domingo, 15 de abril de 2012

Thrity Umrigar (A Distância entre Nós)


A distância entre nós, romance da jornalista indiana Thrity Umrigar, é apresentado ao leitor como uma complexa encruzilhada de semelhanças e diferenças entre Bhima, a empregada, e Sera, a patroa. Distantes pelas diferenças entre classes, elas se aproximam na condição de mulheres oprimidas, que dedicaram as vidas para cuidar dos outros. O leitor acompanha o cotidiano das duas como senhoras maduras e, na narrativa em flashback, percebe como estas existências vão se construindo juntas, sempre alimentadas por uma relação de atração e repulsa.

A idéia geral sobre seu conteúdo reside na ambigüidade. Ambientado em Bombaim, Índia, uma das civilizações mais antigas, populosas e miseráveis, ao mesmo tempo que é uma das promessas de grande potência. Este é o cenário conflituoso do drama de casais que se formam e que se desmancham, ou que se mantêm apesar de tudo reivindicar a dissolução. Tudo sempre sob a ameaça da insensibilidade, da traição, da erosão da família, com todas as traumáticas conseqüências econômicas e psicológicas sobre a vida de cada um.

Como o título sugere, é o espaço que reina nessa narrativa, o espaço que separa ricos e pobres, velhos e jovens na Índia de hoje. As biografias contidas nesse exemplar são expressões sublimes do amor e da dor além do limiar da sanidade.

A tradição milenar, a diversidade cultural e todas as peculiaridades desse povo propiciam uma incursão ao intrincado sistema de castas e um patriotismo velado por uma repulsa ao mundo estrangeiro colonizador. O drama que conta a história de três gerações de duas famílias interligadas por laços de fidelidade e por suas memórias de sofrimento é tão pungente que, em determinados momentos, é preciso manter uma distância, como sugere o título, para não se reproduzir as lágrimas que escorrem de suas páginas folheadas.

A distância aborda a proximidade de realidades paralelas e paradoxais, como uma mensagem para o mundo de que não importa nossas diferenças, de que somos unidos pelo fato de estarmos todos fadados a errar e aprender com isso e de que nada está tão ruim que não possa piorar.

Duas mulheres. Duas vidas. Dois destinos que poderiam ser um só. Sera e Bhima estão indiscutivelmente ligadas, seja pelo silêncio ou pela cumplicidade. Mas ao mesmo tempo estão distantes, separadas por uma fronteira intransponível. Como se o fio que as une não fosse forte o suficiente para agüentar uma descarga elétrica, força que parece definir a sorte e a tragédia da patroa e da empregada. Duas vidas marcadas pela decepção, enganadas pela traição, sujeitas a uma sociedade cruel cuja voz berra e marca a fogo a existência dessas mulheres.

Em Bombaim, a empregada doméstica Bhima deixa seu barraco na favela onde mora para cuidar da casa de Sera Dubash, onde trabalha há mais de vinte anos. No apartamento de classe média alta onde a patroa viúva vive com a filha, Dinah, que está grávida, e o genro, Viraf, Bhima lava a louça, esfrega o chão e corta as cebolas para a omelete matinal do clã, lutando contra a dor nas mãos causada pela artrite e também contra a preocupação que toma conta de seu pensamento: sua neta, Maya, também está grávida. Mas, diferentemente de Dinah, ela não é casada e se recusa a revelar a identidade do pai da criança.

Leia um trecho do livro

PRÓLOGO

A mulher magra de sári verde estava de pé nas pedras escorregadias e olhava as águas escuras em torno de si. O vento morno soltava do coque alguns fios do seu cabelo ralo. Atrás dela, os sons da cidade ficavam abafados, silenciados pelo contínuo bater da água em seus pés descalços. A não ser pelos siris que ela ouvia e sentia correrem pelas pedras, estava completamente sozinha ali — sozinha com os murmúrios do mar e a lua distante, fina como um sorriso no céu noturno. Até suas mãos estavam vazias, agora que as abriu e liberou os balões cheios de gás, observando até que o último deles tivesse sido engolido pela escuridão da noite de Bombaim. Suas mãos estavam vazias agora, vazias como seu coração, que era como um coco cuja polpa tivesse sido arrancada.

Equilibrando-se com dificuldade nas pedras, sentindo a água que subia lambendo seus pés, a mulher levantou o rosto para o céu negro retinto procurando uma resposta. Atrás dela, a cidade perdida e uma vida que naquele momento parecia fictícia e irreal. À sua frente, o limite quase imperceptível onde o mar se encontra com o céu. Poderia subir de novo pelas pedras e pelo muro de cimento e reingressar no mundo, participar de novo do ritmo louco, pulsante e imprevisível da cidade. Ou poderia entrar no mar à sua espera e deixar que ele a seduzisse e a envolvesse com seus sussurros íntimos.

Olhou de novo para o céu procurando uma resposta. Mas a única coisa que conseguia ouvir era as batidas habituais de seu coração submisso...

1

Embora Estivesse amanhecendo, dentro do coração de Bhima a escuridão permanecia.
Ela se vira para o lado esquerdo sobre seu fino colchonete de algodão estendido no chão e se senta rapidamente, como faz todos os dias de manhã. Levanta a mão ossuda por cima da cabeça num bocejo, estica o corpo, e um cheiro forte de mofo recende de suas axilas e invade suas narinas. Num instante de preguiça, senta-se na beira do colchão, apóia os pés cheios de calos no chão de barro, com os joelhos dobrados e a cabeça pousada nos braços cruzados. Naquele momento, está quase tranqüila, a cabeça agradavelmente limpa e vazia das dificuldades que a esperam no dia de hoje e de amanhã e de depois de amanhã... Para prolongar esse estado de graça sem ter que pensar em nada, estende a mão distraidamente para a lata de fumo de rolo que mantém à beira da cama. Enfia um pedaço na boca e em seu rosto descarnado surge uma protuberância que lembra uma bola de críquete.

O idílio de Bhima dura pouco. Na luz suave e delicada do novo dia, percebe a silhueta de Maya se mexendo no colchonete que fica no canto esquerdo do casebre. A moça está dormindo e resmungando em seu sono, emitindo sons suaves como que choramingando e, apesar de tudo, Bhima sente seu coração se derreter do mesmo modo que acontecia quando amamentava Pooja, a mãe de Maya, muito tempo atrás. Impulsionada por aqueles sons, que mais pareciam os de um cachorrinho, Bhima se levanta do colchão com um grunhido e vai até onde sua neta está dormindo. Mas, no segundo que leva para cruzar o casebre, alguma coisa muda no coração de Bhima, e o sentimento maternal e carinhoso de um momento atrás é substituído pela dureza e impiedade que já a acompanham há algumas semanas.

Ela permanece de pé, olhando do alto para a moça adormecida, que agora está roncando baixinho, inconsciente das fagulhas de raiva nos olhos da avó que examina o ligeiro crescimento de sua barriga.

“Um chute rápido”, Bhima diz a si mesma, “um chute rápido na barriga, seguido de outro, e mais outro, e estará tudo acabado. Olha só para ela dormindo ali como uma prostituta sem-vergonha, sem nenhuma preocupação no mundo. Como se não tivesse virado a minha vida de cabeça para baixo”. O pé direito de Bhima mexe-se enquanto ela pensa nessa idéia. Os músculos da panturrilha se tensionam enquanto ela levanta o pé do chão. “Seria tão fácil...” E, comparado com o que uma outra avó faria a Maya — um rápido empurrão num poço aberto, uma lata de querosene e um fósforo, a venda para um bordel —, isso seria até bastante humano. Desse modo, Maya sobreviveria, continuaria indo à universidade e poderia escolher uma vida diferente da que Bhima sempre viveu. Isso era como deveria ser, como tinha sido, até que essa vaca estúpida de coração mole, e agora com um barrigão, saísse por aí e acabasse grávida.

Maya deixa escapar um ronco alto, e Bhima volta a pôr o pé no chão. Agacha-se perto da garota para sacudi-la pelos ombros e acordá-la. Quando Maya ainda freqüentava a universidade, Bhima deixava-a dormir o mais que pudesse, fazia gaajar halwa para ela todos os domingos, o pudim de cenoura com amêndoas e passas de que tanto gostava, e separava para a neta as melhores porções do jantar todas as noites. Se ganhava alguma coisa de Serabai — um chocolate Cadbury ou aquele doce branco com pistache que vinha do Irã —, guardava para dá-lo a Maya, embora, verdade seja dita, Serabai em geral lhe desse também uma porção para a moça. Mas desde que Bhima soube da vergonha de sua neta tem feito a garota acordar cedo.

Nos últimos domingos, não teve gaajar halwa, e Maya não thrity umrigar pediu a sua sobremesa favorita. Durante a semana, Bhima até mesmo mandou que a garota ficasse na fila para encher os dois potes d’água na torneira comunitária. Maya protestou, alisando inconscientemente a barriga com a mão, mas Bhima desviou o olhar e disse que, de qualquer maneira, os vizinhos logo acabariam descobrindo a sua desonra. Então por que esconder?

Maya se vira no colchão, e seu rosto fica a alguns centímetros de distância de onde Bhima está acocorada. Sua mão jovem e rechonchuda encontra a mão magra e enrugada da avó, e a moça se aninha junto dela, segurando-a entre o queixo e o peito. Um fino fio de saliva escorre pela mão de Bhima. A velha sente o coração amolecer. Maya sempre foi assim, desde bebê — carente, carinhosa, confiante. Apesar de todo o sofrimento pelo qual passou ainda jovem em sua vida, Maya não perdeu a suavidade e a inocência. Com a mão livre, Bhima afaga o cabelo lustroso e sedoso da menina, tão diferente do seu cabelo ralo.

O som de um rádio tocando baixinho invade o quarto, e Bhima resmunga uns palavrões. Geralmente, na hora em que Jaiprakash liga o rádio, ela já está na fila da água. Isso quer dizer que está atrasada hoje. Serabai vai ficar zangada. Essa menina burra e preguiçosa fez com que ela se atrasasse. Bhima solta bruscamente sua mão das de Maya, sem se importar se o movimento vai acordá-la. Mas a garota continua dormindo.

Bhima fica de pé, e, ao levantar, seu quadril esquerdo dá um estalo forte. Ela fica parada por um momento, esperando pela onda de dor que se segue ao estalo, mas hoje é um dia bom. Nenhuma dor.

Fonte:
Passeiweb

Wilma Sant'Anna de Souza Cruz (Maria de Todos Nós)


Bairro comum, com casas,comércio, ônibus passando na porta ,mercadinho em frente de casa... Lá também é ponto de ônibus, onde toda hora aglomera gente, que vai para o centro do Rio, Fundão, Madureira, Nova Iguaçu, Pavuna . Ali ,vendo todo esse vai e vem mora Maria, Maria que vive só, ou melhor, segundo a própria, ela está sempre acompanhada de Deus e, portanto, não mora só.

Sempre falante, simples, baixinha, otimista, franzina, alegre, insistente e popular, assim é Maria. Querendo ou não todos que passam por lá acabam falando, cumprimentando, sorrindo ou conversando com ela. Com uma pequena mesa colocada na calçada ela arruma os potes de doces que vende . Afinal , quem parar e conversar um pouquinho pode também comprar um docinho, levar para a criançada! Tem criança que já acostumou comprar o doce da Maria. Quem passa compra doces e quem compra doce para e conversa um pouquinho. Não há quem não conheça Maria no bairro da Vila Mariópolis.

Está sempre no portão de casa e cada pessoa que passa por incrível que pareça ela saúda, cumprimenta, pergunta como está a família, como vai aquele problema da pessoa que ela acaba sempre sabendo e no meio da conversa conta também um pouco do seu. Cada pessoa que para e conversa alimenta Maria e é alimentado por ela. É uma espécie de mutualismo onde se troca carinho e atenção. Maria conhece muita gente , o moço que passa vendendo cloro e vassouras, a criançada que vai e vem para escolas próximas dali, a moça que vai ao posto médico, eu que passo com minha mãe para ir ao mercado e até aquela pessoa que ela não conhece acaba trocando algumas palavras e no final segue o seu caminho sorrindo após falar com ela . Isso sem falar de algum cachorro que passa faminto, perdido ou então algum cachorro de rua que ela logo ajuda e dá comida . O coração de Maria é grande, iluminado e recheado de amor, Maria faz parte do dia a dia da gente, ela é a Maria de todos nós.

Fonte:
Câmara Brasileira dos Jovens Escritores. "Contos de Outono" - Edição Especial 2012 - Abril de 2012.

1º Prêmio Brasília de Literatura (Resultado Final)


A organização da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, divulgou nesta sexta (13) os vencedores do Prêmio Brasília de Literatura.

Entre eles estão Michel Laub e Antônio Prata, premiados nas categorias romance e contos e crônicas, respectivamente. Veja abaixo a lista completa.

A premiação, que recebeu 1.700 inscrições, acontecerá no sábado (14), às 9h, durante a abertura oficial do evento.

Os vencedores serão contemplados com um valor total de R$ 240 mil - o primeiro colocado em cada uma delas receberá R$ 30 mil e o segundo, R$ 10 mil.

LISTA DE VENCEDORES

ROMANCE


1º LUGAR: "Diário de uma Queda", Michel Laub (Cia. das Letras)

2º LUGAR: "O Dom Crime", Marcos Lucchesi (Record)

CONTOS E CRÔNICAS

1º LUGAR: "Meio Intelectual, Meio de Esquerda", Antônio Prata (34)

2º LUGAR: O Anão e a Ninfeta", Dalton Trevisan (Record)

LITERATURA INFANTO E JUVENIL

1º LUGAR: "Sortes de Villamor", Nilma Lacerda (Scipione)

2º LUGAR: "Um Nó na Cabeça", Rosa Amanda Strausz (FTD)

REPORTAGEM

1º LUGAR: "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", Fernando Morais (Cia. das Letras)

2º LUGAR: "O Cofre do Doutor Rui", Tom Cardoso (Civilização Brasileira)

BIOGRAFIA

1º LUGAR: "Fernando Pessoa - Uma quase Autobiografia", José Paulo Cavalcanti Filho (Record)

2º LUGAR: "João Goulart - Uma Biografia", Jorge Ferreira (Civilização Brasileira)

POESIA

1º LUGAR: "Sísifo desce a Montanha", Affonso Romano de Sant'anna (Rocco)

2º LUGAR: "O Homem Inacabado", Donizete Galvão (Portal Editora)

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1075606-confira-os-vencedores-do-primeiro-premio-brasilia-de-literatura.shtml
Http://concursos-literarios.blogspot.com

sábado, 14 de abril de 2012

Soneto Ecológico 1 - Francisca Clotilde (CE) A Árvore

Francisca Clotilde / CE (Livro de Sonetos 2)


À PAZ

Estende sobre nós as asas benfazejas,
Afasta para longe a sanguinária guerra;
És astro protetor, a iluminar a terra,
És anjo divinal nas hórridas pelejas.

Teu sorriso traz bonança e, qual íris, descerra
O negror da procela... Abençoada sejas;
Oh! Paz consoladora o nosso bem almejas,
Estrela vesperal que doce luz encerra.

Vem os homens unir, vem espalhar o amor,
Tem pena do sofrer das mães em ansiedade,
De ternos corações mova-te a íngreme dor;

Temos sede de ti, lenitiva à orfandade,
Com eflúvios do céu, num gesto animador,
Lembra o santo dever, as leis da caridade!

ANDORINHA

Passando do inverno a pérfida inclemência...
Andorinha ligeira, vai buscando
Outro clima mais puro, ameno e brando,
Outro céu de mais doce transparência.

Gozas da luz a tépida influência,
Reunindo-te ao alegre bando,
Que recorta este azul de quando em quando,
Desejando mais plácida existência

Podes fugir, voar com as asas leves
Expandir-te ao calor do sol
De bendito verão, delícias breves.

Como eu te invejo: Enquanto vais seguindo,
Sofro a tortura do mais rude inverno
E o azul me esconde o seu sorrir, fruindo

VISÕES DE OUTRORA

Que formosa ilusão! Vejo presente
O caminho feliz e perfumado,
Onde outrora, risonho e docemente,
Meu viver deslizou-se abençoado.

Como tudo mudou! Mas corrente
Que espalhava dos céus o trecho amado
Continua a gemer triste e dolente,
Relembrando bem vivo o meu passado

Era aqui... bem o sei neste recinto
Que floriam as rosas e os jasmins
Desatava o botão nas alvoradas;

E parece, meu Deus, que vejo e sinto,
Através das imagens reavivadas,
O olhar de minha mãe pousado em mim!

DESERTO

Esta casa que vês arruinada,
Solitária e deserta no caminho,
Foi outrora de noivos casto ninho
De ilusões e de risos povoada.

E hoje, como fúnebre morada...
Já não conserva o traço de um carinho,
Nem se ouve o trinar do passarinho,
Em seu muro, ao romper da madrugada.

Assim meu coração d’antes repleto
De esperanças e cândidos amores
É hoje como um túmulo, deserto;

E o vergel onde outrora as lindas cores
Das rosas de um porvir risonho e certo
Brilhavam, tem espinho em vez de flores!

LUZ E SOMBRA

Por toda parte a luz, a placidez, o amor,
A graça festival do campo e do perfume,
A beleza sutil que traduz e resume
A ventura, a inocência, a primavera em flor....

É mais sereno o azul... Das águas o frescor
Tem um doce carinho, e misterioso nome,
De terra a repelir os rancores e o ciúme,
Imprime à natureza idêntico fulgor.

Será crível, meu Deus, perante este cenário?
Tão belo e encantador, tão puro e deslumbrante...
Que eu tenha o coração preso o triste fadário?

Que eu tenha o coração envolto em negros véus,
Sendo deste concerto a nota dissonante
A nuvem que perturba a limpidez do céu?!

O SONHO DE COLOMBO

Dorme embalado na caricia rude
Da vaga azul, indoôita, fremente,
E um áureo sonho ao viajar ilude
- Bela visão do labio sorridente -

É ela, a Gloria? Oxalá não mude
O rumo ousado ao genial dormente,
Que durma, pois, assim tranquilamente
Do velho mar na intérmina amplitude!

Que sonho é esse? Um Mundo, o Mundo Novo
E no futuro o progredir de um povo,
Grande na páz, impávido na guerra;

Eis que o gajeiro brada alviçareiro;
E o brado ecoa no universo inteiro
Levanta-te, Colombo! Terra. Terra.

CRIANÇA

Nem um prazer enubla-lhe a existência
Vive a sorris feliz e descuidosa,
Do azul do seu olhar na transparência
Reflete-se do céu a luz formosa

Irmã dos lírios, bela como a rosa
Tem dos anjinhos a divina essência,
Orna-lhe a fronte o mundo da inocência
Fúlgido como estrela radiosa

Eu, quando a fito meiga e pequenina
Botão de flor que a coragem militança
Num doce alfaz o envolício decerra

Desejo vê-la assim sempre criança
Rindo a brincar num sonho de esperança,
Cheia de graça que a inocência encerra

NINHO DESFEITO

Inda há pouco cantava docemente,
Num transporte de candidos amores,
O casal de avesinhas inocentes,
A tercer o seu ninho entre as flores.

Embebidas num sonho transparente,
Elas iam saudando os esplendores
Do sol que, despontando sorridente,
Resplendia da serra nos verdores.

Mas ah! Um caçador disapiedado
Perturbou os idílios de noivado
Roubando ao par gentil a f’licidade,

Hoje o ninho balouça-se deserto
_ Monumento gentil que lembra incerto
Um mistério de amor e saudade!

MÊS DAS FLORES

És das flores o mês, o belo mês festivo,
Em que virgem do céu, a terra inteira exalta;
Tem do inverno o esplendor no verde que se esmalta
Quase sempre num tom mais nítido e expressivo.

Ao ver-te quem não sente em ti o anseio vivo
De gozar teu encanto e a graça que ressalta
Da linda primavera e brilha inspirativo,
Se o afeto docemente a alma me assalta?

Que lembranças de outrora! Ao rosicler da infância
Feliz eu te esperava e a cândida fragrância
Espalhavas do bem em doce alacridade.

És sempre o mês florido, ameno e perfumado,
Mas para que um coração em mágoas torturado
Tens em meio da flor o espírito da saudade.

VISÃO CAMPESINA

Que mimosa casinha emoldurada
De baunilhas em flor ! Um doce ninho...
Murmureja um regato, ali pertinho,
Ri-se a campina verde e perfumada.

Não lhe falta o cantar de passarinho,
Numa orquestra de amor bem afinada,
Que me faz esquecer o torvelinho
Dessa vida de praça emocionada.

O céu sereno e azul... Faceira a brisa,
Aqui tudo me enleva e, alegre sinto
Que o tempo mansamente se desliza.

Uma casinha só ! Qualquer cidade
Por ela não trocara... Em seu recinto
Gozei do bem a paz, a suavidade!

MISTÉRIOS

Há um encanto secreto, um mistério insondável
No seio da floresta, e o seu recesso esconde
Tanta coisa ideal, sobre a rendada fronde,
Na beleza sem par, selvática, admiravel!

A ave que desata a voz límpida, inefável
A voejar pelo azul exprime de onde em onde
Um idílio de amor que a brisa ressponde
E o aroma a se espargir , num eflúvio adorável.

Nos esponsais da flor, oh! Que ternura existe!
Que pode compreender a força que persiste,
A vibrar no mistério, a palpitar no arcano?

Quem pode do porvir traçar o intenerário,
Investigar quem ousa o pensamento vário
E o supremo mistério – o coração humano?

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=74

J. G. de Araújo Jorge / AC (A Cantiga Do Só) 11. A Primeira


Foste o nosso primeiro balbucio
a primeira palavra pronunciada;
o primeiro aconchego, se fez frio,
- nosso primeiro passo pela estrada.

O primeiro conselho, ante o desvio
que pudesse levar a uma emboscada;
a presença, mais que outras, desejada,
nos momentos de dor ou desvario...

Foste tudo de bom que aconteceu:
o beijo puro, o gesto carinhoso,
a mão primeira que nos protegeu...

Tudo nos deste: o próprio Ser e o nome,
e foi teu seio farto e generoso
que silenciou nossa primeira fome!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Ialmar Pio Schneider (Cântico Triste)


Vai devagar... não queiras muito; aos poucos
alcançarás as tuas pretensões...
Não te aventures em desejos loucos !
Assim falei com meus botões...

O caminho que segues não tem volta,
como também não voltam ocasiões;
aproveita o que podes, sem revolta...
Assim falei com meus botões...

Alimenta com muito amor teus sonhos
embora já não tenhas ilusões,
que eles te ajudam, mesmo que tardonhos...
Assim falei com meus botões...

Depois desconsolado estava triste
a compor meus poemas e canções,
lembrando alguém que não me quer e existe...
E me calei com meus botões...

Pág. 16 - O TIMONEIRO - CANOAS, 10.8.84

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 540)


Uma Trova de Ademar

Espero que se convença
com essa minha resposta:
– não sou o que você pensa...
Mas tenho o que você gosta!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Deu fuzuê, acredite,
com a filha do Aristeu,
quando a sua “apendicite”
com quatro quilos nasceu...
–JOÃO FREIRE FILHO/RJ–

Uma Trova Potiguar


Eu não sei bem se é pecado,
só sei que fiz e não nego;
já roubei um aleijado
para socorrer um cego.
–LUIZ XAVIER/RN–

Uma Trova Premiada


2002 - Garibaldi/RS
Tema: “LIVRE” - M/H


Diz “Não” à sogra e à cunhada.
- é astuto e não cai na rede –
“Família, aqui, só a Sagrada
e pregada na parede!”
–THEREZINHA BRISOLLA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Três invenções sem futuro:
Carro, mulher e baralho.
As três me deixaram “duro”,
não sei quem deu mais trabalho!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

U m a P o e s i a


Maria lembre das juras
que a gente fez na matriz...
Esqueça de advogado,
de promotor, de juiz,
mulher... Deixe de ser tonta...
Se acostume a levar ponta
que a gente vive feliz...
–CHICO PEDROSA/CE–

Soneto do Dia

Consagração
–PEDRO MELLO/SP–


Cansado do "jejum" que a sua idade
lhe impôs à atividade sexual,
o vovô se animou com a novidade
de que o Viagra não faria mal...

Cheio de amor pra dar e de Ansiedade,
Alfredo foi pular o Carnaval...
E na Sapucaí, uma beldade
fá-lo sentir-se forte e jovial...

Mas na hora "H"... seu coração se abate...
Alfredo é posto fora de combate,
mas sucumbe feliz nosso ancião:

É velado com grande galhardia
e, escondendo o "tamanho" da alegria,
flores a mais enfeitam seu caixão...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Anibal Beça / AM (Livro de Sonetos I)


SIMPLES SONETO

Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval

para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana

PROFISSÃO DE FÉ

Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.

Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .

No vôo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.

É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.

PARA QUE SERVE A POESIA?

De servir-se utensílio dia a dia
utilidade prática aplicada,
o nada sobre o nada anula o nada
por desvendar mistério na magia.

O sonho em fantasia iluminada
aqui se oferta em módica quantia
por camelôs de palavras aladas
marreteiros de mansa mercancia.

De pagamento, apenas um sorriso
de nuvens, uma fatia de grama
de orvalho e o fugaz fulgor de astro arisco.

Serena sentença em sina servida,
seu valor se aquilata e se esparrama
na livre chama acesa de quem ama.

SONETO QUEBRADIÇO

Mão minha com maminha movediça
traçando vai na limpa areia branca
versos cambaios, frouxos, na liça
língua caçanje, claudicante, manca.

No pé quebrado o ritmo se atiça
para dançar com rimas pobres, franca
trança de cambalhota tão cediça,
que me corrompe o salto e que me estanca.

Queda de braço nas quebradas quebras
vou me quebrando como um bardo gauche:
pelas savanas sou mais uma zebra.

Mas consciente desse torto approuch
já me socorre a gíria de alma treta
para solar meu solo nos ouvidos moucos.

NOSSA LÍNGUA

para o poeta Antoniel Campos*

O doce som de mel que sai da boca
na língua da saudade e do crepúsculo
vem adoçando o mar de conchas ocas
em mansa voz domando tons maiúsculos.

É bela fiandeira em sua roca
tecendo a fala forte com seu músculo
na hora que é preciso sai da toca
como fera que sabe o tomo e o opúsculo.

Dizer e maldizer do mel ao fel
é fado de cantigas tão antigas
desde Camões, Bandeira a Antoniel,
este jovem poeta que se abriga

na língua portuguesa em verso e fala
nau de calado ao mar que não se cala.

* "filiu brasilis, mater portucale,
Que em outra língua a minha língua cale.”


ARS POÉTICA

Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rês na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.

Vou e volto lambendo o sal do fardo
língua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.

Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.

Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.

SONETO DE ANIVERSÁRIO

Setembro me agasalha nos seus galhos
e de amor canto no seu verde ventre:
Eis a ventura vaga em danação,
bronze canonizado nas cigarras.

O canto é breve, fino, e já anuncia
o inconfundível som do último acorde:
aquele dó de peito em nó estrídulo.
Como Bashô sonhara, é despedida

que mal se sabe, é morte anunciada,
canora liturgia sazonal.
Em setembro me mato e me renasço

em canto livre, rouco, sem ter palco,
representando de cor e salteado
o meu 13, que é fado e sortilégio.

ÚLTIMO ROUND

O vento que de verde tudo varre
não varre esta floresta onde eu habito.
Espana roxas nódoas de um espárringue
que sou eu mesmo a rir por esses ringues.

Porradas que me dou? Mero detalhe,
de quem passou a vida sem ter sido
sendo, o sabido súdito do anárquico.
Não fui, não sou, não quero ser doído.

O menestrel choroso? Este não vale,
perdeu-se pelos socos de outras divas
em noites desbotadas na paisagem.

Mas então, o que fica dessa trilha?
ora, amigo, nocautes dessa aragem
varrida nos cruzados descaminhos.

MALA COM ALÇA

É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sisifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de seqüelas.

Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vão-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,

o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitória.
Somos do barro e ao barro voltaremos.

A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua história.

SONETO COM ESTRAMBOTE ENVIESADO

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.

Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.

JOROPO PARA TIMPLES E HARPA

Em duas asas prontas para o vôo
assim se foi em par a minha vida
e com rilhar de dentes me perdôo
trilhando as horas nuas na medida

Bilros tecendo rendas amarelas
bordando em vão um tempo já remoto
no sol dos girassóis da cidadela
canto um recanto que me faz devoto

A dor que existe em mim raiz que medra
no rastro mais sombrio as minhas luas
talvez não fora Sísifo ou a pedra

que encontro todo dia pelas ruas
ao revirar as heras nessa redra
trilhando na medida as horas nuas

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=64

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 539)


Uma Trova de Ademar

Quando o amor se consolida,
mesmo que vire rotina,
termina tudo na vida
mas esse amor não termina!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Nesse amor que o peito encerra
embalo a doce esperança
da paz que o gemido enterra
na magia da lembrança.
–AYDA BOCHI BRUM/RS–

Uma Trova Potiguar


-Musas divinas!... Ao vê-las,
no sonho que me seduz,
subo ao ninho das estrelas,
seguindo os rastros da luz!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


1987 - Porto Alegre/RS
Tema - REGRESSO - M/E


Caminhei pelo infinito,
vaguei por milhões de espaços...
Até lá estava escrito
o meu regresso aos teus braços!
–GISLAINE CANALLES/SC–

...E Suas Trovas Ficaram


Na vida, na grande luta,
se acaso te foge a paz,
confia, que Deus te escuta
as preces que a gente faz!...
–CÉLIO GRUNEWALD/MG–

U m a P o e s i a


Lembro o dia que fiz um juramento
na presença de Deus, reto juiz,
de amar minha mulher no sofrimento
e no momento que esteja mais feliz;
e neste juramento que eu lhe fiz
eu jurei de joelhos num altar
de viver eternamente pra lhe amar
e que não a deixaria abandonada...
A cruz do matrimônio é tão pesada
que precisa de dois pra carregar...
–ADEMAR MACEDO/RN–
(Essa estrofe eu declamei hoje na 98FM...)

Soneto do Dia

Extravagante
–DOROTHY JANSSEN MORETTI/SP–


Sempre cultuo a forma clássica do verso,
a musicalidade, a rima bem sonante
e às vezes se obedeço a algum impulso inverso,
jamais descarto o ritmo, que em mim é constante.

Até posso assumir um estilo diverso
que o esteta vai chamar ambíguo e extravagante:
ser clássica e moderna, ser reverso e anverso,
mas sem trair a escola ou ser deselegante.

Nem sempre, então, atento à rima num soneto,
como se livre fosse o verso... branco (ou preto),
nem respeito o hemistíquio num alexandrino.

Acolho a inspiração como ela bate à porta,
trazendo-me no dorso a rima certa, ou torta...
E o ritmo? Ah, esse é música! Eu não desafino!

Wagner Marques Lopes/MG (O LAR em trovas) – parte 8, final


Lar, núcleo de ensino

Paraíso adamantino
- lugar de vivo esplendor –
o lar é núcleo de ensino,
onde o bom mestre é o Amor.


Formando bons lares

O lar justo é parte rica,
alcançando bons escores:
noutros lares se duplica,
tão iguais ou bem melhores.

Lar e completude humana

O homem busca conquistas:
Lua, redes, Internet...
Só o lar detém as pistas
de verdades que o complete.

Lar e família: estrelas gêmeas

Entre miríades de estrelas,
quero as duplas, a brilhar...
Em céus de amor hei de vê-las:
a família e o doce lar!
-------------
breve, do mesmo autor, A Família em Trovas
-----------
Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 10. A Palavra Mãe


Do pátrio idioma és a mais bela flor
unipétala flor nunca esquecida,
sinônimo de nossa própria vida,
traço de união entre a alegria e a dor...

Superlativo da palavra "amor"!
Verbo do coração; ternura e lida;
- tudo em ti se resume, e és tão querida,
que igual não há, seja em que idioma for!

Antes que as outras todas te aprendemos,
e desde quando te tornaste em fala
simbolizas o amor capaz de extremos...

- "Mamãe"... Palavra azul, cor da distância...
Quem não pode um dia pronunciá-la,
nasceu... cresceu... mas nunca teve infância!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Feiras Nacionais de Livro (Meses de Abril e Maio)


9ª Feira de Livros de Joinville/SC

De 12 a 22 de abril de 2012.
Nos expocentros: Edmundo Dobrawa / Alfredo Salfer e Teatro Juarez Machado
Telefone: 47 3422-1133
E-mail: feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br
Site: www.institutofeiradolivro.com.br

1º Salão do Livro de Suzano
De 13 a 22 de abril de 2012.
Local: Parque Max Feffer ( Av. Roberto Simonsen / JD Imperador).
Telefone: 11 2925-4129
E-mail: contato@spoladoreeventos.com.br
Site: www.spoladoreeventos.com.br

1ª Bienal Brasil do Livro e Leitura
De 14 a 23 de abril de 2012.
Esplanada dos Ministérios – Brasília /DF
Informações: 11 3333-7878 ou 61 3321-9922

3º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil
18 de abril de 2012.
Fone: 21 2262-9130
E-mail: semninario@fnlij.org.br
Site: http://www.salaofnlij.com.br

14º Salão FNLIJ do Livro
De 18 a 29 de abril de 2012.
Fone: 21 2262-9130
E-mail: seminário@fnlij.org.br
Site: http://www.salaofnlij.com.br

1ª Bienal do Livro de Amazonas
De 27 de abril a 7 de maio de 2012.
Centro de Convenções Estudio 5 – Manaus.
Site: www.fagga.com.br
Telefone: 11 3044-441

VII Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas - Flipoços
De 28 de abril a 06 de maio de 2012.
Telefone: (35) 3697-1551
Site: www.feiradolivropocosdecaldas.com.br

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

3º Congresso Internacional CBL do Livro Digital (10 e 11 de Maio)


Washington Olivetto é presença confirmada no 3º Congresso Internacional CBL do Livro Digital. Pegando como gancho principal o tema “A força das mídias digitais na divulgação do livro", o publicitário fará sua palestra no dia 11 de maio no Centro de Eventos da Fecomercio, em São Paulo.

Olivetto abordará temas ligados à comunicação, publicidade e cultura popular e sobre o futuro da propaganda seja ela analógica ou digital. Apresentará casos de sucesso e reforçará que a "grande ideia" é elemento fundamental na comunicação, seja qual for a tecnologia empregada para difundi-la. Idealizado e realizado pela Câmara Brasileira do Livro, o Congresso – que acontece nos dias 10 e 11 de maio, em São Paulo – e a própria entidade constituem o principal fórum brasileiro, no qual participarão personalidades internacionais, para a discussão e debate das tendências do mercado editorial e conteúdo digital mundiais.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

XXVII Concurso de Poesia 'Brasil dos Reis' (Resultado Final)


Tema: Caminho – Soneto Nacional

1º - Thereza Costa Val
Cuidados no caminho
Belo Horizonte / MG

2º - Antônio Roberto de Carvalho
Caminhante
São Paulo / SP

3º - Edmar Japiassú Maia
Ladeira
Rio de Janeiro / RJ

4º - Luna Fernandes
Caminho do bem
Rio de Janeiro / RJ

5º - Antônio Carlos T. Pinto
Revolta
Brasília / DF

6º - Wanda de Paula Mourthé
Convite de estrelas
Belo Horizonte / MG

7º - Maria Madalena Ferreira
Meus caminhos
Magé / RJ

8º - José Messias Braz
Versos negros
Juiz de Fora / MG

9º - Roberto Resende Vilela
Caminhada
Pouso Alegre / MG

10º - Gilson Faustino Maia
Meu conselho
Petrópolis / RJ

Tema: Natureza – Verso Livre Nacional

1º - Thiago Oliveira de Carvalho
Natureza morta
Rio de Janeiro / RJ

2º - Marcelo Zanconato Pinto
No palco da natureza
Juiz de Fora / MG

3º - André Telucazu Kondo
A cada folha
São Paulo / SP

4º - Edna Valente Ferracini
Natureza
São Paulo / SP

5º - Lohan Lage Pignone
Natureza desumana
Trajano de Moraes / RJ

6º - Maria Romana Costa L. Rosa
Amar a natureza
Faro – Portugal

7º - Heloísa Zanconato
Natureza
Juiz de Fora / MG

8º - Nathalia da Cruz Wigg
Múltiplas naturezas
Rio de Janeiro / RJ

9º - Renato Vieira Ostrowski
Natureza
Campo Magro / PR

10º - Simone Alves Pedersen
Corram...
Vinhedo / SP

Tema: Infância – Soneto Regional

1º - Neusa Aparecida M. Maia
Lembranças
Angra dos Reis / RJ

2º - Rose Lopes
A infância
Angra dos Reis / RJ

3º - Rita de Cássia L. Dardengo
Resto de infância
Angra dos Reis / RJ

4º - Ronaldo Oliveira Santos
Infância , a melhor vinha...
Paraty / RJ

Tema: Velhos Casarões – Verso Livre Regional

1º - Leilda Pereira Leone
Velhos casarões
Rio Claro / RJ

2º - Lisabete Lopes Loureiro
Velhos casarões
Rio Claro / RJ

3º - Silvia Alice de C. Soares
Relicários
Angra dos Reis / RJ

4º - Sebastião Isidro de Araújo
Velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

5º - Lenine Sérgio de Moura
A corte e os velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

6º - Maria Helena U. C. Fonseca
A vida da gente
Angra dos Reis / RJ

7º - Maria José Moreira Dias
Velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

8º - José Carlos de Almeida
Uma viagem no tempo
Angra dos Reis / RJ

9º - Tânia Lima
Temores
Angra dos Reis / RJ

10º - Denise Constantino da Fonseca
O beijo selador
Angra dos Reis / RJ
-
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Concurso Cultural 'Porto Alegre, meu lugar' (Cronicas Vencedoras)

As três melhores crônicas:

"Sobre Porto Alegre", de Gabriel Braga Zarth, 17 anos;

"Porto Alegre, Paris de Minha Infância", de Maria Lenira Souza Pereira, 57;

"Porto Alegre, Meu Lugar", de Ricardo José de Souza Almeida, 50.

Fontes:
http://www.correiodopovo.com.br/
http://concursos-literarios.blogspot.com

Concurso Cultural 'Fábrica de Poesia' (Resultado Final)

LIMERIQUE

1º LUGAR - Elton C. A. Júnior (Bauru - SP)
2º LUGAR - Tatiane Panzarini Labliuk (Pirapora do Bom Jesus - SP)
3º LUGAR - Vera Lúcia Scherer (Rio Grande - RS)

HAICAI

1º LUGAR - Altair Cachone (Londrina - PR)
2º LUGAR - Sérgio Bernardo (Nova Friburgo - RJ)
3º LUGAR - Samantha Costa de Sousa (Paragominas - PA)

CORDEL

1º LUGAR - Arlene Moreira Rodrigues (Belo Horizonte - MG)
2º LUGAR - Elenir Ferreira Nunes Gonçalves (Buritizeiro - MG)
3º LUGAR - Roque Aloisio Weschenfelder (Santa Rosa - RS)

SONETOS

1º LUGAR - Rosane Granja Fernandes (Petrópolis - RJ)
2º LUGAR - Francisca Alana Araújo Aragão (Sobral - CE)
3º LUGAR - Leandro Raimundini (Batatais - SP)

Fontes:
http://educarparacrescer.abril.com.br/concurso-cultural/fabrica-de-poesia/resultado.shtml
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Seleção para a Antologia “Amores Imortais” (Prazo: 20 de Maio)

Organização:
Bianca A. e Silva e Editora Canápe
amores-imortais@hotmail.com


Regulamento:

Quanto às inscrições:


Não há restrições quanto a naturalidade do autor desde que seu texto seja enviado em língua portuguesa.

Menores de idade também podem enviar seus textos, porém se selecionados, deverão encaminhar futuros documentos assinados pelos responsáveis.

O autor pode enviar quantos textos desejar, contudo devem ser enviados separadamente e apenas um será selecionado.

O envio dos textos deverá ser feito somente pelo e-mail amores-imortais@hotmail.com, com o nome e o telefone do participante.

As inscrições são inteiramente gratuitas, assim como a participação em caso de aprovação. Não serão obrigatórias quaisquer aquisição de exemplares.

As inscrições serão iniciadas no dia 08/04/12 e serão encerradas no dia 20/05/12.

Quanto aos textos:

Os textos deverão ser sobre: histórias de amor envolvendo vampiros.

A narração deverá ser em 3ª pessoa.

Deverão ter um limite entre 41.000 e 55.000 caracteres com espaços. Os textos acima ou abaixo desse limite serão descartados sem aviso por parte do organizador.

Não serão aceitos textos com cenas de sexo explicito, qualquer tipo de preconceito e cenas de extrema violência.

Textos em coautoria serão aceitos, todavia contarão apenas com uma cota de participação.

Não serão aceito textos já publicados em papel ou ebook. Poderão ser enviados textos que foram publicados na internet, todavia o autor deverá tirá-lo do ar durante o processo de seleção e se selecionado, durante um ano após a publicação do mesmo.

Quanto à seleção:

Os textos serão selecionados pelo organizador da antologia, podendo ser feita avaliações por parte de leitores que não serão identificados.

Como critério será levado em conta as características de um conto e o cumprimento das regras descritas no regulamento.

Não será dado nenhum parecer quanto aos textos que não forem selecionados.

Quanto ao resultado:

O resultado será divulgado até o dia 18/06/12, através do blog da antologia e facebook. Os autores selecionados também receberão e-mails comunicando sobre sua aceitação na antologia, somente após a divulgação na internet.

Os autores não selecionados não receberão comunicados sobre o resultado.

Poderá haver substituição de nomes na lista de selecionados, mesmo depois da divulgação do resultado, caso haja inconsistência ou insuficiência dos dados de um autor, para a confecção do contrato de publicação, comprovação de não ineditismo da obra enviada ou desistência de participação.

Quanto à publicação:

O autor não pagará nenhuma taxa para participar da antologia, mesmo depois de selecionado. Também não será exigido ao autor que adquira nenhum exemplar da antologia. A compra de exemplares por parte do autor é opcional, e nesse caso será concedido descontos a serem divulgados no momento da comercialização.

Os autores que desejarem comprar um maior número de exemplares para revender ou presentear, deverão negociar diretamente com a editora entrando em contato com antecedência.

Cada autor selecionado receberá como forma de direito autoral 1 exemplar do livro.
Qualquer dúvida quanto à antologia, entrar em contato pelo e-mail: amores-imortais@hotmail.com

Fontes:
http://amoresimortais.wordpress.com/regulamento/
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Wagner Marques Lopes/MG (O LAR em trovas) – parte 7


Lar, o pouso da paz

Ontem: dor, decepções...
Lar – o pouso que refaz.
Ainda agora: corações
Refeitos, calmos, em paz.

Lares – bons vizinhos

Os lares enfileirados
quais ovelhas nos caminhos,
vivendo em paz, lado a lado,
sabendo ser bons vizinhos.

Lar e convivência

O lar que escreve nas linhas
da convivência sincera,
descobre nas entrelinhas
a paz que ele tanto espera.

Alegria no lar

Aurora. O Sol se irradia,
superando névoa densa.
No lar, o sol da alegria
bela manhã nos dispensa.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 538)

Um Pouco da Orla de Maceió/AL

Uma Trova de Ademar

Nas prateleiras da mente
eu guardo a todos instantes
os meus versos do presente
e os versos que eu já fiz antes.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Trago no peito guardada,
entre as lembranças da vida
a Silhueta gravada
da tua imagem querida!
–ZENAIDE MARÇAL/CE–

Uma Trova Potiguar


Tristeza no peito sinto,
em ver que a mãe terra come,
o próprio filho faminto,
que a mesma matou de fome.
–LUIZ DUTRA/RN–

Uma Trova Premiada


2005 - Belém/PA
Tema - DELÍRIO - M/E


Vivo em constante conflito
entre o delírio e a razão:
- Meu sonho alcança o infinito,
meus pés tropeçam no chão!
–ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Nenhum barco... o mar parado.
Noite... silêncio... abandono.
E o velho farol, cansado,
parece piscar de sono...
–DURVAL MENDONÇA/RJ–

U m a P o e s i a


Se este mundo se fechar
como as portas de uma cela,
há de restar, pelo menos,
o claro de uma janela
para a entrada da poesia,
sem a qual nos faltaria,
na vida, a coisa mais bela.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Soneto do Dia

Juramento
–DARLY O. BARROS/SP–


Antes que o sol desponte e, em ouro puro,
se faça sobre a areia e sobre o mar,
a perscrutar o manto claro-escuro
da via-láctea, quase a despertar,

ao ano que começa agora, eu juro,
em vala funda as mágoas soterrar;
quero de todo, novo o meu futuro
e nele as mágoas não terão lugar!

Cumprindo a jura feita, renovado,
começo dando as costas ao passado
e dele, enfim liberto, abrindo os braços,

sorvendo do ouro desse sol nascente,
com alma nova, vou seguindo em frente,
como se desse os meus primeiros passos...

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 9. A Palavra


Sou apenas o reflexo
o retorno,
um instrumento...

A poesia está na rua
na vida,
no homem,
- todo momento.

Sou apenas, talvez,
o porta voz,
recebo ordens,
e mesmo quando a vida
é minha vida,
cumpro uma missão.

Que este é o destino
do Poeta,
ser a palavra
(letra e música)
- que revela o mundo
e o coração!...

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Mia Couto (O Último Voo do Tucano)


Ela estava grávida, em meio de gestação. Faltavam dois meses para ela se proceder a fonte. O que fazia, nessa demora? Deitava-se de ventre para baixo e ficava ali, imóvel, quase se arriscando a coisa. Que fazia ela assim, barriga na barriga do mundo?

- Ensino o futuro menino a ser da terra, estou-lhe a dar pés de longe- .

Ela queria a viagem para seu filho. O pai sorria, por desculpa aos deuses. E ficava a coar o tempo, fazendo promessas logo-logo arrependidas: "Amanhã ou quem sabe depois?" Desentretanto, nada acontecia.

Aconteceu sim, foi numa noite farinhada de estrelas. O pai estava sentado sob a palmeira, a ver o mundo perder peso. Saboreava a carícia da preguiça dominical. Domingo não é um dia. É uma ausência de dia.

A mulher se chegou, em gesto fingido de segurar barriga. Sempre ela tivera os rins ruins. Assim, de encontro ao poente, a mulher parecia dobra de cobra, flor à espera de vaso.

- Mando, você conhece a maneira dos tucanos ninharem?

- Conheço, com certeza.

- Porque não fazemos igual como eles?-

O homem quase caiu das costas. Mas não reagiu, concordado com o silêncio. Não é só a barriga: cabeça dela também inchou, pensou. Mas segurou a palavra e com ela se acordou.

- Começamos quando?-

Nessa noite, ele contou as estrelas. A angústia lhe enxotava o sono. Fazer como os tucanos? Somos aves, agora? Como recusar, porém, sem chamar desgraças? Assim, no dia seguinte, ele deu início à loucura. Começou a fechar a casa com paus, matopes, água e areias. A casa foi ficando com mais paredes que lados. Tapadas foram as portas, fechadas as janelas. Deixou só uma pequena abertura e voltou a juntar-se à esposa.

A mulher se sentou no banquinho de mafurreira e deixou que o homem lhe cortasse os cabelos e rapasse todos pêlos do corpo. Imitavam a tucana que se depena para construir o ninho.

Depois ela se despiu, libertou-se das vestes e atirou as roupas no obscuro da casa. E se despediram, fosse tudo aquilo nem vivido, simples fantasia. A mulher entrou na escura casa e ficou de costas. O marido maticou a abertura, enconchando a casa. Mas não tapou tudo: ficou um buraco onde mal metia o braço.

Fechada a obra, ele recuou uns breves passos para contemplar a casa. Aquilo, agora, mais se parecia um imbondeiro. A grávida estava aprisionada, na inteira dependência dele. Morresse o homem e ela definharia, desnutrida, desbebida. Os seus destinos se igualavam ao dos tucanos em momento de ninhação.

Nos tempos que seguiram, o homem cumpriu seu mandato: matutinava para trazer comeres e beberes. Duas vezes ao dia ele chegava e assobiava em jeito de pássaro. Ela acenava, apenas a mão dela se arriscava à luz.

- Não tem medo que eu fique por lás, nunca mais voltado?

- Você, marido, sempre há-de voltar. Você tem doença da água: mesmo da nuvem sempre regressa- .

E assim se sucederam meses. Até que, uma vez, ela lhe disse: - não venha mais!- Ele sabia que ela estava anunciar o parto.

- Você quer que eu fique perto?

- Não, espere longe- .

Ele longe não foi. Ficou atento, próximo, caso a necessidade. Esperou um dia, dois, muitos. Nada, nem um choro a confirmar o nascimento. Até que se determinou fazer valer sua dúvida. Chamou por ela, quase a medo. Tivessem morrido mãe e filho, ao desumbigarem-se. Já ele se decidia a arrombar o esconderijo quando de dentro do escuro se vislumbrou o aceno de um pano. A mulher estava viva. Logo, acorreu ele ansioso:

- A criança?

- A criança, o quê?-

Ele não soube juntar mais pergunta. Quem mais se engasga é quem não come. A mulher, simples, disse que o menino estava que até Deus se haveria de espantar. Que ela precisava ficar ainda uns tempos assim, no choco, na quenteação do ninho para dar despacho ao crescer da vida.

Nessa primeira semana, ele ficou no quintal, em estado de nervos. É que não escutava nem chorinho, assobio de fome do menino. E se passavam semanas, lentas e oleosas.

- lhe peço, mulher. Me deixe ao menos ver o menino nosso- .

Ela então fez sair as mãos em concha pelo pequeno buraco. Só se via o enxovalhado enxoval.

- Segure aqui, mando. Cuidado- .

Ele, embevecido, aceitou o embrulho das roupas.

- Posso espreitar, ao menos?

- Não, ainda não se pode ver- .

E recolheu a dádiva, se deleitando com esse consolo. Ficou experimentando a ausência de peso daquele volume. Tão leve era o objecto que não havia força que o suportasse. O embrulho lhe tombou das mãos e se espalmilhou na areia. Foi quando, de dentro dos panos, se soltou um pássaro, muito verdadeiro. Levantou voo, desajeitoso, aos encontrões com nada.

O homem ficou a ver as asas se longeando, voadeiras. Depois, ergueu-se e se arremessou contra a parede da casa. Tombaram paus, desabaram matopes, despertaram poeiras. Agachada num canto estava a mulher, de ventre liso. Junto dela a capulana ainda guardava sangues. Areias revolvidas mostravam que ela já escavara o chão, encerrando a cerimónia. Ele se ajoelhou e acariciou a terra.

Fonte:
Mia Couto. Contos do Nascer da Terra. Vol.1. Porto: CPAC, 1998.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 537)


Uma Trova de Ademar

Me alimento de poesia
e, feito com massas novas,
eu como um pão todo dia
amanteigado de Trovas.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Por mim estou pronta a entrar
no Céu, contente e feliz,
e ouvir os Anjos cantar
os lindos versos que fiz!
–CLARISSE BARATA SANCHES/PRT–

Uma Trova Potiguar


Quando o vento abre a cortina,
olho e sinto nostalgia;
pois não suporto a rotina
da nossa cama vazia.
–HÉLIO PEDRO/RN–

Uma Trova Premiada


1992 - Amparo/SP
Tema - TREVAS - M/H


A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Vida, a longa caminhada:
- Nascer, viver e morrer.
E ao final sua morada,
você não pode escolher.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

U m a P o e s i a


Quem não tem amor a Deus,
quem não tem amor aos pais,
quem não tem amor aos seus,
irá sofrer muitos ais.
Pois o amor é que alimenta,
que dá gosto, dessedenta,
é o amor, a própria vida.
quem não tem amor vegeta,
não tem rumo, não tem meta,
no céu não vai ter guarida.
–RAYMUNDO SALLES/BA–

Soneto do Dia

Por Que?
–DIVENEI BOSELI/SP–


Homem, que te deitaste, ousado, em minha cama
e comigo fizeste os filhos que tivemos,
como é comum ao ser que vive, luta e ama
e mostra a todo mundo a farsa que vivemos;

homem, que me envolveste em ardilosa trama,
comigo tripudiaste e, em brigas, nos batemos,
como é comum a quem faz da comédia o drama
e vai expor na feira os sonhos que vendemos;

a quem eu escrevi meu verso mais amargo,
por quem cedo verti a lágrima mais linda
e tarde desprezei, audaz, com gesto largo;

se até já te esqueci, se a nossa trilha é finda,
por que te escrevo agora estes versos de embargo?
Se não te quero mais, por que te escrevo ainda?...

Alcantara Machado (As Cinco Panelas de Ouro) Parte 4, final


A sala das sessões já estava apinhada. Padre Zoroastro na presidência explicou os fins da reunião e deu a palavra para Antônio Vicente. Este falou:

- Os que como nós costumam buscar no passado os ensinamentos para o presente sabem que na Idade Média várias expedições armadas chamadas Cruzadas deixaram a Europa para arrancar Jerusalém das garras sacrílegas dos muçulmanos!

- Que é que nós temos com isso? - perguntou o genro de Zéquinha Silva.

- Muita coisa! Vossa Excelência não me deixou terminar o paralelo que pretendo esboçar! Com efeito, meus senhores, ao grito de Deus o quer! os cristãos do Ocidente mais de uma vez se levantaram de armas nas mãos para expulsar da Cidade Santa os infiéis do Oriente! Pois bem! Nós, os fundadores da República Nova, também nos levantamos ao grito de Revolução o quer! para exigir que os membros da atual comissão das obras da matriz, infiéis de 24 de Outubro, sejam destituídos e imediatamente substituídos pelos fiéis de Copacabana, pelos heróis...

Padre Zoroastro interrompeu:

- Eu acho que a discussão deve ser curta não é? - e se cingir aos fatos. É. Devemos economizar nosso tempo.

- Também acho, excelentíssimo senhor presidente desta augusta assembléia! E é por isso...

- O que o Senhor Antônio Vicente pede é a substituição da comissão atual. Não é? E funda seu pedido no fato do Senhor José Silva e demais membros da referida comissão não serem revolucionários. Pois então. Já estamos cientes. E eu vou dar a palavra ao Senhor José Silva para dizer o que julgar conveniente a respeito. Fica bem assim. Não é? Tem a palavra o Senhor José Silva.

Zéquinha Silva principiou dizendo que desconhecia revolucionários em Jataí-Vila a não ser alguns de última hora. Colocava pois a questão em outro terreno. Achava que se devia somente indagar se a atual comissão era ou não composta de gente trabalhadeira e honesta. Porque ser revolucionário só não adianta.

- Eu sou produto do meu trabalho honrado - gritou o major.

- Como é mesmo? - perguntaram.

- Ficam proibidos os apartes -~ falou Padre Zoroastro. - Não é melhor? Continue, Seu Zéquinha.

Zéquinha provou documentadamente que a comissão presidida por ele sempre se houve com diligência e probidade. Em todo o caso desistia, por si e pelo genro, de continuar nela se a maioria dos presentes quisesse. Mesmo porque confiança não se impõe.

Padre Zoroastro disse que era melhor recolher logo o voto dos presentes. Os presentes (com exceção do major, Antônio Vicente e Nicolau que queria a palavra para uma explicação pessoal) concordaram. E Padre Zoroastro falou que antes de proceder à votação desejava ler para governo de todos uma carta do bispo de Samburá. Na carta do bispo dizia que, caso fosse destituída a comissão atual que lhe merecia a mais absoluta confiança, não autorizaria outra que se formasse a dirigir as obras da matriz e suspenderia estas até melhores tempos.

- Ah! É assim? - berrou Nicolau. - O senhor, Padre Zoroastro, quer fazer pressão? O senhor se engana! Não estamos mais sob o domínio do perrepismo!

E a confusão se fez com injúrias pesadas. Mas Padre Zoroastro ameaçou se retirar e conseguiu assim restabelecer a calma. Então disse:

- Senhor Nicolau Foz, saiba que eu não fiz mais do que cumprir o meu dever de pároco lendo a carta do excelentíssimo senhor bispo desta diocese. Não é?

- Perfeitamente! - apoiaram.

- Mas se o senhor tem algum esclarecimento importante a dar e promete não se exaltar eu lhe concedo a palavra por cinco minutos.

Nicolau de olhos fechados fungava forte entre o major e Antônio Vicente.

- Não tem nada a dizer? - perguntou Padre Zoroastro.

Nicolau abriu os olhos, viu o sorriso vitorioso de Zéquinha Silva, pulou da cadeira, afirmou:

- Tenho! Tenho uma coisa a dizer!

- Não diga! - disse Antônio Vicente baixinho.

Nicolau se virou para o companheiro e falou:

- Digo!

- Diga de uma vez! - gritaram.

- Pois digo! Se a comissão atual não for destituída.

- Ela tem a seu favor a honestidade com que tem agido! aparteou o prefeito.

- Em face da revolução não há direitos adquiridos! - berrou Antônio Vicente.

- Que asneira é essa? - falou o Doutor Salomão.

- Que que o senhor está dizendo? Asneira? São palavras textuais do Ministro da Justiça!

- Está com a palavra o Senhor Nicolau Foz! - advertiu Padre Zoroastro.

- Se não destituírem a comissão do P.R.P. eu não revelarei um segredo...

- Não revelaremos! - secundou o major excitadíssimo.

- ... o qual segredo foi contado pelo falecido Padre Dito à minha senhora!

E a confusão se fez de novo. E Padre Zoroastro de novo conseguiu restabelecer a ordem.

- Temos o direito de saber, não é?

Então aos berros Nicolau soltou tudo menos o lugar onde se achava escondido o tesouro. E Padre Zoroastro desistiu de restabelecer mais uma vez a calma. Impossível. O genro de Zéquinha Silva subiu na cadeira e começou a arengar sem ser ouvido. Antônio Vicente só sabia dizer: Conheceram, papudos? Entre os que achavam que aquilo era uma mistificação ignóbil e os que pensavam que por via das dúvidas convinha verificar a coisa direito houve ameaças de tiros. O turumbamba estava armado. Puxaram o genro de Zéquinha Silva por uma perna, deram uns tabefes nele, ele rolou no chão gritando: Basta assassinos! Padre Zoroastro com muito custo salvou o coitado e se retirou com ele e Zéquinha abanando a cabeça.

- Sempre a maldita história do espiritismo estragando tudo! Não é? A mãe, a sogra, a mãe de Esmeralda, a sogra do Nicolau, já eram assim!

Aos poucos os mais chegados a Zéquinha Silva foram também saindo.

Disposto a aclarar o negócio do tesouro o Doutor Salomão em pé na cadeira da presidência perguntou se estavam numa terra de bugres. O silêncio respondeu que não. E o Doutor Salomão se declarou pronto a servir de intermediário entre os grupos adversos e fazer um acordo honroso.

- Não há acordo! - disse Nicolau.

Para o Doutor Salomão era chegada a hora de todos usarem da máxima franqueza. O Senhor Nicolau Foz não queria fazer acordo. Prescindia assim da colaboração alheia. Mas que essa colaboração era indispensável para ele estava patente no fato do Senhor Nicolau Foz, embora conhecendo o lugar onde se encontrava o tesouro, não haver até então se apossado dele.

- Porque fui educado na escola da honestidade! Sou brasileiro legítimo! De raça!

O Doutor Salomão insistiu em que a hora só admitia cartas na mesa. A honestidade do Senhor Nicolau Foz estava acima de toda e qualquer suspeita. Mas ele era de carne e osso como os outros. Se tivesse jeito de se apossar sozinho do tesouro já teria feito. Achava pois conveniente que antes de mais nada fosse revelado o lugar onde as cinco panelas de ouro estavam escondidas. O que foi aprovado com calor. As considerações do Doutor Salomão tinham abalado a assembléia. Nicolau sentia sobre ele e através dele sobre o tesouro o olhar ávido dos dois irmãos Tarantelli, do Tenente Messias Jesus Conrado, do Alcibíades Valentim vulgo Ali-Babá, do Bibi, do Dadau, do Zizi, do Doutor Teotônio de todos os presentes, de todos os ausentes. Canalhada. Felizmente estava armado. Matava. Morria. Mas não dizia.

O Doutor Salomão sentara-se fixando Nicolau. A assembléia sentou-se fixando Nicolau. O major se levantou:

- Somos todos pessoas de respeito e que se prezam, não é verdade? Pois muitíssimo bem. O que há a fazer é entrar num entendimento cordial com o nosso simpático amigo Nicolau a fim de que ele, certo de que não será prejudicado, possa revelar o lugar em questão. Pois não lhes parece assim?

- Compreendo - disse o Doutor Salomão. - O Senhor Nicolau impõe condições.

- Condições não! - falou o major. - Ou melhor: existem condições mas quem as impõe é o próprio Padre Dito que Deus tenha.

- Que condições? - perguntou o Doutor Salomão.

- Razoáveis, muito razoáveis - disse o major.

- Justíssimas até. E é preciso que sejam respeitadas. Está claro.

- Mas quais são elas? - insistiu o Doutor Salomão.

- O saudoso Padre Dito faz absoluta questão que noventa por cento do dinheiro fique pertencendo ao nosso prestante amigo Nicolau empregando-se os dez por cento restantes nas obras da matriz... Então? São ou não...

- O quê?

- Está brincando!

- Bandalheira!

- Quanto leva no negócio?

- Que piratas!

- A assembléia gritava de pé. O Doutor Salomão tornou a subir na cadeira, ameaçou dissolver a reunião com o destacamento, pediu calma, obteve relativa. E falou:

- O Senhor Nicolau sustenta o que disse o Maior Mourão?

Nicolau disse:

- Sustento até morrer!

O major suspirou aliviado. O Doutor Teotônio disse:

- Eu proponho para harmonizar as coisas que o dinheiro seja todo entregue ao benemérito governo provisório para ajudar o resgate da dívida nacional!

Houve uma salva de palmas. Mas não unânime.

- Nunca! berrou Nicolau. - Ao menos cinqüenta por cento eu exijo pra mim porque foi pra minha mulher que Padre Dito apareceu em sonho!

O major falou sincopado:

- Como? Cinqüenta por cento? Mas.. Ora essa! Cinqüenta por cento? Não pode ser! Há aí engano! Não... não é... não está certo!

Antônio Vicente se ergueu com altivez, foi até a porta, virou-se antes de sair e disse:

- Com traidor eu não discuto!

O Prefeito Idílio disse:

- Eu proponho que cinqüenta por cento sejam para as obras da matriz mesmo e cinqüenta por cento entregues à prefeitura para serviços de utilidade pública!

- Nunca! - berrou Nicolau. - Cinqüenta por cento pra mim! O resto pode ficar pro que quiserem!

Zizi disse:

- Eu proponho que o dinheiro inteirinho...

- Nunca! - berrou Nicolau. - A metade tem que ser pra mim!

O Tenente Messias disse engrossando a voz:

- Eu proponho que se obrigue o Nicolau a dizer já, mas já, imediatamente, nem que seja à força, onde é que está o cobre!

Nicolau quis falar mas não pôde. E os dois irmãos Tarantelli, o Tenente Messias Jesus Conrado, o Alcibíades Valentim vulgo Ali-Babá, o Bibi, o Dadau, o Zizi, o Doutor Teotónio, os outros, todos, até o Doutor Salomão, até o Prefeito Idílio, até o Major Mourão que já não sabia direito o que fazia, com os punhos erguidos cercaram Nicolau. Aí Nicolau puxou o revólver.

- Cachorros! Ca... chorros!

Foi andando de costas até a porta, saiu correndo. Na rua o Afonso Henriques esperava o pai de baratinha. Nicolau brandindo o revólver entrou no auto. Mandou:

- Toca pro cemitério!

Afonso Henriques começou a chorar.

- Toca senão te mato!

O Ford pulava na Rua da Expiação. Afonso Henriques suplicava:

- Vamos... vamos voltar, Seu Nicolau! Por favor! O senhor está... está tão nervoso!

Nicolau dizia:

- Toca, seu covarde!

Não esperou o Ford parar. Saltou, tropeçou, quase caiu, entrou no cemitério de revólver na mão. Deu poucos passos, parou. Estava tonto. Olhava de um lado para outro. Pensava: Que é que eu vim fazer, meu Deus?

Com um enxadão Crispim surgiu por detrás da capela. Longe ainda. Nicolau deu com ele, correu para o túmulo do Padre Dito, sem largar o revólver começou a desmanchar um canteirinho. Crispim correu também gritando:

- Que é isso, Seu Nicolau? Não faça isso!

Nicolau viu Crispim já perto, pulou na frente do túmulo, apontou para o gavetão, atirou.

- Larga esse revólver, Seu Nicolau!

Nicolau enfrentou Crispim, disse com voz sumida:

- Me dá essa enxada!

- Eu dou se o senhor largar o revólver!

- Me dá essa enxada! Me dá essa enxada!

- Não se chegue, Seu Nicolau!

- Me dá essa enxada! Me dá essa enxada!

Nicolau ia avançando, Crispim recuando.

- Por que que o senhor quer?

- Me dá essa enxada!

A voz sumia cada vez mais, o revólver tremia, os olhos se enchiam de lágrimas.

- Eu mato! Me dá essa enxada!

Mal podia suster o revólver, segurou com as duas mãos. Crispim recuou até o túmulo do padre. Com o enxadão erguido.

- No túmulo do Padre Dito o senhor não toca, Seu Nicolau!

- Eu te mostro!

Mas antes de apertar o gatilho, levou com o enxadão no alto da cabeça, caiu com os miolos de fora.

- Acuda! Acuda! - deu de gritar Crispim.

Foi quando no portão do cemitério pararam vários automóveis e seguida dos dois irmãos Tarantelli, do Tenente Messias Jesus Conrado, do Alcibíades Valentim vulgo Ali-Babá, do Bibi, do Dadau, do Zizi, do Doutor Teotônio, todos, até o Prefeito Idílio até o Doutor Salomão, até o Major Mourão com o chapéu de Nicolau na mão (O doido esqueceu a cabeça!), Dona Esmeralda entrou de carreira. Deu um grito, se jogou sobre o cadáver. Mas não chamava pelo marido não. Dizia só:

- Ah minha mãe, minha mãe!

Fonte:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/alcantara-machado-obras/contos-avulsos.php