sábado, 10 de agosto de 2024

Recordando Velhas Canções (Gasparzinho)


Compositor: Renato Correa

Gasparzinho, fantasminha camarada
Que só quer com as pessoas conversar
Mas coitado do Gaspar só dá mancada
Quando aparece todos correm a gritar

Noutro dia, passeando na cidade
Gasparzinho numa festa entrou
Mas quando viram nosso alegre amiguinho
Todos correram e a festa se acabou.

Então o pobre do Gaspar que é tão bonzinho
Ficou sozinho, tão tristonho a chorar
Embora seja um fantasminha camarada
Não consegue perto de ninguém chegar. }bis
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 

Gasparzinho: O Fantasminha Incompreendido do Trio Esperança
A música 'Gasparzinho' do Trio Esperança narra a história de um fantasma amigável que enfrenta dificuldades em se relacionar com as pessoas devido ao medo que sua aparência provoca. Gasparzinho, o fantasminha camarada, deseja apenas conversar e fazer amigos, mas sua presença assusta todos ao seu redor, levando-os a fugir e deixando-o solitário. A letra destaca a ironia de sua situação: apesar de ser bondoso e inofensivo, ele é constantemente rejeitado e mal compreendido.

A canção utiliza a figura do fantasma, um ser tradicionalmente associado ao medo e ao sobrenatural, para explorar temas de solidão e exclusão social. Gasparzinho é um personagem que, apesar de suas boas intenções, não consegue se integrar à sociedade devido a preconceitos e estereótipos. A festa mencionada na letra simboliza um espaço de socialização e alegria, mas a chegada de Gasparzinho transforma o ambiente em um cenário de pânico e dispersão, evidenciando a dificuldade que ele enfrenta em ser aceito.

O Trio Esperança, conhecido por suas harmonias vocais e letras que muitas vezes abordam temas lúdicos e infantis, utiliza essa narrativa para transmitir uma mensagem sobre aceitação e empatia. A tristeza de Gasparzinho ao final da música reflete a dor da rejeição e a necessidade de compreensão mútua. A música, embora simples, carrega uma profundidade emocional que ressoa com qualquer pessoa que já se sentiu excluída ou incompreendida.

Aparecido Raimundo de Souza (Capela Mortuária)

OLÁ, POR GENTILEZA, com todo respeito, deixem-me apresentar a todos vocês. Pelo amor de Deus, não se assustem. Venho em paz! Não tenho nome de batismo, nem certidão de nascimento. Sou conhecida por todos como Capela Mortuária. No meu caso, uma Capela Mortuária de um cemitério de periferia. Vivo incrustada aqui nesse bairro pobre e humilde, cercada de pessoas boas e gentis que sabem o valor da vida e me aceitam como se eu fosse um ser de carne e osso que algum dia ajudará na preparação da última viagem para algum lugar que não sei exatamente onde é ou para que lado fica. Acredito, para alguns, eu seja uma figura esquisita, chata, pegajosa, rabugenta e inconstante. Para outros, obviamente eu represento a paz da serenidade e o atalho para o encontro com as almas que já desencarnaram e hoje descansam nos afagos do Poderoso 

Quero que compreendam, apesar da minha aparência, muito me alegro (sim, isso mesmo, muito me alegro) com a tristeza e a desgraça das pessoas. Como assim, “me alegro”? Tal coisa é possível?! Eu explico: vamos ver a Capela como um todo, indistintamente. Vou me descrever e situar entre as pessoas que orbitam ao meu redor. A Capela Mortuária é um local solitário, triste e impregnado de lágrimas e lembranças daqueles “mais chegados” que vieram dar o último adeus à uma personalidade querida que o Pai Maior chamou para morar junto com Ele lá no distante intransponível. Em face desse particular, eu me regozijo porque é nessas horas que as pessoas (as mais soberbas e de narizes em pé) se lembram que o outro lado sombrio e misterioso existe. Ninguém aparece por aqui para me dar bom dia. Ninguém sequer vislumbra que eu passo os dias dentro de um cemitério. 

Sei que a morte é uma perda dolorida e irreparável. Um elo que as pessoas não gostariam jamais de ver se romper e sentir essa contristação se estraçalhando na própria pele. Ainda mais quando o que vai viajar é um personagem querido e admirado por todos, com uma legião imensa de amigos e admiradores. Todavia, não fosse a minha presença (ainda que para alguns “macabra”), acredito que ninguém daria as caras só para ver se eu ainda estou no mesmo lugar. Me alegro, pois, porque quando sei que vai acontecer um velório, eu me regozijo. Nessa hora, vejo gente de toda espécie. Percebo a algazarra das crianças correndo, gritando, festejando a alegria da vida plena, e isso me tira do chão, aviva o meu “eu” interior. Me perdoem por dizer certas coisas, porém, se eu não existisse, se não houvesse uma Capela Mortuária, parem e reflitam, meus amigos e amigas, não seria realizado aquele rito fúnebre, menos ainda o derradeiro tchau ao defunto. 

Ele ficaria sem significado algum em exposição solitária, ou, no pior dos mundos, simplesmente não se alegraria em rever, pela última vez, as pessoas que faziam parte do seu dia a dia. Vamos aproveitar o ensejo e entender o meu significado pelo outro lado da moeda. É aqui nas minhas dependências que as pessoas (ainda que magoadas) se respeitam, trocam olhares amedrontados e, no fim, diante do inevitável, se abraçam, se beijam, trocam palavras carinhosas e, às vezes, até se perdoam. Aqui é onde todos prestam reverência, conforto, solidariedade, tudo num pacote destinado a proporcionar um elo de contemplação em harmonia diante da austeridade do adeus de uma pessoa querida. Em muitas culturas, eu desempenho um papel crucial no centro geográfico do luto, oferecendo um ambiente onde a comunidade pode se reunir para prestar suas últimas homenagens e refletir sobre a vida que o “de cujus” viveu enquanto se fazia entre nós. 

Esses espaços, meus prezados, são projetados para acolher os enlutados com dignidade e serenidade. A minha arquitetura, se pararem para observar com mais acuidade, é frequentemente caracterizada por sua simplicidade e elegância, buscando criar uma atmosfera de ataraxia (tranquilidade) que facilite a introspecção e o consolo. A iluminação é suave e o uso de cores neutras ajuda a transmitir uma vibração de leveza, enquanto os elementos decorativos, como flores e símbolos religiosos, adicionam um toque de deferência e veneração à lembrança daquele que embarcará na viagem sem volta. Além da sua função estética e funcional, eu, Capela Mortuária, me vejo como uma reclusão momentânea de profundo simbolismo. Sou, sem dúvida alguma, o ponto de encontro onde se materializa a aquiescência coletiva e se compartilham memórias, onde amigos e familiares podem se unir em um ato de solidariedade e empatia. 

É um recinto como qualquer outro, onde os envolvidos comem, bebem, contam piadas, vigiam atentamente a viúva, ou as filhas adolescentes, falam de aconchegos, e o silêncio reverente permite que os sentimentos da perda sejam expressos de todas as formas conhecidas. Cada irmã minha espalhada mundo afora pode refletir (e de fato reflete) a diversidade cultural e religiosa da comunidade em que se encontra. Em algumas tradições, minha clausura é adornada com ícones e imagens específicas, enquanto em outras, a simplicidade bucólica e a ausência de símbolos são preferidas para permitir uma abordagem mais universal do luto. Esses detalhes, embora variados, têm o objetivo comum, sempre, de honrar a memória do extinto e proporcionar, sobretudo, um ambiente neutro que solidifique o assédio irreversível de despedida. O meu papel, como Capela Mortuária, vai além de um simples local físico. 

Por fim, considero esse refúgio como um ninho acolhedor único, agradável e sofisticado, que ajuda a transformar o que se chama de “luto pesado” em uma experiência compartilhada e significativa. Aqui, nas minhas entranhas, os rituais de despedida são executados com o cuidado de preservar a dignidade do “de cujus” e apoiar os enlutados em sua jornada para a aceitação e a cura da alma frangalhada. Em resumo, eu, a Capela Mortuária, me vejo e me sinto como um teto alvissareiro de amplidão profunda e, logicamente, de importância emocional e cultural. Não sou apenas um lugar comum onde se realizam cerimônias funestas. Em absoluto. Me vejo acima das aparências, como um habitat que proporciona a reflexão para acalentar instantes inesquecíveis e de elevada melancolia. Ao oferecer este mimo de serenidade e comunhão, eu me engrandeço – acreditem – e me sinto alegre e realizada. Por mais que falem de mim, tenho a consciência objetiva de que desempenho um papel crucial na celebração da vida e na facilitação do trajeto envolvido no embarque do seu parente amado para os confins do Além-túmulo. Em vista de tudo o que eu disse, por favor, não me desprezem. Sou, a luz da verdade, uma espécie de mal necessário.

Fonte: Texto enviado pelo autor 

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Daniel Maurício (Poética) 73

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Admiração ou deboche)

Sempre gostei de ler. Desde criança lia tudo o que me caía sob os olhos. Concluído o grupo escolar, antes de ir para o seminário, trabalhei dois meses no Bazar Temer. No meio da infinidade de artigos à venda, descobri alguns livros de aventuras, que assanharam a minha curiosidade. Mais de uma vez o bom Temer, pai da nossa pediatra Elen Nemer, teve a paciência de me explicar que ali eu era funcionário para atender clientes, não leitor de obras de uma biblioteca. Naquela época ninguém fazia restrição ao criterioso emprego de crianças. Era pedagógica forma de inculcar o valor do trabalho, sem o qual nenhuma grandeza, inclusive financeira, se constrói. Na entrada da imponente sede do seu banco, na Cidade de Deus, bairro de Osasco (SP), o lendário Amador Aguiar, fundador do Bradesco, fez erguer a estátua de um burro de carga, sob a qual mandou escrever: “Só o trabalho produz riqueza”. Pena que hoje muitos desejem que a riqueza lhes caia do céu no colo. De preferência, sem que façam esforço algum.

Criado no meio do cafezal, na antiga Alta Araraquarense do interior paulista, era inevitável que eu sofresse com a chegada das ferramentas de conhecimento e comunicação deste mercante universo de hoje. As pessoas da minha idade o progresso atropelou sem pedir licença nem dar chance de adaptação. Não adianta; continuo fiel ao livro impresso. Sendo bom, a espessura dele não me assusta. Agora mesmo, estou lendo um de 633 páginas. Nem cheguei ao meio. Ir até o fim vai me custar um tempão, mas será uma alegria.

Da fartura de ferramentas e aplicativos que nossa garotada comanda brincando consegui aprender dois ou três nomes. Blog e Facebook, por exemplo. Mas não tenho nenhum. Não adianta. Logo aparecerão outros. Não dou conta de acompanhar. Se não me entendo com os existentes, imagine com novos! Li não sei onde que o Twitter é preferido pelos jovens; o LinkedIn, pelos mais velhos, e o Facebook, por ambos. Mas redes sociais aparecem e somem como bolhas de sabão. O Orkut ainda existe? E para que servem Instagram, Flickr, MySpace, iTunes, Tumblr, Badoo… e sei lá quantos palavrões esquisitos?

Amigos generosos postam textos meus em seus blogs. Sinto-me envaidecido. Blog é um espaço curioso: pertence a todos e não pertence a ninguém. Cada um pode meter lá a sua colher, desde que o dono do blog concorde. Alguns, sob a capa do anonimato ou do pseudônimo, desancam adversários reais ou imaginários. Já passei por isso. É o risco de quem se dispõe a dizer o que pensa.

Sobre a minha crônica da semana passada, este blog estampou um comentário emitido por alguém que me deve dedicar especial consideração. Bem maior, com certeza, da que eu mereço. A respeito de pessoas que se beneficiam do meu serviço de padre, informou-me ele: “São as mesmas que debocham de seus comentários que remetem à sua infância e origem pobre”. Não duvido. Admito que ele esteja falando do que teve ocasião de comprovar.

Ligue não, amigo. Não vale a pena. Quando me tornei padre, eu sabia que ia colher, vida afora, mais deboche que admiração. Ao completar 47 anos de ministério – justamente hoje; coincidência, não? – já tenho o couro curtido. Aplauso ou zombaria, pouco importa. Uma pancada a mais ou a menos não vai fazer diferença.

O texto literário em Preto e Branco ("Redenção”, de Carolina Ramos)

Conto publicado em 29 de março  de 2024 neste blog, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2024/03/carolina-ramos-redencao.html

A história de Carolina Ramos, inspirada na águia, é um poderoso miniconto sobre transformação e renovação.

TEMAS PRINCIPAIS

Transformação Pessoal: A comparação entre a águia e a protagonista simboliza a luta interna por liberdade e autoconhecimento.

Coragem e Decisão: A escolha da águia de enfrentar seus desafios representa a coragem necessária para romper com situações limitantes.

Autoaceitação: O processo de desprender-se do passado e das limitações é uma jornada de aceitação e valorização do eu.

ESTRUTURA NARRATIVA

Introdução: A descoberta do artigo na sala de espera serve como um catalisador para a mudança da protagonista. A palavra "Curiosidade" instiga a reflexão.

Desenvolvimento: A descrição da águia e seu processo de renovação é uma metáfora poderosa para as dificuldades que todos enfrentamos. A dor e o sacrifício são essenciais para o crescimento.

Clímax: O momento de decisão, onde a protagonista decide se libertar, é o ponto alto da narrativa. A conexão entre a águia e sua jornada pessoal se torna mais intensa.

Conclusão: O voo da águia simboliza a libertação e a nova vida que a protagonista abraça, deixando para trás as limitações que a prenderam.

PROFUNDIDADE DOS PERSONAGENS

Protagonista (Carolina)
História Pessoal: Poderíamos incluir flashbacks que revelem momentos específicos que a levaram a se sentir "engaiolada", como experiências passadas de decepção ou pressão social.

Sentimentos e Dúvidas: Ao longo da narrativa, suas inseguranças podem ser enfatizadas, mostrando sua luta interna antes de decidir se libertar.

A Águia
Simbolismo: A águia não é apenas um símbolo de força; sua jornada também representa a resistência e a necessidade de transformação que todos enfrentamos em algum momento da vida.

Conexão Emocional: A relação entre a águia e Carolina poderia ser aprofundada, talvez com Carolina se identificando com a ave em momentos de fraqueza.

TEMAS ADICIONAIS

Renovação e Ciclos: A ideia de que, assim como a águia, todos nós passamos por ciclos de renovação. .

Força Coletiva: A jornada de Carolina pode ser ligada a outras personagens femininas que também enfrentam desafios, mostrando como a solidariedade e a troca de histórias podem fortalecer a luta individual.

Liberdade vs. Segurança: A tensão entre buscar liberdade e o medo do desconhecido. O texto mostra que muitas pessoas sentem ao considerar mudanças significativas em suas vidas.

Reflexão Final
A história de "Redenção" é uma jornada de autodescoberta e superação. Ao abordar temas universais de luta e renascimento, ela ressoa com muitos leitores, oferecendo esperança e inspiração.

Fonte: Análise por José Feldman. Open IA .

Vereda da Poesia = 79 =


Trova de Paracuru/CE

ABIGAIL SAMPAIO

Quando tu falas comigo,
a tua fala me encanta,
creio que tens, meu amigo,
um rouxinol na garganta.
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Poema de Cachoeira do Sul/RS

JAQUELINE MACHADO

Vida de festa

Sou como sou. 
E minha essência nunca esteve tanto em evidência.
Olhem fundo em meus olhos. 
E encontrem a chave da porta de minha alma.
Absorvam meu sorriso. 
E adentrem sem fazer cerimônias à minha vida de festa. 
Venham ao encontro do meu abraço. 
E todos os espaços do mundo serão seus, 
já que sou feita de infinito...
A todos que me amam, sou assim...
Transparência, solo fértil a florir...
Um ventre a criar e recriar os mundos mais belos.
Para livrá-los da feiura da maldade. 
Sou entusiasta da vida!
E amo essa coisa bonita, chamada existir...
Existir para dentro. E para fora de mim. 
Existir para os que querem o meu bem. 
E fazem de tudo para me fazer feliz!
 = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

FLORESTAN JAPIASSÚ MAIA 
(1915 - 2006)

Perdeu voto o candidato
 no churrasco lá no morro,
 porque o espetinho de gato
 tava duro pra cachorro!
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Soneto de Pilar/PB

ANTONIO COSTTA
Antonio da Costa Silva

A falsidade deste mundo

Neste mundo é tamanha a falsidade
Que a verdade, de repente, ocultou-se;
A mentira transformou-se em verdade,
E a verdade, em mentira, transformou-se!

Porventura alguém sabe onde a verdade
Neste mundo hodierno extraviou-se?
Em que parte do planeta a bondade
Inda não, em maldade, adulterou-se?

Oh Senhor, nos livrai da falsidade!
Que opera neste mundo de maldade,
Da forma mais sutil e traiçoeira!...

Pois no mundo a falsidade não expira,
A verdade é transformada em mentira,
E a mentira - em verdade verdadeira!
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Trova Premiada em Taubaté/SP, 2015

JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Não se sinta superior
por suas duras vitórias…
Quem lhe parece inferior
já teve dias de glórias.
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

A sede dos rios... minha vida...

O que seriam estas serpentes
em permanente carrear de viço,
em serviço de manter a vida?

E seriam estes serpenteares,
por lugares ermos e diferentes,
gestos lentos de despedidas?

Pelo avesso desse finito mundo
presos à incúria do granito,
no fundo da boca espumamos
o gosto de mercúrio e chumbo.

O que seriam estas sementes
em permanente mudar de rebuliço,
genes doentes, eternos movediços?

E seriam estes plantares,
esgares enfermos e impotentes,
infernos bentos em seus feitiços?

Pelo terço da bendita mantra
rimos, salivamos e latimos
como o grito que espanta,
como o abortar dos destinos.
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Trova Popular

Se eu fosse um retratista
tirava um retrato teu,
para mim pôr no meu quarto
para ser consolo meu.
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Dobradinha Poética de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Lar... Doce lar…

Volto à casa, que "era minha",
risco a calçada e, feliz,
vou pular amarelinha
mas, o pranto apaga o giz!

Hoje, saudosa, eu volto ao lar antigo
e escancarando a porta semiaberta,
procuro em vão... vasculho o doce abrigo...
Nem pai... nem mãe... a casa está deserta!

E volto ao lar, que dividi contigo...
- Vaivém dos filhos, pela porta aberta...
- Visita alegre de um ou de outro amigo...
E, hoje, é a saudade que o meu peito aperta.

Mas, por deixar pegadas nos caminhos,
não fiquei só!... Cercada de carinhos,
eu sou feliz!... Se volta o sonho louco

do teu amor, acalmo o coração
pois, ao sentir que chega a solidão,
no amor dos filhos eu te encontro um pouco.
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

De você, nunca desligo,
amigos têm esse dom
de construir seu abrigo
em cada amigo que é bom, 
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Poema da Itália

LALLA ROMANO
Demonte, 1906 - 2001, Milão

Jovem é o tempo

Estreito e claro era o rio
tornou-se enorme e foge
como um animal ferido

Até o ar está morto
o céu é como uma pedra

Os pássaros não sabem mais voar
atiram-se como cegos
dos beirais dos tetos

O amado odor do corpo

O sono das manhãs
me encadeia os joelhos
me cinge a fronte
com suas vendas de seda

Então sem que eu te chame
penetras nos meus sonhos
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Trova Hispânica de Santo Domingo/ Republica Dominicana

CLAUDIO GARIBALDY MARTÍNEZ 

Todo fiel Entendimiento
llega de Dios con amor,
él nos dá discernimiento
para abolir el dolor.
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Soneto de Brasília/DF

EDIR PINA DE BARROS

Canto! E canto a dor

Canto! E no meu canto eu louvo a dor
que assim nos deixa humildes, mais humanos,
que nos lapida em meio a desenganos
bem mais do se pode ver, supor.

E as lágrimas que escorrem sem pudor
na proporção das perdas e dos danos,
a desvelar fraqueza em espartanos,
com bela rutilância furta-cor.

A dor é a força oculta da alegria,
que vence toda empáfia, galhardia,
e iguala-nos em nossas diferenças.

Oh! Dor! Eu sempre, sempre hei de louvar-te
aqui, ali, além, em toda parte
até que um dia a mim, também, me venças.
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Dentre tudo que é vivido
na curva da trajetória,
encontra-se o amor perdido
bem guardado.,, na memória.
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Spina de Berilo/MG

NINA MARIZA

Sou escritor

Escrevo na linha
do seu coração; 
Escrevo o Amor.

Acalento a minha, sua dor!...
Escrevo nas páginas da vida.
Sou, de almas, um pescador.
Sinto a Poesia... a Natureza.
Sou amor, vida; Sou Escritor.
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Trova de Maringá/PR

NILSA ALVES DE MELO

Por trás desta foto linda,
cheia de risos, de encanto,
esconde a saudade infinda
que, muitas vezes, espanto.
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Soneto de Vitória da Conquista/BA

RICARDO DE BENEDICTIS

Desejos

Fico pensando na idade
e temo a senilidade...
Também cismo com a saúde
cada vez mais amiúde...

A ilusão de viver
sem cair e sem perder...
Na tomada de atitude
que, de repente, me mude...

Quem sabe, assim, suportasse
o desamor e chorasse,
pois que chorar nunca pude...

Quem sabe, neste momento
mitigasse o sofrimento
da esperança que me ilude...
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Trova Premiada  em Nova Friburgo/RJ, 2001

DARLY O. BARROS 
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Meu perdão foi um tributo
A uma lágrima suspensa:
- um detalhe diminuto
Mas, que fez a diferença…
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Soneto de Campos dos Goytacazes/RJ

DIAMANTINO FERREIRA

Uma dádiva de amor

Passei a minha vida, entre percalços,
tão só pela desdita de haver-te amado.
Corri o mundo afora, transtornado,
buscando outros amores; porém, falsos!

Decênios já passaram;  mas, em vão,
ninguém  achei ou que lembrasse a imagem,
em que ao menos sentisse uma passagem,
da que nunca saiu do coração!

E se nós, um de nós, talvez errados,
a culpa dos molestos já passados
já não nos cabe, agora, pesquisar.

A minha dor, no entanto, apenas quero
e no seu fundo, amor!  Eu te assevero:
eu vou morrer, te amando sem cessar!...
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Trova de Ibiporã/PR

MAURÍCIO LEONARDO

O amor chega de mansinho
como quem está brincando…
Mostra a flor, esconde o espinho,
e acaba nos machucando!
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Pantun de São José dos Campos/SP

MIFORI
(Maria Inês Fontes Rico)

Esta atual geração
mostra certa negligência.
Apinhada em atuação
desafiando a ciência.
MIFORI

Mostra certa negligência
em toda a sua postura,
desafiando a ciência,
a juventude imatura.

Em toda a sua postura,
leva um emblema no peito;
a juventude imatura
se veste de qualquer jeito.

Leva um emblema no peito,
atira-se nua ao mar,
se veste de qualquer jeito,
põe-se logo a navegar.

Atira-se nua ao mar,
com muita satisfação.
Põe-se logo a navegar,
esta atual geração.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Há vidas que se parecem
com as roseiras viçosas:
quando podadas, mais crescem
e mais se cobrem de rosas!
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Hino de Altônia/PR

Quadro vivo a clareira da mata
Inefável Altônia a sorrir
Na moldura bordada de prata
Pelos rios Paraná e Piquiri.
Miniatura do pátrio torrão
Tens as cores da augusta bandeira
No verdor dos cereais, do algodão,
No azul das lagoas faceiras

Cidade onde o trabalho
É um cântico de fé.
Surgiste dentre os ares
Festivos do café.
Fronteiras da amizade
Inscrevem no teu chão,
Toda a fraternidade
De um nobre coração.
Altônia a tua história
De luta varonil
Será um clarim de glória
Vibrando noBbrasil.

Há uma linda e profunda mensagem
De fartura, de paz e união.
Astro bom que anuncia a vitória
O teu nome amanhã fulgirá,
Fascinante e triunfal trajetória
Deste grande e feliz Paraná

Cidade onde o trabalho
É um cântico de fé.
Surgiste dentre os ares
Festivos do café.
Fronteiras da amizade
Inscrevem no teu chão,
Toda a fraternidade
De um nobre coração.
Altônia a tua história
De luta varonil
Será um clarim de glória
Vibrando no Brasil.
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Trova Humorística de Bandeirantes/PR

WANDA ROSSI DE CARVALHO

Ao não ouvir o “gritinho”
pela querência encontrada,
fez pirraça o “São Longuinho”
e nunca mais achou nada.
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Poema de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS 
(Antônio Augusto de Assis)

Poêmica III

Tinha o céu e tinha a terra,
tinha o sol e tinha a lua,
tinha as estrelas,
milhares.

Tinha os lagos e as lagoas,
tinha os rios e os riachos,
e os verdes bravios
mares.

Tinha as serras e as colinas,
tinha as selvas e as campinas,
tinha os jardins e os
pomares.

Bichos nas matas correndo,
peixes nas águas brincando,
cantando as aves
nos ares,

e tudo era muito bom.

Deu-se porém que
criados
o homem mais a mulher,
criaram logo o machado,
a foice, o fogo e o veneno,

e pôs-se tudo a perder.
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Trova de Maringá/PR

OLGA AGULHON

Aquele “sim” que ele disse,
na igreja, diante do altar,
não suportou a velhice,
que enrugou o nosso olhar.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O galo e a raposa

Empoleirado num sobreiro antigo,
Fazia um velho galo sentinela.
Uma raposa diz-lhe: «Irmão e amigo,
Venho trazer-te uma notícia bela.

Nas nossas dissensões lançou-se um traço
E acaba de assinar-se a paz geral;
Desce, que quero dar-te estreito abraço
E juntamente o beijo fraternal!

— Amiga — diz-lhe o galo — folgo imenso;
Não podia esperar maior delícia!...
Vejo dois galgos a correr, e penso
Que são correios da feliz notícia.

Foge a raposa sem dar mais cavaco;
E o galo sentiu íntimo consolo.
Pois é grande prazer ver a um velhaco
Entrar espertalhão e sair tolo!

(tradução: J. I. de Araújo)