O profeta idealiza
o futuro, em previsões…
E o poeta o finaliza
colorindo-o de ilusões…
O profeta idealiza o futuro, erguendo-se como uma figura solene em meio ao tumulto do presente. Em uma pequena aldeia, ele caminhava pelas ruas de paralelepípedos, suas vestes longas esvoaçando ao vento. Os aldeões paravam para ouvi-lo, atraídos por suas palavras que pareciam trazer uma luz nas trevas da incerteza. Suas previsões eram como faróis em noites tempestuosas, guiando-os através das tormentas da vida.
“Um dia”, ele proclamava com a voz firme, “as colheitas serão fartas, e a paz reinará entre nós. A era da prosperidade está por vir, bastando que nos unamos em fé e determinação.”
As palavras do profeta, repletas de esperança e otimismo, ecoavam por toda a aldeia, e, por um momento, acendiam a chama da expectativa nos corações dos ouvintes. Ele era um visionário, um sonhador que via além do horizonte, onde a realidade se confundia com a fantasia.
Mas, em meio a essa atmosfera de esperança, existia outro personagem, um poeta que observava tudo com um olhar perspicaz. Ele estava sempre à sombra das árvores, com um caderno em mãos, onde registrava não apenas as previsões do profeta, mas também as nuances da vida que se desenrolavam ao seu redor. O poeta via a beleza nas pequenas coisas, mas também sentia o peso das dores e desilusões que permeavam a existência dos aldeões.
Enquanto o profeta falava de um futuro glorioso, o poeta ouvia e refletia. Ele sabia que as previsões eram apenas isso: previsões. Não se tratava apenas de um futuro idealizado; era necessário colorir essas palavras com a realidade das emoções humanas. A esperança, sem questionamentos, poderia ser uma armadilha, e ele desejava que as pessoas não se deixassem levar apenas pelas promessas.
Certa manhã, após uma longa noite de reflexão, o poeta decidiu que era hora de compartilhar sua visão. Ele subiu a uma pequena colina, onde o profeta costumava pregar, e começou a recitar seus versos.
“O futuro, caro povo, não é apenas o que se sonha, mas também o que se vive. As ilusões podem ser lindas, mas são as verdades que nos moldam.”
Suas palavras dançavam no ar, misturando-se ao vento que passava.
Os aldeões, inicialmente confusos, começaram a ouvir com atenção. O poeta falava sobre a fragilidade da esperança e a beleza das cicatrizes que cada um carrega em sua alma.
“Em cada sorriso escondido, há uma lágrima que não foi enxugada. Em cada sonho realizado, uma renúncia ficou para trás.”
Ele coloria o futuro não apenas com a paleta da esperança, mas também com as sombras da realidade.
O profeta, que até então ouvira em silêncio, sentiu-se incomodado. Ele acreditava que seu papel era inspirar e elevar os espíritos, enquanto o poeta parecia querer puxar as pessoas de volta para o chão.
“Mas o que é a vida sem sonhos?”, questionou o profeta. “Como podemos viver sem acreditar em um futuro melhor?”
O poeta olhou nos olhos do profeta e respondeu:
“Os sonhos são essenciais, mas não devem nos cegar. O futuro é construído sobre as bases do presente. Precisamos reconhecer nossas dores, nossas falhas, para que possamos realmente transformar o que está por vir.”
Havia uma tensão no ar, uma batalha de ideias entre o idealismo do profeta e o pragmatismo do poeta.
Os aldeões, fascinados pela troca, começaram a refletir sobre suas próprias vidas. Era verdade que o profeta trazia esperança, mas também era verdade que o poeta oferecia uma visão mais completa. As ilusões que o poeta coloria não eram meras escapadas; eram uma forma de abraçar a complexidade da vida.
Com o passar dos dias, a aldeia começou a mudar. As pessoas começaram a falar mais, a compartilhar suas histórias, seus medos e suas esperanças. O profeta e o poeta, ao invés de se oporem, começaram a trabalhar juntos.
O profeta falava sobre o futuro e a importância de sonhar, enquanto o poeta trazia as verdades do presente, colorindo os sonhos com a realidade das experiências vividas.
Juntos, eles formaram uma aliança poderosa. O profeta idealizava, mas agora com a consciência das lutas que os aldeões enfrentavam. E o poeta finalizava, não apenas com ilusões, mas com a rica tapeçaria de emoções que compunham a vida de cada um. As previsões do profeta agora estavam entrelaçadas com as verdades do poeta, criando uma narrativa mais profunda e rica.
A aldeia floresceu, não apenas em termos de prosperidade material, mas em conexões humanas. As pessoas aprenderam a sonhar, a esperar pelo futuro, mas também a viver intensamente o presente. O futuro não era apenas um destino a ser alcançado, mas uma jornada a ser apreciada, cheia de cores, sombras e nuances.
E assim, sob a luz do sol poente, o profeta e o poeta caminhavam lado a lado, reconhecendo que, juntos, poderiam iluminar não apenas o horizonte, mas também os corações da aldeia. O futuro, agora, não era apenas uma promessa, mas uma tela em branco, onde cada um poderia pintar sua própria história, entrelaçando sonhos e realidades em uma dança harmoniosa.
Fontes: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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