quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Dicas de Escrita (Como escrever em primeira pessoa) – 4, final

texto por Stephanie Wong Ken


MÉTODO 4 =Polindo a narrativa em primeira pessoa

1. Leia a parte em voz alta. 
Depois de completar um rascunho da história em primeira pessoa, leia-o em voz alta. 

Ouça bem cada frase da narrativa. 

Veja se você está repetindo “eu” com muita frequência. 

Preste atenção na voz do narrador em primeira pessoa e veja se parece consistente ao longo do
texto.

Preste atenção também no tempo verbal da história. A história não pode mudar do passado para o presente e vice-versa. Ela deve se manter no mesmo tempo verbal sempre.

2. Refine a escolha de palavras e linguagem. 
Conforme revisa a sua história, veja se escolheu bem a linguagem e as palavras. 

Procure palavras que possam ser substituídas por sinônimos melhores. 

Verifique se tudo é contado de maneira concisa e clara. 

Confira se a escolha de palavras faz jus ao narrador da história.

3. Mostre sua história para outras pessoas. 
Peça para as pessoas lerem e darem uma opinião. Fale com amigos e colegas e peça para dizerem o que acham que pode deixar a história melhor.

Você também pode mostrar a história para um grupo de literatura para ver quais as opiniões e críticas deles. 

Esteja aberto aos comentários para melhorar cada vez mais a sua narrativa. 

Referências
1. http://thewritepractice.com/filter-words/
2. http://thewritepractice.com/filter-words/
3. https://owl.english.purdue.edu/owl/resource/560/15/
4. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
5. http://thewritepractice.com/filter-words/
6. http://www.helpingwritersbecomeauthors.com/most-common-mistakes-series-isyour-2/#
7. http://examples.yourdictionary.com/examples-of-writing-in-first-person.html
8. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
9. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
10. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/
11. http://www.nownovel.com/blog/first-person-narrative-7-tips/

Fonte: Wikihow. Acesso em 13.09.2024

Recordando Velhas Canções (Serenata do Adeus)


(canção, 1958) 

Compositor: Vinícius de Moraes

Ai, a lua que no céu surgiu
Não é a mesma que te viu
Nascer dos braços meus
Cai a noite sobre o nosso amor
E agora só restou do amor
Uma palavra: Adeus

Ai, vontade de ficar
Mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima
Um momento breve
De uma estrela pura, cuja luz morreu

Ah, mulher, estrela a refulgir
Parte, mas antes de partir
Rasga o meu coração
Crava as garras no meu peito em dor
E esvai em sangue todo amor
Toda a desilusão

Ai, vontade de ficar
Mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora
É refletir na lágrima

Um momento breve de uma estrela pura
Cuja luz morreu
Numa noite escura
Triste como eu

A Melancolia do Fim em 'Serenata do Adeus'
A música 'Serenata do Adeus', escrita pelo poeta e compositor Vinicius de Moraes, é uma obra que transborda melancolia e a dor do término de um amor. A letra utiliza a imagem da lua, um elemento recorrente na poesia lírica para falar de mudanças e ciclos, para simbolizar que o amor que existia entre os amantes já não é mais o mesmo. A lua que 'não é a mesma que te viu nascer dos braços meus' sugere uma transformação que ocorreu tanto no relacionamento quanto nos próprios indivíduos envolvidos.

A canção prossegue com a expressão da inevitabilidade da despedida, mesmo havendo o desejo de permanecer juntos ('vontade de ficar, mas tendo que ir embora'). Vinicius de Moraes explora a ideia de que amar é um processo de constante sofrimento, uma morte lenta 'pela vida afora'. A metáfora da estrela que brilha por um momento e depois morre é uma poderosa imagem para representar a efemeridade do amor e a intensidade do sentimento que, embora forte, está fadado a se extinguir.

Por fim, a música termina com uma súplica dolorosa, onde o eu-lírico pede que a amada, comparada a uma estrela, parta, mas que antes deixe uma marca indelével de dor e desilusão. A 'Serenata do Adeus' é, portanto, um lamento pela perda, uma aceitação do fim e um reflexo sobre a natureza passageira do amor, tudo isso embalado na suavidade e na profundidade lírica características de Vinicius de Moraes.

"Esta é uma das raras composições em que o Poetinha Vinícius assina também a melodia. Foi composta em 1953, quando ele trabalhava na embaixada brasileira em Paris, capital da França. Em 1958, "Serenata do adeus" surgiu em dois registros: o de Elizeth Cardoso, pela Festa, no histórico LP "Canção do amor demais", e este, de uma cantora que então estreava em disco: a paulistana Isolda Corrêa Dias (1934-2000), que, inicialmente, adotou o pseudônimo de Morgana Cintra, depois reduzido para Morgana.

Sua gravação saiu pela Copacabana, em junho de 58, no 78 rpm , com sucesso absoluto, e também abriu seu primeiro LP, "Esta é Morgana". O maestro Osmar Milani (não Oscar!), que a acompanha com sua orquestra, pertenceu durante anos ao "staff" de Sílvio Santos" (Samuel Machado Filho).

Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trov’ Humor) 39

 

Trovador Homenageado do Dia: Cézar Augusto Defilippo (Trovas em preto e branco)


1
Ao ver-te mãe, insegura,
percebo em meio à pobreza
que o teu olhar de ternura
tem muito mais de tristeza.
 2
Canoeiro chora ao marco
da seca, drama do estio,
ao ver carcaças do barco
no leito seco do rio...
3
Leitura bem decifrada,
ciúme é momento mudo...
Voz e gestos não são nada
quando os olhos dizem tudo!
4
Luar, viola e sertão
nos mostram com harmonia
como a própria solidão
precisa de companhia...
5
Muita gente sofre e chora
porque trocou sem receio
toda certeza do agora
por um depois que não veio.
6
Na ingratidão que és capaz
tua conduta me diz:
- não passo de um “tanto faz”
para alguém que eu tanto fiz...
7
Não seja precipitado,
torne o tempo bem vivido,
mais vale um antes pensado
que um depois arrependido...
 8
O meu ontem foi mentira...
Falsos sonhos... glória vã...
Mas meu fracasso não tira
a esperança do amanhã.
9
Raízes... braços em coma
no mangue que já morreu,
buscam no barro o bioma
que o homem não protegeu.
10
Serve de exemplo na história
com grandeza habitual,
quem ao fracasso ou vitória
mantém a conduta igual!
 11
Sozinho, meu caminhar,
mostra a razão mais sincera
se vivo sem regressar
é porque ninguém me espera.
12
Tendo a plástica da Estela
pele "daquele lugar",
vira e mexe a cara dela
tem vontade de sentar.

As Trovas de Cézar Augusto Defilippo (Zé Gute) em Preto & Branco
por José Feldman

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

Trova 1. Amor Materno e Tristeza
A primeira trova reflete a dualidade do amor maternal, mostrando como a ternura pode ser acompanhada de tristeza, especialmente em situações de pobreza. A mãe, símbolo de cuidado, também carrega o peso das dificuldades.

Castro Alves em "O Canto de Buarque" também retrata a dor e a luta das mães, especialmente em contextos de opressão e pobreza. 

Adélia Prado expressa, em seus poemas, a complexidade do amor materno e a tristeza que pode acompanhá-lo. Explora a relação entre mãe e filho em “A Mãe”, revelando a profundidade e a complexidade dos sentimentos envolvidos.

Sylvia Plath (poeta norte-americana, 1932 – 1963) em poemas como "Daddy", explora a complexidade do amor e a dor associada às relações familiares, refletindo a tristeza que pode coexistir com a ternura.

Trova 2. Canoeiro e a Seca
Aqui, a seca representa a devastação ambiental e a luta do povo sertanejo. O canoeiro, em sua dor, simboliza a perda não apenas de recursos, mas também de esperança. A imagem é poderosa, reforçando a resiliência humana frente à adversidade.

Gonçalves Dias, em "Canção do Exílio", fala sobre a relação do homem com a natureza e a saudade que esta provoca. 

Cecília Meireles aborda a solidão e a luta do homem em relação ao ambiente, refletindo a conexão com a terra e as dificuldades enfrentadas. No poema "A Flor e a Náusea", ela explora a beleza da natureza em contraste com as dificuldades da vida, refletindo sobre a luta e a resiliência.

Pablo Neruda (poeta chileno, 1904-1973) em "Ode ao Mar", fala sobre a relação entre o homem e a natureza. Sua obra muitas vezes aborda a luta contra a adversidade e a conexão profunda com a terra.

Trova 3. Olhos que Falam
Esta trova explora a comunicação não verbal, sugerindo que os sentimentos mais profundos muitas vezes são revelados através dos olhos. A ideia de que o que não é dito pode ser mais eloquente do que palavras ressoa fortemente nas relações interpessoais.

Fernando Pessoa, em "O Guardador de Rebanhos", através do seu heterônimo Alberto Caeiro, o explora a simplicidade da observação e a comunicação com a natureza, enfatizando a expressão que vai além do verbal. 

Marianne Moore (poetisa norte-americana, 1887–1972) enfatiza a comunicação não verbal e a expressividade dos olhos em suas obras. Em "The Fish", Moore descreve a beleza e a complexidade dos olhos do peixe, sugerindo uma comunicação que vai além das palavras. Em "To a Snail", Moore reflete sobre a observação e a percepção, sugerindo que a comunicação pode ser encontrada na delicadeza dos movimentos e na presença dos seres.

Rainer Maria Rilke (poeta austríaco, 1875 – 1926), em seus "Sonetos a Orfeu", explora a comunicação profunda que vai além das palavras, revelando como os olhos podem expressar emoções intensas.

Trova 4. Solidão e Companhia
A relação entre solidão e a necessidade de conexão é central. A trova sugere que, mesmo na solidão, há um desejo intrínseco por companhia, refletindo a natureza social do ser humano e a importância das relações.

Álvares de Azevedo trata da solidão em muitos de seus poemas, refletindo sobre a busca por conexão. "Noite de Luar" reflete a solidão do eu lírico diante da beleza da noite, capturando a melancolia e a busca por companhia.

Mário Quintana fala sobre a solidão e a busca por companhia, abordando o tema com uma leveza poética. "Oração do Tempo" aborda a passagem do tempo e a solidão que pode acompanhar as reflexões sobre a vida, sugerindo a importância das memórias. Em "A Rua dos Cataventos", o poeta evoca a solidão em meio à cidade, destacando a busca por companhia em um ambiente muitas vezes desolador.

A solidão é um tema central na obra de Emily Dickinson (poetisa norte-americana, 1830 – 1886). Seus poemas frequentemente refletem a busca por conexão em um mundo isolante, ressoando com a temática da solidão e da companhia. No poema “I felt a Funeral, in my Brain", Dickinson explora a solidão e a percepção de um estado mental isolado, simbolizando a busca por conexão. 

Trova 5. Expectativas e Desilusões
Esta estrofe aborda a troca de certezas por esperanças incertas, refletindo a desilusão que muitos enfrentam ao buscar futuros ideais. É uma crítica à falta de gratidão pelo presente e à propensão a idealizar o que ainda não existe.

Olavo Bilac em "O Caçador de Esmeraldas" reflete sobre a desilusão e a busca por ideais inatingíveis.

Adriana Falcão explora a frustração e as expectativas em suas narrativas poéticas. "O Mundo de Tinta" aborda as expectativas sobre a vida e a desilusão que pode ocorrer quando a realidade não corresponde aos sonhos. 

Charles Baudelaire (poeta francês, 1821 – 1867) em "As Flores do Mal", aborda a desilusão e a busca por ideais, refletindo a frustração que pode surgir quando as expectativas não são atendidas.

Trova 6. Ingratidão e Sacrifício
A dor da ingratidão é expressa com intensidade, revelando a decepção de quem se sacrifica por amor. Essa troca desigual ressalta a fragilidade das relações e a importância de reconhecer o valor das contribuições alheias.

Cláudio Manuel da Costa escreve sobre a ingratidão e o amor não correspondido em suas obras, refletindo a dor do sacrifício. "O Louco" reflete sobre a ingratidão e a incompreensão da sociedade em relação aos que se sacrificam por amor ou por ideais.

Hilda Hilst também toca na ingratidão e na complexidade das relações humanas em seus poemas. Em "Ode aos Ratos", Hilst aborda a ingratidão e a traição nas relações, utilizando metáforas para expressar a dor emocional. 

William Wordsworth (poeta inglês, 1770 – 1850) fala sobre a ingratidão da sociedade em relação à natureza e aos que sacrificam suas vidas pelo bem comum, refletindo a dor do sacrifício não reconhecido. "The Prelude" explora a ingratidão da sociedade em relação à natureza e ao papel do indivíduo, refletindo sobre os sacrifícios feitos por uma vida de introspecção. 

Trova 7. Reflexão e Arrependimento
A sabedoria de agir com prudência é o foco aqui. A ideia de que um planejamento cuidadoso é mais valioso do que a ação impulsiva é um ensinamento essencial, especialmente em tempos de decisões rápidas.

Tomás António Gonzaga, reflete sobre escolhas e arrependimentos, especialmente em contextos de amor. "Marília de Dirceu" expressa a solidão do eu lírico em sua busca por amor e sentido, refletindo sobre a dor da ausência. "Cartas Chilenas" aborda a solidão e a busca por liberdade, questionando a vida e suas angústias.

Carlos Drummond de Andrade frequentemente aborda a reflexão sobre a vida e as consequências das escolhas em seus poemas. "No Meio do Caminho" reflete a solidão e a inevitabilidade dos obstáculos na vida, simbolizando a busca por sentido. "A Máquina do Mundo" aborda a complexidade da existência e a solidão que acompanha a busca por compreensão no mundo. Em "Quadrilha" o eu lírico expressa a solidão e a desilusão nas relações amorosas, revelando a busca por conexão e sentido.

T.S. Eliot (poeta norte-americano radicado na Inglaterra, 1888 – 1965), em "The Love Song of J. Alfred Prufrock" explora a reflexão e o arrependimento, abordando as escolhas da vida e as consequências que elas trazem.

Trova 8. Esperança no Fracasso
Esta trova traz uma mensagem de otimismo, ressaltando que os fracassos não anulam a esperança. A ideia de que o passado não define o futuro é inspiradora e encoraja a resiliência.

Vinicius de Moraes, em muitos de seus poemas, fala sobre a esperança mesmo em meio ao fracasso amoroso e existencial. "Soneto de Fidelidade" reflete sobre o amor e a inevitabilidade da passagem do tempo, enfatizando a transitoriedade das experiências. "Eu Sei que Vou Te Amar" expressa a intensidade do amor, mesmo sabendo que tudo é passageiro, destacando a busca por momentos significativos. Em "Soneto de Separação", Vinicius aborda a dor da separação e a transitoriedade das relações, refletindo sobre o que permanece após o fim de um amor.

Alice Ruiz expressa a transformação e a esperança que surgem após períodos de dificuldade. Podemos citar poemas como "A Vida É Uma Tarde", onde ela reflete sobre as dificuldades da vida e a capacidade de renovação que surge após momentos difíceis. Em "O Coração É Um Caçador", através da metáfora do coração, Ruiz fala sobre a busca por amor e a esperança que se renova mesmo após desilusões.

A poesia de Langston Hughes (poeta norte-americano, 1901 – 1967), especialmente em "The Negro Speaks of Rivers", aborda a resiliência e a esperança que surgem mesmo após fracassos históricos e pessoais.

Trova 9. Natureza e Descuido
A crítica ao descaso humano em relação ao meio ambiente é evidente. As raízes e o mangue simbolizam a conexão com a natureza, enquanto o "bioma que o homem não protegeu" denuncia a responsabilidade que temos sobre o mundo natural.

Guilherme de Almeida faz críticas sociais e ambientais, refletindo sobre a relação do homem com a natureza. "Oração do Fogo" reflete sobre a força renovadora do fogo, simbolizando a esperança que surge da transformação. Em "A Flor de Lis" o poeta utiliza a imagem da flor como símbolo de renascimento e esperança, abordando a beleza que pode emergir das dificuldades.

Marcos de Andrade aborda a degradação ambiental, alertando sobre a responsabilidade humana. "Renovação" explora a ideia de recomeços e a força da esperança diante das dificuldades da vida. No poema "Esperança", o poeta fala sobre a luz que a esperança traz, mesmo em momentos sombrios, ressaltando a importância de acreditar em um futuro melhor.

William Blake (poeta inglês, 1757 -1827), em obras como "Songs of Innocence and Experience", critica a relação do homem com a natureza e a degradação que resulta do descaso humano.

Trova 10. Manutenção da Conduta
A igualdade de conduta diante do sucesso e do fracasso é um valor essencial. A estrofe sugere que a verdadeira grandeza está em manter a integridade, independentemente das circunstâncias.

Machado de Assis frequentemente explora a moralidade e a integridade humana. No romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis critica a sociedade do século XIX, abordando a hipocrisia e as injustiças sociais através da perspectiva de um narrador defunto. "O Alienista" através da figura do Dr. Simão Bacamarte, explora a loucura e a crítica social, revelando as injustiças na forma como a sociedade trata os que são diferentes.

Ruth Escobar fala sobre a importância da conduta ética em tempos de adversidade. “A Revolução de Outubro" fala sobre a luta por justiça e igualdade, refletindo as desigualdades sociais e a necessidade de mudança. "Canto da Liberdade" aborda a busca por liberdade e justiça, enfatizando a luta contra a opressão e a desigualdade.

Robert Frost (poeta norte-americano, 1874 – 1963) em "The Road Not Taken" reflete sobre a manutenção da integridade diante de escolhas difíceis, enfatizando a importância da conduta em momentos decisivos.

Trova 11. Caminhada Solitária
A solidão escolhida é um tema profundo, refletindo sobre a ausência de expectativas de retorno. Essa escolha revela uma busca por autenticidade e a liberdade que vem com a independência emocional.

Fernando Pessoa, frequentemente aborda a solidão e a busca por identidade. No "O Livro do Desassossego", o narrador reflete sobre a solidão e a busca por um sentido na vida, explorando a complexidade da identidade.

Marcelino Freire explora a solidão e a busca por autenticidade em suas narrativas poéticas. "Contos Negros" é uma coleção de contos que explora a solidão e a busca por identidade em contextos marginalizados, abordando a vida de personagens em situações difíceis. "Nossos Ossos" reflete sobre a solidão da existência humana e a luta interna por reconhecimento e identidade.

Henry David Thoreau (poeta norte-americano, 1817 – 1862), em "Walden" aborda a solidão e a procura por autenticidade, refletindo sobre a vida simples e a conexão com a natureza.

Trova 12. Beleza e Identidade
A leveza desta trova contrasta com as temáticas mais pesadas anteriores. A referência à beleza e à identidade sugere uma busca por aceitação e a complexidade das relações humanas, misturando humor e reflexão.

Olavo Bilac também trata da beleza e da identidade em sua poesia, refletindo sobre a estética e o eu, em "O Caçador de Esmeraldas", Bilac reflete sobre a busca pela beleza nas coisas simples e a relação com a natureza, simbolizando a identidade e a essência do ser; em "Saudade" ele explora a beleza da lembrança e o impacto das experiências passadas na formação da identidade. 

Ana Cristina Rodrigues fala sobre a beleza e a busca pela identidade em um mundo em transformação. "Poesia para Quem Não Gosta de Poesia" aborda a memória de forma lúdica e reflexiva, destacando a importância das vivências passadas na construção da vida. "As Coisas que Perdemos no Fogo", embora não seja exclusivamente dela, Ana Cristina contribui com textos que dialogam sobre a memória e a perda, ressaltando a carga emocional das recordações.

Walt Whitman (poeta norte-americano, 1819 – 1892), em "Leaves of Grass" celebra a beleza da individualidade e da identidade, promovendo uma aceitação da diversidade humana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de Zé Gute, com sua simplicidade e profundidade, refletem uma variedade de temas que dialogam com a experiência humana, como amor, solidão, natureza e as sutilezas do cotidiano. Sua linguagem acessível, marcada por um tom coloquial, aproxima o leitor de uma reflexão íntima, tornando suas mensagens universais e atemporais.

Ele se insere em uma tradição de poetas brasileiros que valorizam a oralidade e a musicalidade, como Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado, que também exploram a relação entre o indivíduo e o mundo que o cerca. Além disso, suas trovas estabelecem conexões com poetas estrangeiros, como Pablo Neruda, cujas obras também abordam a condição humana com lirismo e sensibilidade.

A importância das trovas de Zé Gute para a sociedade atual e para futuras gerações reside na sua capacidade de ressoar com as emoções e as inquietações contemporâneas. Em tempos de incerteza e desassossego, suas palavras oferecem consolo e esperança, incentivando uma reflexão crítica sobre a vida e a convivência. Ao perpetuar a tradição da trova, ele não apenas mantém viva uma forma poética rica, mas também convida novas vozes a se expressarem, garantindo que as futuras gerações possam encontrar na poesia um espaço de diálogo e identificação.

Assim, suas trovas se afirmam como um patrimônio cultural, essenciais para a construção de uma sociedade mais sensível e conectada às suas raízes, ao mesmo tempo em que projetam um olhar esperançoso para o futuro.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Renato Frata (Marcas do ontem)

Há momentos em que o inusitado tira o sorriso da boca para lhe colocar um palavrão. Foi assim que logo pela manha, ao sair da garagem, fui literalmente atropelado por um pardal que, espaventado, trombou no vidro e plof., caiu agonizando.

Como é fofo, tem pouca força e a velocidade do carro era mínima, ele não morreu, mas ficou estrebuchando, tontinho da silva. Peguei-o e o levei sob o jato de água fria da torneira à mercê de restabelecimento, momento em que fui tomado por uma lembrança guardada no baú de memórias.

Vi-me de calça curta, camisa aberta no peito e com um embornal cheio de pombinhas mortas a estilingue. 

As mãos segurando agora o pequeno pardal sob o jato frio para lhe dar vida, eram as mesmas que depenavam, estripavam, cortavam, lavavam e salgavam corpos e corpos de aves, para levá--los à cozinha e se transformarem em complemento da indefectível polenta do dia a dia.

Era maldade? Não, necessidade. Combatia a fome, dava abrigo. A pobreza exige que se eliminem princípios! E até se pode dizer que a miséria animaliza.

Sorte que a consciência nos põe em pé para contar, arrepender e ao mesmo tempo se desculpar. Ninguém refaz o passado, apenas o lamenta. Quando pode.

Um fio de sangue aflorou entre os bicos do pardal, o que me trouxe mais apreensão, todavia, em alguns instantes ele se mexeu, tentou bater asas, mas o mantive: não há quem não reaja sob uma ducha gelada.

Depois ele abriu os olhos e piou, sacudiu a cabeça e forçou novamente como se dissesse estar pronto para outra aventura. Seu coraçãozinho esticava e retraía, da mesma forma como batia o meu quando, nos almoços regados a caldo de pombinhas, a polenta ganhava novo sabor.

Tirei-o da sufocação da água, saí ao sol, sequei-o e, notando que melhorara, abri as mãos. Ele se foi, para cair logo a uns seis, sete metros e voltar a se bater. Tentava se levantar, mas caía. Corri, peguei-o de volta, conversei amenidades, aninhei-o na toalha e o pus sobre o banco do carro para que só saísse quando sentisse que era hora.

Ele se mexeu, recuperou-se, se levantou, voou com segurança e, como se nada houvera, pousou sobre o muro onde se esticou, estendendo ao sol as penas. Piou duas ou três vezes, como se nada de estranho houvesse, e voou. Não sei como funciona a memória de um pardal, se ele é capaz de se lembrar ou se existe um limite, mas esse episódio serviu-me para reflexão: o passado - bom ou mau - deve ser visto como aquela bolha que se forma na sola dos pés depois de longa caminhada. Ela dói, murcha, seca, descasca a pele e até esquecemos dela sem nos preocupar com a marca, mas sempre estará ali.

Fonte: Renato Benvindo Frata. Fragmentos. SP: Scortecci, 2022. Enviado pelo autor

Vereda da Poesia = 112


Trova de 
BARRETO COUTINHO
Limoeiro/PE (1893 – 1975) Curitiba/PR

Destino é força que esmaga.
Credor austero, tremendo,
manda a conta e a gente paga 
sem saber que está devendo…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadrão à Beira-Mar de
FRANCY FREIRE
Assaré/CE

Meu amor vai na garoa
Remando em sua canoa
Cantando uma rima boa
Pra solidão espantar.
E eu fico aqui tão sozinha,
Levando a mesma vidinha,
Da sala para a cozinha
No quadrão a beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ

Na aurora, à luz do arrebol,
quando o céu mais cores ganha,
Deus ergue a hóstia do Sol
por sobre o altar da montanha!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Máquina do tempo

Vou inventar a máquina do tempo.
Vou voltar e fazer tudo outra vez.
Quero ter certeza de que meus erros e acertos
Foram os alicerces da minha lucidez.

Não repudio um só minuto vivido.
Não tenho dúvidas de que tenho muito a caminhar,
Mas cada pedra, que lapidei com tropeços,
Foram as mesmas que pisei pra escalar.

A montanha é íngreme. Eu bem sei,
Que chegarei lá no topo, nunca duvidei!
Cicatrizes nos punhos e pés vão ficar.

Mas se os rumos que tomei foram incertos,
Se, troquei águas claras por oásis no deserto,
Faria tudo de novo, se tivesse que recomeçar. 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS (1932 – 2013) São Paulo/SP

Minha sogra está doente
e o diabo, apavorado:
- se ela morre de repente,
ele está desempregado!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Mulher

Não importa a cor dos seus cabelos,
Loira, morena ou ruiva.
Não importa seu nome:
Leila, Maria, Iara, Lúcia, ou Sofia.
De qualquer nacionalidade ou raça.
É mulher!
Pelos poetas românticos é cantada,
Em prosa em versos idolatrada.
É mulher amada.
Você pode ser traída ou traidora,
Solteira, viúva, amante ou esposa.
Você pode ser poderosa.
É mulher!
Ser fada bonita, ou piloto, tanto faz.
Mulher corajosa, anjo do lar,
Companheira amorosa e prestimosa,
Sensível e audaciosa,
Sensual e conquistadora.
É mulher!
Homem nenhum pode viver, sem você,
Ele precisa de mulher para ser forte.
Quando fraco vai ficar na sorte.
Sem você mulher ele não avança,
Precisa do seu amor, como alavanca.
É mulher!
Mãe faz-se partilha, e o amor sempre cresce,
A vida floresce.
Briga, chora e canta, trabalha no lar e fora.
Mulher inteligente,
Sempre consegue conciliar amor e sentimento.
Um dia, os filhos tomam o rumo da vida,
Muitas vezes sozinha ela fica.
Embala sonhos, brinca com netos torna-se criança.
E a vida segue serena a sua dança!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Quem inventou a partida         
não sabia o que era amar;      
quem parte sem vida,             
quem fica, fica a chorar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Lágrimas

Eu não sei o que tenho... Essa tristeza
Que um sorriso de amor nem mesmo aclara,
Parece vir de alguma fonte amara
Ou de um rio de dor na correnteza.

Minh' alma triste na agonia presa,
Não compreende esta ventura clara,
Essa harmonia maviosa e rara
Que ouve cantar além, pela devesa.

Eu não sei o que tenho... Esse martírio,
Essa saudade roxa como um lírio,
Pranto sem fim que dos meus olhos corre,

Ai, deve ser o trágico tormento,
O estertor prolongado, lento, lento,
Do último adeus de um coração que morre...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina (1910 – 1994) São Paulo/SP

Todo sujeito sensato
sabe a verdade de cor:
A mulher bela, de fato,
sem fato fica melhor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de 
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
São Mateus do Sul/PR, 1926  – 2021, Contenda/PR

Saudade imensa
                                       (À Neusa)

Que saudade, meu Deus, mas que saudade
Eu sinto de você minha querida.
Palmilhamos nossa estrada nos amando,
Éramos então vivendo enamorados
Como dois pombos enfrentando a vida.
Jamais pensando vivermos separados.
Mas você teve sua missão cumprida
E Deus veio buscar-lhe faz um ano.
E eu não pude lhe beijar na despedida,
Selei um beijo já em seu rosto inerte,
Molhando com lágrimas sua face linda.
Hoje não sinto seu calor humano,
Mas lhe sinto presente em toda a vida
E mesmo sem lhe ver é mais querida.
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Trova de
ANTONIO CABRAL FILHO
Jacarepaguá/RJ

Eu e você, nossos sonhos,
nos divertindo na praia,
felizes e tão risonhos,
correndo, livres, sem raia.
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Soneto de
BASTOS TIGRE
Recife/PE, 1882-1957, Rio de Janeiro/RJ

Saudade

Infeliz de quem vive sem saudade,
Do agridoce pungir alheio às penas,
Sem lembranças de amor e de amizade,
Hoje vivendo o dia de hoje, apenas.

Triste de ti, ancião, que te condenas
A mole insipidez da ancianidade
E não revives na memória as cenas

De prazer e de dor da mocidade!
Ter saudade é viver passadas vidas,
Percorrendo paragens preferidas,
Ouvindo vozes que se têm de cor.

Sonha-se... E em sonho, como por encanto,
A dor que nos doeu já não dói tanto,
Gozo que foi é gozo inda maior.
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Trova de 
DILVA MORAES
Nova Friburgo/RJ

Olhares insinuantes
que o cupido  registrou,
flecharam  os dois amantes
que a vida não separou!
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Poema de
AUGUSTO GIL
Lordelo do Ouro/Portugal (1873 – 1929) Guarda/Portugal 

Balada da neve 

Batem leve, levemente, 
como quem chama por mim. 
Será chuva? Será gente? 
Gente não é, certamente 
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania: 
mas há pouco, há pouquinho, 
nem uma agulha bulia 
na quieta melancolia 
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente, 
com tão estranha leveza, 
que mal se ouve, mal se sente? 
Não é chuva, nem é gente, 
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía 
do azul cinzento do céu, 
branca e leve, branca e fria... 
- Há quanto tempo a não via! 
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça. 
Pôs tudo da cor do linho. 
Passa gente e, quando passa, 
os passos imprime e traça 
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais 
da pobre gente que avança, 
e noto, por entre os mais, 
os traços miniaturais 
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos... 
a neve deixa inda vê-los, 
primeiro, bem definidos, 
depois, em sulcos compridos, 
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador 
sofra tormentos, enfim! 
Mas as crianças, Senhor, 
porque lhes dais tanta dor?!... 
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza, 
uma funda turbação 
entra em mim, fica em mim presa. 
Cai neve na Natureza 
- e cai no meu coração.
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Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

A dor parece incontida?...
Lave o rosto e não se abale:
a esperança é sol da vida
vencendo as sombras do vale.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895– 1926

Decadência

Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente;
Nenhuma outra intenção, mas simplesmente
O hábito melancólico de ser...

Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...

Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...

Vai-se vivendo... e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!...
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Trova de
JORGE MURAD 
Guanabara/RJ (1910 – 1998)

Só porque falo sozinho
chamam-me louco, - maldade! 
é que eu converso baixinho
quando falo com a saudade...
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Poema de 
DYLAN THOMAS 
Swansea/País de Gales (1914 - 1953) Nova Iorque/EUA

Vem uma mudança no tempo do coração

Vem uma mudança no tempo do coração
secar a sua seiva, e um brilho que nos fere
vibra no interior glacial do túmulo.
Transforma-se na cidade das veias
a noite em dia, e movem-se ali os vermes
sob o reflexo solar do próprio sangue.

Vem uma mudança ocultar nos olhos
os ossos da cegueira, e então o ventre
mergulha na morte como o aparecimento da vida.

A escuridão no tempo dos olhos
encontra-se com a luz; a profundidade do mar
rompe sobre uma terra sem arestas.
A semente, que gera dos flancos um bosque
vem dividir o seu fruto, e cada metade
derrama-se lentamente no vento adormecido.

O tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos
fica úmido e seco; o que desperta e o que morre
junto dos olhos são como dois espíritos.

Vem uma mudança no tempo do mundo
transformar um espírito no outro, e cada criança
na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.
Assim é arrastada a lua em direção ao sol,
da pele são removidas as andrajosas vestes,
e o coração abandona-se à morte.
(tradução: Fernando Guimarães)
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Trova de 
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP

Entre os dois, o amor é forte,
com risos que exigem palmas;
não é acaso nem sorte,
é identidade de almas!!!
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Poema de
CLEVANE PESSOA
Belo Horizonte/MG

Alegoria das Palavras Soltas

Que as mãos dos poetas
libertem as palavras de conceitos e preconceitos antigos.
Que a voz dos poetas
entoe cantos inusitados -às vezes inaudíveis aos demais.
Mas que sejam sempre palavras oloROSAS
a perfumar os poros dos amados e amigos.
O que vier a mais será benesse, lucro e dividendos:
mais importante que a glória
é a libertação do próprio Menestrel.
Que os versos sejam livres, com "palavras soltas",
a ressignificar todas as im/possíveis metáforas!
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Trova de 
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS

Levo a vida com firmeza,
na derrota ou no sucesso,
pois do rio, a correnteza
vai em frente sem regresso !
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Hino de Natal/ RN

I
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.

Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou nas Rocas, Quintas e Tirol,
Em Igapó, Redinha e Mirassol;
Chegou à Zona Norte,
Em Mãe Luíza se enraíza no farol.

O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.

Natal - provinciana -
A tua história nos contou Cascudo:
A luta com o batavo,
As procissões, o pastoril, o entrudo.
II
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.

Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou em Morro Branco e Bom Pastor,
Em Candelária, Felipe Camarão;
Do Morro do Careca
Em Ponta Negra, vem rolando até o chão.

O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.

Natal - espacial -
Ao céu foguete vai levar mensagem
De amor e de esperança
A quem fiel evoca a tua imagem.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A idade é, por excelência, 
a grande mestra do amor. 
– É no outono da existência 
que a paixão tem mais calor!
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Soneto de 
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980

Soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
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Trova de 
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Com um abraço agradeço
as letras do meu saber;
contudo, não desmereço
as que deixei de aprender.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

Os dois amigos e o urso

Um urso acometeu dois passageiros:
Um deles, que os pés tinha mais ligeiros,
Pôs-se em cima duma árvore escondido.
Vendo o outro que tinha mau partido,

Estendendo-se em terra nem bulia
Nem respirava: morto se fazia.
Cheirando-o por orelhas e por cara,
O deixa intacto a fera, e se separa.

Dizem que, se encontrou uma pessoa
Que julga estar já morta, lhe perdoa.
O da árvore já livre do perigo,
Vindo com ar de riso ao seu amigo,
Lhe disse: «Que segredo era o que o horrendo
Urso te estava agora aqui dizendo?

— Disse-me, respondeu ele, que em jornadas
Não leve semelhantes camaradas.»