúme significa falta de confiança; chegava mesmo a repetir esta sentença vulgar e enigmática: "zelos, sim, ciúmes, nunca". E dava de ombros, quando o amante mostrava uma suspeita qualquer, ou lhe fazia alguma exigência. Então ele excediase; e aí vinham as cenas de irritação, de reproches, de ameaças, e por fim de lágrimas.

Brotero às vezes deixava a casa, jurando não voltar mais; e voltava logo no dia seguinte, contrito e manso. Vasconcelos reprimia-o de longe; e, em relação às deixadas e tornadas, dizia-lhe uma vez:

Má política, Brotero; ou lê o livro até o fim, ou fecha-o de uma vez; abri-lo e fechá-lo, fechá-lo e abri-lo é mau, porque traz sempre a necessidade de reler o capítulo anterior para ligar o sentido, e livros relidos são livros eternos.

A isto respondia o Brotero que sim, que ele tinha razão, que ia emendar-se de uma vez, tanto mais que agora viviam como os anjos no céu.

Os anjos dissolveram a sociedade. Parece que o anjo L... a, exausto da perpétua antífona, ouviu cantar Dafne e Cloé, cá embaixo, e desceu a ver o que é que podiam dizer tão melodiosamente as duas criaturas. Dafne vestia então uma casaca e uma comenda, administrava um banco, e pintava-se; o anjo repetiu-lhe a lição de Cloé; adivinha-se o resto.

As cartas de Vasconcelos neste período eram de consolação e filosofia. Brotero lembrou-se de tudo o que padeceu, das imprudências que praticou, dos desvarios, que lhe trouxe aquela evasão de uma mulher, que realmente o tinha nas mãos. Tudo empregara para reavê-la e tudo falhara. Quis ver as cartas que lhe escreveu por este tempo, e que o Vasconcelos, mais tarde, pôde alcançar dela em S. Paulo e foi à gaveta onde as guardara com as outras. Era um maço atado com fita preta. Brotero sorriu da fita preta; deslaçou o maço e abriu as cartas.

Não saltou nada, data ou vírgula; leu tudo, explicações, imprecações, súplicas, promessas de amor e paz, uma fraseologia incoerente e humilhante. Nada faltava a essas cartas; lá estava o infinito, o abismo, o eterno. Um dos eternos, escrito na dobra do papel, não se chegava a ler, mas supunha-se. A frase era esta: "Um só minuto do teu amor, e estou pronto a padecer um suplício etc...". Uma traça bifara o resto da palavra; comeu o eterno e deixou o minuto.

Não se pode saber a que atribuir essa preferência, se à voracidade, se à filosofia das traças.

A primeira causa é mais provável; ninguém ignora que as traças comem muito.

A última carta falava de suicídio. Brotero, ao reler esse tópico, sentiu uma coisa indefinível; chamemos-lhe o "calafrio do ridículo evitado". Realmente se ele se houvesse eliminado, não teria o presente desgosto político e pessoal; mas o que não diriam dele nos pasmatórios da Rua do Ouvidor, nas conversações à mesa? Viria tudo à rua, viria mais alguma coisa; chamar-lhe-iam frouxo, insensato, libidinoso, e depois falariam de outro assunto, uma ópera, por exemplo.

— Uma, duas, três, quatro, cinco principiaram a dizer os relógios.

Brotero recolheu as cartas, fechou-as uma a uma, emaçou-as, atou-as e meteu-as na gaveta.

Enquanto fazia esse trabalho, e ainda alguns minutos depois, deu-se a um esforço interessante: reaver a sensação perdida. Tinha recomposto mentalmente o episódio, queria agora recompô-lo cordialmente; e o fim não era outro senão cotejar o efeito e a causa, e saber se a idéia do suicídio tinha sido um produto natural da crise. Logicamente, assim era; mas Brotero não queria julgar através do raciocínio e sim da sensação.

Imaginai um soldado a quem uma bala levasse o nariz, e que, acabada a batalha, fosse procurar no campo o desgraçado apêndice. Suponhamos que o acha entre um grupo de braços e pernas; pega dele, levanta-o entre os dedos — mira-o, examina-o, é o seu próprio...

Mas é um nariz ou um cadáver de nariz? Se o dono lhe puser diante os mais finos perfumes da Arábia, receberá em si mesmo a sensação do aroma? Não: esse cadáver de nariz nunca mais lhe transmitirá nenhum cheiro bom ou mau; pode levá-lo para casa, preservá-lo, embalsamá-lo; é o mesmo. A própria ação de assoar o nariz, embora ele a veja e compreenda nos outros, nunca mais há de podê-la compreender em si, não chegará a reconhecer que efeito lhe causava o contacto da ponta do nariz com o lenço. Racionalmente, sabe o que é; sensorialmente, não saberá mais nada.

— Nunca mais? pensou o Brotero... Nunca mais poderei...

Não podendo obter a sensação extinta, cogitou se não aconteceria o mesmo à sensação presente, isto é, se a crise política e pessoal, tão dura de roer agora, não teria algum dia tanto valor como os velhos diários, em que se houvesse dado a notícia do novo gabinete e do casamento da viúva. Brotero acreditou que sim. Já então a arraiada vinha clareando o céu.

Brotero ergueu-se; pegou da carta que escrevera ao presidente do conselho, e chegou-a à vela; mas recuou a tempo.

— Não, disse ele consigo; juntemo-la aos outros papéis velhos; inda há de ser um nariz
cortado.

(Publicado originalmente em Gazeta de Notícias, 1883)

Fontes:
ASSIS, Machado de. Obra Completa. vol. II. RJ: Nova Aguilar, 1994.
Imagem = http://agulheta.blogspot.com/

Dicionário do Folclore (Letra J)



. É uma sineta de metal trazida pelos escravos africanos para o Brasil. É utilizada na cerimônia de dar comida ao Santo, Orixá.
JABÁ. Veja CHARQUE.
JACARÉ. Os dentes do jacaré são os protetores da dentição das crianças. A criança que usar um dente de jacaré, na volta ou numa pulseira, terá dentes sadios. Também faz com que as crianças não tenham dor de dente.
JACI. É a Lua, a mãe dos frutos. Casada com o Sol (Coaraci, Coraci, Goaraci, Gorazi), Jaci é motivo de muita festa pelos índios, com muita comida, muita bebida, cantos e danças, quando aparece a Lua Nova.
JAGUNÇO. Jagunço é um chuço, uma haste de madeira com uma ponta de ferro na outra extremidade, antiga arma de defesa e de ataque. Depois, a palavra passou a ter outro significado: valentão, capanga, bandoleiro, cangaceiro, guarda-costas de políticos, fazendeiros, senhores de engenho.
JANAÍ. Na região amazônica, é um macaco buliçoso que, à noite, pega as crianças para sugar o sangue. Também conhecido como macaco-da-noite, macaco-da-meia-noite.
JANAÍNA. Veja DANDALUNDA, IEMANJÁ.
JANGADA. A jangada é uma embarcação feita com paus roliços, de uma madeira especial mais conhecida por pau-de-jangada, usada em pescarias desde a colonização. No começo, as jangadas não tinham vela. Os tupis começaram usando uma vela em forma de triângulo que chamavam de cutinga, língua branca e chamavam as jangadas de itapaba, igapeba, piperi, candandu, catamarã e hoje são conhecidas como bote, burrinho, catre, paquete. As jangadas maiores são feitas com sete paus e as menores com cinco. Pero Vaz de Caminha foi a primeira pessoa que registrou a existência das jangadas entre os índios, na carta que mandou ao rei de Portugal, dando notícias da terra descoberta por Pedro Álvares Cabral. A jangada, no Nordeste, ainda é usada pelos pescadores. Nos açudes, as jangadas, sem velas, são feitas com troncos de bananeira. Os índios do Rio São Francisco faziam suas jangadas com junco de piripiri e os guaranis usavam o bambu. Geralmente a jangada nordestina menor tem 3 metros de comprimento por 80 cm de largura e a maior, a jangada grande, chega a medir de 8 a 9 metros de comprimento por até 2 metros de largura. Sua tripulação varia de acordo com o tamanho, de dois a quatro homens.
JEBU. Tem o mesmo significado de chabu, isto é, quando os fogos de São João falham, logo no começo. Diz-se, também, quando qualquer coisa não dá certo.
JEGUEDÉ. Instrumento de percussão dos africanos, usado no Sul do Brasil e que deu nome à dança-do-jeguedé, uma espécie de bambeló individual, mas também dançada por muitas pessoas.
JEJUM. O jejum da Igreja Católica começava ao meio-dia da Quinta-Feira Santa até o romper da Aleluia, no sábado. Não se comia carne, nem tudo que fosse doce e as pessoas passavam estes dias quase sem comer. O jejum católico era feito todas as sextas-feiras durante os quarenta dias da Quaresma. E os católicos só voltavam a se alimentar normalmente no Sábado de Aleluia, quando o povo cantarolava: - "Aleluia, Aleluia! Carne no prato, farinha na cuia". Na Quinta-Feira Santa ou na Sexta-Feira da Paixão era costume, como ainda hoje acontece em muitas cidades do interior, os mais pobres pedirem o jejum que consiste em receber peixes e bacalhau dados pelos mais abastados.
JENIPAPO. Além de comerem o jenipapo, os nossos índios faziam de sua madeira uma tinta azul-negra, com a qual pintavam o corpo todo nas suas festas. Com a polpa de jenipapo, é feito um gostoso e tradicional licor muito apreciado no Nordeste, como também um vinho. Também é dado o nome de jenipapo à mancha escura que os mestiços trazem nos quadris ou na cintura, ao nascerem. O uso do jenipapo, na medicina popular, é bastante conhecido no Pará, no Amazonas e no Acre: "Para as doenças do baço, nada como colocar o pé no tronco do jenipapo. Corte a casca do tamanho do pé da pessoa doente. A casca retirada do jenipapeiro deve ser colocada no fumeiro da cozinha. A casca vai engelhando e o baço também.
JERIBITA. Veja CACHAÇA.
JERIMUM. Como é conhecida a abóbora no Norte e no Nordeste brasilieiros. Também se diz jirimum.
JINJIBIRRA. A jinjibirra é uma bebida que existia antes dos refrigerantes gasosos de hoje. Era feita com garapa de água e açúcar, suco de qualquer fruta (o abacaxi era uma das frutas preferidas), cremor de tártaro, fermento de padaria ou ácido cítrico. No Ceará, ainda é preparada com suco de jenipapo. A jinjibirra é a cerveja do povão. Tudo faz crer que os ingleses foram os introdutores da popular bebida em Pernambuco, em 1810, graças à Carta Régia que franqueou os portos do Brasil à Inglaterra. O uso da jinjibirra foi desaparecendo nas primeiras décadas do século XX, quando começaram a aparecer as sodas de frutas (de pera, de uva, de maçã), as gasosas, a cerveja, etc. No sertão ainda se toma, esporadicamente, a jinjibirra.
JOÃO-DA-CRUZ. Era o sinônimo popular de dinheiro, antigamente, por causa da cruz gravada nas moedas portuguesas e do nome João, muito comum aos reis de Portugal.
JOÃO FERNANDES. Nome dado a uma dança sapateada, ao som da viola e que faz parte do baile pastoril gaúcho. Uma espécie de fandango. Veja FANDANGO.
JOÃO GALAFOICE. Também conhecido como João Galafaice (Sergipe), João Galafuz (Pernambuco), o João Galafoice é um negro que pega as crianças quando estão fora de casa, principalmente à noite.
JOÃO REDONDO. Nome dado, na Paraíba, ao mamulengo.
JOGO-DO-BICHO. O jogo-do-bicho teve a seguinte origem: O Barão de Drummond fundou o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, no ano de 1893 e, como teve a subvenção federal cortada, os animais estavam condenados a morrer de fome. Para que isso não acontecesse, o Barão teve a idéia de escrever, num pedaço de papel que era colocado num envelope, preso num galho de uma árvore bem alta, o nome de um dos bichos do zoológico. Durante o dia as pessoas que visitavam o zoológico jogavam num dos bichos e, à tarde, o envelope era aberto e quem acertasse, isto é, quem jogasse no bicho que estava escrito no papel dentro do envelope, ganhava um prêmio. Com o dinheiro que sobrava o Barão comprava a comida dos animais. Depois, o jogo-do-bicho saiu do Jardim Zoológico e começou a ser explorado por outras pessoas. Apesar de ser proibido por lei, o jogo-do-bicho existe na maioria dos Estados brasileiros e é o ganha-pão de milhares de pessoas. O jogo-do-bicho agrupa vinte e cinco bichos. Cada bicho tem um número, de 1 a 25. Cada bicho tem quatro dezenas. Exemplo: o avestruz é o número 1 e as dezenas 01, 02, 03 e 04 são as dezenas do avestruz. Depois das dezenas, vêm as centenas de 0 a 100, de 101 a 200, etc. e, finalmente o milhar que é composto de 4 números, unidades, dezena, centena de milhar. Exemplo: o milhar 1401 é o milhar de avestruz porque avestruz é todo milhar que termina com dezenas 01, 02, 03, 04. O jogo-do-bicho é a esperança de milhares de brasileiros que, diariamente, tentam a sorte. Os bicheiros são os vendedores do jogo e os banqueiros são os que bancam o jogo, pagando os prêmios e ficando com o lucro dos que jogaram e não acertaram. Interessante é a figura do decifrador dos sonhos no jogo-de-bicho: 1. Se a pessoa sonhar com um gato, joga gato. Mas se a pessoa sonhar com um gato caindo do telhado, joga burro, porque gato que cai do telhado é burro, isto é, não é inteligente; 2. Se a pessoa sonhar com uma cobra, joga cobra, nº 9. Mas se sonhar com uma cobra saindo de um buraco joga burro, porque o buraco é zero (0) e o número da cobra é nove. Juntando o buraco (0) zero com o número da cobra 9 forma dezena 09, que é uma dezena de burro (09,10,11 e 12).
JOSEPH M. LUYTEN nasceu no dia 15 de agosto de 1941, na cidade de Brunssun, Holanda. Chegou ao Brasil em 1952 e residiu, inicialmente, na rua Motocolombó (onde morou o poeta Leandro Gomes de Barros), no Recife. Em 1968 concluiu o curso de Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (SP), passando a trabalhar ativamente na imprensa paulistana. Em 1970 terminou o curso de pós-graduação em Literatura pela Universidade de São Paulo, passando a ensinar em diversas escolas de nível superior, como a Faculdade Cásper Líbero, Objetivo, ESPM e Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Em 1980, Mestre em Ciências da Comunicação, pela USP, Joseph Luyten parte para o Japão, onde permanece durante sete anos pesquisando no National Museum of Ethnology de Osaka (3 anos) e lecionando na University of Tsukuba (4 anos). Em 1991, é convidado para exercer as funções de Reitor do Campus Avançado da Universidade Teikyo, em Maastrich, Holanda. Em 1995 retorna ao Japão para lecionar Cultura Brasileira na Universidade de Tenry (Nara), durante dois anos. De volta à Holanda é convidado para lecionar Literatura Popular na Universidade de Poitiers (França) e organizar o Fonds Raymond Cantel dedicado à literatura de cordel. É professor catedrático da UNESCO, crítico de Artes Plásticas , membro da Associação Internacional de Críticos de Artes (UNESCO), da ABE (desde 1981), da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e da Associação Paulista de Folclore. Tem vasta bibliografia sobre assuntos folclóricos do Brasil e do mundo, mais de 50 artigos em revistas acadêmicas do Brasil, da Bélgica, da Holanda, do Japão, das Filipinas, do Peru. Expert em literatura popular em versos, Joseph Luyten tem uma coleção de 15.000 folhetos de feira, além de uma biblioteca e de um arquivo especializados em Literatura Popular com mais de 7.000 ítens. Na área de Folclore, publicou Bibliografia especializada em literatura popular em verso (1981), O que é literatura popular (1983), Sistemas de comunicação popular (1988), Burajiru Mishin Bom no Sekkai (1990) e A notícia na literatura de cordel (1992). No momento, mais uma vez está residindo no Brasil, ministrando curso de pós-graduação sobre Folk-Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo (SP). Joseph M. Luyten tem prestado, ao longo dos anos, excelentes serviços no que diz respeito à divulgação do Folclore brasileiro na área internacional.
JUDAS. É um boneco feito com uma roupa de homem que se enche com palha ou pano, pendurado num poste ou numa árvore e, no Sábado de Aleluia, é rasgado e queimado. Foi o apóstolo Judas quem vendeu Cristo por trinta moedas. E, no Sábado de Aleluia, os católicos se vingam de Judas. Costumam, também colocar no seu interior, pequenas bombas. O Judas tem outros nomes, como Homem da Quaresma, Jacques da Quaresma, Judas de Palha, Homem de Palha, etc. Antes da destruição do boneco, é lido seu testamento, colocado no bolso do seu paletó. O testamento de Judas, escrito em versos, é uma sátira às pessoas e coisas do lugar. No testamento, Judas deixa seus bens para as pessoas moradoras na cidade. É um hábito corrente principalmente nos países da América Latina.
JUNÇA. É uma planta que vive nas margens dos rios, lagoas e alagados. Na África, é conhecida como dandá, usada como remédio e defumador para expulsar os maus espíritos do corpo das pessoas e atrair os bons. As raízes da junça, colocadas numa garrafa de cachaça, são receitadas às pessoas que têm cólicas uterinas, intestinais, reumatismo, digestão difícil e, friccionadas no lugar das dores, aliviam bastante.
JUNTAR-AS-CANELAS. Na linguagem do povo significa morrer.
JUREMA. É uma árvore de duas qualidades: a jurema-branca e a jurema-preta. Os pajés (sacerdotes tupis) usavam uma bebida da jurema-branca que fazia com que as pessoas tivessem sonhos afrodisíacos. Os feiticeiros, babalorixás pernambucanos, os mestres de catimbó, os pais-de-terreiro dos candomblés da Bahia usam muito a jurema. Até o século XX, beber jurema era sinônimo de feitiçaria ou prática de magia.
JURUCUTU. É o nome de uma ave do tamanho de um frango, que anda pelos telhados das casas à noite. É uma ave agourenta. Quando os indígenas estão trabalhando em seus roçados ou pescando e escutam o canto do jurucutu, param de trabalhar e de pescar porque nada mais dará certo.
JURUPARI. Era o demônio dos indígenas brasileiros.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

terça-feira, 5 de maio de 2009

Lívia Tucci (Poesia, o Atalho de Magos e Loucos)

A folha que recicla (Antonio Guerreiro)
Afinal, o que é poesia? É uma linguagem orgânica e invertebrada? Sonora...elástica? É poesia a que revela a magia, a alquimia da palavra que transforma tudo o que a vida limita e não pode criar? O que sabe a poesia? Eu, nada sei...serei sempre aprendiz. Vejo a poesia, como o tempo, que está em todos os lugares, mas prefere se deter mais longamente na placidez das coisas simples e duradouras. É a contemplação da alma turbulenta. É poesia a que é pressentida nos símbolos que transcendem o ser e renovam a linguagem indolente. Linguagem extraída da essência poética, de nós mesmos. Onde está a poesia? A poesia está nos livros antigos, velhos e esquecidos. Nos contemporâneos e virtuais. Nas areias da praia. Está nos sebos, nas bibliotecas, nas livrarias. Nas latas de lixo, quando o pensamento vil e homens de pouca fé não comportam em si tanta invasão poética. Está na casa dos amigos, nas suas estantes e banheiros. Em livros esquecidos de serem devolvidos. Está nas ruas, nos bares. Nas gavetas e no seu silêncio. Na anarquia e no inconformismo. No grito afiado dos oprimidos. Em bordéis e lares nem tantos. No avesso e no direito. No sangue e suor transpirado. Na loucura e no inesperado. Na lama e no lótus. A poesia está na primeira impressão, nos versos livres, contidos, contados. No corpo descrito, desnudo, velado, dos cantos e salmos. No sagrado e no profano. Está nos traços, pelo carvão e pincel que desliza, sensual, sua cor e drama na folha branca. O que sabemos da poesia? Muito pouco, por ser ela inconstante, mutante, autofágica...num surpreendente mimetismo. Conhecemos sua partida. Desconhecemos seu destino e chegada...tudo pode ser possível entre uma estação e outra. Há poesia na imagem que se traduz em momentos únicos, líricos, oníricos. Imagens irreversíveis. Instantâneos reveladores. É poesia a que recicla vocábulos, revira signos e movimentos? É poeta o que descobre um novo ritmo, sempre que o coração se encontra e dispara ou repousa na placidez das águas do bem e do mal? São todos os sentidos nas flores do zen, nas cores do mar. Nas festas ao sol, nos saraus ao luar. A poesia é um estado de espírito, de espera e de espanto. Na comunhão universal ou na paz de nossa própria solidão...

Fonte:
http://muraldosescritores.ning.com/

Livia Tucci



Vem de uma família de imigrantes italianos estabelecidos no sul do país, em SC. Nasceu em Curitiba, PR. Desenvolveu seus estudos nos EUA e Brasil , respectivamente. De volta ao Brasil, em 1977, passou a residir em Belo Horizonte. Sua formação acadêmica é em Turismo. É professora de Inglês, intérprete e tradutora. Como designer de jóias e artesã, desenvolveu um trabalho em acessórios de moda e biojóias.

No setor cultural, tem experiência na área artística e literária, como cantora, escritora e editora. Produziu e coordenou eventos literários, musicais e culturais.Como cantora profissional faz um trabalho com jazz, bossa e blues. Como poeta, ganhou prêmios literários e teve trabalhos publicados em jornais e antologias. Dos prêmios literários, os mais importantes foram os Prêmios BDMG – Cultural de Literatura, com as obras “O Avesso do Cristal” ( editado pelo selo Extravia ) e “Dos Planos de Vôos”(inédito). Em 1990, produziu e coordenou o projeto cultural mensal, “Poesiarte”. Criou o folder literário e o selo editorial “Extravia –poesia e arte em movimento”.
Atualmente,está desenvolvendo o projeto “Cantares dos Sentidos”— um espetáculo de poesia e mpb sensual.
Visite os blogs http://www.liviatucci-poesiaeartesgerais.blogspot.com/ e
http://muraldosescritores.ning.com/profile/LiviaTucci com seus trabalhos e de outros literatos.

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/

Filmes baseados em obras de escritores famosos



2001: Uma Odisséia no Espaço (Arthur C. Clarke)
Um filme que marcou uma época e um gênero. Uma expedição científica espacial investiga o surgimento de um monolito no planeta Júpiter

À Sombra das Pirâmides (Baseado em “Antonio e Cleopatra”, de William Shakespeare)
As questões políticas do Império Romano ficam estremecidas com a morte do Imperador Cesar e com o envolvimento do então Governador Marco Antônio com Cleópatra. As conseqüências desse romance são trágicas, desencadeando guerras e invasões.

Adeus às Armas (Ernest Hemingway)
Um americano alistado no exército italiano como motorista de ambulância e uma enfermeira se apaixonam em meio aos horrores da Primeira Grande Guerra. Determinados a viver o romance em paz, eles acabam fugindo para a Suíça

Agonia e Êxtase (Irving Stone)
As divergências entre o artista Michelangelo e o Papa Julio II com relação à pintura do teto da Capela Sistina. Uma grande obra com a livre interpretação do artista sobre a criação do homem por Deus.

Amor & Cia (baseado no livro “Alves & Cia” de Eça de Queirós)
No final do século XIX, um triângulo amoroso mexe com uma pequena cidade. O dilema de um homem em lavar a honra ou lutar pelo amor de sua mulher que teve uma pequena atração pelo seu sócio.

Amor Sublime Amor (baseado em Romeu e Julieta, de William Shakespeare)
A briga de duas gangues rivais em Manhattan, na década de 50, fica mais acirrada quando um dos integrantes de uma gang se apaixona por uma moça da gang inimiga.

Anna Karenina (Leon Tolstói)
Um romance na Rússia Czarista entre uma mulher casada e um oficial que a conheceu em Moscou. A forte atração faz o homem procurar Anna em São Petesburgo e forçá-la a largar a família e fugir para Veneza.

Aventuras de Huckleberry Finn, As (Mark Twain)
As aventuras de um garoto e um escravo fugitivo pelas florestas à beira do Rio Mississipi buscando a liberdade

Bela da Tarde, A (Joseph Kessel)
Uma jovem mulher casada com um rico cirurgião vive o conflito de realizar suas fantasias sexuais fora do casamento. Uma vida paralela de prostituição que esconde do marido deixando-o enciumado por não entender as razões de suas atitudes

Bonequinha de Luxo (do conto de Truman Capote)
Uma esperta garota de programa que mora em Nova York está atrás de um bom partido, mas se apaixona por um escritor que vive à custa de uma mulher milionária

Caçador de Pipas, O (Khaled Hosseini)
O remorso por um fato passado com um amigo de infância faz um homem retornar a sua terra natal, o Afeganistão dominado pelo regime Talibã, para reparar o erro cometido e demonstrar o valor da amizade

Caninos Brancos (Jack London)
A amizade e o companheirismo na luta pela sobrevivência entre um homem que se aventura na mata em busca de ouro e um cão esperto que pertencia a um índio assassinado.

Carteiro e o Poeta, O (Antonio Skármeta)
A amizade entre o escritor Pablo Neruda, exilado numa ilha do Mediterrâneo, e um carteiro que tenta conquistar a mulher amada

Cavaleiros da Távola Redonda, Os (baseado no livro “A Morte de Arthur”, de Thomas Malory)
O rei Arthur Pendragon e sua irmandade de cavaleiros da Távola Redonda se dedicam para ter um reinado de paz e justiça na Inglaterra.

Chamado Selvagem (Jack London)
A história de um cão que, após ser seqüestrado, vai parar numa região gelada e vive várias aventuras na volta para casa.

Código da Vinci, O (Dan Brown)
Um especialista em simbologia é chamado para investigar o misterioso assassinato do curador do Louvre que tem ligações com o Priorado de Sião, uma sociedade que guarda segredos sobre o Santo Graal e a descendência de Cristo decifrados nas obras de Leonardo Da Vinci.

Conde de Monte Cristo, O (Alexandre Dumas)
Depois de receber de um padre um mapa de um tesouro escondido, um prisioneiro decide fugir da prisão e iniciar um plano de vingança contra os traidores que o colocaram injustamente na cadeia.

Contato (Carl Sagan)
O sonho de uma cientista em fazer contato com sinais de vida extraterrestre se realiza quando ela capta uma mensagem e decide embarcar numa aventura perigosa rumo ao desconhecido.

Corcunda de Notre Dame, O (inspirado na obra “Notre Dame em Paris”, de Victor Hugo)
Um ser deformado e monstruoso que vive na Catedral de Notre Dame resolve sair às ruas e sofre maus tratos do povo. Amparado por uma cigana, ele conhece uma nova relação de amor e compreensão diante do preconceito

Corrente do Bem, A (Catherine Ryan Hyde)
Um garoto decide ajudar as pessoas através de um projeto filantrópico. Mas o seu maior desafio é tentar ajudar a própria mãe acoólatra a encontrar a felicidade

Crime do Padre Amaro, O (Eça de Queirós)
Depois de ordenado e encaminhado para Los Reves, um jovem padre descobre as ligações ilícitas entre a igreja e alguns cidadãos corruptos da região. A leviandade paroquial facilita o seu caso de amor com a filha da dona da pensão e o coloca na difícil situação de uma gravidez proibida.

Crime e Castigo (Féodor Dostoiévski)
Estudante pobre é acusado de pertencer a um grupo anarquista e fica suspenso da escola. Na sua busca desesperada por dinheiro, acaba cometendo duplo assassinato.

Dama das Camélias, A (Alexandre Dumas Filho)
A escalada inescrupulosa de uma mulher pobre do interior da França que foge para Paris a fim de conquistar a nobreza usando seu corpo. Uma história de amor, traições e decadência física de uma mulher liberal e escandalosa para sua época

Diário de Anne Frank, O (Anne Frank)
Um diário que se tornou um importante registro dos horrores da Segunda Guerra vividos por uma menina de trezes anos que ficou confinada por dois anos em um sótão em Amsterdã com aos pais, a irmã e um grupo de amigos.

Eu, Robô (Isaac Asimov)
No ano 2035, os robôs estão bem atuantes e seguem regras básicas para a sua funcionalidade, porém o assassinato do cientista mentor da Robotics Corporation acaba levando um policial a investigar os andróides tornando-se o próximo alvo deles.

Excalibur (baseado no livro “A Morte de Arthur”, de Thomas Malory)
A vida do Rei Arthur contada desde sua concepção até o fim em Avalon. Lenda e história se misturam no caminho deste cavaleiro inglês que teve o destino profetizado, vivendo cercado de batalhas, heroísmo, tradições, romances e religiosidade.

Farol do Fim do Mundo,O (Júlio Verne)
Uma ilha é controlada por um faroleiro que briga com um pirata para se manter no comando.

Fausto (adaptação da obra de Göethe)
Clássico do expressionismo alemão, o filme mostra a luta de Fausto que ao fazer um pacto com o demônio em troca da eterna juventude e do amor de margarida, negocia sua alma. Sua luta representa a metáfora do homem sempre dividido entre o bem e o mal, a redenção e a danação

Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach)
Um filme poético que fala de liberdade e bondade fazendo uma comparação entre o homem e uma gaivota. A expressão de determinação revela neste filme, juntamente com a trilha sonora de Neil Diamond, um canto de amor ao ser livre.

Gaiola das Loucas, A (Jean Poiret)
As confusões causadas por um casal gay que precisa forjar a situação de marido e mulher para se apresentar diante da tradicional família da noiva do filho de um deles.

Germinal (Emile Zola)
A força de um jovem desempregado que se torna mineiro e entra no combate contra a direção das minas, conhecendo pessoas generosas e vivendo o medo de represálias sangrentas

Guerra dos Mundos (H. G. Wells)
A humanidade sofre uma surpreendente invasão marciana depois que um estranho objeto cai na Terra.

Guerra e Paz (Leon Tolstói)
A aristocracia russa sofre profundas modificações com intrigas e traições, quando a França invade o território russo no início do século XIX.

Hamlet (William Shakespeare)
Versão épica e integral da história da traição familiar que arruinou o reino da Dinamarca. O assassinato do rei desperta a desconfiança do príncipe Hamlet que se torna obsessivo em armar um plano cruel de vingança que elimina toda a família.

Henrique V (William Shakespeare)
Arcebispo de Cantuária mostra ao rei que por lei ele tem direito ao trono da França e o aconselha a invadi-la, causando muitas batalhas que serão travadas até a vitória final. Oscar de melhor figurino em 1990.

Homem Bicentenário, O (Isaac Asimov)
Num futuro próximo, um robô doméstico passa a ter sentimentos e deseja ao longo de duzentos anos tornar-se humano.

Homem da Máscara de Ferro, O (Alexandre Dumas)
No século XVII na França, o Rei Luis XIV descobre que tem um irmão gêmeo e o mantém prisioneiro com uma máscara de ferro presa ao rosto. Somente os Três Mosqueteiros poderão descobrir esta trama e revelar um novo Rei.

Homem Nu, O (Fernando Sabino)
Um homem vive as mais absurdas situações por um simples azar do destino. Tudo começa com uma porta que se fecha e o deixa completamente nu do lado de fora, tornando-se vítima de vários imprevistos.

Homem que queria ser rei, O (Rudyard Kipling)
Dois aventureiros ilegais que no final do século XIX encontram e ajudam uma comunidade na batalha com seus inimigos, um deles torna-se rei e enfrenta sérios problemas.

Horizonte Perdido (James Hilton)
Após sofrer um acidente aéreo, um grupo sobrevivente de fugitivos da guerra encontra um local paradisíaco no Tibete onde as idéias de vida e morte são bem diferentes das que eles acreditam

Idiota, O (Fiodor Dostoiévski)
Uma mulher se apaixona por um príncipe ingênuo, mas acaba optando pelo amor de um antigo romance.

Ilha do Adeus, A (Ernest Hemingway)
Um escultor que vive isolado numa ilha das Bahamas se surpreende com dois acontecimentos: a chegada dos filhos à ilha e o início da Segunda Guerra Mundial.

Irmãos Corsos, Os (Alexandre Dumas)
Dois irmãos siameses criados separados em terras distantes encontram-se anos mais tarde, um como cavaleiro e o outro bandido, para resolverem o assassinato de seus pais.

Júlio César (William Shakespeare)
Uma história cheia de traições e vinganças revelando a trama e o assassinato do imperador romano

Lobo do Mar, O (Jack London)
Um náufrago é salvo pelo capitão de um navio, mas enfrenta a autoritarismo dele liderando uma revolta a bordo.

Macbeth (William Shakespeare)
Um ambicioso herói de guerra escocês, cismado com a profecia de três bruxas, planeja com a mulher o assassinato do rei para ficar com seu trono. Porém, o seu reinado é marcado pela violência e pela corrupção reservando um futuro prenunciado.

Megera Domada, A (William Shakespeare)
Uma jovem chega ao novo colégio e se apaixona por um rapaz, mas para que o namoro seja permitido pelo pai, ela precisa arrumar - de qualquer maneira - um pretendente para a geniosa irmã.

Meninos do Brasil (Ira Levin)
O plano do nazista Joseph Mengele em capturar crianças sul-americanas para experiências genéticas é descoberto por um agente anti-nazismo e impedido de seguir adiante.

Mercador de Veneza, O (William Shakespeare)
A única solução que um jovem apaixonado encontra para conseguir dinheiro para se casar é pegar um empréstimo com um severo agiota que faz uma contraproposta muito cruel.

Meu pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcellos)
A amizade de um menino de seis anos por um pé de laranja lima. O único brinquedo que ele tem disponível no quintal e que se tornou seu confidente.

Miseráveis, Os (Victor Hugo)
Na França do século XIX, onde as diferenças sociais são grandes, um homem rouba um pedaço de pão e sofre uma perseguição policial por muitos anos.

Muito Barulho por Nada (William Shakespeare)
Na Sicília, as mulheres da vila de Messina esperam por seus homens, soldados do príncipe de Aragão, em meio a muita confusão com traições, intrigas, romances e vinganças.

Neves do Kilimanjaro (Ernest Hemingway)
Um escritor descobre o sentido de sua vida depois de um grave acidente numa aventura na África.

Nome da Rosa, O (Umberto Eco)
Um monge franciscano chega a uma abadia no século XIV e encontra um clima misterioso de mortes. Na tentativa de solucionar os casos racionalmente, ele se opõe às idéias fanáticas de um monge inquisidor.

Noites Brancas (Feodor Dostoievsky)
O encontro de um homem solitário, numa noite de inverno, com uma jovem mulher que está à espera de seu grande amor, transforma-o num apaixonado platônico por uma personagem que parece muito distante.

Oliver Twist (Charles Dickens)
As aventuras de um garoto pobre e órfão que vive de pequenos furtos nas ruas de Londres, e que acaba sendo preso injustamente. Um de seus desejos é encontrar uma família de verdade.

Othelo (William Shakespeare)
A paixão e o ciúme mortal de Othello são envolvidos pelas intrigas de Iago num plano de vingança que desmoraliza Desdêmona, destruindo de forma trágica e violenta a vida do casal.

Pequeno Príncipe, O (Antoine de Saint Exupery)
Um piloto perdido no deserto aprende e divide experiências com um menino desconhecido que observa e aprecia as coisas mais diferentes com muita imaginação e sabedoria.

Por quem os sinos dobram (Ernest Hemingway)
romance que acontece em plena Guerra Civil Espanhola entre um soldado americano que explode uma ponte falangista e uma camponesa

Processo, O (Franz Kafka)
Um inocente é preso por um crime que não cometeu e que não tem uma explicação lógica do envolvimento dele. Na tentativa de provar a inocência ele se distancia da liberdade

Rainha Margot, A (Alexandre Dumas)
A França está dividida por guerras religiosas e o trágico confronto entre católicos e protestantes na noite de São Bartolomeu leva a porta de Marguerite de Valois, recém-casada com Henry de Navarre, um protestante ferido por quem Margot se apaixona, mudando a história da França.

Rei Lear (William Shakespeare)
Rei Lear ao perceber que estava velho e doente decide dividir seu reino entre suas três filhas a fim de evitar futuras brigas. Mas este ato inicia um duro embate pelo poder, revelando ingratidão e inveja.

Robur, o Conquistador (Júlio Verne)
Um gênio do século XIX deseja acabar com as guerras e parte para o ataque destruindo armas bélicas a bordo de sua invenção voadora. O problema são os métodos loucos que ele utiliza, escondendo-se das autoridades dentro de um vulcão extinto.

Romeu e Julieta (Willian Shakespeare)
A história de amor do jovem casal que sofre com o ódio e a intolerância de suas famílias inimigas, levando-os a um desfecho trágico

Sede de Viver (Irving Stone)
A vida e a arte de Van Gogh marcadas pela genialidade na pintura e pela angústia de uma mente atormentada.

A Tempestade (William Shakespeare)
Um homem cansado da vida, resolve fugir para uma ilha na Grécia com a filha, descobrindo novas fantasias e vivendo uma frágil tranqüilidade.

Tempo de Despertar (baseado no livro autobiográfico de Oliver Sacks)
Médico tenta reanimar pacientes com paralisação cerebral através do uso de um novo medicamento que ainda é desconhecido em sua eficácia.

Três Mosqueteiros, Os (Alexandre Dumas)
As armadilhas do Cardeal Richelieu para tomar o poder influenciam o Rei Luiz XIII contra os mosqueteiros que precisam controlar a situação e fazer justiça.

Velho e o Mar, O (Ernest Hemingway)
As aventuras reais e imaginárias de um velho pescador que decide sair em viagem pelo Golfo de Cuba a fim de resolver problemas emocionais e psicológicos.

Viagem ao Centro da Terra (Júlio Verne)
A expedição de um grupo de cientistas ao centro da Terra liderada por um professor se torna uma fantástica aventura cheia de seres pré-históricos e perigosas ameaças de um explorador rival.

Vingança do Mosqueteiro, A (Alexandre Dumas)
As aventuras estão centradas em D`Artagnan, um jovem que sai do campo com o sonho de tornar-se um mosqueteiro do rei e também de vingar a morte do pai. Em Paris, ele acaba ajudando os mosqueteiros Porthos, Athos e Aramis a descobrir o plano para derrubar o rei e conseqüentemente uma guerra entre França e Inglaterra.

Vinte Mil Léguas Submarinas (Júlio Verne)
A viagem do Capitão Nemo pelos mares a bordo de um misterioso submarino, acolhendo e revelando sua genialidade e loucura aos tripulantes que sobreviveram a um naufrágio

Volta ao Mundo em Oitenta Dias (Júlio Verne)
A louca aventura de um simpático e excêntrico aristocrata inglês que aposta uma pequena fortuna com os amigos e decide fazer uma viagem ao redor do mundo.

Xangô de Baker Street, O (Jô Soares)
No final do século XIX, o detetive Sherlock Holmes e seu assistente Watson vêm ao Rio de Janeiro para desvendar a misteriosa ligação entre o desaparecimento de um violino de D. Pedro II e um assassinato de uma prostituta, mas acabam conhecendo algumas histórias da cultura brasileira.

Zorba, o grego (Nikos Katazantzakis)
Ambientada na ilha grega de Creta, uma história de amizade e aprendizado de vida entre um camponês extrovertido e um tímido escritor se fortalece quando aquele passa a trabalhar em uma mina abandonada do escritor e o ensina a viver com mais entusiasmo

Fontes:
http://www.cenaporcena.com.br/
Imagem = http://fut-tv-filmes.blogs.sapo.pt

Alguém sonha em ser escritor?

Notícia publicada na edição de 03/05/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba), na página 6 do caderno Cruzeirinho.

Juntar uma palavra à outra e de repente descobrir um verso, um poema, um conto ou mesmo uma crônica. Muitas crianças e jovens já descobriram a delícia que é escrever. Pois 40 deles vão poder ler seus textos na edição do Rodamundinho 2009.

É isso mesmo! As inscrições para a segunda edição da coletânea já estão abertas e podem ser feitas até o dia 20 de maio.

Para participar gratuitamente da seleção é preciso ter até 15 anos (completados até 31 de julho), e o texto precisa ser inédito (nunca publicado em nenhum lugar) e criado pela própria criança ou adolescente.

Você pode enviar o material por carta registrada ou por e-mail. Para enviar pelo correio devem ser endereçados para rua José Del Cistia, 161 - Jd. Moncayo CEP 18016-595 - Sorocaba, aos cuidados do monitor do projeto, Matheus Dantas.

Os trabalhos via e-mail, devem ser enviados para o endereço: rodamundinho2009@hotmail.com This email address is being protected from spam bots, you need Javascript enabled to view it . No caso de dúvidas ou informações, ligue para (15) 9752-7018.

Além do texto para seleção, devem constar os dados do participante: nome completo, idade, endereço, contato (telefone/e-mail) e cópia do RG.

Educadores estão convidados a encaminhar textos dos seus alunos num mesmo pacote, devidamente separados e identificados.

A seleção dos textos ficará por conta de escritores experientes. Os selecionados serão contatados pela equipe organizadora e também poderão conferir a relação pelo Cruzeirinho, que é parceiro do Rodamundinho desde que nasceu, em 2008.

Os participantes deste ano ganharão um exemplar do livro e no dia do lançamento poderão comprar mais unidades, se desejarem.

O Rodamundinho 2009 tem como idealizadores Douglas Lara e Alexandre Issa Latuf, e apoio do Jornal Cruzeiro do Sul e da Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural.

Então, se você tem um poema, uma crônica ou um conto guardado na gaveta, não perca tempo. Participe! Mas só vale se for seu mesmo, hein? (Estela Casagrande)

Fontes:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Imagem = http://www.luteranos.com.br

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Paulo Leminski (Adminimistério)

Quando o mistério chegar,
já vai me encontrar dormindo,
metade dando pro sábado,
outra metade, domingo.
Não haja som nem silêncio,
quando o mistério aumentar.
Silêncio é coisa sem senso,
não cesso de observar.
Mistério, algo que, penso,
mais tempo, menos lugar.
Quando o mistério voltar,
meu sono esteja tão solto,
nem haja susto no mundo
que possa me sustentar.

Meia-noite, livro aberto.
Mariposas e mosquitos
pousam no texto incerto.
Seria o branco da folha,
luz que parece objeto?
Quem sabe o cheiro do preto,
que cai ali como um resto?
Ou seria que os insetos
descobriram parentesco
com as letras do alfabeto?
Fonte:
LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. SP: Brasiliense. 2. Ed.

Noel Rosa (Poeta da Vila)



Fita Amarela

Quero que o sol
Não invada o meu caixão
Para a minha pobre alma
Não morrer de insolação

Quando eu morrer,
Não quero choro nem vela,
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela.

Se existe alma
Se há outra encarnação
Eu queria que a mulata
Sapateasse no meu caixão

Não quero flores
Nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta
Violão e cavaquinho

Estou contente,
Consolado por saber
Que as morenas tão formosas
A terra um dia vai comer.

Não tenho herdeiros
Não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos
Mas não paguei a ninguém

Meus inimigos
Que hoje falam mal de mim,
Vão dizer que nunca viram
Uma pessoa tão boa assim.
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Pastorinhas

A estrela d'alva no céu desponta
E a lua anda tonta com tamanho esplendor
E as pastorinhas pra consolo da lua
Vão cantando na rua lindos versos de amor

Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre sempre te amar
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Até Amanhã

Até amanhã se Deus quiser
Se não chover, eu volto pra te ver, ó mulher
De ti gosto mais que outra qualquer
Não vou por gosto, o destino é quem quer

Adeus é pra quem deixa a vida
É sempre na certa que eu jogo
Três palavras vou gritar por despedida
Até amanhã, até já, até logo

O mundo é um samba em que eu danço
Sem nunca sair do meu trilho
Vou cantando o teu nome sem descanso
Pois do meu samba tu és o estribilho

Eu sei me livrar do perigo
Num golpe de azar eu não jogo
É por isso que risonho eu te digo
Até amanhã, até já, até logo
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Menina dos Meus Olhos

Menina dos olhos castanhos,
Que reside lá na serra,
Bem juntinho de deus...
Tu és a menina dos meus olhos,
Estou cego de saudade
Pelos olhos seus.

A serra não precisa de luar,
É iluminada pela luz do teu olhar,
Até o próprio sol resolveu não brilhar
Pra não perder (pra quem?) pro teu olhar!

Teus olhos abusaram do clarão
Parecem fogos dominando a multidão
Um rasgo de luz teu olhar produziu
Foi o olhar (de quem?) do meu brasil
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Chuva de Vento

Chuva de vento
É quando o vento dá na chuva
Sol com chuva,
Céu cinzento
Casamento de viúva

Zeca Secura
Da fazendo do Anzol
Quando chove não vê sol
Vai comprar feijão no centro
Bebe dez litros
De cachaça em meia hora
Pra agüentá chuva por fora
Tem que se molhar por dentro

Vento danado
É aquele lá de Minas
Sopra em cima das meninas
Diverte a população
Até os velhos
Vão correndo pras janelas
Pra ver se alguma delas
Já usa combinação

Faz sol com chuva
Tem viúva lá da Penha
Não há viúva que tenha
Tantos pretendente junto
Nessa corrida
Da viúva de seu Mário
Quem for vencedor do páreo
Ganha resto de defunto

Quem nunca viu
Chuva de vento à fantasia
Vá em Caxambu de dia
Domingo de carnaval
Chuva de vento
Só essa de Caxambu
Domingo chove chuchu
E venta água mineral

Um Zé Pau d'Água
Tem um amigo parasita
Não trabalha e sempre grita:
Viva Deus e chova arroz!
Gritando assim
Do seu povo ele se vinga:
Viva Deus e chova pinga
Que o arroz nasce depois.
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Estrela da Manhã

A estrela da manhã
Quando brilha na amplidão
Faz lembrar uma saudade
Que guardei no coração

Quando à noite olho as estrelas
A brilhar no firmamento
Fica distraída ao vê-las
Esquecendo o meu tormento

E dos amores que tive
A gozar a mocidade
Só um no meu peito vive
Sob a forma de saudade
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Feitio De Oração

Quem acha
Vive se perdendo

Por isso agora vou me defendendo
Da dor tão cruel dessa saudade
Que por infelicidade
Meu pobre peito invade

Por isso agora
Lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação

E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba
Em feitio de oração

Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Cantar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia

Por isso agora
Lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com maior satisfação

E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba
Em feitio de oração

O samba na realidade
Não vem do morro nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce no coração
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Pedacinhos do Céu

sei que me amas com grande fervor,
há em teus lábios mil frazes de amor
entretanto,eu preciso houvir a voz da razão
para saber se direi sim ou não.

és para mim um formoso troféu,
vejo em ti pedacinhos do céu
porém preciso refletir mais um porquinho
para não desiludir ao meu dorido coração,
que ainda sente a emoção
de uma ingratidão

afinal,com amor,com fervor e muito apreço,
eu agradeço
a grandeza,a beleza e a riqueza do troféu,
julgo-me feliz,pois sempre quis
e tudo fiz,para exaltar um grandioso amor
e incluir neste chorinho,
entre beijos e carinhos,
pedacinhos lá do céu

és para mim um formoso troféu,
vejo em ti pedacinhos do céu,
porém preciso refletir mais um porquinho
para não desiludir ao meu dorido coração,
que ainda sente a emoção
de uma ingratidão

Noel Rosa (1910 – 1937)


Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910, num humilde chalé no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Nasceu sofrendo muito: o parto, difícil, a fórceps, causou a fratura de um osso da mandíbula. Em consequência, adquiriu um defeito físico no queixo, no lado direito do rosto, e muita dificuldade para mastigar. Quatro anos depois nasceu o seu único irmão, Hélio.

Noel Rosa aprendeu bandolim com a mãe, Martha, e foi introduzido ao violão pelo pai, Manuel de Medeiros Rosa. Mas se tornou mesmo autodidata. Suas primeiras experiências criativas foram paródias pornográficas, feitas no tempo do Colégio São Bento, sobre melodias de canções conhecidas na época. Adolescente, não tardou a começar a frequentar bordéis e pensões de mulheres. Nem a cair na boemia. Usava o violão do pai, até que ganhou um, de um tio.

Em 1927, voltava de uma noitada, quando encontrou sua avó paterna enforcada no quintal de sua casa; tinha se matado, repetindo o gesto de um bisavô de Noel. Foi naquele ano que ele iniciou namoro com uma vizinha, Clara, relação que veio a durar sete anos.

Mais ligado na música que nos estudos, Noel era na escola um aluno irreverente com os professores. Em Vila Isabel - celeiro de músicos - participava de serenatas e logo ficou conhecido como bom acompanhante ao violão. Em 1929, um grupo amador de jovens músicos, a maioria da Tijuca, o procurou: Almirante, Braguinha (que adotará o pseudônimo João de Barro), Henrique Brito e Alvinho. Com eles, formou o Bando de Tangarás.

O repertório do conjunto se compôs de cantigas de inspiração nordestina, de acordo com a moda do momento. Noel seguiu por essa trilha em suas primeiras composições, a toada "Festa no Céu" e a embolada "Minha Viola". Em 1929, ele as gravou, estreando em disco como solista. No Bando, não tinha destaque como cantor e compositor. Mas suas primeiras apresentações em público - em festas em casas, teatros e clubes - aconteceram com os Tangarás.

Em fins de 1930, Noel Rosa lança "Com_Que_Roupa?, inaugurando um estilo novo e singular, elaborado e comunicativo, de fazer samba. A música obtém grande aceitação popular (o disco vende 15 mil cópias). Ao mesmo tempo, é recebida entre intelectuais como uma expressão da condição do povo carioca e brasileiro. E estoura no carnaval de 1931, para o qual Noel teve mais sete composições gravadas. Data dessa fase a gravação também da sua primeira parceria com Lamartine Babo, a marcha nonsense "A.B.Surdo".

Aquele foi o único ano em que o compositor teve músicas aproveitadas no teatro de revista. Uma das peças, "Café com Música", destacando a cantora Aracy Cortes, incluiu oito criações suas, entre as quais duas obras-primas que ele próprio gravaria: "Gago_Apaixonado " e "Quem Dá Mais". A primeira se transformou em número obrigatório nas suas apresentações. Foi lançada em 31, ano em que saíram ainda "Eu Vou pra Vila" e "Cordiais Saudações", ambas com o Bando de Tangarás - a primeira na voz de Almirante, a segunda na de Noel.

Aprovado no vestibular, Noel se matriculou na faculdade de Medicina em abril daquele ano. Não chegou, porém, a terminar nem o primeiro semestre do curso. Este pelo menos lhe rendeu a inspiração de um grande samba, "Coração".

Por esse período, ele intensificou suas relações com os morros, aonde passou a ir com frequência, aprendendo, ficando amigo e parceiro dos sambistas locais. Como Cartola, de Mangueira, por exemplo. Na cidade, a amizade que se estreitou foi com Lamartine Babo. Os dois viraram companheiros de farras. Além disso, compuseram mais uma marcha juntos: "A.E.I.O.U.", para o carnaval do ano seguinte.

No início de 1934, Noel Rosa compôs "Rapaz_Folgado", uma resposta a "Lenço no Pescoço", do então jovem sambista Wilson Batista. Começou assim uma polêmica que se tornaria célebre e que renderia uma série de sambas. Em sua música, Noel, estranhamente, criticava o malandro cantado por Wilson - logo ele, um apologista da malandragem. No fundo, o que havia, porém, era uma rixa por causa mulher: Wilson tinha roubado uma namorada dele.

Noel levava uma complicada vida amorosa, com vários casos sucessivos ou mesmo simultâneos. Mantinha um namoro bem-comportado com Clara. E outro, mais quente, com Fina, a quem levava para passeios noturnos, em locais distantes e desertos, de carro. A mesma coisa passou a fazer com Lindaura.

Em março e abril de 1934, ele participou de uma turnê com o grupo Gente do Morro, liderado pelo flautista Benedito Lacerda, pelo norte do estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo. A excursão não deu lucro. No final, a maioria dos músicos voltou fugida de uma pensão em Vitória, sem pagar a conta. Noel, vivendo um romance com uma moça, ficou por lá. Sua mãe teve de ir buscá-lo, para que voltasse.

Já no Rio, em 23 de junho, numa festa de São João em sua homenagem no Cabaré Apollo, ele conheceu Ceci, que em breve se tornará bailarina e namorada dele. Mais que isso: sua maior paixão e musa.

Em 1934, João Petra de Barros gravou duas pérolas noelinas: "Feitiço_da_Vila", composta com Vadico, e "Linda Pequena", em parceria com João de Barro. A primeira não demorou para virar um clássico. A segunda só seria lançada um ano depois, sem obter maior repercussão. Apenas em 1937, reintitulada "Pastorinhas" e cantada por Silvio Caldas, ela iria estourar, transformando-se numa das peças mais populares de todos os tempos da música brasileira.

No campo artístico, Noel aprofundava então relações com Marília Baptista (bem-comportada, de classe média) e Aracy de Almeida (boêmia, pobre, do subúrbio). As duas viriam a ser as suas maiores intérpretes.

Em 1934, Noel Rosa faz constantes apresentações em emissoras de rádio e em cinemas. Numa delas, no Cine Grajaú, muito magro, ele desmaia em palco. É hospitalizado. Diagnóstico: tuberculose, na época uma doença difícil de se curar. A família decide que ele vá para uma cidade de clima bom. Noel quer levar Lindaura para cuidar dele. Sua mãe o obriga então a se casar com ela - o que acontece em dezembro. O casal vai para Belo Horizonte. Lá ele não abandona a noite de todo; acaba conhecendo a boemia local.

Tuberculose contida, mas não curada, mais gordo, ele volta em abril de 1935 para o Rio - e para Ceci. Aluga um quarto mobiliado para os dois. É por essa época que o pai de Noel se enforca num quarto da Casa de Saúde da Gávea. Tinha 54 anos e estava internado no hospício havia meses.

Uma maratona de recitais ocupava grande parte do tempo do artista. Além disso, Noel trabalhava em quatro estações de rádio. Cantava, contava piadas, participava de desafios - que sempre vencia -, escrevia textos publicitários, atuava até como contra-regra. E criava paródias engraçadíssimas.

À base de paródias de canções populares do período, ele fez, à época, duas "revistas radiofônicas" (ou "óperas bufas cariocas", na expressão de Almirante): "O Barbeiro de Niterói" e "Ladrão de Galinha". Além disso, com o pianista e regente húngaro Arnold Gluckmann, escreveu a opereta "A Noiva do Condutor". Nenhum desses trabalhos foi ao ar. O último teve de esperar meio século para ser conhecido.

Em 1935, Noel acrescentou uma nova série de "standards" à sua obra. Dois foram gravados por ele mesmo, "João Ninguém" e "Canta_Para_Você_Dançar. Outros três saíram no registro de Aracy de Almeida, que se firmava como intérprete representativa do compositor: "Triste Cuíca", "O X do Problema" e "Aracy_De_Almeida_._In_Memoriam ". Este se constituiu no contra-ataque mortal, definitivo, desferido por Noel em Wilson Batista, na polêmica poético-musical que travaram.

Janeiro de 1936 assistiu à estréia do filme "Alô, Alô, Carnaval", o primeiro musical a utilizar canções de Noel Rosa. Eram duas marchas: uma composta com Hervê Cordovil, "Não Resta a Menor Dúvida", interpretada pelo Bando da Lua; outra, "Pierrot Apaixonado", com Heitor dos Prazeres, cantada pela dupla Joel e Gaúcho. Esta e "Palpite_Infeliz” já eram sucesso e seriam destaques no Carnaval seguinte, que teve em Noel o compositor campeão, com mais sete músicas pontuando.

Apesar do sucesso, porém, pouco a pouco o sambista foi mostrando sintomas de desinteresse pela vida, como um crescente descuido com a aparência e com a saúde. Como não abandonava a boemia, as gripes se tornaram frequentes, acompanhadas de febre alta. Também foi se tornando cada vez menos profissional, atrasando-se para os compromissos.

Aquele ano - 1936 - acabou sendo a sua fase de menor produção: não chegaram a vinte as músicas que fez. Parte delas teve novo endereço cinematográfico: o bem-sucedido "Cidade Mulher", filme de Humberto Mauro. De Noel, na trilha ressaltavam "Dama do Cabaré" e a canção-título, ambas na voz de Orlando Silva, mais "Tarzan, o Filho do Alfaiate" (outra parceria com Vadico), com José Vieira.

Por essa época, Lindaura engravidou. Mas acabou perdendo o filho, após cair da goiabeira do quintal da casa da mãe de Noel. Ceci - que já tinha tido um caso com Wilson Batista - estava namorando com Mário Lago.

No Carnaval de 1937, Noel faz sucesso com "Quem Ri Melhor", gravado por ele e Marília Batista. Cada vez mais doente, chega a sair, mas já não brinca. Em abril, passa com a mulher três semanas em Friburgo. Em seguida, alguns dias em Piraí. Volta muito mal; é o fim. No mesmo quarto em que viera ao mundo, 26 anos antes, morre a 4 de maio. Um enterro concorrido acontece em Vila Isabel, ao qual comparece parte significativa do mundo do samba carioca. É grande a repercussão na imprensa: Noel era uma figura popular.

Pouco depois Aracy de Almeida lançava "Último Desejo", e Silvio Caldas, "Pastorinhas". Dois estouros.

De 1937 a 1950, Noel seria pouco gravado. No começo dos anos 50, iniciou-se um revival de sua obra, puxado por Aracy, que fez então muitos shows e três discos cantando-o (o primeiro, com capa de Di Cavalcanti, e todos com arranjos de Radamés Gnatalli). Marília Batista também o regravou (mais tarde faria um álbum duplo com músicas dele). E Almirante criou um programa de rádio de muito sucesso, "No Tempo de Noel Rosa", que durou cinco meses em 1952.

Sua Obra

Noel Rosa é um paradigma do samba, isto é: da moderna música popular urbana do Brasil. O samba - que acabou sendo elevado à condição de máximo representante da nossa identidade nacional, na música popular - foi seu ritmo preferido. E teve nele um dos principais arquitetos, no seu processo de consolidação.

Ele e Ismael Silva - seu parceiro mais constante - contribuíram significativamente para a evolução formal do gênero. O samba que passaram a fazer, no início dos anos 30, se distinguiu do samba amaxixado dos anos 20, representado sobretudo por Sinhô. Essa forma nova, mais domada e refinada - ritmicamente mais próxima do que hoje se reconhece como samba -, nasceu entre os sambistas do bairro do Estácio de Sá e se espalhou pelo Rio de Janeiro graças, em grande parte, a Noel e Ismael.

Noel teve o raro senso de oportunidade para interagir com a matriz do samba carioca (o pessoal do morro, fornecedores da matéria-prima) e os nomes de destaque do rádio (os cantores Francisco Alves, Mário Reis). Tinha trânsito fácil entre esses dois mundos.

Desenvolveu a sua obra de 1929 a 1937, tornando-se a principal referência como compositor popular de seu tempo no Brasil. Indo além, funcionou como uma espécie de farol da canção que veio a ser feita nos anos seguintes e, desde então, até agora. Poucos tiveram tanta influência na música nacional em toda a sua história. Noel Rosa foi referência básica para seus contemporâneos e seus sucessores.

Noel Rosa foi o primeiro grande mestre brasileiro da palavra cantada. Com uma habilidade incomum para unir texto e melodia, ele chegou a requintes virtuosísticos e a uma fluência impressionante de versos e rimas. Seu rimário surpreendeu várias vezes pela raridade e pelo inesperado, assim como muitas imagens que lançou em suas letras.

Consequentemente, o compositor-letrista se transformou também no primeiro dos nossos cancionistas a desfrutar do status de poeta. De sua maestria e propriedade no uso da linguagem vieram os epítetos com que o batizaram ainda em vida: "filósofo do samba" e "poeta da Vila" (em referência ao seu bairro, a Vila Isabel).

Nesse sentido, Noel Rosa se converteu num precursor de Caetano Veloso e Chico Buarque, a quem sempre foi comparado: o rigor formal, aliado a uma natural cursividade, que se vê em Noel só é reencontrado, mais tarde, em Chico. Ele se constituiu também no ponto de partida do fenômeno de maior valorização do papel do compositor popular no universo da cultura brasileira.

Traduzindo tudo que lhe interessava para o universo da canção, Noel Rosa abordou em seus sambas uma multiplicidade de temas. Isso deu à sua obra uma abrangência incomum. Porém, a sua importância não se resume à amplitude do seu espectro temático, como também à complexidade e à profundidade no tratamento dos assuntos que ele elegeu.

Noel tratou da identidade nacional e, por extensão, do Brasil. Só que, ao contrário de um mestre do samba-exaltação como Ary Barroso (o autor de "Aquarela do Brasil"), ele nunca foi exaltativo, mas crítico, chegando ao irônico e ao satírico. De olhar aguçado para as mazelas da nação, inaugurou a linha da música de cunho social entre nós (outra razão por que é considerado predecessor de Chico Buarque).

Ufanista ele só foi quanto ao seu quintal, a Vila Isabel, e outros bairros como Estácio e Penha, onde o samba (também tematizado por ele) se desenvolveu e onde ele teve parceiros. Desses lugares esteticamente privilegiados, Noel fez a apologia da vida dos malandros. A visão que ele passa se alinha com os códigos da malandragem.

Há também o Noel amoroso, com sua lírica desconcertante, com lugar para o patético e o contraditório, assim como para o filosófico. Suas canções de amor, que compõem a maior parte de sua produção, são permeadas pelo pessimismo e pela ironia (a auto-ironia inclusive). Algumas, como muita coisa que escreveu, são bem-humoradas; outras, cortantes, chegam mesmo a abordar a morte. Em relação às mulheres, o sambista se mostra machista, de acordo com o espírito da época, mas sem deixar de amá-las com intensidade.

O número de músicas - e a excelência delas - que Noel Rosa compôs sozinho atestam o que, sobre ele, disse justamente um de seus parceiros, Antonio Nássara: que ele não precisava de parceiros. Mesmo assim, teve muitos. Lamartine Babo, João de Barro, Ary Barroso, Orestes Barbosa, Custódio Mesquita, Hervê Cordovil, André Filho, Cartola, Donga, Heitor dos Prazeres. E muitos mais, de menos nome. Todos esses tiveram seus nomes alinhados ao de Noel Rosa no crédito de pelo menos uma composição (e boa parte deles não compôs mais do que isso com Noel).

Com dois, no entanto, ele estabeleceu parcerias mais constantes: Ismael Silva e Vadico. O sambista do Estácio se juntou ao poeta da Vila para, juntos, produzirem clássicos como "Adeus", "A Razão Dá-se A Quem Tem" e ""Para Me Livrar do Mal". Ismael costumava fazer o refrão, Noel as segundas partes dos sambas. Com o pianista de São Paulo, Noel se encarregou do texto na grande maioria das vezes, para criar canções antológicas, tamanha a integração entre melodia e versos, como: "Feitio de Oração", "Conversa de Botequim", "Feitiço da Vila", "Pra que Mentir" e "Cem Mil Réis".

Apesar de tantos e tão variados parceiros, ele sempre manteve a sua marca, não se diluindo entre seus pares. Isso, até mesmo nas canções que fez e que, na época, não lhe foram creditadas (graças a troca de favores, Noel permitia que esse tipo de coisa acontecesse, tendo chegado a vender sambas em ínicio de carreira).

Noel Rosa deixou um total de 259 composições - sambas, na grande maioria. Considerando a extraordinária qualidade do conjunto dessa vasta obra, é espantoso que toda ela tenha sido produzida num espaço relativamente curto de tempo, já que ele não viveu mais que 26 anos (nasceu em 1910, morreu em 1937). Esses dados configuram um caso de genialidade.

Preocupado com a originalidade, Noel criou um estilo próprio de samba, partindo de idéias singularmente novas. Dele saíram "canções de invenção" (para citar expressão de Augusto de Campos) como "Gago Apaixonado", "Cordiais Saudações" (que ele chamou, bem-humoradamente, de "samba epistolar") e a nonsense "A.E.I.O.U." ("marcha colegial"), esta com Lamartine Babo. Além de certos sambas-sínteses do Brasil e da condição do povo brasileiro como "Com Que Roupa", "Quem Dá Mais" (não à toa co-intitulado "Leilão do Brasil"), "São Coisas Nossas".

De início, Francisco Alves e Mário Reis, cantando juntos ou separados, e, mais tarde, Aracy de Almeida e Marília Batista foram os principais intérpretes de suas músicas, enquanto ele esteve vivo. Ele próprio, sozinho ou às vezes em dupla com Ismael Silva, cantou muitas delas. O fato de ter vindo a lançá-las se deu, em boa parte, graças a Mário Reis, cuja influência fez com que cantores de voz pequena como a dele pudessem gravar.

Nos anos 50, houve um renascimento de seu prestígio cuja maior responsável foi Aracy: Noel passou a ser considerado o maior compositor popular brasileiro de todos os tempos. Nos anos 60, ele se tornou uma influência marcante nas primeiras produções de Chico Buarque e uma das predileções de Maria Bethânia em seu começo de carreira.

De lá para cá, não deixou de ser reverenciado pelos maiores cantores da moderna canção brasileira. Para citar alguns deles, Maria Bethânia ("Três Apitos") o gravou em 1965. Clara Nunes ("Pra Esquecer"), em 1968. Chico Buarque ("Filosofia"), em 1974. Beth Carvalho ("Onde Está a Honestidade") e João Nogueira ("Não Tem Tradução"), em 1975. Paulinho da Viola ("Pra Que Mentir"), em 1976. Caetano Veloso (também "Pra Que Mentir"), em 1986. E João Gilberto ("Palpite Infeliz"), finalmente, em 1991.

Neste mesmo ano, um "Songbook de Noel" - reunindo um elenco de estrelas de primeira linha da MPB, de Gal Costa a Tom Jobim - inaugurou uma série de discos dedicados à sua obra que foram lançados na década de 90. Em 1997, Ivan Lins e Johnny Alf - este, acompanhado de Leandro Braga - o homenagearam com novos songbooks. E em 2000, as ainda pouco conhecidas cantoras Denise Assumpção e Ione Papas.

Também neste ano saiu a caixa "Noel Rosa Pela Primeira Vez", contendo o registro original de todas as músicas gravadas do compositor, em 14 CDs. O lançamento comemorou o nonagésimo aniversário do seu nascimento.

Fontes:
http://www2.uol.com.br/noelrosa/vida_barra.htm
http://pt.wikipedia.org/
Fotomontagem = José Feldman

Academias (Cadeiras)


As Academias definem por Cadeiras, os lugares a serem ocupados pelos membros aprovados nelas por seus trabalhos literários seja por meio de livros, de participações publicas ou algo que as coloque em evidencias. São cadeiras que sempre levaram o nome do literato. Isto é, são imortalizados nelas.E mesmo que elas venham a falecer, um novo mebro ocupa esta cadeira, mas o nome do falecido permanece imortalizado na Academia. Geralmente são em número de 40.

De acordo com as regras estabelecidas, desde a fundação da Academia francesa, no século XVIII, as Academias de Letras possuem um número fixo e vitalício de membros, ocupando cadeiras numeradas (via de regra, de 1 até 40), que são vitalícias. Ocorrendo o falecimento (e em casos muito raros, o afastamento ou a resignação), a cadeira vaga passa a ser objeto do ritual sucessório.

Considera-se ocupada a cadeira a partir do instante da eleição do novo membro - e não do momento em que tem assento na cadeira. Assim, casos há onde o "imortal" deixou de tomar posse, por haver falecido antes dela, como o paranaense Emílio de Meneses

Afrânio Peixoto, ex-presidente da Academia Brasileira, assim registrou a origem das Cadeiras nas Academias:

"Ora, na Academia Francesa havia apenas uma poltrona, ou fauteuil, para o diretor. Em 1713, foi candidato um escritor amável, então muito querido, La Monnoye, e o acadêmico cardeal d’Estrées quisera dar-lhe o voto... mas lá, não iria, pois que, príncipe da Igreja, não se sentaria num banco, como a ralé, senão num fauteuil, como tinha direito no paço del-rei. Não haja dúvida, disse Luís XIV, sabendo do caso: «dêem-se quarenta poltronas aos senhores acadêmicos»...

Não sorriem: na época foi esta coisa imensa atestada por Saint-Simon e todos os memorialistas do tempo: todos os escritores, quase todos plebeus e pobres, petits-gens, promovidos, por isso, no Louvre, no palácio do rei, onde se reuniam, à situação de príncipes, duques, cardeais ... assentarem-se em fauteuil ... Daí vem o prestígio «objetivo» da poltrona, da cadeira acadêmica ... Daí os lugares, as vagas acadêmicas, se declararem: tal ocupa o fauteil 27; está vaga a cadeira tal ... O fauteuil, a poltrona, é, simbolicamente, um pequeno trono... O homem de letras nobilitado a alguém, não filho d’algo, fidalgo, porém, filho das próprias obras, algo..."

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

domingo, 3 de maio de 2009

Paulo Leminski (Sem Budismo)

Poema que é bom
acaba zero a zero.
Acaba com.
Não como eu quero.
Começa sem.
Com, digamos, certo verso,
veneno de letra,
bolero. Ou menos.
Tira daqui, bota dali,
um lugar, não caminho.
Prossegue de si.
Seguro morreu de velho,
e sozinho.
---
Fonte:
LEMINSKI, Paulo. Distraídos Venceremos. SP: Ed. Brasiliense, 1987.

Valéria Nogueira Eik (Rosas Vermelhas)



A rosa vermelha e o sorriso cativante foram entregues ao final do dia.
Amélia, olhos baixos, fez um muxoxo de menina e tentou alongar a mágoa.
Encarou o riso inocente e esqueceu as palavras rudes da noite anterior.
A rosa era tão linda!

Duas rosas vermelhas foram entregues no início da noite por um sorriso suplicante.
Amélia exibia um pequeno corte na boca. Derramou soluços incontidos e mais algumas lágrimas.
Olhou as rosas. Sorriu tristemente. Desculpou a ressaca matinal.

Três rosas vermelhas foram entregues, quando duas ou três estrelas salpicavam o pedaço de céu que se condensava diante da janela.
Amélia, deitada na cama, invadida por todas as dores, relutava em perdoar.
O sorriso dele, quase paternal, delineava motivos e a absolvição das culpas.

Quatro rosas vermelhas foram entregues quando a madrugada cobria a cidade.
Amélia, amontoada no chão, ainda recolhia os cacos do próprio corpo.
O riso infantil implorava por perdão e afagos.

Cinco rosas vermelhas foram entregues, quatro ou cinco dias depois, por um par de olhos desesperados.
Amélia, de malas prontas, queria ir, queria ficar.
As marcas arroxeadas e a pele costurada começavam a ganhar tons suaves.
E suaves ficaram as dúvidas.

Seis rosas vermelhas foram entregues por um sorriso impessoal.
Amélia, agasalhada por outras tantas flores e pelo brilho das velas, não pôde ver nem perdoar.

Fonte:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

José Eduardo Calcinoni (Pode ser que seja (música))

Mais um dia/uma palavra
Um sol/um só
Ao meio dia/a noite inteira
Um laço/um nó
Uma palavra/uma só boca
Uma lição que sabe decor

E assim será
quem sabe seja?
Um pessoa
ou todos nós

Uma descida/uma bebida
Meia vida/melhor
No deserto/no mar
Palavra simples/código-mor
Numa estrofe/da poesia
Na caída/do sol

Na encruzilhada/na restinga
Há muitas milhas/há muitos nós
Numa rima/na melodia
Na multidão/a sós
Num precipício/numa planície
Na carne viva/no pó

E assim será
quem sabe seja?
Um pessoa
ou todos nós