sábado, 5 de agosto de 2023

8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura (Prazo: 31 de agosto)


A Amazon.com.br anuncia a abertura das inscrições da 8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura, em parceria com o Grupo Editorial Record e a TAG Experiências Literárias, que irá reconhecer autores e autoras independentes do Brasil e suas obras. Os escritores que desejam participar da oitava edição devem enviar seus romances inéditos em português usando o Kindle Direct Publishing (KDP), ferramenta de autopublicação da Amazon, e incluir #PremioKindle em suas palavras-chave durante a publicação. As inscrições ficarão abertas até o dia 31 de agosto.

A 8ª edição premiará o autor ou autora da obra vencedora com R$ 50 mil, sendo R$ 40 mil como um prêmio em dinheiro e R$ 10 mil em adiantamento dos direitos autorais pela publicação da versão impressa do livro pelo Grupo Editorial Record. A obra também terá uma edição especial pela TAG Experiências Literárias enviada aos seus assinantes da modalidade TAG Curadoria. Além disso, o prêmio também terá um cupom no valor de R$ 5 mil para compras de livros no site do Grupo Editorial Record.

Ao reconhecer a literatura independente no Brasil e promover a autopublicação de milhares de obras a cada edição, o Prêmio Kindle de Literatura se destaca no cenário literário como uma oportunidade para autores e autoras independentes alcançarem seu público com a atenção e destaque que merecem.

“Livros estão no DNA da Amazon, e temos muito orgulho de todas as obras participantes do Prêmio Kindle de Literatura. Não apenas vencedores, mas finalistas e diversas obras inscritas, que atraíram muitos leitores”, diz Ricardo Perez, gerente-geral de Livros da Amazon Brasil. “Queremos que o Prêmio continue sendo essa marca para a comunidade do livro, abrindo portas para novos talentos e conteúdos de sucesso”, completa.

"Toda iniciativa que valoriza e promove a literatura nacional deve ser celebrada. O Prêmio Kindle, com um formato inovador e democrático, vem se consolidando como um farol na tarefa de encontrar excelentes autores. O Grupo Editorial Record, que publica os vencedores por meio da tradicional José Olympio, fica muito honrado e agradecido com esta parceria", afirma Livia Vianna, editora-executiva da Editora José Olympio.

"Retomar essa parceria com o Prêmio Kindle, um dos mais relevantes da cena literária no Brasil, é um prazer enorme. Mal podemos esperar para ler as indicações e depois enviar o grande vencedor na TAG Curadoria", aponta Rafaela Pechansky, Publisher da TAG Experiências Literárias.

“Escrever para mim é como bordar, bordar palavras tirando arestas e pontos desfiados. Para isso acontecer haja labuta, persistência, recolhimento e um misto de prazer e dor. Quando recebi a notícia de que Ébano sobre os canaviais ficara entre os cinco finalistas fiquei extremamente contente e ao receber o troféu dourado senti minha escrita aclamada”, conta Adriana Vieira Lomar, vencedora da 7ª edição do Prêmio Kindle de Literatura. “A cerimônia, no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, me fez lembrar das imagens e cheiros que me habitaram a infância. Quanto aconchego, mimo e reconhecimento! O Prêmio Kindle de Literatura me possibilitou ser editada pelo maior grupo editorial da América Latina e essa vitória se tornou mais gratificante quando li todos os livros finalistas da 7ª edição e me deparei com expoentes da alta literatura contemporânea brasileira”, adiciona.

Os vencedores das outras 6 edições foram: 
A filha primitiva, por Vanessa Passos, 
O Pássaro Secreto, por Marília Arnaud, 
Dias Vazios, por Barbara Nonato, 
Dama de Paus, por Eliana Cardoso, 
O Memorial do Desterro, por Mauro Maciel, e 
Machamba, por Gisele Mirabai.

Para participar da 8ª edição do Prêmio Kindle de Literatura, os autores devem autopublicar suas obras por meio do KDP (amazon.com.br/kdp) de 1 de maio a 31 de agosto de 2023. 

Os autores devem incluir o termo PremioKindle no campo de metadados das palavras-chave durante o processo de autopublicação e registrar as obras na categoria Ficção. Os títulos devem ser romances originais em português do Brasil, que não tenham sido publicados anteriormente, e submetidos exclusivamente ao Kindle durante o período do Prêmio, inscrevendo-os no programa KDP Select. Os termos e condições podem ser encontrados na página do Prêmio Kindle de Literatura (amazon.com.br/premiokindle).

Os autores também podem criar um perfil na Central do Autor (author.amazon.com.br). Além de compartilhar as informações mais atualizadas sobre autores e seus livros, o perfil criado na Central do Autor permite engajar leitores com conteúdo adicional e suas biografias, disponíveis para livros e eBooks na Loja Kindle, e com links para seus títulos disponíveis.

Assim como nas edições anteriores, todas as obras participantes serão avaliadas por um painel de especialistas editoriais, selecionados pela Amazon, pelo Grupo Editorial Record, e pela TAG Experiências Literárias, em diversos critérios, incluindo criatividade, originalidade, qualidade de escrita e viabilidade comercial. Cinco finalistas serão anunciados e avaliados por um júri especial, e apenas um será reconhecido como vencedor. Todos os cinco títulos finalistas serão apresentados nas comunicações para clientes da Amazon.com.br com um selo de livro “Finalista” na capa da versão original não editada do eBook. 

A Amazon dará um prêmio em dinheiro de R$ 40 mil ao vencedor, que também receberá um adiantamento de direitos autorais de R$ 10 mil pela versão impressa do livro, conforme contrato que terá a oportunidade de firmar com o Grupo Editorial Record para publicação da obra vencedora no selo José Olympio. A obra também receberá uma edição especial pela TAG Experiências Literárias e disponibilizada para seus assinantes dentro da modalidade TAG Curadoria.

O KDP é uma ferramenta rápida, gratuita e fácil para autores e editores publicarem seus livros e disponibilizá-los para leitores em todo o mundo. Com o KDP, os autores têm total controle do processo, desde a concepção da capa até a definição do preço, podendo receber até 70% em royalties. Todos os romances participantes do Prêmio Kindle de Literatura estarão disponíveis na Loja Kindle e no Kindle Unlimited. Os eBooks Kindle podem ser comprados e lidos com os aplicativos Kindle gratuitos para tablets e smartphones Android e iOS, computadores, bem como e-readers Kindle.

SOBRE O KINDLE DIRECT PUBLISHING

O Kindle Direct Publishing, ou KDP, é um serviço de autopublicação gratuito que permite que autores independentes publiquem seus trabalhos e alcancem novos públicos. Com o KDP, o poder da publicação está acessível a leitores e autores em todo o mundo, permitindo que um conjunto mais robusto e diversificado de vozes compartilhe histórias com um público mais amplo do que nunca. Para mais informações, visite amazon.com.br/kdp.

SOBRE A AMAZON

A Amazon é guiada por quatro princípios: obsessão do cliente em vez de foco na concorrência, paixão pela invenção, compromisso com a excelência operacional e visão de longo prazo. A Amazon se esforça para ser a empresa mais centrada no cliente do mundo, o melhor empregador do mundo e o lugar mais seguro para trabalhar no mundo. Avaliações de consumidores, compra de 1 clique, recomendações personalizadas, Prime, Fulfillment by Amazon, Amazon Web Services (AWS), Kindle Direct Publishing, Kindle, Career Choice, Fire tablets, Fire TV, Amazon Echo, Alexa, tecnologia Just Walk Out, Amazon Studios e The Pledge Climate são algumas das ações pioneiras da Amazon. Para mais informações, amazon.com.br/imprensa ou entre em contato conosco em imprensa@amazon.com.

SOBRE O GRUPO EDITORIAL RECORD

O Grupo Editorial Record é um dos maiores conglomerados editoriais da América Latina. Em 80 anos reuniu um portfólio de doze editoras, que renovaram o espírito e fortaleceram as missões de promover o debate e de valorizar a bibliodiversidade. Além de ser uma das mais antigas editoras de livro atuantes no Brasil, a Record tem dinamismo na produção, proporcionado pela gráfica própria, capaz de rodar 100 livros de 200 páginas por minuto no Sistema Poligráfico Cameron.

SOBRE A TAG EXPERIÊNCIAS LITERÁRIAS

A proposta da TAG é mostrar que a literatura pode ser leve e divertida, presenteando o associado a cada mês com uma nova experiência literária e sensorial. A caixinha da TAG é uma forma de o livro disputar e recuperar o tempo na vida das pessoas que foi perdendo para filmes, redes sociais e jogos. Desde o início de suas atividades, em julho de 2014, a TAG já publicou 100 títulos, divulgando o trabalho de mais de 170 escritores, entre autores e curadores. A TAG surpreende seus assinantes com os títulos do mês, que são divulgados somente após a entrega de todas as caixas. Também fazem parte do produto publicações dedicadas à obra e ao autor; design próprio de capas e embalagens; brindes temáticos inéditos, incluindo eventuais publicações exclusivas para assinantes. A iniciativa foi premiada com o The Quantum Publishing Innovation do Excellence Award 2018, durante a Feira do Livro de Londres (The London Book Fair), e também com o Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro 2018, iniciativa da PublishNews, SNEL e Feira de Frankfurt.

Fonte:
Enviado por Lilian Cardoso (LC - Agência de Comunicação)

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Carolina Ramos (Trovando) “01”

 

Newton Sampaio (O atrapalhador de noivados)

(
Contos do Sertão Paranaense)

A dança, na casa do Fabiano do Boqueirão, fervia animadíssima. Na redondeza não se tivera notícia, em tempo algum, de festança mais concorrida.

Gente de muito longe aportara à fazendola: atendendo ao convite barulhento do Fabiano, que planejara celebrar, o santo de sua devoção de maneira nunca vista até aquele dia. E de fato, os convivas estavam boquiabertos.

— Mas, que despropósito! O compadre Fabiano até parece que tirou a sorte grande...

Foram três dias de comilança exagerada, de rezas, com sermão muito bonito, de colossais corridas de cavalos. E para terminar, um baile de arromba.

Às onze e pouco entrou na sala um conhecido de Fabiano que não pudera assistir ao começo da festa. Miguel Ignácio chamavam-nos todos. E a seu nome as caboclas acompridavam logo um olhar cheio de secretos desejos. É que o Miguel Ignácio tinha fama de ser o rapagão mais desempenado do sítio vizinho. Não havia quem resistisse à teia de seus galanteios. Até andavam falando de coisas a respeito dele e da dona Alcina, mulher do segundo suplente de delegado.

Infundados ou não esses boatos, o fato é que as moças tinham uma quebrantura invencível quando dançavam com o Miguel Ignácio. Seu corpo atlético, seus dentes claros — tudo, enfim, servia para bulir com o coração das morenas do Boqueirão.

Miguel Ignácio apenas entrou, mexeu os olhos nas quatro direções da sala. E viu, bem escondidinha num canto, a Joaninha, que era de uma timidez fora de propósito. Enveredou para ela, jactanciosamente, sabendo-se alvo de muitos olhares. Puseram-se a dançar.

— Como vai essa flor, Joaninha? Não sentia saudades de mim?

— Não.

— Por quê?

— Eu tenho agora em quem pensar...

(O caboclo desapontou).

— … Estou noiva.

— Verdade? Não sabia... Também quanto tempo há que não apareço por cá.

Pigarreou para disfarçar o embaraço.

— E quem é o felizardo?

— O Luiz.

— Quem? O Luiz Alves?

Riu com gosto.

— Logo quem!

Procurou com a vista o noivo da Joaninha. Lá estava encostado à porta, carrancudo, solene, seguindo-os com os olhos maus, o Luiz Alves.

— Aquele caboré (caipira feio e melancólico) desajeitado? Que coisa, Joaninha? Você é mulher pra casar com homem fino. Que é que vale o Luiz Alves? É um poaia (sem graça)! Tem sangue de barata. Só porque a empreitada dele é grande?

— E você com isso?

— Eu? Nada... mas tenho pena de ver a flor bonita do Boqueirão cair nas mãos daquele nhengo (imbecil).

E Miguel Ignácio começou a menosprezar o outro. Ia apontando à moçoila todos os defeitos do noivo. 

A música parou e o caboclo ainda tinha palavras na boca para dizer.

Logo em seguida, o Luiz Alves procurou a noiva.

— O que foi que ele lhe disse?

— Nada...

— Então por que vocês me olhavam tanto?

— A gente ‘tava pondo reparo no seu cabelo, nos olhos de você...

Luiz Alves ficou vermelho de raiva.

— Então...

Ela lhe contou tudo. Discutiram. Endossou a opinião do galanteador. E romperam o noivado. 

Dali a pouco o Miguel Ignácio viu que a Joaninha estava só.

— Como vai o seu caboré formoso?

— Não sei. Nós brigamos.

— Ora essa. Por quê?

— Você disse...

Miguel Ignácio quase caiu de tanto rir.

— Pra que isso, boba? Então você quer vir pro meu lado? Não pense que eu vou casar com moça do Boqueirão. Inda mais quem já foi noiva do Luiz Alves.

A marcha cessara. Joaninha mergulhou no quarto mais próximo, chorando.

No terreiro, os dois homens rolaram, enfurecidos. Venceu o mais forte. Era inevitável. E o Luiz Alves ficou no chão desacordado de tanta bofetada.

Miguel Ignácio virou-se para o lado, à procura do chapéu, que caíra longe, durante a luta. E a Joaninha ali estava, com os olhos cheios de lágrimas, limpando-lhe a aba com a barra do vestido.

A vida no Boqueirão continuou a correr. Não sei se o compadre Fabiano (era um santo homem, o compadre Fabiano) deu outra vez uma festa daquelas. Só sei que o Miguel Ignácio casou-se com Joaninha. Tem já quatro caboclinhos, dizem. Eu conheço somente o mais velho. Chama-se Luiz. E é ainda mais barulhento que o pai.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.

Exposição da AVIPAF: Vida uma passagem só de ida (Poesias) – 5, final –

 

Realizada pela AVIPAF, Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia
Local: Feira do Poeta de Curitiba.
Duração: 23 de julho/23 à 25 de Setembro/23.

Curadoras: Isabel Furini e Elciana Goedert.
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Sheina Leoni Handel
AVIPAF | Cadeira 48
Patrono | Mario Benedetti

OS MISTÉRIOS DA VIDA II

A vida nos dá surpresas
entre toques de mistério,
às vezes somos poetas
peregrinos junto ao vento,

estamos absorvendo cartas,
e viajamos pelos sonhos,
junto à natureza,
cores e sentimentos,

que nos escovam com cautela,
sob esse céu escuro
decorado por estrelas,
em respeitoso silêncio,

inspiração que nos beija,
entre milhões de versos,
com sua magia e encantamento,
brilham em nossa existência;

misturando-se em nós,
enquanto o dia começa.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Solange Chemin Rosenmann
AVIPAF | Cadeira 21
Patrono | Érico Veríssimo

VIDA

Vi dar
O ar que respiro
O sangue que me colore
O brilho do olhar

Vi dar
A esperança do sol que há de raiar
As fases da lua que hão de chegar
O movimento da água que está há bailar

Vida
Que chega
Logo se esvai

Vida
Que num sopro vem
Tem pó, magia de tempo, vai.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Sonia Cardoso
AVIPAF | Cadeira 30
Patronesse | Cora Coralina

VIDA: PASSAGEM SÓ DE IDA

Um desabrochar
De luz e de treva
Para alguns verdejante

Relva, para outros brumosa
Tempestade, linha ascendente
Que não admite retrocessos

Um escalar constante
No tempo, até
O derradeiro adágio.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Vanice Zimerman
AVIPAF | Cadeira 16
Patrono | Mario Quintana

ETÉREA DESPEDIDA

Teu olhar em tons de verde
Cintila entre as flores de mel
Num devaneio de Cronos -
Encontramo-nos
E, em outonais nuances
Tuas manhãs e tardes
Passaram a fazer parte
Da minha da janela
Dos meus dias...
Enquanto,
Ao som dos sinos de vento,
Pouco a pouco
Tuas sete vidas pincelaram
Qual surreal mosaico de imagens -
Memórias dos lugares que viveu
Suave e etérea despedida -
Uma saudade, uma lágrima
Que se aquieta em tua fotografia…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Vera Lucia Cordeiro
AVIPAF | Cadeira 15
Patrono | Fernando Pessoa

VIDA: UMA PASSAGEM SÓ DE IDA

Repare na vida
da linda e gentil borboleta.
Tão efêmera!
Mas intensa e gloriosa!
Na natureza é preciosa!

Sigamos seu exemplo!
Ela faz valer a pena cada segundo de seu viver.
Assim também façamos
com que nossa vida seja leve e serena,
repleta de Amor, Paz e Gratidão!
Numa grandiosa passagem só de ida,
uma explosão de luz,
que reproduz este espetáculo que é a Vida!

Fonte:
enviado por Isabel Furini

Wanderley Dias Jr. (Sovaco ilustrado)

Paranaguá antigamente

José Wanderley Dias faz parte da história da nossa centenária Econômica Federal, à qual serviu por quase quarenta anos. Nesse convívio, amealhou a amizade, o respeito e a admiração de toda a classe.

Muitos foram os seus ensinamentos, alguns só compreendidos anos depois, e outros tantos a serem ainda decifrados...

Wanderley Pai nunca foi de fazer pose, ao contrário. Simples, jamais deixou que os degraus galgados ao longo da sua vida subissem à cabeça. Alegre e bonachão. Sempre com o anedotário em dia, fez da vida uma canção de amor junto à sua eterna companheira Neuza.

Fumou muito, durante vários anos. Com o primeiro enfarte, divorciou-se do cigarro. Beber, nem pensar - quando muito uma Coca diet, após suculenta feijoada, brincando que era para não engordar.

Assim era o Wanderley. Cristão convicto, gente acima de tudo, sem vícios, de hábitos saudáveis. Caminhava bastante, lia muito, até os anúncios, tendo na coleção de erros de imprensa o seu hobby predileto, aliás curiosa e divertidíssima. Paizão, amigo, companheiro de todas as horas, todos os momentos. Tive dois privilégios a mais do que meus irmãos; o fato de eu ser o primogênito e, assim, ter convivido um pouco mais do que eles com Neuza e Wandeerey; ter tido o pai, nosso mestre de vida, também como professor na faculdade - FAE. Suas aulas eram puro sentimento, os exemplos vinham dele próprio, na sua vivência cristã de um homem atento a tudo o que se passava. Com ele todos aprendiam. Também dava o peixe, mas, com certeza, ensinou a pescar durante toda a sua vida...

Na Caixa também era assim. Aliás, na vida, no seu dia-a-dia ele era assim. Um dos raros momentos em que deixou transparecer sua raiva, foi quando um imbecil daqueles que acha que cada qual tem o seu preço, saiu-se com uma proposta indecorosa para o velho. A cortada veio imediata, definitiva, mas mesmo assim o idiota sentiu-se no direito de aumentar a "oferta". 

Naquele dia a antiga sede da CEF , um predinho de cinco ou seis andares onde acha-se erguido o atual Edifício-Sede (Praça Carlos Gomes), tremeu. Wanderley, forte de espírito e também fisicamente, levantou a "figura" jogando-a porta afora com divisória e tudo. Foi um arraso!

A gente começa a falar da mãe e do pai e viaja na mente e no coração (e que somos filhos-coruja, modéstia a parte, com sobra de razão para isso!). Mas voltemos ao título.

O pai viajava muito pela CEF e numa descida a Paranaguá, sabendo de que lá os apelidos proliferam, perguntou aos colegas qual era o dele. O gerente local mostrou-se em situação desconfortável, ao que o então diretor da carteira hipotecária da Caixa no Paraná reiterou: "Qual o apelido que os irmãos parananguaras me deram?" A resposta veio tímida: "Sovaco Ilustrado, doutor. Desculpe!"

Foi uma gargalhada só. Era comum ver Wanderley Dias com uma pilha de jornais e revistas em baixo do braço, daí o apelido certeiro. 

Memórias da Caixa de outrora. Lembranças da vida. Saudades do "Sovaco Ilustrado" e de sua musa.

Fonte:
300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.

Jaqueline Machado (Memórias do subsolo, de Dostoiévski)

Em meados de mil e oitocentos, a Rússia opôs muitos conflitos, estava num período de grandes transformações. 

Esse foi um período no qual filósofos modernos da época como: Bentham e Mill, pregavam ardorosamente o utilitarismo e o positivismo. Mas Fiódor Dostoiévski, um grande mestre das Letras, daquele tempo, rejeitava as ideias de que o ser humano pode viver sob total controle, afinal, humano é gente, e não máquina, por isso desabafa suas críticas aos regimes da época na sua obra literária, Memórias do Subsolo, lançada em 1864. A partir da retórica apaixonada, em primeira pessoa, de um personagem que não tem nome, porque ele não representa um indivíduo em particular, mas um tipo social do seu tempo.

As primeiras palavras do personagem se dirigindo a uma plateia imaginária: 

Sou um homem doente, sou um homem raivoso, sou um homem sem graça nenhuma. Acho que sofro do fígado”. 

A seguir “... Sou instruído suficientemente para não ser supersticioso, mas mesmo assim, eu sou”.

Ele era servidor público e adorava fazer uso do seu pequeno poder para ser cruel, humilhar os mais simples. Era malvado de propósito. Havia alguma bondade nele, mas era orgulhoso e não deixava transparecer. Na verdade, ele não passava de um fracassado que precisava parecer superior a todos. 

A narrativa segue um ritmo de falas contraditórias: o que é, em instantes deixa de ser. E depois, volta a ser novamente. É um monólogo coreografado que induz a plateia a uma dança mental: “Dois neurônios pra cá, dois neurônios pra lá”.

É assim, que eu, como leitora, defino a narrativa de Memórias do Subsolo. 

O título da obra é uma metáfora que pode estar se referindo a um lugar ou ao nosso próprio “subsolo”...

E mais... O personagem também filosofa nas entrelinhas, que por causa desse subsolo, o suposto inconsciente, a humanidade, mesmo que, diante de uma vida perfeita, estragaria a perfeição, e estragaria de propósito, pois o ser humano é irracional, e mesmo que seja para provocar a sua própria queda, ele prefere a liberdade. Não abre mão do seu livre arbítrio, quer decidir sobre o próprio destino. E tudo bem. Isso é ser gente...

Ele dá a entender que o ser humano não foi feito para obedecer. Ele é o caos, e isso não é de todo mal, pois é em meio a todo caos, que as grandes e mais interessantes histórias do mundo acontecem. Que tudo acaba e se reinicia. 

Para mim, a síntese da obra é: “A liberdade é a ferramenta que está sempre a destruir e recriar a vida. Sem ela não existiria eternidade.

Fonte:
Enviado por Jaqueline Machado.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 13

 

João da Câmara (O paquete)

 
Era no fim da azinhaga — uma azinhaga estragada pelas chuvas do inverno e tendo ainda marcada na lama seca a passagem do último carro de bois. De um lado e de outro velhas piteiras misturavam a cor verde claro das largas folhas carnosas com o verde escuro, quase negro, das silvas e pilriteiros; de espaço a espaço erguiam-se algum sobreiro decrépito, faias brancas e prateadas, loureiros embalsamando o ar com o cheiro forte e bom das longas folhas agudas.

No fim erguia-se a casa com o seu aspecto senhoril. A hera apoderara-se do exterior e, aproveitando as fendas que o tempo abrira, espreguiçando-se sobre o leito do velho musgo amarelo que revestia cada pedra da parede, ia unir as suas folhas delicadas aos cachos de arroz que desciam em elegantes pirâmides das beiras do telhado.

Uma pequena escada, seis ou sete degraus gastos, abalados, partidos, conduzia do pátio ao vestíbulo do palácio. Sobre o portão, cuja tinta gretada pelo sol caíra pouco a pouco, ostentava-se, comido pelo tempo, o brasão da família, sobre o qual ameaçava ruína uma grande coroa de conde transformada em coito de lagartixas.

Os vidros enegrecidos e apenas translúcidos tremiam de velhice nos caixilhos de chumbo. Pelo pátio, nos interstícios das pedras, crescia livremente a erva, e a um canto um ralo juntava as estrídulas melodias ao monótono coaxar das rãs do pântano vizinho.

O Conde estava na livraria sentado numa velha poltrona de coiro com pregos de metal. Tinha na mão um livro latino, que lia atentamente. 

A livraria era uma vasta sala alumiada por três janelas de grande vão. Avistava-se ao longe a aldeia com seu campanário branco, suas casinhas bem caiadas, e os cimos dos choupos erguendo-se acima dos telhados e indicando a estrada que a atravessava conduzindo duma vila a outra. Entre as janelas e as portas estavam as estantes com os grandes in-fólios amarelos, os grossos dicionários e as obras clássicas latinas, portuguesas e francesas. A parede fronteira ás janelas, por cima da chaminé de mármore branco, era ocupada pelo retrato do avô do Conde. Era um homem alto, bem feito, simpático. Estava vestido à época de D. João V. Tinha uma das mãos nos copos da espada, as suas comendas ao peito e uma sombra esquisita, forte, brutal, na metade do nariz do lado esquerdo. A moldura deixara cair o doirado e estava rendilhada pelo caruncho. A um canto uma aranha tecera a teia e esperava pela presa, escondida num rasgão da tela.

O sol descia e o Conde, para lhe aproveitar os últimos raios, puxara a cadeira para o vão da janela e, com o livro sobre o joelho, o cotovelo sobre a perna traçada e a testa encostada à mão, lia atentamente uma passagem de Suetônio.

O crepúsculo foi invadindo a sala. O sol, depois de ter com o ultimo raio brincado um instante na testa veneranda do avô comendador, desceu para detrás do cabeço, e as grandes sombras dos montes fundiram-se pouco a pouco numa tinta geral. 

O Conde fechou o livro sobre o índex e pôs-se a contemplar a aldeia. O vento do norte entrando pelas fendas das paredes sibilava tristemente no corredor, os vidros zuniam nos caixilhos de chumbo, as aves noturnas, que habitavam as vastas chaminés do palácio, começavam a piar e aos ouvidos do Conde chegava a alegria da aldeia como nota estranha duma língua esquecida.

Meados de novembro, as noites eram frias.

O Conde olhou tristemente para as janelas das casas dos lavradores alegremente iluminadas pelo fogo vivo das lareiras, e, estremecendo de frio dentro da velha sobrecasaca parda, levantou-se, tocou uma campainha e, metendo as mãos nas algibeiras, começou passeando pela sala.

Era um velho alquebrado e quase completamente calvo; apenas duas ou três madeixas de cabelo branco e comprido desciam-lhe da nuca até à gola do casaco. Usava a barba toda; era curta e branca. Os olhos, cuja luz a idade ia apagando, eram da cor mal definida que têm os olhos dos velhos e os das crianças de mama: tinham contudo uma expressão doce e melancólica. Ao canto da boca uma prega vertical, desdenhosa e altiva quando o Conde estava serio, dava-lhe uma expressão de simpática tristeza quando sorria.

Ao toque da campainha acudiu um criado.

Era um velho também, mais velho do que o Conde talvez. Trazia vestida uma casaca por certo verde, de tão velha que era, se não lhe ocultassem o estofo acumuladas passagens de linha preta.

Entrou curvado um pouco pelo respeito, outro tanto pelos anos.

— José, disse o Conde, vai arrancar mais uma tábua à sala do trono a arranja o lume.

— Sr. Conde, eu sozinho não tenho forças.

— Chama o caseiro, como tens feito nos outros dias.

— O Manuel foi-se hoje embora, sr. Conde.

— Foi-se hoje embora! Porque?

— Foi trabalhar para a quinta do João Pereira. V. Ex.ª bem sabe que o homem, coitado, tem família que sustentar e como os ordenados andam atrasados...

— Efetivamente, recordo-me de que há já bastante tempo... Ora, coitado! Mas, porque não me disse ele?... Eu esqueço-me de tudo. Hás de dar-lhe dois pintainhos da minha parte. Eu te ajudo hoje a arrancar a tábua.

E saindo ambos, foram a um quarto próximo e arrancaram uma tábua do soalho. O José serrou-a numas poucas de partes, feriu lume numa pederneira, porque o Conde reprovava os fósforos como perigosos, e, pouco depois, uma chama viva e alegre trepava pela chaminé.

O Conde tornou a abrir o livro e continuou a ler Suetônio à luz de um bocado do seu palácio. Tinham-se ido as tábuas pouco a pouco e já quase não restavam senão três quartos completos, o do Conde, o do José e a livraria. Tábuas, vigas, portas e janelas tinham-se desfeito em cinzas.

E os velhos lavradores da aldeia, ao verem o fumo erguer-se acima da chaminé do palácio, sorriam tristemente e diziam:

— Coitado!

Mas o Conde continuava alegre e indiferente. Como até ali nada lhe faltara, Deus sabe à custa de quantos sacrifícios do pobre criado, não pensava no estado de miséria a que se achava reduzido ou, para melhor dizer, não queria pensar. 

Quando ao domingo voltava da missa, vinha conversando alegremente, com um certo ar entre familiar e protetor, com os lavradores que o estimavam e gostavam de ouvi-lo. Entrava nas choupanas mais pobres, e aflito com a miséria que nelas encontrava, dizia baixinho para o velho José, que o acompanhava sempre, com o grande missal romano debaixo do braço:

— José, deixa um pintainho em cima da mesa para esta pobre gente festejar o domingo.

E saía tocando ao de leve com os dedos nas faces rosadas das criancinhas, que olhavam para ele com os seus meigos olhos grandes, cheios de espanto e de curiosidade. 

O José demorava-se como que para obedecer ao fidalgo e saia momentos depois, levando nas vastas algibeiras da casaca os bocados de pão negro e de carne, com os quais e com a ajuda de mais uma tábua o Conde havia de jantar naquele dia. E o Conde continuava alegre e passava os dias conversando, como ele dizia, com os seus autores favoritos e entretendo a imaginação com os sonhos doirados d'um futuro melhor.

Tinha um filho.

Havia três anos que o seu gênio desleixado o obrigara a partir para o Brasil, na esperança de, à força de trabalho, reparar os desastres da fortuna. E não fora a ambição que o levara tão longe. Não ignorava ele a maneira como se sustentava o Conde e o seu gênio altivo custava-lhe sujeitar-se à compassiva esmola dos aldeões.

Um dia, deu parte de suas intenções ao pai, mostrando-lhe a conveniência daquela partida, ocultando-lhe porém uma grande parte da verdade com receio que a revelação dela fosse um golpe fatal na vida do velho. Repelida primeiramente a ideia como absurda e pouco digna, o pobre pai, com o coração esmigalhado pela dor e pela vergonha, teve por fim que render-se e sacrificar o seu orgulho ao orgulho mais nobre do filho.

Obtida a licença, partiu levando como capital a bênção paterna e os poucos pintainhos que rendeu mais uma hipoteca.
***

Os primeiros dias foram horríveis para o Conde. Sentia um vácuo enorme naquela casa, havia pouco tão cheia ainda. Depois a dor foi abrandando pouco a pouco, e o Conde voltou aos hábitos antigos. Tinha mais um sentimento no coração: a esperança.

Uma tarde chegou uma carta que dizia:
«Meu caro pai, vou bem, vou muito bem. Pelo próximo paquete espero poder enviar-lhe cem mil réis, quantia que continuarei a mandar todos os meses.»

O Conde procurou paquete no dicionário de Moraes, mas achou a palavra comida pela traça. O José chorava de alegria e naquela noite deitou duas tábuas no lume, aceitou um copo de vinho ao João Pereira, e, quando acabou o terço, disse para o Conde, com quem o rezara em voz alta:

— Para que se realize o que sr. D. Carlos nos promete: Salve, Rainha.

E passou-se mês e meio e o Conde dizia:

— O que será paquete?

De Agostinho de Macedo para cá não sabia nada, não lia jornais, nem vê-los queria. Detestava-os com um ódio de velho, quase instintivo. Quando via algum jornal murmurava logo!

— Maçonaria!

E continuava a esperar o paquete, como um sebastianista espera D. Sebastião, com uma confiança cheia de mistérios e de pequenas impaciências.

O palácio já pouco mais tinha do que as paredes. Pouco a pouco, tábua, por tábua, viga por viga, o quarto do criado passara pela chaminé e este dormia agora na câmara do Conde.

E o velho fidalgo dizia ao ver crepitar na vasta lareira as tábuas carcomidas:

— Paciência! Isto concerta-se depois, quando chegar o paquete.

E o José apenas respondia:

— Salve, Rainha.

Estava-se no principio de janeiro.

O Conde começou a separar os livros em duas classes: a dos livros úteis e a dos livros inúteis. Os livros inúteis transformaram-se em calor, e, quando o Conde via as paginas amareladas torcerem-se sob a ação do lume, olhava para elas tristemente e depois, erguendo os olhos para o retrato do avô, dizia mentalmente, como que pedindo desculpa:

— São os piores.

Acabaram os livros inúteis e o Conde pôs de lado os ótimos e queimou os restantes. Duraram dois dias. E como o paquete não chegava, o Conde coçava a cabeça e olhava com um modo menos respeitoso para o missal romano.

O José triplicava o numero das salve-rainhas.

E o paquete não chegava, e os manuscritos arderam, e o Conde queimou as gravuras e conservou apenas o Suetônio.

Passados dias chegou uma carta.

Trazia um sobrescrito azul, um pouco transparente, muito boa letra, uma letra com muitos finos e grossos, como a d'um professor de caligrafia. Trazia a marca do Brasil e cheirava a carvão de pedra.

Foi o José quem a recebeu, e correndo para a livraria, onde o Conde estendia instintivamente as mãos tremulas sobre as cinzas frias da chaminé, entrou gritando:

— O paquete! o paquete!

O Conde estremeceu, ergueu-se e pegou na carta.

Era talvez a riqueza!

Passou-lhe uma nuvem pelos olhos.

Encostou-se a uma poltrona e, tremendo, abriu o sobrescrito.

E leu:
«Temos o doloroso dever de dar parte a V. Ex.ª do falecimento do seu filho...»

O Conde não pode ler mais e deixou cair a carta.

José exclamava:

— Perdidos! Perdidos!

E dava com a cabeça nas paredes.

O Conde conservava-se silencioso e fitava os olhos turvos na folha de papel azul, que tremulava no chão assoprada pelo vento.

— Resta-nos a caridade, José, disse por fim. Vai, vai ter com essa gente a quem ontem ainda eu dei esmola, e diz-lhe que o Conde lhe pede, por amor de Deus, um bocado de pão.

E depois soluçando:

— Manuel! Filho!... Meu querido filho! – e como fazia muito frio, o Conde queimou o Suetônio.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
João da Câmara. Contos. Lisboa: Guimrães, Libânio & Cia, 1900.
Atualizado para o português brasileiro por J. Feldman

Exposição da AVIPAF: Vida uma passagem só de ida (Poesias) – 4 –


Realizada pela AVIPAF, Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia
Local: Feira do Poeta de Curitiba.
Duração: 23 de julho/23 à 25 de Setembro/23.

Curadoras: Isabel Furini e Elciana Goedert.
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Marli Terezinha Andrucho Boldori
AVIPAF | Cadeira 11
Patrono | Dídio Augusto

SEM PASSAGEM DE VOLTA

Dia de festa
o bebê nasceu.
Tudo é novo, até o choro é lindo.
O tempo passou,
a vida floresceu e todas as etapas da vida
venceu,
casamento, filhos,
aposentadoria, viagens, porém
a alegria começou a fenecer.

Quando olhou para o futuro viu
que estava chegando
o dia de ir embora,
a vida não é eterna,
se a estadia foi boa ou ruim
de nada adianta chorar agora,
não há mais volta!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Maria Antonieta G. Teixeira
AVIPAF | Cadeira 10
Patrono | Castro Alves

DESTINO

Vida é ponte cujo final não se vê
A beleza está na travessia
Naquelas pequenas alamedas
Que não estavam no mapa
Quando se planejou a viagem.

Não precisa ter certeza do destino
Viva a vida e vida plena de alegria
Não perca as oportunidades
Mais ação e menos preocupação.

A vida só tem sentido quando
solidária com todas as pessoas
Absolutamente todas. Isso cria
Conexões com pessoas felizes
Gerando novas visões de mundo
Com boas histórias e novos sorrisos.

A vida traz felicidade,
A criatividade inventa,
O coração dá o caminho
E a vontade conquista.
Tenha paixão pela vida!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Miriam Maria Santucci
AVIPAF | Cadeira 22
Patrono | Giacomo Leopardi

MINHA MÃE

Venho te ver.
Agora você é feita de letras
impressas na pedra.
Eu olho pra você
e não sei o que dizer.
As palavras
morrem dentro de mim
uma por uma
e vão te fazer companhia.
Eu olho para você
e os olhos se enchem
de lágrimas.
Você, que não tem mais angústias,
você também me olha
e me repreende por chorar
com seus olhos de pedra…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Nélida Miriam Robledo
AVIPAF | Cadeira 53
Patrono | Domingo Zerpa

A VIDA

Anda.
Não importa quanto. Não importa onde.
Siga em frente, no fim da estrada te espera
a realização concreta de seu objetivo.
Que se faz caminhando para o alto?
Às vezes é difícil a subida?
É a vida!
Que as curvas são estreitas
e as trilhas são íngremes?
Que não há nada que te ajude
quando você sente falta de ar?
Tudo está bem.
Não tenha medo: é a vida.
Apenas siga em frente. Caminhe.
Quando você chegar ao topo
poderá olhar de frente e dizer que,
apesar das quedas, valeu a pena a subida…
da vida…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Rita Delamari
AVIPAF | Cadeira 41
Patronesse | Gilka Machado

VIAGEM

Um brinde à vida!
Jornada de único destino...
Tênue linha, de precípua atenção.
Maquina engenhosa,
de peças tão precisas.
Abrace o seu coração!
Nas estações desta viagem,
não se esqueça de enxergar
o fascínio que existe, na paisagem!
Viver bem e sempre,
com coragem e resiliência.
A vida é agora, é urgente.
E a escuridão da noite,
traz a lume toda a beleza,
nas flores que plantaste!
Cultive sempre a sua colheita
para deixar o seu perfume,
nos caminhos da existência.

Fonte:
Enviado por Isabel Furini.

Antônio Padilha* (O galanteador na fossa)

Ivaiporã antigamente

O vale do Ivaí teve sua fase áurea com o "rush" da cafeicultura entre os anos de 1956 e 1966. Gente de todos os pontos do País chegava ávida por trabalho e pelo enriquecimento rápido. Pequenos povoados se transformaram em prósperas cidades como Faxinal, Borrazópolis, Jardim Alegre e Ivaiporã, entre outras. Os moradores das áreas rurais dessas localidades eram visitados periodicamente por um mascate conhecido por Turquinho, que trazia de São Paulo as novidades para as donas-de-casa e moças casadouras.

Das malas abarrotadas saíam blusas, anáguas, calcinhas, sutiãs, perfumes, sabonetes, linhas, alfinetes, agulhas, novelos de renda, botões coloridos e diversas bugigangas. Após cumprir seu roteiro, as malas ficavam leves; era o momento de promover a liquidação na zona do baixo meretrício mais próxima. Os coronéis não pechinchavam e atendiam os pedidos das quengas com grande generosidade.

Com o passar dos anos, Turquinho adquiriu os hábitos e o linguajar típicos dos moradores, passando a usar expressões como "Oxente Brimo", "Sartei de Banda Tchê", "Arranquei Pena Brimo", tornou-se torcedor do Corinthians e apreciador de uma cachacinha, transformando-se no mais brasileiro dos turcos que apareceram na região.

Nos dias chuvosos, com as estradas intransitáveis, Turquinho matava o tempo em algum boteco contando casos pitorescos; principalmente de um picareta de terras conhecido por João do Rolo, um baiano metido a galã e conquistador que passou a assediar Adelaide, mulher do comerciante Tião Gaúcho. 

Bastava o gauchaço sair com seu jeep 51 para fazer compras em Apucarana, quando ficava ausente por um ou dois dias, que, de imediato, João do Rolo se aproximava de Adelaide com seus galanteios. Como boa comerciante, Adelaide levava na esportiva, mas, foi se cansando do assédio e decidiu deixar o marido a par da situação. Juntos, tramaram um castigo para o picareta assanhado.

Ao ver Tião saindo para mais uma viagem, o garboso galã correu até a venda e começou a enaltecer os encantos de Adelaide. Desta vez ficou surpreso e radiante de felicidade, quando a pretendida concordou em recebê-lo em casa, após o fechamento do estabelecimento às 21 horas. No horário combinado, a porta estava entreaberta, a luz de vela dava um toque de sensualidade e um clima de pecado. Adelaide, com uma garrafa de vinho e de dois copos, sorriu para João e começaram a conversar.

Passados menos de cinco minutos, ouve-se o jeep de Tião adentrando a garagem. Desespero total; o galã não sabia o que fazer, pela frente não poderia sair, pelos fundos não havia saída. Atende então a sugestão de Adelaide, pula a janela e corre para a privada do quintal, cujo assoalho havia sido retirado, e mergulha na fossa.

A trama dera certo. Com todas as lâmpadas acesas, a polícia é chamada, João do Rolo gritando por socorro, curiosos se aglomeraram, os familiares de João chegaram envergonhados e ajudaram os policiais a tirá-lo do vexame. 

Turquinho garante que o picareta foi de mala e cuia para o Mato Grosso, levando o cheiro insuportável da amarga aventura.

Mahamud Nagi Ibrahim, o Turquinho, em seu bar em Ivaiporã, conta casos memoráveis de uma época que deixou saudades.
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* jornalista em Ivaiporã.

Fonte:
300 Histórias do Paraná: coletânea. Curitiba: Artes e Textos, 2004.