ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
A chuva é sempre bem-vinda
e, se é de versos, então,
deixa mais bonito ainda
o jardim do coração!
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Poema de Belém/PA
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA
Oleiro e Barro
Acorda! Já é dia e o teu destino
é fazer teu destino caminhando!
Tu és, ao mesmo tempo, oleiro e barro;
Tu és, num só momento, o boi e o carro!
Acorda! O tempo urge... Tu não sabes
que deténs as rédeas da ação?
Tu és a solução dos teus problemas
e a chave que abre tuas algemas
repousa, eternamente, em tua mão!
Levanta! O sol se põe... Bate a poeira
acumulada por tantos verões!...
Tu és a vela-mestra da História,
o caminho que conduz à glória,
a semente das revoluções!
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Trova de Magé/RJ
MARIA MADALENA FERREIRA
Entre as lembranças que trago
a sete chaves, com gosto,
eu guardo o primeiro afago
que tu fizeste em meu rosto!!!
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de Bandeirantes/PR
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Reencontro
Na tua ausência formei
um rosário dos meus “ais”
e, hoje, que te reencontrei:
– Meu Deus, sofrer, nunca mais!
Antevendo o momento em que irei reencontrar-te,
repensando, feliz, quanto ainda te quero,
intento este preencher do meu tempo com arte,
vindo expor num soneto o amor puro e sincero.
A ansiedade me envolve e já sei que faz parte,
leva quase à loucura e quando eu desespero,
desse anseio sofrido, almejando o descarte,
ouço a voz da esperança e esta angústia, supero!
Com excelso desvelo eu desejo te olhar,
abraçar-te bem forte e, depois, mergulhar
na paixão que revela o que sinto por ti.
Hora e dia a apontar, terra e céu presenciando
o milagre da volta e eu prossigo rogando:
— teu amor para sempre... e esquecer que sofri!
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Trova Premiada em Vila Velha/ES, 2018
MARA MELINNI
Caicó/RN
Velho tropeiro de outrora,
levaste o rumo da vida
galopando, mundo afora,
entre o abraço e a despedida...!
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Poema de Lisboa/Portugal
FERNANDO PESSOA
1888 – 1935
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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Trova Popular
Quem não nasceu pra sofrer
desafiar pode os fados,
que os próprios deuses respeitam
os entes afortunados.
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Soneto Paulista
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP
Dor Oculta
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranquila,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ
LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros
A trova, além da leitura,
requer, na declamação,
um tiquinho de ternura
e um tantinho de emoção.
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Poema de São Paulo/SP
CACO PONTES
Nu olhar
A gente vê
gente
pelas ruas da cidade
A gente vai passando
e fica só olhando
gente
fora das janelas
peixes sem aquário
A gente vê
besta certeza
guardada nu olhar
a gente quer ir
antes que chegue
a hora
as vezes
e vê gente
que diz assim:
- aí bicho, isso daí não tá cum nada!
rabisca, amassa, chuta
e tenta outra vez
A gente vê
mas no fim da parada
não enxerga quase nada.
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Trova Humorística de São Paulo/SP
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
Pôs anúncios nas estradas:
"Por um módico aluguel,
moitas limpas, bem cuidadas".
E inaugurou seu..."Moitel"!
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Soneto de de Santos/SP
MARTINS FONTES
1884 – 1937
Como é Bom Ser Bom
Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.
Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.
Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.
E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.
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Trova de Curitiba/PR
VANDA ALVES DA SILVA
Restam horas já passadas,
da história de uma paixão:
lembranças esfumaçadas,
nas sombras do carrilhão.
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Poema de Ribeirão Preto/SP
ELISA ALDERANI
Morte do Poeta
Tu, poeta, cantas a vida,
Aquela que nunca finda.
Sutil brisa no alvorecer,
Pelo arrebol do Eterno Sol
Que o mundo ilumina.
Tu, poeta, cantas a morte,
Arte despojada,
Estrutura informe, inacabada.
Vazia, sem réplica.
Da cor do mistério da terra muda.
Tu, poeta, falas de vida e de morte.
Um dia vive de alegria,
Noutro chora de tristeza.
Num só abraço
de braços sem força.
Tu, poeta, viverás para sempre…
Teus versos o vento jamais levará.
Cinzelados despontam De inúteis devaneios
Pela desconhecida morte
Inspirados!
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Trova de Campinas/SP
ARTHUR THOMAZ
Os destinos se cruzaram,
mesmo que por uns instantes...
e as almas se eternizaram
em amores fascinantes.
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Soneto de Magé/RJ
BENEDITA AZEVEDO
Desgaste
Se alguém diz que te ama se precisa
Que cuides de sua vida e dos negócios,
Cuidado! Pois de acordo com a pesquisa
É provável que acabe em dois divórcios.
Primeiro são os bens que já não tem
Pois tudo divido já foi dantes
Que te arriscasses neste vai e vem
De filhos, ex-mulheres e amantes.
Mas o pior de tudo é perceber
Que por mais que se faça é olvidado
E quem nunca fez nada é premiado.
E teus neurônios vão se desgastando
Que às vezes já não pode ser levado
Um casamento assim, atrapalhado.
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Trova Humorística Vencedora em Vila Velha/ES, 2018
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
– Tropa de choque! Socorro! –
grita o genro, em faniquito,
ao chegar sogra, cachorro,
papagaio e periquito!
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Poema de Catanduva/SP
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Um Vazio
Um vazio põe além do horizonte
Um querer que à distância se lança,
Pois a ânsia que o barco desponte
Jacta o falso sabor da esperança.
Eu bem sei, não mudou a janela,
Mas o barco de longe não vem.
A saudade é bem mais do que "aquela"
E a vontade do beijo também!
É verdade que após as tormentas
O mar calmo se faz tão presente,
Como é certo que as nuvens cinzentas
Põem o Sol a brilhar novamente.
Por aqui, vejo a chuva caindo;
Logo mais, chega a luz desde o leste,
A mostrar todo o azul do céu lindo,
Um desenho de Deus, inconteste!
Pensamento vai longe, de vez!
Traz, enfim, esse barco; reitero!
Penso até que meu porto, talvez,
Não comporte o navio que eu espero.
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Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
De tal modo a rosa é amada,
que o cravo mói-se de ciúme...
– É o que dá ter namorada
que esbanja encanto e perfume!
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
MOTE
Sai do bar - e já sem prumo -
tropeçando, cuca em brasa,
pergunta, todo sem-rumo:
- "Onde fica a minha casa?"
Héron Patrício
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG
GLOSA
Sai do bar - e já sem prumo -
com sua cabeça "feita",
diz o Saraiva, sem rumo:
- Eita calçadinha estreita!
Caminhando em ziguezague
tropeçando, cuca em brasa,
o Saraiva, e não é blague,
perdeu o rumo de casa!
E neste seu desarrumo,
o Saraiva, já abatido,
pergunta, todo sem-rumo:
será que eu estou perdido?
A mulher, cheia de raiva
respondeu: - Na cova rasa! -
ao perguntar-lhe o Saraiva:
- "Onde fica a minha casa?"
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Trova da Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
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Hino de Loanda/PR
Terra boa, Loanda querida
Berço augusto de sonho e de amor
Nasce em ti a esperança que agita
No sorriso de fé e de amor
O teu céu, o teu sol, tua gente,
Tudo é glória perene imortal
Que ilumina no porvir esplendente
Filho altivo de nosso ideal.
Em ti deixamos nossa esperança
Sempre inspirada no teu amor
E só por ti, querida Loanda,
Nos corações haverá louvor.
Em ti deixamos nossa esperança
Sempre inspirada no teu amor
E só por ti, querida Loanda
Nos corações haverá louvor.
Pioneira feliz do progresso
Sintetizas a paz e o labor
E teu solo bendito é acesso
As riquezas que são teu fulgor
O teu nome, Loanda querida
Será sempre divina canção
A inspirar nossos passos
A vida para a tua formosa ascensão.
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Trova de Juiz de Fora/MG
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Quando a vejo na calçada,
de passagem pela rua,
minha sombra inconformada
ainda vai atrás da sua.
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Soneto de Sorocaba/SP
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Sob as cinzas
… as saudades queimam mais do que brasas…
Silveira Bueno
Como supostas brasas apagadas,
que ao sopro de um vadio e inquieto vento,
livre das cinzas, não mais abafadas,
revivescessem, retomando alento,
certas recordações em nosso peito,
de há muito adormecidas e caladas,
revolvem-se, de súbito, no leito,
despertando agressivas e agitadas.
E essas lembranças todas revividas
que imaginávamos já recolhidas
ao abrigo silente do passado,
vêm ralar nosso peito de amargura,
e as saudades, em dúlcida tortura,
queimam mais que o carvão reativado.
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Trova de Nova Friburgo/RJ
SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
No mais claro português
com voz firme à revelia,
disseste adeus uma vez
e eu ouço o adeus todo dia.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O conselho dos ratos
Havia um gato maltês,
Honra e flor dos outros gatos;
Rodilardo era o seu nome,
Sua alcunha — Esgana-ratos.
As ratazanas mais feras
Apenas o percebiam,
Mesmo lá dentro das tocas
Com susto dele tremiam;
Que amortalhava nas unhas
Ainda o rato mais machucho,
Tendo para o sepultar
Um cemitério no bucho.
Passava entre aqueles pobres,
De quem ia dando cabo,
Não por um gato maltês,
Sim por um vivo diabo.
Mas janeiro ao nosso herói
Já dor de dentes causava,
E ele de telhas acima
O remédio lhe buscava.
Dona Gata Tartaruga,
De amor versada nas lides,
Era só por quem na roca
Fiava este novo Alcides.
Em tanto o deão dos ratos,
Achando léu ajuntou
Num canto do estrago o resto,
E ansioso assim lhe falou:
«Enquanto o permite a noite,
Cumpre, irmãos meus, que vejamos
Se à nossa comum desgraça
Algum remédio encontramos.
Rodilardo é um verdugo
Em urdir nossa desgraça;
Se não se lhe obstar, veremos
Finda em breve a nossa raça.
Creio que evitar-se pode
Este fatal prejuízo;
Mas cumpre que do agressor
Se prenda ao pescoço um guizo.
Bem que ande com pés de lã,
Quando o cascavel tinir,
Lá onde quer que estivermos
Teremos léu de fugir.»
Foi geralmente aprovado
Voto de tanta prudência;
Mas era a dúvida achar
Quem fizesse a diligência.
«Vamos saber qual de vós,
Disse outra vez o deão,
Se atreve a dar ao proposto
A devida execução.
— Eu não vou lá, disse aquele;
— Menos eu, outro dizia;
— Nem que me cobrissem de ouro,
Respondeu outro, eu lá ia!
— Pois então quem há de ser?
Disse o severo deão;
Mas todos à boca cheia
Disseram: «Eu não, eu não!»
Tomou-se em nada o congresso;
Que o aperto às vezes é tal
Que o remédio que se encontra
Ainda é pior do que o mal.
Assim mil coisas se assentam
Numa assembleia, ou conselho;
Mas vê-se na execução
Que têm dente de coelho.