JOUBERT DE ARAUJO E SILVA
Cachoeiro do Itapemirim/ES (1915 – 1993) Rio de Janeiro/RJ
O vento, pastor estranho,
tangendo as nuvens ao léu,
conduz seu alvo rebanho
pelas campinas do céu!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
O desfecho
Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.
Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilhão,
Uns cingidos de luz, outros ensanguentados...
Súbito, sacudindo as asas de tufão,
Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.
Pela primeira vez a víscera do herói,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer às raivas que a consomem.
Uma invisível mão as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplício e acabara o homem.
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Trova de
ALBERTINA MOREIRA PEDRO
Rio de Janeiro/RJ
Do passado, ouço a cantiga
que recorda, ternamente,
que há sempre uma rua antiga
nos velhos sonhos da gente...
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Texturas
Aconchega-se
À toalha de seda lilás
Ao bule branco,
Mesclam-se luz e sombra
Em dobras,
Tecidas na delicada seda -
Um labirinto...
Ao toque da porcelana
A sensação
De uma atemporal imagem,
Uma tala, um devaneio -
Saudade.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
A existência é definida
não por azar, mas por sorte:
quanto mais cheios da vida,
mais perto estamos da morte.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Quando as lágrimas caírem do rosto das estátuas
(Narciso Alves Pires, in “Para além do adeus”, p.48)
Quando as lágrimas caírem do rosto
Sereno das estátuas da mansão
Já o tempo terá feito uma invasão
E os dourados umbrais terá transposto.
Decadente, o jardim esteve exposto
Às ervagens da vil degradação
E o teto, na capela e no salão
Tem as rugas abertas de um desgosto,
De pé inda as estátuas permanecem
Velando o pó e a mágoa que adormecem
Vencidos por tão trágica vigília.
O breu vai caindo sobre a memória
Do que resta de alguma ida glória
Que morreu no brasão desta família.
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Poetrix de
AILA MAGALHÃES
Belém/PA
indigestão
A boca da noite
Mastigou meus sonhos
Sem digerir os pesadelos…
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
O cavaleiro pobre
(Pouchkine)
Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre,
Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
E pálido como o luar.
Antes de se entregar às fadigas da guerra,
Dizem que um dia viu qualquer coisa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
Um vasto e inútil mausoléu.
Desde então, uma atroz devoradora chama
Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o Pobre olhou uma só dama,
Nem uma só! nem uma só!
Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
A fogo e sangue no broquel.
Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
Um nome caro de mulher,
Ela rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
“Lumen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
Irresistível e feroz.
Mil vezes sem morrer viu a morte de perto,
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
Mas o seu Sonho era maior!
E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
Louco, velho, feroz, - naquela solidão
Morreu: - mudo, rilhando os dentes, devorado
Pelo seu próprio coração.
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Lembranças deixam feridas
que nascem na alma da gente.
Que tenham elas nascidas
no passado… ou no presente!
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Canção Anã
Essa abstração me
acarreta
acanhos e
acabrunhamentos!
Açambarca
anseios,
açoda instintos e
acossa
o CORAÇÃO.
Assalta e açoita a
Inocência
existente em mim...
adultera sonhos,
alucina emoções,
angaria debilidades,
aquece a ilusão, na
amplidão dessa
SAUDADE.
Aquém, vivo e padeço,
apressando os dias,
acelerando as horas,
apregoando frases mortas!
Azedo, arraso o corpo inteiro,
arrefeço o sangue quente, na
agonia de
amoldar o
amor e a FELICIDADE!...
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Se a gente fosse dar crédito
ao que diz a maioria,
só de "autor de livro inédito"
tinha uns mil na Academia!...
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Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Um dia acordarás
Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como fosse para lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar,
a janela abrirás, devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás...
Hás de tocar, a medo, a campainha
e, silenciosa, a porta se abrirá.
E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro:
— Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
Quero chorar — apenas — no teu ombro
e devorar teus olhos, meu amor...
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Trova de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG
Sertão seco... Longo estio...
Em meio a paisagem triste
uma ponte... Mas o rio
infelizmente inexiste!
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Hino de
AMAPORÃ/ PR
Foi a fibra do valente pioneiro
Que lutando com audácia e destemor
Fez surgir neste recanto hospitaleiro
Esta terra de Paz e Esplendor
Já nascestes com destino grandioso
E a mais nobre determinação
Amaporã és torrão generoso
Onde tudo é labor e união.
Caminhando pela trilha do sucesso
Com a força do trabalho como lema
Construindo dia a dia o teu progresso
Desde o tempo em que te chamavam Jurema
Nossa Senhora de Fátima querida
Com seu Manto estende sua proteção
Abençoando para sempre a nossa lida
E as riquezas que brotarem deste chão.
Amaporã - chuva bonita, qual cascata.
Despetalando alva espuma no Ivaí
Irrigando as lavouras e a mata
No cenário mais lindo que eu já vi
Eu que sou filho deste recanto
Com orgulho hei de dizer
Amaporã: És colmeia de encanto
Onde sempre haverei de viver.
Caminhando pela trilha do sucesso
Com a força do trabalho como lema
Construindo dia a dia o teu progresso
Desde o tempo em que te chamavam Jurema
Nossa Senhora de Fátima querida
Com seu Manto estende sua proteção
Abençoando para sempre a nossa lida
E as riquezas que brotarem deste chão.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
O amor que perdura
Nosso primeiro encontro no trabalho;
depois a nossa loja, nossas casas...
Os filhos chegam, como sempre, brasas
aquecidas e boas... Embaralho
das nossas vidas diferentes, asas
ligeiras balançando meu grisalho
amor, ciumento de nós todos, malho
constante dos espíritos. Abrasas
minha existência... Mas te amava tanto
que sublimei por muitos anos teu
precoce encantamento... E tanto quanto
te amei, passei a duvidar do amor
de qualquer ser humano... E espero ter
meu encontro contigo quando eu for.
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Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Ser mãe é perpetuar
a vida em seu seguimento
conjugando o verbo AMAR
seja qual for o momento.
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Uma Lengalenga de Portugal
HORAS DE SONO
(Esta lengalenga é também provérbio/adágio, cantada no século XVIII)
Quatro horas dorme o santo,
Cinco o que não é tanto,
Seis o caminhante
Sete o estudante,
Oito o preguiçoso,
Nove o porco,
Mais só o morto.
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Quadra Popular de
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Paredes/ Portugal
Nosso querer tão velhinho,
cheio de ternuras e afetos,
se deu, aos filhos, carinho,
mais ainda deu aos netos.
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