TROVAS
Adoro o Bem e a Verdade,
como mandou Jesus Cristo:
— Há melhor felicidade
do que viver para isto?
- - - - - –
A trova é tão pequenina
e quanta coisa ela diz!
— De uma ideia repentina
nasce um conceito feliz.
- - - - - –
Eu agradeço a Jesus
por ter no meu coração
um lugar cheio de luz
para abrigar o perdão.
- - - - - –
Garoando… garoando…
essa garoa, sem fim,
é qual saudade pingando
lembranças dentro de mim…
- - - - - –
Meu coração é pequeno
mas é cheio de esperança,
e desconhece o veneno
do demônio da vingança.
- - - - - –
Nada tenho, nada quero,
nem posição, nem vitória.
Tudo na vida o que espero
é que este amor tenha glória.
- - - - - -
Não desesperes, querido,
e penses um pouco em mim…
— Não há mal por mais sentido
que nunca tenha seu fim.
- - - - - –
Por favor, não faças isso,
não me lances esse olhar...
Os teus olhos têm feitiço,
vão os meus enfeitiçar.
- - - - - -
Quanto tempo decorrido
nesta luta insana, inglória,
vendo o meu tempo perdido
e nem sinal de vitória!
- - - - - -
Rindo e cantando, nós vamos
no mundo a nos enganar...
Quantas vezes nós cantamos,
quando queremos chorar?
- - - - - –
Tu dizes que eu sou ingrata
e que não te trato bem...
— Não sabes que se maltrata
àquele a quem se quer bem?
- - - - - –
SONETOS
EXÓRDIO
Abre este livro meu leitor amigo
co’a alma limpa e o coração bem puro…
— Vem solitário, caminhar comigo
e junto a mim tu estarás seguro
Pelos Jardins caminharei contigo
e verás coisas belas, te asseguro,
e terra azul, no chão florindo o trigo
e a lua branca iluminando o escuro
Nossa estrada será plena de flores,
no ar os suavíssimos odores
dos mais raros perfumes de Paris.
— Nossas almas em franca transcendência
diáfana, sutis e só essência
compreenderão que é fácil ser feliz.
- - - - - –
SEMPRE TUA
Não penses, não, querido, que algum dia
eu possa desprezar o teu amor;
Passem homens por mim em romaria
que hei de amar-te, talvez, com mais ardor.
Não sintas, pois, assim, tanto temor
desta que é toda sonhos e euforia,
quando em teus braços cheia de fervor
canta sonetos de melancolia.
Só tu encerras o que eu quero tanto,
ninguém tem mais talento e mais encanto,
nem mais saber, nem experiência.
Venham todos os homens e os conjuro,
pois a ti dei meu sentimento puro,
minh’alma, meu amor, minha decência.
Fontes:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,
Academia de Letras da Grande São Paulo
Angelo Rigon
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