sábado, 10 de setembro de 2011

Monteiro Lobato (O Saci) XXVII – Na caverna da Cuca; XXVIII [FINAL] – Desencantamento


XXVII – Na caverna da Cuca

Voltando os dois na maior pressa para os domínios da Cuca, encontraram-na com um estranho ar de riso na horrenda boca, a falar sozinha, como se estivesse muito satisfeita da vida. Assim, porém, que os viu de novo por lá, a bruxa estremeceu e o seu sorriso transformou-se numa careta de cólera e desespero.

— Conseguiram voltar? — exclamou, traindo os seus maus pensamentos.

— Está claro que sim! — respondeu o saci.

— E trouxeram o fio de cabelo da Iara?

— Está claro que sim! — repetiu o saci. — Ei-lo aqui — disse, apresentando à horrenda megera o verde fio de cabelo da Mãe-d’Água.

A Cuca estorceu-se toda dentro do novelo de cipós num supremo arranco para libertar-se daquela prisão. Nada conseguindo, pôs-se a vociferar e a soltar pela horrível boca uma espuma venenosa.

Aquela história da Iara e do fio de cabelo tinha sido apenas um embuste de que lançara mão para perder o menino e o saci, na certeza de que nenhum deles resistiria aos encantos da Iara. Mas vendo que se tinha enganado, debatia-se no maior acesso de cólera e desespero, sentindo-se completamente vencida. E por quem! Por um menino de nove anos e mais um sacizinho.

Entretanto, pérfida como era, tentou ainda usar da astúcia. Acalmou-se e disse, num tom muito amável:

— Muito bem. Mas esse fio de cabelo da Iara não basta para romper o encanto da menina. Preciso ainda de um fio de barba do Caipora.

— Perfeitamente, Senhora Cuca. Ali em cima daquelas estalactites está o fio de barba do Caipora de que você precisa — disse o saci, apontando para o pingo d’água. — Vou já buscá-lo...

Vendo pela firmeza das palavras do saci que era inútil tentar enganá-lo segunda vez, a Cuca deu um profundo ai e confessou-se vencida.

— Meus parabéns. Vocês descobriram a única arma no mundo capaz de vencer uma Cuca — esse miserável pingo d’água... Farei como querem. Desencantarei a menina. Voltem ao sítio, procurem perto do pote d’água uma flor azul que lá deixei, arranquem-lhe as pétalas e lancem-nas ao vento logo ao romper da manhã. Narizinho, que deixei transformada em pedra, reaparecerá imediatamente.

— E se isso for um embuste como da primeira vez? — perguntou Pedrinho.

— Não é. Reconheço que fui vencida e que seria tolice teimar. Voltem ao sítio, façam o que eu disse e depois venham desamarrar-me. Juro que jamais perseguirei qualquer pessoa lá do sítio.

XXVIII – Desencantamento

A madrugada já vinha rompendo quando os dois aventureiros chegaram de novo ao sítio. Dona Benta e Tia Nastácia estavam ainda acordadas, porém mais calmas do que da primeira vez. Assim que os viram entrar, exclamaram ambas ao mesmo tempo:

— Trouxeram Narizinho?

— Sim, vovó — respondeu Pedrinho, sem ter a certeza de que ela se desencantaria ou não. — Espere mais um minuto que vai ver de novo sua neta, forte e corada como sempre.

Falou e correu a ver se atrás do pote existia alguma flor azul.

Lá estava ela, a tal flor azul — esquisitíssima e diferente de todas as flores conhecidas. O menino tomou-a, desfolhou-a e lançou as pétalas ao vento, como a Cuca mandara.

Mal acabou de fazer isso, um fato maravilhoso se deu.

Uma pedra do terreiro, que ninguém se lembrava de ter visto ali, principiou a inchar, a crescer e a tomar forma de gente. Segundos depois essa forma de gente começou a apresentar os traços de Narizinho que, por fim, reapareceu tal qual era, forte e corada como Pedrinho o prometera a Dona Benta.

Foi uma alegria. As duas velhas atiraram-se à menina e choraram quantas lágrimas ainda tinham dentro de si — mas desta vez do mais puro contentamento.

— Então, minha filha, que foi que aconteceu? — perguntou Dona Benta.

Narizinho, ainda tonta, de pouco se recordava. Minutos após, entretanto, suas idéias principiaram a aclarar-se e pôde contar o que havia sucedido.

— Estou me lembrando — disse, correndo a mão pela testa. — Foi assim. Eu estava com a Emília debaixo da jabuticabeira. De repente, uma velha, muito velha e coroca, aproximou-se de mim com um sorriso muito feio na cara.

— Que é que a senhora deseja? — perguntei-lhe, naturalmente.

— Desejo apenas oferecer à menina esta linda flor — respondeu ela, apresentando-me uma flor azul muito esquisita. — Cheire; veja que maravilhoso perfume tem.

— Eu, sem desconfiar de coisa nenhuma, cheirei a tal flor — e imediatamente meu corpo principiou a endurecer. Perdi a fala, virei pedra. De nada mais me lembro senão que de repente, fui revivendo outra vez e aqui estou...

Só então Dona Benta compreendeu que Pedrinho a tinha enganado para evitar que ela morresse de dor — e perdoou-lhe aquela boa mentira. Depois fez-lhe grandes elogios, quando soube do muito que ele tivera de lutar para que a horrenda Cuca revivesse a menina.

— Vejo, Pedrinho, que você é um verdadeiro herói. Essa proeza que acaba de realizar até merece aparecer num livro como uma das mais notáveis que um menino da sua idade ainda praticou.

— Espere, vovó — disse Pedrinho com modéstia. — Se a senhora emprega essas palavras para mim, que palavras empregará para o meu amigo saci? Na verdade foi ele quem fez tudo. Sem a sua astúcia e conhecimento da vida misteriosa da floresta e dos hábitos da Cuca, eu sozinho nada teria conseguido. Absolutamente nada. Agradeça ao saci, que não faz senão dar o seu ao seu dono, como diz Tia Nastácia. Todos se voltaram para o saci. Mas...

— Que é do saci? — exclamaram a um tempo. Procuraram-no por toda parte, inutilmente. O heróico duendezinho duma perna só havia desaparecido.

— Ingrato! — exclamou Narizinho com tristeza. — Foi-se embora sem nem ao menos despedir-se de mim...

De noite, porém, ao deitar-se, verificou que havia sido injusta. Em cima do travesseiro encontrou um raminho de miosótis que não podia ter sido posto lá senão pelo saci. Miosótis em inglês é forget-me-not — que significa “não-te-esqueças-de-mim”.

— Que alma poética ele tem! — murmurou a menina, comovida.

FIM
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 327)


Uma Trova Nacional

O mar com toda a magia,
todo o encanto da sereia,
não se iguala à poesia
que esse teu olhar semeia.
–GILSON MAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar

Que riqueza estranha é esta
que só de papel é feita...
A bolsa sobe, é uma festa,
mas quem produz, aproveita?
–GONZAGA DA SILVA/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - ATRN-Natal/RN
Tema: VERTENTE - 8º Lugar

Em constante desvario,
vertem do meu coração,
as mágoas que formam rio
nos vales da solidão.
–WANDA DE PAULA MOURTHÉ/BH–

Uma Trova de Ademar

Perdão... palavra bonita
que se pede, que se implora;
palavra que é muito dita
mas, só da boca pra fora!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não, saudade, não açoite
o carro de bois, dolente,
gemendo dentro da noite...
chorando dentro da gente...
–ANIS MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

Poesia na Pele
–TECA MIRANDA/MG–

O verso clama abafado...
preso na porta de entrada,
sentindo o olhar abismado
corre e escapa em lufadas.

Adorna-se de todo amor,
essa emotiva e doce loucura
que por vezes causa amargor
a quem busca essa ventura.

Liberto pela colorida fantasia
na poesia é então acolhido,
lançado ao léu pela ventania
no coração busca o sentido...

Estrofe do Dia

Canto a chuva de janeiro,
brisa fria, vento brando,
e um galo preto cantando
no palanque do poleiro,
o menino no terreiro
correndo atrás da menina,
e a mãe com a vara fina
correndo atrás pra açoitar;
quando falta o que cantar
a natureza me ensina.
–LOURO BRANCO/CE–

Soneto do Dia

A Casa do Poeta
–ODIR MILANEZ DA CUNHA/PB–

Uma casa de verde ensombreada.
entre sebes de flores, sem cancelas,
sem posseiro, sem porta e sem janelas.
De móveis muito pouco, um quase nada.

A mesa, de madeira descorada,
seis cadeiras, um centro, algumas velas,
a cozinha, sem fogo e sem panelas,
um quarto, e uma cama abandonada.

Sobre a mesa, recados enfadonhos,
amarfanhados livros e panfletos,
escritos vários, lentos e tardonhos.

Aparentando vãos e obsoletos,
os seus espaços abarrotam sonhos.
A casa está repleta de sonetos!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://osmanos.blogs.sapo.pt/arquivo/915394.html

Geimes Oliveira (Resenha sobre Livro de Estilística, de José Lemos Monteiro)


MONTEIRO, José Lemos. A Estilística: manual de análise e criação do estilo literário. 2. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2009, Cap. I, pp. 41-99.

A obra Estilística: Manual de análise e criação do estilo literário escrita por José Lemos Monteiro, Doutor em Letras e mestre em Educação, professor titular da Universidade de Fortaleza. É crucial para o nosso entendimento sobre a disciplina em questão, porque sugere métodos para a análise dos usos linguísticos e nos auxilia a identificar os mecanismos que propiciam a escolha de uma forma em vez de outras disponíveis, para melhor explorar o potencial expressivo da linguagem.

Neste primeiro capítulo, o autor introduz algumas considerações sobre a delimitação terminológica do que seja estilo que, por sua vez, faz-se bastante complexo uma vez que alguns teóricos o veem vago e genericamente e outros a querem restrito ao uso individual da linguagem para fins literários. Se bem que a maioria dos autores corroboram que o traço da individualidade é muito presente quando falamos de estilística.

Embora outros discordem que esse valor individual é raro, posto que o processo verbal já resulta de uma extensa quantidade de fatores culturais, como as influências do meio, da época, da estrutura linguística, entre outros. Isto quer dizer que a estilística voltada para o estudo da língua visa analisar as variantes normais com valor expressivo-afetivo. Porém, para alguns autores citados por Monteiro dizem que não existem línguas mais belas, mais harmoniosas que outras.

Por fim, o escritor deste livro ressalta que não há critérios científicos objetivos para definir o grau de beleza e, portanto, os julgamentos desfavoráveis constituem nada mais que uma forma de preconceito. Por isso, a definição do que seja realmente estilo vai além dos recortes terminológicos feitos sobre o assunto.

Dando continuidade a polêmica de conceituação de estilo, Monteiro discute também as diferenças feitas sobre normas e desvios. Notando que as normas tem uma área maior de incidência de dados do que os desvios, visto que a primeira são hábitos, construções ou usos da maioria da população, já os desvios são as alterações devidas ao desconhecimento, lapso de memória e cansaço mental ou algum intuito expressivo.

O autor ressalta ainda que o desvio como nem sempre é fácil identificá-lo pela relação do conceito de norma, é preciso vê os desvios tendo como referência a determinado registro linguístico ou ao ambiente sociocultural. Desse processo temos os conteúdos emotivos que visam estimular a exteriorização psíquica de escritores acerca de seus sentimentos e emoções para constituir o estilo próprio. Sendo que as formas expressivas estão associadas a uma emoção.

Por isso, Monteiro diz que a linguagem conativa é extremamente rica, às vezes de difícil decodificação, em face dos múltiplos significados que engloba, já que a Estilística volta-se a recriação da linguagem em que há as expressões utilizadas buscam sensibilizar, transmitir valores e evocações emotivas nesse processo de reconstrução, sobretudo das ambiguidades da mensagem.

No final desse capítulo, Monteiro mostra exemplos sólidos em textos literários demarcando as figuras usadas pelos escritores para a construção do estilo literário em que os desvios estilísticos foram retoricamente sempre praticados pelo uso de figuras que são simples repetição de palavras que ao posiciona-se no texto causa seu efeito expressivo dentro, é claro, dos níveis sintáticos, morfológicos, semânticos e lógicos mais enfatizados.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2278861

José Lemos Monteiro em Xeque


Entrevista realizada por Artaxerxes Modesto para o site www.letramagna.com

1 -Professor José Lemos Monteiro, conte um pouco de você, de sua vida, de sua trajetória acadêmica...

Sou paraense radicado em Fortaleza. Dedico minha vida à pesquisa e ensino da língua portuguesa, como Professor Titular da UNIFOR e Professor Adjunto (aposentado) da UFC e UECE. Já lecionei as mais diversas disciplinas, às vezes tendo mesmo que improvisar programas de assuntos totalmente desconhecidos para mim. No começo, isso acontecia porque eu não tinha realmente poder de escolha. Depois, porque percebi que era uma forma de tornar-me menos limitado e ser capaz de analisar um tema sob vários enfoques.
Aliás, essa tem sido uma de minhas características: nunca me conformei em ensinar durante anos seguidos o mesmo conteúdo. Quis sempre descobrir novas perspectivas e, talvez por isso, minha produção acadêmica se diversifica em três áreas: a literatura (a ficção e o ensaio crítico), os estudos educacionais e a pesquisa lingüística. Como ficcionista, sem contar com alguns contos esparsos em jornais e antologias, publiquei os romances A valsa de Hiroxima (1980), A serra do arco-íris (1982) e O silêncio dos sinos (1986). Como crítico, além de artigos publicados em revistas, escrevi O universo mí(s)tico de José Alcides Pinto (1979), O discurso literário de Moreira Campos (1980) e O compromisso literário de Eduardo Campos (1981). Quanto aos estudos educacionais, além de minha dissertação de Mestrado, uma série de reflexões sobre o ensino brasileiro e sobre as estratégias para o desenvolvimento da criatividade deu margem à publicação de vários pequenos ensaios, destacando-se "O ensino do português após a Lei 5.692", pelo tom polêmico da análise crítica que apresenta.
Mas foi e continua sendo no estudo da língua o campo em que tenho desenvolvido o trabalho mais intenso e, de certa forma, mais compensador. Destaco os livros Morfologia portuguesa (Campinas: Pontes), A estilística (São Paulo: Ática) e Para compreender Labov (Petrópolis: Vozes).

2 - No momento o senhor está desenvolvendo alguma pesquisa, ou engajado em alguma obra?

Sempre estou trabalhando em alguma pesquisa. No momento, além de ocupar-me em dois projetos institucionalizados na Universidade de Fortaleza, estou reformulando inteiramente o meu livro A estilística, com vistas à publicação de uma futura nova edição, revista e ampliada.

3 - Qual o momento acadêmico mais marcante em sua vida?

O momento, se não o mais marcante, o mais dramático de minha vida acadêmica ocorreu na época do governo Geisel, face às constantes pressões contra os professores que, como eu, ainda não eram portadores do título de Mestre. De repente, o concurso que fiz para Auxiliar de Ensino e o tempo de serviço prestado já nada valiam e instaurou-se um clima de verdadeira perseguição: ou o Mestrado ou a rua. E o pior: questões de ordem familiar me impediam de viajar para alguma capital onde houvesse pós-graduação em Letras, de forma que eu aparentemente não tinha outra saída, a não ser resignar-me. E já estava realmente num beco sem saída, na iminência de ser demitido, quando em Fortaleza se criou o Mestrado em Educação.
Recordo, ainda ressentido, que solicitei aos colegas do Departamento a indicação de meu nome, para que eu pudesse concorrer a uma das vagas na seleção do referido curso. Foi uma reunião tensa, em que me senti réu e vítima. Afirmavam que, se eu me negava a viajar para o sul, quando outros já o haviam feito, era porque eu queria mesmo perder o emprego. Eu tentava explicar, meus olhos se enchiam de lágrimas, porém não abrandavam os olhos secos que me fitavam. Graças a Deus, ao fim da sessão, tudo isso teve uma recompensa: para surpresa geral, um dos professores tomou a minha defesa, lamentando a falta de solidariedade dos colegas e ressaltando que a demissão seria um absurdo, principalmente porque eu sempre havia sido responsável e eficiente. Não posso deixar de registrar esse fato aqui, menos pela lembrança dos instantes de angústia do que pelo gesto de amizade do Prof. Hamílton Andrade. Valeu a pena!

4 - Sobre sua tese de doutoramento na UERJ, sobre os pronomes: o senhor acha realmente que nosso quadro pronominal está diferente; podemos dizer que está mesmo alterado?

Disso não tenho a menor dúvida: o sistema dos pronomes pessoais no português do Brasil sofreu e ainda está sofrendo profundas mudanças, seguindo um longo processo que remonta aos primórdios de nossa língua.

5- E a forma "tu"? É mesmo um "dinossauro lingüístico" como o "vós"?

O pronome tu, embora tenha sido substituído por você em diversas regiões brasileiras, continua muito vivo em diversos estados (por exemplo: Pará, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Sul). O curioso é que, mesmo nas localidades em que a forma você conseguiu praticamente tirá-lo de circulação, persiste o clítico te nos tratamentos informais.

6 - Tenho percebido que sua produção é vasta, e vai desde os estudos sociolingüísticos até a literatura. Qual a área que mais lhe dá prazer?

É evidente que a Literatura, por suas funções catártica e lúdica, me envolve muito. Infelizmente, porém, sempre tenho que deixá-la em segundo plano, em razão de meu trabalho como professor na área de Lingüística. Eu seria falso se dissesse que os estudos nessa área só me dão prazer: com freqüência, quase que por obrigação intelectual, sou levado a ler textos extremamente áridos e alguns até mal redigidos.

7 -Hoje em dia vemos centenas de dezenas de cursos de Letras serem oferecidos pelo Brasil afora, muitos deles sem o mínimo necessário para que o aluno saia com uma boa formação. Quem perde com isso? Como o senhor vê essa questão? Há salvação?

Não gosto nem de pensar nesse absurdo que está ocorrendo no Brasil. Não se trata, porém, apenas da desmoralização dos cursos de Letras: a irresponsabilidade é tamanha que até cursos de Medicina estão sendo criados sem a mínima condição, o que põe em risco a própria saúde da população brasileira, já entregue a profissionais sem nenhum preparo. Quase todo mundo perde com isso. Mas os poucos que ganham, ganham muito: o ensino no Brasil é uma das indústrias mais rentáveis.

8- Como o senhor vê o ensino nas escolas públicas brasileiras?

Já ensinei em escolas públicas, numa época em que havia alguma preocupação com a aprendizagem. Em nome da democratização ou proletarização do ensino, aumentou-se significativamente o número de vagas sem que se levasse em conta a exigência de um mínimo de qualidade. O resultado é esta tragédia. Toda a propaganda governamental vai no sentido de divulgar números, mas, em muitos casos, é como se não se ensinasse absolutamente nada: uma quantidade expressiva de alunos conclui o curso fundamental sem saber ler nem escrever. Existe coisa pior?

9 -Qual o caminho para preparar o professor para os desafios da nova sociedade?

O caminho se inicia com um ato de vontade. Se, por exemplo, o governo quisesse levar a sério a educação brasileira, começaria por aparelhar bem suas instituições e a fazer que os professores, com um salário digno, voltassem a ter estímulo. Daí é só pôr em prática a criatividade que todo brasileiro tem.

10 -Qual a sua posição a respeito dos resultados de nossos alunos no PISA?

Pelo que já comentei nas respostas anteriores, no quadro em que se encontra o ensino brasileiro não se pode esperar por melhores resultados. Quem conhece a realidade de sala de aula tem percebido que, a cada ano que passa, o nível dos alunos é mais assustador. Hoje, por incrível que pareça, grande parte de nossos estudantes universitários não conseguem entender o que mal conseguem ler.

11- O que podemos falar da Lingüística - enquanto ciência - em seu estado atual? E no Brasil? Temos uma "Lingüística Brasileira"?

A Lingüística tem tido um desenvolvimento fantástico, com repercussões em outras áreas do conhecimento humano. Apesar do radicalismo de certas correntes, pode-se afirmar que, desde o seu surgimento, as questões levantadas e as soluções propostas evidenciam que a investigação sobre a linguagem humana já avançou muito. No Brasil, o campo tem sido extremamente fértil e, se já há algum tempo tivemos um lingüista do porte de Mattoso Câmara Jr., é porque não nos encontramos numa fase tão incipiente.

12 -Quais seus planos para o futuro?

Adoto uma filosofia de não planejar ou idealizar o futuro. Tento viver o presente, o aqui-e-agora, como ele se manifesta para mim, procurando aceitar tudo o que a vida me oferece. As práticas de meditação me levaram a adotar essa atitude existencial, embora o peso dos condicionamentos culturais de vez em quando me faça pensar no dia de amanhã.

13 - O que o senhor tem a dizer sobre a Revista Letra Magna?

Iniciativas como essa nos fazem manter viva a esperança no ensino e na divulgação do que se faz em termos de estudo da linguagem. Quando conhecemos um jovem que demonstra o maior interesse pela causa da ciência, passamos a ter a certeza de que nem tudo está perdido e o caminho para uma nova mudança de perspectivas já está sendo trilhado. É só uma questão de (pouco) tempo.

14 - A Revista Letra Magna e seus leitores agradecem sua entrevista e juntos desejamos a você sucesso e muitas felicidades.

Eu é que agradeço e retribuo em dobro os votos de sucesso e felicidades.

Fonte:
Letra Magna

José Lemos Monteiro (Prefácio de "A Guerra da Donzela", de Nilto Maciel)


Foi com Tempos de Mula Preta que Nilto Maciel revelou suas tendências literárias, firmando-se como um escritor consciente dos recursos que a palavra oferece e dela auferindo toda a força e magia em contos que se nivelam no gênero ao que de melhor se tem publicado atualmente no Brasil. Seria, pois, previsível que logo o autor surgisse com novas experiências, no sentido de ampliar os traços de seu discurso, definindo melhor suas orientações ou princípios estéticos.

(...) A Guerra da Donzela, uma narrativa tão bem construída que será difícil apontar-lhe defeitos em qualquer nível de leitura.

Quanto ao plano da ação, tudo giram em torno de um pretenso rapto, sem desvios ou digressões, quase transmitindo a feição de uma narrativa monocrônica, com poucas características do romance e bastantes traços do conto e da novela.

Mas, se de um lado os elementos formais conduzem a esta interpretação, é necessário observar que a narrativa esconde múltiplos significados captáveis através de uma análise que leve em conta, acima de tudo, os aspectos sociais conectados às raízes inconscientes dos preconceitos e tabus.

Com efeito, o alvoroço vivido numa cidadezinha do interior cearense por causa da notícia de uma donzela raptada aos poucos faz vir à tona uma série de motivos arraigados no inconsciente coletivo, simbolizados por sucessivas visões míticas. São formas agigantadas e estranhas que entretanto não chegam a instaurar a atmosfera do fantástico, posto que devam ser compreendidas a partir de um contexto até bem mais rico.

Na realidade, o aparecimento do gigante Gorjala, da enorme burra preta, do ovão do tamanho de uma jaca, do cururuzão, do porcão preto e de outros monstros não se deve apenas à insanidade ou estado alucinógeno das personagens envolvidas, senão que deriva de violentas marcas de repressão sexual geradoras de mitos ou arquétipos. Será desnecessário apelar para as teorias psicanalíticas freudianas, tão óbvias parecem ser as conotações que os símbolos sugerem, principalmente porque sempre associados ao medo e à repulsa.

Este é, por conseguinte, um dos possíveis ângulos para a leitura do livro, daí advindo uma gama complexa de valores, aptos a formar um contorno em que se possa conhecer a fundo determinados componentes éticos talvez em fase de desagregação. Assim sendo, A Guerra da Donzela assume um teor de documentário, resguardando do impacto causado pela penetração inevitável de outros padrões culturais um quadro moral definidor do comportamento do homem cearense e, por extensão, do brasileiro.

De fato, a descrição da vida dos habitantes de Palma, nos arredores da serra de Baturité, é em tudo semelhante à das populações de qualquer vila isolada dos grandes centros urbanos. Os tipos são reiteradamente simplórios, desde o vigário até o prefeito, todos nivelados pelas mesmas preocupações. E disso se aproveita o narrador para compor uma trama leve, cheia de lances irônicos que provocam o riso do leitor.

Aliás, este é um dos aspectos que demonstram sobejamente o poder de observação e de perspicácia do autor. As figuras humanas são descritas, embora caricatamente, com tamanha fidelidade, que de imediato remetem a tipos identificados pelos mesmos traços. Há inclusive que considerar, em termos de tipologia narrativa, uma tendência muito acentuada para a caracterização de tipos, o que acarreta uma análise de costumes, ficando em plano secundário os movimentos que dariam intensidade à ação, esta geralmente mais um recurso para a fixação dos pormenores singularizantes dos tipos, ressaltando o gosto pelo caricaturesco ou cômico.

Tal se observa a partir do fio central da narrativa, a mobilização de voluntários para a defesa da honra ultrajada. Os lances de comicidade perpassam a ação inteira, marcada pela atitude quixotesca da declaração de uma guerra ilusória a que, revestidos da maior solenidade e medo, todos se arremetem decididos.

Sob outro ângulo, o narrador explora o sentimento de religiosidade popular e a guerra se torna uma espécie de cruzada, um misto de procissão e batalhão. O fanatismo se converte assim em um dado a mais no quadro de costumes delineado, devendo-se constituir um índice capaz de conduzir a leitura a inúmeras conotações, algumas sugeridas de modo bastante sutil.

Entretanto, tudo isto só funciona na novela de Nilto Maciel em virtude de um domínio invejável da técnica de narrar. Sem pretender realizar experiências vanguardistas, situa-se nos moldes tradicionais da narrativa linear, renovando-a por uma linguagem que acrescenta em muito a nota de autenticidade e espontaneidade. Este é o elemento fundamental de seu discurso, delimitado pelo domínio dos procedimentos estilísticos e enriquecido enormemente com o acúmulo de expressões regionalistas.

É difícil encontrar nos dias atuais um escritor tão consciente desses recursos. Nilto Maciel percebeu a capacidade estética que determinados torneios fraseológicos ou vocábulos de uso popular estão aptos a produzir e passou a fazer uso deles de forma surpreendente, muitas vezes inserindo-os no próprio discurso do narrador, num perfeito entrosamento com as personagens descritas.

E, além da familiaridade com o dialeto cearense, resulta o efeito do tratamento dado através da deformação intencional das impressões sensoriais, o que é obtido por meio de hipérboles constantes, enumerações caóticas e insistentes visualizações ou cruzamento simultâneo de sensações. Afinal, ele sempre encontra a expressão adequada para gerar as imagens mentais que o leitor irá reproduzir.

A título de ilustração, eis alguns exemplos desse jogo com os recursos que a linguagem fornece a quem lhe souber desvendar os segredos:

“Um cheiro de vela, hóstia, vinho e alma inundava tudo”.
“Um galo retardatário cantava galinhas no quintal”.
”A empregada entrou abraçada a pães e notícias quentes”.
“O Juiz derramava café na xícara e latim na mesa”.
“Ouviu a risada dos urubus de volta à carniça”.
“Um gato afiava as unhas numa bananeira”.

Mas não é bem lícito tirar do leitor o prazer de descobrir e analisar os efeitos dos procedimentos que organizam o discurso literário de Nilto Maciel. Por isso, os pontos aqui destacados nem de longe acenam para o que realmente pode encerrar esta sua narrativa tão simples e tão rica. São menos um esforço de penetração do que um convite ao leitor para conhecer um universo cheio de sutilezas e de fantasias, um universo em que as palavras revelam sempre mais do que parecem transmitir.

(Prefácio de A Guerra da Donzela, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, RS, 1982)
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Paraense radicado em Fortaleza, José Lemos Monteiro é doutor em Letras pela UFRJ e tem dedicado sua vida à pesquisa e ensino da língua portuguesa, como professor titular da UNIFOR e professor Adjunto da UFC e UECE. Sua produção intelectual é bastante ampla e diversificada, somando treze livros e cerca de setenta estudos publicados em revistas especializadas. Abrange obras de ficção cientítica e literária, algumas premiadas, bem como ensaios de natureza lingüístic, estilística e educacional.

Fontes:
Fortuna Crítica enviada por Nilto Maciel
Letra Magna http://www.letramagna.com/jolentrevista.htm

Nilto Maciel (Tempos de Mula Preta)


Durante sua segunda vida, José Coité viveu rindo e falando. Brincava, tratando os filhos como se fossem os personagens homônimos: vem cá, filho de Sua. E nem podia imaginar que este, justamente o último da árvore, viria a desdizer toda a sua dedução, deixando cair por terra a semente tão fervorosamente plantada.

Cochilando ou dormindo, arreganhava os dentes e repetia trechos de salmos, parábolas e provérbios de Salomão: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz, do alto dos muros clama”.

Convencia-se a si mesmo de que o finado José Coité pecador não merecia ser lembrado. O calado que só abria a boca para blasfemar e insultar, nos dias de embriaguez. Corria os bares, os cabarés, as ruas e os caminhos montado na mula preta, feito um capeta.

Diante dos filhos, da mulher, dos companheiros de crença e dos infiéis falava enquanto ria. Dizia: minha vida foi uma e é esta. A que era fez-se de pecados, sem sentido, besta, perdida. Queimada. A que é, vejam – Jesus me salvou. Sigo, alerta. Roçado. É inverno sem fim. Não enxergavam todos o sulco divisório, nítido?

Vissem, sem maldade: José Maria, o primeiro filho, não se criou. De início, bem querido, gordinho, sadio, sabido, sapeca. Mas, fruto de tempo ruim, de pai danado, seu destino estava traçado: pecador, fadado ao fogo, ovelha negra. Chamuscada. Melhor morrer cedo, antes dos sete anos. E emagreceu, encheu-se de mazelas, apalermou-se, tornou-se malquerido. Chorão, sujo, feio. Definhava a cada versículo.

– Para que viver?

E esticou as canelas, não sabe a cidade como nem de quê.

– Doença de menino?

Sinal de que tudo do tempo do pecado deveria desaparecer.

Essa lógica só se desfez no roçado, num dia de cobras apavoradas. E as beatas da cidade resmungaram:

– Foi-se o bode velho.

Onan contava então cinco anos de idade e já carregava a mania de andar só, de fugir dos irmãos, de desaparecer, de se encantar.

– Onde anda esse menino?

Nada de mal, dizia o velho às queixas de Maria. Esquisitices de caçula. É de boa cepa, vai dar um varão. Como os outros, nascidos da vida regrada e devotada ao Pai, a segunda, a autêntica. A prole, numerosamente bíblica, se espalhava pela casa em harmonia de tempos de paz na tribo: Rute, Samuel, Esdras, Ester, Josué, Isaías, Daniel, Joel, Jonas, Zacarias e Malaquias. Noutro tempo, seriam reis e defensores da lei de Deus. Hoje, prósperos cidadãos. Conceituados, cheios de vida e filhos, bem postos nas salas, cumprimentados e olhados com admiração.

Vigiados por José e Maria, nunca um deles escorregou numa casca de banana nem roubou frutas nos quintais vizinhos. E brincavam uns com os outros, amigos e mansos. Menos Onan, sempre arredio, jeito de doido. Vivia pelos cantos, escondendo-se, cheio de sestros. E a mãe de olho grelado, espiando, pisando macio, felina. Se Onan corria ao quintal, lá gritava ela. E o menino, assustado, voltava aos pulos, segurando as calças. Se se metia detrás dos móveis, apavorava-se com os berros de Maria. Na hora do banho ou das necessidades, um olho atento furava a fechadura da porta rústica.

– Menino sem-vergonha.

Crescia, estudava, lia, escrevia, triste, mudo. Deu para escrever diários, diabruras cuspidas nos cadernos escolares. E depois sonetos amorosos e amargurados. Indolências, dizia a viúva.

Muito mais tarde, descobriram-lhe versos sem pé nem cabeça:

Teço a rede
onde adormeço
sede de projetar-me
para o matar-me.

E outras sinuosidades a que um pesquisador deu valor e publicação. Os irmãos gargalharam, mas deram respostas a todas as indagações do estranho.

– Nunca teve namoradas.

Apaixonou-se repetidas vezes por mocinhas de todos os feitios. Por uma tal Rosana perdeu a noção até da língua. Vivia falando asneiras em estrangeiro: tes yeux sont la citerne où boivent mes ennuis. Não conseguia dormir direito, os armadores gemendo em sonhos genesíacos.

– Vai dormir, Onan.

Chegada a fase da barba, teve uma ou outra namorada, passageira, furtiva. Ainda assim, dormia muito, feito um gato velho, lia e escrevia como um poeta, inventava caçadas e banhos de rio demorados, perdido pelos becos e ruelas mais afastadas.

– Possuía desenvolvimento mental incompleto – disseram as notícias policiais, depois de ouvidos os irmãos.

Tinha 38 anos quando saltou da torre da igreja, ímpio como o pai nos tempos da mula preta.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Tempos da mula preta. 2.ª ed. RJ: Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, 2000.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

José Feldman (Lançamento do Almanaque Literário “O Voo da Gralha Azul” numero 7)


Lançado mais um número do Almanaque O Voo da Gralha Azul, o de número 7, que apesar dos percalços, procura manter uma periodicidade trimestral.

Disponível para download AQUI

Este número que possui um total de 163 páginas, conta com já antigos colaboradores, como:
– A. A. de Assis (PR)
– Ademar Macedo (RN)
– Antonio Brás Constante (RS)
– Aparecido Raimundo de Souza (ES)
– Ialmar Pio Schneider (RS)
– Nilto Maciel (CE)
– Vicência Jaguaribe (CE)

como também alguns novos:
– Antonio Manoel Abreu Sardenberg (RJ)
– Átila José Borges (PR)
– Hermoclydes S. Franco (RJ)
– Isabel Furini (PR)
– José Faria Nunes (GO)
– Lu Oliveira (PR)
– Miriam Panighel Carvalho (MG)
– Nei Garcez (PR)
– Olivaldo Junior (SP)
– Raquel Amélia dos Santos (MG)
– Sérgio Meneghetti (SP)
e outros, para não me prolongar demais.

Duas seções gostaria de destacar:

1 – A entrevista com a Primeira Dama das Trovas, Carolina Ramos, que realizei há tempos atrás para o Singrando Horizontes. Carolina tive o prazer de encontrar duas vezes este ano, na entrega de prêmios da UBT de Santos e na da UBT São Paulo, pelos contatos por e-mail também, defino em uma palavra: GUERREIRA!

2 – Destaque ao site do José Ouverney, de Pindamonhangaba, o www.falandodetrova.com.br, que deve ser o site de cabeceira (meio esquisito esta expressão para um site, mas lembra bem aqueles nossos livros preferidos que deixavamos na cabeceira, hoje até esta já é rara) dos trovadores, e mesmo dos não trovadores, além do fato de que Ouverney é um dos Magníficos Trovadores.

Além disso, trovas de outros trovadores não menos importantes (permita-me me exibir um pouco, de minha pessoa também), poesias, haikais à moda brasileira (do maringaense Roberth Fabris, de uma forma bem humorada), contos, cronicas, cronicas poéticas, artigos, o Pantum (você sabe o que é? nem eu conhecia, você terá a oportunidade de saber o que é esta modalidade poética), lançamentos de livros, inclusive um dos quais fiz a apresentação nele, a qual coloco neste número, folclore dos Kayapós, folclore chinês, tibetano, etc., peças teatrais, triversos de um dos mais completos literatos do Brasil, o A. A. de Assis, enfim, uma leitura para seu deleite por um bom tempo até o lançamento do próximo número.

Falhas devem haver, por mais perfeito que eu procure realizar o Almanaque, erros sempre passam desapercebidos. Sugestões, elogios, críticas, serão sempre bem aceitas para que possa melhorar o Almanaque.

Boa Leitura
José Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 326)


Uma Trova Nacional

A liberdade é a chama
que não nos deixa calados.
Com ela a verdade inflama
a bem dos injustiçados.
–ARLENE LIMA/PR–

Uma Trova Potiguar

Para afastar os abrolhos
do meu viver sufocante,
bastou-me fitar teus olhos
divinais... por um instante!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2003 – Nova Friburgo/RJ
Tema: LOUCURA - 2º Lugar

É tão forte a intensidade
das loucuras da paixão,
que no amor a insanidade
é o que eu chamo de razão!
–ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ–

Uma Trova de Ademar

No sertão inverno ameno
numa seca imperatriz
qualquer chuvisco ou sereno
já deixa o povo feliz!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Meu palhaço de brinquedo,
meu talismã de retalhos
hoje é cofre de um segredo
destes meus sonhos grisalhos!...
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

Soneto Antigo.
–CECÍLIA MEIRELES/RJ–

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Estrofe do Dia

Se afaste do caos da vaidade,
nunca pise na beira desse abismo
nem se mele com a lama do egoísmo,
beba água da fonte da verdade;
só assim entraremos na cidade
batizada com o nome de Sião,
vamos todos amigos dar as mãos,
uma amizade sincera ninguém corta;
amizade é a chave que abre a porta
do castelo onde mora o coração.
–ANTONIO FRANCISCO/RN–

Soneto do Dia

A Outra Face
–ANTÓNIO CASTELBRANCO/PT–

Esquece o teu passado, olha o presente,
instante que não mais consegues ter,
fugaz na transição do tempo ser,
futuro que se anseia e não se sente.

As lágrimas toldando a tua mente,
memórias agarradas de sofrer,
com agulhas de sangue vais coser
as mágoas desse tempo já ausente.

Da dor assim liberta, podes ver
quão rica te tornaste no viver,
quão forte transformaste a tua vida.

Nessa doce lembrança doutro amor,
anseias novamente por penhor...
com minh'alma não mais serás ferida.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 325)


Uma Trova Nacional

Desde criança a Poesia
é a minha grande riqueza:
minha fonte de alegria,
minha eterna Fortaleza!
–ROZA DE OLIVEIRA/PR–

Uma Trova Potiguar

Ferindo feito um punhal,
cravado sobre meu peito...
Destino – a causa banal
do meu romance desfeito.
–DJALMA MOTA/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - ATRN-Natal/RN
Tema: VERTENTE > 15º Lugar

Deus! que bom, se, de repente,
o pranto da humanidade
se transformasse em vertente
de Amor e Fraternidade!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova de Ademar

Para o meu sonho alcançar,
enfrento a força dos ventos,
mergulho sem respirar
no mar dos meus pensamentos...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nos jazigos, pensativos,
os mortos hão de chorar,
sabendo que há muitos vivos
sem ter onde se abrigar.
–LILINHA FERNANDES/RJ–

Simplesmente Poesia

Dualidade
–SÉRGIO SEVERO/RN–

Eu tenho um lado todo português
e um outro lado cheio de arabescos.
Meu pai ensinou-me os porquês;
a minha Mãe, os Contos Principescos.

Nas minhas veias: Sangue de Lisboa,
dentro da linfa: Seiva de Medina.
Sinto saudades, de maneira à toa
creio Verdades que a Fé me ensina.

Eu não sou um, sou dois, e me contento
e quando oiço o cantar de um fado,
lembro o Muezin no seu "lamento".

Me complementam Muhammed e Camões
e só assim me sinto integrado
ao meu legado de duas Nações.

Estrofe do Dia

Te dou tudo que queres nesta vida
gasto minha saliva esquento o crânio,
o esforço que faço é momentâneo
o que vejo e o que sinto é sem medida;
tua fuga é um beco sem saída
confundindo o amor com a razão,
misturando cabeça e coração
transformando o real no fictício,
eu te trato com tanto sacrifício
e tu me pagas com tanta ingratidão.
–ANTÔNIO LISBOA/RN –

Soneto do Dia

Amor de Extremos
–ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ–

O nosso Amor é um mar cheio de extremos...
Mar perigoso de navegação...
Às vezes... temo e abandonar os remos
parece a diretriz... a solução.

Eu me amedronto, mas, ante o que temos,
dou meia volta... vejo a salvação
nos tempos de prazer... tantos... supremos,
e eu sigo em frente, atrás dessa emoção...

O nosso Amor é uma cumplicidade...
é todo feito de diversidade....
é guerra... é fogo... é paz... é rebeldia...

É plantação... estio com fartura,
é sensatez vestida de loucura...
É breu... é noite... é Sol de meia dia!!!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

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domingo, 4 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 12


Hermoclydes S. Franco (O Infinito em Teus Braços)


Em teus braços, no sonho mais bonito,
Desfrutei o calor da chama acesa...
Conheci , do prazer, o eterno grito
E as belezas sem fim da natureza.

Sons do céu escutando, com certeza,
Do silêncio quebrei o velho mito.
Esqueci o valor da farta mesa
E, de calmo, me fiz homem aflito!...

Em teus braços, perdido de emoção,
Fiz da vida o mais fundo de um vulcão,
Fiz , do vasto, o recesso mais restrito!

Em teus braços, poeta e sonhador,
Conheci, numa noite de esplendor,
O mistério insondável do infinito!...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Antonio Brás Constante (A Vida é uma Festa que Sempre Acaba em Velório)


A vida é uma festa na qual todos nós somos convidados, e onde cada um recebe de presente a própria vida. Ela vem embrulhada em um pacote feito de pele, ossos, carne e sangue, entre outros componentes orgânicos. As semelhanças entre os presentes terminam por aí. Pois muitos recebem a vida somente com o kit básico, chamado de corpo, não necessariamente em boas condições de uso. Já outros chegam ao mundo contando com diversos acessórios, tais como: dinheiro, beleza, um palpite certeiro dos números da mega-sena acumulada, etc. Estes acessórios acabam determinando uma coisa que não deveria ter preço, que é o quanto vale a vida de cada um.

Enquanto para uns parece que a vida não vale nada, para outros ela vale milhões (muitas vezes cotada na bolsa de valores). Sempre ouvimos histórias de como algumas pessoas transformaram suas vidas em um verdadeiro presente maravilhoso, brilhando e fazendo sucesso através delas. Mas também encontramos aqueles cuja existência parece ser algo insignificante, agem como se não soubessem muito bem o que fazer com a vida que fluí em suas veias e acabam estragando-a, seja no mundo das drogas, da marginalidade, da futilidade, da mesquinharia, ou mesmo pelo total desprezo com as demais vidas que circulam em sua volta. Também não podemos esquecer aqueles que sempre se colocam no papel de pobres coitadinhos, sem fazer nada para melhorar sua situação.

Partimos do princípio que nós todos somos iguais, porém, dotados de corpos e mentes diferentes. O ser humano passa por muitas dificuldades, pois se já é um parto para poder nascer, imagine o trabalhão que dá para se manter vivo então. É neste contexto de superar limites para viver e sobreviver, que muitas pessoas impõem para si mesmas a meta de alcançar a perfeição. Muitas vezes sem se darem conta de que esta busca é uma espécie de ato egocêntrico.

Dizem que até já existiu alguém totalmente perfeito andando sobre a Terra (as fábulas fazem parte da alma do ser humano ou vice-versa). Por isso, qualquer outro indivíduo disposto a repetir tal façanha poderia ser considerado um mero plagiador, sem falar que o esforço despendido para alcançar tal grau de perfeição deixaria qualquer um literalmente pregado.

Somos seres perfeitamente imperfeitos, contrastando com a nossa imagem de imperfeita perfeição. As pessoas julgam que junto com a perfeição alcançarão também a felicidade, mas estas duas coisas não estão necessariamente atreladas. Ao contrário, muitas vezes esta procura pode causar erros e danos no livro de nossa história existencial. E assim seguimos nossas vidas errando ao tentar acertar. Por exemplo, ao tentar deixar um planeta melhor para os nossos filhos, nos esquecemos que o ideal seria criar os filhos para que fossem pessoas melhores para o nosso planeta.

Mais do que a própria perfeição, deveríamos tentar adquirir doses maiores de afeição. Trabalhar para que outros também consigam melhorar em suas vidas, ou pelo menos, auxiliá-los diante de seus fardos. Fazendo isto, provavelmente conseguiremos melhorar a nós mesmos.

Nossas vidas apresentam diversas ranhuras, imperfeições que são características pessoais de cada um. Dispomos de traços de personalidade que nos diferenciam de outros seres, e antes de tentarmos mudá-los, é preciso saber aceitá-los, entendê-los como são, e deste conhecimento forjarmos as ferramentas necessárias para nos tornarmos indivíduos melhores, desde que este melhor realmente seja o melhor para nós.

Antes de tentar ser alguém com todas as respostas, talvez devêssemos rever e quem sabe até mesmo apresentar novas dúvidas para tudo àquilo que se julgava já estar esclarecido. Afinal, tudo que é definitivo é incompleto em sua essência. A única certeza que podemos ter é a de que a vida é uma festa (boa ou má) que sempre terminará em um derradeiro velório.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Robert Schumann)


In Memoriam – 8.6.1810 - . – 4.9.1896

Para escrever sobre o compositor
Robert Schumann, escuto as sinfonias
que ele compôs com vívido esplendor,
preenchendo assim os seus amargos dias...

E quanto o perturbou a imensa dor
ao mergulhar nos mares de agonias,
sem deixar de sofrer no seu labor
de produzir as suas fantasias...

A “Sinfonia nº 1”, que era
a evocação taful: (“A Primavera”),
vem a ser sua obra-prima e jovial

que nos encanta para meditar...
Mas, depois ele não pôde evitar,
o desespero que lhe foi fatal...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Pedro Ornellas (As Artes do Pedro V)


Meia noite, atenta, a nora
foi a sogra sacudir:
"Acorda, que tá na hora
do remédio pra dormir!"

"Meu bem, quero seu amor!"
E a loiraça, no buffet:
"Amor, vem cá, que há um senhor
dizendo que quer você!"

Minha sogra é uma figura!
Provoca riso na prole
quando põe a dentadura
pra comer maria-mole!

Pior que a esposa queixando
que o feijão tinha acabado
foi ver a sogra chegando
trazendo junto o cunhado!

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Monteiro Lobato (O Saci) XXV – O pingo d’água; XXVI – A Iara

Iara
XXV – O pingo d’água

A cólera da Cuca foi medonha. Deu um urro de ouvir-se a dez léguas dali, tamanho e tão horrendo que por um triz Pedrinho não disparou na corrida. E outro urro, e outro, e mais de cem.

— Berre, demônio! — gritou o saci. — Berre até rebentar. Pingo d’água não tem ouvidos, nem tem pressa. Esse que botei pingando nessa horrenda caraça vai divertir-se em pingar no mesmo lugarzinho por cem anos, se for preciso. Sei que Cuca é bicho duro, mas quero ver se pode com um pingo d’água que não tem pressa nenhuma, nem tem outra coisa a fazer na vida senão pingar, pingar, pingar...

A dor que a queda de um pingo atrás do outro já estava causando nos miolos da bruxa começava a crescer ponto por ponto. Cada novo pingo era um ponto mais de dor. Naquele andar ela não suportaria o suplício nem um mês, quanto mais os cem anos com que a ameaçara o saci.

— Parem com esse pingo d’água! — berrou a bruxa.

O saci deu uma risada de escárnio.

— Parar? Tinha graça! Se estamos apenas começando, como quer você que paremos? Já arrumei tudo, de modo que o pingo pingue durante cem anos, e se não for suficiente, arranjarei as coisas de modo que depois desses cem anos pingue outros cem. Duzentos anos de pingo na testa parece-me uma boa conta, não acha?

A Cuca ainda urrou como cem mil onças feridas, e espumou de cólera, e ameaçou céus e terras. Por fim viu que estava fazendo papel de boba, pois havia encontrado afinal um adversário mais inteligente do que ela; e disse:

— Parem com este pingo que já está me pondo louca! Tenham dó duma pobre velha...

— Pobre velha! A coitadinha... Quem não a conhece que a compre, bruxa duma figa! Só pararemos com a água se você nos contar o que fez de Narizinho.

— Hum! — exclamou a bruxa, percebendo afinal a causa de tudo aquilo. — Já sei...

— Pois se sabe, desembuche. Do contrário, a sua sina está escrita; há de morrer no maior suplício que existe. E nada de tentar enganar-nos. É ir dizendo onde está a menina, o mais depressa possível.

— Farei o que quiserem, mas primeiro hão de desviar de minha testa este maldito pingo que me está deixando louca.

— Assim será feito — disse o saci trepando de novo às estalactites e desviando o fiozinho d’água para um lado.

A Cuca deu um suspiro de alívio. Tomou fôlego, descansou um bocado; depois disse:

— Encantei essa menina que vocês procuram, mas só poderei romper o encanto se vocês me trouxerem um fio de cabelo da Iara. Sem isso é impossível.

— Não seja essa a dúvida — respondeu o saci. — Iremos buscar o fio de cabelo da Iara. Mas, se ao voltarmos, você não quebrar o encanto, juro que deixarei o pingo a pingar nessa testa horrenda, não cem anos, mas cem mil anos, está ouvindo?

E dizendo isto, tomou Pedrinho pela mão e retirou-se com ele da caverna.

XXVI – A Iara

— Vamos à cachoeira onde mora a Iara — disse. — Essa rainha das águas costuma aparecer sobre as pedras nas noites de lua. É muito possível que possamos surpreendê-la a pentear os seus lindos cabelos verdes com o pente de ouro que usa.

— Dizem que é criatura muito perigosa — murmurou Pedrinho.

— Perigosíssima — declarou o saci. — Todo cuidado é pouco. A beleza da Iara dói tanto na vista dos homens que os cega e os puxa para o fundo d’água. A Iara tem a mesma beleza venenosa das sereias. Você vai fazer tudo direitinho como eu mandar. Do contrário, era uma vez o neto de Dona Benta!...

Pedrinho prometeu obedecer cegamente. Andaram, andaram, andaram. Por fim chegaram a uma grande cachoeira cujo ruído já vinham ouvindo de longe.

— É ali — disse o perneta, apontando. — É ali que ela costuma vir pentear-se ao luar. Mas você não pode vê-la. Tem de ficar bem quietinho, escondido aqui atrás desta pedra e sem licença de pôr os olhos na Iara. Se não fizer assim, há de arrepender-se amargamente. O menos que poderá acontecer é ficar cego.

Pedrinho prometeu, e de medo de não cumprir o prometido foi logo tapando os olhos com as mãos.

O saci partiu, saltando de pedra em pedra, para logo desaparecer por entre as moitas de samambaias e begônias silvestres.

Vendo-se só, Pedrinho arrependeu-se de haver prometido conservar-se de olhos fechados. Já tinha visto o Lobisomem, o Caipora, o Curupira, a Cuca. Por que não havia de ver a Iara também? O que diziam do poder fatal dos seus encantos certamente que era exagero. Além disso, poderia usar um recurso: espiar com um olho só. O gosto de contar a toda gente que tinha visto a famosa Iara valia bem um olho.

Assim pensando, e não podendo por mais tempo resistir à tentação, fez como o saci: foi pulando de pedra em pedra, seguindo o mesmo caminho por ele seguido.

Súbito, estacou, como fulminado pelo raio. Ao galgar uma pedra mais alta do que as outras, viu, a cinqüenta metros de distância, uma ninfa de deslumbrante beleza, em repouso numa pedra verde de limo, a pentear com um pente de ouro os longos cabelos verdes cor do mar. Mirava-se no espelho das águas, que naquele ponto formavam uma bacia de superfície parada. Em torno dela centenas de vaga-lumes descreviam círculos no ar; eram a coroa viva da rainha das águas. Jóia bela assim, pensou Pedrinho, nenhuma rainha da terra jamais possuiu. A tonteira que a vista da Iara causa nos mortais tomou conta dele. Esqueceu até do seu plano de olhar com um olho só. Olhava com os dois, arregaladíssimos, e cem olhos que tivesse, com todos os cem olharia.

Enquanto isso, ia o saci se aproximando da Mãe-d’Água, cautelosamente, com infinitos de astúcia para que ela nada percebesse. Quando chegou a poucos metros de distância, deu um pulo de gato e nhoque! Furtou-lhe um fio de cabelo.

O susto da Iara foi grande. Desferiu um grito e precipitou-se nas águas, desaparecendo.

O saci não esperou por mais. Com espantosa agilidade de macaco, aos pinotes, saltando as pedras de duas em duas, de três em três, num momento se achou no ponto onde Pedrinho, ainda no deslumbramento da beleza, jazia de olhos arregalados, imóvel, feito uma estátua.

— Louco! — exclamou o saci, lançando-se a ele e esfregando-lhe nos olhos um punhado de folhas colhidas no momento.

— Não fosse o acaso ter posto aqui ao meu alcance esta planta maravilhosa e você estaria perdido para sempre. Louco, dez vezes louco, louquíssimo que você é, Pedrinho! Por que me desobedeceu?

— Não pude resistir — respondeu o menino logo que a fala lhe voltou. — Era tão linda, tão linda, tão linda, que me considerei feliz de perder até os dois olhos em troca do encantamento de contemplá-la por uns segundos.

— Pois saiba que cometeu uma grande falta. Não devia pensar unicamente em si, mas também na pobre Dona Benta, que é tão boa, e na sua mãe e em Narizinho. Eu, apesar de um simples saci, tenho melhor cabeça do que você, pelo que estou vendo...

Aquelas palavras calaram no menino, que nada teve a dizer, achando que realmente o saci tinha toda razão.

— Bem — continuou o duendezinho — agora que o perigo já passou, tratemos de voltar à caverna da Cuca. E depressa, antes que amanheça. Lembre-se que prometemos a Dona Benta estar no sítio com a menina sumida logo ao romper da manhã.
____________
continua... XXVII - Na caverna da Cuca; XXV – Desencantamento
--------------
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
Imagem =- http://atualidadesdatv.blogspot.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 324)


Uma Trova Nacional

Quando as voltas do caminho
nos deixam sem chão e abrigo,
sem amor e sem carinho,
como faz falta um amigo!...
–RENATO ALVES/RJ–

Uma Trova Potiguar

Sempre tristonho...No entanto,
se a alegria é um grande bem,
eu tento esconder meu pranto
por trás do riso de alguém!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - ATRN-Natal/RN
Tema: INSPIRAÇÃO - 5º Lugar

Quando rezas em surdina
mãe, vejo nos olhos teus,
a inspiração que ilumina
tua conversa com Deus!
–ELEN DE NOVAIS FÉLIX/RJ–

Uma Trova de Ademar

Na construção do desgosto
de um casamento desfeito,
criei rugas no meu rosto
e pus mágoas no teu peito...
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !..
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Voo Noturno
–JURACI SIQUEIRA/PA–

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal.

Estrofe do Dia

Acho tarde demais para voltar
estou cansado demais para seguir,
os meus lábios se ocultam de sorrir,
sinto lágrimas, não posso mais chorar;
eu não posso partir e nem ficar
e assim nem pra frente nem pra trás,
pra ficar sacrifico a própria paz,
pra seguir a viagem é perigosa,
a vereda da vida é tão penosa
que me assombro com as curvas que ela faz!
–CANHOTINHO/PB–

Soneto do Dia

Naturalidade
–A. DE CARVALHO MELO/BA–

Trago comigo a singular ventura
de ter nascido para ser poeta,
de andar a braços com a literatura
e ser, no verso, um requintado esteta.

Sem preocupar-me em revelar cultura,
essa doença que o saber afeta,
gosto dos versos de linguagem pura
e sou amante da expressão correta.

O metro, a rima, a correção, a graça,
em poesia, tudo o quanto eu faça,
há de espontâneo e natural fluir.

Porque eu escrevo no meu próprio estilo,
e não costumo procurar asilo
em prédios velhos que já vão cair.

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

II Festival de Literatura Infantil, em Monteiro Lobato/SP


De 01 a 04 de setembro, a cidade de Monteiro Lobato, interior de São Paulo, promove o II Festival de Literatura infantil. O evento visa incentivar a leitura, promover o encontro entre escritores e o público, e também, celebrar a obra do escritor José Bento Monteiro Lobato.

Entre os convidados para o festival, o escritor Alonso Alvares, vencedor do Prêmio Jabuti, as escritoras Teca Bendini, Stefânia Andrade, Ednalva Pereira, Marcela Lira, Cristina Hernandes, integrante da Academia Joseense de Letras, o ator e contador de histórias João Acaiabe, os lobatólogos Oiram Antonini e Nelson Somma Junior, o escritor e cantor Gabriel O Pensador, além de outros escritores e atrações artísticas.

A expectativa da Prefeitura Municipal de Monteiro Lobato é receber um público aproximado de seis mil pessoas durante os quatro dias do festival.

Na quinta e sexta-feira, as atrações ocorrem no Centro Cultural, localizado na Praça Deputado Cunha Bueno. Entre as atividades, sarau poético, oficinas literárias e contações de histórias para crianças com escritores e artistas da região do Vale do Paraíba.

No sábado e Domingo, todas as atividades ocorrem na Praça Deputado Cunha Bueno. Com exposições de livros, brincadeiras com Emilia e Visconde de Sabugosa e Oficinas de brinquedos. A tenda principal será palco para bate-papo com escritores, literatura cantada, palestras sobre a obra de José Bento Monteiro Lobato e apresentações artísticas.

No encerramento do evento, domingo às 16h, um agradável bate-papo com escritor e músico Gabriel O Pensador.

O II Festival de Literatura Infantil é realizado pelas Secretarias de Cultura, Turismo e Educação de Monteiro Lobato. Todas as atividades são gratuitas.

Fonte:
Prefeitura Municipal de Monteiro Lobato

sábado, 3 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 11


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 323)


Uma Trova Nacional

A fome, sempre presente,
faz sair o Chico Brito
atrás de um cachorro-quente,
"matando cachorro a grito"!...
–JOÃO PAULO OUVERNEY/SP–

Uma Trova Potiguar

Está pensando em casar?
É melhor sair de cena
do contrário vai passar
a vida cumprindo pena.
-HELIODORO MORAIS/RN-

Uma Trova Premiada

2000 - Bandeirantes/PR
Tema: CARA - Venc.

“Padre, eu sei quem é Jesus”,
diz o caipira e dispara:
“Conheço o siná da cruz...
Num sei é espaiá na cara!”
–THEREZINHA DIEGUES BRISOLLA/SP–

Uma Trova de Ademar

Casou virgem e a coitada
fez o que eu imaginei;
teve um chilique, assustada
com tudo o que lhe mostrei...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quanta vez junta a um jazigo
alguém murmura de leve:
- Adeus para sempre, amigo!
E diz-lhe o morto: - Até breve!
–BELMIRO BRAGA/MG–

Simplesmente Poesia

Pra vê se ganha cartaz
olha pra quem tá na frente,
chega em qualquer ambiente
com a saia lascada atrás,
e sai com gosto de gás
dando aquela rebolada,
anda toda arrepiada
igual a gata parida;
toda viúva enxerida
termina sendo falada.
–ANTONIO NUNES DE FRANÇA/RN–

Estrofe do Dia

Domingo arranjo um namoro,
na segunda, mostro classe,
na terça, tem casamento;
na quarta, beijo na face,
na quinta, a mulher engorda,
na sexta, o menino nasce!
–LOURO BRANCO/CE–

Soneto do Dia

Continuidade...
–GIUSEPPE A. GHIARONI/RJ–

Existe um cão que ladra quando eu passo,
como se visse um bêbedo, um mendigo.
E no entanto, esse cão foi meu amigo,
como tantos amigos que ainda faço.

À noite, com que alegre estardalhaço
vinha encontrar-me no portão antigo;
enquanto a dona vinha ter comigo
e, sorrindo, apoiava-se ao meu braço.

Hoje ele faz a outro a mesma festa
e ela o mesmo carinho, tão honesta
como se nem notasse a transição.

Eu rio dessa triste brincadeira.
mas quando uma mulher é traiçoeira,
não se pode confiar nem no seu cão.

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

Francine Cruz (Lançamento de "Amor, Maybe")


Ícone Editora
Coleção Ícone Jovem
304 páginas

A jovem escritora Francine Cruz lança seu romance Amor, Maybe (Ícone, 2011) nacionalmente. Francine caiu no gosto de jovens adolescentes por usar uma linguagem simples e direta contando lindas histórias apaixonadas. A autora está sendo elogiada por seu 1º romance adolescente. O livro já está disponível nas livrarias. Para contato com a escritora, seguem os contatos: blog http://francinecruz.blogspot.com/, Twitter: @FrancineCruz e/ou @AmorMaybe, e-mail fran_rcc@hotmail.com e telefone: (41) 9668-6262

Link:
Livro no site Ícone Editora

RESENHA:
Até onde pode ir um grande amor? A fé ajuda a recuperar sentimentos?
Quem pode separar duas pessoas que se amam?
Descubra em Amor, Maybe uma linda história romântica
como você nunca viu!

Em uma festa à fantasia, Josephine e Matthew se conhecem e se apaixonam. Inexperientes, Josie e Matt sabem que se amam, mas, para viver esse grande amor, terão que vencer muitas barreiras. O que será que os impede de ficar juntos?

Esta é a história de um amor inacabado, cheio de lágrimas, romance, brigas e sentimentos, mas, acima de tudo, cheio de esperança. Fala sobre o tempo e como a vida pode pregar peças em nós.

Neste romance, você conhecerá a força de um amor verdadeiro que através dos anos buscará sua chance de ser eterno. Será esse amor forte o suficiente para resistir ao tempo, à distância e à solidão?

– Maybe.
***
A história começa no ano de 2006 quando Josephine retorna à cidade de Los Angeles e começa a ter sonhos misteriosos. A cada dia eles aumentam de intensidade e revelam mais informações até que, passeando de carro no dia de seu aniversário, Josie reconhece o Hospital São Rafael como o local visto em seus sonhos e descobre que seu amado Matthew, ausente de sua vida há anos, está em coma.

A partir desse dia, Josie passa a dedicar suas tardes a Matt e começa a descobrir fatos que ignorava sobre os motivos de ele tê-la abandonado no passado.

Tendo reencontrado seu amado, Josie reencontra também a inspiração para voltar a escrever o livro que havia começado quando os dois se conheceram e, em suas visitas a ele no hospital, passa a lhe contar a história de suas próprias vidas.

Amor, Maybe une assim o passado e o presente dos personagens, intercalados na narrativa através das leituras de Josephine.

A autora:
Francine Cruz nasceu em Curitiba, em 1984. Formada em Educação Física e Pós-Graduada em Atividade Física e Saúde (UFPR), acadêmica do curso de Letras Português/Inglês (UTFPR), atualmente se divide entre suas duas paixões: dar aulas de educação física e escrever. Amor, Maybe marca sua estréia com sucesso no mundo das histórias românticas.
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Excerto do livro:
Capítulo 1– o sonho

Encontre-me.
Encontre-me.

Josephine acordou com essas palavras girando em sua mente.

Encontre-me.

Encontrar quem? Encontrar o quê? Quando? Por quê?

Ela não sabia. Tinha sido uma noite longa e um sonho nebuloso. Josie conhecia-se o suficiente para ter certeza de que essas palavras ficariam gravadas no fundo de seu coração, e detestava isso. As interrogações permaneceriam em sua cabeça o dia todo e ela não queria pensar no assunto, temia a resposta que poderia encontrar.

13 de maio de 2006 – sete da manhã, hora de levantar.

Melhor esquecer isso.

Confusa, Josie escovou os dentes pensando: “Uma noite tão longa, para mais um dia vazio…” Por um segundo achou essas palavras familiares, mas não tinha coragem de refletir sobre elas.

Desceu as escadas e dirigiu até o trabalho tentando calar seu próprio coração, tentando, sem sucesso, mascarar o sentimento de antecipação que lhe invadia.

Havia retornado a Los Angeles há poucos meses. Tinha optado por cursar a faculdade no Brasil e agora, formada, era professora de Literatura na Escola Fundamental de Sunfield. Sempre preferiu as crianças – “os seres mais sinceros do mundo”, dizia. Adorava seu trabalho e dedicava todas as suas forças para despertar a paixão pela literatura naquelas alminhas a ela confiadas.

Ensinava cada criança com uma ternura especial, como se fossem os próprios filhos que gostaria de educar um dia. Elas, sentindo aquele carinho sincero, cobriam-na de beijos e abraços o tempo todo.

Nesse dia, rompendo sua rotina, estava indisposta para dar aula. Um grande mistério tirava sua paz. Josephine sentia que seu subconsciente tentava lhe dizer algo que ela não queria ouvir. Tinha medo de silenciar seu coração, sofria muito com as lembranças. Ocupou cada minuto de seu dia com milhões de atividades só para não pensar no que a inquietava.

Sua estratégia deu certo. Chegou em casa bastante cansada ao fim do dia e, tão logo deitou-se, adormeceu.

Encontre-me. Encontre-me, Josie.

Eu preciso de você. Preciso muito…

Josie acordou subitamente sem ar. Sentia-se angustiada, perdida. Não sabia o que pensar, nem até quando aguentaria aquela situação. Os sonhos continuavam abstratos e seu coração apertava-se no peito. Começou a se preocupar com seu bem-estar emocional.

Era semana do seu aniversário e não podia evitar a tristeza que chegava nessa época. Desde criança era assim, mas a melancolia nesse ano vinha com força total. Mentindo para seu próprio coração, deu a desculpa da data próxima e repetia consigo mesma: “todo ano é assim, não tenho porque me preocupar…”

Outra vez, recusou-se a pensar no assunto e saiu mais cedo para o trabalho. Procurou gastar o máximo de energia, para que não restasse nada quando deitasse. Ainda assim, novos sonhos surgiram. A cada noite, eles se tornavam mais claros, aumentavam de duração e intensidade. Josie começou a ver entre a neblina vultos de pessoas, ouvir vozes estranhas e, lá no fundo, a mesma voz dos outros dias lhe repetia:

Encontre-me. Preciso de você.

Não me deixe desistir… Josie…

15 de maio de 2006 – véspera de seu aniversário.

Josephine rezava para que o dia chegasse e acabasse logo, assim, aquela angústia passaria junto com ele.

Como era difícil sufocar aquelas milhares de interrogações brotadas em seu coração!

Ao sair da escola, tentando distrair-se, resolveu ir ao shopping comprar um presente para si mesma. Foi até a livraria e nem tentou resistir ao impulso consumista tão criticado por ela. Por hoje, permitia-se o exagero de esbanjar nas compras. De uma vez só, levou para casa vários de seus melhores amigos, desde os de longa data, como Shakespeare, Jane Austen, Emily Dickinson e Goethe, até os mais recentes, como Vinícius de Moraes, Castro Alves e Manuel Bandeira. Estavam todos lá. Eles a faziam sentir-se melhor. E sentiu-se.

Lendo Os sofrimentos do Jovem Werther, Josie encontrou enfim a frase que lhe trouxe a paz. Era Werther quem dizia, mas ela tomava agora as palavras como suas:

Às vezes digo para mim mesmo: “o teu destino é único, podes considerar todos os outros felizes… nenhum mortal foi tão martirizado quanto tu”… E depois disso leio qualquer poeta antigo, e é como se lesse no meu próprio coração. Tenho de suportar tanto! Ah, terá nascido antes de mim homem tão miserável?

Estava mais tranquila agora. Sabia que seus heróis não a deixariam só. Colocou o livro sobre a mesa de cabeceira, desligou o abajur e adormeceu.

Encontre-me… Não me deixe desistir…

Me sinto tão só… Eu amo você… Josie…

Dessa vez seu sonho foi tão intenso que Josephine despertou completamente desnorteada. Por vezes respirou com intensidade, sentindo medo. Medo de seu próprio coração, pois ele insistia em sentimentos indesejados.

Vivia sozinha desde os tempos de faculdade, mas nunca havia se sentido tão carente e desprotegida como agora. Acendeu o abajur, abraçou os joelhos e chorou até o sol raiar.

Fonte:
Andrey do Amaral