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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 120 =


Trova de
PADRE NEWTON PIMENTA
Juiz de Fora/MG

Sol das almas: tarde linda;
trás os montes, o sol desce...
mais um dia que se finda
na ternura de uma prece!
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Saber da água a sede 
Saber do pensamento a fonte
Saber do amor a dor
Saber da beleza a forma
Saber do sentir a razão 
Saber de ti a emoção 
Saber do abraço o alento
Saber da vida o propósito.
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

“Cara-metade”, em verdade,
é uma expressão... trapaceira...
- a gente quer a metade
mas tem que “engolir”... inteira…
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Soneto de
FRANCISCO NEVES MACEDO
Natal/RN, 1948 – 2012

Desistir, Jamais!

Escalava a montanha novamente…
E, alpinista de amor enlouquecido,
chegaria a um lugar desconhecido,
jamais imaginado pela mente.

Eu sentia o infinito a um batente,
e, jamais eu teria desistido!
Mas, por forças humanas, impedido…
- E a chegada tão perto, um pouco à frente.

Um grande sonhador, não fica triste,
de alcançar o ideal, jamais desiste,
quer sempre ir mais à frente, e, se cansado…

Ele tenta vencer o seu limite,
buscando o inalcançável, ele admite,
que se jamais chegar… Terá tentado!
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Trova de
PADRE HENRIQUE PERBECHE
Ponta Grossa/PR (1918 – 2011)

Trovas? Umas são quais flores
a bailar pelas campinas;
Outras, rubis multicores,
forjadas no ardor das minas.
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Poema de 
MINERVA MARGARITA VILLARREAL
Montemorelos/México, 1957 – 2019, Monterrey/México

Não Tenho Com Quem Falar

O silêncio pesa, estala
O silêncio pensa
Então falarei contigo
Tu   que és o ser mais remoto
meu doce vazio
vem   apresenta-te
mesmo que não te veja
assim a forma seja negada para ti
para meus olhos de ti
minha percepção te anuncia
como um rio
que cresce de madrugada
e se desborda
A água escorre por debaixo da cama
a água leva rostos
e correntes
lírios e cédulas
e vestidos de noiva
depois tudo é sangue
Um rio com seu ninho de lobos
e nuvens de tormenta
ramos crepitando
cervos
e esta árvore
esta árvore que também és tu
muito além da noite
Há um vulto de pé
junto de minha cama
que emerge
das águas do ar.
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Trova Popular

A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.
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Soneto de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Extremos

Somos assim, estranhamente extremos,
gostos opostos, sonhos discrepantes,
somos canção de acordes dissonantes,
há divergência em tudo o que queremos…

Só defendemos pontos concordantes
até entender que não nos entendemos,
e esclarecendo aquilo que dissemos,
dizemos sempre coisas conflitantes…

Tu, me querendo, dizes que eu não presto,
e ao te querer, sempre de ti reclamo,
mas tu me chamas, disfarçando o gesto,

e entre protestos eu também te chamo,
pois, mesmo amando tudo o que eu detesto,
tu és na vida aquilo que eu mais amo!
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Trova do
CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

Santo Antônio, agradecida,
por ouvir minha oração.
Casei-me na Aparecida,
sou feliz com Sebastião!
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Poema de
ARTUR DA TÁVOLA
(Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros)
Rio de Janeiro/RJ,  1936 – 2008

Manhãs

Manhãs indefinidas,
O Cisne de Tuonela
Vagueia na alma.
O vento está enigmático.

Manhãs sem sol,
Nem definição de vida,
Esparsas lembranças,
Atiçam o burlar deveres.

Manhãs molengas,
Somos todo interioridades,
Lembranças do ignoto
Sem alegria ou tristeza.

Manhãs brumosas
O céu indefinido.
Nenhuma cor predomina
Na alma estapafúrdia.

Manhãs ganho-perdidas
Na falta de vontade
E um torpor com algo de delícia
Pacifica a imposição do poema

Manhãs serenas
Nem preguiça nem ações
Espaço da alma em preparo,
Sem recados, alusões ou deveres.

Manhãs sorrateiras,
O bem e o mal em silêncio.
Uma dor que alivia
O susto de existir.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Já velho o Sansão estrila:
"Minha mulher tá caduca...
Mal cochilei e a Dalila
tosou a minha peruca!?
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Soneto de 
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895 – 1926

História Antiga

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi… um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era… Não sabia…

Desde então transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para a frente…

Nunca mais nos falamos… vai distante…
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…
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Trova de 
ADELIR COELHO MACHADO 
São Gonçalo/RJ, 1928 - 2003, Niterói/RJ 

Se a noite chega cansada
de caminhar sempre ao léu,
Deus dá vinhos de alvorada
na taça rubra do céu.
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Poema de
ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

Cromo

Tro – pe – ga – men – te
sobe a ladeira,
bengala em punho,
passo de rola cansada.

Estanca… é hora
de atravessar a larga avenida.

Vermelho? Verde? Olha o sinal,
o sol é forte, seus olhos fracos,
o mundo, jovem, e ela… tão velha!

Ela vacila: – Será que há tempo?
Suor frio sob o sol quente…

- Vamos, vovó?
E a mão macia
Conduz a sua.

O sol sorriu ao ver a cena,
a tarde aplaudiu
e o pano se fecha
guardando o pequeno e imenso gesto
de cordialidade…
cordial… de coração…
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Trova Funerária Cigana

Brilhava em céu azulado...
Negra nuvem me toldou...
Por perder quem me seguia,
minh'alma aflita chorou.
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Soneto de 
BENI CARVALHO
Aracati/CE, 1886 – 1959, Rio de Janeiro/RJ

O cais

Quando te vejo, velho cais, em ruínas,
perscruto a tua vida secular:
— Manhãs radiosas em que te iluminas!
— Serenas noites de encantado luar!

Viste, partindo, ao canto das matinas,
velhas naus, brancas velas, pelo mar:
— Dourados sonhos, ilusões divinas,
ânsia de descobrir e conquistar!

Hoje, todo em tristeza, te esbarrondas;
mas uma voz oculta, dentre as ondas,
te diz: "A sorte não te foi tão má:

Terás, em ti, esta legenda impressa:
— Recolheste o sorrir do que regressa
e a saudade de quem não voltará".
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Trova de
GEORGINA RAMALHO
Rio de Janeiro/RJ

Quando eu era bem pequena
nossa mesa era uma festa!
Triste ver hoje esta cena
do passado nada resta...
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Poema de 
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

Procura-se um Papai Noel

Procura-se um Papai Noel bem brasileiro,
Com total verde-amarelo em seu visual.
Nada de indumentária vinda do estrangeiro,
Terá que mostrar sua origem tropical.

Procura-se um Papai Noel de tez morena,
Trazendo às crianças o sabor da surpresa,
Magia que o comércio retirou de cena
Na ânsia de vender, de acumular riqueza.

Procura-se um Papai Noel que abrace forte,
Um abraço bem ao modo tupiniquim...
Um gesto sem a frieza do Polo Norte,
Bem ao estilo dos que meu pai dava em mim.

Procura-se um Papai Noel, sorriso aberto,
Que a criança possa tocar, ver e curtir.
E que seu presente só seja descoberto
No exato momento em que o "Velhinho" partir.

Procura-se um Papai Noel de nossa gente.
Viajante de trenó e renas, jamais!
Nós almejamos alguém que esteja presente.
Muito nosso, sim!... Dos Pampas aos Seringais.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A renúncia corresponde, 
muita vez, a muito amar; 
como quando o Sol se esconde 
para que brilhe o luar! 
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Soneto de
OVÍDIO FERNÁNDEZ RIOS
Montevidéu/Uruguai, 1883 – 1963

Elogios

Teus olhos têm momentos desiguais;
sua luz ora é plácida, ora é ardente,
é o suave fluir da água corrente
ou o relampejar de dois punhais.

Estranhos pirilampos de savanas
brilhando nos meus céus tão desolados,
são dois negros diamantes resguardados
por tuas magníficas pestanas.

Únicos olhos que hão por mim chorado,
únicos olhos que hão interpretado
toda a minha alma lutadora e forte;

quero que sejam, com sua luz querida,
os únicos a rir em minha vida,
os únicos que chorem minha morte.
(Tradução de Othon Costa)
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Lembrando a ternura antiga,
minha saudade se exalta...
- Bendigo a penumbra amiga
que me esconde a tua falta!
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Hino de 
Mossoró/RN

I
Nas crônicas da gente brasileira,
Queremos um lugar pra Mossoró,
Cidade centenária e pioneira,
Desbravadora do ínvio Sertão;
Sofreram os seus filhos a canseira;
Viveram na esperança a vocação:

Mas assim se fez a sorte
Com inusitado amor;
A cruel gleba gleba domaram
E fluíram seu valor

Estribilho
Mossoró de Baraúnas a terra;
heroico sítio da Virgem Luzia;
Teu nome sonoro remonta a era
De índios valentes das margens do rio
Que longe nasce no Oeste bravio.

II
Lembramos hoje teus anos de glória:
Ousada foste sempre Mossoró;
Por ti começa, a senda da vitória
Na luta ao cangaceiro lampião;
Precursora exemplar da Pátria História
Em abolir a negra escravidão:

Nem a seca já temeste
Com seu infernal calor;
Encontraste a boa linfa
Que teu povo saciou

III
Bondosa se mostrou a Natureza
Em cumular de dons a Mossoró:
Das várzeas e do sol vem a riqueza,
O Sal, precioso sal, que o mar produz;
Nas matas da Caatinga ao estio acessa,
A nívea vela do Algodão reluz;

Vem a brisa do Nordeste,
Mensageira do alto Mar,
As carnaubeiras belas,
Sussurrantes, embalar

IV
Ao povo, a seus feitos, à cidade,
Cantemos este hino de louvor,
Legado de esperança à mocidade
Em grandiosos dias no porvir;
Moldado desta forma se retrate
Como em gesso fiel nosso sentir:

Seja nosso grande lema,
Construindo pela Paz,
A conquista do Progresso
Que feliz o povo faz
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Trova Humorística de 
JOSÉ MACHADO BORGES
Belo Horizonte/MG

Do peixe, como eu dizia, 
sem pretensão de iludi-los, 
somente a fotografia 
pesava mais de oito quilos!
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Poema de 
CASSIANO RICARDO
São José dos Campos/SP (1895 – 1974) Rio de Janeiro/RJ

O acusado

Quando eu nasci, já as lágrimas que eu havia
De chorar, me vinham de outros olhos.

Já o sangue que caminha em minhas veias pro futuro
Era um rio.

Quando eu nasci já as estrelas estavam em seus lugares
Definitivamente
Sem que eu lhes pudesse, ao menos, pedir que influíssem
Desta ou daquela forma, em meu destino.

Eu era o irmão de tudo: ainda agora sinto a nostalgia
Do azul severo, dramático e unânime.
Sal - parentesco da água do oceano com a dos meus olhos,
Na explicação da minha origem.

Quando eu nasci, já havia o signo do zodíaco.

Só, o meu rosto, este meu frágil rosto é que não
Quando eu nasci.

Este rosto que é meti, mas não por causa dos retratos
Ou dos espelhos.

Este rosto que é meu, porque é nele
Que o destino me dói como uma bofetada.
Porque nele estou nu, originalmente.
Porque tudo o que faço se parece comigo.
Porque é com ele que entro no espetáculo.
Porque os pássaros fogem de mim, se o descubro
Ou vêm pousar em mim quando eu o escondo.
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Trova de 
GLADYS BRAVO CONTRERAS
Chile

Para decirnos te amo,
nos fuimos creando idiomas,
el universo en un ramo
de sonrisas y palomas.*
* * * * * * * * * * * * * * * 
* sonrisas = sorrisos.
palomas = pombas
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O faceto* e os peixes

À mesa dum fidalgo
Um faceto jantava.
Graúdos peixes servem aos convivas;
A ele, um mui pequeno.
«Esperem, que eu lhes conto!» — diz consigo;
E, pegando no peixe,
Finge baixo falar-lhe, — e de resposta
Parece estar à espera,
Pasmam todos, perguntam
Da charada o conceito.
«É que receio, —
Diz então o faceto, — que um amigo,
De infância um companheiro, naufragasse
Da Índia na carreira.
Informar-me tentei deste peixinho;
Porém diz-me que sendo ainda tão novo
Nada pode contar-me; que os mais velhos
Decerto me esclarecem.
Permitam, pois, senhores, que interrogue
Algum dos mais graúdos!»
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
* faceto = brincalhão, humorístico, folgazão

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 119 =


Trova de
CARMEN PIO
Porto Alegre/RS

A rima é como balanço,
 das águas verdes do mar,
 é harmonia que alcanço,
 na beleza do trovar.
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Poema de
VALÉRIA BRAZ
Florianópolis/SC

Fronteiras da vida

Vejo multidões desembarcarem
De um voo que não é eterno
Com seus corações vagando
Em dúvidas...

Seus pés percorrem
Os caminhos da incerteza
Seus corpos se entregam ao cansaço
Mas seus olhos vívidos e alegres...

Afinal são tantos os sonhos
Que ainda vão desvendar
Mal sabem que desembarcaram
Na mais extravagante
E inusitada estação
A vida!

Ela que nos faz
Vibrar de emoção
Lutar para não cair
Sorrir ao entardecer
Sonhar ao anoitecer
Acordar ao amanhecer...

Mas um dia a viagem
Chega ao fim
Tomamos um voo
Sem data de volta
E levamos tudo
Em fotografia mnemônica
Das lutas e alegrias
Da viagem as fronteiras da vida!
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Coitado do Zé Maria:
a mulher quase o esfola,
pois voltou da... pescaria...
co'um biquíni na sacola...
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Soneto de
PADRE ANTONIO THOMAZ
(Padre Antônio Thomaz Lourenço)
Acaraú/CE, 1868 – 1941, Fortaleza/CE+

Contraste

Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás.
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Trova de
ABIGAIL SAMPAIO
Paracuru/CE

Lenços brancos acenando
no instante da despedida
adeus nos dizem, roubando
metade da nossa vida.
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Poema de
ADA CIOCCI CURADO
Jardinópolis/SP 1916 – 1999 Goiânia/GO+

Ode à Palavra

O tempo jamais conseguirá desfazer
a essência de tua fortaleza,
já que és do cosmo absoluto

e
da troca de idéias entre os homens,
o fundamento.
E, ainda que,
bastando-se,
e,
infinitamente sendo tu,
realidade,
verdade,
ciência,
alma,
corpo,
dogma,
mito,
e,
não tendo infinito,
ocupas lugar primeiro,
na VIDA
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Trova Popular

Há umas espécies de plantas
que vingam sem ter raízes...
Assim são certos sorrisos
nos lábios dos infelizes.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Vidas

Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhos
seremos apenas pó tapetando a paisagem.

Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.

E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...

Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
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Trova de
ABÍLIO MARTINS
Ipu/CE

Tantos encantos encerra.
O beijo, é coisa tão boa,
quem não dá beijo na terra,
Deus lá no céu não perdoa.
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Poema de
RACHEL DE QUEIROZ
Fortaleza/CE, 1910 – 2003, Rio de Janeiro/RJ

Telha de Vidro

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda
na casa velha...
tão velha...
quem fez aquela casa foi seu bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha..a.
A moça não disse nada;
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro,
queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora
o quarto onde ela mora
e o quarto mais alegre da fazenda.
Tão clara que, ao meio-dia, aparece uma renda
de arabescos de sol nos ladrilhos vermelhos
que, apesar de tão velhos,
só agora conhecem a luz do dia...

A lua branca e fria
também se mete às vezes pelo claro
da telha milagrosa...
ou alguma estrelinha audaciosa
carateia no espelho onde a moça se penteia...
Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida?
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Diz ao dançar, enfadonha:
- Você sua !!! ... O Zebedeu,
bem caipira e com vergonha,
diz baixinho: – Vô sê seu !!!
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Soneto de 
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ

Curso d’água

Serve ao amigo, e mesmo ao inimigo,
e a Deus é que estarás servindo então;
dedica-te ao amor, de coração,
de maneira que estejas bem contigo!

No rosto abre um sorriso, dando abrigo
ao semelhante, e canta uma canção
cujos versos despertem a emoção —
canção da tua vida, meu amigo!

Não te exasperes nunca, sê paciente;
e constante, e honesto, e sê fiel
a tudo o que o espírito procura.

Seja a tua existência, sob o céu,
qual curso d’água fresca e transparente,
matando a sede a toda a criatura…
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Trova de
ANA MARIA DO NASCIMENTO
Aracoiaba/CE

Para não ver meu amor
vagar no mundo tristonho,
resguardei-o com primor
numa redoma de sonho.
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Poema de
MÁRCIO CATUNDA
Fortaleza/CE

Elegia para José Alcides Pinto

Quando foi que rodopiaste ria catástrofe,
exorcista, dervixe dos dragões?
Quando nos demos o último abraço,
forjador de diabruras?
Místico desesperado,
quanto aprendi contigo!
Tua irreverência, tua marginalidade,
teu dom de transmitir sentimento.
Demônio iluminado,
o látego das horas te fustigava!
É que a vida te desafiava como uma trincheira.
O dispensário, o manicômio, as harpias,
tudo te obrigava a renunciar.
No entanto, insistias no ofício martirizante.
Nenhum discípulo esteve, como eu,
agrilhoado à terra em declínio.
Nenhum riu tanto contigo dos puritanos cínicos;
nem zombou da glória conquistada com festins,
nem abominou tanto os relógios de ponto
e a deslealdade.
Andei na tua trilha de eleito,
amolador de punhais.
A fatalidade foi a tua última travessura.
Peripécia trágica, na angústia do momento final.
Quanta vez me falaste da terrível abjeção!
Onde quer que estejas,
espera: irei à tua procura!
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Trova Funerária Cigana

Da terra voaste ao céu,
pra gozar a claridade:
– Pede, esposo, ao criador,
tenha de mim caridade.
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Soneto de 
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Malogro

Intenta extravasar-se em verso ardente
a ânsia do sentir. Impetuosa...
Mas vejo que a palavra é impotente
e tem veracidade duvidosa.

Versos apócrifos — são meu presente
ao papel onde quero, em verso ou prosa,
retratar a minha alma, ardentemente,
da forma como em mim apoteosa.

Tortura-me, no entanto, a rima ausente...
Outro canto, outra luz, inutilmente
vou tenteando em minha busca ansiosa.

Descubro que querer tornar patente
este universo que há dentro da gente
é uma ação sempre falha e lacunosa.,.
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Trova de
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
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Poema de 
KIDENIRO TEIXEIRA
(Kideniro Flaviano Teixeira)
Ipueiras/CE, 1908 – 2008, Santa Quitéria/CE+

A minha mestra     

          "Possa ao menos sentir tua presença
          nestes versos que escrevo, amargurado,
          ante a profunda, ante a sombria e imensa
          saudade de teu vulto idolatrado."
                    Homero de Miranda Leão

 Foi minha mãe a minha Mestra
que me ensinou a ler, em nosso humilde ninho;
eu era um menininho,
uma criança...
De minha mãe, exímia trovadora,
é de quem guardo esta divina herança.

Recordo agora,
que a sua voz se erguia,
branda e sonora,
como se fosse um sino
tangendo na alvorada fria
do meu Destino:

- Lê! Estuda! Lê, menino!
Era este o heróico estribilho
de cada dia:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

Como era bela a minha Professora,
no seu vestidinho branco!
O coque alto, olhos castanhos
e esguias mãos da Virgem Redentora!
 
Somente agora sinto, e guardo, e tranco
no peito esta saudade imorredoura,
como se ouvisse. ainda. a sua voz sonora:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

E eu que jamais velara o meu Destino,
quanto sofro e me deploro
para cantar minha procela...

E nem sabia, que um dia,
eu sentiria,
tanta saudade dela!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ao cérebro, o coração 
manda amorosa mensagem: 
– Somente unidos, irmão, 
seremos de Deus a imagem!
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Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)

Amor adolescente

Esta noite, meu bem, foi tão comprida
e tão sem graça foi a madrugada,
que eu senti que você é minha vida
e a vida sem você não vale nada.

Mas é tarde demais. A despedida
é como a pedra que já foi lançada:
mesmo partindo da pessoa amada,
nunca mais poderá ser recolhida.

Tudo acabado: os sonhos que sonhei,
seu amor, seu carinho e seu desvelo…
E esta noite, meu bem, foi tão comprida,

que dei graças a Deus quando acordei
e percebi, após o pesadelo,
que entre nós dois nunca houve despedida.
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Esta penumbra... Este frio,
este agora sem porquê...
Este silêncio vazio
é o meu mundo sem você!
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Hino de 
Nova Tebas/PR

Entre vales e a planície verdejante
Na região mais fecunda que há
Nova Tebas cresce altiva e pujante
Para orgulho deste povo do meu Paraná
Já nasceste com um destino grandioso
E as bênçãos de São Pedro teu protetor
É tão rico o teu solo generoso
Onde a prece permanente é o labor

(Estribilho)
És celeiro a brotar riquezas mil
Neste recanto feliz do meu Brasil
Nova Tebas minha vida é bem querer
Sou teu filho e só por ti quero viver

A riqueza dos teus verdes cafezais
E a beleza destes rios a irrigar
O ouro branco de teus algodoais
Ornamentam estas glebas que eu sempre hei de amar
Ser teu filho para mim é uma glória
Que será eterna em meu coração
Siga firme pela estrada da vitória
Nova Tebas meu querido torrão.
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Trova Humorística de 
JOSÉ AUGUSTO RITTES
Atibaia/SP

Um amigo biologista,
perito em meio-ambiente,
inclui sogra em sua lista,
como fator poluente!
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Cordel de 
TICIANA SALES
Fortaleza/CE

Cordel de cearense

Em um tempo de fartura
O sertão hoje é guia
O contraste da labuta
Ainda existe, é primazia.

Há quem acredite no discurso
Que o sul a ele prometeu
Ôh sertão não chore não
Nessa terra de meu Deus.

Toda seca se transforma
A gaivota um dia volta
Pra essa terra abençoada
De cantoria e gente que não falta.

O nordeste venceu a seca
Quem disse que no sul ela não chega
A rachadura não é seu fim
Triste de quem pensar assim.

Nordeste de gente trabalhadora
Intelectuais que não precisam de apresentação
José de Alencar e Patativa do Assaré
Nomes graúdos e cheios de boa fé.

Nordeste não é sinônimo de seca
No sertão, água também lá chega
A cheia atravessa o luar
Vindo dos céus e não encontra o mar.

Tomara que toda gente saiba
Que o nordeste não é calamidade
Aqui tem gente de muita coragem
Que sobrevive além da miragem.

Cearense de povo apaziguador
Nas veias, trazendo o humor
Um dia desses deram uma vaia pro sol
Tangeram a seca, buscaram orós!

Eu como boa cearense que sou
Demonstro meu profundo e louco amor
A essa terra que milagre faz
Ceará, nordeste, sertão nunca mais!
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Trova de 
GISELDA DE MEDEIROS
Bela Cruz/CE

O teu adeus, mesmo em sonho,
me aniquila de tal sorte
que, estando viva, suponho
estar nos braços da morte!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O depositário infiel

Um que traficava em ferro,
Indo meter-se a caminho,
Deu a guardar a um vizinho
Vinte barras, salvo erro.

Voltando breve, reclama
O ferro com modos gratos;
O marau — que seu lhe chama —
Diz que o roeram os ratos.

Crer na léria mal traçada
Finge o do ferro, patrão,
Pois logo a levou fisgada
Em dar ensino ao ladrão.

Não sofro patifarias!»
Disse ele lá para si.
Deixou passar alguns dias,
Não sei quantos; — vai daí,

Tendo apanhado e escondido
Do vizinho um filho coxo,
Diz-lhe que ele tinha sido
Engolido por um mocho.

«Pode lá ser!... Nisso há erro!
Não quero crer no que avanças!
— Onde ratos roem ferro,
Mochos engolem crianças!»

E o que quis ferrar o mono,
Para ter o filho à mão,
Deu logo o ferro a seu dono,
Aproveitando a lição.