sexta-feira, 25 de abril de 2025

Geraldo Pereira (Saudades do Futuro)


Fosse vivo o meu pai e me encontrasse na Internet, com direito a alguns textos dos meus artigos publicados aqui neste espaço de jornal, não hesitaria e diria: “Invenção da mãe do cão!” E é isso mesmo: astúcia da modernidade! Os avanços são tantos e de tal maneira rápidos, que não há forma de atualização, senão a de frequentar a enorme teia virtual diariamente, buscando aqui e ali inovações da criação humana. De minha parte, confesso, tenho saudades do futuro, do que está por vir, do extraordinário desenvolvimento da ciência e da técnica. Quem nasce hoje não há de se admirar, mas quem assistiu a tudo isso, quem escreveu molhando a pena no tinteiro ou quem aprendeu datilografia e gastou horas e mais horas sentado nas bibliotecas, só pode viver numa perplexidade muito grande. É o meu caso!

Ora, quando era menino, ganhei de presente uma pena que tinha o cabo colorido, às custas de cordões encarnados, verdes e azuis. Uma beleza! Sentava-me em antigo e carcomido “bureau” para rabiscar sentimentos emergentes. Não sabia usar as vírgulas e os pontos, pior o ponto-e-vírgula, mas já tinha desejos e vontades, de amar e ser amado, sobretudo, razão dos meus devaneios. Com um imaginário de rara fertilidade, divagava em etéreas distâncias, fantasiando paixões. Depois, ganhei uma caneta Compactor, posta hoje em feiras de antiguidades, como se eu próprio já fosse velho, condenado à condição de fóssil. A seguir, quando entrei no Curso Científico, uma Parker 51, o máximo em termos de elegância masculina. Mas, aos 15 anos recomendou meu pai: “Matricule-se numa escola de datilografia! Você vai precisar! Talvez vá trabalhar no comércio!”. E na rua do Lima, com uma professora muito braba e feia, aprendi os segredos do teclado.

O tempo passou e eu não vi! Um belo dia me falaram do computador, dessa máquina de tantos poderes, explicando que tinha memória, isto é, que poderia guardar textos e outras formas de expressão humana. Até fotos, dizia amigo meu! Quando vi a grande rede virtual, antes mesmo dos avanços atuais da Web, francamente, fiquei encantado. Afinal, podia me sentar diante da telinha e pedir o assunto que desejasse, sem ter que me ater aos alfarrábios das bibliotecas, escolhendo o dia e a hora, livremente. Aí me animei e comprei o meu primeiro computador, que é como o primeiro amor, ninguém esquece. Aprendi a mexer sozinho, o que foi um erro, apaguei programas importantes e fiz deletar arquivos que não deveria, mas me habituei à novidade e não vivo mais sem a máquina e a rede!

Dia desses, porém, tendo enviado um E-mail à Inglaterra, onde reinava amigo meu, Jair de prenome, recebi de volta uma quase desaforada resposta: “Não me escreva mais! Não lhe conheço e não conheço Jair! Não me interessam as suas posições em relação ao sistema de saúde no Brasil!” Assinando a mensagem uma certa Jéssica. Preparei nova correspondência dizendo: “Desculpe! Não lhe escreverei mais! A máquina não se engana, mas o homem erra! O endereçamento não estava correto!” Fiquei surpreso quando vi a resposta da resposta: “Pode continuar a me escrever! Sou advogada e moro em Macau! Tenho 32 anos!” Fiquei entusiasmado, posso dizer. Mandei fotos do Recife e me referi às relações tupiniquins com a gente daquele lugar distante, mas um derradeiro E-mail me deixou paralisado: “Sou casada!”. Nada tinha escrito que pudesse ferir a sua situação marital, mas inibido assim, com afirmativa tão forte, esqueci a penitente. Talvez o marido, tomado pelos virtuais ciúmes, a tenha levado à drástica atitude de interromper essa nascente amizade. Quem sabe?

É difícil fantasiar como seria essa portuguesa largada pras bandas de Macau, se bonita ou feia, se arabizada ou não, mas é lícito pensar que toda mulher é bela, quando o sorriso largo enfeita a face e os olhos brilham irradiando as cores do arco-íris.

É por ai!
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Geraldo José Marques Pereira nasceu em Recife/PE, em 1945 e faleceu na mesma cidade em 2015, formou-se em Medicina na UFPE em 1986. Fez o mestrado no Departamento de Medicina Tropical da instituição, do qual se tornou coordenador posteriormente. Foi diretor do Centro de Ciências da Saúde e fundou o Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social (Nusp) da universidade. Vice-reitor da instituição de 1996 a 2004 e, quando o reitor precisou se afastar entre março e novembro de 2003, foi reitor em exercício. Fora da universidade, integrou a Comissão Estadual de Saúde, a Comissão Científica de Combate à Dengue do Governo do Estado e a Comissão de Cólera da UFPE e da Cidade do Recife, além de participar do Conselho Científico do Espaço Ciência da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco. Por conta dos inúmeros artigos científicos publicados, ainda foi membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e do Conselho Estadual de Cultura e presidente da Academia Pernambucana de Medicina. Escrevia crônicas e, em março de 2011, assumiu a cadeira de número 16 da Academia Pernambucana de Letras, que já havia sido ocupada pelo seu pai, o escritor Nilo Pereira.

Fontes:
Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Irmãos Grimm (A bota de couro de búfalo)


Um soldado que nada teme, também não se importa com coisa alguma, certa vez foi dispensado e, como nunca aprendera outro ofício não conseguiu arranjar emprego. Assim saiu a correr o mundo, vivendo da esmola de pessoas bondosas. Levava  nos ombros uma capa velha e nos pés um par de botas de couro de búfalo; era o que lhe havia sobrado. 

Numa ocasião em que estava a vagar pelo campo, sem prestar atenção por onde andava, perdeu-se numa floresta. E viu um homem bem vestido, com um chapéu verde de caçador, sentado num toco de árvore. O soldado cumprimentou-o, sentou-se na relva a seu lado e espichou as pernas.

- Vejo que usas umas botas finas; tão limpas que chegam a reluzir, - disse para o caçador. - Se tivesses de andar pelo mundo como eu, não duraram muito. Olha para as minhas; são de couro de búfalo e já prestaram muito serviço andando por toda espécie de caminhos.

Passando algum tempo, levantou-se e disse;

- Não posso demorar muito, a fome me toca para a frente; mas dize-me uma coisa, amigo "Botalimpa", para onde vais?

- Eu mesmo não sei, - respondeu o outro - estou perdido na floresta.

- É o que me acontece - falou o soldado - e como igual com igual forma um bom par, continuemos juntos à procura do caminho.

O caçador sorriu e partiram juntos, andando sem parar até anoitecer.----

- Não conseguimos sair do mato, – disse o soldado - mas vejo uma luz brilhar lá longe. Acredito que ali conseguiremos algo para comer.

Chegaram a uma casa de pedra; bateram e uma velha lhes abriu a porta.

- Procuramos um abrigo para a noite - disse o soldado - e algo para encher o estômago. O meu está vazio que nem saco furado.

- Aqui não podes ficar, - respondeu a velha - esta é uma casa de bandidos. Farão bem em afastar-se o mais depressa possível, antes que chegue o bando; se os encontram aqui, vocês estão perdidos.

- A coisa não há de ser tão ruim assim, - retrucou o soldado - faz dois dias que não como e me é indiferente se dão cabo de mim aqui ou se morro de fome no mato. Eu vou entrar!

O caçador não queria acompanhá-lo, mas o outro puxou-o pela manga do casaco, dizendo-lhe:

- Vem comigo; não irão matar-nos em seguida.

A velha ficou com pena deles e sugeriu:

- Escondam-se atrás do fogão. Se sobrar comida depois que eles estiverem dormindo eu lhes darei algo.

Mal se haviam escondido, entraram doze bandidos fazendo uma algazarra dos diabos. Sentaram-se à mesa, que já estava posta, e exigiram ruidosamente a comida. A velha trouxe um assado bem grande e os ladrões comeram à vontade. Quando o cheiro bom dos pratos chegou às narinas do soldado, ele disse ao caçador:

- Não aguento mais, vou me sentar à mesa e comer com eles.

- Isto nos custaria a vida. - retrucou o outro, segurando-o pelo braço.

Mas o soldado pôs-se a tossir bem alto, de propósito. Ao ouvirem aquilo, os bandidos largaram facas e garfos, levantaram-se de um salto e descobriram os dois atrás do fogão.

- Vejam só! - gritaram. - Estão aí, hein? Que fazem nesse canto? Que pretendem? São espiões? Esperem um pouco que logo vão aprender a dançar num galho de árvore.

- Calma, calma! - disse o soldado. - Estou com fome. Deem-me algo para comer, depois façam comigo que bem entenderem.

Os bandidos se entreolharam surpresos e o chefe do bando falou:

- Vejo que és corajoso. Bem...terás comida à vontade, mas depois vais morrer..

- Isso veremos! - respondeu o soldado. Sentou-se à mesa e principiou a comer sofregamente. - Irmão Botalimpa, vem comer! - disse ele, de boca cheia, ao caçador. - Hás de estar com tanta fome quanto eu e um assado melhor não encontrarás nem em casa.

O caçador, porém, não quis comer. Os bandidos ficaram olhando, assombrados, para o soldado e comentaram:

- Esse sujeito não fez cerimônia!

Daí a pouco o soldado disse:

- A comida está boa; falta, agora, um bom traguinho.

O chefe, que estava de bom humor, permitiu ainda isso e ordenou à velha:

- Traz uma bebida do porão e que seja das melhores.

O soldado desarrolhou a garrafa e dirigindo-se, com ela, ao caçador, disse:

- Presta atenção, amigo. Irás assistir a uma coisa espetacular. Brindarei à saúde de todo o bando.

Ergueu a garrafa, agitou-a sobre as cabeças dos bandidos e gritou:

- Á saúde de todos vocês, mas ...de boca aberta e mão direita para alto!

Mal havia pronunciado essas palavras, o bando inteiro ficou imobilizado, como se fossem de pedra; tinham as bocas escancaradas e o braço direito erguido. O caçador disse ao soldado:

- Vejo que és cheio de truques! Mas agora vem, vamos sair daqui o quanto antes.

- Pois bem, amigo! Isso seria bater em retirada cedo demais. Vencemos o inimigo e temos de nos ocupar da presa. Estão aí sentados, de boca aberta, e não se poderão mover até que eu permita. Vem, come e bebe.

A velha teve de trazer mais uma das melhores garrafas de vinho e o soldado não se levantou da mesa antes de ter comido por três dias. Finalmente, quando amanheceu, ele disse:

- Agora sim, chegou a hora de partirmos; e para não precisarmos andar muito, a velha nos mostrará o caminho mais próximo para a cidade.

Quando lá chegaram, o soldado foi procurar seus velhos companheiros e lhes contou:

- Encontrei lá fora, no mato, um ninho de pássaros para a forca. Venham comigo. Vamos apanhá-los:

Pôs-se à frente do grupo e disse ao caçador:

- Acompanha-me e verás como esvoaçam quando os pegarmos pelos pés.

Colocou os seus homens ao redor dos bandidos, apanhou a garrafa, tomou um gole e, agitando-a no ar, gritou:

- Vivam todos!

Instantaneamente  recobraram seus movimentos, mas logo foram derrubados ao chão e atados pelas mãos e pés. A seguir, o soldado mandou jogá-los no carro, como se fossem sacos e ordenou:

- Levem-nos diretamente para a prisão.

Enquanto isso, o caçador chamou um dos soldados à parte e lhe deu uma incumbência.

- Irmão Botalimpa, - disse o soldado - vencemos, felizmente, o inimigo e nos alimentamos muito bem. Agora marcharemos atrás do grupo com toda a calma.

Quando se aproximaram da cidade, o soldado viu que um número grande de pessoas vinha a seu encontro, dando gritos de alegria e agitando ramos verdes no ar. Viu, também, que toda a guarda real se aproximava deles.

- Que significa isso? - perguntou admirado.

- Não sabes - respondeu o caçador - que o rei esteve ausente muito tempo? Está voltando hoje e por isso todos vem a seu encontro.

- Mas onde está o rei? - indagou o soldado. - Não o vejo .

- Aqui. - respondeu o caçador. - Eu sou o rei e mandei anunciar minha chegada.

Abriu o casaco e embaixo apareceram suas vestes reais. O soldado assustou-se; caiu de joelhos e pediu perdão por tê-lo tratado, em sua ignorância, como a um igual e, ainda, por lhe ter dado um apelido. O rei, porém, estendeu-lhe a mão e disse:

- És um bravo soldado e me salvaste a vida. Não passarás necessidade novamente, pois cuidarei de ti. E se algum dia quiseres comer um bom assado, tão bom quanto aquele da casa dos bandidos, vem à cozinha do palácio. Mas, se quiseres fazer um brinde, terás de me consultar primeiro.
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Folcloristas e escritores de contos infantis, Jacob Ludwing Carl Grimm (1785-1863) e Wilhelm Carl Grimm (1786-1859) nasceram em Hanau, no Grão-ducado de Hesse, na Alemanha. Receberam formação religiosa na Igreja Calvinista Reformada. Das nove crianças da família só seis chegaram à idade adulta. Os Irmãos Grimm passaram a infância na aldeia de Steinau, onde o pai era funcionário de justiça e Administração do conde de Hessen. Em 1796, com a morte repentina do pai, a família passou por dificuldades financeiras. Em 1798, Jacob e Wilhelm, os filhos mais velhos, foram levados para a casa de uma tia materna na cidade de Hassel, onde foram matriculados numa escola. Depois de concluído o ensino médio, os irmãos ingressaram na Universidade de Marburg. Estudiosos e interessados nas pesquisas de manuscritos e documentos históricos, receberam o apoio de um professor, que colocou sua biblioteca particular à disposição dos irmãos, onde tiveram acesso às obras do Romantismo e às cantigas de amor medievais. Depois de formados, os Irmãos Grimm se fixaram em Kassel e ambos ocuparam o cargo de bibliotecário. Em 1807, com o avanço do exército francês pelos territórios alemães, a cidade de Kassel passou a ser governada por Jérome Bonaparte, irmão mais novo de Napoleão, que a tornou capital do reino recém-instalado, Reino da Vestfália. Essa situação despertou o espírito nacionalista do romantismo alemão. A busca das raízes populares da germanidade estava em voga. Os irmãos reivindicaram a origem alemã para histórias conhecidas também em outros países europeus – como Chapeuzinho Vermelho, registrada pelo francês Charles Perrault bem antes do século XVII. No final de 1812, os irmãos apresentaram 86 contos coletados da tradição oral da região alemã do Hesse em um volume intitulado “Kinder-und Hausmärchen”, Contos de Fadas para o Lar e as Crianças. Em 1815 lançaram o segundo volume, Lendas Alemãs, no qual reuniram mais de setenta contos. Em 1840 os irmãos mudaram-se para Berlim onde iniciaram seu trabalho mais ambicioso: Dicionário Alemão. A obra, cujo primeiro fascículo apareceu em 1852, mas não pode ser terminada por eles. Faleceram em Berlim Wilhelm em 1859 e Jacob em 1863.

Fontes:
Contos de Grimm. Publicados de 1812 a 1819. Disponível em Domínio Público.
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Carol Canabarro (Dicas de organização pessoal para escrita)


A organização pessoal para escrita é uma etapa fundamental no processo de desenvolvimento de um texto ou de um livro. As ideias não "caem" da cabeça do escritor direto para o papel, é preciso encontrar (ou criar) o caminho para transformar uma ideia em algo concreto.

Replicar estratégias que funcionam para outros autores pode ser um bom primeiro passo, mas cuidado: uma mãe-solo, com dois empregos provavelmente não conseguirá copiar a mesma rotina do Stephen King. É preciso se conhecer, estabelecer seu ponto de partida e aonde deseja chegar para encontrar, não só o seu caminho, mas a velocidade da marcha.

Para quem se encontra perdido, listamos seis dicas que podem te auxiliar a encontrar seu passo.

1. Quanto tempo você tem para escrever?

Identifique quanto tempo você tem para se dedicar à escrita. Seja honesto. Não se trata de estabelecer quantas horas por dia você gostaria ou quantas acha que seria o ideal escrever, mas quantas de fato você tem. Evite comparações. São trinta minutos diários? Uma hora a cada dois dias? Só consegue escrever aos finais de semana? Aceite seu tempo disponível e o respeite.

Evite distrações, nesse período a escrita é sua prioridade. Converse com as pessoas do seu convívio e estabeleça limites. Se precisar, tranque a porta do quarto. Quando necessário, faça pausas. Como na música, a ausência de som também faz parte da letra/canção.

2. Crie seu santuário

Tenha um local para escrever, de preferência, longe das distrações cotidianas. Pode ser no escritório, na mesa da cozinha ou em um caderno que pula da sua mochila enquanto você está no caminho para faculdade.

Transforme o espaço para escrita no seu santuário. Deixe caneta, papel, rabiscos e lembretes a mão. Quanto mais mergulhado no ambiente de trabalho, menores as chances do mundo à sua volta te raptar. Ser multitarefas pode ser assertivo em outros ambientes, não aqui.

3. Exercite a escrita

No mundo ideal, você gostaria de ter um escritório com vista para o mar, na prática, você só tem o bloco de notas do celular. Use-o. O possível feito é melhor do que o perfeito inexistente. Concentre suas anotações em um único local, quando você perceber terá mais material do que imaginava.

Tenha em mente que a escrita é exercício, um parágrafo não tão bom hoje, depois de maturado, pode vir a ser o trecho mais importante do seu livro. Seja paciente-ativo, confie no processo.

4. Estabeleça rituais

Depois de ter determinado o tempo, o local e a periodicidade, é hora de criar rituais para o antes, o durante e o depois da escrita. Entre no "espírito escritor", coloque café na sua caneca de estimação, silencie o celular, bote para tocar suas músicas preferidas, inspire-se lendo. Identifique os métodos que te fazem produzir mais. A maioria dos escritores começa a jornada de trabalho revisando textos do dia anterior, para só depois escrever algo novo. Talvez funcione para você.

Ao final do "expediente", viva. O mundo e as interações são as melhores matérias-primas para enriquecer suas histórias. Lembre-se: escritores são, também, grandes observadores do cotidiano.

5. Comprometa-se com o mundo

Estabeleça objetivos concretos, coloque prazos, inscreva-se em concursos e, o mais importante, divulgue-os para pessoas que você aprecia. O ser humano tende a ser mais responsável quando se compromete com terceiros do que consigo, não é à toa que malhar com uma amiga gera mais resultados do que ir à academia sozinho. Use a (possível) vergonha de não publicar seu livro até o final do ano, como prometido aos seus leitores, como catalisador das suas ações.

Ter metas é como soltar um rottweiler faminto no seu caminho. Se você tem medo de cachorro, abra vantagem e comece a trabalhar bem antes do prazo. Agora, se você gosta de aventura, a madrugada anterior a entrega do texto provavelmente será agitada.

6. Avalie-se constantemente

Você escaneou toda sua rotina, criou um espaço bacana para escrever, acendeu seus incensos, se comprometeu com a editora, mas algo, simplesmente, não funcionou. O conto, que era para ser entregue dia dez, está emperrado entre as suas orelhas. Aceite a derrota momentânea. Pesquise como outros escritores trabalham, use-os como inspiração e evite as pedras onde eles tropeçaram.

Revise sua rotina, identifique o que deu certo e onde a coisa degringolou. Avalie, reavalie, teste e, claro, não desista. Mantenha o foco no objetivo final, recalcule a rota sempre que necessário e melhore-se ao longo do processo.

O que serve para você pode parecer caótico para outros. Não há certo ou errado.

Lembre-se: escrever é um ato de solitude, momento de se sentir confortável na sua presença. Criar uma rotina traz segurança e, com ela a confiança e liberdade de ser você mesmo, um escritor único.

Fontes:
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Aparecido Raimundo de Souza (Tango Revirado)


ERA UM DIA comum, desses em que o sol se esconde tímido atrás das nuvens. Eu estava em meu carro, um Air Cross prateado, indo buscar uma tia chata na rodoviária. Me via envolvido em meio de um trânsito infernal, quando tudo aconteceu. Engraçado que não houve luzes brilhantes. Nem anjos de branco tocando Roberto Carlos em harpas paraguaias. Do nada, soltei um suspiro suave, como se a própria vida, através deste gesto, se despedisse de mim. Lembro-me que, em passo seguinte, flutuei. Fui arrebatado como se meu corpo quisesse fugir evaporando de alguma forma daquele trânsito nervoso.  Flagrei-me subindo lentamente para o vértice da avenida, igualmente para acima das árvores e dos prédios. 

Num dado momento, olhei para baixo e vi o asfalto se afastando, ficando cada vez menor. Os carros, (alguns parados) outros continuando a sua dança, agora um pouco mais apressada, em meio ao tráfego caótico. O engraçado. A medida em que me aproximava de alguma culminância, sei lá onde, tudo abaixo de mim, se apartava. Cada um dos veículos ia ficando menor, as pessoas atravessando a rua em busca do seu próprio destino viraram pontinhos minúsculos. Em mim, não havia dor, nem ranger de dentes, nem fraqueza ou tremeliques. Apenas uma sensação tênue de liberdade plena. O espaço se agigantando, como se eu, finalmente, galgasse a imensidão escapando, sei lá por qual motivo, das amarras terrenas. 

Um pouco mais encontrei outros como eu. Almas perdidas, figuras vagando de um lado e de outro, sem rumo. Algumas criaturas sorriam, outras olhavam para todos os lados, como se procurassem uma resposta plausível para algo inexplicável. Crianças de várias idades choravam, outras brincavam. Todas, porém, entrelaçadas no mesmo plano, sem tirar nem pôr, compartilhávamos as mesmas dúvidas e incertezas: afinal, uma pergunta pesada, bailava sobre as cabeças e mentes, inclusive na minha: onde eu estava? Que lugar era aquele? O que viria depois? O que seria, raios me partam, o depois? Entrementes, num mágico silêncio, surgiu uma casa antiga. Na verdade, um casarão. 

Haviam várias portas e janelas fechadas. Uma delas, num dado momento, se abriu barulhenta, como se rangesse algum osso descalcificado em suas dobradiças. Além dela, surgiu uma luz. Uma claridade baça, meio descorada e ressequida O bastante para vislumbrar o que parecia ser um corredor comprido. Na verdade, isto mesmo, um corredor dilatado. Alguém sussurrou ao meu lado, que aquele acesso parecia ser a passagem para o além, com destino ao nunca mais. Para o nunca mais?  Hesitei. A bem da verdade, não estava pronto, nem preparado psicologicamente para cruzar a bendita, fosse para o além, ou para outro lugar qualquer. A vida, a minha vida, ainda pulsava nas veias. 

Alvoroçava lembranças, encrespava momentos vividos, pelo menos até poucos minutos atrás. Os abraços, os beijos, os momentos de risos e lágrimas dos “meus mais chegados,” pareciam, da mesma forma, e no mesmo grau revolucionarem todo meu interior e o faziam, num devaneio determinante e contundente, todavia, envencilhado numa leveza de espírito que até aquele momento eu nunca havia sentido. Veio-me, à cachola, um pensamento abestalhado. Quase desnorteado, ou melhor dito, idiota. Eu me via diante de um ingresso mal iluminado que levava a um corredor em direção ao “sei lá onde”.  Do mesmo modo, como poderia deixar tudo o que havia vivido por aqui, neste plano, à mercê do nada? 

Emparelhado a mim, um velhinho que lembrava meu avô João Raimundo, se aproximou. Seus olhos cansados, apesar de enfadados e descontentes, brilhavam enigmáticos. Resplandeciam com a sabedoria de quando eu o vira pela derradeira vez, isto coisa de mais de doze anos. Nesse embalo, me chegou aos ouvidos a sua voz meiga e adocicada. Foi um momento único que me inundou por dentro, quase num sopro a me destituir do som além do sagrado ato de respirar:  “A morte, meu garoto, enfatizou ele, não é o fim. É apenas uma mudança de estado. O estado de “Agora” e o estado do “Depois.” Você continuará aqui, e, em seguida, viajará para onde foi direcionado a seguir caminho.”

Fez uma pausa pequena e continuou: “Existirá, todavia, de uma forma ou outra, a sua massa corpórea em outra dimensão. E, quem sabe, talvez, o seu “eu” aparvalhado, por lá ou durante a viagem, faça com que a sua consciência pesada encontre respostas para as indagações que se formam em seus pensamentos embaralhados””. O longevo, do nada, sumiu. Escafedeu como se levado por um vendaval de magnitude branda na escala de um Richter qualquer, (não o Charles F Richter, inventor do aparelho que mede as ondas liberadas por um sismo). Esse Richter poderia ser um vulto abajoujado (abobado) e esquizofrênico, ou quem sabe até uma espécie de sombra na confusão dos meus abalos sísmicos interiores. 

Voltei-me, de novo para a porta.  Estava lá. Me encarando. Olhei para ela. Pareceu-me maior. Belisquei-me com força, para saber se ainda havia vida em meu “atormentamento” de alma em frangalhos. A meu lado, os que por ali me rodeavam, viraram pó. Ninguém permaneceu. Eu, aluado e leso, sozinho e desamparado, não flutuava mais, aliás, não via mais nada, além da droga da porta sisuda do corredor e da luz. 

– Cadê todo mundo? – gritei e ninguém respondeu. Concentrei-me, mais uma vez, nessa admissão. Ela, de fato, não parecia tão assustadora, pelo menos nesta espiada. Talvez fosse apenas uma via de passagem para um outro começo. Assim, com um suspiro maroto, tomei coragem. 

Segui adiante e atravessei. Mantive a cabeça erguida.  Afastei o medo. Despedi-me do receio. “Fiquem todos em paz” – disse aos meus botões.  Dito assim, ao acaso, não sei bem quem seriam, mas não importava, se aqueles ou aquelas que fosse me ouvir, ficassem, ou não, com saudade... que diferença isto faria?  Precisava dizer algo, ou melhor, carecia. E disse. A morte, ou sei lá o que me trouxera até aqui. Seria apenas um capítulo a ser vencido em minha jornada. Talvez topasse, de novo, com o idoso com cara de “meu avô”. Ou não. A nossa jornada, seja ela boa ou ruim, nos lembra da preciosidade da vida em toda a sua formosura e da importância de cada momento que vivemos.  Assim, sem eira nem beira, digo de peito aberto aos que ficam, que vivam intensamente abraçando ao mistério. 

Ao mesmo tempo, felicitando a beleza ínfima e imensurável de tudo aquilo que nos envolveu numa camada inesgotável, que nos assediou ao “Tudo,” e ao mesmo tempo, neste final de passos incertos, certamente nos enterrará ao separado do “Nada.” Ergui a cabeça e segui em direção à luz. Capturei passos adiante, um barulho de motor conhecido. Parecia ser o do meu avião, um Bombardier Learjet 45, jatinho bimotor todo escuro como o breu, a fuselagem e as asas negras. Fazia-me recordar, sempre que o via, um corvo gigante. A aeronave parecia estar pronta para alçar voo, em algum lugar no fim do passadiço esperando apenas que eu embarcasse. Escutei os motores das turbinas mais próximos. 

Realmente, em ponto de bala, me deparei, pressuroso, com meu brinquedinho de estimação. Como viera parar ali? Cadê os meus dois pilotos? Quem o trouxera do Campo de Marte? Fora do tal corredor, capturei as luzes azuis da pista por onde ele correria até o instante de fazer o 360, acelerar e decolar. Eu iria, de fato voar? Percebi, em mim mesmo, um sorriso de paz benfazeja, como se me tivesse estampado, corpo inteiro, num espelho inexistente surgido de última hora. Foi o tempo de entrar, apertar o cinto, e, no derradeiro seguinte, murmurar baixinho somente para meu coração escutar: 

– Adeus, matéria que vulgarmente cognominei de VIDA. 

No milésimo de segundo após dizer estas palavras, sai literalmente de dentro de mim e mergulhei na imensidão.  
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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quarta-feira, 23 de abril de 2025

Asas da Poesia * 10 *


 Poema de 
Olivaldo Júnior
Mogi-Guaçu/SP

No jogo do amor

Cansado de estar só no páreo,
disputando o lugar que sonhei,
no jogo do amor, me declaro
plebeu que jamais foi um rei.

E mexo outras "peças" de mim,
mas sempre me escondo de ti,
que diz que eu me perco no fim
como se não jogasse nem aqui.

No jogo do amor, eu me dano,
sou sempre quem sai machucado,
perdido, lá no meio do campo,
com o mesmo placar naufragado.
= = = = = = = = =  

Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

NOSSA LÍNGUA
(para o poeta Antoniel Campos)

O doce som de mel que sai da boca
na língua da saudade e do crepúsculo
vem adoçando o mar de conchas ocas
em mansa voz domando tons maiúsculos.

É bela fiandeira em sua roca
tecendo a fala forte com seu músculo
na hora que é preciso sai da toca
como fera que sabe o tomo e o opúsculo.

Dizer e maldizer do mel ao fel
é fado de cantigas tão antigas
desde Camões, Bandeira a Antoniel,

este jovem poeta que se abriga
na língua portuguesa em verso e fala
nau de calado ao mar que não se cala.
= = = = = = = = =  

Trova de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Não importa a cor da pele
e nem a força dos braços;
mais vale o que nos impele
aos amorosos abraços!
= = = = = = 

Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Teus lábios…
encostados aos meus com carinho,
esperam a embriaguez da paixão
a noite que transpira emoção... 
= = = = = = = = =

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

Declaração...
Nas mãos,
Mais que flores...
Com os
Olhos da alma
Verás
Que te ofereço
meu pequeno
Coração.
= = = = = = = = =  

Trova de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Os meus sonhos de menino,
cheios de esperança e cores,
os leva o trem do destino,
nos trilhos, por entre flores.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Meu irmão, vem comigo ver o mar
(Glória Marreiros, in "Terra de Ninguém", p. 33)

Meu irmão, vem comigo ver o mar
Chão e calmo em constante movimento
Berço da vida e fonte de alimento
Com espuma que é renda de um altar.

Esquece a dor de um barco a naufragar
Abandona-te às ondas e ao bom vento
Que o mar é esse líquido elemento
Que os homens trazem de volta à luz do lar,

Mãe de lendas por tantas gerações
Ó mar tu é que irmanas as nações
Nascidas pelos cantos deste mundo.

Reino do céu azul, brumas e medos
Só tu sabes os bens e os segredos
Que guardas no teu seio tão profundo.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Manhã de verão

As nuvens, que, em bulcões, sobre o rio rodavam,
Já, com o vir de manhã, do rio se levantam.
Como ontem, sob a chuva, estas águas choravam!
E hoje, saudando o sol, como estas águas cantam!

A estrela, que ficou por último velando,
Noive que espera o noivo e suspira em segredo,
Desmaia de pudor, apaga, palpitando,
A pupila amorosa, e estremece de medo.

Há pelo Paraíba um sussurro de vozes,
Tremor de seios nuns, corpos brancos luzindo...
E, alvas, a cavalgar broncos monstros ferozes,
Passam, como num sonho, as náiades fugindo.

A rosa, que acordou sob as ramas cheirosas,
Diz-me: “Acorda com um beijo as outras flores quietas!
Poeta! Deus criou as mulheres e as rosas
Para os beijos do sol e os beijos dos poetas!”

E a ave diz: “Sabes tu? Conheço-a bem... Parece
Que os Gênios de Oberon bailam pelo ar dispersos,
E que o céu se abre todo, e que a terra floresce,
- Quando ela principia a recitar teus versos!”

E diz a luz: “Conheço a cor daquela boca!
Bem conheço a maciez daquelas mãos pequenas!
Não fosse ela aos jardins roubar, trêfega e louca,
O rubor da papoula e o alvor das açucenas!”

Diz a palmeira: “Invejo-a! ao vir a luz radiante,
Vem o vento agitar-me e desnastrar-me a coma:
E eu pelo vento envio ao seu cabelo ondeante
Todo o meu esplendor e todo o meu aroma!”

E a floresta, que canta, e o sol, que abre a coroa
De ouro fulvo, espancando a matutina bruma,
E o lírio, que estremece, e o pássaro, que voa,
E a água, cheia de sons e de flocos de espuma,

Tudo, - a cor, o clarão, o perfume e o gorjeio,
Tudo, elevando a voz, nesta manhã de estio,
Diz: “Pudesses dormir, poeta! No seu seio,
Curvo como este céu, manso como este rio!”
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
- a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO ZAMATARO
Curitiba/PR

Na praça

À noite o movimento anima a praça,
garotos e garotas vão além
dos olhos camuflados de vidraça...
da busca de dinheiro e de algum bem.

A grana e a droga e a lisa da cachaça
embalam todo o gozo que eles têm.
Em meio ao gozo há o peso da carcaça,
e a vida oscila à beira... do que vem.

O tempo é companheiro do perigo.
Vacilo não perdoa nem amigo.
E é breve a sensação que vem de ser.

No centro, a velha mola do poder
e, em volta, a tola senha do freguês...
Na praça, todo sonho é insensatez!
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Poetrix de
MARÍLIA BAÊTAS
Belém/PA

No mundo da lua

Vagam meus pensamentos,
flutuam qual astronauta.
Na terra, tua falta.
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Poema de
CHARLES BAUDELAIRE
Paris/França 1821 – 1867

O albatroz

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impede-o de andar.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Guarda bem isto na mente,
se a mentira te norteia:
mais cedo ou mais tarde, a gente
colhe aquilo que semeia!...
= = = = = = 

Hino de 
CLEVELÂNDIA/ PR

Clevelândia longínquo recanto
De teus filhos precioso agasalho.
Sob o manto de um céu de turquesa
És colmeia de vida e trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Teus filhos alegres contentes
Buscam todos na vida o trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

A teus filhos que seja a harmonia
E o trabalho fecundo a divisa
Tua grandeza e progresso futuro
Desta fonte de vida precisa.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando ao longe te avista sorrindo
Minha alma alegre conduz
Minhas preces à mãe padroeira
Virgem Santa Senhora da Luz.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Clevelândia longínquo recanto
Deste nobre e feliz Paraná
És parcela do nosso Brasil
Mas tão bela como outra não há.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Tuas quinhentas casinhas de pinho
Formam tudo na vida o trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Tarde feliz

Em  morna tarde de sol
Cheia de tanta beleza,
Podemos observar
Encantos da natureza.

No aconchego da varanda,
Contemplo este céu azul,
No rádio tocando a banda,
O vento sopra do sul.

No jardim todo florido
Crianças correm a brincar,
De pique pega escondido.

O gato mia no muro
A coruja voa a gritar
Enquanto o ouvido eu apuro.
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Uma Lengalenga de Portugal
ARRE BURRO

(Várias versões)
 
Arre burro
De Loulé
Carregado
De água-pé
 ***
 
Arre burro
De Monção
Carregado
De requeijão
 ***
 
Arre burrinho
Arre burrinho
Sardinha assada
Com pão e vinho
 ***
 
Arre burrinho
De Nazaré
Uns a cavalo
Outros a pé
 ***
 
Arre burrinho
Para Azeitão
Que os outros
Já lá vão
Carregadinhos
De feijão
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Segunda-feira eu te amo,
terça te quero bem;
na quarta morro por ti,
quinta por mais ninguém.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Aconchego

Imóveis
A pena
E a asa da borboleta
Sonham
Com o vento…
= = = = = = 

Trova de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR

Foi o poeta! Se chora…
Quedou da rosa o perfume
que invadiu belo anjo que ora
pro poeta e acende lume!
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