segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Trova LXI

Montagem sobre foto de Belarmino Lopes

Carlos Motta (O Homem Insignificante)



1
Não era baixo nem alto. Nem gordo nem magro. Não ganhava bem nem mal.
Classe média, sustentava a família – mulher e filho - morando num apartamento de dois quartos, 55 metros quadrados, num bairro da periferia, comprado com a ajuda do sogro e do dinheiro do FGTS.

Almoçava fora de casa, ia ao trabalho no Palio 99 que levava uma vez por ano ao mecânico - de confiança – perto da padaria. Voltava só depois das 8 horas da noite. Comia alguma coisa que a mulher tinha feito no almoço, via o Jornal Nacional, lia a Folha, que comprava religiosamente na banca perto do emprego. Dormia um sono agitado, tinha a pressão alta, mas não consultava nenhum médico. Preferia o remédio que o farmacêutico lhe vendia, com a garantia de que era um lançamento, tiro e queda e tal. Consultava a bula e fingia sacar tudo aquilo que as letrinhas prometiam e advertiam.

2
O dia em que voltou para casa com o coração disparado, quase na boca, a adrenalina solta no corpo cansado, começou com nuvens e terminou com chuva.

E foi a chuva a responsável por tudo.

Se o asfalto da rua do posto de gasolina onde, por R$ 60 mensais guardava seu Palio, estivesse seco,
talvez,
muito provavelmente,
com certeza absoluta,
aquele Gol verde tivesse parado apenas poucos metros depois de ter as rodas travadas pela ação instintiva do seu motorista que meteu o pé no freio quando o moleque largou a mão gorducha da mãe e correu desembestado sabe-se-lá-para-que-direção apenas que era para onde não deveria ir ou seja: o meio da rua com o asfalto molhado e escorregadio.

A buzina estridente fez com que virasse a cabeça para a esquerda e fosse atingido de frente por pingos d’água agressivos e gelados. Aí, nesse instante, seu olhar se congelou numa cena de cinema, uma tragédia descolorida pelo anoitecer precoce devido às nuvens opressivas daquele dia úmido.

pensou

não pensou

e se atirou com toda a força que pôde ao encontro daquela figurinha de vermelho e verde e tão viva que se movia como um personagem desarticulado de desenho animado.

3
Ao tocar a campainha do apartamento no sexto andar não esperava que sua mulher fosse se atirar em seus braços e dizer eu te amo como nos filmes.

Nem que seu filho viesse lhe contar que era o melhor aluno da escola que custava mais que o salário mínimo por mês e não tolerava mensalidades atrasadas.

Nada disso.

Sabia que naquela noite o sofá desbotado,
as cadeiras meio bambas,
a parede de cor indefinida,
os talheres gastos,
o prato lascado,
a comida insossa,
as notícias velhas da televisão e do jornal
e até mesmo o beijo mecânico de sua mulher murcha
e sem graça e a indiferença ingênua de seu filho
raquítico e pálido
teriam um gosto único e especial.

Porque naquela noite ele não era o homem insignificante que acostumara toda a sua vida a ser.

Fonte:
MOTTA, Carlos. O riso frouxo do homem insignificante: 50 historietas tragicômicas. E-book, 2009.

Alma Welt (A Poetisa e sua Poesia)


O amor guardado

O primeiro amor, eternizado
É como se lançado no papel,
Se não com apuro cinzelado,
Que a paixão possui um bom cinzel...

Melhor se preservado na missiva,
Carta, se possível, ou o bilhete
Que acompanha o simples ramalhete
Fanado... na memória ainda viva.

O beijo, então, da despedida,
É sempre guardado numa arca
Para vir à tona bem mais tarde,

Quando a emoção que nele arde
Das cinzas dos lábios, sua marca,
Como a fênix recobra a sua vida.
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Revelações

O poeta em mim fixa no olhar
A condição perene do momento
E transforma a ação em pensamento
E em verbo o cenário do pensar.

A cor do gesto o olhar plasma
No exercício do diário poetar
Onde o ser comum deixa passar
Como se a ação fora um miasma.

Mas tudo permanece na retina
Como a daqueles mortos de terror
Que gravam a face do assassino

Na pupila que logo perde a cor
Assim que o detetive a examina
E revela como prova de um destino.
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Sonetos Gaúchos

Névoas

A neblina que paira sobre a estância
A revela em sua falsa letargia.
Dois séculos de espera e de constância,
Lhe fizeram firme e cega companhia.

Quem chega ao casarão e suas soleiras?
Que esporas já retinem na varanda?
Que olhos doces de casadas e solteiras
Lacrimejam e se abaixam como manda?

Na névoa revivem os áureos tempos,
Os risos e esperanças se renovam,
Ainda não se contam contratempos...

No salão Anita entra, e Garibaldi,
E tavez esta família já comovam
Que aqui não haverá quem deles malde.
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A prenda

Sou guria orgulhosa deste Pampa
Que ousa cantá-lo em verso e prosa.
Que digam que a caixa só destampa
Quando os grandes fazem sua glosa!

Evocando a valente farroupilha,
Os maiores já contaram seus revezes,
Mas não com a candura de uma filha
Como eu que a espero tantas vezes

Na soleira desta casa tão vetusta
E ilustre em sua anciã modorra
Que nada faz crer que um dia morra.

Ostentando pelo menos um punhal
Reencontro Anita e não me custa
Galopear junto dela o meu bagual...
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As Naus

Leiam estes meus versos, ó futuros,
Não despendia assim tanta energia
Em rimas, em palavras de poesia,
Não quisera eu transpor tais muros.

Não estaria brincando no serviço
Ao inventar assim tantos motetos...
Há muito notariam meu sumiço
Aqueles que invejam meus sonetos

Se não fosse aquele ilustre clero
De farrapos e de homens como Netto,
Escoltando-me ao meu verso completo.

Mas como Anita se lhe falta o italiano,
Vejam, nos meus versos eu lidero,
E arrasto naus em meio ao Minuano...
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Os errantes

As ocultas trilhas do meu pampa
Conduzem ainda ao meu portão,
E espectros saídos de sua campa
Assombram mesmo agora o casarão.

Não busco exorcizar ou demovê-los:
As velas são porque os quero bem
E procuro com meus versos comovê-los
Embora não me sinta sua refém.

Mas compartilho sim, a solidão,
De almas que malgrado sua paixão
Ainda erram e deixam suas prendas.

Eu mesma, a esperar Rodo, meu irmão
(que este vaga vivo em outras sendas),
Sou a novilha de um pródigo marrão...
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A cigarra

Quando chega o tempo das cigarras,
Eu que trabalhei como a formiga
Num romance, soltando as suas amarras,
Nem por isso dou ouvido à sua intriga.

Sou da raça daquela cantadora
E trabalhar pra mim é eufemismo.
Cantar, cantar, mesmo que amadora
Na glória do meu diletantismo!

Isso o é que faz feliz a pampiana
Sem os remorsos que me cobra
A lembrança da dura Açoriana...

Malgrado este prazer que quase aberra
Cantar, cantar a alma desta terra
E seu cenário ilustre... é minha obra!
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Alma Welt (1972-2007)

Pintura a óleo de Guilherme de Faria

Escritora gaúcha nascida em Novo Hamburgo, poeta lírica, grande sonetista (escreveu cerca de 700 belíssimos sonetos), deixou uma obra profícua e numerosa, constando de um romance autobiográfico inédito em quatro tomos denominado "A Herança" (dividido como quarteto com os seguintes títulos: A Herança, A Ara dos Pampas, O Sangue da Terra, A Vinha de Dioniso), e mais o romance intitulado "O Retorno dos Menestréis", ambientado no sertão nordestino de Pernambuco e Paraíba, numa mítica e divertida viagem a bordo do Pavão Misterioso.

Tem ainda quatro livros de contos: Contos da Alma, publicado em 2004 pela Editora Palavras & Gestos(de São Paulo); Contos Pampianos da Alma, Contos Secretos da Alma, e "Lendas da Alma" (este uma coletânea de lendas poéticas de sua invenção, de caráter europeu, góticas e misteriosas, ilustradas com desenhos a cores por Guilherme de Faria.

Além disso tem um livro de crônicas curtas (Crônicas da Alma). Sua obra poética, igualmente prolífica, conta com 49 livros de poesia, sendo 33 de sonetos (perfazendo cerca de 700 sonetos),e vem sendo publicada de maneira semi-artesanal, em folhetos dentro de uma caixa (Kit) de madeira, e ilustrados a cores com desenhos de Guilherme de Faria.

As duas últimas obras poéticas que escreveu são: um notável drama lírico formado por 42 sonetos (cenas) encadeados, inspirado por sua paixão por uma aluna e denominado "Sonetos à Mayra"; e os "150 Sonetos Pampianos da Alma" escritos no seu último mês de vida.

A autora, mulher jovem, belíssima e misteriosa, não se deixava fotografar, somente permitindo a divulgação de seus retratos em desenhos, gravuras e pinturas a óleo de Guilherme de Faria, seu "retratista autorizado", pintor paulista que a ilustrou, prefaciou, e editou, lançando-a no meio artístico paulistano a partir de 2001, quando a descobriu no seu auto-exílio paulistano, num ateliê de pintura estabelecido nos Jardins.

As circunstância notáveis desse encontro providencial foram narradas por ela no seu conto intitulado "Anagramas".

Alma suicidou-se aos 35 anos por afogamento, na sua estância pampiana, no auge de seu talento e beleza. Admirada pelo grande poeta Paulo Bomfim (que escreveu um prefácio para o próximo livro dela a ser publicado) e pelo famoso bibliófilo José Mindlin (que possui obras inéditas dela) começa agora a sua trajetória triunfante, como "a última grande lírica do século XX", Poeta e Musa ao mesmo tempo.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/

Alberto Araújo (O Poeta no Papel)


A última canção

Fazer não sabe a hora,
Cantar não sabe o momento,
Lançar não sabe a corrente,
Amar não sabe o instante,
Sofrer não sabe o tormento.

Cantar não sabe a hora,
Viver não sabe a vida,
Sorver não sabe a fonte,
Comer não sabe o trigo,
Correr não sabe a estrada.

Chegar na madrugada,
Descer no arco-íris,
Fugir no pé-de-vento,
Vingar no pé-de-morro,
Crescer sem esperança.
––––––––––––––––––––––-

Ampulheta do tempo

Escorre inclemente
Grão por grão,
No espaço-tempo,
De uma existência.

Qual dormente
De vagão em vagão
Passam os trens, no templo,
Do planeta substância.
––––––––––––––––––––––––-

As canções eternas

Certas canções que ouço
Parecem-me impregnadas do aroma
que a suave brisa perfuma
as tardes outonais
feito ainda moço
em acordes politonais

Certas melodias que ouço
Parecem-me vir de um veio que emana da terra
sussurro e soluço
de ritmos tribais
feito ainda como fera
em vocálicos ancestrais

Certas harmonias que ouço
Parecem-me ter um ritmo
que tem vida própria
como um algoritmo
feito ainda como cria
provoca ondas e rebuliço

Certas músicas que ouço
Parecem-me vir de um tempo distante
Em que as asas da imaginação
as lançam no poço
feito ainda como vibração
em busca de alegro e andante
–––––––––––––––––––––––––-

Cenas Infantis

Crianças brincam, sorriem
Emotivas, altivas, vibram
Navegam em seus barcos de papel, sonham
Artistas, pintam, a vida colorem
Sábias, criativas, inventam

Inocência, doce ingenuidade curtem
Novelo de linha e o horizonte, pipa soltam
Felicidade não ter idade ou maldade, vivem
Aventuras, jogos, tramas, brincam
Nos jardins se misturam às flores, perfumam
Trinam feito passarinho, cantam
Imagens de ternura e peraltice encantam
Sementes, fruto do amanhã, descobrem...

Dedicado a Schumann (ouvindo Cenas Infantis para Piano.),
–––––––––––––––––––

A Curva do Rio

Nas curvas do rio Araguaia
Muitas histórias de botos encantados
Habitam as margens e os sonhos
De mulheres ribeirinhas, em doce magia

Nas curvas do rio Amazonas
Encontram-se o rio Negro e o Solimões
Águas lado a lado no contraste das cores
No mistério das grandes florestas

Nas curvas do rio São Francisco
Do vale do Jequitinhonha a Juazeiro
As carrancas retratam mitos e crenças
Do povo que deposita no velho Chico suas esperanças.

Nas curvas do rio de nossas vidas
Nascentes são como capilares
Afluentes são como veias
Bacias são como artérias

Nas curvas do rio, etérea viagem
Navegando em nossa natureza interna
Ou nas corredeiras da natureza externa
Há sempre um sinal, um rito de passagem
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Sobre o Autor
Alberto José de Araújo é natural de Santanésia, distrito de Piraí, Rio de Janeiro. Tem por ofício a medicina, vive no RJ, dedica-se a cuidar das pessoas vítimas do tabaco e doenças respiratórias ocupacionais. Escreve desde os 12 anos sobre temas humanistas: espiritualistas, ambientais, político-sociais e românticos. É ativista dos movimentos sociais, atuando na Aliança de Controle do Tabagismo. Busca fazer da arte do verso uma ferramenta crítica que propicie reflexão e tomada de consciência para as mudanças sociais. Escreve sobre temas dentro do contexto histórico, social e político em que vive e labuta. Sonha ver a humanidade caminhar para um futuro de maior compromisso planetário, solidariedade e desenvolvimento da espiritualidade. O blog pessoal: http://ajaraujopoetahumanista.blogspot.com/

Fontes:
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/
http://ajaraujopoetahumanista.blogspot.com/

Dicionário do Folclore (Letra U)


UALALOCÊ. Flauta típica dos indígenas pertencentes à tribo dos parecis.

UALRI. Indígena velho iniciado por Turupari, a quem traiu, revelando o segredo dos instrumentos sagrados; razão pela qual, por ser odiado e impopular, foi queimado vivo e, de suas cinzas, nasceram insetos e répteis venenosos.

UARAPERU. Chama-se uaraperu o instrumento musical de sopro de algumas tribos amazônicas. O uaraperu é constituído por um pedaço de taboca, tendo o comprimento de um palmo. Possui uma abertura retangular no meio, por onde o tocador toca, abrindo ou fechando com os dedos, as duas extremidades abertas. O som do uaraperu serve para o pescador atrair os peixes, além de acordar as moças que dormem no fundo do rio.

UARIUAIÚ. É um bailado indígena representando a caça do uariuaiú, o macaco guariba.

UATAPI. É um instrumento musical da Amazônia, feito de búzio, também encontrado entre os índios amoipiras, do sertão baiano.

UATAPU. São chamados de uatapu os colares usados por homens indígenas, feitos de pedaços de conchas. É usado como ornamento em suas danças.

UBATÁ. Dá-se o nome de ubatá ao instrumento musical, que foi trazido pelos escravos africanos para o Brasil.

UBATUBANA. Ver FANDANGO.

UCA. É uma bebida baiana que se faz com os seguintes ingredientes: um litro de cachaça, meio litro de conhaque, uma xícara de casca de laranja, duas raízes de gengibre, uma colher de sopa de erva-doce. Modo de fazer: macera-se durante cinco dias e agita-se bastante no dia de filtrar.

UÇÁ. É um caranguejo grande, muito gostoso, engordado nos meses que não têm a letra R e que são maio, junho, julho e agosto.

UDECRÁ. Dá-se o nome de udecrá a um tipo de viola usada pela tribo indígena dos xerentes. O modelo da viola é de estilo europeu, também chamado de Udês-Hecrá.

UFUÁ. Dá-se o nome de ufuá, ao instrumento musical indígena do Amazonas. Parecido com uma trombeta, o ufuá é feito de taquara (bambu), no qual há um orifício com uma pequena taquara rachada. Produz um som fúnebre e fanhoso.

UIANA. Dá-se o nome de uiana à fase de agitação e toxidez da água dos rios da Amazônia, quando há oscilações da água logo após a vazante. Os peixes ficam inquietos e entorpecidos, começam a flutuar podendo ser apanhados com as mãos. Não se deve comer o peixe nem beber a água durante essa fase.

UIRAPURU. O uirapuru é um pássaro da região Amazônica. Dizem que, quando ele canta, todos os pássaros ficam calados para escutá-lo, tão mavioso é o seu canto. Preparado pelo pajé, o uirapuru torna-se um amuleto que faz atrair, ao seu dono, virtude e fortuna. Conhecido como a maravilha da mata, seu nome significa "pássaro pintado".

ÚLTIMO. Nos contos populares último é um número simpático. Assim, o último filho – o filho mais moço, o último dos cães – é o mais fiel e o mais forte, o cavalo último é o mais resistente. Diz-se que o último filho é superior ao primeiro filho (o primogênito), pois demora mais tempo na companhia dos pais, preferindo a bênção com pouco dinheiro à maldição com muito dinheiro. Até um velho provérbio assegura que ri melhor quem ri por último e os últimos serão os primeiros.

UMBANDA. No começo, os cultos de origem africana do Rio de Janeiro como na Bahia, trazidos pelos escravos africanos, chamavam-se candomblés, reconhecidas duas seções principais que eram os orixás (os cultos nagôs) e os alufás (os cultos muçulmanos). Depois, passaram a ser denominados por macumbas e, mais recentemente, umbanda.

UMBIGADA. É a pancada, de leve, que se dá com o ventre, nas danças de roda e que significa o convite ou a intimação para que o umbigado substitua o dançarino encarregado do solo, do canto. No fandango e no lundu, em Portugal, a umbigada tem o mesmo propósito, como também acontece na dança da punga, no Maranhão e nos cocos de roda ou bambelôs e até mesmo em certos sambas. Já no batuque paulista a umbigada aparece durante a dança e não como um convite à substituição de quem está cantando na dança de roda. A umbigada foi trazida para o Brasil pelos bantos, escravos africanos, que também trouxeram o batuque e o semba.

UMBIGO-DE-BOI. É um azourrague, muito flexível e resistente, feito com o umbigo do boi. Homero, na Ilíada, já se refere ao azourrague feito com o umbigo de boi.

UMBU. Veja IMBU.

UMBUZADA. Veja IMBU.

UNICORNE. É uma ave pernalta, do tamanho de um peru, que tem penas pretas, e que se alimenta de capim e de insetos. Tem chifre e esporas. Seu canto, na voz do povo, é assim: - "João Gomes, que tu comes? – minhoca, minhoca!"

URINA. 1. Na medicina popular a urina é usada assim: a) A urina da vaca, bebida em jejum, cura maleita; b) Lavar os pés com urina de gado cura frieiras; c) Passar urina de gado em impinges, cura; 2. No catimbó e na macumba, o povo acredita que a pessoa que urinar sobre um feitiço, anula-lhe todas as forças.

URSO. 1. Como é oriundo de clima frio, o urso não é muito citado nos nossos contos populares. Mas, na linguagem popular o urso é o amante da esposa e amigo urso é o amigo falso como também é falso um abraço-de-urso. Sonha com a morte a pessoa que sonhar com urso.E quando a mulher tem um filho diferente dos outros, o povo diz que ele é filho-do-urso. 2. O Urso ou La ursa faz parte do carnaval pernambucano. Um homem se veste de urso – com uma roupa feita de embirras e pano geralmente marrom ou preto e o outro é o domador. O urso dança e pede dinheiro às pessoas. Às vezes, o urso é acompanhado de uma pequena orquestra composta de bombo, sanfona, triângulo e reco-reco. Tudo começou com um italiano que, de passagem pelo Recife, se apresentava com um urso amestrado. Quando ele foi embora, outras pessoas aproveitaram a idéia para se fantasiarem de urso pelo carnaval e, daí, nasceu o urso, ou La ursa, até hoje.

URU. Cesto feito com palha de carnaúba.

URUBU. 1. O urubu camiranga tem a cabeça vermelha e o urubutinga tem a cabeça branca, além de outras espécies como o urubu-rei. Todos vivem de animais mortos e, de certa maneira, trabalham limpando o mundo de suas podridões. É uma ave solitária, egoísta. É esperto, sabido e raramente enganado nos nossos contos populares. Dizem que o urubu quando nasce é de cor branca; 2. Urubu-malandro é um passo do frevo pernambucano. O passista faz um jogo de pernas sem que os braços acompanhem os movimentos. Na linguagem popular, diz-se que a pessoa está lavando urubu quando está sem fazer nada, desempregada, azeitando o eixo do Sol.

URUCUBACA. Ou cafife, ou caiporismo, ou azar, ou sorte mesquinha, ou sorte torcida, ou má sorte, significa, como o próprio nome está dizendo, a falta de sorte no que a pessoa faz. A palavra urucubaca vem de urubu – ave de mau agouro e cumbaca, um peixe azarento que, se pescado estraga o dia do pescador. Para a pessoa se livrar da urucubaca, nada como dar uma pancada em qualquer móvel de madeira com as costas dos dedos da mão direita.

URUCUNGO. O urucungo, também conhecido por orucungo, oricungo, uricungo, ricungo ou mucungo, é um instrumento musical trazido pelos escravos africanos e consiste num arco de madeira, tendo um arame esticado entre suas extremidades. Numa de suas extremidades ou na metade do arame é presa uma pequena cabaça com uma abertura em forma de círculo. O instrumento é tocado percutindo a corda (o arame) com os dedos ou com uma vareta ou haste de metal. A cabaça é a caixa de ressonância colocada sobre o peito ou a barriga. O urucungo também é conhecido pelos nomes de berimbau, berimbau-de-barriga, marimbau, gabo, bucubumba, gunga, macungo, motungo e mutungo. É usado no jogo de capoeira. No Rio Grande do Norte são colocadas na cabacinha sementes secas que fazem o efeito de um maracá.

URUÇU. É uma abelha indígena que faz um mel delicioso, cuja cera, de cor castanho-clara, é excelente. O mel de uruçu foi muito usado nas farmácias antigas e, com ele, ainda são feitos o charuto (vinho com o mel de abelha uruçu) e a meladinha (mel de abelha uruçu com cachaça). É bastante usado na medicina popular, curando tosse, bronquite, rouquidão.

URUÉ. No Piauí, o urué é um negro falastrão que se junta com o Diabo para derrubar e amansar cavalos, sem nunca ser vencido por outro vaqueiro. Era conhecido como Barra Nova, mas ficou famoso como urué porque quando ia beber costumava dizer: - Vou matar arué! Um dia o Diabo tentou arrebatá-lo, mas urué salvou-se, mas ficou meio amalucado.

URUPEMA. É uma espécie de peneira, de uso popular no interior e de grande utilidade nas cozinhas nordestinas no preparo de muitos pratos. Serve para escorrer a maniva, o leite de coco, passar a massa do feijão cozido, da goma e sessar o milho, o arroz, a farinha. Tem origem indígena. Nas casas do Recife antigo as urupemas eram colocadas nas janelas, para que o sol não se penetrasse nas salas.

URURAU. É o nome que se dá ao jacaré que tem o papo amarelo, comum no Rio São Francisco.

URUTAUÍ. No Pará, corre a crença de que o urutaí faz com que as donzelas não sejam seduzidas. No interior, com as penas do rabo do urutauí varrem o chão sob a rede da noiva para sua honestidade como esposa seja garantida.

USINA. A usina, na agro-indústria do açúcar, acabou, em parte, com os pequenos engenhos bangüês, fabricantes de açúcar bruto, rapadura e cachaça. Os usineiros foram comprando as terras dos engenhos próximos à sua área de ação industrial, até que, atualmente, em grande parte do Nordeste, os engenhos que não foram comprados pelas usinas deixaram de moer e resumiram suas atividades apenas ao plantio da cana para vendê-la às usinas.
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O Dicionário completo pode ser obtido em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/dicionario-de-folclore
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Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de de outras linguas) Letra O


o altitudo!
Latim: Ó profundeza! São Paulo refere-se na Epístola aos Romanos à sabedoria e ciência divinas. Aplicam-se estas palavras, quando se trata de um mistério insondável.

obscurum per obscurius
Latim: O obscuro pelo mais obscuro. Vício de linguagem que consiste em apresentar alguma definição por termos menos conhecidos que os do enunciado.

oculos habent et non vident
Latim: Têm olhos e não vêem. O salmista fala no Salmo CXV, versículo 5, da cegueira dos ídolos, mas na linguagem popular aplicam-se estas palavras para significar a cegueira intelectual.

oderint dum metuant
Latim: Que me odeiem, contanto que me temam. Palavras tiradas do poeta Attius, citadas por Cícero, e que se aplicam às autoridades prepotentes e desconfiadas.

odi profanum vulgus
Latim: Detesto o vulgo profano. Na Ode I do Livro IV, versículo 1, Horácio mostra o seu desprezo pelos aplausos populares e o apreço pelos elogios dos homens de bom gosto.

o fortunatos nimium, si sua bona norint, agricolas
Latim: Ó demasiadamente felizes agricultores, se conhecessem a sua felicidade. Aplicam-se estes versos de Virgílio àqueles que gozam de benefícios que desconhecem.

o. K.
Inglês: Certo; correto. Corresponde à locução inglesa: all correct, tudo certo.

oleum perdidisti
Latim: Perdeste o teu azeite. Refere-se esta locução aos trabalhos realizados à noite, à luz dos candeeiros, demasiadamente exaustivos, e que não conseguiram bom êxito.

omne ignoto pro magnifico
Latim: Tudo que é desconhecido é tido por magnífico. A imaginação sente-se fascinada pelo desconhecido.

omne tulit punctum qui miscuit utile dulci
Latim: Ganhou todos os votos o que uniu o útil ao agradável. Unir, numa composição literária, o útil ao agradável, forma, segundo Horácio, a base do sucesso.

omne vivum ex ovo
Latim: Tudo que é vivo (provém) de um ovo. Aforismo citado pelo médico inglês Harvey.

omnia mecum porto
Latim: Trago comigo todas as coisas. Resposta do filósofo Bias, da Grécia, àqueles que, fugindo ao exército persa, se admiravam de ver o sábio sair sem nada levar. Para Bias só valiam as riquezas do espírito.

omnia serviliter pro dominatione
Latim: Tudo servilmente pelo domínio. Máxima que se aplica aos políticos inescrupulosos.

omnia vincit amor
Latim: O amor vence todas as coisas. Virgílio, nesta passagem, refere-se ao Amor personificado.

omnis cellula e cellula
Latim: Toda célula procede de outra célula, axioma de Biologia.

omnis homo mendax
Latim: Todo homem é mentiroso. Palavras do Salmo CXVI, de freqüente aplicação.

omnium consensu
Latim: Pelo assentimento de todos; por unanimidade; por voto universal.

onus probandi
Latim Direito: Encargo de provar. Expressão que deixa ao acusador o trabalho de provar (a acusação).

opus citatum
Latim: Obra citada. Geralmente empregada abreviadamente op. cit. e indica que oportunamente foi ou será citada a obra.

ora pro nobis
Latim: Roga por nós. Refrão repetido a cada invocação das ladainhas de Nossa Senhora e dos Santos.

ore rotundo
Latim: De boca arredondada. Referência à linguagem pomposa e alambicada.

o rus, quando ego te aspiciam!
Latim: Ó campo, quando tornarei a ver-te! Horácio sentia saudades da vida agreste.

o sancta simplicitas!
Latim: Ó santa simplicidade! Exclamação atribuída a João Huss, quando viu uma velhinha lançar uma acha de lenha à fogueira em que ele se consumia. Empregada em sentido irônico.

os homini sublime dedit
Latim: Deu ao homem um rosto elevado. Verso de Ovídio (Metamorfoses, I, 85), em que se salienta a superioridade do homem sobre os outros animais, que têm a cabeça voltada para a terra.

os magna sonaturum
Latim: Boca que proferirá grandes palavras. Horácio fala dos verdadeiros poetas que devem ter gênio e inspiração divina.

o tempora! o mores!
Latim: Ó tempos! Ó costumes! Exclamação de Cícero, contra a depravação de seus contemporâneos.

o terque quaterque beati!
Latim: Ó três e quatro vezes felizes! Circunlóquio virgiliano para dizer o superlativo de feliz.

otium cum dignitate
Latim: Descanso com dignidade. Expressão de Cícero aplicada aos letrados de seu tempo que dispunham de recursos para levar uma velhice inteiramente dedicada aos livros.
===================================
As outras letras:

LETRA A
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA B
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_07.html
LETRA C
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_21.html
LETRA D
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA E
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_28.html
LETRA F
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA G-H
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA I
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA J-L
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_21.html
LETRA M
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/07/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA N
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/07/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do_11.html

Fonte:
Por Tras das Letras http://www.portrasdasletras.com.br

domingo, 27 de setembro de 2009

Franzé Matos (Poesias Escolhidas)



Eis que surge o medo da vida e da morte
Sangrando horizontes, busco um norte
Para uma realidade que evanesceu

Perdido estou no apagar da chama
Clama agora uma infinidade de perguntas
Sem resposta! Sem resposta!
Chora o meu mundo interior
Um mundo em quem ninguém mais mora

Aos loucos fui jogado
E os chamei de companheiros
as perguntas do passado?
Fortaleza de um sem sentido passageiro

Sou portador de mim mesmo enjaulado
Busco a luz na noite fria
Para escapar da fugacidade
Da mudança eterna que se anuncia
Mas recrudesce um medo
Medo que não mais queria

As certezas aparentes
Anestesiadas dormentes
Com o tele-transportar para a prisão
Liberta o eu de dentro

Ser frágil e nu na vastidão
Um fiel descrente
Racional demente
De verdades em vão
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**************************
Desligado de tudo estou
Sou um contato raro com o fundo
Desnudo de tu estou
Escrevo as loucuras do mundo

Sou a voz que se cala
Quando tu fala
Não o tu outro
Mas tu que tem fala
Que me cala, que me prende
Descrente que ainda existo
Sou teu interior
Puro torpor em revolução
Degeneração do que sempre vias
Pois tudo é aparente
Dormentes segues
Se assim não te guias

Pergunta-me e te respondo
Da-me a mão e te dou um beijo
Mas basta um lampejo
Gracejo de mentiras
E por tempos não te vejo

Mas a vida é reação
Que por me esquecer
Faz-te a cada golpe sofrer
Por buscar verdades
Nas mentiras
Talhadas a sangue, fé e fogo
Mito, religão e filosofia

Feridas viram
cicatrizes de uma guerra interior
Que saram sem nunca desaparecer
Pois basta o medo reaparecer
E sempre estarei lá
“Vem! Sou teu amigo”
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Fonte:
O Autor

Nei Garcez (A Trova em Sala de Aula)



Gostaria muito de poder colocar uma biografia do grande trovador curitibano Nei Garcez mas, é mais fácil um boi voar do que conseguir isto dele. Então, coloco aqui suas trovas numa correspondência que me enviou no ano passado, onde coloca que, observando a necessidade de expor a poesia na sala de aula criou algumas trovas especialmente didáticas e lúdicas para esta finalidade, dando os primeiros passos com a "Trova em sala de Aula" (6ª e 7ª séries do fundamental).

Trago a trova estruturada,
que apresento hoje a vocês,
para ser utilizada
nas lições de português.

Quem consegue imaginar
nosso mundo sem a escrita,
sem podermos registrar
o que a nossa mente dita?

Nesta conta aqui, confira,
qual resultado que indica:
quem de vinte cinco tira,
me respondam, quanto fica?

Trova é pequena oração
com valor gramatical
igual, por comparação,
à prosa convencional.

Trova é rima de versos
que, com métrica, bem feita,
entre os temas mais diversos,
forma a estrofe assim perfeita.

O segredo de uma trova
está sempre na elisão,
pois é esta que comprova
sua grande precisão.

Toda trova se pratica
como andar de bicicleta:
se no início o tombo fica,
logo mais se torna atleta.

Pra fazer trova bem feita,
com melhor vocabulário,
eu vou dar minha receita:
usem sempre o dicionário.

Uma coisa desastrada,
e que muito compromete,
é escrever de forma errada
como ocorre na internet.
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Fonte:
O autor