sexta-feira, 19 de julho de 2019

I Concurso de Trovas “Singrando Horizontes” (Resultado Final)


TEMAS:
Veteranos: Horizonte/s
Novos Trovadores: Poesia/s



VETERANOS

ACADEMIA BRASILEIRA DE TROVA

VENCEDOR
    Paulo Roberto de Oliveira Caruso
Niterói/RJ


Por mais que o destino apronte,
te levando a novos ares,
sigo fitando o horizonte,
esperando regressares.
_________________________________________________

ESTADUAL (PARANÁ)
VETERANOS

VENCEDORES
 
1.
Nilsa Alves de Melo
Maringá


Outros são meus horizontes...
Não tracem o meu caminho,
quero beber de outras fontes,
acertar e errar sozinho.
--------------------

2.
Luiza Nelma Fillus
Irati


Meus olhos tristonhos buscam
no horizonte o ser amado,
mas as miragens ofuscam
esse deleite sonhado!
--------------------

 3.
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina


Que novo líder desponte,
com vocação verdadeira,
trazendo um áureo horizonte
para a pátria brasileira!
-------------------- 

4.
Nilsa Alves de Melo
Maringá


Belo futuro me acena,
de horizontes promissores...
Sei que valerá a pena
ser fiel aos meus pendores.
--------------------
   
5.
Odenir Follador
Ponta Grossa


Chora junto àquela fonte
a bela moça donzela...
Raios de sol do horizonte
brilham nas lágrimas dela.
_______________________________________

ESTADUAL (PARANÁ)
 NOVOS TROVADORES

1.
César Augusto Ribas Sovinski
Curitiba
 
Por certo eu não viveria
sem a poesia, meu sal.
É que o mundo da poesia
sustenta o mundo real.
 
--------------------
   
2.
César Augusto Ribas Sovinski
Curitiba


Escute a voz da poesia:
Que belos versos declama!
Desafia a fantasia,
nossos sentidos inflama.
____________________________________________

NACIONAL / INTERNACIONAL
NOVOS TROVADORES

VENCEDORES
 
1.
João Roberto Vasco Gonçalves
Vitória / ES


Poesia, bálsamo d’alma,
que transpira num poema!
Raros momentos de calma,
enlevo da arte suprema!
--------------------  

2.
João Roberto Vasco Gonçalves
Vitória / ES   

Ela é todo o meu amor!
Penso nela todo dia,
com carinho e com ardor...
razão da minha poesia!
-------------------- 

3.
Silmar Bohrer
Caçador / SC


Quantos viventes na vida
choram a vida vazia...
Devem curar a ferida
com a essência da Poesia.
--------------------  

4.
Jaíra Presa
Santos / SP   


Esta noite enluarada
cria em nós a fantasia,
ao dizer à nossa amada
versos, rimas e poesia...
--------------------  

5.
José Airton Mellega
Piracicaba / SP

Num recanto do universo,
poesia eu vou escrever.
É meu sentimento em verso,
para alegrar seu viver.
____________________________________________

NACIONAL / INTERNACIONAL
VETERANOS

VENCEDORES


1.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora / MG


Destino, desde criança,
por mais que me desapontes,
mantenho o olhar de esperança
pousado em meus horizontes.
--------------------  

2.
Alba Helena Corrêa
Niterói / RJ

Olhe, de frente, a amplidão,
estude e não se amedronte,
pois a luz da educação
abrirá seu horizonte!
-------------------- 

3.
Jessé Fernandes do Nascimento
Angra dos Reis / RJ

Avisto já no horizonte,
em pleno declínio, o sol;
mas não me abato, ergo a fronte
e aguardo um novo arrebol.
--------------------  

4.   
Carolina Ramos
Santos / SP

Melhor o mundo seria,
se no horizonte se lesse
a palavra AMOR... E, um dia,
nesse AMOR ... o mundo cresse!
--------------------  

5.
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte / MG

Sinto a névoa do poente,
envolvendo os meus agoras,
mas renasço, sigo em frente,
no horizonte das auroras.
____________________________________

MENÇÃO HONROSA

1.
Edweine Loureiro da Silva
Souka-shi / Saitama / Japão


No horizonte, o sol brilhando
é Deus, que vem permitir
a quem estiver chorando
nova chance de sorrir.
--------------------  

2.
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora / MG

Com seu brilho extraordinário,
surge o sol, atrás do monte,
feito um deus incendiário
pondo fogo no horizonte.
--------------------  

3.
Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte / MG

Quem olha para o futuro
e vê além do horizonte,
em vez de levantar muro,          
prefere construir ponte.    
-------------------- 

4.
Glória Tabet Marson
São José dos Campos / SP


Vê o céu, quem se apaixona,
e as estrelas, há quem conte;
é o amor que vem à tona,
abrindo um novo horizonte!
--------------------  

5.
Jerson Lima de Brito
Porto Velho / RO

O horizonte de um menino
será rude e pardacento,
se lhe negarem ensino
e a luz do conhecimento.    
________________________________________________

MENÇÃO ESPECIAL

1.
Mara Melinni
Caicó / RN

Nos ocasos, é que a gente,
sem cobrança e sem medida,
vê que a vida é diferente
nos horizontes da vida!...
--------------------  

2.
Valter Rodrigues Mota
Taubaté / SP

No horizonte, lá distante,
vejo o céu tocando o mar.
Mergulha o sol flamejante,
surge a lua em seu lugar.
--------------------  

3.
Maria Aparecida Ferreira de Vasconcelos
Santos / SP

Navegando entre os abrolhos,
no horizonte irei buscar
o verde mar dos teus olhos,
onde eu quero navegar !
--------------------  

4.
Mariangela da Silva Santos
Saquarema / RJ

Em busca dos horizontes,
valores da minha vida,
ultrapassei grandes pontes,
sempre de cabeça erguida!--------------------  

5.
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte / MG

Feito folha solta ao vento,
horizontes eu transponho
e me alteio ao firmamento,
porque vivo ao léu do sonho...
_____________________________________
 
DESTAQUE

Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG


De beleza, eternas fontes,
em voos de sonho eu parto,
lendo “Singrando Horizontes”,
nem mesmo saio do quarto!
________________________________________
 
Comissão Julgadora
Flávio Roberto Stefani (Porto Alegre/RS)
Therezinha Dieguez Brisolla (São Paulo/SP)
A. A. de Assis (Maringá/PR)
Vanda Fagundes Queiroz (Curitiba/PR)

Coordenador/Organizador/Fiel Depositário email
José Feldman

Coordenador Envelopes
André Ricardo Rogério

Parceria:
Academia Brasileira de Trova
Tertúlia Luso-Brasileira de Trovadores
Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia
Academia de Letras do Brasil / Paraná
Academia de Letras e Artes de Paranapuã
____________________________________________________

NOTA AOS PREMIADOS:
Os diplomas estão sendo confeccionados e breve serão enviados a seus respectivos emails assim como o Caderno de Trovas Premiadas.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Jaime Vieira (Nas Asas da Poesia) 2


CHATICE

por este mundo ser chato
por todo mundo estar chato
quero mesmo ser um chato
e me agarrar
na cabeleira
do tempo.

CONSPIRAÇÃO

enquanto
brincam com o tempo,
os teus cabelos
em mutirão,
a todo momento,
trabalham sérios
mudando de cor
quando não,
vão embora.

DESCANSO

a velha
palavra
rui o tempo,
em descanso
vira
epitáfio.

DESPETALAR

O espinho
é o segurança da flor
em espetáculo.
Apenas fere,
que pena,
não é obstáculo.

DESPOEMA

No calote da linguagem
com dupla imagem,
a poesia ganha passagem
e não diz nada.
Aí, o engano
é único.

HISTÓRICO

Há séculos
(desde toda eternidade)
o sol e a lua
são os mesmos.
Gerações desaparecem
e eles indiferentes
no palco do céu
continuam o espetáculo.

POSSIBILIDADE

o impossível
é sempre possível
basta querer
impossivelmente
querendo.

POTENCIAL

no coração pequenino
do passarinho
cabe a vastidão do céu
e a decisão do voo.

QUERO MAIS

no poço das palavras
que não mentem
tomo posse
e não mato a sede.

RELUZIR

bem atrás,
lá no azul negro
do infinito
algumas estrelas pequenas
brincam de esconde-esconde,
as mais afoitas
dizem: boa-noite!

RISOS

O mar se agitou
e ondas rolaram seixos
dando gargalhadas.
Também, pô!
O voo rasante das gaivotas
faziam cócegas na sua superfície.

Fonte:
Jaime Vieira. Asas. São Paulo/SP: Edicon, 1989.

Antonio Brás Constante (O trabalho se transformou em vício)


Sim, eu confesso, me viciei totalmente no trabalho. No início comecei com coisas leves. “Umas seis horas por dia no serviço já está bom”, eu pensava. Mas aos poucos fui necessitando de mais e mais tarefas. Passando a consumir dez, doze, até dezesseis horas de minha vida. Não saía mais com amigos. Já não comia direito. Mal conseguia dormir, ou simplesmente dormia mal (não é fácil dormir em cima de uma mesa de escritório).

Os sintomas foram se agravando, comecei a atender ao telefone utilizando o slogan da companhia (inclusive aos domingos), identificando-me e perguntando em que poderia ser útil. Depois de um tempo, passei a ter mais intimidade com a secretária eletrônica do que com pessoas de carne e osso. Agendava reuniões com minha própria mãe quando queria visitá-la. Mesmo nas raras ocasiões em que saía para jogar futebol, parava no meio do jogo, deixando minha posição descoberta, dizendo que era minha hora de intervalo, e isso deixava meus companheiros de time horrorizados, pois eu era o goleiro.

Minha esposa me abandonou pouco depois que deixei de chamá-la de amorzinho (para não ser acusado de assédio, era a explicação que eu dava), passando a me dirigir a ela utilizando seu primeiro nome, sempre precedido de “dona”. A gota d’água, porém, foi quando me recusei a deitar com ela, alegando que aquilo poderia ser interpretado como um erro de conduta moral. A coitada teve uma crise histérica. Tentei acalmá-la dizendo que ela poderia tirar o resto do dia de folga se quisesse, desde que fosse ao médico e me apresentasse um atestado de saúde. Nesse episódio, Dona Er... digo... minha mulher foi embora de casa, levando nossos filhos de cinco e oito anos junto com ela; fiquei muito triste com aquilo, visto que eles já estavam se acostumando a usar o uniforme com o logotipo da empresa.

Só notei que realmente havia algo errado comigo quando demiti meu cachorro por não estar usando crachá. Eu queria realmente procurar ajuda, mas era tão difícil encontrar algum médico que quisesse enviar seu currículo para avaliação, e que aceitasse fazer uma entrevista prévia, para somente então assinar um contrato de prestação de serviços (registrado em cartório), e enfim me examinar!

Para minha surpresa, meus familiares me recomendaram um consultor de empresas muito competente (que eles mesmos contrataram), o doutor Leopoldo, que iria auxiliar nos meus afazeres. Ele me convenceu a ir trabalhar no mesmo prédio de seu escritório. Inicialmente estranhei a localização do lugar, pois ficava numa clínica psiquiátrica, mas ele me tranquilizou afirmando que estava apenas sublocando uma sala ali, e que o lugar era bem localizado.

O Doutor Leopoldo também insistiu para que eu passasse a utilizar um novo tipo de uniforme, que segundo ele era muito mais moderno e arrojado. Infelizmente o traje era um pouco desconfortável, já que meus braços ficavam imobilizados depois de vesti-lo. Em contrapartida, ganhei uma sala muito confortável para trabalhar, toda acolchoada, apesar de não ter janelas e estar completamente vazia (me avisaram que os móveis ainda não haviam chegado da fábrica). Passei a tomar remédios que, conforme informações do bom doutor, ajudariam a aumentar o meu desempenho profissional. Estranhamente os tais medicamentos também me deixavam com muita sonolência. Depois entendi que aquilo tudo fazia parte de um tratamento para curar minha compulsão.

Hoje sou um novo homem: superei o vício de trabalhar. Agora, se você que está lendo este texto me der licença, vou encerrando estas poucas linhas, pois meus colegas do time de futebol estão gritando desesperados comigo para que eu pare de escrever e volte para o gol. E você? Qual é o seu vício?

Fonte:
Antonio Brás Constante.  Hoje é o seu aniversário! “Prepare-se” : e outras histórias. Porto Alegre, RS : AGE, 2009.

Caldeirão Poético XXVIII


AFONSO CELSO
(1860-1938)

ANJO ENFERMO


Geme no berço, enferma, a criancinha,
Que não fala, não anda e já padece...
Penas assim cruéis porque as merece
Quem mal entrando na existência vinha?

Ó melindroso ser, ó filha minha,
Se os céus me ouvissem a paterna prece,
E a mim o teu sofrer passar pudesse,
Gozo me fora a dor que te espezinha...

Como te aperta a angústia o frágil peito!
E Deus, que tudo vê, não te extermina,
Deus que é bom, Deus que é pai, Deus que é perfeito.

Sim... é pai, mas, a crença no-lo ensina:
- Se viu morrer Jesus, quando homem feito,
Nunca teve uma filha pequenina!

AUGUSTO DE LIMA
(1860-1934)

NOSTALGIA PANTEÍSTA

Um dia, interrogando o níveo seio
de uma concha voltada contra o ouvido,
um longínquo rumor, como um gemido,
ouvi plangente e de saudades cheio.

Esse rumor tristíssimo, escutei-o:
é a música das ondas, é o bramido
que ela guarda por tempo indefinido,
das solidões marinhas donde veio.

Homem, concha exilada, igual lamento
em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento
aos recessos do espírito volveres.

É de saudade, esse lamento humano,
de uma vida anterior, pátrio oceano
da unidade concêntrica dos seres.

CRUZ E SOUSA
(1861-1898)

CAMINHO DA GLÓRIA


Este caminho é cor de rosa e é de ouro.
Estranhos roseirais nele florescem,
Folhas augustas, nobres reverdecem
De acanto, mirto e sempiterno louro.

Neste caminho encontra-se o tesouro
Pelo qual tantas almas estremecem;
É por aqui que tantas almas descem
Ao divino e fremente sorvedouro.

É por aqui que passam meditando,
Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,
Neste celeste, límpido caminho,

Os seres virginais que vêm da Terra,
Ensanguentados da tremenda guerra,
Embebedados do sinistro vinho.

EMÍLIO DE MENESES
(1867-1918)

TRAPO


Esta que outrora o linho da cambraia
Na pompa da ostentosa lençaria,
- Folhos* e rendas que à secreta alfaia
Ornavam com capricho e bizarria -

Era camisa - e que hoje a nostalgia
Sofre do tempo em que entre a pele e a saia
O perfumado corpo lhe cingia, -
Era ao possuí-la, a última atalaia.

Trapo que encerras o ebriante aroma
Do seu colo moreno, poma a poma**,
Ora em tiras te vejo desprezado.

E mais te quero, e mais te achego ao peito
Trapo divino! símbolo perfeito
De um coração por Ela espedaçado.
______________________
* folhos =  babados franzidos ou pregueados
** poma = seio de mulher

GUIMARÃES PASSOS
(1867-1909)

GUARDA E PASSA


"...Non me destar, deh! parla basso." (Michel Angelo)
Figuremos: tu vais (é curta a viagem),
Tu vais e, de repente, na tortuosa
Estrada vês, sob árvore frondosa,
Alguém dormindo à beira da passagem.

Alguém, cuja fadiga angustiosa
Cedeu ao sono, em meio da romagem,
E exausto dorme... Tinhas tu coragem
De acordá-lo? responde-me, formosa.

Quem dorme esquece... Pode ser medonho
O pesadelo que entre o horror nos fecha;
Mas sofre menos o que sofre em sonho.

Ó, tu, que turvas o palor da neve,
Tu, que as estrelas escureces, deixa
Meu coração dormir... Pisa de leve.

JOÃO RIBEIRO
(1860-1934)

MONGE


É forçoso que por um louco tomem
Quem de perfeito juízo se mostrava?
Louco, dizeis vós! mas onde estava
A apregoada loucura daquele homem?

Quem pode ver as dores que se somem
Dentro no peito e ver a ignota lava?
Loucos sois vós que as pústulas consomem,
E tendes a alma das paixões escrava.

Louco o dizeis, porque deixara o mundo
Pelo abismo do claustro hórrido* e fundo!
Insensatos, sabei! para a alegria,

É talvez pouca luz a luz do dia,
Mas a quem fere do infortúnio o açoite
Essa noite do claustro é pouca noite.
____________
* Hórrido - horrendo, pavoroso
_________________________
 
OLAVO BILAC
(1865-1918)

INANIA VERBA


Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...

O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.

Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?

E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!

VICENTE DE CARVALHO
(1866-1924)

ESPERANÇA

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Carolina Ramos (Velha Vó)


Olhou, com pena, as mãos enrugadas e trêmulas... quanto haviam dado!

E quem se lembrava disso? Quanto carinho saído daquelas pobres e velhas mãos, tão operosas no passado, tão inúteis agora... Quanto carinho, quanto desvelo esquecido... e quanta ternura ainda poderiam dar! Mas, dar a quem? Ninguém... ninguém, mesmo, parecia interessado em sua ternura…

A solidão do seu quarto, chegava o eco da algazarra dos netos. O toca-discos, a pleno volume, violentava os ouvidos sensíveis, com a desesperante agressividade dos metais e das guitarras elétricas. Até as louças e cristais vibravam, dentro dos móveis, ao som, (som?!), do rock alucinante!

Com a palma das mãos, protegeu os ouvidos. Diziam que estava ficando surda. Como, surda, se não conseguia conviver com a metade do barulho que a maioria suportava?! Os demais, sim, seriam surdos, ou quase!

À penumbra, o pequenino quarto era como que uma sala de espera. Sala de espera do Paraíso... Reunira lá, tudo o que lhe restava de mais caro: — as fotos amareladas pelo tempo; os velhos lençóis de linho, bordados com monogramas, que não interessavam a ninguém; os livros que não mais lia e que os netos chamavam de água com açúcar; as agulhas de tricô, entortadas pelo uso, pelas quais haviam passado, ponto por ponto, os enxovalzinhos dos filhos, dos netos… chegariam aos bisnetos? Talvez... o neto mais velho já andava raspando o buço e ensaiando as primeiras investidas. Qualquer dia, não seria de estranhar se aparecesse em casa, com mulher e filho a tiracolo. Não é assim que andavam as coisas?

Passou as mãos pela cabeça branca, alisando, lentamente, os cabelos. Não olhou o espelho, fiel amigo das mulheres jovens, inimigo das maduras. As idosas, preferiam ignorá-lo. Melhor que não existisse. Sorte, é que a vista curta amenizava a obra nefasta do tempo. Deus é sábio! Vela os olhos dos velhinhos, de caso pensado, para que não vejam as maldades do mundo e, principalmente, para que sofram menos, ignorando a progressiva decadência.

Alisou novamente os cabelos. Gostava deles mais longos, presos num coque, como sempre usara, mas, fora convencida de que curtos eram mais práticos, mais higiênicos, menos trabalhosos de pentear. Encolheu os ombros, em concordância.

Abriu, cautelosa, a porta do quarto. Deu um passo à frente, tentando enfrentar a balbúrdia. Um bafo ardido de nicotina agrediu-lhe as narinas, avançando pelos brônquios calcificados, pela idade, e chegando aos pulmões indefesos. Tossiu, recuando. Através da fumarada, viu a neta que comandava o grupo. Como estava linda! Boa menina!

E a boa menina vendo a avó e acercou-se pressurosa:

— "Entra, vó, entra... fica no teu quarto, que a gente está dando uma festinha."

A velhinha tentou falar: — "Você está tão bonita..." mas, ninguém a ouvia. Já a neta, copo na mão, e sorriso nos lábios, girava noutra direção.

Sentiu saudades dos netos, quando ainda pequeninos. Anjinhos… verdadeiros anjinhos irrequietos e encaracolados! Anjos, desde a ternura dos carinhos, até a inocência das travessuras. Agora... ah! os jovens... tão frios… tão distantes... tão agressivos! Pareciam não ter, no seu mundo, um lugar para os velhos! Nem um cantinho sequer... e bastaria apenas um tiquinho de nada, onde coubessem migalhas de amor.

Fechou a porta com cuidado. Respirou mais fundo. Ao menos lá dentro, o ar era mais puro. Cheirava a talco. Velhos gostam de talco. Por isso, vivem ganhando caixas e caixas de talco, de presente. Ou será que, de tanto ganharem talco de presente, acabavam por gostar dele?

A tarde morria. Só a tarde?!

A noite chegava. Há muito, já a trazia dentro da alma. Não gostava da noite. À noite as saudades falavam tão alto, que a insônia vinha dialogar com elas. Abriu o álbum de retratos. Quantas vezes o folheara? Seria capaz de descrever cada página, foto por foto. Não conseguia lembrar-se, na maioria das vezes, de coisas recentes. Mas, naquele álbum, tudo era presente! A foto do casamento. Quanto lhe dizia! Ela, tão jovem, de pé. Ele, posudo, sentado. Por que, a noiva de pé e o noivo sentado? Ninguém tentara explicar. Costume da época. A foto lembrava amor. Será que o amor ainda existia? Tudo agora parecia tão estranho... tão esquisito... tão chocante!

A princípio, tentara questionar. Ninguém parecia ouvi-la. E se a ouviam, era pior: — "Lá vem a velha com palpites!" “Não enche, vó!"

Aprendera a calar. Aceitação? Melhor dizer: — comodismo.

Doía demais aquele: "Não enche, vó!" Aprendera a não "encher", para viver era paz.

"Deixa disso, vó!", ''Não faz aquilo, vó!", "Olha só o que a vó fez!" "Tomou o remédio, vó?" — "Vó", era apenas o que ouvia, a torto e a direito. Até parecia que não tinha nome! Mesmo os filhos, solidários aos netos, a chamavam "vó"! E até os estranhos! Só porque tinha a cabeça branca, os ombros curvos e arrastados os passos, tinha de ser a "vó" de todo o mundo?! Talvez houvesse um pouco de carinho escondido nessas duas letras. Então, não custava nada bisar esse carinho: — Vovó! — tão simples de se dizer, e, tão gostoso de se ouvir! A questão, é que gente jovem tem pressa... prefere os monossílabos e os adultos se aceleram? por imitação.

Só mesmo gente da sua idade a chamava pelo nome: "Dona Maria Adelaide." Tinha saudade de ser Dona Maria Adelaide! Onde andava a gente da sua idade? Nunca mais vira a "vó" do Renatinho... nem o "vô" da Selminha... como é que se chamavam? Como é? Essa história de "vô" e "vó" pega mesmo! Conteve-se: — "Se me pegam falando sozinha, vão dizer que estou mesmo caduca..."

Fechou o álbum de fotografias. Meu Deus, a história de uma vida! Da sua vida! História fragmentada de inúmeros capítulos. Já era hora de pingar o ponto final. Já era hora de encerrar o livro. Olhou a folhinha — 29 de junho, dia de São Pedro. O Santo das chaves, porteiro do céu. Pegou o terço. "Ave Maria, cheia de graça". "Que mundo sem graça, Maria, o de agora!"

Penitenciou-se: "Perdão, meu Deus, estou mudando o sentido das palavras..." Bebeu uma lágrima, sentindo gosto de sal.

Deixou interrompida a Ave Maria, e passou a falar com São Pedro:

"Meu Santo, abra a porta... por favor... não aguento mais esta sala de espera... sou Maria Adelaide, sabe? Deixe-me entrar... Olhe, São Pedro, sou só uma "vó"... uma velha "vó", cansada de viver... só quero um cantinho, "pequenininho", pode ser até menor que o meu quarto... com muitos anjinhos por perto e que caiba nele um tiquinho de amor..."

Fonte:
Carolina Ramos. Interlúdio: contos. São Paulo: EditorAção, 1993.

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) X


AMOR MEU

Na bela penumbra do belo recinto,
Vejo-te calma respirando amor.
Na cama fosca com lençóis tão brancos,
Onde fizemos nosso ninho de amor.

Que maravilha quando juntos estávamos,
E juntos saciávamos nossos desejos.
Numa sequência de beijos tão puros...
Que a cada um aguçava mais e mais nossos desejos.

Para mim no mundo só existe uma mulher,
Encantadora que me encanta,
Que me transforma em escravo seu.
Esta mulher és tu anjo divino,
Amor meu.

AS NOITES

As noites chegam!
E eu sem esperança...
De voltar a vê-la!
Que tristes noites que passo sozinho,
Sem o seu beijo...
Sem o seu carinho.

O tempo passa...
E eu amargurado,
Sem o seu amor.
São noites tristes, cheias de angustias...
Em que já não suporto
Tamanha dor.

Outras me querem
E dizem que me amam,
Mas parece até que enfeitiçado estou.
Como viver com outra a meu lado,
Se dela é este supremo amor.

COMO ME ILUDI

Entre outras que conheci...
Tu foste aquela...
Que sempre amei.
Eras para mim,
A fonte de ternura!
E único amor que sempre devotei.

Eras para mim a eterna claridade.
Mesmo nos dias nublados...
E noites sem lua!
Eras para mim o sol,
Com os seus raios divinos.
Ao me aquecer...
Após uma noite fria!

Hoje apesar dos tempos...
Já passados!
E saber que já...
É uma página virada...
Como me iludi!
Com estes pensamentos...
Como posso te esquecer,
Se tu foste a minha amada.

ÉS TU A OBRA

Mulher, és tu a obra,
Mais bela do Deus todo poderoso!
Que com sua inteligência...
Não te deixou esquecida!
Criou o homem primeiro...
Que para ele ter alegria!
Tirou do mesmo uma costela.
E encheu o mundo de vida.

És na verdade o amparo!
A sublime beleza!
Com o teu amor fraternal...
Tu inspiras a natureza!

És mãe!
És toda bondade!
Deus te criou diferente.
Encheu-te o coração de amor...
Para passar aos filhos.
E eles repassarem a frente,
És a bússola que nós leva,
Ao perfeito caminho!
És a luz do amanhã.
A nós guiar...
E não a nós deixar sozinhos.

RENASCER O AMOR

Porque fizestes renascer o amor,
Num peito já tão amargurado.
De tanto sofrer de amor,
Meu coração está magoado.
Por uma existência de lutas e fracassos,
De tanto amar estou virando trapo,
Sempre sem nunca ter sido compreendido.

A minha vida já não tem mais sentido,
Porque tu eras a minha única esperança,
Fingiste amar-me,
E eu, como criança,
Agradecido com belo presente,
Pus-me a sonhar feliz sorridente.

Mas como o sonho não é realidade,
Agora, sinto que foi tudo ilusão,
Por que brincar com um pobre coração?
Se tu sabias que irias fazê-lo sofrer.
Tu te divertes, com meu padecer,
Alegras-te com sofrimento meu?
Se for assim até ficarei feliz,
Por saber que agindo assim, tu tens felicidade,
E em troca do meu amor, tu me devolves maldade.

SEMPRE LEMBRADO

Quero voltar a rever esse corpo...
Que um dia foi meu!
Quero beijar esses lábios que me pertenceu!

Quero viver novamente...
O que foi no passado!
Quero passear pelas calçadas,
Contigo de braços dados...

Quero que o teu amor, por mim,
Apesar de tudo ainda exista!
E que nas tuas noites de solidão!
Relembre das nossas carícias.

Desejo rever tudo que foi no passado.
E que apesar dos anos...
Seja sempre lembrado!

VOU LEVAR FLORES

Como não sentir a dor da saudade?
Daquela que amamos por toda vida!
Não é fácil aceitar a despedida,
Até porque ela partiu pra não mais voltar.
Só a saudade ficou em seu lugar,

Lembro-me da nossa lua de mel!
Foi algo divino e maravilhoso...
Ela moça toda glamorosa!
Era virgem...
A transformei em mulher!

Vivíamos felizes em qualquer ocasião,
Lutávamos denodadamente
Para que nunca nos faltasse o pão,

Estudamos nossos filhos...
Com muita dificuldade!
Mas valeu nossos esforços.
Pois hoje estão formados!
Oro sempre por ela,

E aos fins de semana vou ao cemitério!
Levar flores pra ela,
Querem acreditem ou não!
Sinto algo estranho, ou seja,
Parece que ela ali está...
A me esperar!

Fonte:
O Poeta

Carlos Drummond de Andrade (Quadro na Parede)


— Esse quadro está torto desde o começo do mundo e ninguém se lembra de consertar sua posição — observou o sr. Borges, levantando a cabeça, entre o primeiro e o segundo goles do café da manhã.

— Há pessoas realmente exageradas — ponderou a sra. Borges, enquanto passava geleia no brioche. — Esse quadro está assim apenas há uma semana.

— Uma semana parece tempo suficiente para alguém corrigir a posição de um quadro na parede — retrucou o sr. Borges, sorvendo mais um gole e desdobrando o jornal.

— Admitindo-se que assim seja, embora a colocação de um objeto de arte exija muitas experiências e tempo indeterminado de observação e crítica, até que seja atingido o resultado ideal, presume-se que a pessoa não satisfeita com a posição de um quadro…

A sra. Borges fez uma pausa para levar aos lábios a fatia de brioche, mastigá-la e engoli-la, concluindo placidamente:

— … Tome a iniciativa de modificá-la para melhor.

Ao que o sr. Borges emitiu este juízo:

— A presunção envolve problema de competência — e olhou para um ponto indefinido no espaço. — Seria conveniente indagar, de início, a quem, no âmbito de uma residência, compete cuidar da boa arrumação das coisas.

A sra. Borges considerou com minuciosa atenção a colherzinha de prata colocada entre os seus dedos polegar e médio, como se ambicionasse descobrir nela uma propriedade oculta, e, ao cabo de minuto e meio, manifestou-se:

— Não existe código especificando os diferentes casos e situações em que determinada pessoa deva fazer isto ou aquilo. Além do mais, os conceitos estabelecidos lucrariam em ser revistos à luz da razão.

A página política passou a interessar tão acentuadamente o sr. Borges que ele levou tempo para dizer:

— De qualquer maneira, um quadro torto na parede é um quadro torto na parede.

Dos abismos da sua prospecção, a sra. Borges emergiu trazendo à tona uma restritiva:

— Um quadro torto na parede nem sempre é um quadro realmente torto na parede.

Como o sr. Borges, engolfado na leitura, não obtemperasse, a sra. Borges houve por bem desenvolver o seu ponto de vista:

— O quadro torto na parede pode estar mais certo do que o quadro convencionalmente certo na parede.

O sr. Borges não deu sinal de aceitar a tese da sra. Borges nem de repeli-la, e a explanação de sua esposa prosseguiu:

— Há muitas maneiras de ver um quadro, como também há muitas maneiras de colocá-lo, inclusive, e tem acontecido em museus, de cabeça para baixo, com rendimento óptico.

O sr. Borges virou a página, pigarreou e sentenciou:

— Nem todas as pessoas gostam de plantar bananeira para contemplar normalmente uma obra de arte.

O café da manhã parecia ter duração imprevisível, tão vagarosos eram os gestos e repetidas as pausas do sr. Borges e da sra. Borges. Ouviu-se, afinal, a sra. Borges:

— A colocação de um quadro não está subordinada às linhas geométricas previstas pelo pintor, podendo variar com a sensibilidade visual de quem o desfruta.

O argumento não pareceu impressionar o sr. Borges, a julgar pelo que saiu do seu interior:

— Nesse caso, os bens desfrutados em comum se sujeitariam a variações simultâneas e inconciliáveis, pela diversidade de gostos.

— Há gostos mais apurados e outros menos apurados — foi o comentário da sra. Borges.

— Indiscutivelmente, o quadro está torto, o que não é questão de gosto, mas questão de fato — e o sr. Borges alçou ligeiramente a voz. — E não há computadores para avaliação do gosto.

— Desde que ele ficou assim, ganhou um novo sentido — disse a sra. Borges, fixando o olhar, embevecidamente, no quadro em questão. — Foi a arrumadeira que o colocou nessa posição, e o efeito benéfico logo se fez sentir. Os volumes se equilibraram melhor, a composição ganhou mais força, o quadro comunica mais.

— As arrumadeiras tornaram-se peritas em belas-artes e deve ser-lhes confiada a direção dos museus, ao que parece — foi a glosa do sr. Borges. — Bom proveito a quem lhes seguir a orientação estética.

— Euclides, você está me ofendendo — irritou-se a sra. Borges.

— Você já me ofendera antes — contra-atacou o sr. Borges.

— Esta situação é intolerável, e eu exijo que você me peça desculpas — soluçou a sra. Borges.

— Não será melhor, Zuleica, entrarmos amanhã com a petição de desquite? — detonou o sr. Borges.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. 70 Historinhas.

Academia Ituana de Letras (Sessão Solene: 27 Anos de Fundação da ACADIL)

Conferência
“Itu na Construção da Memória Nacional pelo IPHAN ”
prof. Dr. Paulo Cesar Garcez Marins

Lançamento do Volume 5 da Série “Itu Presenças Ilustres”

Data e Horário:
25 de Julho de 2019, 5ª Feira, 19h30

Local:
Centro De Estudos Do Museu Republicano
Rua Barão De Itaim, 140, Itu

__________________________

História

A ACADIL foi criada em 27 de julho de 1992 por um grupo de escritores de Itu. A posse dos 28 fundadores se deu em 14 de novembro daquele ano. Ao completar quinze anos, o número de acadêmicos foi ampliado para 32. Hoje são 40 Cadeiras. Seus patronos são escritores, todos falecidos, ligados à história literária de Itu.

Desde a fundação, a Academia Ituana de Letras tem realizado sessões solenes de Elogio ao Patrono, conferências e palestras, concursos e lançamento de livros dos associados.

Em 1999 lançou o primeiro número da Revista da ACADIL, periódico anual que reúne artigos científicos, crônicas, contos e poemas, além das efemérides da associação.

Ocupa-se de lembrar a memória de seus patronos e fundadores, sobretudo em datas comemorativas.

Como resultado da celebração do centenário de nascimento do Acadêmico Ermelindo Maffei, o advogado dos pobres, entre 2008 e 2018 entregou a Medalha da Solidariedade Dr. Ermelindo Maffei a entidades que se destacam em ações de cidadania junto à comunidade.

Participou da realização de encontros de literatura regional com outras associações congêneres, discutindo o linguajar caipira, a poesia parnasiana e a obra modernista. Em 2010 celebrou os 400 anos de fundação de Itu com publicações e homenagens.

Desde 2012 lança bienalmente a publicação “Itu, presenças ilustres”, que já registrou cerca de 120 crônicas biográficas de quem fez história em Itu no século XX. Também bienal é a edição do livro Pirilampos, reunindo matéria literária dos associados.

A ACADIL se reúne mensalmente, no segundo sábado, às 10h.

A ACADIL completou seu Jubileu de Prata com diversas celebrações, publicações e a criação das últimas oito Cadeiras que serão ocupadas nos próximos anos.
A Academia Ituana de Letras (ACADIL) é uma associação cultural sem fins lucrativos, que reúne escritores de Itu e região a fim de fomentar a literatura regional, discutir temas ligados à cultura, à arte e realizar eventos e publicações que incentivem a leitura e promovam a discussão de ideias. Sobretudo os acadêmicos se propõem a valorizar as letras locais através da pesquisa sobre a obra de seus patronos, fazendo jus ao dístico do Colar Acadêmico “Ytuensibus litteris laurea semper” – que as letras ituanas sejam sempre lembradas.

Fonte:
ACADIL

Paulo José de Oliveira "Pajo" (Lançamento do livro "A Sinfonia das Estações" e Governadoria Poética em Minas Gerais)



 







Em solenidade de noite de autógrafos da obra poética “A Sinfonia das Estações”, é instalada em Belo Horizonte, a governadoria em Minas Gerais da Associação Internacional de Poetas – GMG-AIP-Brasil

Com especiais presenças, aconteceu no dia 05 de julho de 2019, às 19:30 horas no Auditório da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas – Coração Eucarístico), em Belo Horizonte/MG, a solenidade de instalação oficial da Governadoria em Minas Gerais da Associação Internacional de Poetas (GMG-AIP-Brasil).

A solenidade contou ainda com o lançamento da obra poética intitulada “A Sinfonia das Estações, do poeta e já empossado Governador em Minas Gerais da AIP-Brasil, presidente da Academia Formiguense de Letras (AFL) e do Clube Literário Marconi Montoli (CLMM) sr. Paulo José de Oliveira, o qual autografou seu livro aos presentes.

Em seguida, Paulo José (Pajo) que tomou posse em Campo Grande/MS como Governador para Minas Gerais da AIP-Brasil, em 29/04/19, agradeceu a todos os presentes, apoiadores e participantes da Governadoria instalada, falando dos trabalhos a serem empreendidos em sua missão.

Maiores informações sobre a “Governadoria em Minas Gerais da AIP-Brasil” poderá ser acessado também na fanpage no facebook, ou solicitado pelo e-mail: pajo121@yahoo.com.br.

Fonte:
Paulo José de Oliveira
Governador da Poesia em Minas Gerais - GP-MG (AIP-Brasil)
Formiga – MG – Brasil
Facebook: http://www.facebook.com/profile.php?id=1794442787
Twitter: https://twitter.com/Pajo121Oliveira

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Joel Bandeira (Poesias do Coração)


ADORÁVEL VAGABUNDO

Um dia o mais adorável vagabundo,
do mundo, disse o seguinte:
A vida é uma fantasia que vestimos juntos,
que tal minha amiga, vestirmos juntos,
hoje, essa fantasia?
Venha e me faça feliz...
Diga que Charles Chaplin não morreu.
que simplesmente ele dorme
para que os homens vivam seus sonhos.
Diga que me ama, sem se preocupar
se isto é verdadeiro.
Acredite:
na vida já ouvi tantas verdades,
que se fizeram mentiras,
que talvez neste mundo irreal,
sua mentira venha a ser
a nossa única verdade,
Façamos um brinde à história do mundo,
que ninguém escreveu.
Afinal! Pra que tanta história, se ninguém leu?
Venha comigo perder a vergonha, o complexo,
o medo e desvestir o mundo infantil
existente em cada um de nós.
Não vá embora, sente-se a meu lado
e me faça crer que o sonho não acabou,..
que ainda esta noite, sob a janela,
The Beatles
cantarão canções de ninar
o menino que sou.

BRUTALIDADE

Olhem para mim!
Estou com medo.
Sim, estou com muito medo,
porque nos lugares por onde passei
as pessoas estão embrutecendo.
Estão matando, estão morrendo.

Olhem para mim!
Estou com medo de embrutecer também.
São tantas as decepções, que talvez amanhã,
não mais me sensibilize com o sorriso da criança,
não mais me emocione com o desabrochar da flor.
Estou com medo de embrutecer,
a ponto de achar que o amor hoje,
é simplesmente mais um "comerciai".
Tenho medo de não acreditar nas pessoas,
estou com medo de perder a fé no meu Deus!
necessito me libertar dos falsos valores
d esta sociedade.
Preciso de você!!!
Preciso que você me faça crer
que ainda resta uma esperança.

PEDAÇOS DE MIM

Depois de você,
vou recolher meus pedaços
em forma de beijos e abraços,
porque nada mais vale a pena.
Vou me esconder…
Farei de sua saudade acalanto
de quem só canta para esquecer.
Sabe: não pense que sou masoquista,
saudosista ou coisa assim…
Acontece: que me entreguei tanto!
Amei tanto! "Curti" tanto!
e tudo que eu era virou você.
Meu riso, foi feito para alegrar sua tristeza,
meus braços para envolver seu corpo,
até meu choro-de-menino-grande
brota para soluçar nos seus ombros.
Por isso,..
vou recolher meus pedaços
nos caminhos percorridos por nós dois,
e guardarei o melhor que sou
para quando você voltar!
Não importa quando...
Talvez já não tenha a mesma juventude
(apesar do amor não envelhecer).
Possivelmente já não tenha a mesma vitalidade
porém terei força suficiente
para te amar por todos os poros,
porque guardas contigo
tudo que restou de mim…

Fonte:
Associação de Poetas e Escritores da Baixada Santista. V Antologia: A Lua e a Pena. Santos: Ed. Destaque, 1996.

Jeanette Beatriz Roszavolgyi (Canto do Cisne)

Fonte: www.pinterest.com
O barulho vinha de longe, insistente, ameaçando interromper o que estava prestes a acontecer. O homem, ignorando seus protestos, tentava tirar-lhes as roupas ao mesmo tempo em que com extrema suavidade a conduzia para a grande cama, móvel solitário naquele quarto desconhecido. Apesar de tudo, apesar de todos, ela não tinha mais forças para recuar. Na verdade, abandonara qualquer tentativa de rechaçá-lo e passara a colaborar, chegando mesmo a fazer compasso à urgência dele, O barulho foi se tornando cada vez mais próximo, mais penetrante, quase real. De súbito, ela abriu os olhos, sentou-se na cama, aturdida, ofegante, a camisola grudada ao corpo. Respirou fundo e, a contragosto, emergiu para sua realidade, que atualmente se resumia em prover a alimentação da família e a arrumação da casa.. A protagonista do romance tumultuado de anos atrás transformara-se em mera figurante. Dirigindo-se ao chuveiro, parou diante do espelho e fez um inventário perverso da imagem refletida. Nada do que via lembrava-lhe a outra, a mulher que já fora um dia, nem mesmo a beleza que o passar dos anos lhe trouxera, roubando talvez a precisão dos traços mas conferindo-lhe uma qualidade especial, de serena maturidade, a qual certamente não passaria desapercebida a olhos menos severos.

Durante o banho e o tempo em que se vestia, o sonho voltava-lhe fragmentado, à memória. Finalmente, desceu para preparar o café da manhã. O marido, interrompendo a leitura do jornal, olhou para o relógio numa admoestação muda, murmurou um bom dia e voltou às notícias. Os rapazes desceram as escadas num tropel, roçaram-lhe o rosto com beijos distraídos e sentaram-se à mesa, discutindo animadamente o jogo da véspera.

Enquanto fritava ovos e esmagava laranjas, evocava o sonho, revivendo suas sensações; entravam e saíam de quartos e salas vazias, ela e o homem, que a todo custo tentava seduzi-la. A princípio lutou contra as investidas mas, pouco a pouco, sentia sua resistência minar. Eis que estavam numa grande sala de paredes brancas, postados diante de uma lareira, de onde podiam divisar, por uma porta entreaberta, uma cama de casal. A noite ameaçava chegar e por mais que tentasse, ela não conseguia divisar seus traços. Sentia apenas que ele a fitava com intensidade, querendo-a, desejando-a, o que anulava o recato a que sempre se obrigara.

O cheiro de torradas queimadas aliado à reclamação uníssona da família foram a causa determinante de sua resolução. Assim que todos saíram, começou a arrumar a casa, tirar a louça do café, dobrar o jornal. Foi então que viu o anúncio de meia página da imobiliária. A ideia começou a tomar corpo. Por que não, afinal?

Munindo-se de coragem, discou o número que aparecia destacadamente no anúncio. Sim, queria ver um apartamento. Como? Três, não, quatro quartos, todos com suíte. Nos jardins, naturalmente. Disponibilidade financeira? Não saberia precisar, ou melhor, é um item que não precisaria ser levado em conta no momento, Quando  Pode ser hoje mesmo. Após o almoço. Combinado.

Passou toda a manhã em estado de pânico, estupefata com a própria audácia. Como fora capaz? Telefonaria e explicaria que tudo não passara de um engano, que mudara de ideia, um compromisso inesperado. Enquanto isso, as horas passavam inexoráveis. Sempre debatendo consigo própria, arrumou a casa com zelo excessivo, tomou outro banho, desta vez bem prolongado, fez uma refeição leve e começou a se arrumar. Pela segunda vez naquele dia deteve-se diante do espelho. O que fazer com as rugas debaixo dos olhos? E os fios brancos que teimavam em se evidenciar na cabeleira escura? Um pouco de corretivo, maquiagem leve, lápis, batom, a roupa deixando entrever as formas ainda desejáveis (seriam mesmo?) e finalmente, o perfume discreto.

Buzina. Olhou o relógio, o coração descompassado, desceu correndo e viu o Gol vermelho, velho, descuidado. Solícito, o homem a esperava fora do carro. Relativamente moço, cabelo escasseando, barriga um tanto protuberante, baixo.

Entraram e saíram de vários apartamentos, salas e quartos tão impessoais como o tratamento que de lhe dispensava, uma cerimônia à prova de qualquer aproximação. A princípio, ela tentara fazer-se notar não só como uma compradora em potencial, mas acabara por desistir, fechando-se na constatação dolorosa de que seu tempo passara.

Ao fim de algumas horas, quando já estavam pensando em desistir da procura, pararam diante de um prédio de aspecto gasto, mas que deixava entrever um ar de antiga beleza. Subiram. Na sala vazia, destacava-se a lareira de mármore, para a qual se dirigiram. Lá fora, o dia já terminava e os últimos raios de sol tingiam o céu de uma luz dourada, mergulhando o ambiente num clima quase irreal. Ao longe, soavam acordes de uma música nostálgica. Não disseram nada. Apenas se olharam. Naquele instante, ela lembrou, ansiosa, que em algum lugar deveria haver uma porta entreaberta, de onde se poderia divisar uma cama de casal.

Fonte:
Associação de Poetas e Escritores da Baixada Santista. V Antologia: A Lua e a Pena. Santos: Ed. Destaque, 1996.

Coelho Neto (Fantasia de Inverno)


Vento gelado, gélido vento amaina o teu furor, já que traiçoeiramente conseguiste penetrar em meu coração, que és tu que por lá andas: bem sinto o teu Mui, bem ouço os teus gemidos. Ai de mim!... És tu mesmo que andas a desfolhar as minhas últimas ilusões e a crestar as verdes folhas das minhas últimas esperanças.

Como se contrai um mal de morte à beira da água azul de lagoa tranquila, admirando um nenúfar aberto, assim ganhei a melancolia que me retrai olhando o límpido céu de inverno abotoado no pálido e triste plenilúnio.

Fazia frio, um frio navalhante e eu, esquecido, extasiado naquela serenidade, deixei-me ficar à janela enamorado da noite e foi, então, que me invadiste, como invades e varejas uma ruína fendida em mil abertas e taliscas e agora, no meu coração, gemes e regelas, vento gelado, gélido vento, que andavas errando à luz do luar.

Meu pobre coração! Quando, outrora, me falavam em vales floridos, em colinas marchetadas de margaridas e rosas, em campos palhetados de botões de ouro, em vivas águas recobertas de açucenas brancas, eu sorria superiormente como sorriria um deus a quem um mortal narrasse aventuras mesquinhas. É que eu tinha o meu coração mais rico em flores do que os jardins maravilhosos de Viviana e agora... Ai de mim! só há despojos e como poderiam resistir as flores meigas ao vento de inverno que, traiçoeiramente, penetrou em meu coração, onde sempre havia a doce, a tépida temperatura de uma primavera ideal?!

Meus sonhos, que será feito de vós? Como andam no ar noturno, em torvelinhos fantásticos, folhas e flores orfanadas, assim andais nas lufadas do vento gélido.

Amanhã o sol tornará ao céu — eu mesmo o verei seguir, rompendo as névoas como um noivo preguiçoso que abre vagarosamente o cortinado e, a contragosto, deixa o leito nupcial; eu o verei surgir e verei a terra revestir-se de luz e, florida e contente, louvá-lo pela boca harmoniosa dos seus pássaros. Acompanharei, com olhares invejosos, a corrida sonora dos límpidos regatos, ouvirei as cantilenas dos campônios e, talvez, sinta o calor benéfico do sol que reanima, mas... chegará o sol ao meu coração? Sim, é natural que chegue — ele não é da raça dos homens que só atendem aos que a Fortuna acerca. As mesmas minas vêm-no chegar, o pântano recena-se com ele, as cavernas recebem-no no íntimo, é para todos e para tudo que a sua luz rebrilha, mas... será também para os corações? Diz-me
a alma que não.

Ai de mim!... Como poderei viver com tal inverno gelado?

Lua, lua perversa, pálido fantasma, foste tu que assim sacrificaste a minha vida. Quiseste um companheiro que, parecendo vivo, não fosse mais que um cadáver e encantaste o meu coração, reduzindo todos os sonhos que nele havia a verdadeiros e melancólicos espectros.

Foste tu, foi o teu hálito, ou melhor, foi a exalação do teu corpo nevado, lívida e funérea lua, que transformou um campo de flores em campo de neve.

E se vier o degelo que pranto copioso inundará meus olhos; que dilúvio transbordará de mim... Para conter tantos sonhos e tantos amores é preciso que o meu coração seja do tamanho do mundo.

Quem me mandou a mim contemplar luares em maio, ao frio? Quem me mandou a mim fazer vigília a defuntos?

Bem fazem os indiferentes que, embora apareças, com a linda cor com que a morte irônica te enfeita, fecham as janeiras e entregam-se aos travesseiros. Esses estão livres do assombramento, mas eu, curioso, lá me deixei ficar a olhar-te e tu...

Daí... quem sabe! Talvez não sejas tu a culpada, lua merencória, porque, em verdade, quando eu te fitava, meu pensamento estava em outra face, mais linda do que a tua, mas também fria e indiferente.

Quem sabe se não foi a tristeza desse pensamento que me pôs no coração tamanha melancolia? Se foi... aqueles olhos doces, com um só olhar, desfarão a tristeza. Desfariam, devo eu dizer, desfariam se, um breve instante, se volvessem para o meu rosto, mas... são tão frios, tão frios que...

Ai de mim!... O inverno passará depressa, o verão tornará risonho, mas no meu coração nunca mais, nunca mais haverá sol de estio nem flores da primavera.

À noite, eu também ando a carregar um astro morto: o teu, matou-o o tempo; o meu, matou-o o amor.

Fonte:
Iba Mendes (revisão ortográfica).

35º Concurso de Poesias da Biblioteca Municipal João XXIII – 2019 (Prazo: 20 de Setembro)


“Eu Canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
(Cecília Meireles)


01. Denominação e Finalidade

A Biblioteca Municipal João XXIII de Mogi Guaçu promovendo este Concurso, faz deste evento o intercâmbio cultural das letras em todo território nacional, descobrindo poetas e poesias.

02. Participação

Poderá participar do 35º Concurso de Poesias de Mogi Guaçu poetas de todo o Brasil, nas seguintes categorias:

- Adulto local e outras cidades (acima de 18 anos)

- Juvenil local e outras cidades (13 a 17 anos)

- Infantil local e outras cidades (até 12 anos)

03. Inscrições

Cada candidato poderá inscrever-se com até 02(duas) obras inéditas datilografadas ou digitadas em duas vias cada.

Cada poema deverá ser identificado apenas com o pseudônimo do autor e o título da obra e acondicionado em um envelope grande.

Dentro do mesmo envelope enviar uma folha datilografada ou digitada contendo a ficha de inscrição do candidato com seus dados pessoais: título da poesia, pseudônimo, nome de autor, cidade e estado, idade, endereço completo, nome da escola que estuda (se estudante).

Este único envelope com os textos e a ficha de inscrição deverá ser entregue na Biblioteca ou por via postal até 20/09/2019 (valendo a data do carimbo postal) no seguinte endereço:
Biblioteca Municipal João XXIII
Avenida dos Trabalhadores, 2.651
Mogi Guaçu – SP
CEP: 13.840-195

Tel.(019)3811-8670 – Centro Cultural.

A inscrição implicará na total aceitação do presente regulamento

04. Seleção

A comissão julgadora será definida posteriormente e deverá selecionar 06 poemas de cada categoria.

Os trabalhos que não forem selecionados não serão devolvidos.

05. Premiação: Troféus e Medalhas

Dia: 22/11/2019 às 17h00.
Local: Biblioteca João XXIII – Centro Cultural
Endereço: Avenida dos Trabalhadores, 2.651 – Mogi Guaçu /SP –
Tel. (019)3811.8670
email sc-biblioteca@mogiguacu.sp.gov.br
www.facebook.com/biblotecamogiguacu

FICHA DE INSCRIÇÃO

BIBLIOTECA MUNICIPAL JOÃO XXIII
35º - CONCURSO DE POESIAS – 2019

Título da poesia:
___________________________________________________

Pseudônimo: ____________________________________________________

Nome do Autor: __________________________________________________

Email: __________________________________________________________
Idade:__________________Telefone:_________________________________
Endereço:________________________________________________________
Nº____________Bairro:____________________________________________
Cidade:__________________________________Estado:_________________
CEP:___________________________Estudante?_______________________
Nome da Escola:__________________________________________________

Obs.: Esta Ficha pode ser reproduzida.

domingo, 14 de julho de 2019

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 4


Apesar de tão “machão”
– parece castigo, eu sei -
é comum o “garanhão”
possuir um filho “gay”.

A pobre mulher ventana,
que tanto exibe o assento,
não esconde o ar sacana
e vive a mercê do vento.

Deus nos livre da procela,
que lança tudo para o ar;
faz machão virar donzela
e o pobre do ateu, rezar.

Do relógio, é só o ponteiro
que não para – não me contem! -
horas marca o dia inteiro,
mas as mesmas horas de ontem.

Ele diz que sabe tudo,
sem rever toda parada;
é bom que saiba, contudo,]
que o que sabe é quase nada.

Eram dois gêmeos idênticos,
mas um deles faleceu.
Funga o vivo, em tom jumentico:
– “Foi ele, ou eu quem morreu?!”

Escureceu todo o céu
com tempestade lá fora…
e o apavorado do incréu
bradava: “Nossa Senhora!”

Fico velho a cada dia?!
Isso é coisa boa, ó meu!
Viverei em regalia
mais um dia sendo “eu”.

Há algum homem realizado?
– Bem! Quatro filhos criei,
tenho algum livro editado
e árvores eu já plantei.

Mulher é anjo da guarda,
seiva de vida na terra;
em tudo, sempre vanguarda,
pomba de paz e… de guerra.

Na loja do seu Pafúncio,
sofá quebrado ele vende,
pois na peça está o anúncio:
CUIDADO, FREGUÊS, NÃO SENTE!

“Não há terra mais risonha
do que a terra brasileira”;
aqui se come pamonha
e se planta bananeira.

O escorpião, em seu terreno,
é perigoso também;
mas, não tem ele o veneno
tão mortal que os homens têm.

Olá, soberba vizinha,
sê feliz por onde vais!
Julguei-te, um dia, rainha
– foi engano, nada mais.

O Zé fechou a carranca
e mostrou-se acabrunhado:
Sua trova estava manca
com terrível pé quebrado.

Para matar as bactérias,
esfrega-se álcool na mão;
para limpar as artérias,
é cachaça com limão.

Presta atenção pra me ouvir:
– Quem já traiu uma vez
pode de novo trair,
– traíra não tem talvez!

Quão relativo é o humor:
Muitos há que encontram graça
quando curtem, em si, a dor,
rindo da própria desgraça.

Vê-se aqui degradação
que se estende ao chefe-mor;
castiga-se corrupção
com corrupção bem maior.

Vive aqui um “don juanita”
que se julga garanhão;
tem a cabeça partida
por posar de “bernadão”.

Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. Pinhalão/PR: Ed. do Autor, 2016.

Vinicius de Moraes (Uma Viola-de-Amor)


Deem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim... "Sairei de mim mesmo e irei ao encontro das flores humildes dos caminhos e das lentas aves dos crepúsculos, cujo pipilo suspende na paisagem uma lágrima que nunca se derrama. Sairei de mim mesmo em busca de mim mesmo, em busca de minha imagem perdida nos abismos do desespero, minha imagem de cuja face já não me lembro mais...

"Sairei de mim mesmo em busca das melodias esquecidas na memória, em busca dos instantes de total abandono e beleza, em busca dos milagres ainda não acontecidos...

"Que eu seja novamente aquele que ergue do chão o pássaro ferido e, no calor de sua mão, dá-lhe de morrer em paz; aquele que, em sua eterna peregrinação em busca da vida, ajuda o camponês a consertar a roda do seu carro...

"Que me seja dado, em minhas andanças, restituir a cada ser humano o consolo de chorar dias de lágrimas; e depois levá-lo lá onde existe a luz e chorar eu próprio ante a beleza do seu pranto ao sol...

"Possa eu mirar novamente os pélagos e compreendê-los; atravessar os desertos e amá-los. Possa eu deitar-me à noite na areia das praias e manter com as estrelas em delírio o colóquio da eternidade. Possa eu voltar a ser aquele que não teme ficar só consigo mesmo, numa dura solidão sem deliquescência...

"Bem haja o meu irmão no meu caminho, com as suas úlceras à mostra, que a ele eu hei de curar e dar abrigo no meu peito, Bem haja no meu caminho a dor do meu semelhante, que a ela estarei desvelado e atento...

"Seja a mulher a mãe, a esposa, a amante, a filha, a bem-amada do meu coração; possa eu amá-la e respeitá-la, dar-lhe filhos e silêncios. Possa eu coroá-la de folhas da primavera em seu nascimento, seu conúbio e sua morte. Tenha eu no meu pensamento a ideia constante de querê-la e lhe prestar serviço...

"Que o meu rosto reflita nos espelhos um olhar doce e tranquilo, mesmo no mais fundo sofrimento; e que eu não me esqueça nunca que devo estar constantemente em guarda de mim mesmo, para que sejam humanos e dignos o meu orgulho e a minha humildade, e para eu cresça sempre no sentido de Tempo...

"Pois o meu coração está antes de tudo com os que têm menos do que eu, e com os que, tendo mais do que eu, nada têm. Pois o meu coração está com a ovelha e não com o lobo; com o condenado e não com o carrasco…

"E que este seja o meu canto e o escutem os surdos de carinho e de piedade; e que ele vibre com um sino nos ouvidos dos falsos apóstolos dos falsos apóstatas; pois eu sou o homem, ser de poesia, portador do segredo e sua incomunicabilidade - e o meu largo canto vibra acima dos ócios e ressentimentos, das intrigas e vinganças, nos espaços infinitos...".

Deem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim, que sua voz está rouca de tanto insulto inútil e seu coração triste, de tanta vã mentira que lhe ensinaram.

Fonte:
Vinícius de Moraes. Para uma menina com uma flor.

J. G. de Araújo Jorge (Inspirações de Amor) XVIII


BALADA AO AMOR QUE NÃO VEIO...
   
Se acaso penso em ti, me inquieta o pensamento...
Por que havias de vir assim tarde demais?
Bem que eu tinha de há muito um cruel pressentimento,
- e há sempre um desespero em nós, se num momento
desejamos voltar a vida para trás...

Neste instante imagino o que teria sido
o meu vago destino desorientado,
se antes, eu já te houvesse um dia conhecido,
e esse tempo, meu Deus!... - e esse tempo perdido
pudesse ao teu convívio ter aproveitado!

Não há nada entre nós, nada... e em verdade há a vida
que nos chama e nos prende!.. . E já agora imagino
que aqui estás ao meu lado a ouvir-me comovida
e me entregas a mão, - e entrego-te vencida
a minha alma, - e com ela todo o meu destino!

Não há nada entre nós, - mas se nos encontramos
ouvirás de hoje em diante um poema onde tu fores,
- trouxemos o destino estranho de dois ramos,
separados, - que importa? ainda assim nos juntamos
confundindo as ramagens, misturando as flores. . .

E eu nem te vi direito! Um olhar sob um véu,
(há qualquer coisa estranha num olhar velado...)
- um olhar, - não direi que em teu olhar há um céu,
quando sei que afinal há tanta angústia e fel
em tudo o que me tens da vida revelado!

Acompanhei-te o vulto um segundo, alguns passos,
nada mais, e no entanto, se quiser pensar
sou capaz de te ver, (há gestos nos espaços,
e guardei a visão dos teus braços, - teus braços
guardei-os, como dois clarões dentro do olhar!)

E devem ser macias tuas mãos, - não ouso
pensar no que elas guardem nos seus finos dedos,
- pensando em tuas mãos, penso em sombra, em repouso,
num lugar quieto e bom, e num vento amoroso
a soprar entre as folhas murmuras segredos. . .

Mas... que saibas perdoar estas coisas que escrevo,
pensei-as a escutar distante a tua voz,
e há algumas coisas mais, que a dizer não me atrevo,
é que escrevo demais, e não posso, e não devo,
e não tenho o direito de falar em nós ...

BALADA EMBALANDO MARIA...
  
Odor de folhas verdes perturbando,
punhais de luz ferindo a ramaria...
- é o teu corpo cheiroso me estonteando!
- são teu olhos, Maria!

Rumor na mata de água inquieta e fria,
bicos de ave no ninho quente e brando...
- é a tua voz feliz cantarolando
- são teus seios, Maria!

Sombra de noite que vai baixando
caju mostrando a polpa cor do dia...
- são teus cabelos me chamando
- são tem lábios, Maria!

Fruto maduro abrindo a mataria,
gestos de gaivotas no ar bailando...
- é o teu riso medroso me tentando!
- são tuas mãos, Maria!

Vento que sopra leve, acariciando,
Mel que canta na boca e que inebria...
- é o teu carinho morno me prostrando!
- são teus beijos, Maria!

Raio de sol dançando de alegria,
cipós que ao meu redor se vão fechando
- é a tua alma de criança madrugando!
- são teus braços, Maria!

Rima que eu quis rimar com fantasia,
trecho de céu que ao longe vai clareando . . .
-é o teu nome que eu vivo soletrando!
- são teus sonhos, Maria!

Girassol sempre a luz acompanhando,
levada aos ventos, erradia...
É o meu amor por ti, louco, sonhando!
É o teu amor, Maria!

BARCO PERDIDO

Oh! a vida é uma grande renúncia, partida
em pequenos fragmentos, todo dia, toda hora...
E a ironia maior, é que às vezes, a vida
de renúncia em renúncia aos poucos vai embora...

Tu voltaste de novo... e o doce amor de outrora
trouxeste ainda no olhar, na expressão comovida.
e eis que o meu coração no reencontro de agora
transforma em labareda a chama adormecida...

No entanto, que fazer? Há uma âncora no fundo...
Hoje, sou como um barco sobre o mar do mundo,
barco esquife, onde jaz um marinheiro morto...

Velas rotas ao vento... os mastros aos pedaços...
E te vejo seguir, e a acenar-me teus braços,
e me deixo ficar, sem destino, nem porto...

BOM DIA, AMIGO SOL!

Bom dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara,
- deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!

Entre! Vem surpreendê-la quase nua,
doura-lhe as formas de beleza rara...
Na intimidade em que a deixei, repara
que a sua carne é branca como a Lua!

Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho...
Que não repares no seu desalinho
nem no ar cheio de sombras, de cansaços...

Entra! Só tu possuis esse direito,
- de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!...

BRINDE
   
Tomarei tua cabeça entre as mãos como uma taça,
e transbordará o louro "champagne" dos teus cabelos
sobre meus dedos...

Me olharei no cristal dos teus olhos
e verei minha imagem refletida no desejo
que efervesce,
e beberei em teus lábios entreabertos a tua vida
até que os teus olhos fiquem vazios e ausentes...

Até que te sintas leve e gloriosa como uma taça de cristal
trespassada de luz
num brinde a esse segundo de êxtase imortal...
Uma taça que, por esse segundo morreria afinal
espatifada,
num grito de prazer esplêndido e triunfal!

Tua cabeça entre as minhas mãos
será a taça com que brindarei
nesse segundo,
o destino do amor
no destino do mundo!

CABOCLA

Cabocla, em teus olhos há estranhos desejos,
mistérios de noite,
clarões de luar...

Tua boca, é uma fruta madura, vermelha,
madura de beijos,
de beijos maduros que eu quero apanhar!
Tua boca é uma fruta gostosa,' será
assim como um bago branquinho,
branquinho,
e doce de ingá!

Teu riso, Cabocla, é tão fresco, tão bom,
que há nele um murmúrio de fontes, e o som
das águas rolando na mata fechada...
Teu riso, Cabocla, parece a alvorada,
parece na sombra o clarão do caminho,
- teu riso parece esse sulco branquinho
que se abre na pele macia e corada
de um doce caju!
  
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 2. SP: Ed. Theor, 1965.

Arthur de Azevedo (Black)


Leandrinho, o moço mais elegante e mais peralta do bairro de São Cristóvão, frequentava a casa do Senhor Martins, que era casado com a moça mais bonita da rua do Pau-Ferro.

Mas, por uma singularidade notável, tão notável que a vizinhança logo notou, Leandrinho só ia à casa do Senhor Martins quando o Senhor Martins não estava em casa.

Esperava que ele saísse e tomasse o bonde que o transportava à cidade, quase à porta da sua repartição; entrava no corredor com a petulância do guerreiro em terreno conquistado, e Dona Candinha (assim se chamava a moça mais bonita da rua do Pau-Ferro) introduzia-o na sala de visitas, e de lá passavam ambos para a alcova, onde os esperava o tálamo aviltado pelos seus amores ignóbeis.

A ventura de Leandrinho tinha um único senão: havia na casa um cãozinho de raça, um bull-terrier, chamado Black, que latia desesperadamente sempre que farejava a presença daquele estranho.

Dir-se-ia que o inteligente animal compreendia tudo e daquele modo exprimia a indignação que tamanha patifaria lhe causava.

Entretanto, o inconveniente, foi remediado. A poder de carícias e pães-de-ló, a pouco e pouco logrou o afortunado Leandrinho captar a simpatia de Black, e este, afinal, vinha aos pulos recebê-lo à porta da rua, e acompanhava-o no corredor, saltando-lhe às pernas, lambendo-lhe as mãos, corcoveando, arfando, sacudindo a cauda irrequieta e curva.

As mulheres viciosas e apaixonadas comprazem-se na aproximação do perigo; por isso, Dona Candinha desejava ardentemente que Leandrinho travasse relações de amizade com o Senhor Martins.

Tudo se combinou, e uma bela noite os dois amantes se encontraram, como por acaso, num sarau do Clube Familiar da Cancela. Depois de dançar com ele uma valsa e duas polcas, ela teve o desplante de apresentá-lo ao marido.

Sucedeu o que invariavelmente sucede. A manifestação da simpatia do Senhor Martins não se demorou tanto como a de Black: foi fulminante.

Os maridos são por via de regra menos desconfiados que os bull-terriers.

O pobre homem nunca tivera diante de si cavalheiro tão simpático, tão bem-educado, tão insinuante. Ao terminar o sarau, pareciam dois velhos amigos.

À saída do clube, Leandrinho deu o braço a Dona Candinha, e, como "também morava para aqueles lados", acompanhou o casal até a rua do Pau-Ferro.

Separaram-se à porta de casa.

O marido insistiu muito para que o outro aparecesse. Teria o maior prazer em receber a sua visita. Jantavam às cinco. Aos domingos um pouco mais cedo, pois nesses dias a cozinheira ia passear.

– Hei de aparecer – prometeu Leandrinho.

– Olhe, venha quarta-feira – disse o Senhor Martins. – Minha mulher faz anos nesse dia. Mata-se um peru e há mais alguns amigos à mesa, poucos, muito poucos, e de nenhuma cerimônia. Venha. Dar-nos-á muito prazer.

– Não faltarei – protestou Leandrinho.

E despediu-se.

– É muito simpático – observou o Senhor Martins metendo a chave
no trinco.

– É – murmurou secamente Dona Candinha.

Black, que os farejava, esperava-os lá dentro, no corredor, grunhindo, arranhando a porta, corcoveando, arfando, sacudindo a cauda irrequieta e curva.

Na quarta-feira aprazada Leandrinho embonecou-se todo e foi à casa do Senhor Martins, levando consigo um soberbo ramo de violetas.

O dono da casa, que estava na sala de visitas com alguns amigos, encaminhou-se para ele de braços abertos, e dispunha-se a apresentá-lo às pessoas presentes, quando Black veio a correr lá de dentro, e começou a fazer muitas festas ao recém-chegado, saltando-lhe às pernas, lambendo-lhe as mãos, corcoveando, arfando, sacudindo a cauda irrequieta e curva.

O Senhor Martins, que conhecia o cão e sabia-o incapaz de tanta familiaridade com pessoas estranhas, teve uma ideia sinistra, e como os dois amantes enfiassem, a situação ficou para ele perfeitamente esclarecida.

Não se descreve o escândalo produzido pela inocente indiscrição de Black. Basta dizer que, a despeito da intervenção dos parentes e amigos ali reunidos, Dona Candinha e Leandrinho foram postos na rua a pontapés
valentemente aplicados.

O Senhor Martins, que não tinha filhos, a princípio sofreu muito, mas afinal habituou-se à solidão.

Nem era esta assim tão grande, pois, todas as vezes que ele entrava em casa, vinha recebê-lo o seu bom amigo, o indiscreto Black, saltando-lhe às pernas, lambendo-lhe as mãos, corcoveando, arfando, sacudindo a cauda irrequieta e curva.

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos Vários.

sábado, 13 de julho de 2019

Carolina Ramos (Da Cidade Grande)


Olhou em volta. Ninguém. O relógio, na boca do estômago, marcava tempo de fome. Hora do "rango". Encostou a "magrela" na parede. Olhou-a com enlevo de enamorado. Pintadinha de novo. Descaracterizada. Nem mesmo o arguto sherloquismo do antigo dono a reconheceria. Joia!

Descansou o traseiro na mesma parede. Ficou à espreita. Ou, como diria, "morou na paquera". O primeiro incauto aproximava-se. Gordo. Despreocupado. Paletó aberto, bem ao gosto da cintura rotunda. Bem ao gosto, também, dos amigos do alheio. O gordo parou no ponto do ônibus. Mão Leve sentiu a descarga compulsiva da adrenalina: — Já!

Como se chamava, na realidade, ninguém sabia. A pia batismal da malandragem alcunhara-o de Mão Leve. E, Mão Leve, ficara sendo.

Aproximou-se da vitima, como quem não quer nada:

— Tem um "fosfro" aí, amigo?

— Não... não tenho. Não fumo.

Diálogo curto. Suficiente para levar a termo o expediente. Dois dedos. Só dois dedos, ágeis e habilidosos, deram conta do serviço. Almoço garantido!

Sem carteira, o gordo emagreceu alguns gramas. Fácil!

Mão Leve conhecia a fundo a profissão. Por isso mesmo, eram seus o respeito e a admiração do bairro. Qualquer pivetezinho, com veleidades punguísticas, via nele um ídolo, um mestre, que dava até diploma, dependendo do feito... se bem feito! Nas horas de lazer, a roda fechava-se à sua volta. Gente jovem. Indócil por natureza. Estática, quando presa às fanfarronadas do malandro, na praça, que só não era o Pátio dos Milagres, porque sem bonecos, nem guizos. Vez ou outra, um velho camburão apontado ao longe, punha água na fervura e fim às aulas. Toda uma comunidade, hóspede em potencial de Febens e similares, se dispersava ou se descaracterizava como a "magrela" do pilantra.

Mão Leve, contudo, acabara por fazer escola. O bairro virara mesmo da pesada, E da pesada, mesmo!

Acariciou, por fora do bolso, a carteira gorda do gordo. Voltou para a bicicleta, sem demonstrar pressa. Cavalgou-a com arte e disparou, dobrando a esquina.

O peso, alternado sobre os pedais, energizava a fuga. Fuga estudada e programada com estilo. Cruzou velozmente a avenida, como água ladeira abaixo.

Quando o furgão apanhou-o, trazia em mente o filé mal passado, ilhado entre fritas, que teria no prato, daí a um nada.

Alheio à sangueira que esparramara, o furgão perdeu-se na distância.

Numa fração, mais rápida que a rápida ação dos próprios dedos, Mão Leve, que já perdera o filé com fritas, perdeu a bicicleta, agora esfolada e bastante amassada; perdeu o relógio, a gorda carteira do gordo... e tudo mais que seus bolsos guardavam.

Bairro da pesada! Alunos de primeira, honrando o mestre!

Um gaiato tripudiou, deixando sobre o corpo despojado, o bilhete: — ''Ei, Mestre... cadê meu diploma?"

Mão Leve, apesar das contusões, parecia sorrir… sem fome, sem bens e sem ambições. Absolutamente em paz!

Embuçada em névoa, a cidade grande acendeu as luzes, para enfrentar mais uma noite de vigília, de vícios e de violência!

Fonte:
Carolina Ramos. Interlúdio: contos. São Paulo: EditorAção, 1993.