DORONI HILGENBERG
Manaus/AM
A cama guarda segredos,
guarda amor e fantasias,
guarda também muitos medos
das madrugadas vazias.
= = = = = = = = =
Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
= = = = = = = = =
Trova de
ELEN DE NOVAES FÉLIX
Niterói/RJ (???? – 2015)
Quando as folhas vão caindo,
fecundando o solo enxuto,
o outono chega sorrindo
pelo sorriso do fruto.
= = = = = =
Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR
As imagens do tempo
Ficaram encalacradas
No velho espelho
E o sorriso sem jeito
Ficou imperfeito pela mancha no aço
No corredor semi-escuro
Com ladrilhos em mosaico
Desfilam lembranças
Com chinelos de veludo
E o espelho
Com olhar cansado
Já não guarda mais segredo
Com silêncio centenário
O relógio de parede
Assiste a tudo
Pois já os seu ponteiros
Parados
Marcam um tempo indefinido.
= = = = = = = = =
Trova de
ÉLBEA PRISCILA DE S. E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP
Atravesso a praça e estanco
ao ver a saudade atroz,
sentada no mesmo banco
que era ocupado por nós...
= = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
À janela do meu quarto de alfazema
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 16)
À janela do meu quarto de alfazema
Vem a lua, de leve e a sorrir
Indagar se eu estou mesmo a dormir
Ou se namoro ainda o meu poema.
E vendo que eu hesito no fonema
Que a voz do coração há de exprimir
Um raio de luar vem redigir
A frase que me solta do dilema.
De miradouro faz esta janela
E em muitas noites saio através dela
Levado por estrelas e miragens.
E quando me levanto, de manhã
Sinto que a alma está mais pura e sã
Depois de eu regressar dessas viagens.
= = = = = = = = =
Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
= = = = = =
Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Última página
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Dourava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.
Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos,
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...
Carne, que queres mais? Coração, que mais queres?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor!
= = = = = =
Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...
= = = = = =
Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN
A minha avó
Minh' alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.
Minh 'alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!
Minh 'alma vai cantar... Transforma o seio
N'um cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro...
Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu' alma...
— Hóstia guardada num cibório de ouro!
= = = = = = = = =
Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR
No livro, cheio de graça,
que o Mestre, na sala edita,
cada criança que passa
é a sua página escrita!
= = = = = =
Haicai de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Os Ipês de Maringá
O show dos ipês.
Turistas gravam imagens
para o facebook.
= = = = = =
Glosa de
ZÉ SALVADOR
São Gonçalo/ RJ
Mote:
O QUE SE FAZ COM AMOR
TEM UM SABOR DIFERENTE.
ADEILZA PEREIRA
Serra Talhada/ PE
.
Eu faço arte popular,
na que faço, sou fiel,
sou amante do cordel
e jamais quis me casar.
Eu preferi me amigar,
decisão inteligente,
foi conceituadamente
meu consenso sem impor
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
.
Planto uva vou colher uva,
fava planto e colho fava,
por isto aqui eu pensava:
cai água do céu é chuva
e a cortadeira é saúva
não é gente como a gente,
mas, ô “bichim” resistente
e muito trabalhador,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente!
.
A formiga cortadeira
na prevenção da invernada,
tem a labuta pesada
trabalha sem brincadeira,
mas a cigarra faceira
se diverte no presente,
canta no sol inclemente
seja o futuro qual for,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
.
A aranha tem seu emprego,
ela é boa fiandeira,
fia o fio a noite inteira
tem a roca no sossego,
isto não é subemprego
é um prazer referente,
não estardalha mas sente
a sua leveza ao expor
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
= = = = = =
Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Eu trago minha alma aflita,
bem vês o ciúme em meu rosto:
o mal é seres bonita
e os outros terem bom gosto!
= = = = = =
Hino de
RIACHO DA CRUZ/ RN
Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS
Parte I
Apesar de pequenina
Há fascínio e encantos mil
És retrato de formosura
Dentro dos encantos do Brasil.
Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS
Parte II
A tua gente simples
Mais calorosa e gentil
Te saúda com orgulho
Este bom pedaço do Brasil.
Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS
Parte III
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz.
Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS
Parte IV
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz
Riacho da Cruz, BRASILLLLLLLLLL!
= = = = = = = = =
Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Esta noite
Nesta noite tão bela quero ter-te
Ao meu lado sorrindo e bem contente.
Aceitando o convite com meu flerte
Para jantarmos logo mais... Consente!
Nós dois naquele barco, ao convés,
Não venha com recusa, por favor!
Traga aqueles teus olhos cuja cor
Transmite essa beleza do que és.
Agora temos logo de tratar
Do que precisaremos nesta noite
Talvez alguma coisa pra levar.
Uma noite só nossa é o que prometo
Mesmo com tanto medo do pernoite
No barco em alto-mar, mesmo em soneto.
= = = = = = = = = = = = =
Trova de
SONIA LODI FERLE
Santos/SP
Tantas nuances benditas
nas obras do Criador!
São tantas cores bonitas
mas consciência não tem cor.
= = = = = = = = =
Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGAS PARA TIRAR A SORTE
Um-dó-li-tá
Cara de amendoá
Um segredo colorido
Quem está livre
Livre está
***
Um, dois, três, quatro
A galinha mais o pato
Fugiram da capoeira
Foi atrás a cozinheira
Que lhes deu com um sapato
Um, dois, três, quatro…
***
Nove vezes nove
Oitenta e um,
Sete macacos e tu és um
Fora eu que não sou nenhum!
***
A saquinha das surpresas
Ninguém sabe o que lá vem
Tão calada, tão quietinha
Vamos ver o que lá vem!
***
Pim, pam, pum
Cada bola mata um
Da galinha pro peru
Quem se livra és tu!
= = = = = = = = =
Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante,
para meu amor passar.
= = = = = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Vida em verdes versos
Na imobilidade dos seus gestos
O Olhar intenso, atento.
Em total cumplicidade com a folha
Torna-se parte delas
Num mágico entrelaçar de vidas:
Louva-a- deus e folha
Ele, na solidão e expectativa de seus breves dias,
Uma vida plena...
Ela, a folha observa e o admira.
O mágico dos disfarces
Imita as cores à sua volta,
E, assim inspira poemas:
Vida em verdes versos...
= = = = = =
Nenhum comentário:
Postar um comentário