terça-feira, 25 de junho de 2024

Recordando Velhas Canções (Aquarela Brasileira)

Compositor: Silas de Oliveira

Vejam essa maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista, num sonho genial
Escolheu para este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela

Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará, a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó

Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupã

Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves, do acarajé
Das noites de magia do Candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A festa do frevo e do maracatu

Brasília tem o seu destaque
Na arte, na beleza, e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra!
São Paulo engrandece a nossa terra!
Do leste, por todo o Centro-Oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz

E o Rio dos sambas e batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil, essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas de colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram e aquarelam o meu Brasil
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Cores e Contornos do Brasil em 'Aquarela Brasileira'
A canção 'Aquarela Brasileira', interpretada por Martinho da Vila, é uma verdadeira homenagem à diversidade cultural e natural do Brasil. A letra descreve uma viagem imaginária por diversas regiões do país, destacando suas belezas e peculiaridades. O uso da palavra 'aquarela' sugere uma pintura rica em cores e matizes, representando a mistura de elementos que compõem o cenário brasileiro.

A música começa com uma referência ao carnaval, um evento que por si só sintetiza a alegria e a criatividade do povo brasileiro. O 'asfalto como passarela' pode ser interpretado como uma metáfora para o palco onde a cultura brasileira se apresenta em toda a sua exuberância. A viagem lírica passa pela Amazônia, Pará, Ceará, Bahia, Pernambuco, Brasília e São Paulo, mencionando aspectos característicos de cada local, como a fauna, a flora, a arquitetura e as festas tradicionais.

Ao final, a música destaca o Rio de Janeiro, conhecido por seu carnaval, samba e pela emblemática figura da mulata. A letra enfatiza a beleza natural do país, suas matas, cachoeiras e o céu azul, que juntos compõem o quadro vivo da nação. 'Aquarela Brasileira' é um convite para apreciar e valorizar a riqueza cultural e ambiental do Brasil, pintando um retrato artístico através das palavras. (https://www.letras.mus.br/martinho-da-vila/265569/

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 32

 

Eliana Palma (Microcontos) = 4 =

Alto executivo, com salário nababesco e propinas milionárias, descuidou-se. Depois da
cadeia, só encontrou abrigo na casinha popular dos pais aposentados.
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Exigente. Ninguém estava à sua altura. Em todos desconsiderava qualidades e potencializava defeitos. Bastava-se. Viver sozinha era um sossego. Uma dor súbita no peito, a necessidade de socorro, e nas mãos a agenda de telefone: completamente vazia...
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Fraudara a licitação e superfaturara a obra do viaduto. Da janela do apartamento viu a enorme estrutura, mal feita, desabar sobre o carro novo da filha!
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Levantou-se leve! Estranhou; o corpo não mais doía. Era só luz!
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Na hora sentiu-se moderninha e superior. Nove meses mais tarde trocou o sonho do diploma por noites solitárias mal dormidas.
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Poderoso e arrogante, negócios mirabolantes e a certeza de ficar milionário em pouco tempo. Ao invés, a falência financeira e emocional!
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Sonhava com viagens. Foi trabalhar numa agência, mas a oportunidade nunca aparecia. Ao invés da passagem, comprou livros. O mundo descortinou-se. Não coleciona carimbos no passaporte, mas títulos na enorme estante!
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Sonhava ver-se, de branco, numa limusine. O carro chegou na hora marcada; o noivo, não!
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Tinha pavor da hora da morte. Na hora da angioplastia, morreu... de medo!
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Fonte: Maria Eliana Palma. Momentos em prosa e verso. Maringá, 2016. Entregue pela autora.

Vereda da Poesia = 43 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

RENATA PACCOLA

Rico cinquentão? Coitado!
Quisera que fosse assim!
Ele anda mais apertado
que pasta dental no fim!
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Soneto Humorístico de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Causa Mortis
 
Todo mundo que chegava
ao velório do Candinho,
penalizado, falava:
- Morreu como um passarinho.
 
Um bebum que ali se achava,
curioso, entre o burburinho,
a cada passo escutava:
- Morreu como um passarinho.
 
Chega alguém que, comovido,
pergunta-lhe ao pé do ouvido:
- De que a morte foi causada?
 
E o bebum, em tom de prece:
- Também não sei, mas parece
que foi de uma estilingada.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

dúvidas
estremecem
relacionamentos
quando
permanecem
presentes
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Soneto de de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Naufrágio

Neste oceano da vida, tumultuoso,
Lancei, cheio de sonhos, um barquinho.
E ele flutuou e deslizou airoso,
Vencendo os empecilhos do caminho!

Nos momentos difíceis, sem repouso,
Depressa ia ampará-lo o meu carinho
E ansiosa eu via, com secreto gozo,
Meus sonhos desafiando os torvelinhos!

E chegaste! E de pedra era tua alma!
De papel, o barquinho... e tenso e mudo,
Ficaste, quando o mar perdeu a calma!

Contra o recife, o barco soçobrou!
E os sonhos, sem guarida, ao fim de tudo,
Um a um, impiedoso, o mar levou!
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Trova Premiada em Natal/RN, 2022

ARTHUR THOMAZ
(Arthur Thomaz da Silva Neto)
Campinas/SP

Quando perto, o trem apita,
batem forte os corações…
Tudo na estação se agita,
provocando as emoções.
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Poema de Porto Alegre/RS

LUCIANA CARRERO

Bloco Súbito

Eis aqui a cidade
bloco súbito de concreto
plantada na simplicidade
da paisagem - pelo arquiteto

Nela o homem-multidão
tal compacto rio
e o ídolo – destacável cidadão
que a consciência grupal pariu

Indivíduo impotente
na massa comprimido
logra êxito na corrente
que fabrica seu ídolo

Nele se satisfaz
por fim realizado (?)
Nada lhe resta mais
na multidão segregado
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Quadra Popular

Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
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Soneto de Vitória/ES

BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)

A Rosa Branca

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.
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Trova do Rio de Janeiro

HERMOCLYDES S. FRANCO
(Hermoclydes Siqueira Franco)
Niterói/RJ (1929 – 2012) Rio de Janeiro/RJ

Tenho um cão chamado THÉO,
grande amigo, inseparável...
Ao meu lado, está no céu
e eu me sinto invulnerável!
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Poema de Angola

ALDA LARA
Benguela, 1930 – 1962, Cambambe

As belas meninas pardas

As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.

Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos dos dias.

E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, trás desenganos.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trajadas.
Direitinhas. Aprumadas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)

E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

E desejam, sobretudo, um casamento decente...

O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...
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Haicai de Irati/PR

ELISSON THOMAZ SVEREDA

Lembro de meu pai
Debruçado na janela.
Noitinha de outono.
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Sextilha Agalopada de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Foi voando nas asas dos condores
agarrado nas mãos celestiais,
que senti os prazeres infinitos
e a doçura dos beijos das vestais;
musas virgens da sã sabedoria
que enfeitiçam poetas imortais!
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Trova de Maringá/PR

JORGE FREGADOLLI

Borboleta beijoqueira
dá beijos em cada flor.
Voando solta, fagueira,
vai fecundar seu amor. 
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Glosa de Catanduva/SP

ÓGUI LOURENÇO MAURI

É a primavera chegando...
 
 MOTE
As flores estão voltando,
colorindo tudo... Enfim,
é a Primavera chegando,
perfumando meu jardim.
 José Feldman 
(Campo Mourão/PR)
 
 GLOSA
 As flores estão voltando,
denunciam seus odores;
o vento chega mais brando
nos cenários multicores.
 
É a pintora Natureza
colorindo tudo... Enfim,
lindo toque de beleza
que, à mão de Deus, fica assim!
 
Meu astral se eleva quando
vejo toda essa pintura;
é a Primavera chegando,
como é linda enquanto dura!
 
Pena que, com tanto zelo,
falte uma flor para mim;
a rosa do teu cabelo
perfumando meu jardim.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

REGINA COELI NUNES

rosto
sempre
triste
promove
rugas
subalternas
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Soneto de Minas Gerais

NATHAN DE CASTRO
(Nathan de Castro Ferreira Júnior)
João Pinheiro/MG, 1954 – 2014, Uberlândia/MG

Soneto de setembro

Com voz de trovoada e olhos de coriscos,
o céu de cara feia afugenta o soneto.
Arrisco-me no verso livre, em branco e preto:
cantigas de setembros, chuvas e rabiscos

Sinais de tempestades, flores, borboletas?
Versos de folhas verdes nas mãos do Poeta?
Quiçá, quem sabe a terra ensinando-me as letras
das cepas dos coqueiros de praias desertas?!

Canções de erva-cidreira, picão e canela,
remédios para curar as paixões de agosto...
Sementes nos canteiros de eterno desgosto?

Verso livre com cheiro de amor - primavera -
abóbora madura (onde estão minhas feras?).
Silêncio, outro soneto, e um sorriso no rosto.
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 2007

RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Seria a paz mais presente
e o porvir menos incerto
se na mão do adolescente
sempre houvesse um livro aberto!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

ARNOLDO PIMENTEL FILHO

Aquarela

Eu pinto sonhos que nem sempre têm asas
Sonhos vividos
Sonhos esquecidos
Sonhos que poderão viver na minha tela
Na minha triste aquarela
Minha tela pode estar pintada de vazio
Silêncio vazio
Cores incolores que mostram meu rosto
Tela vazia incolor que inspira minhas cores
Eu pinto meus temores na madrugada
Onde a tempestade é a verdadeira tela
Onde a solidão disfarçada
Invade o meu quarto pela janela
Eu pinto a solidão do meu corpo
Pinto as cores da minha voz nua
Pinto meus olhos perdidos no infinito
Minha tela é meu próprio grito
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Triverso de Curitiba/PR

ROSÂNGELA JACINTO DA SILVA

À beira do mar.
Como se fosse num espelho
o brilho da Lua.
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Setilha Sobre o Mar, de Crato/CE

JOSENIR LACERDA

Fim de tarde, “mar” revolto
As ondas beijando a praia
No horizonte luminoso
O sol cansado desmaia
É cena da natureza
Plena de garbo e Beleza
Que um novo dia ensaia
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Trova de Juiz de Fora/MG

CEZÁRIO BRANDI FILHO

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isto seria
trocar tristeza somente. 
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Hino de Angelina/SC

1. 
Entre os montes, a verde campina
Foi o berço da Vila Mundéus,
Que mais tarde chamou-se Angelina
E cresceu com as bênçãos de Deus.

A fé na Gruta de Angelina
Este povo ensina a viver melhor,
O homem faz a trajetória, construindo a história
De um Brasil maior.

2. 
Gratidão este canto encerra
Para aquele que a Vila fundou;
O suor derramado na terra
Foi semente que frutificou.

3. 
Estudantes e agricultores
Cumprem juntos a mesma missão;
Uns cultivam dos livros as flores,
Outros tiram riquezas do chão.

4. 
Os minérios são nova mensagem
Que Angelina ao mundo traduz;
O seu rio abastece a Barragem,
Rica fonte de força e de luz.
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Poetrix de Espinho/Portugal

ANA OLIVEIRA

o lobo mau e a sua esquizofrenia

cortaram ligações
ao tálamo,
na lobotomia.
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Poema dos Estados Unidos

E. E. CUMMINGS
(Edward Estlin Cummings) 
Cambridge/Massachussets, 1894 – 1962, Madison/New Hampshire

O Primeiro de Todos os Meus Sonhos 

o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar (pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam (e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer

(Tradução de Cecília Rego Pinheiro)
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antônio Augusto de Assis)

Melhor idade?… Bobagem…
lorota antiga… falácia…
– Velhice só traz vantagem
para o dono da farmácia!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE 
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A Rã e o Boi

Num prado uma rã
Um boi contemplou,
E ser maior que ele
Vaidosa intentou.

A pela enrugada
Inchando alargou,
E às leves irmãs
Assim perguntou:

- Maior que o Boi
Ó Manas, já sou?
- Não és, lhe disseram
E a rã lhes tornou:

- E agora, inda não?
E mais ainda inchou;
Eis logo de todas
Um não escutou.

Inchar-se invejosa
De novo buscou,
Mas dando um estouro
A vida acabou.

Também, se em grandeza
Vencer procurou
O pobre ao potente,
Por força estourou.
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colaborações: gralha1954@gmail.com

Sílvio Romero (Os três conselhos)


(Folclore do Sergipe)

HAVIA UM HOMEM QUE TINHA muitos filhos, e tão pobre que não tinha que comer. 

Um dia despediu-se desapontado da mulher e dos filhos, e saiu dizendo que ia procurar meios de vida, e que só voltaria trazendo muito dinheiro. 

Depois de muitos anos, não tendo ele ainda encontrado meios de ganhar dinheiro e já muito saudoso da família, voltava este pobre homem para casa, quando apareceu-lhe um ricaço, e perguntou-lhe se ele queria ir trabalhar em sua casa, com a condição porém de só receber dinheiro depois de um ano trabalhado.

No fim do ano, o ricaço chegou-se a ele, e disse-lhe que o pagamento que tinha para dar-lhe era um conselho. 

O homem ficou muito triste, dizendo que não queria o conselho, e sim o seu dinheiro, que era com que ele ia sustentar sua família. 

O ricaço respondeu que aquele conselho valia mais do que dinheiro, e insistiu para ele aceitar, prometendo que no outro ano lhe pagaria melhor. 

Então deu-lhe o seguinte conselho: “Nunca deixes atalho por arrodeio.” ((não trocar o atalho pelo caminho mais longo) 

O velho aceitou o conselho e continuou a trabalhar. No fim do segundo ano, quando esperava receber algum dinheiro, vem de novo o ricaço dando-lhe outro conselho. 

O velho desapontado disse-lhe que não queria conselho, mas o ricaço convenceu-o de que não se arrependeria e que aquele conselho lhe serviria mais do que dinheiro, e então disse-lhe que não se hospedasse em casa de homem velho casado com mulher moça. 

O velho aceitou este conselho e trabalhou mais um ano, no fim do qual o ricaço tornou a dar-lhe outro conselho, que foi o seguinte: “Hás de ver três vezes pra creres.” 

E deu-lhe um pão, dizendo que ele só o partisse quando estivesse em casa com a família. 

Despediu-se o velho levando os três conselhos e o pão. No caminho, encontrou ele um atalho e um arrodeio (caminho mais longo). Então lembrou-se do conselho que o ricaço tinha-lhe dado e seguiu pelo atalho. 

Nisto apareceu um sujeito e lhe disse que a estrada que ia ter à casa dele era outra, mas o velho não o ouviu e seguiu seu caminho. 

No fim do caminho encontra ele o mesmo sujeito muito espantado, o qual disse-lhe ter encontrado no caminho de onde veio um homem morto por muitos ladrões, tendo ele escapado por milagre. 

O velho, ouvindo isto, compreendeu que tinha sido muito bom o conselho que o ricaço tinha-lhe dado. 

Mais  adiante, estando já muito cansado, chegou-se a uma casa e pediu hospitalidade. O dono da casa acolheu-o muito bem, mas como era velho e casado com uma mulher moça, lembrou-se ele do segundo conselho do ricaço, e à noite, quando já todos dormiam, ele saiu e agasalhou-se debaixo de um carro que ficava defronte da casa. 

Lá pela madrugada ele viu a mulher do velho, onde ele tinha-se hospedado, abrir a porta e dirigir-se em companhia de um frade para o carro. Aí chegando principiaram a conversar, e o velho ouviu da mulher o seguinte: “Hoje podemos matar meu marido, porque temos um hóspede e eu digo que ele foi o assassino.” 

O velho, que estava debaixo do carro ouvindo, cortou com uma tesoura um pedaço da batina do frade, dizendo consigo que com aquilo se defenderia. 

No  dia seguinte muito cedo começou a mulher do velho a gritar por socorro, dizendo que um hóspede tinha morto seu marido. Vem a polícia e prende logo o velho, que estava debaixo do carro. 

Na ocasião de ser condenado à forca, pediu ele que queria se confessar com o padre Fulano, o tal que ele tinha cortado a batina. 

Vindo o padre, o velho declarou que a confissão que tinha a fazer era que aquele padre é que tinha assassinado o homem e para prova mostrou o pedaço da batina, reconhecendo todos ser verdadeira aquela e sendo ele imediatamente solto e o padre condenado. 

Mais uma vez viu o velho que o conselho do ricaço lhe serviu mais do que dinheiro. Continuou a sua viagem, chegando perto de sua casa já de noite. Vendo que estava fechada, espiou pela fechadura e viu sua mulher muito alegre conversando com um moço. 

Ele armou logo a espingarda para atirar em ambos, mas lembrou-se do conselho do ricaço, deixou a espingarda e espiou de novo. Vendo-os ainda na mesma alegria, pegou de novo na espingarda e ia atirar, quando lembrou-se de novo do conselho do ricaço e então quis ver e ouvir mais uma vez. 

Então ouviu a mulher dizer a uma negra que deitasse um banho para seu filho, que tinha chegado muito cansado. 

Aí o velho lembrou-se que quando saiu de casa tinha deixado a mulher grávida e com efeito aquele moço era seu filho, que já era padre e tinha vindo do seminário naquele dia. 

O velho bateu na porta e a mulher recebeu-o com alegria, pois já o julgava morto. Os filhos também o receberam com satisfação e, depois de muito conversarem, disse-lhes o velho que nada tinha arranjado, trazendo somente no baú um pão que um homem tinha-lhe dado, para ele só o abrir quando estivesse em casa com a família. 

Partiram então o pão, e ainda mais alegres ficaram, quando viram cair do mesmo uma quantidade enorme de moedas de ouro.

Fonte: Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Publicado originalmente em 1885. Disponível em Domínio Público.

Recordando Velhas Canções (Maracangalha)

Compositor: Dorival Caymmi


Eu vou pra Maracangalha eu vou
Eu vou de uniforme branco eu vou
    Eu vou de chapéu de palha eu vou
    Eu vou convidar Anália eu vou
2x      

    Se Anália não quiser ir eu vou só
    Eu vou só    eu vou só
    Se Anália não quiser ir eu vou só
Eu vou só   eu vou só
Sem Anália mas eu vou

Paparara(2x) Paparara(2x) Paparara(2x) Papararapapa
Paparara(2x) Paparara(2x) Paparara(2x)Papararapapa  

Eu vou pra Maracangalha, eu vou pra Maracangalha,
Eu vou pra Mara, pra Mara, pra Maracangalha,
Maracangalha!
Eu vou pra Maracangalha, eu vou pra Maracangalha,
Eu vou pra Mara, pra Mara, pra Maracangalha,
Maracangalha!
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Sobre a canção “Maracangalha”
Zezinho, grande amigo de Dorival Caymmi, falava muito em Maracangalha. Quando não tinha um bom pretexto para sair de casa, dizia pra mulher: "Eu vou pra Maracangalha". 

Maracangalha era um lugarejo onde havia uma usina de açúcar, a Cinco Rios, em que Zezinho fazia negócios em 1955, Caymmi estava em casa, na rua Cesário Mota Júnior, em São Paulo, pintando um auto-retrato quando de repente veio-lhe à lembrança a frase de Zezinho.

Daí" - conta o compositor - "comecei a cantarolar a música e letra nascendo ao mesmo tempo: ‘Eu vou pra Maracangalha, eu vou / eu vou de liforme (uniforme) branco, eu vou / eu vou de chapéu de palha, eu vou...'; estava bom, eu estava gostando. Então continuei e quando cheguei à parte que diz ‘Eu vou convidar Anália', uma vizinha, dona Cenira, perguntou lá de sua janela para a minha mulher: - ‘Dona Stela, o que é que seu Dorival está cantando aí, tão bonitinho?' E Stela: - ‘Caymmi, dona Cenira quer saber o que é que você está cantando'. Respondi: ‘Estou fazendo uma música que fala de um sujeito, que sai de casa feliz para se divertir. Ele vai pra Maracangalha, vai convidar Anália...' ao que interrompeu a vizinha: ‘E por que o senhor não põe Cenira, em lugar de Anália?' Aí não dava mais pé. – ‘Fica pra outra vez, dona Cenira...', eu lhe disse, me desculpando".

Assim nasceu "Maracangalha", sem maiores pretensões, de uma só vez, ao contrário de outras composições de Caymmi em que ele passa meses, às vezes anos, burilando, aperfeiçoando. Nasceu e ficou guardada até o ano seguinte, quando o compositor voltou para o Rio e gravou-a na Odeon, com extraordinário sucesso, que se estendeu ao carnaval, para a sua surpresa. (http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/05/maracangalha.html)

A Alegria e a Simplicidade de 'Maracangalha'
A música 'Maracangalha', composta em 1956, é uma expressão da alegria e simplicidade da vida no interior da Bahia. A letra da canção é um convite à descontração e ao desapego das preocupações cotidianas, simbolizado pela viagem à Maracangalha, uma vila no estado da Bahia. O eu lírico expressa sua intenção de ir para Maracangalha vestido de forma simples e confortável, com 'uniforme branco' e 'chapéu de palha', elementos que remetem à vestimenta típica do nordeste brasileiro e à leveza do ser.

A repetição do verso 'Eu vou só!' enfatiza a determinação do personagem em desfrutar da viagem, mesmo que sua companhia, Anália, opte por não acompanhá-lo. Essa atitude reflete um espírito independente e a importância de se estar bem consigo mesmo, valorizando a própria companhia. A música também pode ser interpretada como uma celebração da liberdade individual e da capacidade de encontrar felicidade nas coisas simples da vida.

Dorival Caymmi, conhecido por suas canções que retratam o mar e a vida baiana, compõe em 'Maracangalha' um retrato lúdico e afetuoso do cotidiano e da cultura do povo baiano. A canção se tornou um clássico da música popular brasileira, sendo um exemplo da habilidade de Caymmi em capturar a essência da Bahia em suas melodias e letras. (https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/45579/significado.html

domingo, 23 de junho de 2024

Varal de Trovas n. 604

 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 115


O viver, quantas existências? 

A vida é feita de bem-querências, boas referências, essências, anuências, também reminiscências, mal-querências, solvências, pendências, excrescências, grandiloquências, flatulências, evidências, dependências, clarividências, prudências, benemerências, independências . . . 

Vida também de instâncias, relevâncias, abundâncias, consonâncias, circunstâncias, substâncias, inconstâncias, alternâncias, discrepâncias, fragrâncias, ganâncias, distâncias, vacâncias, vivências . . . 

Coincidências? Concordâncias? A vida é feita de -ências e - âncias, e o cronista segue enchendo as paciências sem importâncias. 

Fonte: Enviado pelo autor.

Vereda da Poesia = 42 =


Trova Humorística de Sete Lagoas/MG

WANDERLEY GUEDES DA SILVA

Um fantasma estarreceu,
espantou, gelou o sol.
Minha sogra apareceu
enrolada num lençol.
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Poema de Paranavaí/PR

DINAIR LEITE

Acordei

Hoje acordei...
Então vi há quanto tempo dormia
e não via a vida fluir...

Os momentos perdidos de viver
outro amor, outra vida, amores...

Eu me achava condensada
em paixão. Respirando você
que não olha e não vê esse amor
que envolve meu ser
me fazendo sofrer em anseios
de ter o meu corpo em seus braços
e sua boca, a minha, a beijar.

Acordei e deixei você ir.
Esvaziei o meu ser de você.
O meu ventre e o meu coração
nunca mais sofreram a carência
ilusão do sonhar...preencher
um vazio com ar.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MARILZA DE CASTRO

Pierrô
arlequim
colombina
amor
em
trilogia
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Soneto do Rio Grande do Sul

ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS, 1972 – 2007, Rosário do Sul/RS

A Travessia

 "O mundo é um moinho... " (Cartola) 

Todos nós temos corda onde agarrar,
A vida nos dá sempre uma saída
Que nos evite o risco de abismar
No medo natural da própria vida.

Por certo cada um pega o que pode:
Um amor, uma paixão ou mesmo um vício;
Um poema, um soneto ou uma ode,
Um portal com a cruz no frontispício,

Ou então, o que é pior, com um convite
Para entrar mas deixando a Esperança, 
Última paz que o mundo nos permite... 

Mas pra saíres vivo do moinho,
Não como Don Quixote e Sancho Pança,
Terás que atravessar a ti sozinho...
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Trova Premiada em Nova Friburgo/RJ, 1998

SELMA PATTI SPINELLI 
(São Paulo/SP)

Até no “terreiro” em prece,
é preguiçoso, o farsante: 
quando o “santo” dele desce,
só vem… de escada rolante!
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Poema de Lisboa/Portugal 

ARY DOS SANTOS
 1937 – 1984

Estigma 

Filhos dum deus selvagem e secreto
E cobertos de lama, caminhamos
Por cidades,
Por nuvens
E desertos.
Ao vento semeamos o que os homens não querem.
Ao vento arremessamos as verdades que doem
E as palavras que ferem.
Da noite que nos gera, e nós amamos,
Só os astros trazemos.
A treva ficou onde
Todos guardamos a certeza oculta
Do que nós não dizemos,
Mas que somos.
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Quadra Popular

Esta noite dormi fora, 
na porta do meu amor;
deu vento na roseira
me cobriu todo de flor.
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Soneto de Portugal

MANUEL DE ARRIAGA
(Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue)
Horta/Açores/Portugal, 1840 – 1917, Lisboa

Alvorada

      Algures brilha o sol no azul do firmamento,
      E expõe com resplendor das coisas o espetáculo!
      Aqui, na escuridão, o mundo é tabernáculo
      Onde os frágeis mortais descansam um momento!...

      Além, o Sol incita o mundo ao movimento,
      Á luta pela Vida, o esteio e o sustentáculo
      Desde o ser da Razão ao mínimo animáculo,
      Aqui, o sono esparsa em todos novo alento!

      Ó Luz! tu és do mundo a Força, a Alma, a Vida,
      A essência do meu Ser, a minha própria Ideia,
      O próprio Deus, talvez!... Beleza, Amor, Verdade!

      Atrás de Ti caminha a Terra, mãe querida!
      Bendito caminhar! Por Ti minha alma anseia!...
      Bem vinda sejas, pois, oh doce claridade!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

O trovador tá empolgado
e até troféu quer ganhar!...
O tema é “Mar” e eis o “achado”:
- És meu mar... mas não faz mar!
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Poema de Lisboa/Portugal

FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
1888 – 1935

Poema de amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala; parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
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Haicai de Pedro Leopoldo/MG

WAGNER MARQUES LOPES

Vão crescendo as plantas: 
amor de um agricultor 
a doar mãos santas. 
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Sextilha do Rio Grande do Sul

MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

O sextilheiro padece
para se manter na trilha,
ou a internet demora
para trazer a sextilha,
ou, quando menos espera,
traz duas, três, uma pilha…
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Trova de Saquarema/RJ

JOÃO COSTA

 Lá vou eu, de verso em verso
- seja suave ou dura a lida -,
compondo pelo Universo
o poema da minha vida!…
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Glosa de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

MOTE:
Se essa aventura sonhada
se tornasse realidade,
com a carícia esperada
viria a felicidade!
Carmen Patiño Fernandes 
Coruña/Espanha

GLOSA:
Se essa aventura sonhada
um dia chegasse ao fim,
a minha alma, apaixonada,
sinto, explodiria em mim!

Se esse sonho que sonhei
se tornasse realidade,
tu serias o meu rei
e eu a tua deidade!

Fico até emocionada,
ardendo no meu desejo,
com a carícia esperada
com o calor do teu beijo!

Quero te amar com paixão
pois o amor não tem idade,
com ele, ao meu coração
viria a felicidade!
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Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

chuva
chorando
tristeza
invade
minha 
alma 
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Soneto de Ilhavo/Portugal

DOMINGOS FREIRE CARDOSO

“As palavras perfumadas da confidência”
(Verso de Maria Goreti Andrade Carneiro Dias in “Textos de Amor", p. 40)

Palavras perfumadas de confidência
Dizias tu baixinho ao meu ouvido
E eu, delas tão sedento e atrevido
Ia perdendo, aos poucos, a inocência.

O amor ardia em nós com tal urgência
E como quase nada era proibido
Sem saber o caminho percorrido
Quase demos às portas da demência.

Dormem os nossos corpos saciados
Perdidos nos lençóis amarrotados
Envoltos numa paz que nos aquece.

Em redor tudo é calmo e é perfeito.
E eu sinto em mim que o mundo é o nosso leito
Como se nele nada mais houvesse.
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Trova Premiada em Bandeirantes/PR, 2020

ALBANO BRACHT 
Toledo/ PR

Decisão é coisa séria.
Convencido agora estou.
Quem concorda com miséria,
decidiu, mas não pensou.
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Poema de São Paulo/SP

RENATA PACCOLA

A espera angustia

A espera angustia.
Você para,
a mente se esvazia.
Aí você acende um cigarro,
começa uma poesia,
e alguém,
que você nunca viu,
começa a encará-lo.
Aí você perde o embalo,
fica sem graça,
coça o braço,
e olha para o outro lado.

A saudade angustia.
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Triverso de Curitiba/PR

ÁLVARO POSSELT

Esta vida é um mistério.
Perto da maternidade
também tem um cemitério.
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Setilhas para o Médico, de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Todo Médico ao se formar 
jura "Hipocraticamente" 
de todo mundo tratar 
com cuidado, infelizmente 
médico também se esquece, 
e quando isto lhe acontece, 
quem paga o pato é o indigente! 

Tirante a graça dos versos, 
sou mui grato ao "Doutor", 
que luta em campos diversos 
para amenizar a dor, 
seja do rico ou do pobre, 
um gesto deveras nobre, 
que o faz ser nosso credor!
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Trova de Curitiba/PR

JANSKE NIEMANN SCHLENKER

Acordei (tinhas partido)
e me deixaste na estrada:
um pobre arbusto perdido
sem luz, sem pranto, sem nada…
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Ramalhete de Trovas sobre Palhaço, de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

Quando o circo baixa a lona,
todo artista é feito o "clown":
cara em branco, bem pidona,
com tendência a ficar "down".
 
De carona num fusquinha,
com a mala colorida,
o palhaço é o "flanelinha"
no semáforo da vida.
 
Ao pintar o rosto pálido,
um Quixote em sofrimento
- o palhaço - torna válido
todo esforço contra o vento. 
 
O palhaço sempre insiste
numa alegre melodia,
sem saber que só existe
sua triste alegoria.
 
Palhacinho de mentira,
fui poeta de verdade,
que, no meio dessa lira,
foi embora da cidade.
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Poetrix de Belo Horizonte/MG

JUCINEIA GONÇALVES

esperança

Arranco pétala,
por pétala,
os mal-me-queres dessa vida
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Soneto de Portugal

DIOGO BERNARDES
Ponte da Barca, 1530 – 1594, ??

Da branca neve, e da vermelha rosa
O Céu de tal maneira derramou
No vosso rosto as cores, que deixou
A rosa da manhã mais vergonhosa.

Os cabelos (d’amor prisão formosa)
Não d’ouro, que ouro fino desprezou,
Mas dos raios do Sol vos os dourou,
Do que Cíntia também anda invejosa.

Um resplendor ardente, mas suave,
Está nos vossos olhos derramando
Que o claro deixa escuro, o escuro aclara;

A doce fala, o riso doce, e grave
Entre rubis, e perlas lampejando
Não tem comparação por coisa rara.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Ouça os sons da natureza:
as águas, pássaros, ventos...
- Que orquestra produz beleza
maior que esses instrumentos?
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Poema de Belém/PA

EDVANDRO PESSOATO

Tiro direto

Somos da mesma espécie: manos
Por isso não me ameace: me abrace
Por isso não me confunda: me comova
Por isso não me apague: me navegue
Por isso jamais me ate: desate-me
Por isso não me torture: me ame
Por isso não me desacate: me acate

Somos da mesma árvore: mãe
Por isso não me entristeça: cresça
Por isso não me arranque: me plante
Por isso não me exploda: nem me explore
Por isso jamais me negue: se entregue
Por isso não me recolha: escolha
Por isso não me acabe: me encante
Por isso não fure os olhos: abra-os
Por isso não me afogue: me acenda
Por isso e por tudo mais
Sejamos da mesma espécie: manos