terça-feira, 23 de julho de 2024

Irmãos Grimm (A filha do moleiro)

Era uma vez um moleiro, muito pobre, que tinha uma filha lindíssima. Um dia teve ocasião de falar com o rei e, para dar-se importância , disse-lhe:

- Tenho uma filha  que sabe fiar palha, convertendo-a em ouro.

- É uma arte que me agrada, e muito. - comentou o rei. - Se tua filha é tão habilidosa como dizes, traze-a amanhã ao palácio, que eu  quero fazer uma experiência com ela.

Quando lhe trouxeram a moça, ele a levou a uma sala cheia palha e, dando-lhe uma roca e uma dobadeira, disse-lhe:

- Começa logo o trabalho e, se até amanhã de manhã não tiveres transformado toda esta palha em ouro, morrerás.

Depois ele mesmo chaveou a porta , deixando a moça sozinha.

A infeliz ficou ali encerrada, sem saber o que fazer para salvar sua vida. Não tinha a menor ideia de como transformar palha em ouro e sua angústia aumentava de momento a momento. Acabou chorando amargamente. De súbito a porta abriu-se e entrou um anãozinho. Disse ele, cumprimentando-a:

- Boa noite, jovem moleira! Por que choras assim?

- Ah! - exclamou a moça. - Devo fiar esta palha convertendo-a em ouro e nada entendo disso.

- Que me darás se  eu o fizer por ti? - indagou o homenzinho

- Meu colar. - disse a jovem.

O anão tomou o colar e, sentando-se à roca , num zás, em três rodadas encheu a bobina. Em seguida colocou outra e, com mais três pedaladas, a segunda também ficou cheia.

Continuou assim ininterruptamente, até amanhecer, quando então toda a palha estava fiada e todos as bobina cheias de ouro.

Logo que apontou o sol, o rei apresentou-se e, ao ver o ouro, ficou surpreso e radiante de alegria. Sua cobiça, no entanto, lhe pedia mais. mandou que levasse a filha do moleiro a outra sala ainda maior, cheia de palha, e exigiu-lhe que fiasse tudo durante a noite, se é que prezava a sua vida. 

A moça, ao ver-se de novo perdida recomeçou a chorar. Novamente a porta se abriu e apareceu o anãozinho, perguntando:

– Que me darás se te converto a palha em ouro?

- O meu anel. - retrucou a moleirinha.

O anão aceitou o anel; pôs-se à roca e, ao ao chegar a madrugada, toda a palha estava transformada em ouro fulgurante.

Ao ver aquilo, o rei alegrou-se, mas , ainda não satisfeito, mandou que levassem a moça para outra sala, muito maior e igualmente cheia de palha.

- Esta noite – disse ele - fiarás tudo isto. - Se conseguires , eu me casarei contigo.

O rei pensava : "Embora ela seja, apenas, filha de um moleiro, onde acharei mulher mais rica?"

Voltando a estar só, apresentou-se o anãozinho pela terceira vez e lhe disse:

- Que me darás se ainda esta noite me ponho a fiar a palha para ti?

- Já não me resta coisa alguma que possa dar-te. - respondeu a moça.

- Então promete-me o teu primeiro filho quando fores rainha.

"Sabe lá o que ainda está por acontecer", pensou a filha do moleiro. E, como estava num aperto tão grande, prometeu o que lhe pedia o anão.

Quando, pela manhã, o rei entrou na sala, encontrou tudo conforme seus desejos. Cumprindo sua promessa, casou-se com a bela moleira, que assim se tornou rainha. 

Transcorrido um ano, nasceu uma linda criança. A rainha até havia esquecido o anãozinho, senão quando este se apresentou, de súbito, em seu quarto.

- Dá-me, agora, o que me prometeste.

Ela, desesperada, ofereceu ao homenzinho todas as riquezas do reino se lhe deixasse o filho. Mas o anãozinho respondeu-lhe:

- Não! Uma criatura vale mais para mim do que tesouros do mundo.

A rainha, então, chorou e lamentou-se tanto que, afinal o anãozinho teve pena dela.

- Eu te darei três dias de prazo - disse - Se nesse meio tempo adivinhares o meu nome, poderás ficar com teu filho.

Durante a noite inteira  a rainha procurou recordar todos os nomes que conhecia e enviou um mensageiro a toda parte para informar-se de outros mais.

Quando, no dia seguinte, o homenzinho se apresentou, ela lhe foi recitando todos os nomes que sabia: Melchior, Gaspar, Baltasar...mas a cada um o anãozinho respondia:

- Não me chamo assim!

No decorrer do segundo dia mandou investigar os nomes de todos os vizinhos e passou a enumerá-los para o anão. Citou os mais difíceis e estranhos.

- Não te chamarás, por acaso Saltimbanco?

Mas o anãozinho respondia invariavelmente:

- Não, não me chamo assim.

No terceiro dia o emissário voltou, dizendo:

- Não descobri um só nome desconhecido mas, quando saía do bosque e cheguei a uma montanha muito alta, onde a raposa e a lebre se dão as boas noites, vi uma casinha , diante da qual ardia uma fogueira. Ao redor desse fogo um anãozinho saltava num pé só. E cantava assim:

Hoje faço pão e amanhã cerveja
Depois de amanhã busco o filho da rainha,
Ai que bom que ninguém sabe 
Que meu nome é Coroínha!

Imaginem o contentamento da rainha ao ouvir aquele nome. Quando, pouco depois, o homenzinho entrou no aposento e perguntou:

- Então, senhora rainha , como me chamo?

Ela respondeu-lhe, fazendo-se de sonsa:

- É Conrado?

- Não.

- Henrique?

- Não.

- Será, por acaso, Coroínha?

– Foi o diabo que te disse! Foi o diabo que te disse! - gritou o anãozinho furioso, batendo com o pé direito com tanta força no chão que se enterrou até a coxa. Depois pegou o pé esquerdo com as duas mãos, mas com tanta raiva que ele mesmo se rasgou em dois pedaços.

Fonte: Contos de Grimm. Publicados de 1812 a 1819. Disponível em Domínio Público.

Vereda da Poesia = 64 =


Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

RODOLPHO ABBUD
1926 – 2013

Não há analista que explique
no enterro, à pobre viuvinha:
Bem maior que o seu chilique,
era o choro da vizinha !...
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Poema da Espanha

MIGUEL DE UNAMUNO
Bilbao, 1864 - 1936, Salamanca

Oração do Ateu

Ouve meu rogo, Deus que não existes,
em teu nada recolhe as minhas queixas.
Tu, que aos homens mais pobres nunca deixas
sem consolo de enganos. Não resistes
a nosso rogo, e ao nosso anseio assistes.
Quando da minha mente mais te afastas,
eu mais recordo essas palavras castas
com que embalou minha ama as noites tristes.
Que grande és tu, meu Deus! Tu és tão grande
que não passas de Ideia; e é tão estreita
a realidade mesmo que se expande
para abarcar-te. Sofro à tua espreita,
inexistente Deus. Pois se viveras
existiria eu também deveras.
(Tradução: Jorge de Sena)
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Aldravia de Anastácio/MS

FLÁVIA ROHDT
(Flavia Guiomar Ferreira da Silva Rohdt)

cálice
na
boca
desejos
no
coração
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Soneto de Uberlândia/MG

RAQUEL ORDONES

Eu sou a esperança

E se tudo me parecer arruinado
E se me furtarem a perseverança
Se do orbe eu ficar desencaixado
Preciso crer, eu sou a esperança.

E se o caminho parecer tortuoso
Se lágrima cair da minha criança
Se o adulto de mim for orgulhoso
Preciso crer, eu sou a esperança.

Se a minha flor tende emurchecer
Se eu tropeçar na minha andança
Preciso crer, eu sou a esperança.

Em minha essência algo invisível
Devo empunha-lo e ter confiança
É minha fé, sou minha esperança.
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Trova Premiada em São Paulo/2013

JAIME PINA DA SILVEIRA
São Paulo/SP

Eu divido a minha vida
como se houvesse dois “eus”.
Um antes da despedida.
Outro , após o teu adeus.
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Poema de Lisboa/Portugal

ANTERO JERÓNIMO

Memória adormecida

A revolta corrói por dentro, intensa
no corpo cansado de reprimir
mastigam-se côdeas de desespero no resistir
no dizer não ao sobreviver de sentença
a liberdade atraiçoada em desumana condição
moldes em série de vontades amordaçadas
verdades construídas sobre mentiras subornadas
o cravo encimando espingardas é disforme ilusão
a ignomínia promessa já não cabe nesta hora
aviva as frias cinzas repletas da nossa história
corpo adormecido ergue pensamento d’outrora
onde a coragem encheu páginas de glória.
Acorda breve que o dia já demora
ó Corpo de Gente, adormecido na memória.
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Trova Popular

Um suspiro de repente,
um certo mudar de cor,
são infalíveis sinais
de quem sofre o mal de amor.
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Soneto de Bandeirantes/PR

NEIDE ROCHA PORTUGAL

Êxodo mental

Ficou distante a roça… E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.
.
Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim… E, na empreitada,
.
tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.
.
Do que é capaz um som?… Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz! 
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Trova de São Paulo/SP

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...
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Poema de Belo Horizonte/MG

CARLOS LÚCIO GONTIJO

Gonçalves Dias

O sabiá esvoaçante onde canta?
Aonde chega o alto-falante de seu canto?
Manto flamejante em forma de som
Que aos ouvidos somente encanta
Numa promessa de constante tempo bom
Sem a dor lacrimejante da solidão que espanta
Tornam-se afeitas as esperanças mais arredias
E vivo se nos apresenta o poeta Gonçalves Dias!
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Trova Humorística de São José dos Campos/SP

AMILTON MACIEL MONTEIRO

Diz-se um machão da pesada,
valentão que dá no couro,
mas não passa sob escada,
com medo de mau agouro.
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Soneto de Juiz de Fora/MG

HEGEL PONTES
(1932 – 2012)

Estrela da man

Estrela da manhã que resplandece
no céu espiritual de minha vida,
vislumbro em seu olhar a mesma prece
que envolve ao longe a solitária ermida.

Brilha no azul. Porém quando escurece,
não passa de uma lágrima perdida
na imensidão da noite que aparece,
de estrelas fulgurantes, revestida.

E, levando meus sonhos noite afora,
eu posso vê-la ainda ao sol nascente,
quando as estrelas todas vão embora.

Pois só você, estrela entristecida,
não tem repouso e brilha suavemente
no céu espiritual de minha vida.
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Trova de Porto/Portugal

EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES

Faz o bem sem ver a quem,
até às pessoas más,
porque o bem faz sempre bem,
Inclusive a quem o faz!...
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Glosa de Niterói/RJ

ANGELA STEFANELLI DE MORAES

Doce guarida

MOTE:
Modifico a minha vida
quando fico a contemplar
esta estrada tão florida
e os pássaros a cantar.
Alda Corrêa Mendes Moreira 
(Niterói/RJ)

GLOSA:
Modifico a minha vida
quando admiro um jardim.
Sinto que tenho guarida
ao vislumbrar o jasmim.

Curo minh’alma ferida
quando fico a contemplar
a alegre margarida
tão doce a desabrochar.

Fico muito embevecida
ao olhar na primavera,
esta estrada tão florida
que me traz tanta quimera.

Admiro a majestade
deste cenário sem-par
que traz amabilidade
e os pássaros a cantar.
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Trova de Curitiba/PR

MARIA DA CONCEIÇÃO FAGUNDES

Ruínas... sonhos contidos
no penoso caminhar...
Passos trôpegos, sofridos,
à noite esperam sonhar.
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Soneto da Bahia

PEDRO KILKERRY
(Pedro Militão Kilkerry)
Santo Antônio de Jesus, 1885 – 1917, Salvador

Taça

Aquela taça de metal que, um dia,
À Laura, um dia assim, lhe oferecera,
Entre relevos delicados de hera,
"Saudade" em letras de rubis trazia.

E era um riso de amor e de poesia
Em cada riso ou flor da primavera...
E Laura, a um canto, cruel, por que a esquecera,
Laura que soluçou, porque eu partia?

Anos derivam. De remorsos presa
Não é que vai, acaso, à soledade
Da abandonada... Vai por fantasia.

Mas, como um choro, vê, vê com surpresa,
Desmancharem-se as letras da "Saudade"
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Trova Premiada em Natal/RN, 2005

WANDA DE PAULA MOURTHÉ 
(Belo Horizonte/MG)

Sem temor, meu barco avança,
seja qual for a maré,
pois no mastro da esperança
iço a bandeira da fé. 
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Poema de Itajaí/SC

SAMUEL DA COSTA

Segredar-te 

Queria eu falar-te 
Ao pé do ouvido! 
Chega aqui... 
Bem perto de mim! 
 
Não hoje! 
Nem agora! 
Nem nunca 
Pois o século se finda... 
Introspecto! 
E um novo se aproxima... 
Algo novo vem por ai 
Intrínseco! 
Extrínseco! 
Fugaz 
Um mundo novo 
 
Quero-te 
Quero-te agora 
Com todo o rigor! 
De quem vai à guerra!... 
Com toda a certeza 
Que não de voltar mais. 
 
Pois bem sei 
Não haverá... 
Um novo amanhã possível... 
Não para nós dois! 
Não tens futuro algum 
Ao meu lado! 
 
Pois o nosso século se finda... 
Introspecto! 
E um novo século inicia. 
Intrínseco! 
Extrínseco! 
Fugaz 
Amorfo 
Um mundo novo 
E artificial
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Triverso de Londrina/PR

DOMINGOS PELLEGRINI

Aquela tigela
aquela faca
e uma bela jaca
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Décimas de Fortaleza/CE

FRANCISCO JOSÉ PESSOA
(Francisco José Pessa de Andrades Reis)
1949 - 2020

Excesso de Bagagem

Se promessas são dívidas ou não
Eis-me aqui, são e salvo neste frio,
Vindo do norte de um calor bravio
Para provar a minha gratidão.
Pus poesia no meu matulão*
Mandei o Haroldo** reservar passagem
Viemos juntos para esta viagem
Trazendo tanto, tanto, tanto amor
Que no check-in, acredite o senhor,
Foi registrado EXCESSO DE BAGAGEM.

Mas eu paguei feliz o tal imposto
E pagaria tudo uma outra vez
Só pelo fato de estar com vocês
E poder abraçá-los rosto a rosto.
Falar ao vivo tem um outro gosto 
Participar dessa camaradagem
Amizade fiel, sem maquiagem,
E de tanta afeição, tenho certeza
No check-in ao voltar pra Fortaleza,
Vou pagar outro EXCESSO DE BAGAGEM!
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* Matulão: Saco onde os retirantes nordestinos carregavam seus pertences.
** Haroldo a que o poeta se refere, é outro poeta, Haroldo Lyra.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Sofro junto a dor injusta
de que a Terra está repleta...
- Esse é o preço que me custa
a graça de ser poeta.
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Hino de Vitória/ES

Música: Carlos Cruz
Letra: Almeida Rego

Quero ver os capixabas
Vibrando, cantando esta canção,
Hino de glória à grandeza
Da Ilha de Vitória

 Vitória,
Da Vila Nova antiga
Onde o progresso tem vida
No porto que é Tubarão.

 A Vitória das vitórias
A terra feliz onde eu nasci,
Tem no Penedo bravura
E doçura em Camburi.

 Vitória,
Minha querida Vitória,
És a cidade presépio,
Orgulho do meu coração! (bis)

 De Anchieta a Monteiro,
Lutando, mostrando o teu brasão,
Viva o teu povo, Vitória,
Que não se entrega não!

 Vitória,
Se estou longe és saudade
Que o meu peito invade
E faz chorar de emoção.

 Hoje eu canto a minha terra,
Pedaço de céu do meu país.
Que Santo Antônio proteja
Essa terra tão feliz!

 Vitória,
Minha querida Vitória,
És a cidade presépio,
Orgulho do meu coração! (bis)
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Vitória: Um Hino de Orgulho e Tradição
O 'Hino de Vitória - ES' é uma celebração vibrante e emotiva da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. A letra exalta o orgulho dos capixabas, destacando a grandeza e a beleza da cidade. Desde o início, a música convida os habitantes a cantarem juntos, criando um senso de comunidade e pertencimento. A referência à 'Ilha de Vitória' ressalta a geografia única da cidade, que é uma ilha, e a sua importância histórica e cultural.

A canção faz uma viagem pelo tempo, mencionando a 'Vila Nova antiga' e o progresso representado pelo porto de Tubarão. Essa dualidade entre o passado e o presente é uma metáfora para a evolução e o desenvolvimento contínuo de Vitória. A letra também destaca pontos específicos da cidade, como o Penedo e a praia de Camburi, simbolizando a bravura e a doçura, respectivamente. Esses elementos geográficos e culturais são apresentados como parte da identidade de Vitória, reforçando o orgulho local.

O hino também evoca figuras históricas como Anchieta e Monteiro, que são símbolos de luta e resistência. A menção ao brasão da cidade e à proteção de Santo Antônio reforça a ideia de uma comunidade unida e protegida. A saudade mencionada na letra é um sentimento comum entre aqueles que estão longe de sua terra natal, e a música serve como um elo emocional que conecta os capixabas à sua cidade, independentemente de onde estejam. A repetição do estribilho enfatiza o amor e o orgulho que os habitantes sentem por Vitória, tornando o hino uma verdadeira declaração de amor à cidade.  https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/136793/significado.html 
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Poetrix do Rio de Janeiro/RJ

LILIAN MAIAL

música

meu corpo canção
em acordes se afina
tocado por teus olhos
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Soneto de Coimbra/Portugal

JAIME CORTESÃO
1884 – 1960

Renascimento 

Nasci de novo. Eis-me liberto, enfim!
Foi por um Céu, de estrelas todo cheio,
Numa visão de Amor, que um Anjo veio
Descendo até pousar ao pé de mim.

O beijo que me deu não teve fim...,
Apertou-me nos braços contra o seio,
Abriu os lábios segredando..., e a meio
Bateu asas e levou-me assim.

Ai! como é doce o seio que me embala!
E como tudo é novo e mais profundo!...
Mas já não volta, ou, quando volta, é morto!

Noutro Mundo melhor eu vivo absorto,
E logo conheci que a esse Mundo
Quem vai não volta, ou, quando volta, é morto!!
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Trova de Petrópolis/RJ

GILSON FAUSTINO MAIA

Quando eu era bem criança, 
as mãos limpas de aprendiz 
transportavam esperança 
de ser, um dia, feliz.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O rato anacoreta

Das curvas unhas de terrível gato
Por milagre escapando-se ligeiro,
No atulhado armazém de um merceeiro
Foi asilo buscar pequeno rato.

Pilha de seis de fundo e vinte de alto
De queijos parmesões subia ao teto,
E atraído de cheiro tão seleto,
Lá trepa o fugitivo em salto e salto.

Num queijo que à parede mais se unia,
Lá começa a roer, e em pouco espaço
Um buraco enlapou, que nada escasso
Cubículo e sustento lhe exibia.

Ora dormindo, ora manducando,
Ali vive tranquilo e sem cuidado.
«Do mundo — diz — estou desenganado,
E quero ir minhas culpas expiando!»

Que me dizes, leitor, ao tal ratinho?
Assim vivendo à custa dos patetas,
Nesses conventos regalões roupetas
Da salvação procuram o caminho.
(tradução: Costa e Silva)

Recordando Velhas Canções (Feitio de oração)


Compositores: Noel Rosa e Vadico

Quem acha vive se perdendo
Por isso  agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que por infelicidade          
Meu pobre peito invade

Batuque é um privilégio 
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha vou mandar
Minha morena pra cantar
Com satisfação,  e com harmonia
Esta triste melodia,  que é meu samba
Em feitio de oração

O samba na realidade,       
não vem   do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então 
Nasce no coração 
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O Samba Como Expressão da Alma em 'Feitio de Oração'
A música 'Feitio de Oração', composta pelo icônico Noel Rosa, é uma obra que transcende o tempo, trazendo em sua essência uma profunda reflexão sobre a natureza do samba e a expressão dos sentimentos. A letra inicia com uma contemplação sobre a perda e a saudade, sentimentos universais que afligem o ser humano. O eu-lírico se apresenta em uma luta para se proteger da dor causada pela saudade, uma emoção que invade seu peito e traz sofrimento.

No decorrer da canção, o samba é apresentado como uma forma de oração, uma expressão sublime que não se aprende em escolas, mas sim se sente e se vive. O samba é descrito como um privilégio, uma manifestação de alegria e nostalgia que se entrelaçam na melodia. A música sugere que o samba tem o poder de transformar a tristeza em algo belo, em arte. A referência à Penha e à morena que vai cantar com satisfação e harmonia reforça a ideia de que o samba é um ato de celebração e resistência emocional.

Por fim, Noel Rosa conclui que o samba não é algo que pertence exclusivamente ao morro ou à cidade, mas sim que ele nasce do coração de quem suporta uma paixão. O samba é, portanto, uma manifestação autêntica dos sentimentos mais profundos, uma forma de arte que brota da experiência humana e da capacidade de suportar e expressar as emoções mais intensas.

O compositor Vadico (Osvaldo Gogliano) era um jovem de 22 anos e trabalhava no Rio havia pouco tempo, quando foi apresentado por Eduardo Souto a Noel Rosa, nos estúdios da Odeon. Razão da apresentação: o maestro acabara de ouvi-lo tocar ao piano uma música de sua autoria, ainda sem letra, e achara que o encontro poderia render uma boa parceria.

Noel, então, impressionado com a beleza e o clima místico da melodia, fez a letra de "Feitio de Oração", iniciando com uma obra-prima a parceria desejada. Pertence a esta letra os famosos versos: "Batuque é um privilégio / ninguém aprende samba no colégio..." A dupla Noel e Vadico durou quatro anos, deixando onze composições.

Fontes:

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Varal de Trovas n. 606

 

Mensagem na Garrafa = 125 =


POETA DA COLINA
(Danilo Mendonça Martinho)
São Paulo/SP

Oração do Poeta

Que eu nunca me cale
Que a palavra vença a dor
Que alma grite as verdades

Prometo não fechar os olhos pro mundo
Sentir suas aflições
Revelar seus detalhes
Compartilhar sua realidade

Essa é a minha luta
Ter voz no meio do silêncio
Ter coragem quando há medo
Ter esperança quando se está perdido
Ser quem nunca desiste

Sou poeta
A palavra é minha arma
O verso é meu escudo
E a poesia viverá para sempre

A. A. de Assis (No princípio era o “ai”)

Dentro de mais uns 30 anos, gostemos ou não, todos os povos serão bilíngues

Onde e quando os nossos ancestrais começaram a falar? Sabe-se lá…  O certo é que o primeiro Adão e a primeira Eva já entraram na história equipados com um aparelho fonador que lhes permitiria articular palavras. Nasceram dotados também de inteligência e criatividade. Já chegaram então ao mundo com aquilo que se convencionou chamar de “competência” para o “desempenho” da comunicação mediante a “linguagem”.

Vai daí que um dia, em algum lugar, um deles emitiu o primeiro sinal significante, muito provavelmente uma interjeição – um “ai” talvez, indicativo de prazer ou de dor. Depois do “ai”  deve ter murmurado o “ei”, o “ih”, o “oh”, o “ui”… E Evas e Adões passaram a dar nome às coisas: fruto, peixe, pombo, água  (os substantivos) – na língua deles, claro;  e a dar nome às qualidades: grande, pequeno, doce, amargo (os adjetivos); e a dar nome às ações: andar, subir, colher, comer (os verbos). Depois inventaram os conectivos, e formaram frases, e mais frases, e outras mais. E nunca mais pararam de tagarelar.

Sabe-se, todavia, que as comunidades primitivas eram nômades: esgotadas as fontes de alimento numa região, mudavam-se dali e formavam novas aldeias. Sabe-se também que o “crescei e multiplicai-vos” foi sempre levado muito a sério; e não é difícil deduzir que as famílias, multiplicando-se, acabavam se dispersando: um grupo ia para o norte, outro para o sul, e assim por diante. Não havendo meios de transporte e comunicação, as novas comunidades perdiam o contato umas com as outras.

Com isso, a suposta língua original (se é que houve uma só) foi aos poucos se transformando. Cada novo agrupamento criou novas palavras, alterou a pronúncia de outras, e de mudança em mudança o mundo chegou a ter, em determinado momento da história, algo em torno de 10 mil línguas. Hoje, segundo dados recentes, 2.796 línguas são ainda faladas na Terra (além de não se sabe quantos dialetos). As línguas dividem-se em 12 grandes famílias. O português pertence à família indo-europeia, juntamente com o francês, o espanhol, o italiano, o romeno, o alemão, o escandinavo, o inglês, o russo, e vários outros idiomas, entre os quais também o sânscrito, o grego e o latim. 

Entretanto, graças aos atuais recursos tecnológicos, as distâncias estão sendo anuladas, e a tendência é inverter-se a babel. Além disso, a própria dinâmica da vida moderna impõe a existência de uma língua universal. Houve tempo em que de certa forma esse papel foi cumprido pelo latim. Muitos ainda acreditam ser possível fazer do esperanto o idioma geral. Mas o que se percebe mesmo é o inglês  tomando conta do planeta. Dentro de mais uns 30 anos, gostemos ou não, todos os povos serão bilíngues: cada habitante de cada  lugarzinho da aldeia global usará sua língua nativa para falar com os íntimos… e a língua universal para conversar com o restante da humanidade…

Fonte: Portal do Rigon 04.07.2024 disponível em https://angelorigon.com.br/2024/07/04/no-principio-era-o-ai/. Acesso em 22.07.2024.