terça-feira, 25 de setembro de 2012

José Saramago (Levantado do Chão)


O romance Levantado do chão, escrito em 1979, tem a especificidade de demarcar um ponto de superação na expressão literária e romanesca de José Saramago. Na obra, o autor consegue desenvolver uma forma de discurso que reproduz a diversidade conflituosa da realidade retratada pela narrativa em construção, através da incorporação da tradição oral dos camponeses alentejanos.

 O título da obra simboliza, com perfeição, a vida e a produção literária de um autor que conheceu o desalento e a incompreensão mas que soube porfiar, erguendo-se do chão, qual fértil campo espiritual que Saramago cultivou e que neste dia frutificou de uma forma perene. Nesta obra, Saramago elevou em epopéia a vida dos trabalhadores alentejanos, em três gerações de dor e sofrimento, viajando como narrador (que se trata a si próprio como "o narrador") entre o passado do século XV e o tempo do presente acompanhando Domingos Mau-Tempo, o seu filho João, os seus netos António e Gracinda, casada com António Espada, personagem importante na diérese.

 No romance, desde a contracapa, sabe-se que o universo por ele criado é filtrado pelo imaginário e pelo sonho e o olhar que lança para as muitas possibilidades deixadas pelos espaços em branco da historiografia portuguesa. Através dos filtros – sejam eles suas memórias, de quem assistiu a todo o processo revolucionário, as suas convicções pessoais, as histórias que ouviu dos camponeses e as suas aspirações de que os homens portugueses fossem de outra maneira - imprimem à obra a sua subjetividade, que ao desregular o tempo das experiências social e individual, oferece-se como uma visão alternativa do passado; atitude que, em última análise, significa integrar uma outra significação para os fatos que já estavam solidificados na mentalidade portuguesa e apontar a precariedade de qualquer conhecimento previamente instituído.

 Com efeito, o entrecruzamento dos fatos narrados e dos fatos históricos abordados pelo romance adquire um estatuto de verdade e é capaz de justificar e produzir condutas. Entretanto, este discurso que se constrói se ocupa, primordialmente, de descristalizar aquilo que conhecemos da história e estabelece-se, intratextualmente, como uma verdade possível e, portanto, provisória que não tem como objetivo negar os saberes anteriores.

 Ciente daquilo que não é competência dos historiadores, José Saramago se serve de suas lacunas e de suas afirmações para revisitá-la e tecer críticas a respeito de sua construção, para criar uma outra ficção que se apóia, duplamente, na existência de figuras históricas reais e na de homens sem história e sem lugar na documentação para, no somatório das duas, criar um discurso – por isso, precário – que seja capaz de abranger e explicar as relações humanas e sociais.

 A imbricação em sua narrativa de episódios históricos e fatos sociais portugueses para questionar a responsabilidade civil dos homens antes, durante e após a restauração da democracia, aponta para o fato que, em sua narrativa, existe um diálogo muito forte com concepções previamente instituídas do estatuto social do português e que, ao longo dos anos da ditadura, mantiveram-se e reforçaram-se por imposições do Estado e pela aceitação delas por estes homens.

Levantado do Chão se ocupa primordialmente da saga de uma família de camponeses pobres, os Mau-Tempo, que desde o século XV habitam Portugal, na região do Alentejo e são os escolhidos pelo autor para relatar a difícil relação do homem português com a terra e com o desenrolar dos acontecimentos por ela motivados.

 Os Mau-Tempo são testemunhas e combatentes de lutas como a chegada da República, a Primeira Guerra Mundial, a Guerra da Espanha e o 25 de Abril, eventos históricos de grande importância para Portugal, e que contarão a história de Portugal de “uma outra maneira” – baseada naquela que não foi documentada e que está fora dos registros oficiais.

NARRAÇÃO / LINGUAGEM

 A diferenciação existente entre Levantado do Chão e a tradição do romance histórico é mais nítida no estatuto do narrador e nas funções das personagens. Quanto ao primeiro aspecto, nota-se a existência de um narrador que acompanha a ação, comenta e critica, em onisciência, que usa o aforismo ou a profecia levando o leitor a incorporar-se no texto numa dialética ativa entre passado, presente e futuro, na qual ele é guia e consciência.

 As personagens são alvo da análise objetiva até à exposição do estatuto fictício e de inverosimilhança numa mistura de realista e ficcional, que é apresentada ao leitor revelando a meta-ficção histórica.

 A reconstrução do romance histórico em Saramago tem na personagem, como já indiciado, outro exemplo de subversão. Na tradicional ordenação das personagens do romance histórico, podia-se encontrar o protagonista-tipo, representante das evoluções do momento histórico-social e as figuras históricas típicas. Estes elementos são a antítese em Saramago.

 Resgatando narrativas orais populares, fazendo uso da ironia, utilizando o discurso indireto livre, José Saramago dá a Levantado do Chão um tom ensaístico, sem compromisso com a verdade na medida em que tenta abranger a totalidade das relações humanas e sociais, mesmo que esteja ciente de que o fará sempre de maneira precária pela própria contingência de saber que constrói um discurso. O conhecimento daquilo que se apresenta no texto é, não raramente, acompanhado da discussão do próprio fazer literário.O discurso metaficcional revela ao leitor a consciência de que se trata de um relato sobre a realidade, e não da realidade em si: o(s) narrador(es) sabe(m) que a representação fiel da realidade é impossível na dimensão do discurso e, neste sentido, o romance rompe com o compromisso de verdade assumido pelos neo-realistas.

TEMPO

 A história contada por Saramago atravessa vários períodos de Portugal, desde a época da monarquia, no início do século XX, o fim da monarquia, a república, a ditadura e a volta da liberdade no final do século XX. 

ESPAÇO

 Portugal - Alentejo.

 O espaço romanesco em Levantado do chão é constantemente identificado com grandes extensões de terra, com planícies e vales cuja dimensão mal pode ser abarcada pelo olhar humano. 

 Na prisão que é o Latifúndio, a relação do trabalhador com o seu espaço é extremamente árida. Para ele, a lida com a terra se dá de maneira esgotante, causando amargura e sofrimento. Não existe amor na execução mecânica de tarefas que farão o solo frutificar para um maior enriquecimento de seus donos. Contudo, no espaço ficcional criado por Saramago, o trabalhador rural, cuja condição por séculos apresentou-se imutável, pôde transformar a sua situação. Acompanhando a história da família Mau-tempo, podemos perceber como isso se deu.

 João, patriarca da família e protagonista do romance, desde pequeno estabelece uma relação muito estreita com o espaço onde mora e trabalha. A consciência de que as terras que ele cultiva pertencem a homens que exploram seu trabalho é muito forte. Tão forte que, mesmo sem ter o que comer e o que dar de comer aos seus filhos, fá-lo resistir à pressão dos latifundiários para que a colheita seja feita mediante um pagamento miserável. Quando o feitor insiste em dizer que não serão pagos mais de vinte e três escudos pela jorna, João está decidido:

(...) É então que João Mau-Tempo abre a boca e as palavras saem, tão naturais como se fossem água a correr de boa fonte, Ficará a seara ao pé, que nós não vamos por menos. (LC, p.141)

 O narrador, absolutamente simpático à causa dos trabalhadores rurais, como fica claro na comparação que ele estabelece entre as palavras de João e a água de boa fonte, já afirmara, páginas antes: "Posto em seu devido tempo na terra, o trigo nasceu, cresceu e agora está maduro" (LC, p. 138). Estabelecer correspondência entre o trigo e os lavradores é inevitável: é chegada a hora de seu amadurecimento político. Depois de um longo processo, nascimento e desenvolvimento, a consciência dos homens finalmente manifesta-se em toda a sua plenitude. E a mobilização dos trabalhadores para que a oferta dos patrões não fosse aceita mapeia todo o Latifúndio:

(...) Não tinha havido multiplicação dos peixes, havia multiplicação dos homens. Ali se fizeram dois grupos, dividiu-se o itinerário, uns tantos para o Pendão das Mulheres, outros para o Casalinho, e neste monte tornariam a juntar-se todos para distribuir outra vez. (LC, p. 145)

 Percorrer as terras é, nesse momento, uma forma de se apropriar delas. Semeando a resistência contra a exploração dos patrões, os homens afirmam o seu direito de serem respeitados e dignamente pagos pelo seu trabalho. O resultado desse movimento é a vitória dos grevistas. Os latifundiários resignam-se a pagar trinta e três escudos pela jorna e os trabalhadores comemoram o fato entusiasticamente. O que vem logo depois, é fácil de se prever: João e os outros grevistas são presos e torturados. A humilhação e a dor, levadas às últimas conseqüências, não conseguem, porém, desencorajar a luta dos lavradores.

 A metáfora, o latifúndio é um mar interior, que marca o início de um dos últimos capítulos da narrativa, alude às seculares relações sociais existentes no espaço conformado pelo Latifúndio e à ininterrupta mobilização que incansavelmente operam os trabalhadores rurais. Nesse universo, em que os peixes miúdos garantem o sustento dos peixes maiores e mais vorazes, a aparente ordem das coisas pode, algumas vezes, ser abalada pelas marés e ressacas. É o que acontece quando os lavradores reivindicam o direito de trabalharem oito horas por dia. Outra vez o espaço do Latifúndio é percorrido para que todos possam se engajar no movimento: 

(...) Anda uma voz pelos caminhos do latifúndio, entra nas vilas e nas aldeias, conversa nos montes e nos montados, uma voz de duas palavras essenciais e de outras muitas que explicam essas duas, oito horas, (...) (LC, p. 328)

 Depois de os trabalhadores rurais alcançarem mais uma vitória, acontece finalmente o 25 de Abril. Mas as comemorações públicas e livres do Primeiro de Maio, que sucedem a Revolução e enchem os corações de alegria, logo dão lugar às antigas formas de opressão no latifúndio. Os Bertos unem-se para que a ordem se mantenha e negam a colheita aos trabalhadores com o intuito de que eles aceitem as vergonhosas condições de outrora. A resposta a esse desmando não demora:

E então num sítio qualquer do latifúndio, a história lembrar-se-á de dizer qual, os trabalhadores ocuparam uma terra. Para terem trabalho nada mais, cubra-se de lepra minha mão direita se não é verdade. E depois numa outra herdade os trabalhadores entraram e disseram, vimos trabalhar. E isto que aconteceu aqui, aconteceu além, é como na primavera, abre-se o malmequer do campo, e se não vai logo Maria Adelaide colhê-lo, milhares de seus iguais nascem em um dia só, é assim como o noivado desta terra. (LC, p. 361)

 A ocupação das terras alastra-se como os malmequeres. Em pouco tempo, todas as herdades são invadidas. Uma multidão avança e, em clima de festa, perfaz a caminhada pela posse da terra:

Depois das Mantas vão ao vale da Canseira, às Relvas, ao Monte da Areia, à Fonte Pouca, à Serralha, à Pedra Grande, em todos os montes e herdades são tomadas as chaves e escritos os inventários, somos trabalhadores, não viemos roubar, afinal nem há aqui ninguém para afirmar o contrário, porque de todos os lugares percorridos e ocupados, montes, salas, adegas, estábulos, cavalariças, palheiros, malhadas, cantos, cantinhos e escaninhos, pocilgas e capoeiras, cisternas e tanques de rega, nem falando nem cantando, nem calando nem chorando, estão Norbertos e Gilbertos ausentes, para onde foram, sabe-se lá (...) (LC, p. 364)

 A ausência dos donos do Latifúndio explica-se pela fuga em massa empreendida quando sua condição de senhores da terra se mostra insustentável. Sem o apoio da Igreja, retraída à espera dos novos rumos da História, e sem o apoio do novo governo revolucionário, grande parte dos latifundiários deixa o campo e, desse modo, as fazendas podem ser legitimamente ocupadas por aqueles que sempre nelas trabalharam.

 A apropriação do espaço consuma-se de forma a concretizar a tão esperada justiça conclamada pelo narrador desde o início do romance. Levantados do chão, os trabalhadores rurais apossam-se das propriedades agrícolas e sentem-se livres para viver uma realidade sem a exploração do próprio trabalho.

CARACTERIZAÇÃO DAS GERAÇÕES QUE COMPÕEM A NARRATIVA

1ª geração: Tempo de silêncio. São pessoas acuadas pela religião, pela opressão do governo e exploradas pelos donos das terras. A vida é marcada pelo conformismo e não vêem nenhuma perspectiva de mudança. A primeira geração é representada pelo casal Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição cuja vida é pontuada pela errância e pelo sofrimento. 

2ª geração: tempo das perguntas. Os homens passam a questionar sua situação e a ver que algo pode mudar e que a mudança depende deles, da sua coragem para enfrentar os donos das terras , o governo e se revoltar contra a Igreja. É representada por João Mau-Tempo, e é a geração que começará a tomar consciência da importância da luta.

3ª geração: Tempo da luta. Os homens passam a fazer greves e a lutar pelas mudanças que desejam. Nesse período, muitos são presos e outros tantos morrem. Manuel Espada é o revolucionário que marca essa época.

 Maria Adelaide é a possível resposta para o tempo das perguntas, porque assiste ao fim da ditadura e da geração dela para frente, tudo pode ser construído de maneira diferente, só depende dela.

ENREDO

Introdução: O autor faz reflexões sobre a questão agrária: "o que mais há na terra é paisagem" e a importância do dinheiro: "o lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar onde os santos mudam de nome quando vem a ter que ser, mas o latifúndio não." Propõe-se, então, a contar uma história diferente de toda a situação de amargura de desespero do homem do campo: crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio Mas tudo pode ser contado de outra maneira.

1ª geração: Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição

 O livro tem início com uma grande chuva, que marca a chegada da família em São Cristóvão: "Chamo-me Domingos Mau-Tempo e sou sapateiro Disse um dos homens sentados a sua graça, Mau tempo trouxe vocemecê." Essa família saiu de Monte Lavre porque a vida estava difícil. A mulher, Sara da Conceição, é extremamente oprimida pelo mundo masculino. O marido entra na taberna e ela é obriga a ficar com o filho João do lado de fora, pois "a taberna é sítio dos homens". Depois de saírem de lá, buscam um lugar para ficar, e encontram uma casa simples, sem janelas. Sara sente que está grávida novamente, mas teme comentar com o marido.

 O primeiro filho do casal, João Mau-Tempo, se dá muito bem com a mãe. Ele foi a causa do casamento de Sara e Domingos, pois ela se entregou a ele, solteira, no meio dos trigos, no mês de Maio, ficando grávida. O menino nasceu com olhos azuis e o autor nos explica que isso é uma descendência germânica que aparece em alguns membros dessa família.

 Com o passar do tempo, Domingos começa a beber muito e Sara constantemente é obrigada a ir buscá-lo no meio da noite, em lágrimas. Devido às dívidas que Domingos fez na taberna, a família foi obrigada a se mudar novamente e Sara dá a luz a Anselmo, no meio de muita dor e sofrimento.

 Na outra cidade, Landeira, Domingos é acolhido pelo Igreja do padre Agamedes, mas não abandona a bebida a acaba cobiçando uma mulher que vivia com o padre. Devido a isso, passou a ser mal visto na paróquia, mas jurou que se vingaria do padre, que o havia repreendido. Nomeio de uma missa, brigou com o pároco e eles rolaram as escadas da Igreja. Por causa desse acontecimento, a família se viu obrigada a se mudar para outro lugar.

 Nesse momento, o narrador interrompe a história para localizar o leitor no momento histórico que Portugal atravessava. A monarquia havia caído e chegara a República, mas nada mudou na vida do homem do campo: "ente o latifúndio monárquico e o latifúndio republicano, não se viam diferenças."

 Nessa época, os camponeses resolveram se juntar e ir ao administrador da fazenda, pedir melhores condições de vida. Lamberto, dono do latifúndio chama a polícia e muitos apanham e são presos e mortos.

 Retomando a narrativa, percebemos que Sara têm mais dois filhos, Maria da Conceição e Domingos, entretanto, somente João tinha olhos azuis.

 Com a passar dos anos, Domingos começou a desaparecer por algum tempo e depois voltar para casa. Sara, desesperada, voltou para a casa dos pais com os filhos. Domingos chegou a procurá-la algumas vezes, mas ela se separou definitivamente e se escondia dele. Sem ver sentido em sua vida, Domingos se enforca. Sara ainda cuida dos filhos e dos netos, mas passa a ter sonhos com Domingos e acaba ficando louca e morrendo doente.

2ª geração: João Mau-Tempo e Faustina

 João, como filho mais velho, assume a família e começa a trabalhar desde pequeno. O mundo está em guerra e eles passam muitas dificuldades. "João não tem corpo de herói. É um pelém de dez anos retacos, um cavaco de gente que ainda olha as árvores... É uma injustiça que se lhe faz obrigá-lo a levantar-se ainda noite fechada, andar meio a dormir e com o estômago frouxo o pouco ou muito caminho que o separa do lugar de trabalho e depois dia fora, até o sol posto, para tornar a casa outra vez de noite, morto de fadiga, se isto é ainda fadiga, se não é já transe de morte."

 Um pouco mais velho, João, então, conhece seu grande amor, Faustina, e decidem se casar. A família da menina não permitiu a união e eles fugiram, levando um pedaço de pão e chouriço para comer : "Em pouco tempo perdeu Faustina a sua donzela, e, quando terminaram lembrou-se João do pão de do chouriço, e como marido e mulher o repartiram"

 Enquanto isso, o povo continuava a viver oprimido pelos bertos, apanhando muito do feitor da fazenda, sem poder reclamar.

 João e Faustina têm três filhos, Antônio, Amélia e Gracinda. Antônio começa a trabalhar desde cedo, como o pai. O trabalho no campo é duro e os homens começam a se organizar em torno do comunismo. Sobre isso, o narrador afirma: "Outros, porém, já se levantaram, não no sentido próprio de quem suspirando se arranca do doloroso conforto... mas naquele outro e singular sentido que é acordar em pleno meio dia e descobrir que um minuto antes ainda era noite." João acaba se envolvendo em um manifesto e vai preso. Historicamente, Salazar tinha assumido o poder em Portugal. O padre Agamedes, continuava trabalhando para oprimir o povo e tinha sempre um discurso de conformismo, fazendo os homens aceitarem a situação. Nesse período, um jovem idealista, chamado Manuel Espada se destaca, por ser revolucionário e querer mudanças para a vida do trabalhador. Ele e Antônio, filho de João Mau-Tempo, tornam-se amigos. Movidos pelo discurso comunista, Manuel, João e outro vão aos patrões para reclamar das condições de trabalho e pedir melhores salários. Acabam sendo presos por muito tempo. Faustina vai até lá, juntamente com as filhas Gracinda e Amélia . Manuel Espada e Gracinda se vêem e se apaixonam. Todos acabam voltando livres para casa e Manuel e Gracinda começam a namorar, apesar dele ser sete anos mais velho que ela.

3ª geração: Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo

 O casal não pode se unir de imediato, porque Gracinda é muito jovem e não tinha enxoval. Nesse período, Manuel é tido como o primeiro grevista de Monte Lavre, porque não aceita a opressão dos latifundiários. Gracinda, depois de três anos, sente-se pronta para casar e demonstra ter um pressentimento de que sua criança seria especial.

 Finalmente, chega o dia da festa e a cerimônia é realizada pela padre Agamedes. O narrador deixa claro que o padre não é o mesmo do início do livro: "nem o padre é o mesmo, as pessoas não são eternas". Na verdade, essa figura representa a igreja. O padre começa a fazer o seu discurso: "se não fôssemos nós, a igreja e o latifúndio, duas pessoas da santíssima trindade, sendo a terceira o Estado.. como sustentariam eles a alma e o corpo..." Antônio Mau-Tempo interrompe a fala do padre e faz um discurso altamente revolucionário, sabendo colocar o padre em seu lugar. O casamento se realiza e no dia seguinte, Manuel já tem que trabalhar.

 As agitações políticas no latifúndio aumentam e João acaba sendo preso novamente. A família fica em lágrimas e ele é condenado a trinta dias de isolamento. Lá, sofre muito, sendo insultado e espancado nas pernas. Quando João sai da cadeia, já está velho, mas seus olhos têm o mesmo brilho azul de outrora. Antônio que estava no exército, volta para casa porque tem problemas de saúde, e vem trabalhar no latifúndio. Gracinda fica grávida e Manuel e Antônio passam a trabalhar juntos.

 A criança do casal representa uma mudança "Quem em tudo isso não encontrar novidades, precisa que lhe tirem as escamas dos olhos ou lhe abram um buraco na orelha".

 A menina chama-se Maria Adelaide Espada, e nasce com os mesmos olhos azuis do avô. O narrador antecipa o significado disso: "quando ele chegar faremos a comparação e então ficaremos a saber de que azul enfim se trata". João chega e vai ver a menina "João Mau-Tempo vê que seus olhos são imortais".

 Historicamente, percebe-se que a ditadura continua. O narrador, que domina o texto, demonstra sua tristeza por perceber que a história não mudava, porém, os latifundiários se organizam novamente e o povo passa a pedir eleições livres: "o mar levanta-se, levantam-se os braços, as mãos trazem as rédeas ou trazem pedras apanhadas do chão (...) Era uma cena de batalha digna... Esta foi a carga do vinte e três de junho fixai bem a data na memória E quando os dragões passaram João Mau-Tempo não pode segurar as lágrimas, de raiva eram e de uma grande tristeza também. Quando será que acaba o nosso martírio" João chorava porque a ditadura não caíra com a insurreição dos camponeses.

 Porém, mais uma vez, os trabalhadores se organizaram e foi um grande momento da história do latifúndio. Era o mês de abril, período em que aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos, que finalmente acabou com a ditadura. "foi-se deslaçando a sagrada aliança" João fica doente e sabe que vai morrer. A neta Maria Adelaide vem para se despedir do avô e, ao se olharem, é como se "tivessem trocado de olhos".

 A menina está crescida e desde cedo começa a trabalhar longe. Já tem 19 anos e percebe que não foi criada para ser princesa, mas tem sonhos. Um dia, quando está voltando do trabalho para casa, percebe que algo mudou. Pressente que a ditadura chegou ao fim pela revolução do povo. "é como se tivesse vivido sempre com os olhos fechados e agora, enfim, os tivesse ‘abrido’ ...é dona da sua liberdade." Maria Adelaide começa a chorar e a gritar: "Viva Portugal". No dia 1º de maio, dia do trabalho, ela caminha pelas ruas de seu país: está aqui escrito que o primeiro de Maio será festejado livremente, é dia feriado em todo o país "Tanto se apregoou de mudanças e de esperanças, saíram as tropas dos quartéis, coroaram-se os canhões de ramos e de eucalipto e os cravos encarnados, diga vermelhos, minha senhora, diga vermelhos, que agora já se pode".

 "Depois se Maria Adelaide começar a chorar não se admirem, chorará nesta mesma noite quando ouvir dizer a voz na rádio, Viva Portugal, será nesse mesmo instante, ou já terá sido antes, às primeiras notícias de ontem, quando atravessou rua para ver mais perto os solados...ela sabe, percebe que a vida mudou." No meio da festa do povo e junto de Maria Adelaide, estão Domingos, Sara, João, Faustina, e tantos outros que morreram na luta pela liberdade e pela reforma agrária. Todos vieram ver de perto esse dia "levantado e principal".

COMENTÁRIOS

Mau-Tempo - Família que representa o sofrimento do homem do campo português e o mau tempo da ditadura. "Há quem diga que sem o nome que temos não saberíamos quem somos, é um dito que parece perspicaz e filosófico." "Esta família Mau-Tempo parece escolhida pelo destino para negros casos".

Olhos Azuis - Certas pessoas dessa família nascem com olhos azuis. "...outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher sua infusa, viu chegar-se um daqueles estrangeiros que...desatendendo aos gritos e rogos da donzela, a levou a uma espessura de fetos, onde, a seu prazer, a forçou. Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado no sangue... Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram, tal como cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não se conta..."

História de Portugal - Monarquia / República: "O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jornada de um homem. Viva a República! Viva o patrão!"

Guerra - "É a guerra aquele monstro que primeiro devore os homens lhes despeja os bolos, um por um, moeda atrás de moeda... Em alguns lugares ao redor houve gente que pôs o luto, o nosso parente morreu na guerra. O governo mandava condolências, sentidos pêsames e dizia que a pátria."

Ditadura de Salazar - "Viva Portugal...estamos aqui reunidos....como continuadores da grande gesta lusa e daqueles nossos maiores que deram novos mundos ao mundo e dilataram a fé e o império, mais dizemos que ao toque do clarim nos reunimos como um só homem, ao redor de Salazar, o gênio que consagrou a sua vida, aqui tudo grita Salazar Salazar, ...abaixo o comunismo, morram os traidores da pátria , morram..."

Fim da Ditadura -  Revolução dos Cravos.

Posição da Mulher - Percebe-se que a mulher também se levanta do chão. Sara é oprimida pelo mundo masculino; Faustina tem maior participação na vida da família e na vida do marido; Gracinda é mais decidida e tem opinião forte, personalidade; Maria Adelaide marca o levantar da mulher na sociedade, porque é independente, trabalha desde cedo e recebe a missão de mudar (olhos azuis). 

 "De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga" (Sara).

 "De homens se continuará a falar, mas também cada vez mais de mulheres... é que os tempos vêm aí..." (Faustina).

 "...afinal não é tão grande a diferença assim entre mulher e homem, a não ser o salário." (Gracinda).

 "...ela sabe, percebe que a vida mudou." (Maria Adelaide).

Latifúndio X mar

 "O latifúndio é o mar interior. Tem seus cardumes de peixes miúdos e comestíveis, suas barrancudas e piranhas de má morte... É mediterrâneo...dizer que o latifúndio é um mar...se esta água agitarmos , toda a outra em redor se move, às vezes de tão longe que os olhos o negam, por isso chamaríamos enganadamente pântano a este mar, e o que fosse.. Este é o grande mar do latifúndio... A este mar do latifúndio chegam ressacas, pancadas, empurrões das águas e quando às vezes basta derrubar um muro, ou simplesmente saltá-lo...muito se irá falar do latifúndio, qual mar, qual nada, o que isto é, é terra as mais das vezes seca, por isso é que os homens dizem Quando será que matamos a sede".

 Saramago inova, porque com o livro Levantado do chão, demonstra que a única solução para Portugal é ‘levantar do chão’. Deixar de aguardar soluções maravilhosas e míticas e lutar pelo país.

 Fontes: 
Vima Lia Rossi Martin, USP | Camile Tesche, Mestra em Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. Disponível em PASSEIWEB 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 677)


Uma Trova de Ademar  

Nenhuma voz é afinada 
e de entonação tão bela, 
igual a da passarada 
que canta em minha janela... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Desde o berço à sepultura 
caminharei sem temor, 
conduzindo esta ventura: 
ter nascido trovador. 
–Gilson Faustino Maia/RJ– 

Uma Trova Potiguar  

Quatro linhas, transcrição 
de impulsos que vêm do peito, 
eis a Trova, sem senão, 
dos versos o mais perfeito! 
–Fabiano Wanderley/RN– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Saudade, uma imensa conta, 
com juro que sempre dobra. 
Se chega um dia a tal monta 
vem a solidão e cobra! 
–Francisco Macedo/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011  -  Nova Friburgo/RJ 
Tema  -  RECADO  -  2º Lugar 

Em momentos exaltados 
sem poder falar e agir, 
o silencio dá recados 
que poucos sabem ouvir! 
–Alba Cristina C. Neto/SP– 

U m a P o e s i a  

Pus um jarrinho com terra 
no batente da janela, 
plantei roseira amarela 
onde a beleza se encerra; 
mas era tempo de guerra, 
de conflito e confusão; 
deram um tiro de canhão 
que o globo inteiro abalou, 
meu lindo jarro tombou 
e a terra caiu no chão. 
–Chico de Sousa/PB– 

Soneto do Dia... COM RESPOSTA! 

SONETO AO THALMA TAVARES. 
–José Tavares de Lima/MG– 

Prezado Thalma, finalmente sei 
porque tantos te querem como amigo: 
és um nobre partícipe da grei 
que no meio do joio planta o trigo... 

Teu coração imenso encerra a Lei 
do amor ao semelhante, ao dar abrigo, 
como o palácio de um bondoso rei, 
à dor do aflito e ao frio do mendigo!... 

O teu grito poético se expande 
com um poder persuasor tão grande, 
tão hoje necessário e tão fecundo, 

que até quem for desiludido e triste, 
lendo os teus versos vai sentir que existe 
ainda uma esperança para o mundo... 

OUVINDO SALUSSE. (Resposta) 
–Thalma Tavares/SP– 
(Ao Poeta José Tavares de Lima/MG) 

Apesar de saber-me impertinente, 
de ser meu verso pálido e agreste, 
eu venho aqui, também modestamente, 
dizer-te o que ao Salusse tu disseste. 

Eu, que não sou nem cético nem crente, 
cuido ouvi-lo dizer do azul celeste: 
- Enternece-me, ó Lima, o comovente, 
o expressivo soneto que me deste! 

E ele diz mais: - Tudo nele me encanta, 
desde o lirismo à ideia que levanta 
meu velho sonho de imortalidade... 

São filigranas da alma, gentileza 
de um coração que em tudo acha beleza 
porque é feito de luz e de bondade!.

domingo, 23 de setembro de 2012

Mario Quintana I


Ademar Macedo (Retrato Poético de Minha Infância)


Trovas Sobre a Primavera


Primavera (ilustração de Taro Semba)
Não há mal que seja eterno,
dor não há que sempre dure... 
– Não deixa tristeza o inverno
que a primavera não cure!
A. A. DE ASSIS (MARINGÁ/PR)

Triste, lembro a primavera 
cheia de luz e alegria, 
em que tendo a vida à espera, 
eu sonhava e não vivia!
CAROLINA RAMOS (SANTOS/SP)

Jamais chores o abandono 
da primavera que finda... 
pode haver frutos no outono 
que tu não provaste ainda! 
CAROLINA RAMOS (SANTOS/SP)

Desfloram ipês, sem pressa,
de Agosto ao fim da estação,
e a Primavera começa,
tapetando-nos o chão.
DOROTHY JANSSON MORETTI (SOROCABA/SP)

O ramo seco de hera,
entre páginas guardado,
é um marco da Primavera,
que me restou do passado.
DOROTHY JANSSON MORETTI (SOROCABA/SP)

No uivar do vento, clamores...
-ah! mais vida, quem me dera!
Súplica vinda das flores,
quando finda a primavera.
FRANCISCO JOSÉ PESSOA (FORTALEZA/CE)

Nossa retina é quem sente
quanto a natureza é bela...
na primavera, silente,
as flores falam por ela!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA (FORTALEZA/CE)

Todo amor se circunscreve 
às ações puras, sinceras. 
Assim, colhemos, de leve, 
as mais belas primaveras. 
WAGNER MARQUES LOPES (PEDRO LEOPOLDO/MG)

Fonte:
Trovas enviadas pelo/a/s autor/es/as

Trova 229 - Eliana Ruiz Jimenez (SC)


Jacqueline Aisenman (Sonho de uma Noite de Primavera)


Porção de mim se ausenta e distancia
parte num sonho na noite mulher
envereda por uma trilha qualquer
alcança o mundo que a alma via

Revê amigos, canta, lembra vidas
sorri do mundo que deixou atrás
entre o azul do céu e o coração lilás
encanta e se encanta com tantas guaridas.

Noite que passa, passa junto com as horas
sonho que vai na dança até chegar a aurora
e a alma baila, baila ao som de uma quimera

Amanhecendo parte o sonho enquanto a volta
se faz feliz tendo a lembrança como escolta
mostrando a chuva e a flor e o ar da primavera.

Fonte:
A Autora é de Genebra, Suiça

Antonio Hugo / SP (Noite de Primavera)


Floriu da noite pro dia
lindas flores são aquelas,
flores que você colhia
rosas brancas e amarelas.

Floriu em tempo de flores
no início da primavera,
flores para os meus amores
nunca vi flores tão belas.

Só vi uma flor igual...
a que eu tinha na lapela,
de tão usada murchou.

Flor que plantei no quintal
colhi pra ofertar a ela,
ela, que é meu doce amor.

Fonte:
http://sitedepoesias.com/poesias/14386

Ialmar Pio Schneider (A Primavera...)


Primavera em Porto Alegre
Dentre as estações do ano, principalmente aqui no sul, onde são mais definidas, é a que traz amenidades, prenunciando o próximo verão de sol ou de chuva, mas também de águas salgadas e areia, aos que se dirigem às praias, tão convidativas nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março. Nesse período, os que têm condições de fazê-lo, vão ao litoral, nem que seja por quinze dias, a fim de refazer-se um pouco da estafa adquirida no dia-a-dia. 

Outrossim, representa também a quadra da vida, quando se está na adolescência, tão decantada pelos poetas, tais como Casimiro de Abreu e Pe. Antônio Tomás que nos deixou o soneto inesquecível: 

“CONTRASTES”  

“Quando partimos, no verdor dos anos, 
da vida pela estrada florescente, 
as esperanças vão conosco à frente 
e vão ficando atrás os desenganos. 

Rindo e cantando, céleres e ufanos, 
vamos marchando descuidosamente... 
Eis que chega a velhice de repente, 
desfazendo ilusões, matando enganos. 

Então nós enxergamos claramente 
como a existência é rápida e falaz, 
e vemos que sucede exatamente 

o contrário dos tempos de rapaz: 
- os desenganos vão conosco à frente, 
e as esperanças vão ficando atrás.”

Isto me leva a meditar num passado recente, porque a vida é efêmera, e não faz muito navegava nessa fase, percorrida sem grandes lances aventureiros. 

Conservo ainda enraizados aqueles devaneios que me assaltavam o pensamento na juventude pacata e laboriosa. Sempre lutando por dias melhores, desde a infância, consegui algum progresso relativo, o que me leva a acreditar no estudo e no trabalho.

E muitas vezes me surpreendo ao deparar com acontecimentos já presenciados outrora, que pareciam sepultados na tumba do tempo, mas que surgem avivados qual uma brasa encoberta pelas cinzas. São as reminiscências que nos fazem, enfim, reviver alguns momentos mais representativos ao longo de nossa caminhada pelo mundo. Aos treze anos de idade, quando praticava datilografia, cujo ensino me era ministrado por uma freira, numa sala da escola em que concluía o curso primário, há mais de quarenta anos, havia um piano no qual algumas meninas aprendiam a tocar. De uma delas recordo bem; as outras me parecem névoas que se dissiparam. Embora minha paixão pela música, meu dever era a datilografia e não o piano. Hoje só me resta dizer: 

“Parece que foi ontem !” São os desígnios da existência...
____________________________
Poeta e cronista 
Publicado em 29 de setembro de 1999 - no Diário de Canoas.

Paulo José de Oliveira (Pajo) (Aquarela Primaveril)


É Primavera... 
E o verde se refaz ao findar de mais um ano 
Chega-se à estação que finaliza um ciclo 
Transformando e renovando a biosfera 
Brindando a terra no precipitar das chuvas 
Deslumbrando a natureza em sons e aquarela 
É Primavera... 
E brilha o sol reluzindo e aquecendo os dias 
Chegam flores num desabrochar em cores 
Em novos frutos gerando alimento 
Dilatando sentimentos e o amor a nutrir 
Produzindo alegria, esperanças e novas vidas 
Impregnando almas, exalando fragrâncias 
Incendiando corações a afagar o co-existir 
É Primavera... 
E vem o beija-flor a sugar o néctar 
Nas multicores em que os olhos se extasiam 
De frutos mil que alimenta a humanidade 
Refaz-se a vida, o homem e seus demais seres 
Os rios antes agonizantes, agora se agitam 
É estação de se degustar novos sabores 
É Primavera... 
É então, quando as noites parecem ter mais estrelas 
Os dias se mostram com especial brilho 
Aves e animais ressurgem em seus ninhais 
Os mormaços prenunciam o germinar 
E as torrentes no telhado a trepidar 
Torna-se canção noturna de acalanto 
Ou terapia para o corre-corre do dia-a-dia 
É Primavera... 
Tornam-se mais belos, nossos jardins e quintais 
A primavera engorda a inspiração do poeta 
Que traduz em versos sentimentos e emoções 
E todas as ações e reações tornam-se mais efusivas 
As faces se iluminam em largos sorrisos 
Que mesmo em dias nublados 
se mostram no romantismo 

(Este poema é parte do meu livro: Galácticus: A Sinfonia das Quatro Estações - Pajo)

Ademar Macedo (Primavera)

Primavera no Sertão Nordestino
Pra o Poeta e Trovador
que é onde o verso prospera,
eu mando um buquê de flores
que a natureza libera;
e numa grande investida
faço verso e pinto a vida
com cores da primavera!

Dorothy Jansson Moretti (Ainda … A Primavera)


O tempo corre em compasso inclemente,
levando pais, amigos, mocidade;
e um dia percebemos que saudade
é agora a sombra única e presente.
Não resistiram à fragilidade
os nossos sonhos bons de adolescente;
e outros de fase ainda não descrente,
há quanto tempo jazem na orfandade!
As estações sucedem-se, entretanto;
não as atinge o nosso desencanto...
Verão, Outono, Inverno... Ah quem me dera
que abrindo essas janelas do passado,
eu sentisse que nada foi mudado,
e que lá fora... ainda é Primavera!

Fonte:
A Autora

Isabel Furini (Amanhecer)


Nos interstícios da manhã
o Sol descansa entre pequenas nuvens. 
Céu azul e vento poético 
derramam versos sobre as madressilvas do jardim. 

Imprevisível, 
a poesia percorre as pétalas das palavras. 
A beleza das orquídeas desata fantasias 
e partimos em viagens oníricas, 
entre poemas que cavalgam com ímpeto feroz. 

No campo de batalha 
os poemas lutam contra o materialismo globalizado. 
Erguem-se 
(eternos) 
sobre a indiferença e o esquecimento. 

Fonte:
A Autora

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 676)


Uma Trova de Ademar  

Num afago em seus cabelos, 
num carinho em sua face, 
vi que, através de desvelos, 
um grande amor também nasce... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Quando chega a primavera 
espalhando luz e cores 
os jardins vibram na espera 
do manso parto das flores! 
–Héron Patrício/SP– 

Uma Trova Potiguar  

No mundo da poesia, 
faço real cada sonho 
sem pensar na fantasia 
das estrofes que eu componho. 
–Tarcício Fernandes/RN– 

Uma Trova Premiada  

2009  -  Nova Friburgo/RJ 
Tema  -  SAUDADE  -  M/H 

Praça da minha cidade
onde hoje volto tristonho,
vim, nos rastros da saudade,
matar saudades de um sonho !…
–Tereza Costa Val/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

A bengala cor da paz,
que o homem cego conduz,
tem um mistério que faz
o som transformar-se em luz! 
–Hermoclydes S. Franco/RJ– 

U m a P o e s i a  

Pra que eu com mansão no litoral 
se um rancho está bom no pé da serra, 
se eu fizer prédio alto aqui na terra 
lá no céu vai faltar material, 
o meu curso maior foi o mobral 
o meu livro tem sido a escritura, 
pra que eu aprender literatura 
se a palavra de Deus me aperfeiçoa, 
pra que tanta riqueza se a pessoa 
nada leva daqui pra sepultura. 
–Fernando Emídio/PE– 

Soneto do Dia  

IMPOSSÍVEL. 
–Rogaciano Leite/PE– 

Tudo findo. Deixaste-me e seguiste 
o primeiro que veio ao teu caminho;
não pensaste sequer que fiquei triste
preso à desgraça de viver sozinho!

Dois longos anos!... Nunca mais me viste!... 
Foram-se as aves, desmanchou-se o ninho!... 
Hoje, me escreves: "Meu viver consiste 
na mistura de lágrimas e vinho!"

E me imploras: "Perdoa-me e consente 
que eu vá viver contigo novamente, 
pois só contigo poderei ter paz!"

Eu te perdoo... mas o empecilho é este: 
eu amava aquela alma que perdeste... 
Alma que nunca reconquistarás!...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana e Campos (Cinco em Um)

Da esquerda para a direita: Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira,
Mário Quintana e Paulo Mendes Campos
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
PAPAI NOEL ÀS AVESSAS


Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.

Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.

Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.

Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

-
VINICIUS DE MORAES
O HAVER


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

--MANUEL BANDEIRA
RONDÓ DOS CAVALINHOS


Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

Consta que o poema acima, feito durante a "II Grande Guerra", foi escrito enquanto o autor almoçava no Jóquei-Clube do Rio de Janeiro, assistindo às corridas.

--MÁRIO QUINTANA
O MAPA


Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Ha tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Ha tanta moca bonita
Nas ruas que não andei
(E ha uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso…

--PAULO MENDES CAMPOS
POEMA DIDÁTICO


Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo
Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa.
Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos,
Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco.
No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me,
Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me,
Morto do meu próprio pensamento, destruí-me,
Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me,
Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo,
Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria
Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica,
E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais.
Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz,
Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio
E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar ?

Meu instante agora é uma supressão de saudades. instante
Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio
Que me confundiu outrora. Já deixei de amar os desencontros.
Cansei-me de ser visão, agora sei que sou real em um mundo real.
Então, desprezando o outrora, impedi que a rosa me perturbasse.
E não olhei a ferrovia - mas o homem que sangrou na ferrovia -
E não olhei a fábrica - mas o homem que se consumiu na fábrica -
E não olhei mais a estrela - mas o rosto que refletiu o seu fulgor.
Quem agora estará absorto? Quem agora estará morto ?
O mundo, companheiro, decerto não é um desenho
De metafísicas magnificas (como imaginei outrora)
Mas um desencontro de frustrações em combate.
nele, como causa primeira, existe o corpo do homem
– cabeça, tronco, membros, as pirações e bem estar...

E só depois consolações, jogos e amarguras do espírito.
Não é um vago hálito de inefável ansiedade poética
Ou vaga adivinhação de poderes ocultos, rosa
Que se sustentasse sem haste, imaginada, como o fiz outrora.
O mundo nasceu das necessidades. O caos, ou o Senhor,
Não filtraria no escuro um homem inconsequente,
Que apenas palpitasse no sopro da imaginação. O homem
É um gesto que se faz ou não se faz. Seu absurdo -
Se podemos admiti-lo - não se redime em injustiça.
Doou-nos a terra um fruto. Força é reparti-lo
Entre os filhos da terra. Força - aos que o herdaram -
É fazer esse gesto, disputar esse fruto. Outrora,
Quando ainda sofria sobre as armações metálicas do mundo,
Acuado como um cão metafísico, eu gania para a eternidade,
sem compreender que, pelo simples teorema do egoísmo,
A vida enganou a vida, o homem enganou o homem.
Por isso, agora, organizei meu sofrimento ao sofrimento
De todos: se multipliquei a minha dor,
Também multipliquei a minha esperança.

Olympio Coutinho (Histórias de trova, final) Trovas Premiadas

Abaixo, uma amostrinha das minhas trovas:Trovas premiadas
Olympio Coutinho


Por muito amar-te perdi
metade da minha vida
e agora perco, esperando,
a outra metade, querida.
I Jogos Florais de Pouso Alegre (MG) - Classificada - 1962

Felicidade... encontrei,
depois de buscar a esmo,
naquele dia em que olhei
para dentro de mim mesmo.
I Jogos Florais de Resende (RJ) – Classificada – 1963

- “Querido, diga porque
acorda sempre risonho?”
-“Um sonho lindo, você,
enfeita sempre o meu sonho”.
II Salão Campista de Trovas – Classificada - Campos (RJ) – 1964

Tenho ciúmes da lua,
ciúmes loucos, meu bem,
que passeia em tua rua
e no teu corpo também.
II Jogos Florais de Resende (RJ) – Classificada – 1965


Essas rosas que florescem
em jardins de casas pobres
são as mesmas que fenecem
enfeitando covas nobres?
I Jogos Florais da Guanabara – Classificada - Rio de Janeiro (GB) – 1965

Eu não lamento a saudade
que a tudo invade porque
é tão bom sentir saudade
quando a saudade é você.
I Jogos Florais da Guanabara – Classificada - Rio de Janeiro (GB) – 1965

A chuva que cai molhando
este chão que nós pisamos
parece Jesus chorando
pelo mundo que mudamos.
Incluída na Antologia “O Grande Rei”, organização de Aparício Fernandes

Eram alegres os meus olhos
e tristes eram os teus,
por serem tristes teus olhos
ficaram tristes os meus.
I Jogos Florais da Comunidade Lusíada –Menção Honrosa - São Paulo (SP) - 1965

Felicidade, um ranchinho
e, dentro dele, nós dois,
nove meses de carinho
e um molequinho depois.
II Concurso de Trovas do Almanaque do Recife (PE) – Classificada - 1965

Enganou-se a passarinho,
voando de flor em flor,
pensando que fossem rosas
os teus lábios, meu amor.
I Jogos Florais de Vila Isabel – Classificada - Rio de Janeiro (Guanabara) – 1965

Ao homem Deus deu a Terra
e veja o que o homem faz:
cria as hienas da guerra
e mata as pombas da paz.
Primeiro lugar no I Concurso Interno da Academia Mineira de Trovas – BH (MG) - 1999

A ciência se renova,
é a senhora da razão;
e o que melhor a comprova
é a grandeza do perdão.
3º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Menção Especial - 2008

Ao Pai implorou Jesus
para os incréus piedade;
mesmo pregado na Cruz,
deu lição à Humanidade.
4º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Classificada - 2008

Nos momentos de fraqueza
sofro dores, mas resisto,
toda a minha fortaleza
vem do exemplo de Cristo.
Concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor – Classificada - 2008

O trabalho do banqueiro
está no seu jogo impuro:
tem lucro com meu dinheiro
e ainda me cobra juro.
XXV Jogos Florais de Bandeirantes (PR) – Menção Honrosa/trovas humorísticas - 2008

Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - 4º lugar entre as cinco vencedoras - 2009

Um eremita perfeito
eu encontrei certo dia...
Era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - Menção Especial (4º lugar) em trovas humorísticas - 2009

Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
Não sou louco!... Eu sou poeta.
IV jogos Florais de Cambuci (RJ) – Uma das dez vencedoras – 2009

Na garganta ficou preso
o grito do meu desgosto
ao perceber que o desprezo
dói mais que tapa no rosto.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Uma das oito vencedoras - 2009

Desprezo eu senti de fato
ao ver em seus escaninhos
aquele nosso retrato
rasgado em mil pedacinhos.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Uma das oito vencedoras– 2009

Finges desprezo e eu não ligo,
vejo amor no teu olhar;
como diz ditado antigo:
“Quem desdenha quer comprar”.
XXI Concurso Cidade de Belo Horizonte (MG) - Menção Honrosa – 2009

Indiferença de leve
percebi nos olhos teus:
Tua boca disse: “Até breve!”
Teu coração disse: “Adeus!”
Concurso Inter-Sedes de MG – Menção Honrosa - 2009

Perdida não é a bala,
que gera um medo profundo,
mas aquele que se cala
ante a violência do mundo.
Trova de abertura do Manifesto do I Encontro dos Poetas del Mundo em BH (MG) – 2009

Leva a palha com carinho
e, depois, leva alimento;
assim é que o passarinho
mostra seu devotamento.
2º lugar no 5º concurso do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor - 2010

Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.
XI Concurso Literário Algarve/Brasil/Portugal – 2º lugar entre três vencedoras – 2010

Cultive a fraternidade
como quem cultiva a terra;
quem planta grãos de amizade
não colhe os frutos da guerra.
Juegos Florales Del Caribe - Classificada entre as dez vencedoras – 2010

O trem da vida ao destino
chega no horário marcado;
- Por que não desce o menino,
que embarcou tão animado?
Jogos Florais de Caxias do Sul (RS) – 1º lugar em trovas líricas e filosóficas– 2010

Um mau negócio o turista
faz no Rio de Janeiro,
pois enquanto vê a vista
fica a prazo sem dinheiro.
XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) - 4º lugar entre cinco menções especiais em trovas humorísticas - 2010

Feliz de quem não permite
que o domínio da razão
seja mais forte e limite
o que sente o coração.
3º Concurso de Trovas “Helvécio Barros” – Uma das nove vencedoras - Bauru (SP) – 2010

Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta tua
à minha sombra abraçada.
3º Concurso UniVersos – 1º lugar (Trova Ouro) - Caicó (CE) – 2010

Noel Rosa bem sabia
o que mata uma paixão:
A noite triste e sombria
sem luar e sem violão.
Concurso de Trovas “Antônio Roberto Fernandes” – Classificada entre as dez vencedoras em trovas líricas e filosóficas – São Francisco de Itabapoana (RJ) - 2011

Bem malandro é o Ademar,
de “fogo”, quase caindo,
entra de costa em seu lar
pra fingir que está saindo.
Concurso de Trovas “100 anos do Corpo de Bombeiro Militar de Belo Horizonte” – Menção Especial em trovas humorísticas – Belo Horizonte (MG) - 2011

A banda toca um dobrado
e o português logo diz:
- “Eta maestro apressado,
ninguém aqui pediu bis!”
LII Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ) – 2º lugar entre as dez vencedoras em trovas humorísticas – 2011

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta,
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) – 1º lugar entre as cinco vencedoras em trovas líricas e filosóficas – 2011

“Cada vez mais pobre fico...”
diz, num lamento, o agiota;
e vai ficando mais rico
quanto mais conta lorota.
XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) – 2º lugar entre as cinco vencedoras em trovas humorísticas – 2011

Do poeta o maior sofrer
assim pode ser descrito:
é a luta para escrever
o que nunca foi escrito.
V Jogos Florais de Cambuci (RJ) - Uma das 20 vencedoras - 2011

Detento muito gabola
dá drible no seu revês:
- Eu controlo bem a bola,
mesmo com duas nos pés.
XXI Jogos Florais de Porto Alegre (RS) - Menção Honrosa - 2011

No alpendre do casarão,
em permanente vigília,
Dirceu cantava a paixão
em versos para Marília.
Concurso de Trovas da UBT-BH – Uma das cinco vencedoras - 2011

Não fuja dos seus caminhos,
buscando atalhos a esmo;
quem tem medo dos espinhos
não acha a flor em si mesmo.
Concurso de Trovas da Pindamonhangaba - Uma das cinco vencedoras - 2012

Fonte:
O Autor

Olympio Coutinho (1940)

OLYMPIO da Cruz Simões COUTINHO nasceu em na zona da Mata mineira, em 9 de outubro de 1940. Em Ubá, fez o primário e o secundário, tendo exercido diversas atividades esportivas como atleta da Praça de Esportes (natação e basquete), do Tabajara Esporte Clube (basquete e vôlei) e do Esporte Clube Aimorés (futebol).

Já fazia trovas e mantinha correspondência com trovadores como J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio, Aparício Fernandes, Rodolfo Coelho Cavalcanti e muitos outros. Em 1962, foi para Belo Horizonte para estudar Jornalismo, tendo se formado em 1965: trabalhou na edição mineira da Última Hora, Folha de Minas, Jornal de Minas, Diário de Minas e Estado de Minas (onde entrou como repórter em 1967 e saiu como editor em 2003). Ainda em 1965 ingressou na Academia Mineira de Trovas e assumiu a cadeira nº 11 (patrono Casimiro de Abreu), tornando-se o mais novo acadêmico.

Em 1966, lançou a primeira edição de Festival de Trovas, que reunia 101 trovas feitas durante sua adolescência em sua terra natal, livro que ganhou como prefácio trecho de comentário de J. G. de Araújo Jorge, publicado no Jornal Feminino, suplemento literário de O Jornal, do Rio de Janeiro, em 1961:“Minas é a grande ilha no arquipélago da poesia brasileira. Terra de poetas e trovadores. Desde a primeira Escola de Poesia, com Gonzaga, Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa, até os modernistas autênticos, como o grande Drummond, alto e de ferro, mas musicado de águas como uma montanha de Itabira. Começo com estas palavras para falar de um trovador que desponta: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Ubá"... Já Rodolfo Coelho Cavalcante, em carta, escreveu: “O seu livro Festival de Trovas fez-me dizer sinceramente: o Brasil tem mais um bom trovador! Tanto no lirismo como no humorismo, o amigo é um bom trovador. Sorri bastante com o seu grande humor na questão dos “pintinhos”. Fazia tempo que eu não ria com uma boa trova e não queira saber a gostosa gargalhada que eu dei”.

Em 2003, Olympio criou e edita até hoje um jornal de bairro, o Jornal Sion: atualmente, edita ainda outros dois jornais de bairro (Lourdes e Lagoa Notícias), dirigidos por sua filha. Em junho de 2007, foi convidado para trabalhar na Assessoria de Imprensa do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG), onde permanece. Tendo interrompido sua produção literária em 1968, voltou a fazer trovas em 2008. Em 2009, ingressou na União Brasileira de Trovadores (UBT), seção de Belo Horizonte.

Fonte:
Blog do Pedro Mello