domingo, 17 de julho de 2022

XVIII Concurso de Trovas da UBT-Maranguape/CE (Trovas Premiadas) Veteranos


NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: ESPERANÇA [Lírica/Filosófica]

VETERANOS


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VENCEDORES

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1º. Lugar:
A esperança de um atleta
é o tempo de uma corrida,
mas quem tem o amor por meta
pode esperar uma vida!
Renata Paccola
São Paulo/SP
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2º. Lugar:
Ante a fúria da tormenta
que deixa a vida bravia,
a esperança me orienta
no rumo da calmaria.
Jerson Lima de Brito
Porto Velho/RO
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3º. Lugar:
A esperança inunda o peito
e nos traz a mansidão,
a força do seu efeito
vai direto ao coração.
Lucia Sertã
Nova Friburgo/RJ
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4º. Lugar:
Na casa semivazia,
só a saudade ficou;
a esperança fugidia
pra sempre me abandonou.
Jessé Fernandes do Nascimento
Angra dos Reis/RJ
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5º. Lugar:
Na trajetória da vida,
quando a escuridão avança,
transponho qualquer subida
seguindo a luz da esperança.
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP

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MENÇÕES HONROSAS
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6º. Lugar:
Ante essa cruel matança
provocada pela guerra,
tenhamos fé e esperança
de que a paz retorne à Terra!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina/PR
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7º. Lugar:
Numa "regressão da idade"...
volto ao meu lar... na lembrança.
Como se eu fosse, em verdade,
aquela eterna criança...
Juarez Francisco Moreira da Silva
Rio das Ostras/RJ
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8º. Lugar:
O povo cansado, aflito,
vive com insegurança
e procura, sem conflito,
encontrar paz e esperança.
Solange Colombara
São Paulo/SP
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9º. Lugar:
Na jornada, tão intensa,
deste mundo que nos cansa,
vão-se os sonhos na descrença,
voltam sonhos, na esperança.
Silvia Maria Svereda
Irati/PR
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10º. Lugar:
Com versos no pensamento,
a esperança me renova,
de inspiração me sustento...
Nesse "Universo da Trova"!
Nadir Nogueira Giovanelli
São José dos Campos/SP

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MENÇÕES ESPECIAIS
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11º. Lugar:
O tempo passou fugaz,
lépido, nem reparei...
Só recordo o que deu paz
e a esperança que guardei
Rachel Santo Antônio

São Gonçalo/RJ
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12º. Lugar:
Viver, sem perder a fé;
amar, sem perder ternura;
sonhar, manter-se de pé...
e a esperança, assim, perdura...
Elias Pescador
São Paulo/SP
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13º. Lugar:
Lutando pelo Nordeste,
no caminho do sertão,
a esperança cruza o agreste
com amor no coração.
Carlos Alberto de Carvalho
São Gonçalo/RJ
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14º. Lugar:
Feliz quem sobreviveu
ao medo da insegurança...
com certeza não perdeu
a ternura, fé, esperança.
Célia Terezinha Neves Vieira
Irati/PR
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15º. Lugar:
Há dito que diz - prudência -
nunca percas a esperança,
espera com paciência,
quem espera, sempre alcança.
Olívia Avarez Miguez Barroso
Parede/Portugal

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DESTAQUES
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16º. Lugar:
Amanhece. Uma luz mansa,
com sedução envolvente,
abre os olhos da esperança,
que acena e nos leva em frente!
Carolina Ramos
Santos/SP
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17º. Lugar:
Segue o barco da ilusão
singrando o mar na bonança,
no leme, o meu coração,
e o seu destino: a esperança.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG
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18º. Lugar:
Farol que brilha e conduz
na treva e na turbulência,
esperança ― régia luz
da Divina Providência!
Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro/RJ
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19º. Lugar:
Na luta do dia a dia,
persisto na minha andança,
e mesmo sem alegria,
seguro a mão da esperança.
Madalena Ferrante Pizzatto.
Curitiba/PR
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20º. Lugar:
Não deixe que lhe apoquente
as agruras desta vida
muita esperança acalente
e esta dor será vencida.
Cristina Cacossi
Bragança Paulista/SP
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NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: JOGO [Humorística]

VETERANO


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VENCEDORES
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1º. Lugar:
Ganhou no jogo do bicho
mas, em pânico ficou:
a sogra jogou no lixo
a aposta que ele marcou.
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG
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2º. Lugar:
Pelo jogo, o camarada
tinha mesmo compulsão:
apostou a namorada
e perdeu pro Ricardão.
Edweine Loureiro da Silva
Saitama / Japão
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3º. Lugar:
Ele é malandro exemplar!!!
No jogo é tão trapaceiro,
que até consegue roubar,
sendo, ele mesmo, o parceiro ...
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ
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4º. Lugar:
Na cancha, o jogo de bocha
disputa a final ali;
na cerca, um guri se acocha
e lá mesmo faz xixi.
Lóla Prata
Bragança Paulista/SP
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5º. Lugar:
Ao ver o velho marido
na sinuca, em jogo fraco,
diz pra amiga, ao pé do ouvido,
- falta firmeza no “taco”!
Edmar Japiassú Maia
Miguel Pereira/RJ

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MENÇÕES HONROSAS
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6º. Lugar:
Enquanto a sogra só quer
jogar chope na groselha,
ele seduz a mulher
fazendo o jogo da velha!
Renata Paccola
São Paulo/SP
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7º. Lugar:
Jogo não é para mim,
pois a sorte só malogra.
Tentei ganhar querubim
e acabei ganhando a sogra.
Denivaldo Piaia
Campinas/SP
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8º. Lugar:
O público masculino
briga quando a bola rola
mas, se o jogo é feminino,
ninguém dá bola pra bola!
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
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9º. Lugar:
No jogo da sedução
a beata recatada,
faz o pobre sacristão,
virar uma alma penada.
Caterina Balsano Gaioski
Irati/PR
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10º. Lugar:
Foi em um jogo de azar
que conheceu a consorte...
e viu que azar há de estar
onde se julga ter sorte.
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG

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MENÇÕES ESPECIAIS
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11º. Lugar:
Não tinha medo do fogo
nem da força da mulher;
levava bronca no jogo
e paulada com colher.
Roque Aloisio Weschenfelder
Santa Rosa/RS
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12º. Lugar:
Meu jogo foi bem jogado:
paguei com mesma moeda,
a foto dele pelado,
foi pior que minha queda.
Alice Gervason Marco Fernandes
Juiz de Fora/MG
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13º. Lugar:
Meu vizinho está com medo,
teme a mulher pôr-lhe fogo;
é que vazou seu segredo,
dois vícios, bordel e jogo.
Mario Moura Marinho
Sorriso/MT
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14º. Lugar:
Preguiçoso, trapaceiro,
o jogo era profissão,
mas encontrou um parceiro,
que o deixou sem um tostão!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina/PR
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15º. Lugar:
Teve o juiz um problema
com torresmo que comeu...
Com necessidade extrema
do jogo se escafedeu!
Therezinha Tavares
Nova Friburgo/RJ

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DESTAQUES
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16º. Lugar:
Com o olhar fixo no jogo
para o gol se preparou...
Anulado?! Com arrogo
a torcida, o pau baixou!
Silvia Alice de Carvalho Soares
Angra dos Reis/RJ
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17º. Lugar:
Quase o templo pega fogo,
quando houve a revelação,
que fiéis foram no jogo,
do cassino da traição.
Edson de Paiva
Rafael Godeiro/RN
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18º. Lugar:
Minha sogra foi goleira
mostrando arte que não tem.
No jogo virou frangueira
mas chutar sabia bem.
Abilio Kac
Rio de Janeiro/RJ
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19º. Lugar:
Nunca ele fora ladrão
mas, no jogo do destino,
perdendo até ao tostão,
foi assaltar o casino.
António José Barradas Barroso
Parede/Portugal
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20º. Lugar:
Dia de “Jogar do Bicho”,
sonhei com o Marcelão:
vinte quatro no capricho;
ou sete três do Pavão?
Madalena Ferrante Pizzatto.
Curitiba/PR
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continua… Estadual

Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 23: Crônica do desapontamento

 DIA DESSES, num desses points de fim de semana, eu estava com um amigo tomando umas cervejas. De repente, a mesa atrás de nós foi ocupada por três jovens. Mais que depressa, tratei de passar os olhos na trinca e confesso, me encantei à primeira olhada com a beldade dos cabelos compridos com algumas mechas vermelhas. Acho que ela percebeu a minha insistência e, para jogar gelo na minha afoiteza, ou qualquer resquício de tentativa de aproximação futura, se sentou de costas para meu total desagrado e irritação.

Marquinho, meu amigo, também se deixou levar pela beleza e a elegância das recém chegadas. Eu não sabia — ele estava de olho exatamente na moça que eu havia escolhido. Indaguei, de chofre, qual das princesas ele teria coragem de “levar um papo” e, para meu espanto, ele apontou a que me deixara de queixo caído. Literalmente os quatro pneus furados:

— Vamos atacar? — disse ele a certa altura.

— Dá um tempo. — observei. — Elas nem sequer tiveram tempo de esquentar lugar.

Rolou mais quatro cervejas. Resolvi “tirar o time de campo”.

— Você me deixa em casa? Amanhã acordo cedo. O trabalho me espera...

Marquinho balançou a cabeça e chamou o garçom para pedir a conta. Dividimos as despesas. Quando o rapazola voltou com o troco, lhe pedi que me fizesse um favor:

— Pois não! Diga o que deseja e terei  prazer em atender.

— Está vendo as três simpatias que chegaram faz bom tempo?

— Sim senhor.

Entreguei a ele um papel de guardanapo com meu nome e o número de telefone celular:

— Faça chegar este bilhetinho às mãos da que está de frente para o balcão de frios. A  beldade de costas para mim... os cabelos avermelhados...

Segui no encalço do meu amigo que já ia longe:

— Aposto que ela não liga. — disse desdenhando enquanto abria o carro. – Vale uma cerveja?

— Tranquilo. Porém, se ela cair na rede, você me deve meia dúzia.

— Fechado.

Uma semana inteira se passou. Nem sinal da garota do rosto atraente, sorriso maroto, cabelos compridos, alguns tufos carmesins, o porte de uma rainha dos contos de Meg Cabot. Contudo, quase um mês depois, deu sinal de vida:

— Alô...

— Pois não?

— Queria falar com o Casinho.

— É ele.

— Sou a Márcia.

— Márcia? Que Márcia?!

— Do barzinho. Você me mandou seu número de telefone pelo garçom.

— Ah! Agora estou lembrado. Você é a gatinha que ficou de costas?

— Ela mesma.

Marcamos um encontro para aquele mesmo final de noite. O lugar escolhido: uma pizzaria que não ficava muito distante de onde nos avistamos pela primeira vez. Para início de conversa, na bucha, depois da pizza regada a refrigerantes, arrisquei fazer um convite indecente. Pedi que viesse ao meu apartamento.

Para meu espanto e satisfação, ela topou. Prometi solenemente que a respeitaria e não tentaria nada que viesse magoá-la. Sentados no sofá da sala, diante da tevê, assistindo a um filme sintonizado ao acaso do controle remoto e bebendo um vinho que guardava para ocasiões especiais, coloquei as mãos em torno de seu rosto e escancarei o coração:

— Quer ser minha namorada?

Ela foi rápida, fria e ao mesmo tempo séria:

— Casinho, procuro um amigo. — disse com um sorriso largo. – Alguém em quem confiar. Preciso falar dos meus problemas. Careço de uma pessoa que tenha a paciência de Jó e me ouça. Para ser sua namorada, de papel passado, me acho muito complicada. Além do que, sou chata, imatura e sem chão. E olha que sequer mencionei ser extremamente maçante. Você não me aguentaria muito tempo... logo me mandaria embora com todas as minhas tralhas e atribulações...

Depois desse papo inaugural em meu apê — liguei para ela umas seis vezes. Se não me falha a memória, deve ter me retornado umas duas, talvez três, as ligações. Foi só. Márcia sumiu na poeira. Desapareceu tão silenciosa como chegou. No pouco tempo em que ficou, deixou no meu peito uma saudade estranha. Uma agonia que não demorou muito atingiu, em cheio, toda a parte fraca da minha carência.

Às vezes, na minha agonia gritante, fico imaginando se ela tivesse concordado com a proposta de namoro, logo no início, e assim, sem mais nem menos, topasse comigo em redor de um copo de cerveja colocando um anel de compromisso em seu dedo. Com certeza, hoje estaria sentindo mais forte a dor do chute no traseiro, virado quem sabe, às avessas, perdido num certo éter de um círculo do nada, sendo premido, massacrado por estiletes me cortando impiedosamente os pulsos, ou por outra, apunhalado por fantasmas iracundos e desintegrados de algum tipo de essência.

De certo, de palpável, de conciso, a Márcia passou pela minha vida como um cometa. Um sonho gostoso e bom, uma quimera que durou apenas o tempo de uma pizza e, logo depois, de um copo de vinho gelado. Márcia, pequena luz concêntrica, esperança que brilhou dentro de mim, de maneira muito forte e abundante. Da sua voz restou o desprovido de conteúdo. Da sua presença adocicada, o adeus sem regresso. Permaneceu também a imensidão dos carinhos e afagos, dos beijos e abraços que deixaram de ser permutados.

Em meu ser, em cada batida do coração, algo indescritível segue me atiçando ao amplexo do tempo, como se a minha vida tentasse se manter viva dentro de uma bolha. De tudo, ficou, a lembrança daquela menina tímida que me virou as costas. Persistiu a mágoa dolorida, perseverou o descaso, teimou a insensatez, porfiou o vazio incomensurável de um adeus pesado e sem volta.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

sábado, 16 de julho de 2022

Dorothy Jansson Moretti (Album de Trovas) - 10

 

Samuel de Costa (A unção (Os Anjos Caem Primeiro))

— São só vinte quilômetros meu amigo! — disse a figura ao volante.

— Que bom! — respondeu de imediato o passageiro, não escondendo o mau humor, pois ele não gostava muito das cidades grandes. Achava-as barulhentas, congestionadas e distantes, ao contrário das cidades pequenas, que para ele eram, as ideais de se viver. E o fato de estar ali era um calvário e um alívio ao mesmo tempo. Há muito queria que aquilo acabasse logo, e mil coisas passavam pela cabeça a esta altura. Mas tinha decidido ir até o fim com a coisa toda e de uma vez por todas. O fato dele ser pastor de profissão e, acima de tudo, por fé, e ter que lidar todos os dias, com a ideia do pecado de si mesmo, e das outras pessoas, não alterava o fato em nada para ele.

Uma simples olhada do motorista de táxi pelo retrovisor, foi o bastante para acabar com a agonia iniciada quando ele saiu do hotel e embarcou naquele veículo de aluguel. O olhar do chofer de praça denunciava a ambos.

— Posso fazer uma pergunta? O que o senhor veio fazer aqui na capital? — pergunta afinal o taxista, com seu sotaque inconfundível do norte do país.

— Vim procurar um pouco de diversão meu amigo, só um pouquinho e mais nada! —  e ambos deram risadas juntos durante um certo tempo. Daí para parar em um motel de quinta categoria em uma parte suspeita da cidade foi um pulo e tudo estava indo como ele bem imaginava que seria. Tudo muito rápido e também impessoal.

A garota com a descrição que ele pedira estava lá esperando-o no quarto. Ao bater com força na porta da pocilga três vezes, como o instruíram e a mesma se abrir, lá estava ela, como ele bem imaginava que seria, linda, cálida, decadente e toda sorridente como um anjo que perdeu as asas.

— Vim te buscar, filha, vamos voltar para casa! Tua mãe te espera...   

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

XVIII Concurso de Trovas da UBT– Maranguape/CE (Novo Trovador: Trovas Premiadas)


ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: CAMINHO [Lírica/Filosófica]

NOVO TROVADOR

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VENCEDORES
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1º. Lugar:
Minhas veredas da vida
eu não percorro sozinho,
porque na estrada escolhida
tenho Deus no meu caminho.
Davi Pereira
Toledo/PR

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2º. Lugar:
Numa atitude fraterna,
Jesus padeceu na cruz,
e buscando a vida eterna
sigo o caminho da Luz.
Vinícius Machado
Taubaté/SP

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3º. Lugar:
É sempre longo o caminho
numa vida sem amor
mas jamais anda sozinho
quem tem fé no Salvador,
Carmo Bráz de Oliveira
Foz do Iguaçu/PR

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4º. Lugar:
Nem cruel, nem mais veloz
salteador da vida existe
do que o tempo, estranho algoz,
um caminho longo e triste.
Adelgício Ribeiro de Paula
Franco da Rocha/SP

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5º. Lugar:
Deixo fiapos de mim
pelo caminho que trilho,
perfumes de flor, jasmim,
nas andanças de andarilho.
Elisabete Rabello Machado Brandão
São Paulo/SP


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MENÇÕES HONROSAS
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6º. Lugar:
Envereda-se o caminho
por um mar de alternativas.
Queres traçá-lo sozinho?
Escolhe o que te cativas.
Lucca Lopes Dias Santos
Anápolis/GO

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7º. Lugar:
No caminho da jornada
germina a essência da vida,
que deve ser perfumada
com pétala bem colhida.
Luciano Izidoro de Borba
Tombos/MG

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8º. Lugar:
Pelos caminhos da vida,
alguns bons, outros nem tanto,
mesmo cansada e ferida
não perdi, jamais, o encanto!
Selma Arraval
São Paulo/SP

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9º. Lugar:
Ao entardecer, cismando,
flores campestres eu via
como placas, me guiando
no caminho da Poesia...
Antônio Gonçalves Hudson
Santo Antônio do Grama/MG

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10º. Lugar:
Não blasfemo contra Deus,
pois é grande o seu carinho,
ao dar liberdade aos seus,
é senhor do meu caminho.
Wilton Di Cali  
Guarulhos/SP

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MENÇÕES ESPECIAIS
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11º. Lugar:
Úmido está meu caminho,
de lágrimas de saudade.
Tu me deixaste sozinho,
sem demonstrar piedade!
Rodrigo Soares Duhau
Brasília/DF

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12º. Lugar:
Os meus passos vacilantes,
no Caminho, nas estradas,
são passadas claudicantes,
trilhas virgens de pegadas!
Sarah Passarella
Campinas/SP

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13º. Lugar:
O nosso tão procurado
caminho da salvação,
deve ser pavimentado,
com pedra de boa ação.
Zema Luz
Maceió/AL

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14º. Lugar:
As trilhas do coração,
são tortuosos caminhos.
Momentos de adoração
que cobrem muitos espinhos.
Maria Teresinha Cirilo dos Santos
Taubaté/SP

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15º. Lugar:
Caminho de minha vida,
estradas por onde andei,
de ciclo em ciclo envolvida,
nem de todos me agradei.
Teresa C. C. M. Azevedo
Campinas/SP


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DESTAQUES
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16º. Lugar:
Nas trilhas do coração
ninguém caminha sozinho,
cada passo e pulsação,
faz de alguém nosso caminho.
Theodomiro Acioly da Silva Neto
Santo Antônio/RN

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17º. Lugar:
Escolha bem o caminho
para seguir sua vida.
Transforme em flor todo o espinho...
tenha uma estrada florida.
Darcy Bandeirante Azevedo Costa
Taubaté/SP

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18º. Lugar:
O ser de grande virtude,
mostra sempre, um bom caminho;
pelo qual, a juventude,
terá êxito e carinho!...
Luiz Cláudio Costa da Silva
Natal/RN

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19º. Lugar:
Por muito tempo eu andei
pela estrada da ilusão
e no caminho encontrei
Só desprezo e solidão.
Aida Maria de Faria
Caicó/RN
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20º. Lugar:
Na estrada da minha vida
o tempo vai se esgotando.
No caminho, a despedida...
novas trilhas se formando.
Iatan Do Carmo
Taubaté/SP

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ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: FRIO [Humorismo]

NOVO TROVADOR

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VENCEDORES
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1º. Lugar:
No frio abaixo de zero,
podem me chamar de estranho,
mas tenho de ser sincero:
— Durmo, sim, sem tomar banho!
Rodrigo Soares Duhau
Brasília/DF

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2º. Lugar:
Por ter frio, o namorado,
vai pra o leito de quem ama...
viu que tinha se lascado,
pois era a sogra, na cama...
Zema Luz
Maceió/AL

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3º. Lugar:
Quem o seu vício não doma
e cai na lama do rio,
diz que cachaça só toma
para combater o frio.
Ademar Rafael Ferreira
João Pessoa/PB

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4º. Lugar:
Ao teu lado um arrepio,
de repente apareceu
mas, o imensurável frio
grande prazer concedeu.
Maria Manuel dos Santos Ferreira
Monte-Murtosa/Portugal

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5º. Lugar:
Quando penso em ti amor
fico com Frio nos dentes,
preciso congelador
nestes sonhos tão ardentes!
Cristina Pinheiro
Portugal


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MENÇÕES HONROSAS
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6º. Lugar:
Um calor e um frio intenso,
qual seria a certa causa?
O médico fala tenso:
chegou a tal andropausa!
Rommel Werneck
Santo André/SP

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7º. Lugar:
Rufião, ser bem estranho,
co´os comparsas, eloquente,
porém, fica frio e fanho,
perante a mulher carente!...
Luiz Cláudio Costa da Silva
Natal/RN

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8º. Lugar:
Tomar um banho no frio:
ato de virilidade -
mas o tamanho do brio
não deixa de ser verdade!
Cléber Leandro Nardeli
Iturama/MG

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9º. Lugar:
Que pé frio! Tu disseste.
Respondi: - mas não sou eu
porque, por mais que eu me apreste,
não consegues o apogeu...
Júlia Fernandes Heimann
Jundiaí/SP

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10º. Lugar:
Num dia chuvoso e frio,
o raciocínio é ligeiro...
Quando lembro do arrepio,
passo longe do chuveiro.
Theodomiro Acioly da Silva Neto
Santo Antônio/RN


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MENÇÕES ESPECIAIS
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11º. Lugar:
Já é alta madrugada
sinto frio e a falta tua
de esperar-te estou cansada
vou entrar, estou na rua.
Majô Baptistoni
Maringá/PR

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12º. Lugar:
Como posso sentir frio
neste clima tropical?
É de sentir arrepio.
Só de pensar passo mal.
Angela Maria da Silva Castro Stoller
São Gonçalo/RJ

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13º. Lugar:
Se na orelha é sensação,
na espinha, o frio dá medo;
na barriga, uma emoção
a sugerir um enredo.
Davi Pereira
Toledo/PR

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14º. Lugar:
Agia com presunção,
fingindo não passar frio,
mas não entendo a razão
de ligar isso a ter brio.
Lucca Lopes Dias Santos
Anápolis/GO

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continua amanhã… Veteranos

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) Vagões 68, 69 e 70


COLEGUISMO


Dois assaltantes assaltaram-se mutuamente e foram separados por um terceiro assaltante, que exigiu deles o produto dos dois assaltos. Como eram dois contra um, acabaram subjugando o terceiro e reclamaram não só a devolução do que lhe haviam cedido como ainda o que ele já trazia no bolso.

Foram atendidos, mas continuou a pendência, pois o assaltante no 1 queria de volta o que perdera e o que ganhara, o no 2 pretendia o mesmo, e o no 3 tentou acalmá-los, ao mesmo tempo que pleiteava a devolução do seu e mais cinquenta por cento do que pertencia a cada. Esclareceu que, desistindo do total, contribuía para a união e harmonia da classe.

Os outros não se mostraram persuadidos e, à falta de tribunal especializado que dirimisse a questão, acordaram em submetê-la ao julgamento de um passante que, pelo aspecto, merecesse fé. O senhor bem vestido, de roupa escura, que se aproximou e ouviu a exposição do caso, abanou a cabeça lamentando:

— Não posso decidir contra colegas. Também sou assaltante.

E deu no pé, antes que os três lhe reclamassem o dele.
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DESTA ÁGUA NÃO BEBERÁS

— Por que Demétrio não se casa? Era indagação geral. Demétrio namorava, noivava, não casava. Sete dias antes do casamento, olha aí Demétrio fugindo. As versões eram múltiplas. A noiva é que o despedira. Tiveram uma briga feia. Gênios incompatíveis. Mal secreto. Intrigas.

Demétrio continuava a namorar, noivar e não casar. Não lhe faltavam noivas, pois era agradável, tinha status. Quanto mais se desmanchavam os projetos de casamento, mais apareciam mulheres dispostas ao desafio, exclamando:

— A mim ele não deixa na porta do mosteiro de São Bento.

Deixava. E quanto mais deixava, mais seu prestígio crescia. Concluiu-se que era sua maneira de afirmar-se.

Então Livaniuska decidiu enfrentá-lo. Noivou com ele e, uma semana antes do casamento, deu-lhe um fora solene. Demétrio quis reagir, explicou à repórter social que ele é que tomara a iniciativa, mas a mentira foi patente. Livaniuska foi contratada como atriz por uma emissora de tv e ficou célebre.

Daí por diante ela repetiu a carreira de Demétrio, noivando e desmanchando com inúmeros cavalheiros. No fim de cinco anos, Livaniuska e Demétrio casaram-se para sempre, como era fácil de prever, mas ninguém previu.
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DIÁLOGO DAS NOTAS

A nota de cinco mil cruzeiros estava preocupada. Anunciaram para breve a sua entrada em circulação, e já passavam muitos sóis sem que a retirassem do almoxarifado. No almoxarifado, chega-lhe o zum-zum de que continuamente as coisas sobem de preço e as notas baixam de valor.

Embora os algarismos continuem os mesmos, cada dia significam uma realidade menor. Quando chegar minha vez de andar por aí — receia a nota de cinco mil — quanto valerão meus cinco mil?

Ao ser desenhada, sentira-se toda garbosa, cheia de minhocas na cabeça. Iria suplantar as coleguinhas, dando a vera ideia de grandeza. Mas até agora nada, e a nota inquieta-se:

— Quando vejo o cruzeiro metálico passar do tamanho de medalha de chocolate ao de botão de manga de camisa (e amanhã ele chegará talvez a semente de tangerina), sinto que meu futuro não será nada fagueiro. Vão-me reduzir às proporções de ficha de ônibus, feita de papel, e servirei para pagar a passagem de um coletivo circular. No máximo.

Estava nessa tristeza quando lhe apareceu, ainda em forma de neblina futura, o projeto da nota de cinco milhões, com efígie de cabeça para baixo, e sussurrou-lhe:

— Maninha, depois de mim virá a cédula de cinco trilhões, e assim sucessivamente, pois infinito é o número dos números. Até que um dia o homem se cansará de escrever no papel grandezas que são insignificâncias, e passará a escrever insignificâncias que valham grandezas. Já pressinto no horizonte maravilhosa nota zero, que nos resumirá a todas e alcançará o máximo valor metafísico.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 13: Conspiração

 

Filemon Martins (Questão de valores morais)

Não sei se por formação no lar ou se o indivíduo já nasce com aquele instinto que o faz pensar ser superior aos outros. Muitas pessoas nascem em berço de ouro e no decorrer da vida têm uma educação esmerada, fazem Cursos Superiores, pós-graduação nisto ou naquilo, mas profissionalmente se tornam arrogantes e prepotentes.

O contrário também é verdadeiro: o indivíduo faz inúmeros Cursos Superiores, adquire muito conhecimento, possui uma cultura exemplar, torna-se rico, mas se mantém entre os mortais, detesta bajulação e se relaciona normalmente.

Quando na ativa, em todos os locais em que trabalhei sempre havia um ou vários autoritários e arrogantes. Imaginavam-se insubstituíveis, donos da verdade, mestres em tudo e queriam, por força, mandar em todos. Tornavam-se uns gravatinhas, como eu costumava chamá-los. Vez por outra nos enfrentávamos em embates de trabalho quanto a Organização e Métodos (OM) ou mesmo quanto à eficácia do trabalho,

No cotidiano da vida são pessoas que valorizam a aparência, o externo, a roupa, o sapato, o carro, a casa, sem enxergarem o principal que todos nós carregamos no coração. Andam pelas ruas de nariz empinado, falam bonito, de peito estufado e são capazes de pisar em qualquer pessoa descuidada que, por infelicidade, cruzem seus caminhos. Nós, pobres mortais, somos classificados como aquele antigo sabonete "VALE QUANTO PESA". Se temos uma casa, valemos a casa; se temos um carro, valemos o carro; se nada possuímos, não valemos nada.

Em minha existência, conheci muitas pessoas soberbas, vazias e arrogantes, mas pelo menos duas foram inesquecíveis. Ambas trabalhavam na Empresa Folha da Manhã S/A. A primeira pessoa trabalhava bem próximo de nós e fora conduzido ao cargo pelo famoso QI (quem indica). Era uma espécie de Assessor Especial que fazia o elo entre o setor de cobrança e figuras importantes, ator, atrizes, empresários que preferiam pagar suas assinaturas direto no jornal FOLHA DE S. PAULO, Para isso, trabalhava numa sala mais sofisticada com café, chá e bolachinhas, onde recebia essas pessoas ilustres, como Raul Cortez, Décio Piccinini, Wagner Montes, Moacyr Franco, entre outros. Quando necessário, ele solicitava ao setor de cobrança a emissão de um recibo com o valor, com o qual era possível receber em dinheiro ou cheque, conforme a preferência do pagante. Dias depois prestava conta ao setor responsável pela cobrança para depositar em banco e a consequente quitação do débito. O que ele não sabia é que nosso gerente de cobranças havia criado um setor de nome Centro de Controle, de tal forma que todo recibo ou fatura emitida na empresa deveria conter uma cópia a mais para o Centro de Controle. Por sua vez todo o pagamento recebido, após depositado em banco, obrigatoriamente seria comunicado ao setor de Controle com documentos comprobatórios dos valores pagos. Ocorre que com o passar do tempo, havia várias cópias de recibos de assinaturas pendentes, todos solicitados pelo nosso Assessor Especial. Ora, se o assinante esteve na empresa pessoalmente pagando sua assinatura, alguma coisa estranha estava acontecendo. Foi aí que o chefe do setor pegou as cópias desses recibos em aberto e comunicou ao gerente, que por sua vez, teve que chamar o gravatinha para dar explicações. Dessa vez nem o QI o salvou. Foi dispensado da empresa por ter-se apropriado do dinheiro ilicitamente.

O outro caso foi quando o jornal O Estado de São Paulo resolveu fazer uma campanha para angariar mais assinantes e lançou pela televisão uma propaganda informando que quem fizesse assinatura do jornal o receberia em 12h. Um diretor da Folha ao tomar conhecimento da promessa de O Estado, sentenciou: -"se o Estadão entrega o jornal em 12h, nós vamos entregar em 6h". Com sua prepotência aguçada, esqueceu-se de consultar o Departamento de Entregas e setores envolvidos se era viável tal entrega e se a estrutura existente suportaria tamanha demanda. O setor de vendas deitou e rolou. Foi um sucesso total de vendas. Quando o assinante percebeu que as 6h prometidas eram 72h ou mais, choveu telefonemas cancelando os pedidos.

O assinante dizia: - "Estou há 3 dias esperando a entrega do meu jornal. Não Imaginava que as 6h da Folha fossem mais de 72h". Assim, a confusão se formou. Quem vendeu a assinatura queria receber a comissão, e a empresa não queria pagar o percentual devido por uma venda não efetivada, por culpa de um diretor arrogante.

Não sei que fim levou esse diretor da empresa por atitude tão precipitada. Mas sei que a empresa teve prejuízos não só econômicos, mas também morais, por propaganda enganosa.

Muitas pessoas se deixam levar pela possibilidade de dinheiro fácil, é o que constatamos diariamente nos corredores dos negócios, especialmente entre os políticos e empresários.

Muito bem escreveu minha amiga trovadora Vanda Fagundes Queiroz;
"ÀS VEZES TENHO CISMADO
QUE, AO INVÉS DE CORAÇÃO,
MUITA GENTE TRAZ GUARDADO
DENTRO DO PEITO, UM CIFRÃO".  

Fonte:
Filemon Martins. Caminhos do Jordão da Bahia. SP: RG Editores, 2022.
Livro enviado pelo autor.

Carolina Ramos (A Fonte do Itororó)

Comecemos por esta relíquia histórica, bastante querida do povo santista:

"Eu fui no Itororó
beber água e não achei...
Achei bela morena,
que no Itororó deixei.


Ó Mariazinha! Ó Mariazinha..." etc

Variante:

"Eu fui no (I)Tororó
beber água, não achei.
Achei bela morena
e com ela me casei."


Eis duas estrofes da modinha bastante popular, que cada um altera a seu modo, e que pertencem ao poemeto referente à famosa Fonte do Itororó, ao pé do Monte Serrat, conhecida de norte a sul do Brasil, embora muitos não saibam ao certo onde está localizada como demonstra a surpresa do "Príncipe dos Trovadores do Brasil", Luiz Otávio, que, ao dar com a Fonte num dos escaninhos da cidade de Santos, exclamou: - "Esta é a famosa Fonte do Itororó?!! - Vocês, santistas, têm uma das maiores relíquias folclóricas do país!". Tão entusiasmado ficou, que partiu para pesquisas, pois pretendia escrever algo a respeito dessa relíquia, embora viesse a falecer pouco depois, sem cumprir o que a si mesmo prometera.

Entretanto, a origem desta fonte é contestada por nossos irmãos baianos, que reivindicam sua propriedade, já que têm, em Salvador, o Dique do Itororó, hoje restaurado e embelezado pela arte de Burle Marx.

Entretanto, Luiz Otávio resguardava em suas anotações, o que, repetimos, em sua memória: - "Ver: - Diário Oficial do Município de Santos, de 26 de maio de 1970, n. 96 pg. 27, página que conta a História da Fonte do Itororó, em Santos, ilustrada por uma foto da mesma. Traz um soneto de Antonio Carlos Ribeiro Machado de Andrada (faltando os dois primeiros versos do último terceto) de exaltação à fonte". A nota ainda explica: - "Sua importância vem do início da Povoação de Santos, desde o tempo da sesmaria de Paschoal Fernandes e Domingos Pires. E certo que, desde 1540, abastecia aos moradores colonos que aportavam em Enguaguassú".

"Paschoal Fernandes vendeu a sesmaria a Domingos Pires e a Brás Cubas, este último considerado fundador de Santos".

(Publicação esta confirmada pelo historiador Sérgio Willians, do Arquivo e Memória). Sem entrar no mérito da contestação, vejamos o que diz a respeito o saudoso jornalista-historiador Olao Rodrigues, que descreve a Fonte do Itororó santista em sua Cartilha da História de Santos, vinda a público em 1980, ou seja, um ano antes do seu falecimento. Diz ele:

"A Fonte do Itororó é uma das mais ricas tradições desta terra, situada em Santos, no sopé do Monte Serrat. Servida por água límpida, cristalina, que brotava da rocha a meio caminho do lendário morro, muita gente para lá acorria para saborear o bom líquido, com, ou sem sede, pois dizia-se que, quem dessa água bebesse, não mais deixaria a cidade".

"A lenda pegou. Fez fama!" - finaliza o jornalista.

Aliás, tornamos a repetir, este atributo já vem de longe. Há várias fontes que dele se beneficiam em lugares diferentes Já citados. Em Barcelona, mais uma delas goza deste privilégio, a famosa Rambla, com várias bicas, chamada "La Rambla del Cavalete", à qual também é atribuída a mesma propriedade de trazer de volta quem beba um gole da sua água.

Certo é que, muita gente, após ter provado a água da fonte santista, acabou ficando por aqui mesmo, por este ou por outro qualquer motivo. Itororó lembra o nome do riacho que atravessava as ruas do Rosário e XV de Novembro, cantante e ligeiro, ansioso por ser mar.

Pena ver, com o passar do tempo, que a chamada Fonte do Itororó perdeu aos poucos sua função mais nobre. As águas da nascente, também aproveitadas para uso doméstico, lavagem de roupas, etc., alcançaram tal nível de contaminação que, a principal função, a de saciar a sede, acabou sendo interrompida por lei, em 1930. A bica secou e a própria nascente, aos poucos, acabou também por desaparecer.

Contudo, a força da tradição santista não permitiu que a existência da Fonte do Itororó ficasse esquecida, ou, tão somente, virasse lenda. Por volta do ano 2000, foi ela "restaurada pela Prefeitura, com muito critério, sob a rigorosa supervisão do Condepasa, recebendo pintura, verde e branco, de acordo com a original, e também azulejos absolutamente iguais aos da época, ostentando figuras da mitologia grega - as mesmas da fonte original". O piso asfaltado, fugido aos padrões, foi substituído por paralelepípedos e a fonte recuperou o primitivo aspecto.

O Indicador Turístico, lançado no Brasil, em 1885, já citava a Fonte do Itororó e, também, o seu dom - "de fixar na cidade quem suas águas sorvesse".

Ao ensejo, deixamos aqui um apelo de paz:

- Que as relevantes e históricas cidades. Santos e Salvador, de modo bastante fraterno, concedam dividir entre si as honras de terem dado à Nação duas Fontes Xarás, sem que seus egos se estranhem. Afinal, por que não?! Tudo é Brasil!... E, se a proposta historicamente permanecer questionável, que seja relevada a ousadia, muitíssimo bem intencionada, desta santista que se arrisca a propô-la em nome de uma fraterna e desejável paz!

Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: publicado pela Editora Mônica Petroni Mathias, 2021.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 9

 

Carlos Leite Ribeiro (Nomes que nos marcam numa época...)

Há nomes que nos marcam para sempre, principalmente, quando se referem à nossa juventude. Para mim, o nome Nandinha, traz-me recordações da minha meninice.

Teria uns dez anos, morava num rés-do-chão de um prédio da Pascoal de Melo (Estefânia – Lisboa), e no último andar, por sinal o 5º, morava a Nandinha, uma moça que na altura teria uns 16 ou 17 anos. A mãe da moça, de nome Senira, viúva de um obscuro subchefe de uma repartição, era uma figura muito castiça: Muito magra, não muito alta, sempre vestida de preto e, fosse em que estação fosse, andava sempre de sombrinha. Quando aqui em Portugal passou a telenovela “Tieta do Agreste” (que eu parodiei para a radiodifusão), logo me lembrei da D. Senira, que a vi retratada na “Charifú” desta novela.

A Nandinha era filha única e sua mãe a defendia de todos e quaisquer “Moinhos de Vento”. Se a moça lhe ia fazer algum recado, logo a mãe se empoleirava na varanda começando logo a berrar assim que ela saía do prédio: “Nandinhaaaaa! Não te demores, olha que eu estou aqui à tua espera!” ; ou “Nandinhaaaaaa! Estás a demorar muito! Que estás para aí a fazer?”.

Se nas traseiras da casa, a moça estava a estender a roupa na varanda, lá estava sua mãe ralhando comigo: “Olha lá, menino, estás a olhar para as pernas da Nandinha... etc ...”.

Recordo-me um vez minha tia dizer em voz alta para ela ouvir bem: “Carlitos, não olhes para cima! Podes estar a cobiçar umas pernas que não valem nada ...”. Claro que a opinião era de minha tia, porque a minha, embora não me recorde bem, talvez fosse uma “bela panorâmica”!

Mas voltando à Nandinha, andava num colégio de feiras, onde a mamãe a ia levar e trazer. Recordo-me de um carnaval no Clube Estefânia, em que a D. Senira quando notava (?) que o par da filha a estava a agarrar “demais”, se levantava e o ia afastar do corpo da filha. De tantas vezes que repetiu, que se tornou um escândalo hilariante. Nessa altura, um D. Juan da época, virou-se para a D. Senira, perguntando-lhe: “Olhe lá minha senhora, é católica?”. A senhora olhando-o de frente, replicou-lhe: “Sou sim, seu desavergonhado!” Então o “malandreco” respondeu-lhe perante a hilaridade de todos : “Então vá com Deus e deixe sossegada a sua filha!”.

Era assim a vida da Nandinha...

Meses depois, a pequena, não se sabendo muito bem porquê, apareceu grávida. É verdade! Já na gravidez avançada, tanto a mãe como ela, juravam a pés juntos que não sabiam com “aquilo tinha acontecido”. Algumas vizinhas, daquelas mais aconselhadas, aconselharam a D. Senira a ir a uma senhora de grande virtude, que morava na Horta das Tripas (Casal de Santa Luzia – Rua D. Estefânia) para que ela expulsasse o “Mafarrico” do corpo da moça, porque tal só podia ter sido “obra do diabo”. Outras menos “cultas” diziam que tinha era sido “obra e graça do Espírito Santo”... Fosse como fosse nasceu um bebê que teve como nome Francisco (o Chiquinho).

Muito mais tarde, já a D. Senira tinha entregado a alma a Deus e o corpo à terra fria, a Nandinha confessou que “talvez fosse obra de um ajudante de limpa-chaminés”. Na altura, existiam em Lisboa os “limpa-chaminés” que subiam aos telhados, punham uma corda muito comprida dentro das chaminés e tiravam a “ferrugem”; pelo menos faziam muito lixo. Normalmente quem tinha a chave da porta que dava para o telhado era o locatário do último andar. Assim, um dia, a Nandinha foi abrir a porta ao ajudante de limpa-chaminés, enquanto o mestre ficava junto às chaminés das cozinhas, segurando a corda, o ajudante abanava-a no telhado.

Ainda segundo o relato da Nandinha “foi tudo muito rápido”. Nós podemos acrescentar: Rápido e Eficiente! Ficamos sem saber se teria sido no abrir da porta, ou, ao abanar da corda. Mas isso também não interessa.

Claro que a moça teve depois vários namorados. Enquanto esperavam pela dama, havia sempre um “malandreco” a avisá-lo: “Não cuspas para cima que ela pode engravidar...”.

E assim, o nome de Nandinha, ficou sempre gravado na minha memória…

Baú de Trovas LII


Se a inspiração vem chegando,
eu me vejo em pleno espaço,
vendo Deus metrificando
todos os versos que eu faço!
 + Ademar Macedo
Natal/RN
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Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
a trova em mim fez pousada,
trazendo a felicidade.
Andréa Motta
Curitiba/PR
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Olhando o sol na vidraça
e o balançar das palmeiras,
invejo a aragem que passa,
indo afagar as roseiras.
Carmem Pio
Porto Alegre/RS
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Mãos tristes, temendo ausências,
se despedem com revolta…
– Nosso adeus tem reticências
que acenam gritando: – Volta!
Carolina Ramos
Santos/SP
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A tristeza hoje veio
com vontade de ficar…
Oh! alegria, eu receio
que ela queira demorar.
Cidinha Frigeri
Londrina/PR
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Sou poeta e, em meus caminhos,
não temo estradas rochosas...
– Quando a vida planta espinhos,
tanto mais eu colho rosas!
Clenir Neves Ribeiro
Nova Friburgo/RJ
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Revejo o passado e penso,
sem surpresa e sem espanto,
que o tempo, às vezes, é o lenço
com que Deus me enxuga o pranto…
Domitilla Borges Beltrame
São Paulo/SP
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Coração…cerca o pedaço
para que o amor não se perca,
que hei de cuidar desse espaço,
antes que a dor ponha cerca…
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ
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Ao devolver minhas cartas,
o carteiro nem sabia
que, além de saudades fartas,
os meus sonhos devolvia.
Eduardo A. O. Toledo
Pouso Alegre/MG
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Num desabafo insincero,
chorando em teu ombro amigo,
digo coisas que não quero,
quero coisas que não digo…
Élbea Priscila de S. e Silva
Caçapava/SP
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Bebo lembranças em tragos,
ao ponto da embriaguez,
para curar os estragos
que a tua ausência me fez!
Elisabeth Souza Cruz
Nova Friburgo/RJ
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Correndo entre paralelas
de aço, o trem foi a glória
para quem hoje vê nelas
apenas traços da história.
Ercy Marques de Faria
Bauru/SP
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Para amainar meus cansaços,
num fim de tarde que tranço,
busco a rede dos teus braços,
meigos laços… meu descanso!
Flávio Stefani
Porto Alegre/RS
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Os lábios, num beijo, unidos,
despertam grande paixão…
Tornam um só, dois sentidos,
de dois, um só coração.
+ Francisco Neves Macedo
Natal/RN
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Reconheço que acabou…
Como tu, não lamentei.
O que pensavas, não sou;
e não és o que pensei…
Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo/RJ
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Meus lábios apaixonados
bebem o orvalho dos teus,
desses teus lábios molhados
que sonham com os lábios meus!
+ Gislaine Canales
Porto Alegre/RS
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A vida o tempo devora;
o próprio tempo não dura.
Colhe a alegria de agora,
para a saudade futura!
+ Helena Kolody
Curitiba/PR
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Dos meus sonhos de criança
e dos folguedos, saudade!
E na rua da lembrança,
a placa: Felicidade!
Jessé  Nascimento
Angra dos Reis/RJ
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A saudade é passarinho
que voa pela amplidão,
mas só sabe fazer ninho
na concha do coração.
+ José Lucas de Barros
Natal/RN
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Ante as sandálias furadas
que entre cascalhos gastei,
não culpo o chão das estradas,
culpo os maus passos que dei.
+ José Maria M. de Araújo
Rio de Janeiro/RJ
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O que conta nessa vida
não é tempo, nem idade,
mas a procura renhida
da deusa felicidade.
+ Luiz Carlos Abritta
Belo Horizonte/MG
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Caminho que alcança
na esquina a sua metade;
de um lado, vive a esperança,
do outro, dorme a saudade.
Mara Melinni Garcia
Caicó/RN
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Este é o sentido, afinal,
de toda e qualquer partida:
para o bem ou para o mal,
nova etapa... nova vida!
Maria Helena de O. Costa.
Ponta Grossa/PR)
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A distância, achando meios
para unir nossas metades,
somou nossos devaneios
e dividiu as saudades !…
Maria Nascimento
Rio de Janeiro/RJ
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Nosso amor foi tão ranzinza
que explodiu como um vulcão,
deixando somente a cinza
no meu pobre coração.
+ Maurício Norberto Friedrich
Curitiba/PR
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A nossa fisionomia,
que se expressa no facial,
de tristeza, ou de alegria,
é um idioma universal.
Nei Garcez
Curitiba/PR
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Siga sempre em linha reta
e não se desvie na estrada;
felicidade é uma meta
a ser sempre procurada.
Olympio S. Coutinho
Belo Horizonte/MG
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Eu redobrei a procura
e encontrei com tanto gosto
duas fontes de ternura
nas covinhas do teu rosto.
Professor Garcia
Caicó/RN
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Tenho em meu peito guardada
para você, que me evita,
a alma um tanto magoada,
mas com ternura infinita.
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ
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Eu comprei uma ampulheta
pra entender o tempo assim.
Mas só vi a silhueta
de um vai e volta sem fim.
Renato Leite Goetten
Paranavaí/PR
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Quanta surpresa causaste!
Não esperava tão cedo,
ser feliz por ver o engaste
de tua aliança em meu dedo.
+ Sara Furquim
Rio Branco do Sul/PR
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A semente, pequenina,
sob a terra protegida,
é assinatura divina
no grande livro da vida.
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP
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A rua não sabe quando,
mas lembra, do início ao fim,
o quanto a pisei buscando
quem tanto pisava em mim!…
Sérgio Bernardo
Rio de Janeiro/RJ
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Coração, nunca te emendas!…
És de fato um sonhador.
Até nas duras contendas
tu vês motivos de amor!
Thalma Tavares
São Simão/SP
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Ah! Coração, tem cautela
e deixa de brincadeira!
Tens sonhos de Cinderela
e eu sou Gata Borralheira!
Therezinha D. Brisolla
São Paulo/SP
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Tendo um bom livro na mão,
viajo o mundo… crio asa.
Mando embora a solidão…
sem sair da minha casa!
Vânia Ennes
Curitiba/PR
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Meu tempo tornou-se esparso…
Por mais que tente retê-lo,
nem com tintura disfarço
o cinza do meu cabelo.
Vanda Alves
Curitiba/PR
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Geada… roça perdida,
e, em meio à tristeza tanta,
só o pinheiro sente a vida,
ergue os braços, reza e canta!
+ Vera Vargas
Curitiba/PR
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Felicidade é a rota
do sábio... Que vai além!...
O que possui não se esgota,
mesmo entregando o que tem!
Wagner Marques Lopes
Pedro Leopoldo/MG
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Meus desenganos de amor
na poesia buscam fim:
eu não choro a minha dor…
meus versos choram por mim!
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Luís Fernando Veríssimo (A aliança)

Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim.

Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro. Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.

— Você não sabe o que me aconteceu!

— O quê?

— Uma coisa incrível.

— O quê?

— Contando ninguém acredita.

— Conta!

— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?

— Não.

— Olhe.

E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.

— O que aconteceu?

E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.

— Que coisa. — diria a mulher, calmamente.

— Não é difícil de acreditar?

— Não. É perfeitamente possível.

— Pois é. Eu...

— SEU CRETINO!

— Meu bem...

— Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.

— Mas, meu bem...

— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!

E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações.

Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito transito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:

— Que fim levou a sua aliança?

E ele disse:

— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.

Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta.

Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.

— O mais importante é que você não mentiu pra mim.

E foi tratar do jantar.

Fonte:
Luís Fernando Veríssimo. As mentiras que os homens contam. Publicado em 2000.

Ronnaldo de Andrade (Caderno de Trovas) – 6 –

Acorda, amor! Veja o sol,
à porta, chamando a gente,
para ver seu arrebol
na casa do sol nascente.
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Banhado por seu olhar,
ao som do seu violão,
eu me ponho a passear
nos jardins do coração.
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De modo muito singelo
nosso amor galgou vitória...
É grande o nosso castelo,
mas sobressai nossa história!
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Esquecer-te eu já tentei
dedicando-me à poesia,
mas, enfim, não poderei
te esquecer, nem poderia.
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Fazendo os dias amenos,
acalmo minha agonia,
de quando, dos sonhos plenos,
acordo – a cama vazia!
= = = = = = = = = = =

Foi o tempo, um adversário,
em meu cenário de amor,
trucolento, sanguinário;
mas eu saí vencedor.
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Na tela do meu cinema
você foi e ainda é,
o filme do meu dilema:
amor, angústias e fé!
= = = = = = = = = = =

Nos palcos de minha vida,
você foi minha Iracema;
a poesia transmitida
na tela do meu cinema!
= = = = = = = = = = =

Nunca chega o amanhecer,
quando o coração padece
de tanto amor, de querer
alguém que não nos merece!
= = = = = = = = = = =

O nosso amor não é lenda
e nem um conto de fada.
Talvez eu lhe surpreenda:
ele é só amor e mais nada!
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Os sonhos que sonho são
delírios desta minh’alma
que, se entregando à paixão,
perdeu a razão e a calma.
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Quando lembramos da cama...
Revivemos os momentos
de ternura e muita chama,
dos corpos em movimentos.
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Sofro de amor, de paixão,
nessa minha vida inglória.
Por não ter mais ilusão,
ponho um ponto nessa história!
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"Trilha amarga. Que desgosto"
sentir o gosto da dor,
e ver em todo meu rosto
as marcas do dissabor!
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Vá-se embora! Tem razão...
Mas, por favor, não se queixe
se na maré de... ilusão
nunca mais encontrar peixe.

Fonte:
Trovas enviadas pelo trovador.

Contos e Lendas do Mundo (Irlanda: Água de pés)

Há muito tempo, em todas as casas do campo as pessoas lavavam os pés, tal como fazem hoje, depois jogavam a água fora, porque não se podia deixar água suja dentro de casa durante a noite. Os mais velhos sempre diziam que algo de ruim entraria na casa se a água usada para lavar os pés fosse mantida em seu interior. Sempre diziam também que ao jogar a água era preciso gritar "Cuidado!" para evitar que almas ou espíritos ficassem no caminho. Mas isso não é coisa daqui nem de agora, e tenho que continuar a minha história.

Há muito tempo, uma viúva morava a leste do condado Limerick, num lugar ermo. Uma noite, quando ela e a filha foram dormir, esqueceram-se de jogar fora a água dos pés. Pouco depois de terem se deitado, ouviram bater à porta e uma voz que dizia: "Chave, deixe-nos entrar!".

Bem, a viúva não disse nada, e a filha também ficou de bico fechado.

"Chave, deixe-nos entrar", a voz repetiu e tchan! — dessa vez a chave falou em voz alta: "Não posso deixá-los entrar, e estou amarrada à coluna da cama da velha senhora".

"Água de pés, deixe-nos entrar", a voz disse, e então a tina com a água de pés se partiu, a água se espalhou pela cozinha, a porta se abriu e entraram três homens com sacolas cheias de lã e três mulheres com rocas.

Sentaram-se ao pé do fogão. Os homens tiravam toneladas de lã das sacolas, as pequenas mulheres a fiavam, e os homens punham o fio nas sacolas. Isso continuou por algumas horas, e a viúva e a filha estavam à beira da loucura de tanto medo. Mas ainda restava um pouco de juízo à jovem.

Lembrando-se de que havia uma vidente não muito longe dali, ela foi do quarto para a cozinha e pegou um balde. "Vocês vão tomar um gole de chá depois de todo esse trabalho", ela disse na maior cara-de-pau, e saiu porta afora.

Eles não a ajudaram nem a impediram de sair.

Lá foi ela à casa da vidente e lhe contou sua história. "É um caso complicado, e ainda bem que você me procurou", a vidente disse, "pois você ia ter que andar muito para achar alguém que as salvasse deles. Eles não são deste mundo, mas sei de onde são. E eis o que você precisa fazer." E ela explicou à jovem o que deveria fazer.

A jovem tomou o caminho de volta, encheu o balde na fonte e entrou em casa novamente. Ao se aproximar da escada, ela jogou o balde no chão fazendo o maior barulho e gritou o mais alto que pôde: "Sliabh na mBan* está toda em chamas!".

Ouvindo isso, os homens e mulheres estranhos se puseram a correr rumo ao leste, em direção à montanha.

Sem perder tempo, a jovem jogou fora a tina quebrada, aferrolhou a porta e colocou a tranca. E ela e a mãe voltaram para a cama.

Não demorou muito, e elas mais uma vez ouviram passos no terreiro, e a voz lá fora gritando: "Chave, deixe-nos entrar!". E a chave respondeu: "Não posso deixá-los entrar. Já não lhes disse que estou amarrada à coluna da cama da velha senhora?". "Água de pés, deixe-nos entrar!", a voz disse.

"Como poderia", a água de pés disse. "Estou aqui no chão embaixo dos pés de vocês!"

E, por mais que gritassem e se esgoelassem cheios de raiva, não conseguiram entrar na casa. Tudo em vão. Não podiam entrar, pois a água de pés tinha sido jogada fora.

E lhes digo que se passou muito tempo antes que a viúva e sua filha esquecessem de jogar fora a água dos pés e de limpar a casa direitinho antes de dormir.
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* Sliabh na mBan (ou Slievenamon) é uma montanha com uma altura de 721 metros em County Tipperary, Irlanda. Nasce de uma planície que inclui as cidades de Fethard, Clonmel e Carrick-on-Suir. A montanha é rica em folclore e está associada a Fionn mac Cumhaill. (wikipedia)
Fonte:
Angela Carter. 103 contos de fadas. Publicado originalmente em 1990.