sexta-feira, 14 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 33 =


Trova Humorística do Ceará

ALOÍSIO BEZERRA
Massapê/CE, 1925 – ????, Fortaleza/CE

- Ao andar, sinto cansaço.
Que me aconselha, doutor?
- Nenhum remédio lhe passo,
só tome um táxi, senhor!

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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Apenas um menino 

Queria me tornar uma criança
Diante da tristeza que há no mundo,
Sem precisar usar minha esperança
E nem me entristecer em um segundo. 

Queria ter nos olhos a inocência...
No coração, a chama da bondade
E não saber o que é intransigência,
Nem arrogância, medo...ou maldade. 

Queria a pureza de um menino
Sorrindo para o gesto pequenino
De um outro menininho... nada mais. 

Assim, num novo mundo eu viveria,
Criando sempre nova fantasia
Diante da magia que há na paz
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MARILZA DE CASTRO

Solicitude
lícita
se
verdadeira
atitude
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Soneto de São Paulo

FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Rainha das águas 
(a Alberto de Oliveira)

Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabeleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Na esguia concha azul orladurada de ouro.

Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro;
Vão à frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.

Crespas, cantando em torno, as vagas, à porfia,
Lambem de popa à proa o casco à concha esguia,
Que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana;

E, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bela soberana.
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Trova Premiada de Bauru/SP

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA

Relendo o livro da vida
quando a solidão me invade,
em cada página lida,
sempre encontro uma saudade…
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Poema de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

Talvez a velha saudade
seja apenas um embalo
do vento olhando a lua.
O rascunhar de um poema
nas estrelas, o sorriso
desenhado, o pranto solto,
quem sabe o doce bailar
das águas idolatrando
o amor, cálido, sereno,
na sua poesia nua.
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Quadra Popular de Olhão/Portugal

DEODATO PIRES

Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu.
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Soneto de Lisboa/Portugal

CARMO VASCONCELLOS

Sem lutos

De vós, amados, quero ao vos deixar:
sentidos poemas, flores, melodias,
riso e lembranças de felizes dias,
e sem lutos a minh’alma há-de voar.

E já volátil, há-de então acenar-vos 
a fina poeira, da ida e vã matéria,
depois... montada numa gota etérea,
hei-de baixar na chuva a visitar-vos.

Porém, se alguns de vós eu vir chorosos,
pérola d’água, os olhos lavarei
aos que em saudade mostram olhar fosco.

E pra secar os olhos lacrimosos,
flamas ao sol brilhante roubarei...
Que amar-vos não será chorar convosco!
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Trova de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
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Poema de Portugal

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa, 1919 – 2004, Porto

Quero

Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro comtemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
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Haicai de Serra/ES

HUMBERTO DEL MAESTRO 

Três dias de chuva:
No terreno alagadiço
Concerto de rãs.
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Sextilha de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

No momento da triste despedida
todo mundo que fica se apavora,
fica  alguém soluçando na calçada,
na janela, quem fica também chora;
é o instante mais triste desta vida
quando alguém diz adeus e vai embora!
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Trova de Ribeirão Preto/SP

RITA MARCIANO MOURÃO 

Bilhetes de amor... saudade
que a lembrança hoje cultua 
onde a tal felicidade
era o carteiro da rua!...
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Glosa do Rio Grande do Sul

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Carnaval Fantasia

MOTE:
Meu carnaval mais risonho,
foi aquele em que eu vesti
as fantasias de um sonho
que até hoje eu não vivi…
Elisabeth Souza Cruz 
(Nova Friburgo/RJ)

GLOSA:
Meu carnaval mais risonho,
cheio de felicidade,
eu lembro hoje entressonho,
numa forma de saudade.

Foi um tempo de alegria,
foi aquele em que eu vesti
a minha alma de poesia…
Disso, nunca me esqueci!

A todos, hoje eu proponho
viver muitas fantasias…
as fantasias de um sonho
não deixam as mãos vazias…

Quisera realizar
tudo aquilo que senti
e a grande emoção de amar
que até hoje eu não vivi…
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Aldravia de Vitória/ES

MATUSALÉM DIAS DE MOURA

paradoxo:
frente
fria
aquece
minha
alma
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Soneto do Rio de Janeiro

DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ, 1899 -1991, Petrópolis/RJ

O espectro

O canto não imita a realidade
Como as palavras. Fica sobrevoando,
E da boca feroz se libertando,
Como o vôo de um pássaro, se evade.

Desaparece sem deixar saudade,
Perde-se na existência, como quando
A água de uma carranca borbotando
Se irisa em trêmula diafaneidade.

Não quero o sentimento que da treva
Do ser traz qualquer coisa de aflitivo,
Que quer ser voz e a voz profunda eleva,

Despertando um espírito latente
Que estilhaça os cristais num vingativo
Riso de espectro lívido e estridente.
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Trova Premiada em Maringá/PR, 2013

LICÍNIO ANTONIO DE ANDRADE 
Juiz de Fora/MG 

É no afago dos seus braços
que me enlaçam com calor,
que eu me esqueço dos cansaços
quando chego do labor.
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Poema de Santos/SP

CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Amo
(para Carolina Ramos)

Eu amo a lua, que me encanta, bela,
a ressaltar, da noite seus valores;
amo a cascata que borbulha espumas,
amo das brumas hibernais alvores,
Eu amo a brisa que suspira, calma,
deixando na alma o murmurar de amores;
amo dos astros o fulgente lume,
amo o perfume essencial das flores.
Eu amo tudo a que minha alma assiste,
tudo de belo que no mundo existe,
tudo que vibra em mim e amor requer.
Mas... se a tudo consagro um grande amor,
o que amo na terra com maior fervor,
é a inteligência, numa só mulher!
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Triverso do Rio de Janeiro/RJ

MILLÔR FERNANDES
(Milton Viola Fernandes)
1923 – 2012

Não tem nexo
Tudo é apenas
Reflexo
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Spina de Francisco Beltrão/PR

RICHARD ZAJACZKOWSKI

Violações 

Sedentos pela fonte,
ignoraram as leis.
Selaram seus destinos.

Emoções à flor da pele,
era tudo que eles anelavam.
Via-se que são bem ladinos.
Retiam eles, arte da astúcia
em enlevos de seres libertinos.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

A ciência hoje é um colosso, 
com tudo fora de centro: 
faz laranja sem caroço, 
gravidez sem filho dentro...
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Dobradinha Poética de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Fuga

De mim mesma eu quis fugir,
deixar a vida desdita,
mas sem saber aonde ir
curvei-me à sorte prescrita…

Fugir de insípida vida
por não ver outra saída,
quantas vezes desejei...
Fugir da espera sofrida,
do desamor, da partida,
aos quais não me acostumei.

Fugir, mas fugir de tudo,
do sofrimento desnudo,
do amor que em mim acordei..
Fugir da infelicidade,
deixar atrás a saudade,
que, sem querer, preservei.

Fugir de alguém que não vem,
que embora seja o meu bem,
nem sabe o quanto eu o amei.
Fugir da desesperança,
apagar toda lembrança
que em minha mente gravei.

Fugir desta solidão,
da amarga desilusão,
dos segredos que guardei.
Fugir do tempo inclemente,
do meu destino incoerente,
mas para onde?!... Não sei.

(Ninguém consegue fugir de si mesmo, 
nem da própria sorte.)
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Poetrix de Santo Antonio de Jesus/BA

RONALDO RIBEIRO JACOBINA

problemas, eis a questão

Não me envolvo em novelos:
Se posso resolve-los, resolvo, sem alaridos.
Se não, já estão resolvidos.
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Poema de Lisboa/Portugal

ANTERO JERÓNIMO

Figura sem estilo 

Ia eu pela rua, figura de estilo na lua
Sem siso, piso o piso molhado, mas que aliteração 
Escorrego numa inadvertida metáfora 
Por pouco não me estatelava no chão.
Podem pensar que é uma hipérbole 
Mas acreditem que não é exagero não 
É que até os pombos se riram
Na sua mais astuta personificação.
O meu joelho é que gemeu coitado
Desesperado com tanta falta de jeito
Pobre de mim, figura sem estilo.
Num mundo sem tino, valha o eufemismo
Um mundo que tropeça à beira do abismo.
Muito eu poderia discorrer sobre o assunto 
Mas já chega desta conversa fiada
As palavras são como as cerejas, valha-nos a comparação
Ainda bem que tive o bom senso, de não usar paralelismos nesta descrição.
Sacudo das vestes toda a ironia
E siga, pronto para mais um dia!
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Trova de Paranacity/PR

ANTONIO TORTATO

Este amor que te declaro
é tão puro e tão bonito
que, ao medi-lo, eu o comparo
à grandeza do infinito!
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Poema de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Conselhos de mãe

Meu filho, a vida é dura e fere... e nos magoa...
mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
não permitas que o mal altere o que é verdade!

Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho
sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
Cada dia que passa é um dia mais risonho,
quando o amanhã promete as glórias da conquista!

“Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
Os caminhos, verás, se abrirão à medida
que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
revelar o sentido e o Ideal da tua vida!

Não temas opressões nem quedas. Persevera!
Se achares que ao final o saldo não convence,
reage, continua... a vida tens à espera!
Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!

Recordando Velhas Canções (Pela luz dos olhos teus)


Compositor: Vinicius de Moraes

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus, me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais lá-rá-rá-rá
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus, me sinto incendiar (me sinto incendiar)

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais lá-rá-rá-rá
Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, e só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Precisa se casar (precisa se casar)
Precisa se casar (precisa se casar)

Precisa se casar, precisa se casar (6x)
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O Encontro de Olhares na Poesia de Tom Jobim
A música 'Pela Luz Dos Olhos Teus', interpretada por Tom Jobim e Miúcha, é uma obra que exalta a beleza e a profundidade do encontro de olhares entre duas pessoas apaixonadas. A letra, rica em imagens poéticas, utiliza a metáfora da 'luz dos olhos' para expressar a conexão e a intensidade do sentimento amoroso. A luz, elemento que simboliza vida, conhecimento e pureza, é usada aqui para representar a essência do amor que se revela quando dois olhares se encontram.

O refrão da canção, 'Pela luz dos olhos teus', sugere uma busca pela união e pelo entendimento mútuo, onde a luz dos olhos de um ilumina e completa a do outro. A repetição da frase 'precisa se casar' ao final da música reforça a ideia de que essa união é algo essencial, quase como um destino inevitável para aqueles que se amam. A expressão 'sem mais lá-rá-rá-rá' pode ser interpretada como um desejo de autenticidade e profundidade na relação, deixando de lado superficialidades e jogos de sedução.

Tom Jobim, um dos maiores nomes da música brasileira e um dos criadores da Bossa Nova, era conhecido por suas composições que misturam melodia suave e letras poéticas. 'Pela Luz Dos Olhos Teus' é um exemplo clássico de sua habilidade em transformar sentimentos complexos em música, criando uma atmosfera romântica e ao mesmo tempo sofisticada. A parceria com Miúcha, que também era uma artista de grande expressão na música brasileira, adiciona uma camada de harmonia e beleza à interpretação da canção.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Varal de Trovas n. 603

 

Newton Sampaio (Inspiração)

Ficaram estateladas com a saída brusca do Damião. Que diabo acontecera ao rapaz?

Corria a prosa tão animada, e eis que ele se levanta e zarpa, sem pedir licença.

— Ora já se viu?...

Ficou furioso o Silvino. Mas Damião caminhou indiferente à fúria do Silvino. Mal sentiu o vento que cortava.

— Eta invernão!

Fechou cuidadosamente a porta. E, ainda de sobretudo, tomou posição.

Maciazinha, a caneta nova! Uma beleza de macia... Compraria meia dúzia delas no dia seguinte.

Imediatamente, porém, expulsou do cérebro em faiscações, essa ideia mesquinha de “compra” e de “meia dúzia”. Urgia encetar a obra.

Escreveu, devagarinho:

“O destino, esse fatal desvelador.”

Botou uma vírgula bem caprichada. E repetiu, em alta voz:

— O destino, esse fatal desvelador...

Era bem esse o começo que idealizara.

— Fatal desvelador. Fatal... Bonito adjetivo. Só que parece um pouco trágico. Mas não. Quem manda no verso é o “desvelador”.

Desvelador vai bem. Vai bem.

Precisava de um complemento para “destino”. O destino tinha de fazer qualquer coisa. Escreveu:

“Que prevalece na paixão e predomina no amor.”

Muito comprida essa linha.

— Pre-va-le-ce... Pre-do-mi-na... Vá lá.
(Pausa).

— Amor... Paixão... Estas palavras significam o mesmo. Será o tal do pleonasmo?

Correu ao dicionário.

“Pleonasmo, s.m. (gr. Pleonasmos)”

— Vem do grego, hein?

O Dicionário Prático Ilustrado falava assim:

“Repetição de ideias ou de palavras que têm o mesmo sentido; viciosa, quando inconsciente ou devida à ignorância: legítima, quando propositada, para dar maior força à frase.”

— Legítima, quando propositada. É esse o meu caso. Eu repeti pra dar maior força à ideia. À ideia... Que ideia? O que eu queria era falar da Ofélia. Comecei com “tudo passa” pra lembrar aquilo que já passou. Qual! O melhor é atacar o assunto, diretamente.

A imagem da Ofélia cresceu dentro de si. Parecia um sonho.

— Ah! Um sonho... Direi que sonhei com ela. Isso mesmo.

A caneta nova trabalhou febrilmente.

Riscou tudo, tudo. Era o seguinte o novo texto:

“Eu te sonhei assim.”

Assim de que jeito?

Catou uma ideia. Catou. Nada. Quase desistiu.

O sobretudo já estava incomodando. Sacou-o fora.

Sem o sobretudo, teve momentos mais livres.

E foi com verdadeiro júbilo que grafou:

“Dama então pra mim desconhecida.”

— Querida... Desconhecida... Boa rima. Será que o primeiro verso pode rimar com o segundo? Acho que pode.

Corria dificílimo o parto. Em todo caso, sempre deu a terminar desse jeito o primeiro quarteto:

“Em cujo olhar todo cheio de candura,
Não lia a causa de minha desventura.”

— Candura... Desventura... Está rimado. A candura é dela. A desventura é minha.

Trabalhou mais duas horas e meia.

— Pronto, felizmente!

Não parecia mau o verso final:

“Foi assim que te sonhei, Ofélia.
Foi assim... Foi assim...”

Só então ele notou o cansaço. Doíam os rins.

Releu toda a obra, em voz alta, passeando no quarto, em diagonal.

Depois escreveu o título a lápis vermelho, letra de forma:

EU TE SONHEI ASSIM...

Nessa noite, Damião dormiu como um bem-aventurado.

(Publicado originalmente em O Dia. Curitiba, 8/11/1936.)

Fonte> Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.

Vereda da Poesia = 32 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
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Soneto de Santarém/Portugal

ARLETE PIEDADE

Enigmas de menino
 
Estou tão triste e revoltado com a vida
não sei porque me deixaram aqui sozinho
foi-se embora a minha mãezinha querida
agora ninguém mais me irá dar carinho...

esta manhã estava tanto gelo na estrada
minhas mãos ficaram de golpes a sangrar
meus pés descalços gretados lá na picada
cheios de bicos, pele dolorosa a queimar

meu estômago pequenino e vazio dói tanto
ninguém me acode nem enxuga meu pranto...
ah! Será que este é de verdade o meu mundo?

Venham me buscar! - Não sou deste recanto! 
Imploro olhando o céu, com tal espanto...
medonha solidão, desespero tão profundo!
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ GONDIM

fui
letra
depois
palavra
agora
oração
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Soneto de São João da Barra/RJ

ANTONIO BRAGA
(1898 – ????)

Carro de Bois... 

A pensar neste amor, nesta tarde cinzenta,
tão distante de ti - primavera gloriosa -
paira o meu triste olhar pela estrada poeirenta,
onde um carro de bois segue em marcha morosa.

Rola o carro a gemer nessa música lenta
que me faz recordar tanta coisa saudosa!
Velho carro de bois! O seu gemer aumenta
esta ânsia que me põe toda a alma dolorosa.

Eu invejo, afinal, esse carro gemente,
que parece ter alma e parece que sente
a tristeza do amor que palpita em nós dois...    

Coração! Coração! A saudade é infinita.
E não podes gritar como esse carro grita,
e não podes gemer qual o carro de bois! . . .
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Bandeirantes/PR, 1965

CAROLINA RAMOS 
Santos/SP

Solidão, eu te bendigo!
À tua sombra querida,
eu marco encontro comigo
e acerto os passos da vida
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Poema de São Fidélis/RJ

ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG

Saudade II
 
Saudade é tema batido
que tanto bate na gente!
E quanto mais se apanha
mais saudade a gente sente.
 
Ela chega de mansinho
como alguém que não quer nada,
entra em nós, constrói um ninho,
depois some de mansinho
deixando uma dor danada.

E essa dor tão dolorida
não há doutor que dê jeito.
Depois que entra no peito
é difícil resistir.
Fica inquilina da gente
e nunca mais quer partir.
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Quadra Popular de Porto/Portugal

EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES

Mãe é exemplo de amor
que nós na vida tivemos
e damos real valor
somente quando a perdemos.
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Soneto de São Paulo/SP

FILEMON FRANCISCO MARTINS

MORTE DA ÁRVORE
(Lendo o soneto ÁRVORE MORTA, do Padre Saturnino de Freitas)

Árvore triste, que ontem foi bonita,
Não tens mais ramos, frutos e nem flores,
Dos pássaros não és mais favorita
E não abrigas mais tantos amores.

Neste teu tronco já ninguém habita,
Sequer amantes loucos, sonhadores,
Que outrora segredavam na mesquita
De suas folhas vivas, multicores...

Quantas vezes ouviste namorados
Em carinhos e beijos, descuidados,
Como se o tempo não fosse passar.

Hoje, teus galhos secos, ressequidos,
São lembranças de sonhos esquecidos,
Que nunca mais, na vida, vão voltar!
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Trova de São Paulo/SP

DOMITILA BORGES BELTRAME

Além, no horizonte, à borda
de um infinito sem véu
o lindo arco-íris é a corda,
que os anjos pulam, no céu!
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Poema de Itajaí/SC

ANNA RIBEIRO

Descortinando as estações

Como a enxurrada que corre
em veios de correntezas;
Entre nós, o tempo já não diz nada
Diante um do outro... O invisível
Mas, pesam nos ombros as reviravoltas de outros tempos

Do Verão; Surpresas das chuvas e trovões
Da Primavera; As flores, borboletas e perfumes
Do Inverno; O hibernar do amor!
Do Outono; Agora pensamentos...Vive a alma em poemas

Na janela, observando as folhas rodopiarem ao vento,
Sopra de leve uma cortina de saudade!
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Haicai de Cornélio Procópio/PR

TAMYRIS LORRANA MARQUES AFONSO 

Vejo da janela
Uma horta no quintal
E um quati ladrão!
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Sextilha do Rio Grande do Sul

MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

A criança, num gesto de grandeza,
briga e, logo, já quer recomeçar.
Briga fácil, mas não guarda rancor,
sabe amar, mesmo estando a discordar...
Nós, adultos, brigamos de verdade,
para nós, é difícil perdoar...
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Trova de Curitiba/PR

HEITOR STOCKLER DE FRANÇA
Palmeira/PR, 1888 – 1975, Curitiba/PR

Pensar em ti como eu penso
e muito tenho pensado,
diz, a rir, o meu bom senso,
que é o meu divino pecado.
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE:
Numa espera doce e mansa, 
qual zelosa tecelã 
bordo rendas de esperança 
pra enfeitar nosso amanhã!
Jeanete de Cnop 
Maringá/PR

GLOSA:
Numa espera doce e mansa, 
tecendo a minha saudade, 
cada segundo que avança 
parece uma eternidade! 

Nos bilros, busco consolo; 
qual zelosa tecelã 
vou tecendo, no rebolo, 
minhas rendas com afã! 

Na almofada da lembrança 
com seus tear multicor 
bordo rendas de esperança 
esperando o meu amor! 

De rendeira, fiz a trama, 
minha espera não foi vã, 
hoje a peça cobre a cama 
pra enfeitar nosso amanhã!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

horas
vazias
não
deixam 
tempo
passar
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Chile

PABLO NERUDA
Parral/Chile, 1904 – 1973, Santiago/Chile

Soneto de Amor

Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,

e desde então sou porque tu é,
e desde então é, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada no Rio Grande do Norte, 2010

OLYMPIO COUTINHO 
Belo Horizonte/MG

Nas noites claras de lua, 
no desenho da calçada, 
vejo a silhueta tua 
a minha sombra abraçada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Spina de Belém/PA

ANA MEIRELES

Comigo ninguém pode 

Comigo ninguém pode,
Maria era dessas
sem firulas, falava. 

Sentia, dizia, palavras saíam quentinhas.
O Amigo Moura sabia, presenteou-lhe
com simbólico colar que personificava
uma força interior quase inabalável 
de fragilidade, fortaleza, se temperava.
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Haicai de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Na Copa, haja copo.
Ao final de cada jogo,
o povão de fogo.
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Pantum de Porto Alegre/RS

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Pantum aos Versos de Amor

TROVA-TEMA:
Para esquecer o meu pranto,
aliviar a minha dor,
quanto mais sofro, mais canto,
cantando versos de amor.
Professor Garcia
Caicó/RN

PANTUM:
Aliviar a minha dor
eu consigo, sou feliz,
cantando versos de amor
que para você eu fiz!

Eu consigo, sou feliz,
sentindo na poesia
que para você eu fiz,
belos raios de alegria!

Sentindo na poesia
a doce e pura emoção,
belos raios de alegria
inundam meu coração!

A doce e pura emoção
e o mais suave acalanto,
inundam meu coração
para esquecer o meu pranto.
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Poetrix de Osório/RS

SUELY BRAGA

O Meio Ambiente

   O planeta chora.
   Precisamos ser conscientes.
   Cuidemos dele agora.
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Soneto de Porto Velho/RO

VESPASIANO RAMOS
(Joaquim Vespasiano Ramos)
Caxias/MA, 1879 – 1915, Porto Velho/RO

Soneto da Volta

Desde este instante, sem cessar, maldigo,
Aquele instante de felicidade!
Para que tu vieste ter comigo,
Meu amor! Minha luz! Minha saudade?!

Dês que te foste, foram-se contigo
Todos os sonhos desta mocidade...
A tua vinda — fora-me um castigo;
A tua volta — uma fatalidade!

Dês que te foste, dentro em mim plantaste
A ânsia infinita dos desesperados
Porque voltando, nunca mais voltaste...

Correm-me os dias de aflições, cobertos:
Eu entrei para o amor de olhos fechados
E saí para a dor de olhos abertos!
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Trova de Barbacena/MG

JOSÉ KALIL SALLES

Felicidade! Procuro,
não a encontro, enfim.
Vou seguindo no escuro
esta vida até o fim.
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Poema de Maringá/PR

PEDRO APARECIDO DE PAULO

Teste de Pincel

Em você, o meu primeiro visual,
comecei a pintá-la, tornando-a imortal,
diante de seu corpo desnudo;
curvas e traços confundidos,
qual beleza inigualável em tudo.

Ao iniciar não revisei a tela,
não imaginei uma forma assim tão bela,
pois fora apenas um teste de pincel.
Riscos e cores traçados devagar,
não havia em mim razão para pintar,
pois seria somente em teste, o meu papel.

Aos primeiros traços que foram surgindo,
mudou tudo enfim, que quadro tão lindo,
arrumei a tela com profunda emoção!
Ao ver o seu corpo retratado ali
É indescritível tudo o que senti,
pois pintava alguém em meu próprio coração.

Vi com outros olhos pincéis e tela;
consertei os riscos, deixando-a mais bela.
No quadro, então, moldei-a, enfim.
Completei com júbilo seu corpo sem igual!
Tão rara imagem tornou-se imortal,
tenho essa musa, bem juntinho a mim!

Simões Lopes Neto (Casos do Romualdo) A Tetéia

Pois sim! Venham-me pra cá com histórias de cachorros bem-ensinados e obedientes! Igual, pode - e ainda duvido! - porém melhor que a minha perdigueira Tetéia não há, nem houve, e talvez até nunca haja!

Contaram-me como grande coisa um caso dum barão alemão, um tal Münchausen, que possuiu uma cadela lebreira, a qual, estando grávida, mesmo assim correu uma lebre que, por coincidência estava também grávida. Correram, correram muito as duas próximas mães... e tão próximas que durante a corrida a lebre teve as lebrinhas e a cachorra os cachorrinhos. E como a raça não nega a traça, os cachorrinhos largaram-se logo a correr atrás das lebrinhas, enquanto que a cachorra recém-mãe continuava a correr atrás da lebre também recém-mãe.

Sim, senhor! Era um bom animal, não nego: mas a Tetéia era melhor.

Escutem e julguem.

Uma manhã saí a caçar perdizes e levei a Tetéia.

Eu não conhecia o campo, e isso foi a causa de um grande desgosto para mim. Mal entramos no matagal, a Tetéia amarrou, toquei-lhe com o joelho na anca, ela andou uns passos: a perdiz levantou-se no voo e flechou! Pum! Tiro dado, perdiz em terra, e Tetéia, trazendo!

E assim, de enfiada, foram-se os cem cartuchos que eu trazia: cem perdizes em meia hora. E note-se que eu errei dois tiros e cinco cartuchos falharam.

Sentei-me e comecei a atar as minhas perdizes, pelas pernas, para pô-las ao ombro e regressar.

E, distraído, esqueci-me da chamar a perdigueira e fazer-lhe compreender que estava findo o divertimento. Esqueci-me; e quando, tudo pronto, ia a marchar, só então lembrei-me da cachorra.

Chamei: Tetéia! Tetéia! assobiei, fiz os sinais de costume, nada! Estranhando o fato arriei o fardo das perdizes, e andei a procurar, sempre chamando, assobiando, e nada, nada de resposta!

Supus então - naturalmente - que a perdigueira, desobedecendo pela primeira vez, tivesse ido para casa, sozinha, antes de mim. Era um procedimento de cachorro, mas vá lá por uma vez! E assim pensando, fui-me embora.

De chegada indaguei. Não, não tinha aparecido. Causou-me espécie aquela demora; depois, quem sabe, algum namoro.

Esperei, chegou a noite, o outro dia; e nada de Tetéia!

Tive então um pressentimento funesto, nem me restava mais dúvida: a honesta perdigueira certamente havia sido picada por cobra, alguma cascavel, alguma viradeira medonha, e a esta hora! Pobre, pobre infeliz bicho! Fiquei realmente paralisado, triste.

Para distrair as mágoas e variar de comida e emoções, andei caçando veados para outro rumo; marrecas, nos banhados; quatis, tatus, etc.; e fiz várias batidas num tigre fugido de gaiola, que não apareceu nunca, talvez assustado da minha fama.

Foi até uma imprudência esta batida ao feroz tigre; eu não tinha cachorros próprios e os companheiros falharam-me à última hora, alegando cada qual a sua razão; um que tinha de arrancar batatas, outro que a mulher estava para cada hora, outro que fincara um estrepe no pé enfim, deixaram-me sozinho, justamente quando ali perto, à vista, o tigre urrava tremendamente, como desafiando!

Pois fui, sozinho: eu e a minha faca de mato; apenas por segurança, para ter o alarme certo, levei um gato num cesto, porque o gato é um animal muito elétrico e de longe já sente a catinga do tigre, e dá logo sinal que não engana, nunca. Se é de dia, fica de pêlo eriçado e duro, como arame, e mia duma forma muito particular; são dois miadinhos curtos e um comprido, dois curtos e um comprido; se é de noite, apenas bufa e lambe as barbas, ficando então o pelo fosforescente, como vaga-lume. É claro, pois, que quem leva gato não corre o risco de ser surpreendido por tigre; muito antes deste aproximar-se, já o caçador está avisado e tem tempo de sobra de preparar-lhe a espera.

Deste fato, creio mesmo que e que nasceu a expressão vulgar de que - quem não tem cão, caça com gato.

Com estas distrações e outros afazeres, passou-se o tempo; de vez em quando e sempre com pesar e saudade, Lembrava-me da desaparecida Tetéia.

Dediquei-me então a ensinar um cachorrinho, filho dela, o seu retrato escrito e escarrado, que me havia ficado.

Há dias - meses passados - levei o cachorrinho ao campo, para exercício. E andando, andando, sem dar por tal, fui ter ao lugar certo daquela malfadada caçada em que se sumiu a minha maravilhosa perdigueira.

E, dum lado para outro, eis senão quando, o cachorrinho para, amarra, levanta a pata, sacudindo a cauda! Chego-me, toco-lhe com o joelho, e quando espero que o totó vai levantar a perdiz, ele volta-se para mim, desarrumado, humilde, com os olhos arrasados de lágrimas... Surpreso, dei três passos, estiquei o pescoço e vi.

Vi, sim, o esqueleto da Tetéia ainda de coleira, firme, correto, na posição de amarrar; adiante, um esqueleto de perdiz, na posição de preparar o voo; ao lado, num ninho quase desfeito, sete esqueletinhos de filhotes, na posição de piar, com fome!

Querem mais claro? E agora, coisa notável, foi ainda o faro filial que guiou o cachorrinho e fê-lo descobrir e chorar perante os ossos da mãe!

Pois, e então?

A cachorra do Münchausen será acaso superior à Tetéia? Só se for porque ele era um barão, e eu sou apenas o Romualdo.

Fonte: João Simões Lopes Neto. Casos do Romualdo. Publicado em 1914. Disponível em Domínio Público