quinta-feira, 25 de julho de 2024

Vereda da Poesia = 66 =


Trova Humorística de Queluz/Portugal

AMÉRICO FERRER LOPES

Eva.. esse anjo encantador
que em pecados se desdobra,
fez do Adão um pecador
e diz... "A culpa é da cobra"!
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Poema de Porto União/SC

BENJÚNIOR 
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)

Grito de estrelas

"Um grito de estrelas vem do infinito
E um bando de luz repete o grito.
Todas as cores e outras mais
Procriam flores astrais.
O verme passeia na lua cheia"...

Hoje estou com vontade diferente
de ser outra gente
de outro bando e lugar.
Estou com vontade de andar
caminhar [vagar, voar,]
ser infinito
enquanto posso...
Quero libertar de
minhas janelas,
e conhecer a imensidão
dos amanhãs, que
são forjados
nas oficinas do tempo,
que ficam escondidas
em lugar nenhum.
Quero escapar,
dos caminhos que existem
dentro das coisas transparentes,
que refletem os cansaços
e as indecisões.
Quero viver a vida
em "slow motion"
no abrigo
dos corações invertidos,
pintados como trens
que de repente param
em nenhuma estação...
E assim,
como do fundo da música
brotam as notas
que, ora são lembranças,
ora esperanças,
emudeço o grito,
na pauta do silêncio
e da amargura...
E quando a noite vier,
cantarei alguma coisa
pra dormir,
no silêncio das paredes,
que refletem fantasmas
de minha alma...
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ 

MARILZA DE CASTRO

sonhar
no
mar
salga
ideia
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Soneto de Ilhavo/Portugal

DOMINGOS FREIRE CARDOSO

No dia da tua morte choveu

“No dia da tua morte choveu”
Como se este céu fosse o confidente
Das coisas que não contavas à gente
E soubesse o que o teu peito sofreu.

Com o desgosto o céu se escureceu
E a chorar fez questão de estar presente
Nessa hora em que te fizeste ausente
E essa pura amizade se fendeu.

A chuva molhou todo esse caminho
Por onde te levaram, com carinho
À última morada que terás.

Limpam-se as longas lágrimas terrenas
Que ao fim de tantas lutas, tantas penas
Tu, finalmente, vais viver em paz.
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Trova Premiada em Maringá/PR

JORGE FREGADOLLI
(Maringá/PR)

Feliz quem desde menino,
pela boa educação,
do trabalho faz um hino
e da vida uma canção!
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Poema de Santana do Livramento/RS

ADAIR DE FREITAS

“Meu canto tem cheiro de terra e pampa”

Meu canto não conhece desencanto
Vem peleando a tanto tempo
Mas não cansa de pelear
Hoje já se ouve a ressonância
Dessa voz de peão de estância
Conquistando seu lugar
Meu canto, se quiser eu te ofereço
Pois ninguém me bota preço
Quando não quero cantar
Meu canto, companheiro, não se iluda
É como um cavalo de muda
Que cansou de cabrestear

(Meu canto tem cheiro de terra e pampa
É um andejo que se acampa
Tendo o mundo por galpão
Grita pra que o mundo inteiro ouça
É raiz de muita força
Rebrotando deste chão)

Meu canto, não é mágoa, não é pranto
Nem passado, nem futuro,
Que o presente é mais verdade
Hoje o amanhã não me fascina
Tenho o ontem que me ensina
Mas não vivo de saudade
Canto nesta terra onde me planto
Mas não pise no meu poncho
Que eu empaco e me boleio
Canto pra pedir mais igualdade
Quem não gosta da verdade
Que se aparte do rodeio

(Meu canto tem cheiro de terra e pampa
É um andejo que se acampa
Tendo o mundo por galpão
Grita pra que o mundo inteiro ouça
É raiz de muita força
Rebrotando deste chão)

Canto, e minha voz quando levanto
Não traz ódio nem maldade
Coisas que não sei sentir
Não que seja mais que qualquer outro
Nem mais touro, nem mais potro,
Se disser eu vou mentir
Peço pra quem julga e dá conceito
Que esqueça o preconceito
E me aceite como sou
Manso como água de cacimba,
Mas palanque que não timbra
Porque o tempo enraizou

(Meu canto tem cheiro de terra e pampa
É um andejo que se acampa
Tendo o mundo por galpão
Grita pra que o mundo inteiro ouça
É raiz de muita força
Rebrotando neste chão)
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Trova Popular

Os olhos de meu benzinho
são joias que não se vendem,
são balas que me feriram,
são correntes que me prendem.
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Soneto de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Entardecer

Morre a tarde!... E, na dor do Sol poente,
há uma nesga de luz e nostalgia,
separando, de forma displicente,
os encantos e a dor do fim do dia!

Ante o drama sem volta e tão dolente,
ouço, ao longe, uma voz que me assedia;
é a de um sino que tange, lentamente,
os suspiros finais da Ave Maria!

Nesse instante, eu me sinto até covarde;
me envergonho, ante a dor do fim da tarde,
mas encaro de frente e olhos abertos…

E à distância, no olhar da eterna luz,
eu percebo dois braços numa cruz,
rodeados de luz entre os libertos!
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Trova de Belo Horizonte/MG

OLYMPIO DA CRUZ S. COUTINHO

O livro é qual luz do sol,
luz que a todos ilumina;
Na escuridão, um farol
que o claro caminho ensina.
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Poema de Maringá/PR

FLORISBELA MARGONAR DURANTE

Presente

Eu aceito você
como a ordem natural da vida;
como um rio imutável
cumpre o seu destino;
como a árvore fixa há séculos
vive o drama das pessoas,
mas continua impassível;
como a certeza de um dia
ensolarado ou chuvoso
pouco importa, pois
o dia é sempre presente,
e presente de Deus.
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Trova Humorística de Belo Horizonte/MG 

JOSÉ MACHADO BORGES

Do peixe, como eu dizia,
sem pretensão de iludi-los,
somente a fotografia
pesava mais de oito quilos!
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

J.G. DE ARAÚJO JORGE
(Jorge Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC 1914 – 1987 Rio de Janeiro/RJ

Exaltação Ao Amor 

 Sofro, bem sei...Mas se preciso for
sofrer mais, mal maior, extraordinário,
sofrerei tudo o quanto necessário
para a estrela alcançar...colher a flor...

Que seja imenso o sofrimento, e vário!
Que eu tenha que lutar com força e ardor!
Como um louco, talvez, ou um visionário
hei de alcançar o amor...com o meu Amor!

Nada me impedirá que seja meu,
se é fogo que em meu peito se acendeu,
e lavra, e cresce, e me consome o Ser...

Deus o pôs...Ninguém mais há de dispor...
Se esse amor não puder ser meu viver,
há de ser meu para eu morrer de Amor!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
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Glosa de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Sonhador e peregrino

MOTE:
Bem feliz vive o poeta,
peregrino e sonhador,
luzeiro que se completa
no sonho do trovador.
Vidal Idony Stocker 
Castro/PR, 1924 – 2014, Curitiba/PR

GLOSA:
Bem feliz vive o poeta,
pleno de amor e emoção,
pois sua musa secreta
mora no seu coração!

Segue em frente, noite e dia,
peregrino e sonhador,
na bagagem, a poesia
lhe dissipa qualquer dor!

Tem em sua alma de esteta 
um não sei que tão bonito,
luzeiro que se completa
como uma luz do infinito!

Segue assim, o seu caminho,
atapetado de amor,
colocando o seu carinho,
no sonho do trovador.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

BASTOS TIGRE
Recife/PE, 1882 – 1957,  Rio de Janeiro/RJ

Dos versos os mais diversos       
já fiz: muita gente os lê…        
Mas “poesia” há nos versos    
que eu fiz pensando em você.    
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Soneto de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

A cor da minha trísteza

A tristeza em meus suspiros tão frequente,
não lhe vês o ar de órfã desolada,
não entendes sua voz — brado silente,
não lhe dás nunca razão, nem cor, nem nada..,

E ela tem, nítida, a cor do riso ausente...
É triste andante de faces desbotadas,
tem a cor dos pés descalços, do inclemente
abrigo sujo ostentado nas calçadas.

Tem a cor do pranto, alheio, sofre o espinho
que a tantas flores impede de brotar.
Tem a cor da nulidade de um caminho

que — acaso existe? — ninguém logra alcançar:
a cor de um mundo de risos tão mesquinho,
tão farto em dor, que dá cor ao meu penar...
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 2007

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA 
(São Paulo/SP)

À mensagem não me rendo… 
Não abro… não quero ler… 
Para não ficar sabendo 
o que eu finjo não saber. 
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Poema de Maringá/PR

IVY MENON

O Poema

O Poema jorra pétalas brancas
Rosas brancas, pálidas de espanto
ao vento, asas arremessadas, livres
pelo ar.

O Poema surpreendente doçura
mistura mel e terra, fruta-do-conde
Laranja craveira, sorva gomo a gomo

O Poema brota morno, doido
aos borbotões as lágrimas de gozo
inundam as mãos, ávidas mãos.
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Triverso de Londrina/PR

DOMINGOS PELLEGRINI

Tantas vezes fiz
este mesmo trajeto,
nunca foi o mesmo.
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Setilha de São Simão/SP

THALMA TAVARES

No sertão, terra molhada
tem um cheiro promissor.
É esperança de fartura,
ao caboclo plantador...
Dá bom milho e bom café
que a gente colhe de pé
rendendo graça ao Senhor.
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Ramalhete de Trovas de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

"Café" da madrugada!

É noite, e a brisa do sono
sopra, mansa e sorrateira;
em seus braços me abandono,
enroscado, a noite inteira!

Antes do quebrar da barra,
ao canto do caboré,
sussurrando, ela me agarra,
dizendo: hora do café!

Despertando, reparei 
a "louça" já preparada
em nossa cama, e tomei
o "Café" da madrugada!
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Hino de Ouro Preto/MG

Em cada aresta de pedra
Uma epopeia ressoa
Na terra formosa e boa
Onde a grilheta não medra

A terra, que um cento de anos
Três vezes viu passar
Possui dos ouropretanos
Em cada peito um altar

A névoa que cobre a rocha
Do mais brando e puro véu
Quando a manhã desabrocha
É um beijo que vem do céu

Os fatos de Vila Rica
Lembram raças titãs
Cuja memória nos fica
Para os mais nobres afãs

Guarda o seio das montanhas
Os áureos filões mais ricos
Contempla os altos picos
Das laceradas entranhas

Protege, Deus, estes lares
Dos filhos dos bandeirantes
Por estas serras gigantes
São outros tantos altares
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Ouro Preto: Uma Epopeia de Pedra e História
O 'Hino do Município de Ouro Preto' é uma celebração poética e histórica da cidade mineira, conhecida por sua rica herança cultural e importância no período colonial brasileiro. A letra da música exalta a beleza natural e a grandiosidade histórica de Ouro Preto, destacando a resistência e a bravura de seus habitantes ao longo dos séculos. Cada 'aresta de pedra' mencionada na canção simboliza as inúmeras histórias e lutas que ressoam na cidade, um lugar onde a 'grilheta não medra', ou seja, onde a opressão não prospera.

A canção também faz referência ao espírito dos ouropretanos, que carregam em seus corações um altar de devoção à sua terra natal. A névoa que cobre as rochas ao amanhecer é descrita como um 'beijo que vem do céu', uma metáfora que sugere a bênção divina sobre a cidade. A letra remete aos tempos de Vila Rica, antigo nome de Ouro Preto, e às 'raças titãs' que construíram sua história, preservando suas memórias para inspirar futuras gerações.

Além disso, o hino destaca a riqueza natural da região, com seus 'áureos filões mais ricos' escondidos nas montanhas. A letra pede a proteção divina para os lares dos descendentes dos bandeirantes, os desbravadores que exploraram o interior do Brasil. As 'serras gigantes' são vistas como altares, reforçando a ideia de que a natureza e a história de Ouro Preto são sagradas e dignas de reverência. O hino, portanto, é uma ode à resistência, à beleza natural e à herança cultural de Ouro Preto, celebrando sua importância no cenário histórico e cultural do Brasil. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/1789134/ 
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Poetrix de Recife/PE

ANTONIO CARLOS MENEZES

Melancolia

à beira do rio
sou pássaro que canta
em lugares sombrios.
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Poema de Maringá/PR

AGENIR LEONARDO VICTOR

Corais de vozes

Vozes, inspiração, talentos.
Gingados, gestos e danças.
Tudo faz parte dos coralistas.
Cada música é uma apresentação
De riquezas e notas musicais.
Sons se misturam e são levados
Ao ar com intensa emoção.
A expressão singela dos ouvintes
Diz tudo e tudo mesmo…
Como é bom ouvir aos ventos
Canções que expressam sentimentos
Elevam nossa alma
Educam nosso jeito de ser.
É uma fonte musical que ajuda
E soma à nossa cultura.
Entre acenos e aplausos, mas…
Sufocados pelas mãos mágicas do maestro
Corais entoam
E encantam com suas belas canções.
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Trova de de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Feliz o povo que pensa
e que se expressa à vontade.
Onde amordaçam a imprensa
morre à míngua a liberdade.
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Conto em Versos do Rio de Janeiro/RJ

ARTHUR DE AZEVEDO
São Luís/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Escola dos velhos

O Próspero Pimenta
Passava dos cinquenta,
Quando encontrou na vida
A mulher longamente apetecida
Entre sonhos, visagens e quimeras.
Ela contava apenas
Dezoito primaveras,
E era a mais deliciosa das morenas.

Ele encontrou-a, por acaso, um dia
Em que um novo dilúvio parecia
Desabar sobre a terra, e atencioso,
Ofereceu-lhe o braço e o guarda-chuva,
Que é, quando chove, rufião precioso.
Levou-a para casa. A sua vida
Ela contou-lhe muito comovida:
Tinha sido casada, era viúva.
Já viúva? É verdade!
Andava o dia inteiro na cidade,
Procurando um emprego...
Um destino... um aconchego...
O Próspero Pimenta era solteiro;

Tinha muito dinheiro
E um palacete mobilado tinha;
Por isso, a viuvinha
Ali ficou de casa e pucarinha.

Ele amou-a deveras;
Não era um homem gasto,
Um coração cansado que repasto
Outrora fosse de paixões violentas;
Ele podia ainda
Perpetuar a raça dos Pimentas,
Levar longe o seu nome;
Mas aquela menina ingênua e linda,
Se a imperiosa fome
De um exigente amor satisfazia;
Estranha sensação lhe produzia;
Ele ficava contrafeito quando,
Os seus lábios de púrpura beijando,
O doce mel do amor neles sorvia;
E pensava: — Estou velho, e certamente
Só me tolera porque sou, não rico,
Mas solícito, bom, condescendente;
Sinto que a sacrifico,
A consciência diz-me que a deturpo,
E o lugar de outro, menos velho, usurpo. 

Ora, um dia, o Pimenta
Foi avisado de que a sua amante,
De amor faminta e de prazer sedenta,
Tinha um amante que não era ele,
E pilhou-a em flagrante,
Furioso — meu Deus! Que dia aquele! —
Ia fazer escândalo e alvoroço,
Quando caiu em si, vendo que o moço
Com quem ela o enganava,
Nem trinta anos contava
E era um rapaz bonito;
Não lhe faltava nem um requisito
Para ser dela amado
— Afinal, tens razão, disse o coitado,
Quem não a tem é o meu amor absurdo,
Que me fez cego e surdo.
Amai-vos, pois, meus filhos,
Amai-vos à vontade!
Eu não ponho empecilhos
À vossa felicidade! —

E fez mais o Pimenta:
Dotou a viuvinha com quarenta
Contos de réis, e o belo moço amado
(Grande pulha!) com ela está casado.

Nasceu-lhes um filhinho,
E o Pimenta foi logo convidado
Para ser o padrinho.

(convertido para o Português atual por José Feldman)

Recordando Velhas Canções (O menino da porteira)


Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo
Toque o berrante, seu moço, que é pra eu ficar ouvindo

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando
Eu jogava uma moeda e ele saía pulando
Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando
Pra aquele sertão afora meu berrante ia tocando

No caminho desta vida muito espinho eu encontrei
Mas nenhum calou mais fundo do que isto que eu passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada, o menino não avistei

Apeei do meu cavalo num ranchinho beira-chão
Vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão
Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
Quando passo na porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem

A cruzinha do estradão do pensamento não sai
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais
Nem que o meu gado estoure, que eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão berrante eu não toco mais
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A Saudade e o Sertão: A História Contada por 'O Menino da Porteira'
A música 'O Menino da Porteira', interpretada por Sérgio Reis, é um clássico da música sertaneja brasileira que narra a história de um encontro entre um boiadeiro e um menino que vivia na estrada de Ouro Fino. A letra, carregada de emoção e simplicidade, reflete a vida rural e as relações humanas em um contexto de viagens e trabalho no campo. A figura do menino, que se alegra ao ouvir o som do berrante e corre para abrir a porteira, simboliza a inocência e a alegria simples encontradas nas pequenas ações do cotidiano rural.

A narrativa da canção toma um rumo trágico quando, na volta do boiadeiro, a porteira está fechada e o menino já não está mais lá para recebê-lo. A descoberta da morte do menino, causada por um 'boi sem coração', traz uma reviravolta emocional à história, transformando a memória do menino em uma lembrança dolorosa que assombra o boiadeiro. A cruz no estradão serve como um marcador físico e emocional da perda, e o lamento do boiadeiro se mistura com o rangido triste da porteira, que agora carrega o peso da ausência e da saudade.

A música se encerra com a promessa do boiadeiro de nunca mais tocar o berrante naquele pedaço de chão, em respeito à memória do menino. Essa decisão simboliza um juramento de honra e um tributo à vida que foi perdida. 'O Menino da Porteira' é uma canção que fala sobre a dureza da vida sertaneja, mas também sobre a humanidade e os laços afetivos que se formam mesmo nas circunstâncias mais simples. Sérgio Reis, com sua voz marcante e interpretação genuína, conseguiu eternizar essa história em forma de música, tocando o coração de muitos ouvintes com a narrativa desse encontro entre o boiadeiro e o menino da porteira.

Um dos maiores compositores da música caipira, Teddy Vieira teria em "O Menino da Porteira" o seu primeiro grande sucesso. Cantada em como manda a tradição do gênero, a composição foi gravada pelo por Luizinho (Luís Raimundo) em dupla com Limeira (Ivo Raimundo), acompanhados por viola caipira de cinco cordas dobradas, violão e o som de um berrante de chifre de boi.

A letra conta a história de um boiadeiro que sempre presenteava com uma moeda um menino que lhe abria a porteira para dar passagem ao gado e sempre queria ouvir o berrante. Tempos depois o menino é morto por um boi e o boiadeiro nunca mais volta a tocar o berrante.

Em 1973, "O Menino da Porteira" ressurgiu em gravações de Tião e Pardinho e do ex-cantor da Jovem Guarda Sérgio Reis. O sucesso foi tão grande que Sérgio decidiu utilizar o poema como enredo de um solidificou sua carreira de cantor sertanejo.

Fontes:
https://www.letras.mus.br/sergio-reis/68480/
https://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/o-menino-da-porteira.html

quarta-feira, 24 de julho de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 34

 

Mensagem na Garrafa = 126 =

IVO LIMA
São Paulo/SP

O que fazer com a saudade?

A saudade sempre estará presente em nossa vida. por mais que queiramos, nunca vamos afastá-la completamente de dentro de nós.

Sentimos saudade de um ente querido que já partiu dessa vida para outra dimensão; temos saudade do amigos (as) de infância; sentimos saudade de um lugar que era especial para nós; guardamos uma eterna lembrança de alguma coisa que nos marcou profundamente; temos saudade de um amor que foi eterno enquanto durou.

A saudade passeia pelas entranhas de nosso ser e mistura aos nossos sentimentos mais profundos.

A saudade nos faz sonhar acordados e ver na tela do tempo para além da imaginação e acima das aparências.

A saudade faz renascer dentro de nós imagens que nem o tempo, nem o vento e nem a distância conseguem apagar.

A saudade não respeita barreiras, tem a velocidade da luz e a sensação da eternidade.

Por causa da saudade muitas vezes choramos, outras vezes rimos de nós mesmos e também temos a sensação de que, muitas vezes, éramos felizes e não sabíamos.

Se pudéssemos arrancaríamos de nosso coração a saudade que carregamos de certas coisas e pessoas, porque assim não povoaríamos nossa mente com lembranças que só nós fazem sofrer na contramão do tempo.

Quando a saudade bate forte nos atira pelo alto, nos lança no palco do passado e perdemos o controle de nossa própria imaginação; e quando menos esperamos, damos de cara com lembranças que nos tomam de surpresa como o furor de um vendaval no descampado da vida.

A saudade também traz recordação de momentos felizes que passamos, e ai ela nos joga nos braços do contentamento outra vez e sentimos o que vivemos no passado vale a pena. de outra parte, se nós não sentíssemos saudade, nosso passado seria como um livro de páginas arrancadas; nada seria acrescentado das experiências vividas em nosso presente e nem poderíamos usá-las como suporte para ajudar nossas buscas na rota do futuro.

Já que não é possível deixar de sentir saudade, precisamos transformar a saudade que sentimos em motivação para superar os obstáculos que a vida nos coloca no caminho.

Que saudade não seja uma sina maldita, com o qual temos que conviver para o resto da vida, nas que saibamos transformá-la em dádivas para escrevermos no diário de nossa história muitas lições na arte de viver e ser gente.

Que o lado negativo de nossas lembranças não pesem mais na balança de nossos sentimentos.

A saudade é será sempre nossa eterna companheira de viagem. vida e saudade caminham lado a lado. é impossível dissociá-la.

Se não existisse saudade, que gosto a vida teria? a saudade abre lacunas que precisam ser preenchidas com vibrações de esperança, dose de otimismo e com o orvalho da serenidade.