quarta-feira, 16 de março de 2011

Cecília Meirelles (Romanceiro da Inconfidência)


Romanceiro da Inconfidência é uma coletânea de poemas da escritora brasileira Cecília Meireles, publicada em 1953, que conta a História de Minas dos inícios da colonização no século XVII até a Inconfidência Mineira, revolta ocorrida em fins do século XVIII na então Capitania de Minas Gerais.

Em 85 "romances", mais quatro "cenários" e outros de prólogo e êxodo, Cecília evoca primeiro a escravidão dos africanos na região central do planalto em episódios da exploração do ouro e dos diamantes no século 18; logo o centro da coletânea é dedicado ao destino dos heróis da chamada "Inconfidência Mineira" - Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, sua noiva e amada Marília de Dirceu bem como de outras figuras históricas implicadas no acontecimento, como D. Maria I a louca, na altura Rainha de Portugal.

Mais lírica do que narrativa, a obra assume o lado dos derrotados (transformados depois em heróis da Independência do Brasil) denunciando o sistema colonial que favorece a exploração dos desvalidos:
A terra tão rica
e – ó almas inertes! –
o povo tão pobre...
Ninguém que proteste!
(...) (in: Do animoso Alferes, Romance XXVII)

Estes branquinhos do Reino
nos querem tomar a terra:
porém, mais tarde ou mais cedo,
os deitamos fora dela
. (in: 'Do sapateiro Romance XLII)

A reinterpretação da história serve no entanto de ponto de partida para uma reflexão filósofica e metafísica sobre a condição humana. Surgindo Tiradentes como um avatar de Cristo e sofrendo o sacrifício do bode expiatório, ele se torna num redentor do Brasil, que abriria a nova era da liberdade. "Construindo com o Romanceiro da inconfidência um mosaico em que cristalizariam vibrações captadas na terceira margem da memória coletiva, Cecília consolidava uma teia de mitos suscetíveis de fortalecer o sentimento da identidade brasileira"(Uteza, 2006 : p. 294).

Podemos dividir os fatos que compõem o Romanceiro em três partes ou ciclos:

a) ciclo do ouro;

b) ciclo do diamante;

c) ciclo da liberdade ou inconfidência com sua ascensão e queda.

Aí parece haver uma gradação proposital: ouro/diamante/liberdade.

Como o ouro e o diamante, a liberdade brilhou intensamente nas Minas Gerais, mas como o ouro e o diamante, a liberdade só trouxe desgraças, masmorras e mortes....

a) Ciclo do ouro

O cenário colocado para o ciclo do ouro prenuncia também o ciclo da liberdade, no qual "a mão do Alferes de longe acena" como a querer dizer:

Adeus! que trabalhar vou para todos!...

Mas essa mão que acena à liberdade e ao homem livre será enforcada mais tarde. Por enquanto, vejamos o alvorecer do ouro que vai brilhar intensamente nas Minas Gerais, despertando a cobiça e ganância dos homens e, quem sabe, o sonho de liberdade dos inconfidentes que nasceria também do ouro da terra.

Descobre-se o ouro e, por causa dele, o homem vai matando animais, pessoas, florestas e tudo que lhe atravessa o caminho. Desbrava-se a mata. Surgem montanhas douradas de ouro e de cobiça que despertam uma verdadeira alucinação:

Selvas, montanhas e rios
estão transidos de pasmo.
É que avançam, terra adentro,
os homens alucinados.

(Romance I)

E gerações e mais gerações de netos afundariam nesse abismo:

Que a sede de ouro é sem cura,
e, por ela subjugados,
os homens matam-se e morrem,
ficam mortos, mas não fartos. (ib .ib)

Como o ouro que brota da terra, brotam também "as sinistras rivalidades", ladrões e contrabandistas, - um clima de intranqüilidade:

todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro.

(Romance II)

E por amor, pelo ouro, uma donzela é assassinada pela mão de seu pai. O ouro não permitia que a donzela acenasse a enasse a um amor "de condição desigual" o seu lencinho" de sonho e sal"

Surge Felipe dos Santos, que assanha a fúria do Conde de Assumar. É morto e esquartejado, mas o herói que tomba no Arraial do Ouro Podre ficará como exemplo perene de força e de coragem para os que virão.

O tirano conde haveria de chorar porque quem ri, chora também. O Brasil ainda era criança - um "menino" apenas. Nasceriam outros como Felipe dos Santos:

Dorme, meu menino, dorme,
- que Deus te ensine a lição
dos que sofrerem neste mundo
violência e perseguição
Morreu Felipe dos Santos;
outros, porém, nascerão.

(Romance V)

Cria-se o quinto do ouro, cobrado a ferro e fogo: a Coroa precisava de ouro. Há logros: D. Rodrigo César e Sebastião Fernandes enviam para a coroa caixotes selados com "grãos de chumbo" em vez de grãos de ouro.

Ai, que o Monarca procura
os que vão ser castigados.

E o "quinto falsificado" se tornaria o décuplo de forcas e degredos para a dourada colônia! Pela madrugada fria, rompe o canto do negro no serviço de catar o ouro, enquanto o patrão dorme e sonha. O negro pena e chora, canta e ri na saudade da serra, na imensidão da terra. E na sua vida escrava, ele erra sem terra, sem serra, sem nada:

(Deus do céu, como é possível!
penar tanto e não ter nada!)

(Romance VII)

O ouro lhe tiraria o "t" da terra e o "s" da serra e ele erra cativo, sem liberdade, com os elos de ferro da escravidão...

Mas o ouro que brotava da terra não cativara apenas o preto, como Chico, que também já fora rei "lá na banda em que corre o Congo": também os brancos foram atirados naquela lama que alimentava a ganância de reis e rainhas:

Hoje, os brancos também, meu povo,
são tristes cativos.

(Romance VIII)

Santa Ifigênia, princesa núbia, protetora dos negros, desce às minas "vira-e-sai", depois de amenizar o sofrimento deles.

As pessoas, por causa do ouro, iam-se embrutecendo: movido pelo ódio, um contratador, quase assassinou um ouvidor, dentro de uma igreja, porque este, enamorado, arremessara uma flor a uma donzela.
Os filhos do almotacé (inspetor de pesos e medidas), sete crianças, rezam diante de Nossa Senhora da Ajuda. Joaquim José é uma delas.

As crianças pedem à Virgem que o salve "do triste destino que vai padecer". Será em vão. A virgem não poderá atendê-los, mesmo sendo crianças. Mais forte do que um pedido de criança é o destino traçado para um homem! Mesmo sendo seis e irmãos do sentenciado!

(Lá vai um menino
entre seis irmãos.
Senhora da Ajuda,
pelo vosso nome,
estendei-lhe as mãos!)

(Romance XII)

O pedido agora (entre parênteses) é da poetisa à Virgem. Não será atendida: mais forte do que o pedido de um poeta é o destino traçado para um homem!

Mas, por enquanto, reina a bonança: "os tempos são de ouro". A tempestade virá depois, em 1792, com a execução.

Antes de chegar a forca, porém, outro metal brilhará intensamente nas Minas Gerais: os diamantes do Tejuco, depois Diamantina.

b) Ciclo do diamante

Continua a corrida alucinante. Agora é a vez do diamante nas regiões do Serro Frio e do Tejuco, onde vive o contratador João Fernandes, "dono da terra opulenta".

Chega às suas terras, com o fim de persegui-lo, o Conde de Valadares, homem enganoso e fingido. Hospeda na casa de João, que lhe abre a casa e o coração das mulatas, menos o de Chica da Silva. Sua riqueza é imensa e o fingido conde suspira de cobiça:

Deste tejuco não volto
sem ter metade das lavras,
metade das lavras de ouro,
mais outro tanto das catas;
sem meu cofre de diamantes,
todos estrelas sem jaça,
- que para os nobres do Reino
é que este povo trabalha!

(Romance XIII)

O romance XIV apresenta Chica da Silva no seu império de luxo, resplandecente de ouro e diamante. Comparada à rainha de Sabá, ela tinha mais brilho que Santa Ifigênia, a princesa núbia, em dias de festa:

(Coisa igual nunca se viu.
Dom João Quinto, rei famoso,
não teve mulher assim!)

Vendo o conde tão interessado pelo João, Chica cisma nessa falsa amizade e previne a João Fernandes:

Hoje, todo o mundo corre,
Senhor, atrás de riqueza.
(Romance XV)

Dito e feito: o conde, traindo a hospedagem de João Fernandes, leva-o preso, como Chica da Silva pressentira.

É a ambição do ouro (ou do diamante, que é sempre a mesma coisa) que a todos embriaga e corrói:

Maldito o conde, e maldito
esse ouro que faz escravos,
esse ouro que faz algemas,
que levanta densos muros
para as grades das cadeias,
que arma nas praças as forças,
lavra as injustas sentenças,
arrasta pelos caminhos
vítimas que se esquartejam!

(Romance XVII)

Os velhos do Tejuco, na sua experiência, pensam com a amargura na "febre que corta o Serro Frio". João Fernandes, que até então era senhor opulento, fora levado num navio "igual a um negro fugido", o que dá margem a esta reflexão da autora:

(Que tudo acaba!
Quem diz que montanha de
ouro não desaba?)

(Romance XVIII)

Acabara-se o tempo de João Fernandes e de Chica da Silva, cravejada de brilhantes. Mas:

Sobre o tempo vem mais tempo.
mandam sempre os que são grandes:
e é grandeza de ministros
roubar hoje como dantes
vão-se as minas nos navios...
Pela terra despojada,
ficam lágrimas e sangue.

(Romance XIX)

Mas o ouro e o diamante, que brilharam tão intensamente nas Minas Gerais, eram apenas prenúncio de um brilho maior. Um sonho milenar, um ideal de um sol que despertaria - o sol da liberdade que a todos iluminaria e que nem rei nem rainha, por mais despóticos que sejam, podem tirar do homem!

Não importa que haja eclipses de vez em quando: o sol sempre volta a brilhar depois de um eclipse...

c) Ciclo da liberdade

A poesia apresenta o cenário onde vão se desenrolar os fatos: enumeração, sobretudo, dos lugares e fixação na névoa que chega às ruas, move a ilusão de tempo e figuras e que trará, fatalmente, o pranto e a saudade:

A névoa que se adensa e vai formando
nublados reinos de saudade e pranto.

O "país da Arcádia", sediado na Vila Rica de outrora (Ouro Preto), com seus pastores e rebanhos, Nises, Marílias e Glauceste não passou de um ideal na literatura.

Pelos céus, nuvens negras de ódio e ambições ameaçam a doutorada terra de Ouro Preto: uma "nuvem de lágrimas" está prestes a desabar sobre "o país da Arcádia" - a "pastoral dourada":

O país da Arcádia,
súbito, escurece,
em nuvem de lágrimas.
Acabou-se a alegre
pastoral dourada:
pelas nuvens baixas,
a tormenta cresce.

(Romance XX)

E a Arcádia serena ficava cada vez mais carregada: agitação, correrias, ódio, ambições, países que se libertam, "a Europa a ferver em guerras". Portugal com uma rainha louca:

- um imenso tumulto humano.

As idéias fervilhavam as mentes de padres e poetas. Mas, por trás das janelas, ouvidos que escutam...

O país da Arcádia estava carregado de "idéias".

Um príncipe que morre, filho de D. MariaI, a rainha louca, em 1788, é também uma esperança que morre. Nas exéquias do príncipe, muita agitação. Alguma coisa está sendo tramada - "já ninguém quer ser vassalo" e:

A palavra Liberdade
vive na boca de todos:
quem não a proclama aos gritos,
murmura-a em tímido sopro.

(Romance XXIII)

Com pouco mais surgirá a bandeira da liberdade...

"Atrás de portas fechadas", os líderes de "fardas e casacas (= militares, poetas), junto com batinas pretas" discutem e planejam a inconfidência. A bandeira com seu lema é escolhida e há um sobressalto, quando se fala em liberdade:

E os seus tristes inventores
já são réus - pois se atreveram
a falar em Liberdade
(que ninguém sabe o que seja),
Liberdade - essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!)

(Romance XXIV)

Por causa dessa palavra - espinha dorsal do homem de todos os tempos - um rio de sangue está iminente: uma carta anônima que se recebeu "fala de rios propínquos / rios de lágrimas e sangue / que vão correr por aqui".

E na "semana santa de 1789", enquanto na França a liberdade rompia os grilhões da Bastilha, nas terras douradas de Minas, a mesma idéia se fermentava para ser depois enforcada, na pessoa de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes:

Deus, no céu revolto,
seu destino escreve.
Em baixo, na terra,
ninguém o protege;
é o talpídeo , o louco,
- o animoso Alferes.

(Romance XXVII)

Mas "no grande espelho do tempo", a poetisa vê também "o impostor caloteiro" Joaquim Silvério :

(quem em tremendos labirintos
prende os homens indefesos
e beija os pés dos ministros!)

(Romance XXVIII)

No "riso dos tropeiros" está colocado um aspecto de Tiradentes que a tradição confirma (inclusive um lira de Gonzaga), a loucura, pois:

falava contra o governo,
contra as leis de Portugal.

(Romance XXX)

Sem dúvida, essa loucura deve ser entendida de outra forma: a audácia de um homem que se levanta, sem força e sem armas, contra um governo despótico e tirânico. É o que parece querer dizer a poetisa, no Romance XXXI:

(Pobre daquele que sonha
fazer bem - grande ousadia -
quando não passa de Alferes
de cavalaria!)

É certamente por isso que "o povo todo seria", porque o povo nunca ri sem razão...
Aliás, neste sentido, é preciso também o depoimento do "cigano que viu chegar o Alferes", quando diz no Romance XXXIII:

(Fala e pensa como um vivo,
mas deve estar condenado.
Tem qualquer coisa no juízo,
mas em ser um desvairado.)

o Romance XXXIV, confrontando o delator Joaquim Silvério com Judas, a escritora conclui que aquele levou a melhor, pois ele (Judas) encontra remorso / coisa que não te (= a Silvério) acontece.

Fechando o romance, entre parênteses, há uma reflexão poética profunda, quando fala da "força de vermes", ou seja, dos delatores, dos maus, enquanto os bons apenas "sonham".

(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens
e a surda força dos vermes.)

Aliás, é o que ocorre também no romance "do suspiroso Alferes", onde há, igualmente, um lamento profundo sobre o comodismo do homem face à situação que o envolve:

(Todos querem liberdade,
mas quem por ela trabalha?)
(O humano resgate custa
pesadas carnificinas!
Quem more, para dar vida?
Quem quer arriscar seu sangue?)

E é exatamente esse comodismo, dos bons que é a força dos maus, dos traidores, dos déspotas da liberdade:

Mas os traidores labutam
nas funestas oficinas:
vão e vêm as sentinelas
passam cartas de denúncia...

Na "noite escura" de 10 de maio de 1789, prenderam o Tiradentes com seus pensamentos de liberdade. Há um lamento profundo de desespero e dor por estar sozinho na luta pela liberdade:

Minas da minha esperança,
Minas do meu desespero!
Agarram-me os soldados,
como qualquer bandoleiro.
Vim trabalhar para todos,
e abandonado me vejo.
Todos tremem. Todos fogem.
A quem dediquei meu zelo?

(Romance XXXXVII)

E o medo e a ansiedade se espalham por toda Minas Gerais. No fim do mesmo maio, prendem os outros suspeitos:

Andam as quatro comarcas
em grande desassossego:
vão soldados, vêm soldados;
tremem os brancos e os negros.
Se já levaram Gonzaga
e Alvarenga, mas Toledo!
Se a Cláudio mandam recados
para que se esconda a tempo!

Outros implicados menores vão sendo presos. Há "conversas indignadas" - há também "testemunha falsa". Há até mesmo um "embuçado" envolto em panos e mistério que pretende salvar o poeta Cláudio Manuel da Costa.

Mas todos terão seu fim.
O padre Rolim, famoso por suas safadezas, estava na iminência de ser preso. O problema era determinar o seu crime, já que, além da suspeita de inconfidente, era culpado também, segundo o falatório:

por ter arrombado a mesa
de um juiz, em certa devassa;
por extravio de pedras;
por causa de uma mulata;
por causa de uma donzela;
por uma mulher casada.

(Romance XLV)

Mas o padre, que não era nada bobo, enquanto as autoridades discutiam a sua prisão, "pulando cercas e muros", fugiu, levando consigo os seus sete pecados ou setenta -e sete...

Nos "seqüestros" das casas e bens, "tudo é visto e resolvido" pelos executores da lei, havia de tudo, até mesmo:

as sugestões perigosas
de França e Estados Unidos
Mably, Voltaire e outros tantos,
que são todos libertinos...

(Romance XLVII)

Antes de prosseguir no trabalho de dar fim aos inconfidentes, a autora interrompe a narrativa para fazer uma belíssima reflexão na Fala aos Pusilânimes, na qual condena os que não tiveram a coragem, a audácia de acender o pavio da chama da liberdade; os que sonharam e deixaram que seus sonhos fossem pelos espaços infindos, como bolhas etéreas...

Mas o fenômeno é eterno e universal - a estirpe dos pusilânimes sempre existiu e existirá na face da terra:

- só por serdes os pusilânimes,
os da pusilânime estirpe,
que atravessa a história do mundo
em todas as datas e raças,
como veia de sangue impuro
queimando as puras primaveras,
enfraquecendo o sonho humano
quando as auroras desabrocham!

E a liberdade que foi traída pela pusilanimidade dos que sonhavam com ela ficará gravada nos "céus eternos" como um eco sombrio que chama ao ajuste de contas e à condenação eterna:

O vós, que não sabeis do Inferno,
olhai, vinde vê-lo, o seu nome
é só - PULSILANIMIDADE.

mistério paira sobre o fim do poeta Cláudio, que é também a versão da história. Suicídio? Fuga? Rapto? - As dúvidas parecem justificáveis: Cláudio era secretário do governo e afilhado de João Fernandes. Daí o interesse por livrá-lo da masmorra e do desterro.

De qualquer modo paira o mistério:

Entre esta porta e esta ponte,
fica o mistério parado.
Aqui, Glauceste Satúrnio ,
morto, ou vivo disfarçado,
deixou de existir no mundo
em fábula arrebatado.

(Romance XLIX)

Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu da Marília, também tem fim sombrio na masmorra da Ilha das Cobras, interrompendo, assim, o enxoval de Maria Dorotéia (Marília) de quem era noivo.

Depois foi desterrado para as terras da África negra (Moçambique), onde se casa com Juliana Mascarenhas , deixando do outro lado do mar e da vida a pobre e inconsolável Marília a quem celebrara em inúmeras e ardentes liras de amor, em Marília de Dirceu.

Enfim, em questões amorosas, o homem é sempre um pombo enigmático...

Há dúvidas quanto à sua real participação na Inconfidência como procura demostrar Rodrigues Lapa em estudo a seu respeito. Aliás, o próprio Gonzaga em uma das liras de Marília de Dirceu procura se inocentar junto ao Visconde de Barbacena.

Cecília Meireles também deixa transparecer a mesma dúvida, ao indagar:

Inocente, culpado?
Enganoso? Sincero?

(Romance LV)

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado a 21 de abril de 1792, três anos depois de ser preso. Como atestam diversas passagens do Romantismo, era considerado louco por causa das idéias que tinha. Depois de morto, virou herói:

Que os heróis chegam à gloria
só depois de degolados.
Antes, recebem apenas
ou compaixão ou desdém.

(Romance XLIV)

A passos lentos, ele caminha sereno para o cadafalso onde o espera, um tanto aflito, o negro Capitania, que o executará. E diz o mártir:

Ò, permita que te beije
os pés e as mãos...Nem te importe
arrancar-me este vestido...
Pois também na cruz, despido
morreu quem salva da morte!

E o negro Capitania lamenta a sua sorte de carrasco oficial do grande sonho humano - a liberdade:

Vede o carrasco ajoelhado,
todo em lágrimas lavado,
lamentar a sua sorte!

(Romance LVIII)

Só um carrasco lavou-se em lágrimas! Os outros seriam lavados com o sangue daquele mártir que tombava...

O cenário agora era desolador e triste: nada mais restava dos sonhos e ideais pretéritos. Tudo fora destruído pelas mãos dos delatores da vida, porque a vida está na liberdade.

Tudo agora estava reduzido a "um chão sem ouro nem diamante". Nada mais brilhava nas terras douradas de Minas Gerais!

Também os tiranos tiveram o seu fim.

A rainha D. Maria I, que mandara executar os inconfidentes da sua coroa, acaba se tornando prisioneira do seu próprio destino: ela que executava tantos, com masmorras , desterros, forcas, torna-se prisioneira da loucura que é pior que qualquer masmorra, desterro ou morte de forca.

O destino agora se voltava contra a grande déspota da liberdade!

Ai, que a filha da Marianinha
jaz em cárcere verdadeiro,
sem grade por onde se aviste
esperança, tempo, luzeiro...
prisão perpétua, exílio estranho,
sem juiz, sentença ou carcereiro...
Terras de Angola e Moçambique,
mais doce é vosso cativeiro!

(Romance LXXIV)

Pela "comarca do Rio das Mortes (= S.João Del-Rei), Dona Bárbara Eliodora, "a estrela do norte" do poeta Alvarenga Peixoto, naufragava em lágrimas e mágoas: seu doce Alceu também fora desterrado para as longínquas terras d´África, em Angola (Ambaca).

Agora as amenas colinas de outrora, onde o gado pastava, onde as flores sorriam, onde os regatos corriam, onde os pássaros cantavam, eram um montão de ruínas e desolação ante o olhar magoado e amargurado da rica e poética Eliodora.

Pela "comarca do Rio das Mortes" também dormia o padre Toledo, "paulista de grande raça / mação, conforme o seu tempo".

Pela "comarca do Rio das Mortes" também passara e se fora Maria Ifigênia, fruto primaveril do casal Bárbara - Alvarenga:

Vai ver sua mãe demente
Vai ver seu pai degredado...

(Romance LXXVII)

Também Marília se desfigurou pelo tempo e pela Inconfidência. O seu retrato agora é o de uma mulher macerada pela dor:

já não pertence mais à terra:
é só na morte que está viva

Agora, tudo jaz em silêncio: amor, inveja, ódio, inocência, no imenso tempo se estão lavando, declara a poetisa na Fala aos inconfidentes mortos.

No horizonte eterno há de ficar sempre o anseio de liberdade, e só o purgatório do tempo está apto às ações vis e nobres dos homens da terra:

Quais os que tombam,
em crimes exaustos,
quais os que sobem

Fontes:
http://www.resumosdelivros.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romanceiro_da_Inconfid%C3%AAncia

Carnaval em Versos (Organização de Heloísa Crespo) Parte II


Organização: Heloisa Crespo
Campos dos Goytacazes/RJ.
heloisacrespo@gmail.com
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Neoly Vargas

Nos carnavais do passado,
dos arlequins, dos palhaços,
fui pierrô apaixonado,
que terminava em teus braços.

Nos carnavais de Veneza,
pelos salões encerados,
na festa dos mascarados.
dançam criado e duquesa
Marina Valente

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Hermoclydes S. Franco

"Não sou aquele Pierrot
nem você é a colombina...
Carnaval de camelô
é beijar a "concubina"!...

As cinzas da quarta-feira
são prantos de Carnaval...
Quanta menina faceira
trocou o "bem" pelo "mal"...
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Anna Servelhere

De Pierrot ou Colombina,
no salão ou junto ao povo,
com confete e serpentina
ou me acabo ou saio novo!

Arlequim e a Colombina
desfilando na Marquês
enrolada em serpentina,
far-te-á chorar de vez.

Nesses dias de folia
sem plumas ou paetês
sem ao menos fantasia
sei que vou ganhar você.

Carnaval, mais que folia,
nem precisa do exagero
é o extravazo de alegria
de quem sonha o ano inteiro.
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Sérgio Luís da Silva Vargas
É CARNAVAL

Hoje eu vou sair
Beber até cair
Me misturar na multidão
A noite está linda
E a lua convida
Meu bem abra seu coração.

Esqueça as mágoas
Enxugue estas lágrimas
E caia na folia.
Menina esta festa
Está boa à beça
Dê um viva à alegria

Se por acaso
Me encontrares na sarjeta
Não faça careta
Nem brigues, por favor,
Te deite comigo
E à luz das estrelas
Vamos fazer amor.
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Vânia Maria Souza Ennes

Desfilou lá na Avenida
Marquês de Sapucaí,
bebeu tanto, sem medida,
que acordou na UTI !!!

Carnaval e o “bicho pega”!
Batuque e samba no pé,
e a galera não se entrega,
sapateia e dá olé...!!!

Brasil, samba e carnaval
e os foliões tomam conta,
da festa descomunal,
quando a “escola”, enfim, desponta!!!
================================

Leda Montanari

Já cantando e requebrando
as cabrochas lá estão,
enquanto os homens babando
ficam cheios de tesão

Abram a roda, moçada
que a morena quer sambar;
os pés pisando a calçada,
olha a galera a vibrar!
===================

Francisco Neves Macedo
CARNAVAL DE ILUSÕES

Carnaval, explosão maior de uma alegria,
fantasia, pierrô no olhar da colombina,
“carne vale” e se vale, então a adrenalina,
tem a força total da carta de alforria.

O pandeiro dá o tom e o ritmo da harmonia,
parceria se faz com samba e dançarina,
uma porta-bandeira de alma feminina
a bailar sobre o asfalto, na coreografia.

O reinado de momo que nos fez sonhar,
sermos príncipes, reis para a escola ganhar,
bateria, no enredo e grande evolução.

Quarta-feira de cinzas, não tarda a chegar
na avenida deserta como a flutuar,
despertamos de um sonho: Foi tudo ilusão!
===================================

Larissa Loretti
POEMA DE CARNAVAL

Parodiando Raul Seixas,
eu sou-
aqui escrevendo um poema
dentro das minhas emoções
abismo e céu.
O verão lá fora
oh! Verão lá fora
nas utopias
o sol ardendo,
um escarcéu
nas alegrias
do carnaval.
Eu sou
marionete
que se perdeu
pelas esquinas
da Beijaflor
detrás da máscara
do edital
do dissabor,
eu sou
==========================

Dalinha Catunda
MULATA NO SAMBA


Não sou celebridade,
Nasci em comunidade,
O samba é minha paixão.
Com o samba tenho trato
Eu danço de salto alto
Ou mesmo de pé no chão.

Sou cabrocha faceira,
Passista de primeira
Acompanho a evolução,
E seguindo a bateria,
Mostro minha alegria
Sambando com emoção.

Não sou estranha no ninho
O samba é meu caminho
Tá no sangue, tá na raça.
Sou do Rio de Janeiro
No batuque do pandeiro
Sei mostrar a minha graça.

Pois foi descendo ladeira
E remexendo as cadeiras
Que aprendi a sambar.
Aprendi naturalmente
O jeito malemoente
De sambar e encantar.

Fontes:
Heloísa Crespo

Imagem = Neli Neto

Vicência Jaguaribe (14 de março, o Dia da Poesia)


Soube, pela Internet, que 14 de março, é o dia da poesia. E eu que, desde ontem, penso em minha mãe, cujo aniversário caía nesta data. Para mim, 14 de março era, até hoje, o dia do aniversário de minha mãe. E só.

Não sabia que havia o Dia da Poesia, como há o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Dia do Comerciário, o Dia do Médico, e outros dias mais. A lista deve ser imensa e não vale a pena pesquisá-la. Sei, sim, que há o Dia do Livro e o Dia do Livro Infantil. Mas o Dia da Poesia é novidade para mim. Assim, vamos acabar achando a coisa mais natural do mundo exigir — de quem, não sei — um Dia do Romance, um Dia do Conto, um Dia da Crônica. E por aí vai. Acho que os trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas do ano não dão mais para festejar tanto Dia.

Um dia dedicado à poesia! Talvez seja por isso que o mundo anda tão sem sensibilidade, tão frio, tão carente de beleza e de calor humano. Talvez seja por isso que as pessoas não se dizem mais palavras doces — nem salgadas. As pessoas não se falam mais. Não se pode ter o “Dia da Poesia”. A poesia deve estar presente na vida humana todos os dias, para evitar-lhe o ressecamento, a robotização e a sujeição ao material, à rotina, à mesmice. Só a palavra da poesia quebra os grilões da palavra do cotidiano, que nos sujeita por estar a serviço do poder.

Na aula inaugural da cadeira de semiologia literária, do Colégio de França, pronunciada no dia 7 de janeiro de 1977, Roland Barthes ensina que a língua “não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista, pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”. Para libertar-se dessa dominação é que o homem faz literatura, que é um “trapacear com a língua, trapacear a língua”: “Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura”.

Eu diria que, no interior da literatura, a palavra da poesia é a que mais trapaceia a linguagem; é a que mais a revoluciona; a palavra que mais se afasta do poder, fazendo um trabalho de deslocamento em relação à palavra do cotidiano. Não é à toa que Jean Cohen, em A plenitude da linguagem, nos diz que “a função poética não apenas tolera, mas exige mesmo a transgressão dessas normas [as normas da língua]. A linguagem ‘normal’ não é, portanto, a linguagem ‘ideal’. Muito pelo contrário, pois é na sua destruição que assenta a instauração do que Mallarmé chamava a ‘alta linguagem’”.

A palavra poética é capaz de dizer o indizível. É capaz de revelar o que está dentro da alma humana sufocando-a. A palavra poética arranca a fórceps a palavra que não quer ou não pode sair. É disso que fala a poetisa Mônica Magalhães Cavalcante no poema

Compartilhamento

Só o poeta escuta
Uma voz outra,
A dor oculta
Que a palavra insulta.

Só o poeta entende
O grito contido,
O olhar reticente
Que a rima pretende.

Só o poeta proclama
A poesia não-dita,
O amar de quem ama
Que este (re)verso reclama.

Sendo a voz daquele que não sabe ou não pode falar da sua dor, o poeta tem a capacidade de salvar do sufocamento, por meio de sua palavra mágica. Sim, a palavra da poesia é uma palavra mágica, que transforma, em um trabalho de alquimia, o vômito em essência olorosa. Sobre esse poder misterioso que se evola da poesia fala Mário Quintana em

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

e Roseana Murray em

Lamparina

mais que promessa de luz
ardendo secreta
lamparina de quebrar a noite
geografia oculta de água
e cristal
poesia é pano de forrar
a alma
no meio do vendaval

É exatamente pela capacidade mágica que tem a palavra poética de nos trazer alívio, salvar-nos do afogamento interior, tirar-nos do ambiente infecto e insalubre da rotina, libertar-nos da palavra escravizadora do cotidiano, que defendo não um Dia da Poesia, mas uma constância da palavra poética em nossas vidas. Ela nos desperta para a beleza do mundo, que nossos olhos não mais alcançam. Ela nos faz ver o mundo, a natureza, as pessoas com o olhar virgem do estrangeiro, que chama nossa atenção para o que nossos olhos cansados de olhar sem ver não conseguem enxergar.
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Fonte:
A Autora

terça-feira, 15 de março de 2011

Irene Zanette de Castañeda (Poeta, o que é Poetar?)


“O coração do poeta é complexo/Sem coerência e sem nexo/Ora se mostra agnóstico/Disfarça sua emoção.../Ora se rende/Ao deus da sua razão/ Ora se torna pernóstico,/Mente com todo o cinismo/ A dor do seu coração/Finge sofrer de amor/Perde-se em seu ilogismo/Simulando sua dor.” (Lenya Terra)

Poetar é revelar comportamentos poéticos. É um eu lírico construindo poemas. É criar e reagir ao que lê, vivendo.É movimentar os sentimentos, a memória, as ideias, as fantasias. É penetrar nos arquétipos. É engrenar a sensibilidade com a maça encefálica mediada pela espiritualidade. É afugentar as neuroses invertendo a ordem das palavras. É criar um produto elevado, dinâmico, interno que se chama alma do verbo e com ele crescer como ser humano. É liberar os sentimentos lubrificados pelas ideias. É expressar os pensamento sem espasmos, em gemidos eternizados num respirar carregado da mais sublime emoção. É saborear em sonhos, mesmo cansado, o calor no labirinto de doces beijos. É abrigar o fogo, a sedução dentro do peito. É juntar corpo e alma num enlace musical como as cordas de uma mágica harpa produzindo o encanto, a doce melodia que diviniza o ser feito de pedra, mas que sangra em palavras com o leve toque destes dedos. É o calor que emanada alma sentida, desencantada da vida à espera daquele amor que não veio. É a plenitude dos rios de paixão correndo dentro do peito. É o fecundar das palavras em cio nas noites enluaradas com sonhados e quentes beijos. É descobrir e fertilizar com amor os tipos móveis ao dedilhar o teclado apaixonado sob os olhos como alquimia de um desejo. É imprimir no coração estas calorosas palavras que estão à espera de outras. Ah! Se elas fossem quentes, mas elas estão presas em alguma boca seca, incapaz de proferi-las como a beleza mística que desnuda a pele, penetra o sangue e movimenta todas as células. É chegar à apoteose das sensações que a vida oferece quando se envolve o amor e um longo beijo. É juntar o céu e a terra com a doçura da fruta madura, invisível aos olhares desérticos, que não conseguem saborear o delicioso sonhado néctar dos deuses. É ter o luxo não só de transcrever tudo isso, mas de viver a loucura do mais fantástico e vibrante desejo: amar.

Fontes:
Poetas del Mundo.
Imagem = http://www.corujando.com.br/cirandas/jul_2008/ciranda_ah_o_poeta.htm

Tchello d’Barros (Decálogo da Alienação Literária)


Conversando recentemente com um poeta da região, que já conta com alguns títulos publicados e hoje busca recursos para publicar seus livros inéditos, o mesmo deixou escapar que “_Hoje em dia, vender um livro é quase um milagre!”

Diante disso, não obstante os diversos eventos literários em espaços culturais, praças, escolas, campanhas de incentivo à leitura, mini-feiras do livro, saraus e tertúlias de poesia, e tantas outras formas que os literatos têm criado para aproximar a comunidade aos artistas das letras, que há muito desceram de uma suposta e inacessível torre de marfim, ainda assim, há uma invisível e silente resistência contra as letras locais, regionais e estaduais.

Não basta que os autores da região tenham suas publicações nas bancas e livrarias, é preciso haver o interesse da sociedade na aquisição de tais livros, privilegiando a literatura local, que não é outra coisa senão um reflexo do imaginário de nosso lugar e de nossa época. Nada contra os best-sellers importados e também não se trata de uma questão mercantilista meramente comercial, falamos aqui de comportamento cultural e social em cujo viés divido um mea culpa muito pessoal, expresso no seguinte decálogo:

1) Quantos livros de autores locais há em minha casa?
2) Já entrei numa livraria com a intenção de adquirir livro de algum de nossos poetas?
3) Já presenteei alguém com algum volume que conta a história de nossa terra e nossa gente?
4) Considerando-se que os eventos culturais são todos gratuitos e abertos ao público, alguma vez fui prestigiar um lançamento?
5) Eu possuo algum livro autografado?
6) Sei de memória algum poema de autor local?
7) Conheço algum autor dos vários gêneros literários da região, a saber: poesia, conto, crônica, ensaio, dramaturgia, romance e historiografia?
8) Conheço a biografia ou coleciono as obras de algum escritor?
9) A literatura já foi tema de diálogo em conversas com amigos?
10) O que eu já fiz nesta vida para prestigiar ou incentivar a literatura em minha cidade?

Para elucidar um pouco tais inquisições, não seria demais lembrar daquela máxima bíblica propagada no axioma popular “santo de casa não faz milagre”, para apontar que atualmente vários desses mesmos autores regionais tem sua obra divulgada via internet para outros países que falam nossa língua; Que obras locais estão sendo traduzidas para outros idiomas; Que literatos da região estão participando das Bienais do Livro no eixo Rio-São Paulo; Que têm dado entrevistas em rede nacional; Que têm obras distribuídas em outras regiões do país e assim por diante. E apesar do baixo preço cobrado por essas publicações, ainda assim é quase um milagre alguém adquirir um livro por aqui.

Ninguém me obriga a comprar o livro do poeta fulano, do contista beltrano ou da romancista sicrana e posso até me eximir de contribuir para o nosso processo cultural, mas de uma verdade não posso escapar: as civilizações passam e o que permanece delas é sua cultura.

Fonte:
www.escritoresdosul.com.br

Lygia Fagundes Telles (Lua Crescente em Amsterdam)

Amsterdan à noite
O jovem casal parou diante do jardim e ali ficou sem palavra ou gesto, apenas olhando. A noite cálida, sem vento. Uma menina loura surgiu na alameda de areia branco-azulada e veio correndo. Ficou a uma certa distância dos forasteiros, observando-os com curiosidade enquanto comia a fatia de bolo que tirou do bolso do avental.

- Vai me dar um pedaço desse bolo? - pediu a jovem estendendo a mão. - Me dá um pedaço, hem, menininha?
- Ela não entende - ele disse.

A jovem levou a mão até a boca.

- Comer, comer! Estou com fome - insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. - Quero comer!
- Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.

A menina foi se afastando de costas. E desatou a correr pelo mesmo caminho por onde viera. Ele adiantou-se para chamar a menina e notou então que a estreita alameda se bifurcava em dois longos braços curvos que deviam se dar as mãos lá no fim, abarcando o pequeno jardim redondo.

- Um abraço tão apertado - ele disse. - Acho que este é o jardim do amor. Tinha lá em casa uma estatueta com um anjo nu fervendo de desejo apesar do mármore, todo inclinado para a amada seminua, chegava a enlaçá-la. Mas as bocas estavam a um milímetro do beijo, um pouco mais que ele baixasse... A aflição que me dava aquelas bocas entreabertas, sem poder se juntar. Sem poder se juntar.
- Mas que língua falam em Amsterdã?

A língua de Amsterdã - ele disse enfiando os dedos nos bolsos da jaqueta, à procura de cigarros. - Teríamos que morrer e renascer aqui para entender o que falam.

- Queria tanto aquele bolo, não sente o cheiro? Queria aquele bolo, uma migalha que fosse e ficaria mastigando, mastigando e o bolo ia se espalhar em mim, na mão, no cabelo, não sente o cheiro?

Ele limpou nas calças os dedos sujos da poeira de fumo que encontrou nos bolsos.

- Vamos dormir aqui. Mas vê se pára de chorar, quer que venha o guarda?
- Quero chorar.
- Então chora.

Molemente ela se recostou numa árvore. Enlaçou-a. Os cabelos lhe caiam em abandono pela cara mas através dos cabelos e da folhagem pôde ver o céu.

- Que lua magrinha. É lua minguante?

Ele avançou até o meio da alameda e expôs a cara que se banhou na luz do céu estrelado.

- Acho que é crescente, tem o formato de um C. Vem, querida, ali tem um banco.
- Não me chame mais de querida.
- Está bem, não chamo.
- Não somos mais queridos, não somos mais nada.
- Está certo. Agora vem.
- O banco é frio, quero minha cama, quero minha cama - ela soluçou e os soluços fracamente se perderam num gemido. - Que fome. Que fome.
- Amanhã a gente...
- Quero hoje! - ela ordenou endireitando o corpo. Voltou para ele a face endurecida. - Se você me amasse mesmo, faria agora um ensopado com seu fígado, com seu coração. Meus cachorros gostavam de coração de boi. Não vai me fazer um ensopado com seu coração, não vai?
- Meu coração é de isopor e isopor não dá nenhum ensopado. Li uma vez que - ele acrescentou. Puxou-a com brandura: - Vem, Ana. Ali tem um banco.
- Meu coração é de verdade.

Ele riu.

- O seu? Isopor ou acrílico, na história que li o homem achou que tinha tanto sofrimento em redor, mas tanto que não agüentou e substituiu seu coração por um de acrílico, acho que era acrílico.
- E daí?

Ele ficou olhando para os pés enegrecidos da jovem, forçando as tiras das sandálias rotas. Subiu o olhar até o jeans esfiapado, pesado de poeira.
- Daí, nada. Não deu certo, ele teria que nascer outra coisa.
- Você sabia contar histórias melhores. Sob a camiseta de algodão transparente os pequeninos bicos dos seios pareciam friorentos. E não estava frio. Foram escurecendo durante a viagem, ele pensou. Qual era a Ana verdadeira, esta ou a outra? A que jurou amá-lo na terra, no mar, no braseiro, na neve, debaixo da ponte, na cama de ouro.
- Você mentiu, Ana.
- Quando? Quando foi que menti?

Ele desviou o olhar desinteressado.

- Vem, que amanhã a gente vai ver o museu de Rembrandt, lembra? Você disse que era o que mais queria ver no mundo.
- Tenho ódio de Rembrandt.
- Não esfregue assim a cara, Ana. Você vai se machucar.
- Quero me machucar.
- Então se machuque. Mas vem.
- Minhas unhas eram limpas. E agora esta crosta - gemeu ela examinando os dedos em garra. Limpou a gota de sangue que lhe escorreu do arranhão aberto no queixo. - Confessa que quer seguir sozinho a viagem, que quer se ver livre de mim!

Nem isso. Não queria nada, apenas comer. E mesmo assim, sem aquele antigo empenho do começo. Gostaria também de sair dançando, a música leve, ele leve e dançando por entre as árvores até se desintegrar numa pirueta.

- Você disse que seria a menina mais feliz do mundo quando pisasse comigo em Amsterdã.
- Tenho ódio de Amsterdã. Eu era tão perfumada, tão limpa. Me sujei com você.
- Nos sujamos quando acabou o amor. Agora vem, vamos dormir naquele banco. Vem, Ana.

Ela puxou-lhe a barba.

- Quando foi que fiquei assim tão imunda, fala!
- Mas eu já disse, quando deixou de me amar.
- Mas você também - ela soqueou-lhe fracamente o peito. - Nega que você também...
- Sim, nós dois. A queda dos anjos, não tem um livro? Ah, que diferença faz. Vem.
- O banco é frio.

Quando ele a tomou pela cintura, chegou a se assustar um pouco: era como se estivesse carregando uma criança, precisamente aquela menininha que fugira há pouco com seu pedaço de bolo. Quis se comover. E descobriu que se inquietara mais com o susto da menina do que com o corpo que agora carregava como se carrega uma empoeirada boneca de vitrina, sem saber o que fazer com ela. Depositou-a no banco e sentou-se ao lado. Contudo, era lua crescente. E estavam em Amsterdâ. Abriu os braços. Tão oco. Leve. Poderia sair voando pelo jardim, pela cidade. Só o coração pesando - não era estranho? De onde vinha esse peso? Das lembranças? Pior do que a ausência do amor, a memória.

- E onde estão os outros? Para a viagem? Você não disse que era aqui o reino deles? - perguntou ela dobrando o corpo para a frente até encostar o queixo nos joelhos. - Tudo invenção. Isso de Marte ser pedregoso, deserto. Uma vez fui lá, queria tanto voltar. Detesto este jardim.
- Perdemos o outro.
- Que outro?

A voz dela também mudara: era como se viesse do fundo de uma caverna fria. Sem saída. Se ao menos pudesse transmitir-lhe esse distanciamento. Nem piedade nem rancor.

- Você sabia, Ana? Algumas estrelas são leves assim como o ar, a gente podia carregá-las numa maleta. Uma bagagem de estrelas. Já pensou no espanto do homem que fosse roubar essa maleta? Ficaria para sempre com as mãos cintilantes, mas tão cintilantes que não poderia mais tirar as luvas.
- Olha minhas unhas. Até a menininha fugiu de mim - queixou-se ela enlaçando as pernas.
- Desconfiou que você ia avançar no seu bolo.
- Olha minhas unhas. Será que aqui também dão comida em troca de sangue? -
- Não sei.
- Uma droga de comida. Aquela de Marrocos - disse ela esfregando na areia a sola da sandália.
- Nosso sangue também deve ser uma droga de sangue.

O silêncio foi se fazendo de pequenos ruídos de bichos e plantas até formar um tênue tecido que perpassava pela folhagem, enganchava-se imponderável numa folha e prosseguia em ondas até se romper no bico de um pássaro.

- Queria um chocolate quente com bolo. O creme, eu enchia uma colher de creme que se espalhava na minha boca, eu abria a boca...

Abriu a boca. Fechou os olhos.

Ele sorriu:

- Estou ouvindo uma música, a gente podia dançar. Se a gente se amasse a gente saía dançando.

Ela levantou as mãos e passou as pontas dos dedos nos cabelos. Na boca.

- E agora? O que acontece quando não se tem mais nada com o amor?

Quase ele levou de novo a mão no bolso para pegar o cigarro, onde fumara o último?

- Sopra o vento e a gente vira outra coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Não quero é voltar a ser gente, eu teria que conviver com as pessoas e as pessoas - ele murmurou. - Queria ser um passarinho, vi um dia um passarinho bem de perto e achei que devia ser simples a vida de um passarinho de penas azuis, os olhinhos lustrosos. Acho que queria ser aquele passarinho.
- Nunca me teria como companheira, nunca. Gosto de mel, acho que quero ser borboleta. É fácil a vida de borboleta?
- E curta.

O vento soprou tão forte que a menina loura teve que parar porque o avental lhe tapou a cara. Segurou o avental, arrumou a fatia de bolo dentro do guardanapo e olhou em redor. Aproximou-se do banco vazio. Procurou por entre as árvores, voltou até o banco e alongou o olhar meio desapontado pela alameda também deserta. Ficou esfregando as solas dos sapatos na areia fina. Guardou o bolo no bolso e agachou-se para ver o passarinho de penas azuis bicando com disciplinada voracidade a borboleta que procurava se esconder debaixo do banco de pedra.

Fonte:
TELLES, Lygia Fagundes. Mistérios. 4a. Edição. Nova Fronteira, 1981.

Carlos Leite Ribeiro (Teimoso & Teimosa)


Foi há muito tempo. Naquele dia...

Último encontro de dois seres que se amavam, mas como eram muito teimosos e muito orgulhosos, nunca conseguiram encontrar a fórmula que harmonizasse as suas naturais divergências.

Tal teimosia deu origem a um afastamento que tudo indicava ser definitivo.

Ela - "...tu não me apareças mais à minha frente, nem procures veres-me mais, porque eu para ti morri - entendeste? Morri!... Se por acaso, alguma vez, me encontrares na rua, por favor, muda logo de passeio e nem de soslaio olhes para mim! Nunca te esqueças, disto que te digo!"

Ele - "O que disseste também se aplica a ti, e mais, nem pensamentos em mim te autorizo a teres, porque eu não preciso, nem precisarei de ti para nada. Nada - entendeste?!... Nada! Agora, desaparece da minha vista para sempre - mulher malvada! Para sempre!
......

Passados alguns meses ambos casaram com namoros que entretanto tinham arranjado.

Foram viver para terras diferentes e nunca mais se encontraram.

O ódio que votaram um ao outro, tinha surgido efeito. Mas... Há sempre um mas...
......

Estávamos na véspera do Natal.

À porta de um supermercado, Ele, hesitou mas por fim resolveu entrar para fazer as compras que ainda lhe faltavam. Já estava quase aviado, quando ao passar por um corredor, avistou uma prateleira com bolos de rei. Ergueu o braço para ir buscar um, ao mesmo tempo que uma senhora teve a mesma ideia e fez o mesmo gesto. Resultado: o mesmo bolo que ambos agarraram caiu-lhes a seus pés, e ambos, ao tentar apanhá-lo, com a precipitação, chocaram com as cabeças um do outro...

Ainda massageando as cabeças, ambos olharam um para o outro.

Ela - Olha!... Que fazes tu aqui? - perguntou-lhe muito admirada.

Ele – Faço o mesmo que tu. Mas noto que continuas a teres a cabeça muito rija!

Ela – Oh menino, isso pode eu dizer de ti; olha o "galo" que me fizeste na cabeça... – Disse-lhe Ela enquanto afastava o cabelo para lhe mostrar um inchaço que já começava a notar-se - e continuou:

Ela - Com tantos estabelecimentos que para aí existem, tinhas que vir hoje e à mesma hora que eu também vinha, a este... É preciso ter azar!

Engrossando um pouco a voz, respondeu-lhe:

Ele: - Se eu soubesse que estavas aqui, nem nesta rua teria passado. Nem nesta terra! Que pouca sorte a minha! Bem, em que ficamos: levas o bolo ou levo eu?

Olhando-o de soslaio, disse-lhe:

- Sim, eu vou tirar o meu bolo. Quero lá saber se tu também tiras ou não o teu! E para já, a conversa acabou. Feliz Natal, passa muito bem, que não foi prazer nenhum ter-te encontrado!

Ele sorriu. Apesar dos anos, Ela, continuava "espevitada" como era dantes. E também continuava muito bonita... Por casualidade, tinha sabido há pouco tempo que ela também tinha enviuvado. Marotamente procurou a "chateá-la” um pouco mais:

- Como esse carrito das tuas compras, está muito pesado e a rolar mal, eu tenho muito prazer de o te levar até lá fora...

Ela mostrou logo o seu desacordo com tal oferta. Mas o carrito estava de facto muito pesado e rolava muito mal. Fingindo-se mais zangada do que de facto estava, lá acedeu:

- Olha que é só até à porta, pois o meu carro está ali perto.

Tentando ser mais "gozado", do que de facto era, Ele lá lhe foi dizendo:

- Não te preocupes. Eu só faço esta "gentileza" para te ver o mais longe possível; imagina, o mais rapidamente possível, de mim!"

Depois de passarem pela "caixa", Ele levou-lhe o carro cheio de compras e a rolar mal, até junto do automóvel dela, como era o seu desejo. Ela quase que lhe agradeceu:

- E pronto, acaba aqui o nosso encontro - o nosso inesperado encontro. Confesso que não tive o menor prazer em tornar-te a ver!

Não querendo ficar por baixo das palavras dela, logo lhe respondeu:

- Olha que estou plenamente de acordo contigo! Mas que lá foi um enorme prazer ter-te ajudado, isso foi. Ah antes que me esqueça, quero pedir-te desculpa de te ter feito, involuntariamente, esse "galo” na tua cabeça. Assim, talvez logo à noite, penses em mim!

Ela ao ouvir isto, quase que o "fuzilou" com os olhos, e disparou-lhe em seguida:

- Não sejas convencido, porque eu sou (e sempre serei) incapaz de pensar em ti. Pronto, pronto, a conversa já vai longa! Muito obrigado pela tua (inesperada) "gentileza" e mais uma vez um Feliz Natal para ti. Oxalá que nunca mais nos encontraremos. Vá lá, agora, sai da minha frente.

Dizendo-lhe isto, Ela entrou para dentro do carro, pô-lo a trabalhar, e, quando estava quase a arrancar, debruçou-se para o seu lado direito, e abrindo o vidro, perguntou-lhe:

- Olha lá, "menino", com quem vais tu passar a noite da Consoada? E logo rematou: Não é que me interesse, melhor, não tenho o mínimo interesse em ti nem da tua vida.

Ele parou, olhou-a nos olhos e, com um sorriso algo triste, respondeu-lhe:

- Como é já habitual há alguns anos, vou passar esta noite sozinho.

Ao sentir a tristeza dele, Ela, quebrou um pouco o seu ar que pretendia ser altivo. Mas "reguila" como era, não se conteve e disse-lhe em tom de despedida: - Isso acontece muitas vezes às pessoas más, de feitio irascível.

E lá seguiram o seu caminho, cada um para seu lado...
......

Ele voltou a entrar novamente no estabelecimento. Abeirou-se do carrito que lá deixara com as suas compras. Pensava nela:

- Porque a tinha encontrado? Porque lhe tinha falado?

Agora seria pior, pois não parava de pensar nela. A sua cabeça estava feita num verdadeiro caos. Sentiu-se revoltado. Já não lhe apetecia comprar mais nada. Não queria estar mais naquele ambiente do supermercado. Deu meia-volta ao carrito para se vir embora. Espanto seu, Ela estava novamente na sua frente. Mal pode balbuciar:

- Tu, novamente aqui...?!

Calmamente, Ela, altivamente, respondeu-lhe:

- Não penses que voltei por tua causa! Voltei, sim, porque esqueci-me de comprar umas coisas, nada mais... Ou já pensavas que?...

Ao encará-lo novamente, notou que Ele tinha os olhos de quem queria chorar. E até a sua voz era mais suave. Sentiu um grande arrepio. Nesse momento, por qualquer motivo ou avaria, as luzes do estabelecimento apagaram-se. Ela sobressaltou-se e nervosa como estava, quase lhe suplicou:

- Com esta escuridão, é melhor irmos embora.

Ele logo concordou:

- Talvez pela primeira vez na vida, estou plenamente de acordo contigo.

Dirigiram-se então para a saída. E, Ela estava ali a seu lado. Tinha a sensação de ouvir a sua respiração e sentia o calor da sua mão, que estava junto da sua. Parecia sonhar um sonho lindo, e a meia voz, balbuciou: -

- Já vejo a luz da rua. Não será bem uma luzinha "ao fundo de um túnel", mas quase...

Admirada (ou talvez não) Ela logo retorquiu-lhe:

- O que é que estás para aí a dizer?

Embora hesitante, Ele respondeu-lhe timidamente:

- Bem, é que... é que... como hei-de dizer… É que gostava imenso de cear contigo esta noite...

Ela fingiu-se muito admirada com o que ouvira momentos antes, passando a mão pelos ainda belos cabelos, embora já algo grisalhos, disse-lhe:

- Ho "menino", controla-te...pois deves de estar a delirar! Que surpresas guardou-me o destino para hoje! Olha cá para mim...não, não, não ... Repara, eu já tenho o meu programa para esta noite: o meu filho vai a minha casa com a mulher e o meu netinho; talvez também uns primos, além de umas vizinhas...

Ele interrompeu-a ao retorquir-lhe tristemente:

- Só eu é que não posso ir, não é assim?

Ela encarou-o novamente. Sorriu (talvez com malícia) mas notava-se algum nervosismo:

- Ai, tu só me trazes problemas. Como é que eu posso agora anular os convites, não me dizes? Mas porque é que eu te tinha que te encontrar novamente, e logo neste dia? Tu, como sempre, só me trazes trabalhos e problemas.

Ele até parecia que estava no meio de um sonho. Um sonho lindo. Não, não queria acordar. Mas desta vez, Ela, estava ali a seu lado, compreensiva e com uma certa doçura no olhar e na voz, que nunca tinha imaginado que Ela seria capaz...Ainda que timidamente, atreveu-se a balbuciar: - Então, "menina...Às oito horas, está bem?...

Ela ainda hesitou. Escondeu a cara entre as suas mãos. Depois fez-lhe uma festinha no rosto dele, dizendo por fim:

- Mas olha que eu não vou a tua casa!

Visivelmente satisfeito, e porque não dize-lo, muito admirado com Ela, também aprovou.

- Linda, não tem importância nenhuma esse facto, pois eu, vou a tua casa!

Ela, começou logo a fazer contas à vida:

- Oito horas?... Olha menino, vai um pouco mais cedo, pois o programa da Televisão começa às sete, e assim poderíamos o ver desde o princípio...

Ele, sorriu e pensou:

- Ou muito me engano, ou nunca mais passarei outro Natal sozinho!"

Fontes:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.142 a 144)


Mensagens Poéticas n. 142
Uma Trova Nacional
No Carnaval, meus amores,
vou atrás de outros carinhos:
sensualidade de flores
e canto de passarinhos.
(OLYMPIO COUTINHO/MG)
Uma Trova Potiguar

Triste sina a do andarilho,
sem teto, sem proteção...
Transeunte maltrapilho,
a mendigar pelo pão.
(DJALMA MOTA/RN)
Uma Trova de Ademar
Meu “currículo” é comum,
digo com toda alegria:
não tenho curso nenhum...
Mas sou formado em poesia!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram
Meus sentimentos diversos
prendo em poemas pequenos;
quem na vida deixa versos,
parece que morre menos...
(LUIZ OTÁVIO/RJ)

Simplesmente Poesia
– José Alberto Costa/AL –
VIDA REINVENTADA

A noite minh'alma percorre
o infinito espaço
das lembranças perdidas.
Enquanto durmo,
recolhe pedaços
dispersos de mim,
reinventando uma vida
de coisas esquecidas,
revolvendo escaninhos
de desejos contidos
repletos de sonhos
da adolescência
que deixei fugir.

Estrofe do Dia

Perdi os meus ideais,
minha existência está finda,
apenas recordo ainda
tempos que não voltam mais;
me restam só os sinais
das chagas do desenganos,
machucado pelos danos
chocado, sentindo medo,
olhando para o rochedo
da serrania dos anos.
(JOSUÉ DA CRUZ/PB)

Soneto do Dia
– Diamantino Ferreira/RJ –
INVEJA

- Como invejo as estrelas!... Como invejo
a placidez da lua, o brilho intenso
dos astros cintilantes... Quando penso
no que existe de belo e malfazejo!...

Ausente das disputas de um pretenso
mundo estéril, malévolo e sem pejo,
sua apatia é tudo quanto almejo
para esquivar-me aos que não têm bom senso...

Desejo vão!... Porém, fosse verdade...
Pudesse olhar, do céu, toda a maldade...
As coisas vis, de lá pudesse vê-las!...

Como seria bom!... Infelizmente,
Tais coisas acontecem tão somente
Quando a mente vagueia entre as estrelas...

Mensagens Poéticas n. 143

Uma Trova Nacional

Meus desejos reprimidos
são lembrados, de verdade,
nos momentos bem vividos
dos carnavais da saudade!...
(GUTEMBERG LIBERATO/CE)

Uma Trova Potiguar
Carnaval, festa, nudez,
o juízo fica mudo,
mas não perca a sensatez.
Prevenção é quase tudo!...
(IEDA LIMA/RN)

Uma Trova “NÃO” Premiada
Nesta paixão sem igual,
de alegria verdadeira,
nossa vida é um Carnaval
sem direito à quarta-feira!
(ARLINDO TADEU HAGEN/MG)

Uma Trova de Ademar
Sem bloco e sem fantasia
é o carnaval do Poeta.
Não pode faltar poesia,
pois se faltar... Deus completa!
(ADEMAR MACEDO/RN)
...E Suas Trovas Ficaram

A fantasia acabou...
Joguei a máscara a esmo,
e, da farsa, o que restou:
- eu, palhaço de mim mesmo!
(NÁDIA HUGUENIN/RJ)

Simplesmente Poesia

– Efigênia Coutinho/SC –
BRINCAR DE SER FELIZ!!

O carnaval já vem chegando
Os tambores o samba batucam,
Vou nessa! Do morro já desço dançando.
Lá no meio a gente esquece,
Pois as luzes nos encantam.
A folia num sensual vai-e-vem,
Entre beijos nos aquece
Com o gosto que a vida tem.

Dancei, cantei, do asfalto pura emoção!
Eu quero bis... Brincar de ser feliz!
Pelo carnaval da ilusão,
O amor vem nas cores do matiz,
Este Amor que a fé não se desfez
Bate alegre em meu coração:
Tentando mais outra vez...
Brincar de ser Feliz!...

E assim eu vou desfilando,
Pelas passarelas da folia.
Vou nessa, o ritmo acompanhando,
Num gozo de pura alegria.
Soltando as amarras, sentindo a emoção,
Vestindo as cores da fantasia,
Que se molda ao meu coração,
Eu vou... Cantando o samba da excitação.

Estrofe do Dia

Hoje eu faço do “repente”
minha grande alegoria,
nos versos de uma setilha
ponho a minha fantasia
para a festa ser completa;
pois carnaval de poeta
não pode faltar poesia.
(ADEMAR MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
CARNAVAL DE ILUSÕES.

Carnaval, explosão maior de uma alegria,
fantasia, pierrô no olhar da colombina,
“carne vale” e se vale, então a adrenalina,
tem a força total da carta de alforria.

O pandeiro dá o tom e o ritmo da harmonia,
parceria se faz com samba e dançarina,
uma porta-bandeira de alma feminina
a bailar sobre o asfalto, na coreografia.

O reinado de momo que nos fez sonhar,
sermos príncipes, reis para a escola ganhar,
bateria, no enredo e grande evolução.

Quarta-feira de cinzas, não tarda a chegar
na avenida deserta como a flutuar,
despertamos de um sonho: Foi tudo ilusão!

Mensagens Poéticas n. 144

Uma Trova Nacional

Minha mulher é nanica,
mas na cama é colossal:
ronca mais do que cuíca
na terça de carnaval!...
(WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG)

Uma Trova Potiguar
Para aumentar meu desejo
vou botar pimenta e sal
para esquentar cada beijo
trocado no carnaval.
(MARCOS MEDEIROS/RN)

Uma Trova “NÃO” Premiada
No carnaval; distraída,
saliente e bem dotada,
a jovem se viu perdida
e nem se deu por achada!
(JOSUÉ VARGAS FERREIRA/SP)

Uma Trova de Ademar
Cabra que se fantasia,
veste saia e bota peito;
só é homem no dia-a-dia
porque não tem outro jeito.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Sambando quase pelada
no Bloco do “Vai sem Medo”,
Paulete foi mais cantada
que o refrão do samba-enredo!
(ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE)

Soneto do Dia
– Pedro Mello/SP –
CONSAGRAÇÃO.

Cansado do "jejum" que a sua idade
lhe impôs à atividade sexual,
o vovô se animou com a novidade
de que o Viagra não faria mal...

Cheio de amor pra dar e de Ansiedade,
Alfredo foi pular o Carnaval...
E na Sapucaí, uma beldade
fê-lo sentir-se forte e jovial...

Mas na hora "H"... seu coração se abate...
Alfredo é posto fora de combate,
mas sucumbe feliz nosso ancião:

É velado com grande galhardia
e, escondendo o "tamanho" da alegria,
flores a mais enfeitam seu caixão...
---
Fonte:
Ademar Macedo
2, 3 e 4 de Março

Nilto Maciel (Dimas Macedo e o Doce Lar das Letras)


Minhas amizades com escritores cearenses se iniciaram em três etapas: até meados de 1977 (quando me retirei para Brasília); deste tempo até setembro de 2002 (período em que vivi na Capital Federal); e o depois disto. A primeira começou pouco antes do surgimento da revista O Saco: Airton Monte, Batista de Lima, Carlos Emílio, Gilmar de Carvalho, Jackson Sampaio, Oswald Barroso, Paulo Veras, Renato Saldanha, Rosemberg Cariry, Yehudi Bezerra e outros. Na segunda, sobretudo quando a Fortaleza vinha de férias, me aproximei mais de Adriano Espínola, Floriano Martins, Carlos Augusto Viana, Luciano Maia, Márcio Catunda, Nirton Venâncio e Rogaciano Leite Filho, participantes do grupo Siriará. A seguir, conheci Dimas Macedo. Não me lembro da apresentação, quem a fez, onde e quando. Pode ter sido numa das noitadas no Estoril. Não sei, pois bebíamos além do que sorviam os idólatras de Baco e, assim, quase todo o meu viver de então o arrastou o vórtice do olvido ou se afundou nas reentrâncias da memória.

Sei, porém, que é de 1980 a divulgação de seu primeiro conjunto de poemas – A distância de todas as coisas –, que me ofereceu e li, com deleite, quer à primeira refeição, quer a desoras, vésperas de calar a boca. E escrevi um artigo, publicado em jornais: “Poemas das Lavras de um poeta”. A seguir, em 1986, compôs o prefácio, intitulado “Contos picarescos e alegóricos”, para minha terceira coleção de contos: Punhalzinho cravado de ódio. Não sei se lhe pedi (devo ter pedido) tão grande favor. Se pleiteei, o fiz por ver nele não apenas o poeta, mas o crítico. Eu havia lido Leitura e conjuntura, de 1984, seu primeiro volume de artigos de análise literária. Estávamos amigos e enamorados, eu de sua poesia e seu modo de ver a Literatura, e ele, certamente, de minha prosa de ficção. Passamos a nos corresponder. Cartas longas e curtas, sempre cheias de notícias e comentários de livros. Veio, então, o tempo da revista Literatura. 1992. Convidei-o, desde a primeira hora, para fazer parte do conselho editorial e colaborar com artigos e poemas.

Dimas esteve duas vezes em minha residência de Brasília. Conversamos muito, ele a me pedir informações dos escritores de lá, a me falar dos de cá (sempre com elogios aos mais velhos, assim como aos novos) e de Fortaleza, cidade muito amada dele. Quando a nossa capital visitava, ele me conduzia, de carro, aos mais requintados bares e restaurantes, me apresentava a personalidades da política e das artes, a mulheres elegantes, a noviços das letras, como se eu fosse um príncipe exilado: Fulano, este é Nilto Maciel, o mais... Já ouvi falarem do senhor. Sim, mas não o conhecia de perto. Sempre solícito, sempre bem humorado, sempre muito educado. E sempre sabedor de tudo: de obras a serem publicadas, da biografia quer dos antepassados, quer dos contemporâneos, do folclore que forja a aura de muitos, das dificuldades financeiras deste, da opulência daquele.

Em Brasília, todos o sabiam de nome e de livros. Nem precisava apresentá-lo. Então este é Dimas Macedo? Não o imaginava tão jovem. Admiro demais a sua poesia, rapaz. Um dos melhores poetas do Ceará, terra de grandes escritores. E choviam elogios, que se repetiam muito depois de ele regressar às praias.

Nunca falávamos de política, futebol, mulher, religião, clima, ciência ou qualquer outro assunto que não fosse literatura. Como vai sua família? Não, isso não perguntávamos. Pois não éramos amigos. Nem o somos. Falo de amigos no sentido popular ou tradicional da palavra. Não contamos um ao outro nossos conflitos pessoais ou questões familiares, como costumam fazer os amigos. Não tratamos de confidências do tipo “apaixonei-me por fulana”. Não, isso não. Porque essas comunicações de segredos não as fazem os escritores. Não precisam disso. Elas são traduzidas em poemas, principalmente. Ou nas memórias. Somos, pois, amigos pela literatura ou nela.

Dimas exerce mais de uma atividade profissional, como quase todo escritor, e a elas se dedica com abnegação. Entretanto, se difere de seus colegas na divisão do ano. Seis meses jurista e professor, seis meses poeta e crítico. Chegado o tempo destes, abandona a cátedra, o fórum e o gabinete de procurador do Estado, e se consagra a ler e escrever, participar de lançamentos de livros, festas literárias, encontros, proferir palestras, frequentar bares, restaurantes e livrarias. E eu não sabia disso, por não viver na mesma cidade. Quando recebi carta dele, na qual comunicava seu afastamento temporário das lides literárias, tomei um susto: “Não me escreva até o final do ano, não me mande livros ou quaisquer outras publicações...” Pensei loucuras: o coitado deve ter sofrido imensa decepção. Enviei cartas a amigos para saber o motivo de tão esquisita decisão. Todos me deram a mesma explicação: Não se preocupe, Nilto. Ele é assim mesmo. Logo voltará ao nosso doce lar de ilusões. E voltava mesmo. Com o ímpeto de antes, nova reunião de poemas, novo conjunto de estudos, projetos e mais projetos.

E assim tem sido esse poeta magnífico, esse teórico de ampla visão, esse pensador de altos voos.

Fortaleza, 16 de fevereiro de 2011.

Fonte:
Colaboração do autor. http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

Lino Mendes (Conversas Curtas com Fernando Máximo)



Falar com FERNANDO MÁXIMO é, pelo menos na nossa região mas não só, falar com alguém que trata por tu a “poesia popular”, e esta pequena “conversa” é disso mesmo elucidativo. Mas entremos na “conversa”, não sem antes lembrar que “ a quadra é o vaso que o Povo põe à janela da sua alma” (Fernando Pessoa).

Amigo Fernando, hoje falemos apenas de Poesia – de Poesia Popular. E a começar, o que caracteriza para si um género poético como popular?

Eu, por mim, caracterizo um género poético como popular, todo aquele que sem se servir de palavras muito rebuscadas consegue transmitir de uma forma fácil, simples e perfeitamente perceptível uma mensagem.

Que géneros populares existem e como os caracteriza?

Para mim existem duas modalidades de poesia que são essencialmente populares: a quadra e as décimas. As quadras e as décimas eram feitas por gentes sem estudos, por gentes do campo que nas suas poucas horas de ócio as desenvolviam. As cantigas à desgarrada não eram mais que improvisação de quadras, feitas na altura sempre em resposta a uma provocação, a um desafio. As décimas, mais elaboradas, eram feitas pelos homens do campo quando sós, pelas planícies, atrás dos gados, iam matutando na vida e conseguiam de modo soberbo, traduzir em verso os seus anseios, os seus medos, a dura realidade da vida de então. Qualquer destes géneros, a quadra e a décima, são expoentes cimeiros da poesia popular.

Estará a poesia popular a ser devidamente divulgada junto dos jovens?

As ambições dos jovens actuais não passam pela aprendizagem da poesia e muito menos da poesia popular. Talvez que se devesse e pudesse ir junto da juventude ler-lhe poesias que os seus familiares mais chegados – tios, avôs – tenham feito e tentar incutir-lhe o espírito de que se eles, sem terem habilitações literárias conseguiam fazer trabalhos tão bem feitos, os jovens, letrados, melhor ainda poderiam dar seguimento à poesia. Mas, sinceramente, acho muito difícil…

Muitos consideram a quadra popular como um produto menor, de fácil elaboração. Em minha opinião porém, as “quadras ao gosto popular” de Fernando Pessoa, estão longe de ter a qualidade das quadras de Aleixo. O que pensa sobre o assunto?

As quadras jamais poderão ser consideradas um produto menor se elas forem feitas com cabeça, tronco e membros. Uma quadra tem que transmitir em quatro versos apenas, uma mensagem, uma crítica, seja ela positiva ou negativa. E tanto quanto mais simples for a sua elaboração quanto mais fácil se tornará a sua percepção.
As quadras do António Aleixo, pela sua profundidade, pela sua sábia elaboração, pelo facto de atingirem perfeitamente os seus objectivos, apesar de serem feitas por um simples cauteleiro, guardador de rebanhos, quase analfabeto, e talvez até mesmo por isso, têm para mim um valor muito maior do que as quadras de Fernando Pessoa, pese embora todo o respeito que tenho por este grande vulto da cultura Nacional.

Como define o actual momento quanto aos Jogos Florais?

Pessoalmente dou grande importância aos Jogos Florais pois eles demonstram uma enorme vontade de escrever por parte daqueles que respondem afirmativamente a esses desafios. A verdade é que são sempre muitos os poetas e prosadores que concorrem a estes eventos culturais.

No entanto preocupa-me uma situação que passo a partilhar: a organização de uns Jogos Florais requer muita dedicação, muita entrega, muitas horas de trabalho. O meu receio é que, quando os “carolas” que agora estão á frente da organização destes eventos não possam mais colaborar, não haja quem lhes dê continuidade e estes concursos literários acabem abruptamente. Sei bem do que estou a falar, pois tenho conhecimento de situações em que tal já se verificou.

Que projecto gostaria fosse elaborado para uma preservação da poesia popular portuguesa?

A poesia não é coisa que se possa ensinar. Menos ainda a poesia popular. Ela é genuína, nasce com a pessoa. No entanto penso que as Associações Culturais devem ter um papel determinante nesta matéria, promovendo encontros de poetas e poetisas, não só na área de acção onde estão inseridas, mas trazendo até si poetas e poetisas doutras regiões para troca de impressões e experiências. Em Avis, há cinco anos que, com assinalável êxito, a Amigos do Concelho de Aviz – Associação Cultural (ACA) – www.aca.com.sapo.pt promove encontros de poetas, percorrendo em cada ano uma freguesia e trazendo até ao concelho de Avis, de cada vez, cerca de 40 poetas que vêm de terras tão distantes como por exemplo Évora, Portalegre, Entroncamento, Alandroal, Vila Viçosa e Ervidel, no Baixo Alentejo, além, é claro, da prata da casa.
É este espírito que deve prevalecer para que a poesia popular não se acabe de todo.

Não será que a décima é uma modalidade em vias de extinção?

A experiência de pertencer á organização dos Jogos Florais de Avis, leva-me a concluir que quem faz poesia em décimas são as pessoas de mais idade. As décimas são de difícil execução, têm regras fixas para serem elaboradas e para serem umas décimas bem feitas, não chega colocar as palavras que rimam no sítio onde é preciso rimar. Além de rimar as palavras têm que fazer sentido, têm que ter uma certa consistência de raciocínio e por vezes isso é difícil de acontecer.

Partindo de uma quadra, o mote, este é depois desenvolvido por mais quarenta versos, o que leva a que as décimas também sejam conhecidas pelos mais idosos como “obras de quarenta pontos”. Como disse atrás, as décimas antigamente eram feitas por quem passava o dia no campo com o gado e sozinho ia pensando nas agruras da vida. A maior parte desses fazedores de décimas não sabiam ler nem escrever. Mas sabiam as regras das décimas. E faziam-nas. E decoravam-nas. Ainda hoje há por aí muito poeta, infelizmente analfabetos, que sabem muitas décimas de cor e que se encontram apenas registadas nas suas memórias.

Cabe-nos a nós, os amantes deste tipo de poesia, fazer uma recolha junto dessa gente para que, um dia, quando eles morrerem, não se perca essa preciosidade que é a sua poesia.

No sentido de preservar precisamente algumas destas situações, a ACA, está a elaborara um livro de recolha de poesia popular de 40 poetas nascidos ou residentes no concelho de Avis, que estima editar em Outubro aquando da 2ª Edição dos “Escritos e Escritores”.

Todos nós temos um papel importante na preservação deste modo de poesia e podemos, fazendo recolhas, evitar que as décimas sejam uma modalidade em extinção, e que se extingam mesmo mais depressa do que o expectável.

Eu por mim estou a fazer a minha parte: tenho recolhidas mais de uma centena de décimas de diversos poetas do meu concelho que contactei e que me deram os seus trabalhos, muitos deles apenas decorados pelos autores.
E você? Vai ficar indiferente?

Fonte:
Colaboração de Lino Mendes/Portugal

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia Nacional da Poesia


Mário Quintana
OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Márcia Sanchez Luz
POETA

Sou da palavra a chama que descreve
e alisa e abraça as causas mais diversas.
Se for de outrem a dor que não prescreve,
faço-lhe minha amante mesmo em trevas.

Se acaso o sopro me lançar à verve
de uma cantiga envolta em densas névoas,
deixo a cadência se verter bem breve
e transformar em flor dores primevas.

Mas se no equívoco da fantasia
eu acordar de um sonho desvalido,
não vou chorar – conheço a ventania!

Sei que adiante a luz que outrora havia
vai ressurgir até no amor premido
por uma febre ardendo em demasia.

Olivaldo Junior
POEMA AO DIA NACIONAL DA POESIA

Hoje, 14 de março, é Dia Nacional da Poesia.
Poesia... Porque existe a Poesia, existe o Poema.
Poema... Porque existe o Poema, existe o Poeta.
Tudo assim mesmo, com letra maiúscula e tudo.
Tudo assim, com letra maiúscula, sem fantasia,
que tudo tem seu próprio sentido nesse mundo.
Nada, nessa terra, é mero acaso, falso problema.
Tudo é Poesia, que se esvai e recai neste Poeta.

Hoje, eu paro e me lembro de que faço poesia,
com letra minúscula e tudo, que tudo é poema.
Deus, que é o maior de todos os poetas, poeta,
criador de curvas e de retas, Deus é o escudo,
a escada e a escola para o mundo, a Sua poesia.

Faz tempo que não mando um recado, eu sei.
Faz tempo que não tenho mais tempo, sabia?
Sei que estou em falta, mas falto por que sei
que sou todo em falta, entalhado em poesia.
Poesia, sem demagogia, sabe que não deixei
de pensar em você, companheiro nesse dia.

Efigênia Coutinho
SER POETA

A noite sempre cálida me espera ,
Tenho em versos a recente emoção
Da inquietude que abraça a quimera,
Enquanto no meu peito pulsa a oração.

A noite ouve o acalanto, esta voz
Que brada a rima solta, e então viajo;
E busco o sopro terno do ninar em nós,
Onde se farta o frêmito voraz, que trajo.

Lá , ao vento espalhado, e envolto,
Meu verso solto, que diz: mortal, eu sou
Na arte que te fecunda e faz envolto...


Porque ser poeta é ser alguém que embelezou
A prosa e o lado vil do caso vário,
E deu-se a Deus que equilibra este rosário.

Angela Togeiro
NASCER DE UM POEMA - DIA NACIONAL DA POESIA

Olho a folha branca,
vazia,
querendo um poema.
Olho a caneta,
com tinta
azul? vermelha? preta?
Olho a lapiseira. A borracha.
Uma inquietação me domina,
quero, preciso de um poema meu
nascendo sobre este papel branco...
feito de árvores mortas...
Escuto o meu silêncio...
Dentro de mim há um livro,
um livro de poemas
como este,
que espera o momento sideral
de conjunturas numerais,
espirituais, cabalísticas
de que não entendo nada,
para vir a lume.

Sorvem de mim
a alma,
e no papel
parecem libertados.
Tento em vão fechar meu livro
prender meu poema.

É tarde,
outro poema já está a caminho.

Climério Rocha
BUSQUE A POESIA

Contemplar com prazer
Ser expectador da vida e das coisas
Eis uma das muitas definições do gosto
Dá até para saber que a vida às vezes é de morte
Faça então uma canção
Um cantochão, um canto-céu
Opere uma ópera em silêncio
Deixe que a tristeza se arraste pelas ruas das metrópoles
Recolha-se às sombras dos edifícios
Busque a poesia onde não há
Contemplar com prazer
Ser inocente da vida e das coisas
Eis a leveza de uma asa em pleno vôo
A vida – no tempo – é mais que um talho, um corte
Faça um verso então
Um verso preso, um verso livre
Grite aquele grito em silêncio
Deixe que a alegria povoe os povoados
Recolha-se ao sol desses desertos
Busque a poesia onde haverá

Valdevinoxis
POESIA EM SONETO

É por alma de gente anónima
Que escorre a poesia que é dita
Que é toda livre... e anima
E enche... e não se evita.

É por alma boémia de um escritor
Que rezam todos os homens e sinos
Quando se rimam dizeres de amor
Nas bocas de ímpios e libertinos.

Digo eu, que a poesia vem da vida,
Que é flor de terra rica
E que nunca morre sem ser lida.

Digo eu, que a poesia é súplica
Que invoca de vontade nascida
A alma e o corpo a que se dedica.

Fontes:
Colaboração de Márcia Sanchez Luz.
Colaboração de Olivaldo Junior.
Colaboração de Efigênia Coutinho.
http://66.228.120.252/poesiascomemorativas/2845657
http://advivo.com.br/blog/luisnassif/o-dia-nacional-da-poesia
http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm

Castro Alves (Poesias)


A poesia é a arte da linguagem humana, do gênero lírico, que expressa sentimento através do ritmo e da palavra cantada. Seus fins estéticos transformaram a forma usual da fala em recursos formais, através das rimas cadenciadas.

As poesias fazem adoração a alguém ou a algo, mas pode ser contextualizada dentro do gênero satírico também.

Existem três tipos de poesias: as existenciais, que retratam as experiências de vida, a morte, as angústias, a velhice e a solidão; as líricas, que trazem as emoções do autor; e a social, trazendo como temática principal as questões sociais e políticas.

A poesia ganhou um dia específico, sendo este criado em homenagem ao poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), no dia de seu nascimento, 14 de março.

Castro Alves ficou conhecido como o “poeta dos escravos”, pois lutou grandemente pela abolição da escravidão. Além disso, era um grande defensor do sistema republicano de governo, onde o povo elege seu presidente através do voto direto e secreto.

Sua indignação quanto ao preconceito racial ficou registrada na poesia “Navio Negreiro”, chegando a fazer um protesto contra a situação em que viviam os negros. Mas seu primeiro poema que retratava a escravidão foi “A Canção do Africano”, publicado em A Primavera.

Cursou direito na faculdade do Recife e teve grande participação na vida política da Faculdade, nas sociedades estudantis, onde desde cedo recebera calorosas saudações.

Castro Alves era um jovem bonito, esbelto, de pele clara, com uma voz marcante e forte. Sua beleza o fez conquistar a admiração dos homens, mas principalmente as paixões das mulheres, que puderam ser registrados em seus versos, considerados mais tarde como os poemas líricos mais lindos do Brasil.
(texto de Jussara de Barros, para a Revista Nova Escola)
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AMAR E SER AMADO

Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

AO DOIS DE JULHO

ÍNDIO GIGANTE adormecera um dia:
Junto aos Andes por terra era prostrado;
Diríeis um colosso deslocado
De um pedestal de imensa serrania.

Dos ferros a tinir a voz sombria
Desperta-o... Ruge-lhe o trovão um brado.
Roçam-lhe a fronte as nuvens... sopesado
À destra o fulvo raio lhe alumia.

Foi luta de titães, luta tremenda!
Enfim aos pés do Atlante americano
S'estorce Portugal n'angústia horrenda.

E hoje o dedo de Deus escreve ufano:
Tremei, tiranos, desta triste lenda;
Livres, erguei o colo soberano!

AO DIA DOUS DE JULHO
Versos recitados em uma reunião de estudantes baianos

PARTE PRIMEIRA
O CATIVO

QUE CÉU tão negro... que tão negra a terra,
Rugindo rola-se o trovão no espaço...
Falanges negras de chumbadas nuvens
Raios vomitam num medonho abraço...

Na terra perdem-se ao tinir de ferros
Entre soluços mil sentidos cantos,
E ao som do cedro que os machados tombam
Chora o cativo amargurados prantos.

Do rosto másculo lhe goteja a lágrima
Que as ervas torra do queimado chão.
Procura a esposa que lhe mostre o filho...
O céu troveja e lhe responde — não.

Um suor frio lhe passou nos membros...
No corpo a vida para sempre cansa.
Caiu por terra, mas lembrando o filho
Com os lábios hirtos repetiu — vingança.

Nem pôde ao menos abraçar a esposa
Na hora triste do seu passamento.
São-lhe sudário da mangueira velha
As folhas secas que lhe atira o vento.

Só tem por prantos o gemer tristonho
Da ventania que rugindo passa.
— Triste epopéia do guerreiro forte
Que enfim, cativo fez a morte escassa...

E após... Um dia a soluçar nos ferros
Passa o filhinho p'la senil mangueira...
E passa o triste sem saber ao menos
Do pátrio túmulo ter passado à beira...

PARTE SEGUNDA
A VINGANÇA

Não ouvis que voz terrível
Que nos traz a ventania
Que há pouco só nos trazia
Tristes suspiros de dor?...
E do relâmpago sinistro...
Vede... As lousas estalaram...
E os espectros acordaram...
Medonhos no seu furor...

Ergueram-se mil fantasmas
Hirsutos e suarentos
A branca mortalha aos ventos
Flutua longa alvadia.
Tiradentes mostra o insulto
Que lhe pesa sobre a fronte,
Gonzaga aponta o horizonte
Co'a mão descarnada e fria.

E Cláudio, e o forte Alvarenga
Recordam o seu passado,
Só de dores coroado...
— Triste c'roa do infeliz...
Pedem castigo p'ra aqueles
Que assinaram a — sentença —
— De — morte — a quem na defensa
Lutava de seu país.

A mãe clama pelo filho...
E pelo amante a donzela...
O índio pela mata bela
Onde a vida lh'era mansa...
— Vingança — uníssona e forte
Uma voz terrível brada...
Três séculos surgem do nada
Para bradarem — vingança —

PARTE TERCEIRA
SAUDAÇÃO

Quereis que vos conte a história brasílea
Que Deus copiara sorrindo talvez...
E as lutas terríveis do moço gigante
Com o velho que ao mundo ditara só leis...

Oh! Não... Que sois filhos do povo dos bravos...
Sois filhos hercúleos do hercúleo cruzeiro...
Sabeis esta história... Quem é que não sabe-a?
Quem é?... Se não sabe-a... não é Brasileiro.

E a este que a digam as águas de prata
Que um dia de sangue ficaram também...
Que a digam as águias, que viram as lutas
E foram contá-las às águias de além...

E o velho vigia dos louros da pátria
Da história brasílea servil sentinela
— O campo formoso ao grão Pirajá —
Que para cantá-la deitado lá vela.

E após essa luta... Nos ares um grito
Passou repetindo-se em vales e montes...
E a ouvi-lo os tiranos nos tronos tremeram
E viram tremerem-lhe as cr'oas nas frontes...

E um povo de bravos ergueu-se dizendo:
"Já somos nós livres, já somos nação!..."
Co'as águas imensas o imenso Amazonas
Pomposo repete: — "Sou livre em meu chão!..."

E ao grito de livres as fontes correram
E em lindas cascatas os rios saltaram...
Ergueram-se cantos festivos de hosanas,
As flores do seio da terra brotaram...

É hoje, senhores, o dia da pátria.
Que d'alma — os Baianos — conservam no fundo,
Saudemos o dia que ergueu-nos do lodo...
Que marca um progresso na vida do mundo.

Senhores, a glória de um povo é ser livre...
O nome de livres é o nosso brasão.
Seja esta a divisa da nossa existência.
E este epitáfio se escreva no chão...

AOS ESTUDANTES VOLUNTÁRIOS
(Recitativo)

Poesia recitada no Teatro Santa Isabel na noite do oferecimento da Academia.

O CÉU é alma... O relâmpago
É uma idéia de luz,
Que pelo crânio do espaço
Perpassa, brilha e reluz...
Depois o trovão — é o verbo.
Segue-o o raio — gládio acerbo,
Que se desdobra soberbo
Pelos páramos azuis.

Ação e idéia — são gêmeos,
Quem as pudera apartar?...
O fato — é a vaga agitada
Do pensamento — que é o mar...
Cisma o oceano curvado,
Mas da procela vibrado,
Solta as crinas indomado,
Parece o espaço escalar.

Assim sois vós!... Nem se pense
Que o livro enfraquece a mão.
Troca-se a pena com o sabre,
Ontem — Numa... Hoje — Catão...
É o mesmo... Se a pena é espada
Por mão de Homero vibrada,
Com o gládio — epopéia ousada
Traça mundos — Napoleão...

Que importa os raios trovejem
Nas florestas do existir
Parti, pois! Homens do livro!
Podeis ousados partir!
Pois sereis. . ., vindo com glória,
Ou morrendo na vitória...
Homens do livro da História
Dessa Bíblia do porvir!

DURANTE UM TEMPORAL

VAI FUNDA a tempestade no infinito,
Ruge o ciclone túmido e feroz...
Uiva a jaula dos tigres da procela
— Eu sonho tua voz —

Cruzam as nuvens refulgentes, negras,
Na mão do vento em desgrenhados elos...
Eu vejo sobre a seda do corpete
Teus lúbricos cabelos ...

Do relâmpago a luz rasga até o fundo
Os abismos intérminos do ar...
Eu sondo o firmamento de tua alma,
À luz de teu olhar ...

Sobre o peito das vagas arquejantes
Borrifa a espuma em ósculos o espaço...
Eu — penso ver arfando, alvinitentes,
As rendas no regaço.

A terra treme... As folhas descaídas
Rangem ao choque rijo do granizo
Como acalenta um coração aflito,
Como é bom teu sorriso,....

Que importa o vendaval, a noite, os euros,
Os trovões predizendo o cataclismo...
Se em ti pensando some-se o universo
E em ti somente eu cismo...

Tu és a minha vida ... o ar que aspiro ...
Não há tormentas quando estás em calma.
Para mim só há raios em teus olhos,
Procelas em tua alma!

EM QUE PENSAS?

Oh! Pepita, charmante rifle
Mon amour, à quoi penses-tu?
ALF. DE MuswT.

TU PENSAS na flor que nasce
Menos bela do que tu!
Na borboleta vivace
Beijando teu colo nu!

No raio da lua algente
Que bebe no teu olhar ...
Como um cisne alvinitente
No cálix do nenufar.

Nas orvalhadas cantigas
Destas selvagens manhãs...
Nas flores — tuas amigas!
Nas pombas — tuas írmãs!

Tu pensas, é Fiorentina,
No gênio de teu país...
Que uma harpa soberba afina
Em cada seio de atriz.

Na esteira de luz que arrasta
A glória no louco afã!
Nos diademas da Pasta...
Nas palmas de Malibran!

Pensas nos climas distantes
Que um sol vermelho queimou...
Nesses mares ofegantes
Que o teu navio cortou!

Na bruma que lá s'escoa...
Na estrela que morre além...
Na Santa que te abençoa,...
Na Santa que te quer bem!...

Tu pensas n’Arte sagrada,
Nesta severa mulher...
Mais que Débora inspirada...
Mais rutilante que Ester.

Tu pensas em mil quimeras,
Nos orientes do amor.
No vacilar das esferas
Pelas noites de languor.

Nalgum sonho peregrino
Que o teu ideal criou.
Na vassalagem, no hino...
Que a multidão te atirou!

Neste condão que teus dedos
Têm de domar os leões...
No pipilar de uns segredos,
No musgo dos corações...

No livro — que tens no colo!
Nos versos — que tens aos pés!
Nos belos gelos do pólo...
Como teus seios cruéis.

Pensas em tudo que é belo,
Puro, brilhante, ideal...
No teu soberbo cabelo!
No teu dorso escultural!

Nos tesouros de ventura
Que a um'alma podias dar;
No alento da boca pura...
Na graça do puro olhar...

Pensas em tudo que é nobre,
Que entorna luz e fulgor!
Nas minas, que o mar encobre!
Nas avarezas do amor!

Pensas em tudo que invade
O seio de um Querubim!...
Deus! Amor! Felicidade!
... Só tu não pensas em mim!...
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Fontes:
Jornal de Poesia

Ademar Macedo (O Trovadoresco n. 69)

Faça o download do Trovadoresco clicando sobre a figura acima.
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Cada vez mais eu consigo,
separar trigo do joio...
Pra quem precisa de apoio,
meu coração é um abrigo.
Desconhecido ou amigo,
mas seja lá quem ele for
no seu momento de dor
eu ponho a disposição
meu sofrido coração
para os carentes de amor.
(Francisco Macedo/RN)

Casa de rico: a fumaça
é churrasco ou chaminé...
Já, na favela. É desgraça:
“Corre que é fogo Muié!”
(Sérgio Ferreira da Silva/SP)

Tua demora é medida
no relógio das saudades;
cada minuto é uma vida
com sessenta eternidades.
(Adilson de Paula/PR)

E muito mais no Trovadoresco numero 69:
Trovas Potiguares
Trova-Riso!
Simplesmente trovas…
…E Suas trovas ficaram
O Cantinho da Poesia

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas n. 10)


PRECISO DE ESQUECER

Já tentei te esquecer,
ignorar-te
e não mais saber de ti.
Mas quando te vejo
reacende o meu desejo
meu coração estremece
meu peito aquece
tudo em mim enlouquece
tanto quanto sou louco por ti.
A tua imagem me fascina
me alucina
me faz navegar nos sonhos
no mar das ilusões,
flutuar no mundo da fantasia...
E pensar que um dia,
pelo menos um dia...
Possa tê-la em meus braços
sentir os teus abraços
o sabor dos teus beijos
e matar os meus desejos.
Ah... já tentei te esquecer
ignorar-te
e não mais saber de ti.
Mas quando te vejo
enlouqueço de desejo
me encanto
meu coração entra em pranto
e explode de amor.
Eu sabia que te amava,
que te amava muito,
só não sabia que era tanto.
Preciso te esquecer!

BARCO FORA D’ÁGUA

Viajei, rompi fronteiras,
naveguei durante dias
noites inteiras,
agora sou somente,
um barco fora d’água.
Perdi o meu mundo...
Não tenho remo,
leme, nem direção...
Meu destino é a solidão!
Não vejo mais
o mar salpicado de estrelas
e os reflexos prateados
do luar ascendendo.
A luz do sol já não me alcança,
sinto que estou perecendo
ainda que amarrado
ao verde da esperança.

MADRUGADA

Quando chego, em casa,
já de madrugada,
trazendo em mim
o teu perfume,
fico louco de ciúmes
do travesseiro que abraças,
do cobertor que te aquece.
Invejo as manhãs que te vêem acordar,
o chuveiro que te banha,
a toalha que te seca.
Quando chego, em casa,
já de madrugada,
cansado da emoção
de longa noite embalada,
ainda sentindo o sabor dos teus beijos...

Dá-me um desejo
de ser tua alvorada
para clarear com ternura
o teu rosto e
apanhar-te pela cintura,
já descansada
e ter de novo em meus braços
o teu corpo descoberto
sentindo os teus abraços
o sabor dos teus beijos
matando meus desejos.
Quando chego, em casa,
já de madrugada
o que me acode
é a esperança
de outra noite embalada,
com quem não me sai da lembrança!

ARREPENDIMENTO

Hoje eu me agredi,
me ofendi,
me injuriei, xinguei-me,
falei mal de mim;
contrariei o meu gosto,
bati em meu próprio rosto
e ri da minha cara.

Hoje eu sei
o que é sofrimento
a dor, o lamento.
o arrependimento
por ter deixado você!

CONFIDÊNCIAS AO LUAR

Lua, mística e de rara beleza
inspiradora dos enamorados,
assistente de segredos guardados...
confessados a vossa realeza!

Qual trovador não vos citou um verso
encantado com a luz prateada
ou caminhando pela madrugada,
ainda que, em estado adverso?

Crendo em vossa majestade, confesso,
que vos prestei versos e confidência...
recitei poemas com eloquência...

-Sorvido por grande amor, nele imerso,
perdido de paixão neste universo...
condenado... venho pedir, clemência!

Fonte:
O Autor