segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Luiz Damo (Trovas do Sul) XXXIV

A austeridade de outrora,
começava ao namorar,
hoje, ninguém mais namora,
todos pensam em "ficar".
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A família sempre acolhe
o filho que dela evade,
nunca a punição o tolhe
mesmo sendo só saudade.
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A vida tem se mostrado
tal sorvete a ser sorvido,
no início, doce e gelado,
mas no final, derretido.
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Da inveja, somada ao ódio,
nasce a divisão renhida,
multiplicando o episódio
de subtrair paz à vida.
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Entre a dor e o desespero
há um pedregoso caminho,
tal um amargo desterro
que o ser palmilha sozinho.
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Há quem mude a todo instante
conforme o que lhe convém,
Ignora o seu semelhante
como se fosse ninguém.
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Muitas pedras espalhadas
no leito e fora dos rios,
podem ser consideradas
base para os desafios.
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Não pretendo ser lembrado
apenas por um "ninguém",
mas por ter colaborado,
nesta vida em ser alguém.
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Nas trevas do isolamento
o homem se insula e padece,
aumenta o padecimento
e à sombra abissal fenece.
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Nenhuma estrela pereça
sem transmitir seu fulgor
e à luz, com garbo se aqueça
a alma que buscar calor.
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Ninguém gosta de adentrar
num local sem ar nem luz,
a não ser para encontrar
a fonte que à vida aduz.
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O frio se intensifica
e a temperatura cai,
a paisagem modifica
e o vivente se contrai.
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O que faz a humanidade
aumentar de forma errada,
se esconde à curiosidade,
cada vez mais explorada.
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Perdemos tempo testando
métodos e alternativas
e acabamos encontrando
frustrações nas tentativas.
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Pra que se ater na matéria
quando for inerte ou vil?
Se a ilusão gera a miséria,
a queda, um sonho senil.
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Rente o fim da caminhada,
o andante retrai seus passos,
oxalá encontre na estrada,
mais conquistas que fracassos.
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Se faltar no campo a planta
e o seu fruto a fervilhar,
não terá almoço, nem janta.
sobre a mesa familiar.
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Sem jamais titubear
ao responder, se indagado,
até no solo lunar
diz pousar, já tem sonhado.
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Sê tu mesmo a solução!
Jamais, parte de um problema.
Muito mais que proteção,
a supressão do dilema.
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Também me sinto envolvido
num processo de mudanças,
como um soldado aguerrido
que não perde as esperanças.
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Toda a pedra à mão guardada,
não sabe como termina,
poderá ser lapidada
ou tornar-se uma assassina.
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Tudo o que começa mal
termina igual, ou pior,
planejar bem é vital,
para alcançar o melhor.
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Tudo o que há na natureza
tem um meio a lhe prover,
na condição de defesa
se um ataque acontecer.
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Tudo o que tens nesta vida
jamais deves desprezar,
se ajudou-te na subida,
pode ao descer, dor causar.
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Um bom prato de alimentos
posto à mesa, a fome abate,
mas após alguns momentos,
retorna a mais um combate.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Mia Couto (Amor à última vista)

Enquanto vestia o morto, seu obituado marido, Dona Faulhinha mantinha uma conveniente lágrima. Era sempre a mesma lágrima, a única que ela derramara depois que Ananias Xavier se decidira defuntar. Se a lágrima merecia desconfiança, o falecimento não era menos fiável. A mulher deitava dúvida em Ananias, mesmo no trespasse fatal. O homem invocara uma suspeitosa doença. Pouco contava, agora, a verdade do motivo. Certo é que a suspeita ruminava em seu peito. Na penumbra da sala, Faulhinha recebia as condolências. Para efeito das visitas, ela exibia a lágrima, prova da sua tristeza, rebrilhando no fundo negro do rosto.

Quando ficou sozinha com o cadáver, Faulhinha chorou de verdade. Não por pena do falecido. Mas com desgosto de não ter sido ela a levada. Com inveja de o dedo de Deus não ter revirado sua página no livro dos viventes. Que lhe restava, agora? Ser uma réstia, sobra do nada que fora a sua vida? Durante o casamento nunca fora feliz. Mas, ao menos, ela se nutria de ódio por seu esposo, supremo mulherengo, mestre das malandragens.

Depois de chorar, lhe pareceu que qualquer coisa eclodira dentro de sua alma. Se sentiu vazada, mas não vazia. Porque o seu dentro se fez fora: lhe veio o irreparável desejo de morrer. Sempre fora mulher de sombra, no quieto subúrbio do seu viver. Se nunca tomara o pulso à vida como podia, agora, decidir pôr termo a si mesma? Não, ela nunca teria coragem para o derradeiro gesto.

Faulhinha foi a um canto do quarto e retirou a gaiola com o pássaro de estimação do falecido Ananias. Um papagaio de cabeça cinzenta que sempre a irritara e cujo trato ela declarara estar fora das suas domésticas obrigações. Mas que ela prometera tratar, com respeito, após a morte dele. Ficou olhando a gaiola e mais o incompetente bicho sobre a mesa de jantar. Viu uma tristeza nos olhos do pássaro. Simples impressão, papagaio é bicho enganoso, bem apropriado para o malandro do Ananias. Depois, a mulher ficou parada como se nela aflorasse, por fim, a mais antiga decisão de toda sua vida.

Então, se ajoelhou, ela que nunca se havia prostrado. Sofria dos ossos e das junções.

— Um dia que me ajoelhe nunca mais sairei do chão — sempre dizia.

Mas, desta vez, demorada e custosamente, ela se dobrou, joelhos na nudez da pedra. E pediu a Deus que emendasse tal morte. A levasse, sim, a ela, Dona Faulhinha da Conceição Dengo. Que ela não daria nenhum trabalho. Os anjos não necessitariam de cumprir horas extra. Morreria com tanta modéstia que nem se daria conta que se havia retirado da vida. A morte, naquela noite, nem lhe haveria de doer. Engoliria a última gota de ar, em deslize da vida para o nada. Sem suicídio, sem golpe, sem autoria. Como porta que se fechasse sem gesto nem vento. Ausentemente. Nem morrer aquilo seria: o nenhum verbo.

Vale a pena ouvir as palavras de Faulhinha Dengo. Ela que vivera sempre calada, agora, no extremo momento, se empenhava na mais cuidada oratória. Seu fito: encantar o próprio Senhor dos céus, Ele que, coitado, estaria saudoso da beleza da palavra.

Escute-se, pois, a estranha oração de Faulhinha, com a devida vênia:

— Estou a pedir licença a Deus para sair da vida hoje. Sim, me encomendo, certa e deserta. Me deixe passar para lá da margem, senhor Deus. É que, nesse outro lado, eu podia ajudar Ananias a se vestir, servir seu prato, remendar seus trapos.

Num repente, um ruído no quarto a sobressaltou. Um ranger de leito, um estalar de ossos, a fez arrepiar. Olhou de viés, que o medo não a autorizava a mais. Levou as mãos à boca para não gritar. Ali sobre o féretro, o cadáver emendava sua morte, erguendo-se e começando a falar:

— Florzita: não fale assim com Deus!

Era uma ordem? Não, era uma súplica. Pela primeira vez, ele lhe pedia alguma coisa, com humildade.

— Não faça isso, mulher, não peça para ir.

— Não se meta, marido!

— Eu preciso que fique aí, nessa outra banda. É que não tenho nenhum vivo que continue tratando de mim.

Mas Faulhinha continuou, após o susto, proferindo suas orações, encomendando a pouca réstia de alma. Ela estava pensando com o corpo no universo: como o mundo seria melhor se todos os mortos tivessem sido enterrados sorridentes. A gente chegaria até ouvir gargalhadas dos defuntos, saídas da terra quando a lua lustrasse em cima, arredondadinha. É que, da maneira que se retiram contrariados, os mortos sentem ciúme da Vida, carecendo de substância.

Cansado de escutar, o falecido agravou seu tom. Ele já não pedia. Voltava a seus modos de vivo. E berrou, ameaçou. Impassível, a esposa suspirou:

— Cale-se, Ananias. Se não, eu não consigo ouvir a voz de Deus.

— Escusa... Deus não vai falar consigo.

A esposa não dava ouvidos. E regressava às rezas. Ananias seguia, fermentando fúria. A dado momento, ele até se riu. De novo, sua risada desvalorizava a mulher. Mas depois, ele se retomou patrão, sisudo mandador.

— Eu só tenho um instante, mulher, me escute. É que tenho tarefas para você ir executando por aqui.

— Bem pode falar. Já lhe escutei demasiado quando você era vivo.

— Na nossa raça quem não respeita os mortos? Eu.

— Está armada em branca?! Pois lhe pergunto.. você está falar para qual Deus? Os nossos antigos ou esse de agora?

— Escuta, Ananias. Você não morreu?

— Sim, morri.

— Então deixe-se estar morto.

Se calasse. Mais ainda: deixasse de ter voz, deixasse sequer de deixar memórias. Que ele há muito já a tinha feito extinguir. A ela que nascera de mais. Nascera tanto que pensara que seria para sempre. Não se adivinhava mas Faulhinha tivera o seu reino. Não parecia mas ela tinha sido menina feliz, com infância farta. Era isso que a tinha salvado: o estar guarnecida de lembranças de um tempo que só há fora do Tempo.

Casara para ser duas, acabara sendo nenhuma. Asa esquecida, sua alma já esquecera o perfume do voo. Culpa dele, o Ananias. Por isso, ele a deixasse sair da vida, como ela bem queria.

O morto escutava, alarmado, as palavras de sua esposa. Falasse Faulhinha tão lindo: ele nem sabia. Antes, ela sempre se apagara em silêncio. E agora, escutando a rendeada oração, Ananias a desconhecia. Por exemplo, suas estas palavras:

— Eu quero entrar no chão antes que acabe a terra.

E, de novo, Faulhinha dirigia suas petições para ouvidos divinos. Enterrada fosse ela de cara visando o chão. Olhos fitando o céu. Agora já não lhe bastava amar as flores: necessitava ser haste e pétala, florescer por aí, fazer, por fim, justiça a seu nome.

De repente, o morto fez menção de avançar sobre a esposa. Aproveitou ela estar de joelhos e a segurou pelo pescoço. Mas a mulher respondeu com raiva e a força de seu braço reconduziu o falecido ao seu último leito. Quando falou, debruçada sobre o espantado Ananias, Faulhinha cuspia rancores:

— Não entende, sacana? Não entende que eu não quero ser sua viúva?

Pior que ter sido esposa seria carregar o luto dele. Podia ser viúva de qualquer um. Menos dele, saturada de ser sombra, ausência, espera. O morto, surpreso, ainda falou:

— Mas ainda há pouco você pedia a Deus que queria tratar de mim, aqui nos aléns...

— Pois mentia.

O falecido Ananias voltou a se entornar no leito. Ficou imóvel, categoricamente falecido. A última sílaba se enroscou nos seus olhos. Com as próprias mãos baixou as suas pálpebras. E refaleceu. Desressuscitado.

Sem se erguer, apenas arrastando os joelhos para perto da mesa, a mulher puxou a gaiola para junto de si. Abriu a porta. O papagaio não saiu logo da clausura. Esperou que o corpo da mulher se vertesse no chão inteiro. Faulhinha se derramou, abraçada pelo chão. O pássaro ainda esperou um tempo mais. Paciente, como se esperasse que o chão se convertesse em terra. Ou como se soubesse assuntos só dele. Depois, sacudiu as asas enquanto lançava um derradeiro olhar sobre a mulher. Se Faulhinha ainda ali estivesse teria reconhecido, com estranheza, aqueles olhos. Só então o pássaro voou, adentrando-se no seu primeiro céu.

Fonte:
Mia Couto. Na berma de nenhuma estrada e outros contos. Publicado em 2001.

domingo, 4 de setembro de 2022

Adega de Versos 89: Renato Alves

 

José Roberto Balestra (Versos Avulsos)


O tempo acelera, mas... PACIÊNCIA; a vida é tão rara...

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo, e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber?
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, eu sei, a vida não para (A vida não para, não)
A vida não para

A vida é tão rara...
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Há mais no céu de hoje do que se imagina…

O sol que fica perto de lá... bemol
Neblina que vem d’manhã... é sol
Dó de si o é porque foi... sustenido
E si de dó na volta é bemol... sustentado

Advertiu Riobaldo; viver é muito perigoso!
Então hoje vou estar mais preocupado.
Porque quando não aparece o tinhoso
Costuma vir o secretário atentado.

Preciso me benzer com muito sal:
Hoje tem Lua mais longe de noite
E também eclipse lunar penumbral
Acho muito pr’um só dia de açoite

Assim peço, e me sinto consolado:
- Valei-me meu São Serapião,
Protetor dos órfãos e abandonados,
Tira-me os pés das más coisas do chão
De hoje…

Fonte:
Blog A Balestra
https://zerobertoballestra.blogspot.com/

Concursos de Trovas com Inscrições Abertas (Prazo final: 30 de novembro)


Concurso de Trovas da ATRN/UBT Natal-RN
Prazo: 30 de Novembro

Tema – Âmbitos Nacional/Internacional e Estadual
(Lírica/Filosófica): ESTAÇÃO(ÕES)

Tema – Âmbitos Nacional/Internacional e Estadual
(Humorística): DESLIZE(S)

Tema – Âmbito Interno, associados ATRN e UBT/Natal-RN
(Lírica/Filosófica): CANSAÇO(S)

Tema – Âmbito Interno, associados ATRN e UBT/Natal-RN
(Humorística): SUFOCO(S).


Apenas UMA TROVA por participante;

A palavra tema deverá constar na Trova;

No âmbito nacional/internacional, em língua portuguesa, deverá haver menção à categoria (veterano ou novo trovador);

Novos trovadores concorrerão apenas com Trova Lírica/Filosófica, âmbito Nacional/Internacional;

Enviar a identificação com nome, endereço, telefone e e-mail (se possuir);

A participação será por E-mail e/ou por Sistema de Envelopes:

Para o âmbito Nacional / Internacional Língua Portuguesa

Por Sistema de Envelopes:

A/C de Mara Melinni
Rua Major Camboim, 801
Bairro Paraíba
Caicó/RN
CEP: 59.300-000

 Por e-mail:

Fiel depositário: Magnus Kelly
magnuskelly@yahoo.com.br


Para o âmbito Estadual

 Por Sistema de Envelopes:

A/C de Mário Moura Marinho
Rua Outono, 270
Centro
Sorriso/MT
CEP: 78.890-192

Por e-mail:

Fiel Depositário: Jerson Brito
jersonbrito.pvh@gmail.com


PARA O ÂMBITO INTERNO

Apenas por e-mail:

Augusto Severo
guteco@gmail.com


Prazo máximo para recebimento das trovas: 30/11/2022.
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CONCURSO DE TROVAS DE TAUBATÉ - 2022
Prazo final para envio: 30/novembro

TEMAS:

Nacional / Internacional
(
Lírica/Filosófica) Trovadores do Brasil e do mundo, exceto Estado de São Paulo:

- LIVRO =
para Veteranos e Novos Trovadores
 
Estadual
(Lírica/Filosófica) Trovadores do Estado de São Paulo, exceto Taubaté:

- PROGRESSO
 
Municipal
(Lírica/Filosófica) Trovadores de Taubaté:

- PRECE
 
Humorística (Todos trovadores independente de categoria):

- SOGRO (no masculino mesmo)

Trovadores Mestres
(Lírica/Filosófica):

- PORVIR


- Máximo de 2 trovas por participante para todas as categorias;

- Valem palavras derivadas, cognatas e mesmo somente a ideia do tema contida na trova; a trova deve ser inédita, escrita em língua portuguesa e de autoria própria;

MODO DE ENVIO:

- Em qualquer modo de envio é obrigatório que o Novo Trovador indique essa condição (no corpo do e-mail ou na parte de fora do envelopinho);

 Por email:

Fiel Depositário - Raul Filho

ubttaubateconc@gmail.com


- Ao enviar por e-mail: No campo Assunto colocar: Concurso de Trovas de Taubaté 2022;

- No corpo do e-mail são dados obrigatórios: o tema a que concorre, a trova, a condição junto a UBT Nacional caso seja Novo Trovador e a identificação (nome, cidade/estado/país, telefone/whatsApp e e-mail);

 Pelos Correios - Sistema de envelopes:

Endereço:
Concurso de Trovas de Taubaté 2022
A/C Raul Filho
Rua Jacques Félix, nº 510 - apto. 101 - Centro
Taubaté-SP
CEP 12020-060


- As trovas recebidas no Concurso Nacional/Internacional, serão julgadas separadamente por categorias (Veterano e Novo Trovador).

- Os trovadores Mestres (título outorgado pela UBT Taubaté desde 2015) serão comunicados individualmente;

- Para conhecimento acerca dos critérios para a obtenção do Título de Trovador Mestre, bem como aqueles que atualmente compõe o Quadro de Trovadores Mestres (L/F ou H), a UBT Taubaté estará a disposição para esclarecimentos e dirimir eventuais dúvidas.

- As decisões da Comissão Julgadora serão soberanas e irrecorríveis;

- Casos avulsos serão resolvidos pela Comissão Organizadora;

Taubaté, 20 de agosto de 2022
- Realização: UBT Seção Taubaté-SP
- Apoio: Academia Internacional da União Cultural

sábado, 3 de setembro de 2022

Varal de Trovas n. 567

 

Milton S. Souza (A melhor coisa do mundo)


A pergunta que aquela professora de quarta série de uma escola municipal de Santo Antônio da Patrulha fez para os seus alunos deixou a classe inteira agitada. Ela deu dez minutos para eles responderem por escrito “Qual a melhor coisa do mundo?”. Depois de diversas consultas entre eles, com a formação de grupinhos, os alunos baixaram a cabeça e começaram a escrever as suas respostas. Quando todos terminaram, a professora recolheu as folhas, separou por assuntos, e começou um debate em sala de aula.

A grande maioria dos alunos colocou a saúde como melhor coisa do mundo. Mas alguns pensaram diferente.

Para aquela menininha de tranças, olhar triste e perdido, “a melhor coisa do mundo é ter um pai e uma mãe”. Ela completou dizendo que “não é fácil viver jogada no mundo e ser criada por estranhos”.

O garoto mais bagunceiro da classe afirmou que “a melhor coisa do mundo é  matar aula para jogar futebol”.

A garota de óculos “fundo de garrafa” que sempre sentava na primeira fila ressaltou que “A melhor coisa do mundo é enxergar bem”.

O menininho raquítico e esfarrapado, que já havia sido ajudado várias vezes pelo atendimento social da escola, garantiu que “a melhor coisa do mundo é ter o que comer”.

E aquela garota gordinha, que seguidamente trazia flores ou maçãs para a professora, esbanjou puxa-saquismo dizendo que “a melhor coisa do mundo é ter uma professora como a senhora”...

Nem é preciso dizer que o debate na sala de aula rendeu muito. O grupo que apostou na saúde enfrentou todos os outros dizendo que “sem saúde não adianta ter comida, casa, mãe e pai ou qualquer outra coisa”. Ao defender a ideia, eles até conquistaram os apoios de vários daqueles que pensavam diferente. Até o matador de aulas concordou que sem a saúde não dava para jogar futebol. Mas o grupo não conseguiu convencer a menina de tranças de que saúde é melhor do que ter pai e mãe: “Se alguém não tem saúde, mas tem um pai e um mãe para lhe cuidar, pode superar os seus problemas. Se alguém tem saúde, mas não tem pai e mãe, pode ficar doente por viver atirada no mundo”. A lógica da menina chegou a emocionar a professora. No final da aula, ela explicou para os alunos que a melhor coisa do mundo seria aquela que a gente estivesse necessitando com urgência naquele momento, seja a saúde, uma casa, um pai ou uma mãe e até um copo de água para matar a sede.

E você, leitor, que resposta daria para aquela pergunta? Eu, por exemplo, teria muita dificuldade para responder. São tantas as coisas boas e valiosas que Deus coloca todos os dias na minha vida que seria quase impossível optar por apenas uma. Talvez eu ficasse com o amor daquela pessoa que mais amo. Talvez colocasse nesta resposta a minha família inteira. Talvez tivesse que pensar muito antes de retirar das opções as minhas duas maiores manias: ler e escrever. Qualquer resposta, por certo, ficaria incompleta. Por isso, vou apostar em uma mais simples que, no meu modo de ver, consegue englobar todas as outras: “A melhor coisa do mundo é, mesmo, viver”…

Fonte:
Recanto das Letras do autor.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/84963

Fabiano Wanderley (Glosas) - 6


BEHRING LEIROS, O POETA,
PÕE NO VERSO, O CORAÇÃO.


Com o esmero, que secreta,
sabe expor, seu sentimento,
faz fluir o seu talento,
Behring Leiros, o poeta.

Quando na alma, ele arquiteta,
uma grande inspiração,
trás no afã dessa emoção,
todo o ardor da sua essência,
com ternura e sapiência,
põe no verso, o coração.
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CADA QUAL TEM SEU ALGOZ
NESTE MUNDO DE MORTAIS


É próprio, de todos nós,
seja rico ou seja pobre,
preto escravo ou senhor nobre,
cada qual, tem seu algoz.

Quem não teve um dia atroz?
Se, ante a Deus, somos iguais.
Não esqueçamos, jamais,
que os ricos também padecem,
que afinal todos perecem,
neste mundo de mortais.
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ESSE CARA NUNCA MENTE,
PORÉM VERDADE NÃO DIZ.


Se escuta, frequentemente,
que ele é dono da verdade,
que adora a sinceridade,
esse cara nunca mente.

Eis que sabe muita gente,
cá, do café São Luiz,
que o mesmo, se contradiz,
nas coisas que ele comenta,
se, de fato, não inventa,
porém verdade não diz.

(A um cidadão, que gosta muito de contar vantagem, mas, que fica furioso, se acha, alguém que o discorde)
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O SENHOR JÁ ME OFERTOU
SETENTA ESTRADAS DE VIDA.


Amigos me premiou,
me deu luz, felicidade,
um grande amor de verdade,
o Senhor já me ofertou.

Também me presenteou
nesta estrada prometida,
uma família querida,
com muita paz e carinho,
marcando, no meu caminho,
setenta estradas de vida.
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PELAS ANDANÇAS DA VIDA,
ME VI, NA TRILHA DO TEMPO.


Buscando sempre guarida,
ante os prazeres do mundo,
vivi meu tempo fecundo,
pelas andanças da vida.

Essa fase tão vivida,
como um mero passatempo,
sem hora, sem contratempo,
sem queixas ou desenganos,
levou consigo, meus anos,
me vi, na trilha do tempo!
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TÃO SOMENTE POR AMOR
CAPOTOU MEU CORAÇÃO...


Fez-se um servo, um servidor,
se entregou de corpo inteiro,
se tornou prisioneiro,
tão somente por amor.

Quase em meio a um torpor,
sem conter tanta emoção,
desprendeu sua paixão,
seu amor tão inerente
e aos pés da Deusa, fremente,
prostrou-se o meu coração.

Fonte:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley. Versos Di Versos. Natal/RN, 2014.

Aparecido Raimundo de Souza (Arcanjo renegado)

VOCÊ CHEGOU até aqui, não sei vinda de onde, ou a mando de quem. Sei apenas que apareceu do nada, a procura de uma vaga de emprego. Deixou um currículo simples sobre a minha mesa, com foto, telefone de residência, celular, três pessoas conhecidas para discorrerem sobre o seu caráter. Enfim, um portfólio simples, resumido, com os acessórios necessários para um contato posterior, caso eu optasse por eleger o seu nome ao cargo vago na empresa da qual exatos vinte anos tenho sido o insubstituível diretor de recursos humanos. Aconteceu que junto com a pequena apresentação por você trazida, veio algo mais forte embutido no contexto. Na verdade, de roldão, caiu de dentro do envelope rosa, um elo forte, mais robusto que a sua própria vontade de querer trabalhar.

Diria que junto com aquela folha de papel, um perfume inebriante (cuja essência entrou pela sala) se fez mais fornido (*1). Grudou nas paredes. Em contínuo, aderiu aos quadros, se anexou aos móveis e, deles, partiu direto se “adjuntando” (*2) para dentro de mim, indo, por consequência, se alojar sorrateiro num lugarzinho secreto existente em meu âmago e também no centro nevrálgico do meu coração. Você deixou, melhor dito, não deixou... ficaram de você, pedacinhos de sua beleza entrelaçados com estilhaços do seu carisma. Igualmente fragmentos de sorrisos bonitos e indescritíveis permaneceram gravados na minha retina. De contrapeso, um mistério bucólico se projetou no ar, e junto, um segredo perene, um mimo cresceu imensamente a partir do momento em que, dado por encerrada a entrevista, você se levantou, me desejou um bom dia, sorriu brejeira e maviosa.

Em seguida, a sua beleza ímpar virou as costas e foi embora. Partiu, e quando me dei conta, percebi que o calor abrasante da sua presença havia se incrustrado em minhas entranhas. O seu cheiro de mulher se fez retido no HD da minha memória. E não foi só. O seu cheiro de fêmea à flor do cio, persistiu veemente, e, logo em seguida, se propagou ensandecendo o meu franzino de homem literalmente esfanicado (*3). A sua voz, ainda agora, tanto tempo passado, ouço, serena e calma, tranquila e deliciosa, “caliente” e fagueira nos meus sonhos, de onde, aliás, nunca mais consegui apagar. Digo tudo o que me vai na alma, nesse exato momento e, tal fato, jogado no ar, assim abertamente, tem o condão de extravasar de dentro da alma o que antes se fez convicção, porque depois daquela despedida, algo inusitado mudou os destinos e os rumos da minha vidinha pacata.

O meu “eu” passou a viver exclusivamente para fortalecer o seu absentismo (*4).  Lembro, dias depois, voltei a ligar e marcamos um apontamento, ou melhor, você me fez um convite que considerei excêntrico e original. Pediu que na sexta-feira, por volta do meio dia, fosse até a sua casa almoçar e, na oportunidade, conhecer a sua mãe. Pior que não resisti à tentação. Não é que não aguentei. Simplesmente não me furtei ao impulso incitante do chamamento. Fora de mim, alvoroçado pelo que sentia, me coloquei em brios de um sujeito sério e respeitoso e meu Deus, lá fui eu, embasbacado, lustrando as presas para o golpe da fera adormecida, caso atonasse. Brincadeira, modo de dizer. Apareci como combinado, de cara limpa, a única, aliás, que me acompanhou desde que me entendi por gente. Surgi assim como você em minha sala, exceto pelo atraso. Quase às duas da tarde, para o tal almoço. Demorasse mais um bocadinho, certamente mataria a sua mãe de fome e a Frigidaire azul dos tempos de Belchior de vergonha (*5).

Depois dos comes e bebes, sentamos na sala. Conversamos, tomamos café, lanchamos e, quase às dez horas da noite chegou a hora de tirar o time de campo.  Passado a magia do inaugural, na segunda-feira voltamos a renovar tudo o que havíamos feito. Lanchamos na padaria perto da empresa. Na terça-feira, você sumiu de vez. Não sei para onde. Escafedeu. Liguei por diversas vezes e ninguém atendeu, nem a sua mãe o telefone fixo. Nessa brincadeira infeliz, um mês se passou. Não mais tivemos contato, nem pessoalmente, nem por WhatsApp. Por esse motivo, bem por esse motivo, acredito, me favoreço com a nostalgia ingrata da sua dispersão. E, por ela, creio, permaneceu no ar, desde sempre, um vazio muito grande, um oco doentio que se tornou maior com o passar das horas e das semanas subsequentes.

Cinco meses hoje. Acabou. Agora entendo, a cabeça ainda doendo, os batimentos acelerados, todavia os pés firmes assentados no chão. Percebo, tudo o que vivemos em tão curto espaço de tempo, virou saudade. O que foi dito e o que não saiu pelas nossas bocas escancaradas, naqueles encontros me faz pensar que coloquei cupim na Santa Cruz. Sinto, em paralelo, no calor destilado da minha emoção, as risadas que demos, os abraços trocados, os beijos permutados, o amor disparatado dentro do carro na garagem da sua casa... me recordo sobremaneira, despindo a goles poucos, o seu corpo diante de uma expressão contumácia. Recapitulo as nossas pernas enclausuradas qual cadeado emperrado... enfim, final de tudo, nossos suores ajoujados como dois gatos selvagens brigando por um ratinho de esgoto. Tudo acabou em coisa alguma, atrelada numa sequência degenerativa que se transformou nessa lacuna enorme e de inconsequente solidão.

Tenho consciência que embarquei numa canoa furada e somente eu careço urgentemente de encerrar essa viagem. Colocar um ponto final definitivo bem sei, demanda, o mais depressa possível à minha consciência desequilibrada. Necessito antes que morra de nostalgia pelo silêncio iracundo (*6) que se perpetuou em derredor da minha vida, me restabelecer à normalidade. De resto, esquecer a sua vinda ao meu quadrado, ao meu mundo. Rasgar o seu currículo em pedacinhos e jogar no lixo o seu retrato. Apagar do meu celular os seus telefones, as conversas e mensagens que trocamos. Tenho que olvidar, igualmente esquecer a sua rua, o seu bairro, a sua mãe, a casa, o almoço, o lanche na padaria, o amor inesquecível que fizemos no banco traseiro do automóvel. Ou isso... ou, em patente hostil e nocivo, acabarei louco... um tresloucado varrido desorbitado e à mercê da própria imbecilidade.   
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* Notas de rodapé:
1 – Fornido: O mesmo que abastecido, robusto, corpulento
2 – Adjuntando: Aquilo que está próximo, contíguo, agregado
3 – Esfanicado: Despedaçado, esmigalhado, esfarrapado
4 – Absentismo: O que falta com seus deveres e obrigações
5 – Frigidaire: Geladeira, refrigerador
6 – Iracundo: Pessoa cheia de ira, encolerizado, violento


Fonte:
Texto e notas de rodapé enviados pelo autor.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Daniel Maurício (Poética) 38

 

Humberto de Campos (As camisas)

Há muitos dias que o Dr. Abelardo insistia com a mulher, a encantadora D. Silvia, para que usasse umas camisas de seda cor de rosa, que, na sua opinião, lhe deviam assentar admiravelmente sobre a pele clara, macia, cetinosa. Apaixonada pelo marido, que sabia disputado pela mais íntima das suas amigas, a loura Luizita Corrêa, D. Silvia escancarou, nesse dia, o grande móvel do quarto de vestir, em que guardava as suas roupas de interior e, tirando as dezenas de camisas que ali estavam arrumadas com ordem, ia mostrando-as, uma a uma, ao esposo:

- É assim?

- Não.

- É dessas, de seda, enfiadas de fita?

- Não.

- É assim, apenas com uma fita sobre o ombro?

- Também não!

E como a esposa lhe não mostrasse nenhuma camisa como a que ele desejava acariciar sobre o seu corpo soberbo, convidou-a ele próprio, beijando-a nos olhos.

- Amanhã, na cidade, veremos onde tem. Quero comprar-te uma dúzia. Ouviste, meu amor?

D. Silvia agradeceu, com um sorriso e um beijo, a gentileza amorosa do esposo e, no dia seguinte, à tarde, entravam, os dois, contentes, em uma casa de modas da rua do Ouvidor, onde, tomando a dianteira, o marido pediu:

- Camisas de dia, de seda, para senhora; n. 3.

- Que cor? - indagou, solicita, a moça que o atendeu.

- Cor de rosa.

A empregada subiu ao primeiro andar, trouxe algumas caixas de camisas de seda, mas nenhuma correspondia ao desejo elegante do freguês, que era, de fato, exigente.

- Não são destas? - consultou.

- Não, senhora. São mais finas, mais transparentes, com uma renda de seda até quase à cintura.

- Ah! Já sei! - exclamou a mocinha, sorrindo.

E, levantando os olhos para o andar superior chamou por uma companheira.

- Julieta!

Apareceu, em cima, no balaústre, a cabeça oxigenada de outra caixeira da casa.

- Manda-me dali, por favor - pediu - a caixa de camisas n. 8.645.

E, particularizando, alto:

- Olha! daquelas que D. Luizita Corrêa comprou aqui... Sabes?

Quando as camisas desceram das nuvens, D. Silvia tinha subido.

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

XXI Concurso de Trovas do CTS/UBT Seção Caicó-RN (Trovas Premiadas)


ÂMBITO NACIONAL
TEMA: Labirinto (s)

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NOVO TROVADOR
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1º lugar
José Osmar Rios Macedo
Feira de Santana – BA

Repica suave o sino
da minha infância perdida.
São curvas do meu destino
Nos labirintos da vida.
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2º lugar
Terezinha de Jesus Garcia Ferreira
Campo Grande - MS

Nos labirintos da vida,
me perdi e me encontrei.
Sigo em frente, destemida
e a vitória alcançarei!!!!
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3º lugar
Ademarcos Dantas Santana
Nossa Senhora Aparecida - SE

Se o valente coração
está preso pelo instinto,
escute a voz da razão
pra sair do labirinto.
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4º lugar
Lucca Lopes Dias Santos
Anápolis – GO

Transborda, com muito alento,
o grande temor que sinto
de cada ressentimento
prender-me em seu labirinto.
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5º lugar
Dulce Rocha de Matos
Niterói - RJ

Nos labirintos da vida,
muitas vezes tropecei,
mas nos seus braços querida,
os meus sonhos realizei
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ÂMBITO NACIONAL
TEMA: Labirinto(s)

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VETERANOS
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1º Lugar
José Manuel Veloso Galvão
São Paulo – SP

Sem chão, sem rumo, a mãe chora
e o fim de um fim a Deus roga,
por ver o filho indo embora
nos labirintos da droga!...
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2º Lugar
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes – PR

Em labirintos, perdida
por seu amor que avassala,
sei que existe uma saída...
mas, nem penso em procurá-la!
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3º Lugar
João Batista Vasconcelos
Nova Friburgo – RJ

Suplício é ver os teus braços
no labirinto do adeus,
fugindo dos meus abraços,
fingindo que não são teus…
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4º Lugar
Ariete Regina Correia
Rio de Janeiro – RJ

Tamanha saudade eu sinto,
que ao cruzar tempo e distância,
te encontrei no labirinto
das ruas da minha infância.
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5º Lugar
Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo – RJ

Eu e tu somos tão sós,
de tal maneira, que sinto
que o ciúme faz de nós
dois cegos num labirinto...

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 6º Lugar
José Ouverney
Pindamonhangaba – SP

Na nossa cama esse vão
entre nós é um labirinto
onde a insônia dá plantão,
velando um desejo extinto...
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7º Lugar
Renata Paccola
São Paulo – SP

No labirinto da vida
nem sempre há portas abertas,
somente encontra saída
quem faz as escolhas certas!
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8º Lugar
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora – MG

Caminhar por esta vida
sem a fé que nos conduz
é feito achar a saída
de um labirinto sem luz.
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9º Lugar
Madalena Ferrante Pizzatto
Curitiba – PR

Nos labirintos sombrios,
o meu sonho se perdeu,
enfrentando desafios,
eu procuro quem sou eu.
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10º Lugar
Cléber Roberto de Oliveira
São João de Meriti – RJ

Enredando-os com enganos,
cruel Mundo, atrais e jogas
novos “farrapos” humanos
no labirinto das drogas!...
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11º Lugar
Andra Valladares
Vila Velha – ES

Nas sendas do inconsciente,
amo-te em sonhos, não minto.
Perdendo-me... ardentemente...
neste interno labirinto.
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12º Lugar
Lothar Bazanella
São Paulo – SP

Nos labirintos da vida,
andei muito tempo a esmo.
E por não achar saída,
Acabei preso em mim mesmo.
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13º Lugar
Antônio Accioly
Nova Friburgo – RJ

O peso desse cansaço
que vive dentro de mim…
Faz de mim um longo traço
de um labirinto sem fim!
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14º Lugar
Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro – RJ

Nos labirintos da vida
sigo em busca dos teus braços
e, quanto mais dura a lida,
mais persevero em meus passos.
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15º Lugar
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte – MG

A tristeza se arrefece
e as mazelas eu transponho
na ladainha da prece,
no labirinto do sonho.
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TEMA: Abrigo(s)

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ESTADUAL (RN)
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1º Lugar:
Marcos Antonio Campos
Natal/RN

Vejo na tela as entranhas,
no abrigo o filho auscultado,
nas imagens tão estranhas
pulsa o rebento esperado.
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2º Lugar:
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros/RN

Voltei ao teto sem forro...
Doeu ver, no velho abrigo,
as ossadas do cachorro
que foi meu melhor amigo.
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3º Lugar:
Francisco Gabriel
Natal/RN

Se outro amor não me consola,
sem temer novos fracassos,
eu quero, até por esmola,
ter o abrigo dos teus braços.
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4º Lugar:
Lucélia Santos
Patu/RN

Coração dilacerado,
amargurado e tristonho...
Abrigo desmoronado,
contendo um resto de sonho.
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5º Lugar:
Professor Garcia
Caicó/RN

Teu ventre, mãe, foi meu ninho
e abrigo dos teus abraços,
onde aprendi, com carinho,
a dar meus primeiros passos!
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6º Lugar:
Eva Yanni de Araújo Garcia
Caicó/RN

Mãe, em sua perfeição,
é o abrigo de outro ser,
que pulsa em seu coração
e outra vida faz nascer!
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7º Lugar:
Rozanni Garcia
Caicó/RN

Sem saber o que há de vir,
num abrigo de ilusões...
Há pessoas a sorrir,
perdidas nas multidões.
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8º Lugar:
Edson de Paiva
Rafael Godeiro/RN

Não tem frio que um mendigo
passe em tenebroso inverno,
que não cesse em um abrigo
quente de um colo materno.
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9º Lugar:
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley
Natal/RN

No seu viver, lancinante,
leva a solidão, consigo,
é um mísero, constante,
que tem o chão, como abrigo...
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10º Lugar:
Professor Maia
Caicó/RN

Meu coração safenado,
vítima, do teu castigo;
agora, recuperado,
não quer mais te dar abrigo.
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11º Lugar:
Hélio Pedro Souza
Natal/RN

Nas tempestades da vida,
dentre as fugas que persigo,  
quando não há mais saída
em mim mesmo é que me abrigo.
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12º Lugar:
Mara Melinni
Caicó/RN

A fé que guia os meus passos
e não me deixa sozinho,
é abrigo, nos meus fracassos,
e é clareza, em meu caminho!
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13º Lugar:
Hélio Alexandre Silveira e Souza
Natal/RN

Quem vence a sombra e o castigo
da conduta interesseira
encontra luzes no abrigo  
da amizade verdadeira.
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14º Lugar:
Veridiana Jácome
Messias Targino/RN

Construindo-se uma vida,
sendo humilde e fraternal,
pode-se encontrar guarida
no abrigo celestial.
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15º Lugar:
Ieda Lima
Caicó/RN

Vovó de colo macio,
perfume, candura, afeto:
Abrigo, dias a fio...
Saudade eterna do neto.

Fonte:
Prof. Garcia
Presidente da CTS/UBT Seção Caicó-RN

Jaqueline Machado (A cor púrpura)

Cellie, a instigante personagem da obra: A Cor Púrpura, da incrível autora Alice Walker, não nasceu para a vida. Nasceu sim, para a dor, para o horror e para a aceitação do que é inaceitável.

A jovem negra, nascida numa fazenda, quase sem estudos, nunca teve direito a nada. Passou por todos os tipos de torturas, inclusive a de ser violentada pelo próprio pai. Pai, não, um monstro que a engravidou duas vezes e vendeu as crianças logo após nascerem.
 
Cellie era muito apegada à sua irmã Nety, mais jovem e mais estudiosa. Com ela, tentava desenvolver alguns estudos, mas com a sua mente cansada e sem propósitos, quase nada conseguia assimilar. Seu coração triste, mais sombrio ainda ficou depois que sua irmãzinha tão jovem, casou-se com um viúvo que tinha idade para ser seu pai.
 
Pobre Cellie, só lhe restava os constantes desabafos que fazia diariamente escrevendo cartas para Deus, com as suas rudimentares mal traçadas linhas.

Com mais ou menos vinte anos, ela é vendida a Albert, um homem cheio de filhos. Era mais escrava do que esposa. Cuidava da casa, das crianças, do roçado e, como se não bastasse, ainda teve que abrigar e cuidar da amante do marido, uma cantora chamada Avery Shug, que estava doente. Mas para surpresa geral, as duas ficaram amigas. Avery era uma mulher ousada, livre em seus pensamentos e ajudou a mudar a mentalidade abnegada da esposa - escrava.
 
A cantora gostava de Albert, mas, com a saúde estabelecida, passou a gostar mais ainda da mulher do seu amante, com quem viveu um romance. Antes da chegada de Avery, Cellie não conhecia prazer e vontades. Direitos humanos, para ela, pertencia ao pós- morte. Pensava: “A vida aqui na Terra passa rápido, mas o paraíso é eterno”.
 
Porém, mais tarde passou a ter voz e fazer valer as suas opiniões numa sociedade norte-americana, onde a utilidade da mulher negra era apenas servir.

História triste e ao mesmo tempo bela. Sua mensagem reflete as problemáticas sociais do passado e do nosso presente.
 
Fonte:
Texto enviado pela autora

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Vanice Zimerman (Tela de Versos) 4: O Voo da Sereia

 

Aparecido Raimundo de Souza (Tudo aconteceu no silêncio de um instante)

DE REPENTE você se fez real, palpitante, verdadeiro e incontestável. A sua vinda triunfal se misturou ao bulício inquietante de uma espera auspiciosa e vibrou dentro de mim em particular, como uma música suave que encantou o meu espírito e inebriou o que, num piscar de olhos, se tornou imensurável. Por conta de fenomenal milagre, me peguei em transe contínuo. Vibrei o âmago como se estivesse em uma roda da Cumbiamba (*1).  E não parei por aí. Vi-me, a partir de regalos auspiciosos, viajando envolto em nuvens sedentas de paz e aconchego, como se devaneasse num sonho fascinante, um embevecimento que nunca antes havia descoberto dentro da minha galopante e tola obscuridade. Pequeno ser recém-chegado de um mundo distante, bem longe da Terra, você se materializou em flor botão.

Se abriu sempiterno e imarcescível, se fez jubiloso, como na reencarnação de um ser engrandecido, se aconchegou de forma magistral em meu peito, se transformou como uma esperança nova a tecer no quadro da minha vida pregressa, caminhos novos, estradas e sendas que até então eu não sabia existirem em meu destino. O seu rostinho moldado nas asas de um amor angelical, se propagou em uma cópia justa e perfeita, tal como se em seu semblante eu revisse, num filme da infância longínqua, a minha Narjara (*2) em melodiosa ascendência no florido trinta de junho de mil novecentos e oitenta e nove.

Faço menção aqui, meu neto Miguel, e quero que você saiba, desde agora, um dia, quando tiver entendimento, a sua mãe, minha filha, quando ainda, na sua inocência mal desabrochada, brincava por ruas descalças nos meus anseios e eu nem sabia direito o que se constituía ser um “pai de verdade”.

Em outras palavras, eu não tinha pontos de referências robustos para entender, em todo o esplendor, o verdadeiro significado do que meus familiares me apontavam como o folguedo da tal Felicidade. Via-me meio sem juízo, como Holden Caulfield (*3) aos dezessete anos. Agora, meu lindo, nada do que ficou na partícula da distância importa. O que faz toda a diferença é que você se fez viçoso e luxuriante, assim do nada, e, agora, descansa envolto em um berço de fronhas e lençóis recheados de muito amor e carinho. Pois é, meu Príncipe! Você veio de mansinho. Viajou nove longos meses agasalhado em um lugarzinho secreto e, ao chegar, me abriu, no âmago do coração despedaçado, lembranças de outros tempos.

Trouxe, na bagagem, ao meu agora, velhos rascunhos amarrotados de um “tenebroso passado” que dormitava quieto e anônimo dentro da minha imaginação sequiosa e à espera do momento certo e oportuno de vingar, coroar e me fazer voltar a ser avô novamente. O milagre, pois, se fez real. Eu não sou mais aquele garoto que conversava com um pé de Laranja Lima e morava num palácio japonês bem longe da terra. Por isso, agora, de fato, vovô (seu avô), me vejo prestigiado e vivo, saudável e de bem com o aconchego dessa exortação, como se renascesse das cinzas, não como a Fênix mitológica, todavia, dentro de uma prerrogativa próriga (*4) e condescendente, tipo um afago inexorável até então acanhado e enlanguescido.

Num passe de mágica vasto e desmedido, enquanto uma música se esvaia no ar, voltei às carreiras e nos solavancos do tempo (do meu tempo) e me restaurei, por inteiro, a alma e todo o meu “eu oculto” aos prazeres indescritíveis da sua apropinquação aos contornos do meu mundo. Por conta de tamanho evento, num instante obumbrado, me faço real. Aliás, me fiz real. Não me vejo sindromeado, como se vivesse às loucuras de Diótrefes (*5). Tenho consciência que me soergui fundido num relicário de poemas novos, atrelado num ofertório agraciado pelas mãos santas do Pai Maior. Talvez, por conta de tamanho segredo, oculte ainda mágoas, sofridas, intempéries possivelmente advindas do meu pretérito trilhado à desvãos da má sorte.

Em paralelo, ao desalinho dos caminhos da fatalidade e, ainda, por via de mãos incertas, me debatia, à deriva, fustigando a vida de maneira errônea, pelejando, porém, para que ela se fizesse, a cada segundo, mais plena e confiável, acordando sempre de uma pasmaceira-letárgica antiga, à chegada nova de um porvir que se aproximou saudável e triunfante. Claro, obviamente, sem me importar com as cores dos matizes que ainda insistem em se manterem espessas, carregadas de incertezas, prontas para turvarem a minha verdadeira realidade dos meus tempos de agora.  Por tudo o que acima deixo exposto, você, meu neto, será o meu grito de vitória. Igualmente, a euforia ímpar das boas vindas que circulam dentro das minhas expectativas de um porvindouro repletado de bons presságios.

Sobretudo, meu pequeno Miguel, seja a sua estada em meu trilhar, o curso auspicioso, o reverdejar constante e avigorado de uma condição espiritual que acredite, imaginava degenerada, desfalecida, apesar do meu pedido de socorro “incessantear” (*6) na esfera do meu paroxismo que ainda, neste exato momento, aflora incansável e majestoso, grandiloquente e monumental, como a intensidade febril de uma alma literalmente acampada em benfazejo clima de festa.
      
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* Notas de rodapé:   
(1) Cumbiamba - dança de roda colombiana, muito popular na costa atlântica.
(2)  Narjara - minha filha com Carla Laranja.  
(3) Holden Caulfield - personagem do romance “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger, lançado em 1951.
(4) Próriga - sem rodeios ou desvios.
(5) Diótrefes - Homem ambicioso e inóspito, citado na 3ª epístola de João v. 9-11.
(6) Incenssantear – ser esforçado, quase repetitivamente.


Fonte:
Texto, fotos e notas enviadas pelo autor.

quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Dorothy Jansson Moretti (Album de Trovas) - 13

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) 60

Noite para dormir quentinho. Frio de renguear cusco, como se diz nas querências do sul. Ventos de agosto seguem intangíveis, mas sentidos até nas entranhas dos viventes. Céu e terra e ares por testemunhas.

A noite chegou imensa na lua cheia, na frialdade, nalgum ranger de dentes. Na verdade o povo que habita a parte meridional do país está bem acostumado com as temperaturas do inverno.

Os meses de intempéries - geada, ventos gelados, frio, neve - dão origem a uma diversidade de prazeres nas pessoas. Alguns gostam de dormir no frio, outros, de levantar cedo, os enófilos, de bebericar os vinhos, e há aqueles que gostam de viajar para locais frios os mais tradicionais. E os apreciadores de vestir agasalhos mais pesados, sobretudo sobretudos.

E como nos envolvemos e implicamos com o tempo em nossas vidas, sempre há uma frase a nosso favor: "É tão bom deitar e ouvir o barulho do vento lá fora. No frio não é difícil acordar, difícil é sair da cama. Frio e cobertor é tudo que eu preciso para ser feliz ".

Pois entre os meus regalos há aquele que diz que o inverno é gostoso porque a gente dorme quentinho.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

VIII Concurso de Trovas Literárias da UBT Seção Caxias do Sul/RS (Trovas Premiadas)


Tema: Independência

Âmbito Nacional  

Veteranos

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VENCEDORES  (em ordem alfabética)
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Duzentos anos benditos,
mas é clara a consciência
de que faltam muitos gritos
para a plena independência!
Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas – MG
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Dom Pedro, a quem aclamamos,
foi na Independência um bravo,
mas nas paixões, convenhamos,
nunca passou de um escravo.
Gerson Silvestre Alencar Gonçalves
Belo Horizonte – MG
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Depois de duzentos anos
do grito de independência,
ainda os grilhões insanos
nos mutilam sem clemência.
Luiz Vieira
Irati – PR
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Do grito de Independência,
duzentos anos de história,
dão ao Brasil consciência:
- que ser livre... é ter memória!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes – PR
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Duzentos anos! E eu, louco,
ainda busco colher
a Independência que, rouco,
clamo por ver florescer!
Vera Tereza Rolim Chyczy
Curitiba - PR

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MENÇÕES HONROSAS (em ordem alfabética)
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Quando um raio de esperança
brilha neste céu de anil,
bicentenário é lembrança:
Independência, Brasil.
Célia Maria das Graças Mendonça de Melo
Juiz de Fora – MG
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Que os heróis da Independência,
vivos em nossa memória,
continuem sendo a essência
que norteia nossa História.
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo – SP
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Como pode a independência
libertar nação servil
se ainda hoje, a violência,
sobrevive num fuzil?
Elizabeth A. C. M. Fontes
Joinville – SC
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Bem alto, de um campanário,
soai o brado da sorte...
Saldai mais um centenário
da independência... ou da morte!.
Juarez Francisco Moreira da Silva
Rio das Ostras – RJ
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Duzentos anos passaram
desde a nossa Independência.
Algumas lições ficaram
guardadas na consciência.
Therezinha Ignês de Campos Bueno
São Paulo – SP

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MENÇÕES ESPECIAIS (em ordem alfabética)
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A Independência é lembrada,
em nossa brasilidade,
no brilho daquela espada,
sob o sol da liberdade.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora – MG
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Laços fora! Nó desfeito
dos mandos, da obediência.
- Bicentenário de um pleito –
de vultos da independência.
Cezar Defilippo
Astolfo Dutra – MG
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Liberdade, puro ensejo
que tem um povo otimista...
Independência, o desejo,
que tornou-se uma conquista!...
Elias Pescador
São Paulo – SP
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Duzentos anos de um grito
dado com tanta imponência
e o Brasil prossegue, aflito,
procurando a independência.
Julimar Andrade Vieira
Aracaju – SE
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Pátria livre só se faz
com respeito às diferenças,
que independência sem paz
só destrói as nossas crenças.
Maria Dulce de Lima Pessoa
Tabira – PE

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ÂMBITO NACIONAL

NOVOS TROVADORES

Tema: Independência

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VENCEDORES (em ordem alfabética)
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Brada o povo brasileiro:
-Dois séculos de excelência
em que o Brasil, altaneiro,
comemora a independência!
Janete Francisco Sales Yoshinaga
São Paulo – SP
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Uma espada corta o céu
num voo de liberdade,
independência abre véu
na senda da dignidade!
Luciano Izidoro de Borba
Tombos – MG
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Que brilhe a luz da prudência
iluminando este chão,
na constante Independência
de nossa grande nação!
Magda Helena Gomes Teixeira
Pouso Alegre – MG
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Liberdade e Independência
ecoam forte em meu peito.
A trova faz reverência:
“Duzentos anos do feito”!
Paulo Roberto Araújo Martins
Volta Redonda - RJ
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Lá se vão duzentos anos
da sonhada independência,
subordinada aos tiranos...
continua, em dependência.
Troya D’Souza
Santa Cruz – RN

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MENÇÕES HONROSAS – (em ordem alfabética)
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Louvemos a Independência
de nosso amado Brasil.
País de grande potência...
povo feliz, varonil.
Darcy Bandeirante de Azevedo Costa
Taubaté – SP
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Celebrando o aniversário
do Brasil independente.
Festa do Bicentenário –
Independência é o presente.
Francisco José Moreira Lopes
Maranguape – CE
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Da raiz, a independência
fez a pátria soberana;
das lutas à resistência,
do passado, é veterana.
Kalina Alessandra Rodrigues de Paiva
Natal – RN
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Se a guerra é escura prisão,
horrendo cárcere estreito,
a Independência é evasão,
para um mundo mais perfeito.
Maria Silvana Prado
Imbituva – PR
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Independência, oh! Brasil.
Duzentos anos, de glória!
Grande povo varonil,
festejando esta vitória!
Nazareth Ferrari
Taubaté – SP

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MENÇÕES ESPECIAIS (em ordem alfabética)
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Duzentos anos... Regência
e, depois, Federativa.
Viva nossa independência
ainda que relativa.
Davi Pereira
Toledo – PR
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O grito de independência,
feito uma bela canção,
qual acorde de excelência,
acordou nossa nação...
Elvira Drummond
Fortaleza – CE
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Terra e filhos trazem nome:
Liberdade, independência.
Criam asas, sobrenome:
Brasil sim, por competência!
Maria Iris Lo-Buono Moreira
São Paulo – SP
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Um grito de independência
nos salvou da tirania,
e um grito de resistência
salvará a democracia.
Mauro André Oliveira
Guarulhos – SP
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Viva a nossa independência
por Dom Pedro proclamada,
com força e muita eloquência,
Brasil nossa pátria amada.
Mercia Gama
Taubaté – SP

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ÂMBITO ESTADUAL

Veteranos

Tema: Independência

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VENCEDORES
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1º lugar
É sempre escura, cinzenta,
mas é caminho de glória:
por mais que seja sangrenta,
independência é vitória!
Flávio Roberto Stefani
Porto Alegre - RS
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2º lugar
Duzentos anos passados
desde a nossa independência.
Nosso país é mostrado
como grande referência!...
Paulo Roberto de Fraga Cirne
Porto Alegre – RS
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3º lugar
Eu só quero a independência,
para seguir meus caminhos,
e fugir dessa inclemência
de quem só cultiva espinhos...
Jaqueline Machado
Cachoeira do Sul – RS
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4º lugar
Independência, Brasil:
és um país soberano!
Nós não somos pátria vil,
nem quintal do americano.
Lucêmio Lopes da Anunciação
Canela – RS
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5º lugar
Quem quiser independência
tem de trabalhar bastante
pra não sobrar exigência
de qualquer louco mandante.
Roque Aloisio Weschenfelder
Santa Rosa - RS

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MENÇÃO HONROSA
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Vem a Corte e muita gente
pra nossa terra lendária;
da independência, semente
para a saga libertária.
Ary Cardoso
Porto Alegre - RS

Fonte:
Luiz Damo

Marcos Neves (Literalismo)


A mais famosa pergunta dos cafés portugueses permite-nos conhecer um erro linguístico: o literalismo.

Que se acuse quem, depois de usar a palavra «queria», nunca enfrentou a pergunta: «Queria? Já não quer?».

Uma inocente piada de café, dirão. Talvez. Mas não deixa de ser um bom exemplo de um erro linguístico muito comum: o literalismo.

Admito: quando estou a pedir um café com «queria» estou a usar uma forma verbal do passado para fazer um pedido no presente. Um horror!

A verdade é que a língua é mais complexa do que parece à primeira vista:

– Usamos o pretérito imperfeito para fazer pedidos com mais delicadeza: «era a conta, por favor».

– Usamos o futuro para falar de algo incerto do passado: «ela terá lá ido ontem».

– Usamos o pretérito perfeito composto para falar do que fazemos várias vezes: «tenho falado com ele todos os dias»…

Podia continuar por aí fora…

A língua é assim: cheia de sutilezas que usamos sem reparar. Pisando sem vergonha tais sutilezas, há quem interprete literalmente uma palavra ou expressão e declare que tal palavra ou expressão é um erro.

Fonte:
Montargil Acção Cultural – Boletim em Linha – n.111 – agosto de 2022.
Enviado por Lino Mendes (coordenador).

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 16: Rumores

 

Nilto Maciel (Uma Página de Robbe-Grillet)

Quando Jean Denis Lanson esteve no Brasil, o repórter Guido Mocho foi incumbido de entrevistá-lo para o Diário da Tarde.

Segundo o editor, só Guido poderia realizar uma boa entrevista. “Você sabe francês, e basta”.

O repórter quis se esquivar. Ora, não entendia nada de literatura. Quando estudante, havia lido meia dúzia de romances, sem qualquer prazer. Alencar, um chato. Machado, enfadonho. E sempre confundiu Manoel Antonio de Almeida com Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha e Memórias de um Sargento de Milícias lhe pareciam do mesmo autor. “E quem lhe disse que o homem é literato?”

Lanson acabara de publicar o livro Il est tard. Um jornal falava em romance. Aliás, no nouveau roman.

O editor do Diário explicou: não se tratava de literatura, mas de obra sobre ecologia.

Um colega de Guido riu de todos: andavam fazendo uma grande confusão. Estivera na França e ouvira falar do grande físico Jean Denis Lanson. Il est tard  tratava da questão nuclear.

Guido dirigiu-se à Embaixada da França. Precisava esclarecer aquilo. Como fazer a entrevista, se só sabia o nome do personagem da entrevista? Receberam-no com excessiva cordialidade. Contudo nem o Embaixador sabia mais do que a imprensa brasileira sobre o tal Lanson. “Que s’est-il passé?” Talvez o visitante fosse Gustave Lanson, o grande crítico literário. Não, não. Este havia morrido em 1934.

Com horas de atraso, Guido chegou ao hotel onde se hospedava o francês. O livro? Não, não sabia de que livro falava o repórter. “Je ne sais rien, mais je voudrais savoir quelque chose”.

Passada a primeira hora, ainda não haviam chegado a qualquer acordo. Lanson só lia literatura de entretenimento. Nunca conseguira ler mais de uma página de Robbe-Grillet. E de Natalie Sarraute? Desconhecia. E Claude Simon? O deputado acusado de...? Guido mudou de assunto. E a Amazônia? Se pudesse, passaria alguns dias lá, nas praias, olhando as garotas e seus magníficos biquínis. E ria, esfregava as mãos. “Dieu me pardonne! Ah! que je suis content!”

O repórter passou à guerra nuclear. O que seria da humanidade, após a catástrofe? Lanson sorveu sua bebida e quase nada falou. “De quoi parles-tu?” Guido olhou para o teto, como para o céu, e imitou bombas explodindo: bum-bum-bum. Sim, sim, viagens pelos espaços siderais. Adorava Uma Odisséia no Espaço. Que filme! Logo, porém, desceram às nuvens, que também não podiam ver. Depois, à fumaça de seus cigarros. E flutuaram, quase mudos. Por fim, baixaram a si mesmos e, atônitos, abraçaram-se. “Au revoir!”

Cabisbaixo, Guido tomou o rumo do jornal.

A entrevista deu muito o que falar. O Diário da Tarde vendeu mais de um milhão de exemplares. Guido Bezerra Mocho ganhou abraços, aplausos, prêmios. Fez-se glorioso, de repente.

Fonte:
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.
Livro enviado pelo autor.