domingo, 11 de julho de 2010

Direitos Aurtorais e de Acesso à Cultura


Artistas, produtores cultuais, ativistas sociais e todo o cidadão interessado podem contribuir com elaboração da nova lei do direito autoral, através do processo instituído pelo Ministério da Cultura, chamado de Consulta Pública para a Modernização da Lei do Direito Autoral, a Lei nº 9.610/98. Este canal de consulta e participação permanecerá aberto até o dia 14 de julho.

A idéia é convidar toda a sociedade a se envolver e aperfeiçoar o texto do projeto, que busca assegurar a efetiva realização do direito autoral e a garantir o direito de acesso da população às obras de autoria. Como justificativa, o MinC cita o estudo de 1998, formulado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), revelando que os os setores impactados direta ou indiretamente pela criação das obras intelectuais representaram 6,7% do PIB do Brasil, o que exige maior equilíbrio oferecido pelas garantis da Lei do Direito Autoral com os interesses das pessoas. Entre as muitas mudanças sugeridas pelo projeto elaborado pelo Minc, está a correção de algumas distorções existentes na atual legislação, que é de 1973, que pode penalizar criminalmente, por exemplo, atitudes corriqueiras como a simples cópia de um CD para outra mídias.

A seguir, algumas das principais pontos da mudança sugerida:

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O que muda para o Autor:
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Maior controle da própria obra
: o novo texto torna explícito o conceito de licença (autorização para uso sem transferência de titularidade). No caso dos contratos de edição, necessários para exploração comercial das obras, não serão admitidas cláusulas de cessão de direitos. A cessão de direitos terá de ser feita em contrato específico para isso.

Reconhecimento de autoria: arranjadores e orquestradores, na música, e diretores, roteiristas e compositores da trilha sonora original, nas obras audiovisuais, passam a ser reconhecidos de forma mais clara como autores das obras.

Obra encomendada: o criador poderá recobrar o direito em certos casos; terá garantia de participação em usos futuros não previstos; e poderá publicá-la em obras completas.

Prazo de proteção das obras: continua de 70 anos. Nas obras coletivas, será de 70 anos a partir de sua publicação.

Supervisão das entidades de gestão coletiva: associações de todas as categorias e o escritório central de arrecadação e distribuição de direitos de execução musical devem buscar eficiência operacional, por meio da redução dos custos administrativos e dos prazos de distribuição dos valores aos titulares de direitos; dar publicidade de todos os atos da instituição, particularmente os de arrecadação e distribuição.
Elas terão ainda de manter atualizados e disponíveis o relatório anual de suas atividades; o balanço anual completo, com os valores globais recebidos e repassados; e o relatório anual de auditoria externa de suas contas.

Instância para resolução de conflitos: será criada uma instância voluntária de resolução de conflitos no âmbito do Ministério da Cultura. Hoje, conflitos relacionados aos direitos autorais só podem ser resolvidos na justiça comum.
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O que muda para os cidadãos:
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Acesso à cultura e ao conhecimento: haverá novas permissões para uso de obras sem necessidade de pagamento ou autorização. Entre elas: para fins didáticos; cineclubes passam a ter permissão para exibirem filmes quando não haja cobrança de ingressos; adaptar e reproduzir, sem finalidade comercial, obras em formato acessível para pessoas com deficiência.

Reprodução de obra esgotada: está permitida a reprodução, sem finalidade comercial, das obras com a última publicação esgotada e também que não têm estoque disponível para venda.

Reprografia de livros: haverá incentivo para autores e editoras disponibilizarem suas obras
para reprodução por serviços reprográficos comerciais, como as copiadoras das universidades. Cria-se para isso a exigência de que haja o licenciamento das obras com a garantia de pagamento de uma retribuição a autores e editores.

Cópias para usos privados: autorizadas as cópias para utilização individual e não comercial das obras. Por exemplo, as cópias de segurança (backup); as feitas para tornar o conteúdo perceptível em outro tipo de equipamento, isto é, para fins de portabilidade e interoperabilidade de arquivos digitais. Medidas tecnológicas de proteção (dispositivos que impedem cópias) não poderão bloquear esses atos.

Segurança para o patrimônio histórico e cultural: instituições que cuidam desse patrimônio poderão fazer reproduções necessárias à conservação, preservação e arquivamento de seu acervo e permitir o acesso a essas obras em suas redes internas de informática. Não se trata de colocar as obras disponíveis na internet para acesso livre.
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O que muda para os investidores:
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Punição para quem paga jabá: o pagamento a rádios e televisões para que aumentem a execução de certas músicas será alvo de punição, caracterizada como infração à ordem econômica e ao direito de acesso à diversidade cultural.

Remuneração aos produtores de obras audiovisuais: produtores de obras audiovisuais passam a ter direito de remuneração pela exibição em cinemas e emissoras de televisões.

Permissão para explorar obras de acesso restrito: passam a ter a possibilidade de pedir uma autorização para comercializar obras que estejam inacessíveis ou com acesso restrito. Para isso, devem solicitar ao Estado a licença não voluntária da obra.

Estímulo a novos modelos de negócios no ambiente digital: prevê claramente direitos em redes digitais, definindo a modalidade de uso interativo de obras e a quem cabe sua titularidade. As mudanças no texto darão mais segurança para que os titulares se organizem para exercerem seus direitos e melhorarão a relação entre autores, usuários, consumidores e investidores. Dessa forma, essa revisão já coloca o funcionamento da economia digital no Brasil no rumo certo e prepara as bases para uma discussão mais ampla, que deverá ser feita nos próximos anos no mundo todo.

Com base nas contribuições recebidas, o governo federal promete consolidar o texto final do anteprojeto de lei que será encaminhado ao Congresso Nacional ainda em 2010.


Vicência Jaguaribe (Na Palma da Minha Mão )


Na palma da minha mão,
Cabe, irmão, a felicidade e a alegria
Que, com ousadia, não pedem para entrar.

Na palma da minha mão,
Cabe, irmão, a esperança verde e lustrosa
Que, nervosa, pede licença para falar.

Na palma da minha mão,
Também cabe, irmão, aquele amor
Que, ditador, um dia me deixou aflito.

Na palma da minha mão,
Cabem, irmão, as estrelas do céu e as do mar
Que vão se multiplicar pelo tempo infinito.

Na palma da minha mão só não cabem,
Irmão, a dor da perda e a angústia da solidão.

Como esconder essa dor e essa angústia,
Que com furor por entre os dedos escapam?
No solo se infiltram?
Por baixo da porta vasam?
As paredes escalam?
O ar contaminam?
Os rios e os oceanos emporcalham?

- Sinto muito,
Mas não há como escondê-las.
Só resta incinerá-las
E as cinzas, ao vento lançá-las.

Fontes:
Editora Protexto

Carlos Alberto Omena (Crime na Mansão)


De repente, quebrando o silencio daquela madrugada fria e chuvosa, ouve-se um grito estridente de pavor seguido de dois estampidos de revolver, saindo de uns dos inúmeros cômodos da mansão do Sr. Marques.

O Sr. Marques com a idade já beirando os 60 anos, mas com aparência de 50, era um empresário bem sucedido, muito rico e poderoso, enérgico, rigoroso, mas um bom coração, gostava de tratar bem os empregados da casa e funcionários de suas empresas. Sempre que algum deles aparecia com algum problema, o Sr. Marques tratava logo de ajudá-lo, pois entendia que se o funcionário estivesse bem, seus negócios também iriam bem e apesar de toda a sua fortuna, era um homem de atitudes muito simples. Não gostava de pompas, de festas badaladas, gostava de dirigir seu próprio carro, que alias não era novo, mas se sentia confortável com ele, comia no refeitório da empresa juntamente com seus funcionários, enfim, uma pessoa muito simples.

Ao contrario de sua esposa, dna. Vera, uma mulher muito bonita, esbelta e muito jovem pois tinha apenas 30 anos, metade da idade do Sr. Marques, que gostava de badalações, de festas, gastava dinheiro como se eles nascessem em arvores, mulher muito fútil ,gastava somente pelo prazer de gastar igualmente com seu filho Silas, um rapaz com 14 anos, muito mimado.
Dna. Vera odiava a maneira do Sr.Marques de ser e por conta disso as brigas eram constantes. Ela achava que pelo dinheiro e a posição que tinha, não deveria se misturar com os empregados,mas ele simplesmente ignorava os desmandos da mulher.

A mansão do Sr. Marques ficava numa rua muito arborizada, tipo daquelas que só se vê em filmes estrangeiros e tinha como vizinhos outras mansões não tão diferentes ou imponentes da dele. Os carros importados na garagens dava a real e nítida visão do poder aquisitivo dos moradores da rua. Nessa rua ficavam sempre a postos dois seguranças particulares, um de cada lado da rua e andando de um lado para outro, fazendo o patrulhamento da área.

A rua era regada pela tranqüilidade e paz, brindada por um silencio mórbido e às vezes assustador, principalmente ao cair da noite quando as luzes dos postes de iluminação sombreavam os muros altos das casas dando um ar ainda mais sombrio ao local.

E todo esse silencio e tranqüilidade fora quebrado naquela madrugada onde a garoa fina aliada a um frio gélido e cortante caia sobre a cidade por aquele grito pavoroso e os tiros.

Logo as luzes das mansões vizinhas começam a se acender e os moradores sem saber o que estava de fato acontecendo, dirigem-se ainda meio sonolentos à casa do Sr. Marques.

-Ninguém entra na casa antes da polícia chegar! Grita um.

- Mas se tiverem precisando de ajuda? Grita outro.

- Deve ter sido um assalto! Exclama mais um.

Minutos depois a policia chega à mansão, arromba a porta e entra encontrando em um dos cômodos da casa, mais precisamente no escritório o corpo inerte e já sem vida do Sr. Marques.

Ele fora morto com um tiro fatal na região da cabeça bem próximo ao ouvido.

Logo a notícia tomou conta da rua, deixando perplexa a multidão de vizinhos que se aglomerava diante da mansão, pois não acreditavam que um homem tão bom e generoso como aquele pudesse ter um fim tão trágico.

Quem teria assassinado aquele pobre homem? Ou teria sido suicídio?Afinal a arma foi encontrada na mão do morto. Essa era a pergunta dos curiosos e da policia que iniciava seu trabalho de investigação.

De cara a policia chega a conclusão de que assalto não teria sido, pois da casa nada foi roubado. Suicídio também não, tendo em vista a posição da arma e o tiro, pois segundo as testemunhas que ouviram os gritos e os tiros juraram terem ouvido dois disparos, fato que chamava atenção dos investigadores porque no corpo só fora encontrado uma perfuração e numa detalhada vistoria pelo escritório, palco da tragédia, não foi encontrado nenhum outro projétil.

Era um mistério.

Restava então interrogar parentes e empregados que moravam com ele e que estavam na mansão naquela noite.

Os primeiros a serem interrogados foram D.Vera, a esposa, e o filho Silas, que acabavam de chegar tão logo foram informados do ocorrido.

D.Vera e seu filho tinham saído cedo para uma visita a sua mãe, onde passaria a noite e só retornariam no dia seguinte.

Abalada e totalmente descontrolada, D.Vera mal podia falar, inclusive foi necessário a presença do médico da família para acalmá-la através de sedativos.

Depois vieram os empregados da casa: mordomo, cozinheira, faxineira, motorista. Todos um a um foram interrogados. E a cada interrogatório, mais difícil ficava a conclusão do caso, pois todos aparentemente inocentes poderiam ter cometido o crime.

Porque justamente naquela noite a esposa fora visitar a mãe, coisa que não fazia há meses?

Muito estranho e conveniente, inclusive porque nunca durante sua vida de casada dormiu fora de casa.

O mordomo tivera dias antes uma leve discussão com o patrão porque descobriu que ele mantinha um casso amoroso com a cozinheira e se utilizavam dos aposentos da empregada para seus encontros noturnos e o Sr. Marques por não admitir essa situação chamou-o às falas inclusive ameaçando-o de demissão caso perdurasse esses encontros, isso tornava o empregado e a serviçal também como suspeito do crime.

A faxineira alegou que dormia profundamente naquela noite e não viu e ouviu nada, mas, descobriu-se no entanto que ela entrou em casa por volta da 1 hora da madrugada,cerca de duas horas antes do crime pois jovem encontrava-se no portão lateral da casa com seu namorado Sebastião, jardineiro de uma das mansões vizinhas , que inclusive também tinha sido empregado do Sr. Marques alguns meses antes mas fora demitido após ameaçar bater no menino Silas,filho do patrão,por ter pisado no jardim onde trabalhava e estragado algumas flores.

Sebastião no dia de sua demissão estava muito nervoso e gritava muito pronunciando palavras obscenas, afrontando Sr.Marques, a Dna Vera chegando até a jurar vingança.

Para a polícia, estava ali um verdadeiro candidato a réu. Sebastião tinha todos os motivos e pelo seu jeito estourado, rude e violento e por já ter ido parar na delegacia uma vez por ter agredido um homem num bar da cidade tornou-se um suspeito em potencial, só faltava a confissão.

Mas e o segundo tiro? O que foi feito daquele projétil? A polícia não tinha a resposta ainda e isso intrigava os investigadores.

O único com álibi perfeito e que facilmente provou sua inocência no caso foi o motorista da casa.

Ele encontrava-se na casa de sua mulher juntamente com suas duas filhas depois que seu patrão dispensou seus serviços por aquela noite.

Mas apesar de ser considerado acima de qualquer suspeita tinha que ficar ali, participando de tudo, dando depoimentos, consolando a pobre viúva, tentando distrair Silas, que se encontrava desolado. O motorista era muito querido por todos na casa, por sua conduta sempre seria e responsável e pelo seu comportamento amável e prestativo.

Enquanto o entra e sai da policia e dos vizinhos curiosos continuava, o corpo do Sr. Marques permanecia ali estendido no chão e coberto com um lençol que já não era mais branco devido ao sangue que verteu de suas têmporas.

A primeiro plano, para os investigadores,o caso estava prestes a ser resolvido pois para eles o raciocínio utilizado era que Dna Vera cansada do controle do marido sobre seus gastos e por estar ainda na flor da idade, e a repressão devido as festas que dava na mansão, planejou o crime e contratou Sebastião,o jardineiro, a executá-lo. Pronto. Estava ali a solução do enigma.

Agora era só fazer a acareação ,colocar os dois um em frente do outro e aguardar que eles confessassem, simples.

Mas...e o outro projétil?

O dia já estava clareando e aquela chuva fina acompanhada do frio teimava em cair chegando até a trazer um certo desconforto, quando de repente entra na sala, vindo dos fundos da casa, uma mulher completamente encharcada , com suas vestes sujas de lama, carregando algo no colo enrolado num cobertor.

Todos se viram para a mulher, atônitos e sem entenderem nada . Ela, sem falar nada, completamente atordoada, com ar de sofrimento estampado no rosto totalmente desfigurado pela chuva e lama, caminha lentamente como se estivesse dopada e parecendo um zumbi , aproximou-se do corpo do Sr. Marques, abaixou-se, levantou o lençol que cobria seu rosto, acariciou-o carinhosamente ,deu-lhe um beijo , depositou o pacote que carregava junto ao corpo, cobriu-o novamente e levantou-se calmamente em direção dos policiais e num tom sereno e anestesiado fala:

- Pronto. Agora está tudo acabado; e desmaia.

Refeitos do susto e do clima sheaskeperiano que se instalara naquele momento, o médico da família que ainda se encontrava na casa reanima a mulher. Foram minutos de muita emoção e tensão.

Já reanimada e envolta de uma colcha para que se aquecesse pois estava tremendo muito de frio devido a chuva que pegara, a mulher começa a falar:

-Meu nome é Mirtes, eu entrei nessa casa enquanto todos estavam dormindo, já fizera isso antes, depois que sai fiquei assustada e me escondi num canto próximo a casa dos empregados atrás de uma árvore grande.

- Sabe, eu fui amante do Sr.Marques por muitos anos, eu era muito feliz ao lado dele ate o dia em que ele descobriu tudo. A partir daí ele mudou totalmente comigo, não me procurava mais, mandava recados que estava ocupado e por isso eu vim aqui hoje trazer o presente que ele tanto queria e por isso me chantageava.

- Isso mesmo, eu estava sendo vítima de chantagem por parte dele. Ele dizia que se eu não entregasse o que lhe pertencia, ia acabar comigo e ia conseguir a qualquer custo me tomar o que achava que era seu.

-Inclusive tentou me comprar, oferecendo-me muito dinheiro e eu não aceitei.

Todos estavam paralisados diante daquela confissão e ainda sem entenderem nada. E ela continuou num tom mais seguro e firme e agora mais amargurada.

- Eu entrei aqui de madrugada para dar um fim em tudo isso, pois já não aguentava mais a pressão sofrida por esse monstro, então vim aqui dar-lhe finalmente o presente que ele tanto queria, dar-lhe o que achava que era só seu.

Fui eu, sr. delegado, quem deu os tiros, fui eu ! gritou histericamente a mulher.

- Primeiro nós discutimos, ele estava irredutível, então no auge da discussão ele me arrancou dos braços o que eu havia lhe trazido dizendo que não ia levar de volta, foi ai, dr.que eu fiz a besteira.

- Tomada pelo ódio e vendo parte da minha vida sendo arrancada de mim não pestanejei. Peguei a arma que trouxera na bolsa, fechei os olhos e atirei. Atirei duas vezes.

-Mas o destino brincou comigo, eu errei um dos tiros. Um dos tiros não acertou onde devia.
Nesse momento, Mirtes levanta-se da cadeira onde estava sentada, caminha novamente ao encontro do corpo do Sr. Marques, de novo abaixa-se e levanta o cobertor que embrulhava o pacote que trouxera.

Todos arregalam os olhos, como se não acreditassem no que estavam vendo e continua:

- Esse era o presente que ele queria tomá-lo de mim. Ele queria só para ele.

- Esse era nosso filho!

Todos chocados com a cena dantesca que presenciavam não puderam deixar de notar um fato.
O bebê enrolado no cobertor tinha uma perfuração próximo ao coração.

Era o segundo tiro que faltava.

Neste exato momento e diante desse clima de grande tensão, rouba a cena um outro grito que invade completamente o ambiente, misturando a ficção com a realidade:

- Corta! Beleza pessoal, ficou perfeito. Amanhã continuaremos com as filmagens...

Fonte:
Editora Protexto

Marcia Sanchez Luz (Poemas Avulsos)


REMENDOS

Muitos são pequenos excertos
De grandes paixões
De poemas que falam
O que minha boca cala.
Muitos são pequenos remendos
De poucos retalhos
Que consegui obter
A duras penas.
Poucos são grandes acertos
Que me dispus a contar
Nas noites de insônia
Nos dias chuvosos
Nublados
Turvos
Frios.

O AMOR NO SONHO

O amor é tão perfeito quando durmo,
que mal me dá vontade de acordar!
Mas não tem jeito – o dia vem soturno
e o sonho acaba. É duro acreditar.

O amor no sonho é como o deus Saturno,
num farto, afoito e intenso festejar;
o adeus ao laço – algoz e taciturno –
que avilta, agride e evita o libertar.

O amor de sonho é sempre um aconchego;
permite ao colibri (que não descansa)
um beijo à flor que finge desapego.

Amor assim é sábado constante;
acalma o que guardado a dor alcança
e afasta a realidade lancinante.

RÉQUIEM PARA UM HOMEM SIMPLES, BRASILEIRO

Não dá pra não chorar por quem partiu
e que passou por nós deixando amor
em gestos simples como aguar a flor
e dar-se inteiro, mesmo que febril.

Não dá pra não chorar homem gentil,
que mesmo fraco, retorcendo em dor,
tirava forças e perdia a cor
para seu mal fingir que era sutil.

Sua viagem hoje começou,
eu sei. E sei também que a dor findou,
que não mais pesa a sua grande cruz.

Entre as estrelas ele agora brilha,
e no infinito, eis que a sua trilha
é, finalmente, de alegria e luz!

LUA NEGRA

Amo demais que até ferida brota
na cálida, escondida lua negra
dos meus delírios (dor que desintegra
calma desnuda em chuva de gaivota).

Os olhos choram mares, geram grotas,
fabricam densa nuvem que se integra
ao corpo equivocado pela entrega
sofrida num adeus desfeito em gotas.

Amo demais, eu sei, mas o que faço
se de outro jeito não conheço o amor?
A minha sina é nunca combater

o que me atrai e gera descompasso.
Se por um lado existe o dissabor,
tenho da vida a flor que vi nascer.



Fonte:
Stammtisch Confraria e Patotas
. http://www.stmt.com.br/marcialuz.htm

Marcia Sanchez Luz em Xeque



Apresentação

Falar de Márcia Sanchez Luz é falar de modernidade, de contemporaneidade. Márcia é, com certeza, uma das mais frequentes escritoras na maior ferramenta de comunicação da atualidade , a internet – para nós, brasileiros – ou a WEB, para o resto do mundo.

Entretanto estar presente na internet pode não significar nada, como pode significar muito. Afinal, alguém já disse que a internet deixa passar o que há de pior e o que há de melhor qualidade do mundo. Bem, o espaço é livre e, enquanto livre, é lugar que todos podem freqüentar sem censuras.

E é aí que Márcia se diferencia. Márcia é o que de melhor qualidade a internet tem deixado acessar em termos de literatura. Sua poesia, seus sonetos, suas trovas, tudo em Márcia traz o selo da qualidade. Não é para menos que esteja presente em tantos sítios (ou sites para os poliglotas), além dos seus. E olha que ela tem sido publicada por gente de indiscutível qualidade. Não é por menos ainda que seus sites, de tão atraentes e de tanta qualidade têm sido agraciados com diversos prêmios.

Talvez porque Márcia escreva com a alma. Sua pena é dotada de sentimento. Pena viva, que respira, não como respiram os seres humanos, mas inspira, vagarosamente, para sentir o tocar suave da inspiração e expira para expelir, suavemente, em versos o que lhe ditam as emoções. E Márcia se faz... simplesmente poeta. Poetisa, melhor dizendo!

Márcia é isto e mais um pouco, mas deixemos que vocês possam senti-la em sua entrevista e em seus textos neste espaço. E já que este espaço se chama “Frühstück”, e já que “Frühstück” é um momento de pausa, quem sabe não é momento de deixar espaço para o escasso tempo de cada um a fim de que possam curtir nossa convidada, não?!
Luiz Eduardo Caminha

Entrevista

Vamos começar pelo clássico: Quem é Márcia Sanchez Luz definida por Márcia Sanchez Luz?

Uma pessoa simples na forma de viver, mas complexa e cheia de questionamentos acerca do mundo e da vida. Alguém que vive um dia de cada vez, como se cada dia fosse uma caixinha a ser aberta e descoberta a cada instante.
Dizem que sou zen... devo ser mesmo...rss... Não fico pensando no amanhã, como também não vivo o passado. Relembrá-lo já me basta.

Qual a sua profissão e quais as atividades em que você está envolvida atualmente?

Sou escritora, poeta, tradutora e professora de inglês e francês.

Quando e como começou o seu interesse pelas letras.

Acho que desde que me conheço por gente, Caminha. Aos nove anos já escrevia bastante, em especial poesias, pois tanto em casa como no colégio sempre tive muito contato com as letras. Quando pequena, enquanto todos os meus amigos iam ao clube, eu fazia longas caminhadas para chegar à Biblioteca Municipal e lá passava as tardes devorando livros. Àquela altura, já havia lido toda a coleção de Monteiro Lobato, assim como já declamava, timidamente, Fernando Pessoa (a escola onde estudei priorizava múltiplas atividades voltadas para a arte, entre elas teatro, literatura e música).

Em que aspectos ser poeta e escrever influencia ou influenciou a sua vida?

Não sei viver sem escrever, em especial poemas. Preciso disto como o ar que respiro. Assim, independente de ser ou não lida, escrever faz parte de mim. Mas é muito gratificante quando recebo e-mails e comentários de pessoas que me leem e dizem o quanto minha poesia faz diferença na vida delas! Este é meu maior presente – saber que minhas palavras tocam algumas almas.

Você já publicou algum livro? Qual o nome do primeiro, seu gênero (poesias? crônicas? contos?) e sobre o que tratava?

Tenho dois livros publicados pela Editora Protexto. O primeiro, “No Verde dos Teus Olhos”, foi lançado em 2007. Trata-se de uma coletânea de poesias, com prefácio de Airo Zamoner.

Como você se sentiu na época. O que significou aquela 1ª. Publicação para o seu ser escritora, poetisa...

Foi e ainda está sendo a realização de um sonho, o reconhecimento de meu trabalho – algo difícil num país com tanta falta de oportunidade em todos os sentidos, não só no que tange à Literatura.

Fale-nos um pouco de suas outras publicações.

Fui agraciada pela Editora Protexto, em 2008, em razão do sucesso de “No Verde dos Teus Olhos”, com a publicação de “Porões Duendes”, meu livro de sonetos, prefaciado por Leila Míccolis.

Poeta, escritora. Qual o gênero que você mais se identifica?

Adoro me comunicar através da poesia! É como digo em um de meus poemas, intitulado Expurgo:

Transborda em mim
a alma de poeta que,
mesmo em festa,
apura o que não presta.”

Sua experiência em publicações na Internet é riquíssima. Seu blog “O imaginário” é leve, solto, gostoso de navegar e mostra toda a sua sensibilidade para a poesia. Além destes há muitos outros em que você mesma é autora ou publica. Como começou isto tudo?

Obrigada, Caminha! Levo muito a sério tudo o que faço, estudo muito e trabalho cada poema como se fosse um filho.
Minha experiência com a internet começou no final de 2006, a partir de um contato que tive com Leila Míccolis, editora do Portal Blocos Online, para onde comecei a enviar minhas colaborações literárias. Até então, minha opção era pelo anonimato. Em abril de 2007, fui convidada a participar da antologia digital “Saciedade dos Poetas Vivos”, de Blocos.
Como a internet é um espaço democrático, achei que seria interessante divulgar poesia e torná-la algo mais acessível à população que não tem como escolher entre a comida e a leitura. Assim, decidi criar um blog, o “Márcia Sanchez Luz”, com o intuito de publicar não só meus poemas, mas também os de diversos escritores. Como não queria me ater só à poesia, optei por divulgar eventos e notícias culturais.
“O Imaginário” surgiu a partir da idéia de centralizar parte de minha obra em um blog, diferentemente do primeiro – o qual continuo sempre atualizando.
Como a interação com os leitores é grande e extremamente gratificante em blogs, comecei a pensar na possibilidade de reunir os melhores comentários em um outro espaço, o “Repercussão Literária – Fortuna crítica da obra de Márcia Sanchez Luz”, como uma forma de retribuir o carinho imenso que recebo de todos que me leem.
Quanto aos outros espaços que me divulgam, são todos blogs, sites e portais muito bons, o que para mim é uma honra. E fico muito feliz com essa divulgação. Afinal, as palavras tem força, ainda mais quando escritas. Não vejo modo mais eficaz de mudar a realidade.

Você acredita em Deus. O que isto significa em sua vida?

Deus é luz, amor, está presente em minha vida em todos os momentos – bons e ruins. Na verdade, Ele está presente em cada ser...é só prestar atenção. Ele vive nos dando alertas e dicas. Não acredito na Igreja como instituição, pois que feita pelos Homens; e cada um tem um modo de interpretar as palavras do Criador. O problema é que tem tanto maluco querendo ganhar dinheiro às custas da fé!

Você considera a Internet uma ferramenta que acabou por despertar a literatura? Há chances da literatura tomar mais impulso através deste instrumento?

Acho que me adiantei, não é mesmo? Eu quero crer que sim, Caminha! Os blogs são um bom exemplo disto, exatamente por terem ferramentas que possibilitam ao leitor interagir com o escritor. Nada melhor do que essa proximidade para estimular o hábito de ler. Leitura é alimento para a alma, é também fonte de aquisição de conhecimento, o que capacita o ser humano a atuar mais em sua realidade e saber-se agente transformador, sujeito apto a mudar sua condição no mundo. E esta conscientização deve vir através de diferentes fontes – a internet é hoje uma das mais acessíveis fontes de conhecimento, além de possibilitar escolhas diversas. O acesso à literatura pela internet tem até um caráter lúdico, o que estimula o leitor a buscar, a partir das referências encontradas (citações, links), outros espaços literários.

Que recado que você daria a todos os que gostam de escrever e ainda não tiveram uma oportunidade de publicar um livro?

Que leiam muito, muito mesmo. E sempre. E que escrevam muito também, encarando o ato de escrever como um exercício. Que entendam que escrever exige trabalho árduo e constante. O poema, depois de feito, precisa ser lapidado, o que demanda humildade, paciência e senso crítico por parte de quem o escreve. O mesmo se aplica ao texto linear.

Qual o recado que você daria a todos os escritores e poetas?

Não sei se daria algum recado. Talvez diria que precisamos nos unir no sentido de fortalecer a classe e fazer com que o escritor seja reconhecido profissionalmente.

Escrever, para você, significa mais uma auto-realização ou você acha que a literatura e os seus trabalhos podem servir para a realização dos leitores? Para a construção de consciências?

Escrever é tudo isso. A realização pessoal acontece em dois momentos distintos: ao terminar um poema e gostar do resultado do que antes estava na esfera do idealizado e sentido. O segundo momento é receber o retorno dos leitores, que carinhosamente afirmam a importância de meus poemas em suas vidas.

O que significou e significa a leitura em sua vida?

O alimento que meu espírito precisa. A leitura abre caminhos, sejam eles cognitivos ou oníricos.

Um gênio aparece em sua frente e lhe diz: Faça três pedidos que poderiam mudar o mundo. O que você pediria?

Que todos sejam vistos como seres especiais e capazes de grandes realizações. Que haja paz na humanidade. Que o respeito aos direitos fundamentais dos Homens sejam cumpridos; nisto incluo a alimentação, moradia e garantia de estudo e de assistência médica.

Vou lhe dar um mote: um verso de Jalaludin Rumi, um dos maiores poetas do mundo, um afegão, que viveu entre 1207-1273 no seu poema “Em um dia, quando o vento é perfeito”:

Em um dia, quando o vento é perfeito,
As velas apenas precisam abrir-se,
E o mundo se encherá de beleza.
Hoje é um dia como este.”

Agora é com você!

O vento vem chegando, é tão bem-vindo!
Vem vento, vem buscar os sonhos meus!
Não é preciso muito para o mundo
vir a tornar-se espaço só de paz.

Obrigado Márcia. Deus lhe abençoe. Seu recado final.

Eu é que agradeço, Caminha. Foi um prazer estar aqui com você. Espero ter correspondido às suas expectativas e lhe desejo todo o sucesso do mundo.
Queria aproveitar a oportunidade para deixar os links de meus blogs e do site para aquisição de meus livros, pode ser?

[Márcia Sanchez Luz] – http://marciasl2001.blogspot.com
[O Imaginário] – http://poemasdemarciasanchezluz.blogspot.com
[Repercussão Literária] – http://marciasanchezluz.blogspot.com
[No Verde dos Teus Olhos] - http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=145
[Porões Duendes] - http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=197

Fonte:
Stammtisch Confraria e Patotas.
http://www.stmt.com.br/marcialuz.htm

sábado, 10 de julho de 2010

Olga Agulhon (O Bezerrinho Malhado)

Ilustração de Neide Rocha Portugal
Isa havia completado cinco anos. Houve festa na Fazenda São Pedro, mas não ganhou, no dia, o presente que mais esperava dos pais, pois o que tinha pedido ainda estava para nascer. Queria, há muito, um bezerrinho só para ela.

Duas semanas depois, três vacas deram cria. Isa, quando viu os bezerrinhos, não teve dúvida. Encantou-se, de imediato, com o bezerrinho malhado, cria da Mimosa.

– É esse, papai! Que lindo o meu presente!

– Escolha outro, filha. Esse é macho, vai virar touro. Já temos muitos na fazenda; o suficiente para cobrir as vacas que temos; não pretendo ficar com ele.

– Mas, pai, ele…. É o meu presente… É esse que eu quero.

– As outras duas são novilhas. Escolha uma delas, e os bezerrinhos que ela tiver, quando ela crescer, também serão seus. Se escolher o malhadinho, não prometo que ficará com ele até adulto.

Mas Isa nem ouvia mais o pai. Estava a acariciar o bezerrinho. Ninguém a faria mudar de idéia.

Sua vida mudou. Tornou-se mais alegre. Na maior parte do tempo estava com o bezerrinho. No começo ele era arisco, mas logo se tornou dócil; parecia entender a menina, que chegava a fazê-lo de cavalinho.

O bichinho chegou a desgarrar-se da mãe, como se ela fosse menos importante que Isa. Ambos foram crescendo e a amizade entre eles era cada vez maior.

As coisas na fazenda também foram mudando. O pai de Isa estava mecanizando a terra para plantar soja e, para isso, estava acabando com o rebanho. Ficara apenas com umas poucas vacas de leite e escolhera o melhor touro.

Malhado crescera, já era touro e não havia mais lugar para ele na fazenda. O pai de Isa nem pensou que a filha, depois de tanto tempo, iria ligar. Vendeu-o, junto com os outros, para um leiloeiro.

Quando a menina chegou da escola, ficou desesperada. Chorou o resto do dia, mas os pais não lhe deram muita atenção. Acharam que passaria a sua dor.

Ao levantar-se, no dia seguinte, Isa continuou fazendo suas tarefas. Nos momentos em que estaria com Malhado, permanecia no quarto, tentando ler alguma coisa, mas não conseguia distrair os pensamentos. Foi ficando cada dia mais triste, comendo menos, até cair doente. Pegou uma forte gripe, a gripe piorou, virou pneumonia.

Já havia passado um mês da venda do Malhado, quando o pai de Isa viu-se obrigado a sair à procura dele. Buscou notícias por toda parte. Achou a pessoa que o havia comprado do leiloeiro.

O dono, um tal de Onofre, adquirira o animal para cobrir suas vacas, mas não teve sorte.

– Olha, moço, não sei o que tinha o touro! Parecia doente, às vezes até triste. Estava sempre isolado do resto do gado e não cobria as vacas. Nem umazinha. Assim, não servia, não senhor.

Homem prático e conhecedor de gado que era, o senhor Onofre não insistiu; comprou um bom reprodutor e vendeu Malhado para o frigorífico.

Desanimado e desorientado, o pai de Isa pensou, então, em procurar um substituto, outro touro bem parecido. Talvez Isa percebesse que não era o mesmo; afinal, já fazia muito tempo que ela não via o Malhado. Ficou dois dias fora de casa rodando a região e, enquanto isso, Isa piorava.

No terceiro dia, ele retornou com um touro em cima do caminhão.

– Que sorte, Marta! Comprei pelo dobro do preço, mas vai valer a pena. Achei um touro igualzinho ao Malhado. Nossa filha não perceberá nenhuma diferença. Ficará contente, ficará boa. Vá correndo buscá-la.

Dona Marta voltou com a filha no colo, pois a menina estava muito fraca para andar.

– Olhe, Isa, achamos os seu Malhado!

A menina virou a cabeça, sem forças, em direção ao touro. Seus olhos se entristeceram ainda mais. Não disse palavra alguma. Voltou a cabeça para o colo da mãe e deu mais um suspiro.

Fonte:
AGULHON, Olga. Germens da terra. Maringá: Midiograf, 2004.

Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso (A Rosa Branca)



Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.
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Lygia Fagundes Telles (As Meninas)


O livro narra a história de três universitárias de condição social e origens diversificadas, que se conhecem em um pensionato de freiras na cidade de São Paulo, tornam-se muito amigas, apesar das diferenças de valores e personalidades, convivem durante algum tempo, compartilham seus dramas e sonhos, ajudam-se nos momentos difíceis e terminam por separar-se definitivamente. O encanto e a dificuldade aparente da leitura repousam no foco narrativo cambiante: Lorena Vaz Leme, Ana Clara Conceição e Lia de Melo Schultz contam a própria história através do fluxo de consciência, misturando suas falas, ações, lembranças e críticas recíprocas. Depois dessa surpresa inicial, o leitor acaba por identificar o estilo de cada personagem e sente-se desafiado a desvendar o universo interior das três "meninas"- uma paulista quatrocentona, uma baiana "terrorista" e uma modelo de moral "duvidosa" e viciada em drogas.

Os capítulos não têm nome, mas números:

"Um"

Lorena Vaz Leme divaga em seu quarto dourado e rosa - com cozinha, geladeira, banheira etc - no pensionato Nossa Senhora de Fátima: pensa na amiga Lia de Melo Schultz, que tem pretensões a escritora e é militante política; no gato Astronauta, que cresceu e abandonou-a; em Che Guevara, que foi líder de toda uma geração; em M.N., homem misterioso que lhe desperta desejos eróticos, em Jesus Cristo, a quem dedica a música de Jimi Hendrix; e na morte desse roqueiro e de Rômulo, seu irmãozinho querido. Lia aparece para pedir-lhe o carro de "mãezinha" emprestado, e enquanto tomam o chá especial de Lorena, conversam e divagam sobre tolices e sobres coisas sérias, concomitantemente a greve na faculdade; a prisão de Miguel, namorado de Lia e militante político também; na alienação da burguesia acomodada; na repressão militar, nos amigos que estão presos e sendo torturados. Lorena lembra a morte traumática de Rômulo e sua agonia nos braços da mãe, vitimado por um tiro acidental dado pelo outro irmão, Remo.

Da fuga deste para o exterior através da Diplomacia, dos freqüentes presentes que ele envia a ela (sinos, lenços, roupas, comida...). Mistura a esses pensamentos a figura do médico Marcus Nemésios (o M.N.), casado e bem mais velho, de quem ela sonha receber amor, carinho e proteção (Aliás, passa o livro todo aguardando um telefonema dele, que nunca se concretiza); evoca ainda a figura de Ana Clara, suas origens "suspeitas", no excesso de tranqüilizantes que consome; pensa na própria adolescência, ao piano, no gostoso convívio familiar, nos banhos de banheira, na decisão de morar no pensionato, no aluguel e decoração do quarto por Mieux, o atual namorado da mãe. Lia fala sobre o livro que escrevera e acabara por rasgar. Criticam Ana Clara e o namorado Max, traficante que a viciou em drogas, e o provável e desconhecido noivo rico com quem ela pretende se casar para "sair do buraco", após plástica restauradora da virgindade, "bancada" por Lorena.

Lia pede várias vezes o carro emprestado, e um pouco de "oriehnid" (dinheiro "ao contrário", para dar sorte) para o "aparelho"(= grupo de resistência à ditadura militar). Apesar de temer envolvimentos com o grupo e suas conseqüências, Lorena é incapaz de dizer "não" aos pedidos da (s) amiga (s).

"Dois"

Ana Clara e Max drogam-se na cama e deliram. Ela sente-se travada, bloqueada, apesar das sessões de terapia - ela odeia o analista. Acha-se bonita (modelo, 1,77 m) e carente - a mãe, prostituta, nunca lhe deu atenção. Lembra-se do Dr. Algodãozinho, que deixava seus dentes apodrecerem para abusar sexualmente dela e da mãe, em sua cadeira de dentista. Pensa no quanto ama Max, mas que em janeiro casa-se com o noivo rico e resolve seus problemas. Sente ódio de Deus - e de negros. Resgata a infância carente, repleta de ruídos (ratos, baratas) e cheiros, nos prédios em construção, onde vivia com a mãe e os sucessivos amantes.Também evoca detalhes da vida das amigas Lia e Lorena. Max também delira. Reza. Teve educação esmerada (fala francês, é fino) mas empobreceu e tornou-se traficante. Tem uma irmã que sumiu com
as jóias da família e encontra-se internada em sanatório. Ana e Max se amam, mas seu relacionamento é difícil e complicado.

"Três" - Lorena reflete sobre a violência do mundo; assaltos a bancos; a morte de Rômulo; a profissão de Remo propiciando sua "fuga" para o exterior. Gostaria de poder alienar-se da "máquina desse mundo" violento (intertextualidade com o texto "A Máquina do mundo", de Carlos Drummond de Andrade), como uma ostra dentro de sua concha dourada (= seu quarto - refúgio). Rememora a chegada de Lia e A. Clara e a "invasão" das duas à sua privacidade, a amizade das três, apesar das personalidades opostas.

Miúda e magra, mostra certa inveja da beleza de Ana Clara, apesar da diferença cultural... Através da visão de Lorena, conhecemos um pouco mais sobre as duas amigas: Lia de Melo Schultz tem um "pé" baiano, da mãe Diú (D. Dionísia) e outro berlinense, do pai seu Pô (Herr Paul, exoficial nazista). Herdou do pai o vigor germânico; da mãe, as "proporções gloriosas e a cabeleira de sol negro" e o açúcar da voz.

É uma "mulher-hino", enquanto Lorena vê-se como uma civilizada, requintada "balada medieval" (ou "Magnólia desmaiada", para os colegas da Faculdade de Direito). Ana Clara "arrombou" a privacidade de Lorena, obrigando-a a verdadeiros exercícios de caridade cristã: mexe em tudo, nos livros, nos objetos pessoais. Tem olhos verdes, é modelo, linda, mas "de cuca embrulhada", deprimida e deprimente, juntadíssima, afetadíssima, mentirosíssima - "ni ange ni bête" - (nem anjo, nem demônio). Envolvida com sexo e drogas. Enquanto lancha ao sol, Lorena recorda o aborto de Aninha, resgatando a fábula da formiga e da cigarra (inconsciente, bagunceira, irresponsável), com quem compara a amiga. Recebe carta de Remo e pensa na morte de Rômulo. Filosofa sobre o lado omisso das relações humanas.

Sonha em casar-se com M.N., pois sente-se frágil, insegura, precisando de um homem em tempo integral. Ao voltar para o quarto, pensa no colega Fabrízio, na noite chuvosa em que ele veio estudar mas preferiu envolvê-la nos braços, ameaçando sua virgindade; na falta de luz e subseqüente chegada de Lia, estragando o momento mágico com suas alpargatas molhadas e suas pesquisas sobre a vida das prostitutas, sua obsessão por Miguel. Lia sai, mas chega Ana Clara, e "se instala". Fim da noite para Fabrízio e Lorena. No dia seguinte, conheceu o Dr. M.N. na sua Faculdade e ganhou carona. Passa a viver aguardando seu telefonema, fantasiando um amor edipiano.

"Quatro"

Max delira na cama. Gosta de Chopin, de Renoir. Conversa com a Coelha (A. Clara) sobre a riqueza passada, as viagens. Ana compara os diferentes níveis de artistas abstratos e reclama de estar lúcida - teria tomado aspirina? Lembra o passado de miséria e sonha com o futuro promissor como psicóloga de ricaços

- "Nessa cidade as pessoas não se preocupam mais com nome, mas com o saco de ouro" (de que adianta o nome Vaz Leme de Lorena, descendente de bandeirantes?). Quer esquecer a mãe, os amantes, Jorge, Aldo, Sérgio... e o suicídio com formicida. Lembra-se da amiga Adriana, feia e vesga, mas com casa na praia, onde A. Clara tentou lavar a memória do passado num banho de mar. Max desperta e os dois deliram juntos. Ela está grávida e quer abortar. Ele deseja o filho, cuja voz diz ter ouvido. Vão ficar ricos e fazer cruzeiros pelo mundo.

Ela é a gata borralheira, que tem encontro marcado com o noivo, que já deve estar inquieto com o atraso.

"Cinco"

Lorena aguarda o telefonema de M.N., como sempre. Pensa em arte, em literatura (Dante, Beatriz) , em música (jazz), em cheiros (incenso); em morte (Rômulo); na mãe e no carro (teme que Lia seja metralhada dentro dele). Gostaria de poder sair de moto com Fabrízio, um cinema, um jantar... mas acha que ele deve estar na faculdade, incitando a greve e namorando uma poetazinha que resolveu seduzi-lo. Recebe a visita da irmã Bula e desconfia que esta é a autora das cartas anônimas, que falam coisas horríveis sobre as meninas e as freiras, para Madre Alix, a superiora. Enquanto serve licor e biscoito para a freira, relembra a morte de Rômulo, as manchetes nos jornais; pensa em Lia, em Simone de Beauvoir (escritora francesa), em segundo e terceiro sexos, em M.N., em Che Guevara, em morrer e renascer (segundo S. Marcos, "é necessário nascer de novo").

Recupera a teoria da amiga "terrorista" sobre a perda de pureza do baiano e do índio, e cita Gonçalves Dias. Coloca um Noturno de Chopin e serve constantemente vinho à freirinha. Quando tampa a garrafa, pensa na ferida de Rômulo, na fuga de Remo. Despede-se da Irmã Bula e de sua velhice sem sentido.

"Seis"

Na sala imunda e mal iluminada onde montaram o "aparelho", Lia ("Rosa de Luxemburgo") e Pedro começam a separar material para o jornal. Conversam sobre experiências homossexuais; Jango; o nazismo; conceito de santidade; sobre Che Guevara; Martin Luther King (líder negro americano), engajamento político-social, atuação da Igreja progressista, casamento de padres, amor... Sai para uma operação noturna com o Bugre, que lhe conta sobre a próxima deportação de Miguel para a Argélia. De volta ao pensionato, feliz, conversa com Madre Alix: fala de seu amor pela família, do passado com saudade, do presente (fases da vida!...); de A. Clara, Max e seu envolvimento com drogas; na sua pretensa vocação para escritora; na desilusão com Miguel (muito cerebral) e Lorena (muito sofisticada). Madre Alix quer ajudá-las, mas sente-se impotente e teme por seu futuro. Sugere uma epígrafe para o livro de Lia e que serve para a vida das duas: "Sai da tua terra e da tua parentela e da casa de teu
pai e vem para a terra que eu te mostrarei"(Gênesis).

"Sete"

Irmã Clotilde leva frutas para Lorena, que se exercita na bicicleta. Falam sobre as duas Santas Teresas; sobre Tolstói; sobre homossexualismo (comenta-se no pensionato que I. Clotilde é lésbica); sobre beleza, ideais, filosofias de vida. A freira vai lavar as mãos e volta criticando a cor, a saúde e a alimentação das três amigas. Lorena anseia por beleza e um telefonema... Quer ficar só, mas a freira se demora na visita e no exame do quarto, dos animais, dos livros da moça. Esta lê um pedaço de um livro de Direito, cita frases em latim, enquanto pensa sobre o lado oculto das pessoas: a vida é um jogo de espelhos, e Lorena tem sede de autenticidade... Lia chega, a freira se vai. Devolve a chave do carro, conta sobre a viagem à Argélia, brinca de entrevistar Lorena (os assuntos de sempre: virgindade, casamento, M.N., Fabrízio, Pedro) e diz que esta é edipiana. Ambas mostram-se preocupadas com a gravidez de Ana "Turva" e sua dependência.

Divertem-se no jardim e despedem-se no portão. Lia pede roupas para os "revolucionários". Lorena fica pensando na iniciação sexual das amigas e imagina como será sua "primeira vez"(M.N. é ginecologista, um "gentleman").

"Oito"

Ana Clara e Max acordam e conversam: ele e Lorena são "aristocratas", têm álbum de retratos... Os de Lorena estão na garagem do pensionato. Criticam o amante jovem de "mãezinha", Mieux. Max vai até a geladeira, come e volta a dormir. Ana pensa na desculpa que vai inventar para o noivo aceitar seus sumiço. Arruma-se e sai. Chove. São quase 11 h da noite. Não consegue táxi e aceita carona de um industrial em um Mercedes. Foge dele e refugia-se em um bar, onde encontra um velhote estranho que a convida para seu apartamento. Confundindo-o com "um pai" que nunca teve, segue-o.
Apartamento de boêmio - retratos na parede, vitrola de corda, discos de tangos. Ana deita-se na cama e dorme, enquanto ele lê para ela textos sobre Napoleão, Rodolfo Valentino e tem orgasmo. Diz que o platonismo amoroso é a forma mais sutil e temível da paixão infinita e insaciável.

"Nove"

Na banheira, Lorena filosofa sobre "ser" ou "estar" no mundo - na desintegração do ser humano na cidade grande, no papel do filósofo, do advogado, do médico, do psiquiatra. Sente todos os sintomas de todas as doenças mentais, apesar de charmosa e inteligente. Lembra-se da fazenda, das procissões em que se vestia de anjo. Rememora o primeiro encontro com M.N. e imagina as reações de mãezinha quando lhe contar sobre ele. Sai do banho emocionada e veste um robe. Chega o colega Guga, que lhe conta ter abandonado a família, a escola e estar vivendo em um porão, numa comunidade. Escandalizada com sua sujeira, Lorena corta-lhe as unhas, alerta-o sobre promiscuidade e lê para ele uma carta de M.N. Guga se excita e tenta amá-la. Ela quase cede, mas reage e ele se vai.

Chega Lia. Conversam sobre filosofia, Lacan, auto-identificação, transferência de afetos.
Lia quer provar que M.N. está mais para pai que para namorado, mas Lorena não admite. Falam sobre o telefonema de Herr Pô e da promessa de ajuda em dinheiro para a viagem. Lorena entrega a Lia um cheque em branco e pede-lhe para usar uma cruz na corrente, enquanto filosofa sobre Deus, religião, fé. Lia sai rindo. Lorena faz caretas.

"Dez"

Lia pega carona com o motorista de mãezinha de Lorena e vai visitá-la. No caminho, consegue fundir a cabeça do senhor com seu discurso sobre família e liberdade. Recebida no hall pelo mordomo, fuma, examina os objetos e tapetes luxuosos, enquanto imagina sua viagem, a desunião da esquerda; vê-se na Argélia escrevendo seu diário e exaltando a Pátria. Mãezinha chora, na cama, a morte do psiquiatra Dr. Francis. Desajeitada, Lia tenta consolá-la e ouve suas lamúrias sobre a diferença de idade entre ela e Mieux, a impossibilidade de acompanhá-lo em seus programas, a dificuldade em aceitar a velhice e a morte. Lia lembra-se de sua família (tão equilibrada!) com saudade e amor. Mãezinha pergunta sobre os namoros de Lorena e Lia (acha-a masculinizada) e quer trazer a filha de volta à casa. Conta uma versão totalmente diferente sobre a morte de Rômulo (falência cardíaca, ainda bebê). Lia sente-se nauseada e pensa em ver o álbum de fotos na garagem: acha que mãezinha está escamoteando a tragédia por auto-defesa. Ganha roupas e mala para a viagem.

"Onze"

Tarde da noite. Ana Clara chega transtornada ao quarto de Lorena, que está estudando para a prova no dia seguinte (a greve terminara). Entra arrastada, gritando de dor no peito e imunda. Lorena coloca-a na banheira - seu corpo está cheio de nódoas roxas e sofre alucinações com formigas, baratas, Deus e Max. Pede uísque e a bolsa. Delira. Lorena pensa no abismo entre o ser e o estar, num futuro feliz no campo, fora de sua casca. As novelas da vizinhança encobrem os ruídos e finalmente A. Clara adormece. Lorena toma chá. Finalmente Lia chega para preparar as malas (a viagem será na manhã seguinte) e Lorena vai até seu quarto. Conversam muito - sabem que estão se despedindo - e Lia conta-lhe que Guga virá procurá-la. Não vêem futuro na relação com M.N., que jamais abandonará a família, pois a "dor do remorso dói mais que a dor física"(Tolstói). Ao voltar para o quarto, Lorena tem um choque: A. Clara está morta.

"Doze"

Lia corre aos acenos da amiga. Ao entrar, encontra Lorena massageando o peito de A. Clara, tentando revivê-la, enquanto reza. Lia pensa em chamar o pronto-socorro, em acordar todo mundo, em que poderia ter feito mais pela amiga, além dos "discursos". A bolsa de A. Clara está aberta: talvez dali ela tirara a própria morte. Lorena tem idéias e age: encomenda o corpo, reza em latim, veste e pinta A. Clara como se esta fosse a uma festa. Elimina todas as pista comprometedoras para Aninha e Max, além das freiras do pensionato. As duas amigas carregam A. Clara através da noite providencialmente nebulosa e abandonam o corpo em um banco em uma linda praça do bairro.

Voltam para o pensionato e separam-se: cada uma vai viver a própria vida. Lia no exílio. Lorena de volta para a casa de mãezinha, deixando sua concha para a futura hóspede, que vem do Pará. Ação A ação do livro é prevalentemente interiorizada. Quase nada acontece na realidade exterior; a vidinha pacata e rotineira no pensionato, as conversas intermináveis, os estudos, as visitas das personagens ao redor do quarto de Lorena - centro daquele microcosmo -, poucos momentos na faculdade e no "aparelho"; as atitudes contraditórias de Ana Clara e sua morte; a solução dada pelas amigas para se livrarem de um cadáver comprometedor.

Tudo se passa no âmbito da memória, enquanto as meninas resolvem o passado e evocam suas experiências em busca de auto-conhecimento, de solução para seus traumas e conflitos interiores, para a exorcização de seus "fantasmas". Personagens Lorena Vaz Leme, filha de fazendeiros, culta, fina, aristocrática, descende de bandeirantes. É aluna na Faculdade de Direito e bastante estudiosa: cita com freqüência passagens da Bíblia, frases em latim, em francês, em espanhol, de filósofos variados, escritores e músicos. Demonstra cultura e educação esmerada, onde se fundem harmoniosamente o erudito e o popular.

Assistiu impotente à derrocada da própria família e evoca freqüentemente esse passado, onde contrapõe os momentos felizes da infância, na fazenda, à morte acidental do irmão e a subseqüente desagregação do núcleo familiar - a fazenda vendida, o pai internado em sanatório, o irmão traumatizado pela culpa, a mãe vivendo de fantasias, terapias e falsas ilusões. Lorena tenta "equilibrar-se" fechando-se em uma concha dourada dentro do pensionato de freiras, onde pratica ginástica, faz chá, recebe cartas e presentes do irmão, visitas freqüentes de colegas, e de onde ajuda as amigas. Toma sol, lê, filosofa, mas pouco age. Segundo Lia, trata-se de uma burguesa alienada, apesar da bondade e do carinho com que recebe e ajuda a todos.

Mas o mundo insiste em invadir sua privacidade - as amigas, as freiras, Fabrízio, Guga, o amor impossível pelo médico mais velho colocam-na em freqüente conflito com o mundo exterior. Procurando viver de sonhos, perde várias oportunidades de realizar-se afetivamente e ser feliz. No entanto, diante da morte de A. Clara, consegue definir-se e agir positivamente, encontrando, por um lado, solução para o problema imediato; e, de outro, um possível desfecho para sua alienação: voltará para a casa da mãe, acabará por perceber a impossibilidade de um compromisso com M.N. e se abrirá para o amor de Guga, enquanto se resolve a enfrentar o mundo e a deixar sua "concha" definitivamente. Lia de Melo Schultz serve como contraponto à "finesse" de Lorena: veste-se mal, usa alpargatas, não gosta muito de banho, não cuida da aparência.

Veio da Bahia para fugir da mãe superprotetora e do pai com um passado misterioso de ex-oficial nazista. Matricula-se no curso de Ciências Sociais (foco de agitações estudantis na década de 60), onde se envolve com um grupo militante da esquerda e apaixona-se por Miguel, que acaba preso. Sua preocupação consiste em angariar dinheiro e roupas para o "aparelho", e está sempre discursando contra a alienação da burguesia, das amigas, e a pobreza do Nordeste. Seu equilíbrio repousa sobre dois referenciais: em seu engajamento político (doação de amor aos amigos e à liberdade da Pátria) e na segurança que encontra no amor de Miguel e no apoio da família, que, mesmo à distância, protege-a e dispõe-se a ajudá-la em sua fuga para o exterior. Escolhe seu próprio caminho e resolve-se bem.

Ana Clara Conceição apresenta o temperamento mais problemático e a personalidade mais inconsistente das três, apesar do fascínio que a força de suas evocações exerce sobre o leitor, as amigas e Madre Alix, principalmente. Filha de pai desconhecido, amargou uma infância carente, junto a uma mãe prostituída e constantemente machucada pelos sucessivos companheiros, um dos quais a induz ao suicídio pela ingestão de formicida. Ana foi seduzida por um dentista, que abusa sexualmente da mãe e da filha. Traumatizada, não consegue encontrar prazer nos seus relacionamentos amorosos. Permanece quase o livro todo na cama com o namorado Max, traficante que a viciou em drogas e, embora conversem muito, seu discurso aparece truncado - amam-se, mas não conseguem ser felizes. Sob o efeito das drogas, suas evocações são basicamente sinestésicas: ruídos (o roque-roque dos ratos e o barulho das baratas, nas construções), cheiros (do consultório do dentista, da bebida, do mar, do corpo de Max...), sensações variadas de frio e de calor entrecruzam-se enquanto ela desnuda seus traumas sem qualquer pudor e, fugindo à realidade, adia todas as soluções para "o ano que vem".

Só que o peso da memória é mais forte: nem a aspirina; nem a ilusão de um noivo rico; nem a probabilidade da plástica restauradora da virgindade; nem a perspectiva de ascensão social através da Faculdade de Psicologia, da carreira de modelo, do dinheiro que conseguirá na clínica para a burguesia; nem o amor e os conselhos de Madre Alix e das amigas conseguem salvá-la. Seu fim é trágico: morre de overdose no quarto de Lorena, e, vestida e enfeitada, cumpre seu destino num banco de praça, sem prejudicar aquelas pessoas que conseguiram dar-lhe um pouco de afeto, mas não a paz de que tanto necessitava.

Tempo

Subjaz à narrativa uma seqüência cronológica pouco marcada de alguns dias ou poucas
semanas: o tempo é voluntariamente vago e difícil de precisar. O que prevalece é o tempo psicológico, pois tudo acontece através do entrecruzar da memória, da evocação do passado, da mistura com algumas ações no presente. Alguns fatos permitem a localização da obra no final dos anos 60, pois evocam as agitações sociais, as greves universitárias, a prisão e a tortura de militantes políticos sob o enrijecimento da ditadura militar, o crescimento agressivo da megalópole que tritura o jovem e esmaga sua individualidade, alienando-o, censurando-o e dificultando-lhe a busca de caminhos. Passado e presente fundem-se de modo inextricável, e nos traumas da memória encontram-se as explicações para os problemas existenciais das três meninas - símbolos de toda uma geração massacrada e alienada por forças do passado e das
circunstâncias.

Espaço

Oprimidas pela cidade grande e sua violência, as três meninas refugiam-se no Pensionato N. Senhora de Fátima, na região central de São Paulo. O quarto-concha de Lorena constitui-se no refúgio para onde as pessoas convergem em busca de conforto, de carinho, de segurança, de afeto e compreensão - um tipo de oásis dentro de um mundo desorganizado, caótico e extremamente ameaçador, onde "Deus vomita os mortos".

Foco Narrativo

O foco narrativo em primeira pessoa é manipulado pela Autora de forma magistralmente cambiante: ele se desloca constantemente (e inesperadamente!) para o fluxo de consciência das três amigas, que se entrevistam, que se apresentam umas às outras e ao leitor, que refletem continuamente sobre si mesmas e umas sobre as outras, arrastando-nos nessas freqüentes invasões à privacidade de A. Clara, Lorena e Lião, que se vão desnudando paulatinamente diante de nós.

Existe uma dificuldade inicial para a leitura até a identificação do estilo peculiar de cada personagem, pois cada uma delas se exprime dentro de seu "dialeto" coloquial - o discurso mais elaborado e culto de Lorena, o regionalismo politicamente engajado de Lião e o pensamento confuso e truncado de Ana "Turva". Superada essa dificuldade, o leitor mergulha de corpo e alma no universo fantástico dessas três meninas encantadoras, representantes autênticas daquele que foi um dos períodos mais importantes e difíceis para a emancipação da mulher, para a liberdade de pensamento e para a realização individual dentro de um universo politicamente conturbado.

O romance As Meninas oferece-nos, de um lado, um painel saboroso das vivências de três pessoas em busca de si mesmas; de outro, uma amostra dos problemas cruciais que agitaram a juventude durante um dos períodos mais conturbados da história do Brasil, que Lygia Fagundes Telles teve a ousadia e a coragem de denunciar.

Fonte:
Cd Digeratti CEC003

Lucilene Machado (A Morte Nossa de Cada Dia)


Acordo para mais um dia. Tudo igual. Cruzo com as mesmas pessoas, com os mesmos carros... passo pelas mesmas ruas com a mesma pressa e, sem reparar muito, vou atravessando o tempo sem criar espaço para desenhar a vida.

Cansada, entrego-me ao abraço da noite como se fosse uma despedida. Cada dia morro um pouco. Paro diante do espelho como uma última atitude diária. Escovo vagarosamente os fios de cabelo na tentativa de alinhar as diferenças. Foram cortados de forma assimétrica. Corte de navalha, fio por fio. Ficaram tão diferentes uns dos outros. Escovo também os anos que a navalha do tempo não corta. Eles vão se ondulando pelo corpo e fazendo caracóis na alma. A idade é um arreio que ninguém desata. Deixa o coração sôfrego pelas batidas futuras.

Diante do espelho não ouso sonhos grandes. Meu olhar interrogativo parece exigir decisões para as quais não me sinto preparada. Vou ficando distante. Há silêncios pesando sobre minhas pálpebras. De repente, vejo uma tarde dentro dos meus olhos. Uma tarde verde que não aconteceu. Quantas horas perdidas modelando uma esperança? A infinita ternura da minha insônia. Os olhos semicerrados vigiam o tempo sonhando surpresas. Talvez nunca virão. Os desenganos vão matando o desejo. As emoções vão ficando mecânicas. Perdas irreparáveis. Arrependo-me por não ter amado mais quando podia. O viver intenso me escapou. Nunca percebo se estou amando. Só quando a saudade se aproxima penetrando além da superfície, é que constato a veracidade da situação. Aí nego. Nego-me veementemente. Já até desenvolvi uma habilidade em me auto-enganar. É uma espécie de suicídio. Vai-se matando a própria afetividade, pouco a pouco para não doer tanto e depois, supõe-se, a vida volta a ser bela.

Há muito cansaço no ar. Um cansaço que vem dos edifícios vizinhos abrindo clareiras pela cidade adormecida. É a triste paz da noite sobre as ruas. Há vozes caladas sobre o asfalto. Flores caídas sobre as calçadas. Cristais quebrados de um azul de lua. É doloroso morrer sozinha, sobretudo em setembro quando as flores oferecem perfume ao vento. Mas a vida é feita de morte. Pequenas mortes que vão matando a inocência e cobrindo de luto as tardes verdes.

Mas amanhã quando a aurora voltar, será tudo igual. Todos dispersos pelo mundo, enfrentando a selva, o imprevisto, o grito. Amanhã seremos todos selvagens. Embora de uma mesma espécie, cada um em sua jaula. Cada um vítima de uma serpente que devora o lirismo do dia-a-dia. Amanhã seremos dirigidos pela insígnia da vaidade e das ausências. O hoje será apenas uma imagem de um álbum de família empoeirado. E eu continuarei representando aquela que não sou enquanto morre um pouco aquela que sou.

Fontes:
Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
Imagem = http://diariovirtualdeumlouco.blogspot.com

Urda Alice Klueger (Os Campos de Érico Veríssimo IV)



(Para Jorge Gustavo Barbosa de Oliveira)

E então, num dia, numa tarde, eu estive lá, dentre eles, neles, e caminhei por eles num dos que foi um dos grandes encantamentos da minha vida, e era como caminhar pelo país das fadas, pois aqueles eram os mágicos campos de Érico Veríssimo, e eu esperara desde os 12 anos para um dia conseguir chegar lá, sem nunca crer muito que tal fosse possível, pois como pode acreditar em campos pessoas como eu, que passam suas vidas dentro de um Vale? Fui, no entanto, no último inverno, e fazia uma temperatura de 1,5 graus Centígrados, e a verdura daqueles campos que deviam ter amanhecido cobertos de geada era uma coisa tão impressionante, como se de esmeraldas fossem feitos e como se nunca tivessem sido tocados pelo gelo, que fiquei meio em dúvida se eles eram de verdade, mesmo, ou se, quem sabe, eu divagava, caminhava por campos imaginários, somente sonhados pela mente de um escritor único...

Uma estrada atravessava os campos, e fui caminhando pela beirada dela, bem longe, bem longe, não tão longe quanto meu coração pedia, pois queria, além do espaço, atravessar o tempo, e encontrar, de repente, na beirada da estrada, andando comigo, o padre que possuía um punhal que era como que um estigma, e que criou um menino que ficaria para todo o sempre com o nome de Pedro Missioneiro... Pois é, depois da destruição das Missões, Pedro Missioneiro muito errou por muitos campos, à deriva, na espera do seu destino, e como ali eram os campos de Érico Veríssimo, com toda a certeza ele andara por ali também, e o que me faltava era a possibilidade de atravessar o tempo, tão poucos séculos, para caminhar por ali com a candura daquele Pedro gerado por uma índia nas antigas Missões, e que, com certeza, era antepassado de tantas daquelas gentes que viviam naquela cidade rodeada dos campos, e no entorno da cidade que era também rodeado pelos campos...

Eu mal acreditava que estava ali mesmo, onde tanta coisa tinha acontecido na História e no meu imaginário que vinha desde a infância, que daqueles campos se alevantara tamanha onda de energia quando um menino chamado Érico Veríssimo aprendera o be-a-bá e deixara de só imaginar, para começar a escrever o fantástico mundo que legou a mim e a tantos pelo mundo afora, e que lá no escondido do meu Vale eu fora atingida por aquela onda, e nunca mais, depois, pudera ser como antes!

A emoção me fechava a garganta, e eu pensava se lá do alto do gelado céu azul daquele dia Érico Veríssimo estaria podendo ver que os campos dele, agora, tinham muitas coisas novas, como aquela comprida fita que se desenrolava no meio do verde e que era uma ferrovia, e que atravessando aquela fita havia outra, que era uma fita de asfalto e que levava a outra coisa nova naqueles campos chamada universidade – que diriam os padres das Missões se soubessem que o saber, um dia, já não seria teocrático? Pois os padres das Missões muitas coisas também sabiam e ensinavam, e um lugar especializado no ensinar e aprender não era uma idéia nova naqueles campos - mas agora a ciência tomara o lugar da teocracia. Só que na hora não refleti muito nisto, não – o encantamento que me possuía me fazia como que flutuar entre Pedro Missioneiro e uma legião de outros personagens que dele descendiam ou não, subindo e descendo coxilhas vestidas de verde, e era tão fantástica aquela realidade de estar, de verdade, um dia, andando pelos campos de Érico Veríssimo, que fui colhendo um matinho cá, um galhinho lá, flores inesperadas dentro daquela vegetação de inverno, desde delicadas camélias até hirsutas flores de espinhos, todas tão lindas, tão etéreas, mesmo as hirsutas, que segurá-las era como ter as mãos levitando. No alto de uma coxilha, já quase ao pôr do sol, parei para conversar com um homem velhinho que guiava uma pequena carroça com uma pequena carga – quem seria ele, na verdade? Qual seu parentesco com Pedro Missioneiro? Não sei, mas sei que ele era de verdade e estava ali, e me perguntou:

- Por que você está colhendo esse mato?

E eu entendi que ele não tinha consciência de ser o personagem que era, mas mesmo assim lhe expliquei:

- São flores dos campos de Érico Veríssimo!

Era complicado, para ele, entender aquilo, mas ele me olhou com bondade, como decerto olham até hoje os descendentes de Ana Terra.

Então, voltei para o meu Vale e trouxe aquelas flores. Arranjei-as dentro de um frasco de vidro, colei nele uma etiqueta onde está escrito “Flores dos campos de Érico Veríssimo” – e como sabia que as flores acabariam ficando secas e parecendo não ter importância, colei ao redor do frasco pequenas borboletas emprestadas de Quintana, para que ficasse sempre muito clara a magia que emana dali. Eu me emociono até às lágrimas, quando olho para elas. Aquelas flores são a certeza de que não sonhei, e que um dia, de verdade, andei até muito, muito longe, pelos reais campos de Érico Veríssimo!

Blumenau, 12 de Janeiro de 2008.

Fonte:
Stammtisch Confraria e Patotas

Urda Alice Klueger em Preto e Branco, por Luiz Eduardo Caminha


Produzir livros e crônicas qualquer um pode. Sim, se tiver condições de sobrepujar as exigências de um mercado que, no Brasil, é ainda oneroso, ou ainda atravessar as barreiras dos editorialistas, eu concordaria. Mas há um senão em Urda. Sua produção tem, sobretudo, qualidade. E aí, a coisa muda. Produzir com qualidade é outros quinhentos. Pois Urda o faz. Qualquer que sejam seus livros, qualquer que seja a crônica, da vez ou não, ela se supera pela qualidade do que escreve. E isto, faz uma enorme diferença.

Leitora contumaz e escritora compulsiva, talvez sejam estas as virtudes que a diferenciem. A sensação que se te é que Urda vive para escrever. Parafraseando Gandhi quando diz que “a oração é a respiração da alma”, para Urda, talvez escrever seja a respiração de seu ser existencial. O oxigênio que lhe clareia a mente.

Entretanto, aí está uma outra diferença. Urda não apenas escreve e lê. Além disto, está sempre envolvida em movimentos sociais, em manifestações culturais, acampa, viaja e, não bastasse, cuida com zelo das publicações de outros autores que leva a público através de sua Editora, a Hemisfério Sul.

Ela mesma se define uma escritora e afirma: “não sou poeta”. Mas a poesia parece permear seus textos. E não sou apenas eu quem diz isto. Vejamos o que Luiz Carlos Amorim escreve sobre Urda:

“O romance está muito bem representado na Literatura Catarinense, por uma moça loura, brejeira e loura como outras nascidas em Blumenau, mas com uma grande diferença: ela escreve. Escreve coisas com sabor de poesia, com sabor de vida, uma fonte inesgotável de emoção e sensibilidade. Ela escreve obras-primas. Essa moça é Urda Alice Klueger, que já publicou títulos como "Verde Vale", o seu primeiro grande sucesso, com sucessivas edições, a saga dos primeiros colonizadores em Santa Catarina, uma canção verde da cor do amor e da serenidade, da cor da ternura; "As brumas dançam sobre o Espelho do Rio", "No Tempo das Tangerinas", "Vem, Vamos Remar", "Te Levanta e Voa", "Cruzeiros do Sul", "Recordações de Amar em Cuba II", "A Vitória de Vitória" - o primeiro livro infanto-juvenil da romancista e, lançado recentemente, "Entre Condores e Lhamas". "As Brumas dançam Sobre o Espelho do Rio" é poesia em prosa, é um hino de liberdade e à natureza, é uma canção de amor - amor como podemos concebê-lo em todas as suas formas”.

E vai mais além o comentário:

POETISA DA PROSA

Os romances de Urda têm o poder de prender o leitor da primeira à última página, fazendo com que a gente os leia de um fôlego só. Não importa o tema: a força narrativa da autora, a construção dos personagens, humanos e autênticos, o cuidadoso e minucioso trabalho de delinear os cenários, o engendramento da trama, consistente e verossímel, fazem de Urda a escritora mais importante desta Santa e bela Catarina.

Cecília Meirelles já disse, em seu "A Arte de Ser Feliz" que é preciso saber olhar para ver." E Urda sabe olhar a natureza e ver que "a manhã vem com muitas brumas, mas depois o sol chega se espreguiçando todo de tanta beleza, devagar, com uma lentidão cheia de prazer, vai tocando a branquidão que o rio forma para o alto, para longe, de encontro aos morros distantes, onde elas acabam por se desfazer numa beleza transcendental...

Urda também transcende o romance trazendo, como historiadora que é, a história para suas estórias. Vejam, por exemplo, o que diz o professor e historiador Viegas Fernandes Costa:

Muito já se escreveu a respeito da escritora Urda Alice Klueger, mas pouco se falou sobre a historiadora Urda. Na verdade, a obra da historiadora confunde-se com a obra da escritora, já que seus livros refletem uma preocupação com o tempo e o cotidiano...

Em toda esta trajetória literária, a influência da história nos textos da escritora Urda Alice Klueger é cada vez maior, porém as influências da romancista sobre a historiadora também permanecem com força, tornando-se impossível desvincular uma da outra.

Mas Urda não é um fenômeno literário apenas por produzir com qualidade. Há que se alicerçar melhor esta tese e nada como os números para ratificar o que afirmo. Afinal, são 19 livros, mais de 500 crônicas publicadas no Brasil e em Portugal, um livro tema de um filme. Muitos de seus livros são referência nas provas de Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina e da UDESC. Dos livros, o primeiro, “Verde Vale”, já está em sua 11ª. Edição, “No tempo das tangerinas”, na 10a., “Vem, vamos remar”, “Blumenau, a loira cidade no sul” e “Crônicas de Natal e Histórias da minha Avó”, todos na 4ª. prensagem. E já que estamos na internet, um outro número que impressiona é traduzido pelo site de consultas do “Google”. Ao digitar o nome da escritora aparecem nada menos que 3.470 referências. E tem mais, muito mais.

Fonte:
Stammtisch Confraria e Patotas

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Concursos da UBT São Paulo - Versão 2010


CONCURSO NACIONAL /INTERNACIONAL

Tema: FEITIÇO

Âmbito Nacional: VENCEDORES

Feiticeiro sem magia
ou bruxo sem qualidade,
eu não aprendo a alquimia
da poção “Felicidade”!

ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte – MG

Para ter o compromisso
do amor de certa mulher,
eu, que não creio em feitiço
faço o feitiço que houver!
ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte – MG

Facilmente me dominas,
bastando apenas piscar...
- É o feitiço das meninas
que brincam no teu olhar!
A. A. DE ASSIS
Maringá – PR

Nem mesmo o sol nos desperta
do feitiço sem pudor,
que nos envolve e acoberta
nas madrugadas de amor!
ÉLEN DE NOVAIS FÉLIX
Niterói – RJ

Por teu feitiço ou magia,
mesmo sabendo quem és,
troquei a minha alforria
e fui escravo a teus pés...
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru – SP

Noel, em tarde tranquila,
compondo um samba sutil,
fez o Feitiço da Vila
enfeitiçar o Brasil!...
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO
Rio de Janeiro – RJ

Do teu feitiço um cativo,
por livre-arbítrio me fiz;
mas juro por Deus que vivo
num cativeiro feliz!
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora – MG

Aos erros, não fique omisso,
nem tente aos outros culpar:
- a pedra não faz feitiço
para a gente tropeçar!
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes – PR

Desprezei-te, fui omisso,
quis um “caso” passageiro...
Mas o Amor fez o feitiço
virar contra o feiticeiro!
RENATO ALVES
Rio de Janeiro – RJ

Quando o amor se distancia
e o sonho fica apagado,
não há feitiço ou magia
que salve o encanto quebrado...
THEREZA COSTA VAL
Belo Horizonte – MG

Tens tal feitiço no olhar
que, em nosso adeus, por encanto,
foram gotas de luar
que escorreram do teu pranto!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte – MG

Tema: FEITIÇO

Âmbito Internacional: VENCEDORES

Feitiço do feiticeiro
cura todas as “mésinhas”,
se não for um trapaceiro,
cura as tuas, mais as minhas...
ANTÓNIO DOS SANTOS BOAVIDA PINHEIRO
Lisboa – Portugal

Todo o pobre sabe bem
como dobrar vencimentos;
feitiço é viver com cem
e precisar de duzentos.
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Parede – Portugal

O teu olhar feiticeiro,
quando se cruzou com o meu,
fez um feitiço certeiro
que o meu coração prendeu.
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES
Porto - Portugal
CONCURSO ASSINANTES DO “INFORMATIVO”

Tema: DESEJO

Âmbito Nacional: VENCEDORES

Um contraste eu sempre vejo
neste teu beijo febril
pois ao matar um desejo
eu ressuscito outros mil!
ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte – MG

Você voltou e hoje eu vejo
que o meu abraço de então
foi muito mais de desejo
do que, de fato, perdão!
ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte – MG

São meus desejos sedentos
fantoches do coração
se movendo ao movimentos
das linhas da tua mão!
ARLINDO TADEU HAGEN
Belo Horizonte – MG

O amor é perene chama,
desejo, só a posse almeja...
Quem deseja, às vezes ama,
porém, quem ama... deseja!
ÉLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
Caçapava – SP

Quando me dizes, sem pejos,
sensual em demasia,
que és um rio de desejos...
Ser teu mar... Como eu queria!
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora – MG

“Tenta esquecê-la”... Alguém fala.
O meu desejo, porém,
de algum dia conquistá-la,
não ouve a voz de ninguém!...
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora – MG

Alta noite e tu não vinhas...
Em desejos, só, no leito,
estrelas eram tachinhas
martirizando o meu peito.
MOACYR FIGUEIREDO
Florianópolis – SC

De que vale eu ficar mudo,
os desejos sufocar,
se os meus olhos dizem tudo
quando encontram teu olhar.
MOACYR FIGUEIREDO
Florianópolis – SC

Na madrugada, em teus braços,
o nosso amor se faz pleno.
E o desejo, com seus laços,
torna este mundo pequeno.
RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte – MG

Se o desejo me arrebata,
preceitos são esquecidos:
vivo paixão insensata
na linguagem dos sentidos.
RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte – MG

Quando o desejo desponta
e a razão tenta se opor,
eu brinco de faz de conta
e levo em frente esse amor!
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto - SP

Não malogre o seu desejo...
Nem pense que é uma vergonha,
pois é nas asas de um beijo
que chega à lua... quem sonha!
ROBERTO RESENDE VILELA
Pouso Alegre – MG

O fascínio antigo existe
nesse amor que não tem prazo
e o desejo em nós persiste,
sem limite e sem ocaso...
THEREZA COSTA VAL
Belo Horizonte – MG

Na espera há doces demoras,
quando eu desejo te ver.
O relógio, ao som das horas,
solfeja, em vez de bater...
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba – PR

Que bom seria um enlace
entre a mente e o coração:
o que a gente desejasse
também quisesse a razão!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte – MG

Tema: DESEJO

Âmbito Internacional: HOMENAGEM

Um desejo bem guardado
trago dentro do meu peito:
o de ser só bem amado
pelo bem que eu tiver feito.
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ílhavo – Portugal
CONCURSO ASSOCIADOS DA SEÇÃO SÃO PAULO - SP

Tema: ORVALHO

Âmbito: VETERANOS

De manhã, se a vista espalho
para olhar coisas mimosas,
vejo pérolas de orvalho
sobre as pétalas das rosas...
ANALICE FEITOZA DE LIMA

Ela do trem me acenando,
secava os olhos morenos,
enquanto os meus orvalhando,
já não viam seus acenos!
CAMPOS SALES

Uma gotinha de orvalho...
E o poeta percebeu
que era lágrima do galho
chorando a flor que morreu!
CAMPOS SALES

Pai, abençoa meu filho
que pelas drogas foi morto;
o orvalho não perde o brilho
nas folhas de um galho torto!
CAMPOS SALES

Manhã de inverno, gelada,
e, em ação, se põe o orvalho,
criando falsa florada
na ponta seca de um galho...
DARLY O. BARROS

Oh! minha mãe, quando eu falho,
tua lágrima rolada,
é qual pérola de orvalho
sobre a rosa machucada!...
DOMITILLA BORGES BELTRAME

Cai o orvalho, de mansinho,
nesta aridez do sertão...
e o povo aceita o carinho
que ameniza a insolação!
GIVA DA ROCHA

Seria a vida mais doce
e as dores bem mais amenas,
se toda lágrima fosse
um pingo de orvalho apenas...
JAIME PINA DA SILVEIRA

Gota de sonho e magia,
sopro de um anjo... tão leve...
orvalho, suave poesia,
que a noite, inspirada, escreve.
MARIA HELENA CALAZANS MACHADO DUARTE

Hora do adeus... sutilmente,
eu disfarço o meu desgosto,
quando o orvalho, gentilmente,
lava a lágrima do rosto!...
MARILUCIA REZENDE

A madrugada encontrou
um pobre e triste espantalho
e, comovida, o enfeitou
com ricos cristais de orvalho.
MARINA BRUNA

Se, a foto, o orvalho umedece
- depois que o amor teve fim –
à minha ilusão parece
que ainda choras... por mim!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

À noite, se estou contigo
e o sereno a rede orvalha,
em teus braços eu me abrigo
e o teu amor... me agasalha!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Faze o bem, mesmo a quem falha
ao cruzar os teus caminhos...
Repara que Deus orvalha
as rosas e os seus espinhos.
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Tema: ORVALHO

Âmbito: NOVOS TROVADORES

Sentado naquela praça,
enquanto o sono não vem,
sinto que o orvalho me abraça
e me faz lembrar de alguém.
EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO

Não sei se é lenda ou verdade
que Cristo se entristeceu,
chorou pela humanidade
e assim o orvalho nasceu.
EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO

A gotícula de orvalho
congelada, fragilmente,
enfeita o velho carvalho
qual diáfano pingente...
J. B. XAVIER

Vendo o orvalho na campina,
enfeitando a madrugada,
pude ver a mão divina
sobre a noite enluarada...
J. B. XAVIER

Vai-se embora todo o orvalho
com o sol esfuziante,
deixando o velho carvalho
sem um único diamante...
MARIA DE LOURDES PAIVA REIS

Orvalho, brilho de prata
sob a densa luz da lua,
que em solene passeata
faz espelho em minha rua...
MARIA DE LOURDES PAIVA REIS

Condoído, o sol, tão doce
secou a folha da flor,
pensando que o orvalho fosse
uma lágrima de amor...
MARIA DE LOURDES PAIVA REIS

Grande Noel, ao compor,
atento no seu trabalho,
pingava gotas de amor
até nas gotas do orvalho.
WALDIR GERSON GRANZOTTI

Quando há seca em nossa roça,
pedimos em oração,
que, ao menos, o orvalho possa
vir molhar o nosso chão.
YEDDA MAIA RAMOS PATRÍCIO

A quem cultiva um jardim
a natureza lhe ensina:
se a estiagem não tem fim,
orvalho é bênção divina.
YEDDA MAIA RAMOS PATRÍCIO

Os teus olhos, orvalhados
pela emoção do momento,
são dois sóis iluminados
pela luz do sentimento!
YEDDA MAIA RAMOS PATRÍCIO
CONCURSO HUMORÍSTICO ASSOCIADOS DA SEÇÃO SÃO PAULO - SP

Tema: APITO

Âmbito: VETERANOS E NOVOS TROVADORES


Sempre que o noturno apita,
rangendo nos velhos trilhos,
desperta o marido e a Dita,
que vão aumentando os filhos...
CAMPOS SALES

Casal novo, bom de cria,
trinta meses, três nenéns!
É que havia a ferrovia
e ouvia o apito dos trens...
DIVENEI BOSELI

Num elevador lotado,
um som cavo, muito agito
e um guarda ruborizado:
“foi descontrole... do apito”.
EDUARDO DOMINGOS BOTTALLO

“Apitando” mais que flauta,
- e com sonora potência -,
O Zé nem olha na pauta,
Vai de cor... na “flautulência”!
HÉRON PATRÍCIO

- Mas, “seu” guarda, por favor,
ao apito obedeci.
Culpado é o muro, senhor,
que não deu ré... e eu bati!!!
MARIA HELENA CALAZANS MACHADO DUARTE

Engoliu o seu apito
durante um jogo agitado...
Agora, o juiz aflito,
apita do lado errado!!!...
MARILUCIA REZENDE

- Apite se alguém chegar!
Pediu o amante vaidoso...
Mal podia imaginar,
que o vigilante era o esposo!!!...
MARILUCIA REZENDE

Escuta o apito e pergunta:
- Eu entrei na contramão?
Não, não, diz o guarda... e ajunta:
- Vai entrar é no talão!
MARISA RODRIGUES FONTALVA

Diz que é soprano... e padece
com muito cristal quebrado,
pois sua voz mais parece
apito desafinado...
RENATA PACCOLA

Aqueles a quem indago,
- e a resposta não me vem –
Será que apito de gago
a-pi-pi-ta assim tam-bém?
SELMA PATTI SPINELLI

O torcedor se consome!...
E a cada apito infeliz,
se é feito o gol, grita o nome
que é dado... à mãe do juiz!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Fonte:
http://www.ubtsp.com.br/page5.aspx

98º Concursos de Quadras do Clube da Simpatia (Olhão - Portugal )


Tema: JARDIM

PREMIADOS

1º Prêmio

No jardim da minha vida,
meus filhos são minhas flores.
Vivo a ternura nascida
entre mim e os meus amores!
GISLAINE CANALES - BRASIL

2º Prêmio
Basta olhar com muito amor,
para se ver tudo assim:
em cada rosto uma flor
e o mundo um grande jardim:
ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES - BRASIL

3º Prêmio
Enquanto um menino existe,
um passarinho, um jardim,
o mundo, apesar de triste,
distante estará do fim.
ANTÓNIO AUGUSTO DE ASSIS - BRASIL

MENÇÕES HONROSAS

Esta vida é um jardim
onde ninguém é capaz,
depois de chegar ao fim
poder voltar para trás…
MARIA ALIETE CAVACO PENHA - PORTUGAL

No Mundo da Fantasia,
eu construi um jardim:
com versos...rimas...poesia,
que sorriam para mim!
DELCY CANALLES - BRASIL

Viver é estar num jardim
a colher o que plantarmos:
espinho ou flor de jasmim,
se bem ou mal semearmos.
ÂNGELA TOGEIRO - BRASIL

Pus sementes de sorriso
No meu jardim de bonança:
Construi um paraíso
Colhi risos de criança…
FERNANDO MÁXIMO - PORTUGAL

Fonte:
Colaboração de A. A. de Assis